CAPÍTULO UM
Aidan se livrou do pesadelo para perceber que estava debruçado sobre
a mesa da cozinha. Suor escorria pelo seu rosto. Ele levantou a mão trêmula
para limpar a testa. Foi quando percebeu que eram lágrimas, não suor,
molhando suas bochechas. Ele não tinha um pesadelo sobre o acidente da
Amy em anos. Só levou um segundo para ele lembrar o que o levou a isso.
Emma.
Tudo o que ele pensava que sentia por Amy foi aumentado um
milhão de vezes pela Emma. Ele só pensava que sabia o que era amor.
Sem nem tentar, ela tinha conseguido despertar sentimentos que ele
nunca poderia imaginar. E agora ela se foi.
Um grito de agonia passou pelos lábios dele.
– Vejo que você voltou a ter pesadelos, hein?
Aidan deu um pulo antes de olhar sobre o ombro.
– Oi para você também, Pop. Como você entrou?
Patrick deu um leve sorriso.
– Eu tenho a chave, filho.
Quando ele passou pela cadeira, a cabeça do Aidan girou e ele precisou agarrar a mesa para se equilibrar.
– É, bem, e por que você não bateu na porta?
– Bati, mas você não foi abrir. Agora eu sei o motivo.
Aidan olhou para a imagem borrada e duplicada do rosto deformado do pai. Um olhar de absoluto e total desgosto teria sido suficiente,
mas naquele maldito estado de embriaguez, lá estavam dois.
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Patrick se apoiou na bancada da pia, cruzando os braços na frente
do peito.
– Filho, eu acho mesmo que você está de cara cheia!
Depois de bufar com desdém, Aidan bateu o rosto com força contra a mesa. Seu peito se levantou e ele começou a rir quando o pai disse
que ele estava de “cara cheia”. É claro que o nível de embriaguez dele
também tornou esse fato mais engraçado.
Quando ele finalmente se recompôs, exclamou:
– Realmente, Pop, eu enchi a cara com cinco cervejas e três doses de
Patron. Acho que podemos dizer que eu estou bem calibrado.
– Então é aí que nós estamos outra vez? – Patrick se aborreceu.
Erguendo a cabeça, Aidan franziu as sobrancelhas.
– O que você quer dizer?
O rosto de Patrick se anuviou com raiva.
– Você sabe exatamente o que eu quero dizer. Você está começando
a seguir os mesmos malditos padrões como fez nove anos atrás, se entregando à bebida como um fanfarrão.
– Eu telefonei para você porque queria a sua ajuda, não um sermão.
Então se você veio aqui para gritar comigo, pode dar o fora!
A próxima coisa que Aidan percebeu foi que Patrick o levantou
pelos cabelos e olhava com raiva para ele.
– Nunca mais fale assim comigo! Eu ainda sou o seu pai e você vai
me respeitar. Entendeu?
– Deixe-me em paz! – Aidan gritou, tentando se afastar.
Patrick apertou ainda mais os cabelos de Aidan, fazendo com que
ele estremecesse de dor.
– Tudo bem. Então é isso. Eu vou tratar você como se fosse um
recruta na Corporação que fez uma besteira!
Antes que Aidan conseguisse protestar, Patrick o arrastou da cadeira
da cozinha, que fez um enorme barulho ao cair no chão.
– Eu não sabia que você ainda era assim, velho. Você é muito ágil
para um homem de setenta e dois anos – Aidan refletiu.
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– É melhor você ficar calado se sabe o que é bom para você! –
Patrick rosnou antes de empurrar Aidan pelo corredor. Ele poderia ter
desmaiado outra vez se Patrick não continuasse segurando firme no pescoço e na fivela do cinto dele.
Ao entrarem no quarto principal, Patrick o empurrou para o
banheiro. Aidan se virou e viu que Patrick havia trancado a porta. O
medo o assolou. Nervoso, cambaleou para trás enquanto Patrick olhava
para ele.
– Droga, Pop, você não vai bater na minha bunda como nos tempos do colégio, quando descobriu maconha escondida debaixo da minha
cama, não é?
Ignorando-o, Patrick seguiu para o chuveiro. Depois de abrir a
água, ele agarrou o braço de Aidan e o empurrou para dentro do box.
A água gelada correu por seu corpo. Apesar de estar vestido, cada gotinha parecia uma faca de serra perfurando sua pele. Ele tentou sair, mas
Patrick fechou a porta do box.
– Você vai ficar aí até conseguiu ficar sóbrio e discutir sobre o que
aconteceu como um homem!
Aidan bateu na porta, mas Patrick a segurou firme.
– Eu sou muito velho para essa bobagem, filho. E posso não estar
por perto daqui a nove anos quando você tentar fazer outra cena como
esta novamente. Pelo menos me deixa morrer em paz sabendo que você
tem uma esposa e um filho para amar!
As palavras de Patrick congelaram Aidan mais do que a água fria
que corria pelo corpo dele. Só de pensar no quanto ele tinha magoado
Emma, ele sentia pontadas de remorso que reverberavam por dentro
dele. Em vez de protestar mais, ele se virou e ficou de pé debaixo do chuveiro, enquanto a água fria batia como chicotadas. Deixando a cabeça
pender, ele desejou que fosse mesmo um chicote. Ele merecia apanhar
por tudo o que tinha dito e feito nas últimas semanas para a Emma e,
por sua vez, ao filho. O castigo físico seria um alívio bem-vindo para
libertar o tormento emocional que acontecia dentro dele.
– Você consegue ficar em pé agora? – perguntou Patrick.
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– Sim, senhor – Aidan murmurou debaixo do fluxo da água.
– Que bom. Vou fazer um bule de café e esperar até que você esteja
pronto para conversar.
Mordendo o lábio, Aidan não conseguiu evitar que lágrimas
rolassem pelo rosto. Ele queria mais do que qualquer coisa que o pai,
de alguma forma, encontrasse uma maneira de ajudá-lo a ter Emma
de volta.
– Obrigado, Pop – disse ele, com a voz embargada de emoção.
– Tudo bem.
Aidan se esforçou para ficar debaixo da água até ter os sentidos
mais apurados. Ao conseguir andar sem cambalear, saiu do chuveiro. Ele
batia os dentes ao tirar as roupas encharcadas. Depois de se enxugar em
velocidade recorde, andou para o quarto e vestiu uma calça de pijama e
uma camiseta.
Ao chegar à cozinha, Patrick sentou-se à mesa. Um sorriso ergueu
os cantos dos lábios dele.
– Desculpe por precisar assumir esse comportamento militar
com você.
Aidan balançou a cabeça.
– Eu mereci. Francamente, você deveria ter me dado um soco.
– Está virando masoquista?
Aidan deu de ombros e se serviu de uma xícara de café.
– Eu não mereço nada menos do que isso. Magoei as pessoas mais
importantes para mim.
Patrick suspirou.
– Eu não sei. Há muita bondade em você, Aidan. Eu gostaria que
você conseguisse ver isso.
– Não deve ter muita bondade em mim se eu continuo estragando
tudo.
– Falando nisso... – Patrick se recostou na cadeira, apoiando o
braço no espaldar. – Antes de oferecer ajuda, preciso saber uma coisa.
Aidan arqueou as sobrancelhas e bebeu um gole de café. O líquido
fervendo queimou sua língua.
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– O que foi? – ele falou, com a voz rouca.
– Você, sinceramente, quer a Emma de volta porque você a ama ou
porque você se sente culpado?
– Não é como o que aconteceu com a Amy – Aidan protestou.
– É só uma pergunta simples, filho. Você quer passar o resto da sua
vida com a Emma e com o seu filho ou não? Quer dizer, a maioria dos
homens que está verdadeiramente apaixonada não tenta dormir com
outras mulheres.
Lágrimas quentes e amargas encheram os olhos de Aidan.
– Eu a amo, Pop. Por Deus, essa é a mais pura verdade. – Ele limpou as lágrimas dos olhos com os punhos. Afundando na cadeira em
frente ao Patrick, ele contou todos os detalhes do dia em que estavam
no deque. – Embora eu não tenha conseguido dizer isso a ela naquele
dia ou mesmo hoje à noite quando ela quis que eu dissesse, eu realmente a amo.
– Então no ano em que você tentou ter a Amy de volta era só...
Aidan fechou os olhos com sofrimento.
– Culpa. Não amor. Ela conseguiu matar o amor que eu sentia por
ela quando me enganou. Por causa do bebê, eu ia ficar com ela.
– A Emma sabe alguma coisa sobre isso?
Abrindo os olhos, Aidan respondeu:
– Eu só falei para ela sobre a mentira. Acho que ela não conseguiria
aguentar o resto.
– Eu acho que você precisa contar para ela.
Aidan franziu o rosto.
– Eu vou contar. Se ela voltar a falar comigo.
– Eu sinto que vai.
– Não me diga que é por causa da sua maldita intuição irlandesa –
disse Aidan, franzindo as sobrancelhas.
– Não, é porque a Becky a encontrou quando ela estava saindo
daqui hoje à noite.
Com um gemido, Aidan esfregou as mãos no rosto.
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– Ótimo. Tenho certeza de que elas vão entrar aqui a qualquer
momento para me dar uma surra!
Patrick riu.
– Não subestime a sua irmã. Ela e as outras meninas podem querer
castrar você pelos seus atos, mas elas o amam e querem vê-lo feliz. – Ele
se inclinou e bateu de leve na mão de Aidan. – E elas sabem que você
estragou tudo no passado e sabotou a sua própria felicidade.
As narinas de Aidan chamejaram de raiva.
– Elas não conhecem a história inteira, Pop. Não sabem o que a
Amy fez!
– Eu sei disso. É um segredo que ficou guardado entre você, Amy
e eu.
Apertando os punhos, Aidan disse:
– Você não sabe quantas vezes eu quis gritar com a minha mãe
quando ela elogiava a Amy, jogando na minha cara que ela estava casada
e feliz... Se ao menos ela soubesse que foi a Amy que estragou a minha
cabeça sobre qualquer outra mulher.
– Foi uma escolha sua não contar para ela, filho. Eu não gostava de
esconder isso dela. Sua mãe e eu tínhamos tão poucos segredos, mas eu
guardei o seu.
Aidan amenizou a expressão furiosa.
– Eu agradeço por isso, Pop.
Patrick sorriu.
– Não foi nada. – Ele se levantou e despejou na pia o que sobrou
do café. – Então, você vai conversar com a Emma e contar para ela a
verdade sobre a Amy?
– Vou. Assim que ela quiser falar comigo.
– Que bom. Fico feliz de ouvir isso. – Patrick olhou para o relógio.
– Bem, acho que é melhor eu pegar a estrada.
O peito de Aidan se apertou com a possibilidade de ficar sozinho.
– Está muito tarde para você dirigir. Talvez devesse passar a noite
aqui.
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Ele olhou para o pai. Com os olhos, Aidan tentou dizer o que estava
tão difícil de admitir: ele não queria ficar sozinho.
Patrick concordou com a cabeça.
– Acho que você tem razão. Você não se importa se seu velho passar
a noite aqui?
Aidan sorriu.
– Vou gostar.
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CAPÍTULO UM - Editora Pandorga