UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
MOVIMENTAR, BRINCAR E APRENDER: UMA REFLEXÃO
PSICOPEDAGÓGICA
CURITIBA
2014
ANA LÚCIA BELLO
MOVIMENTAR, BRINCAR E APRENDER: UMA REFLEXÃO
PSICOPEDAGÓGICA
Artigo apresentado à Universidade Tuiuti do
Paraná para a Pós-graduação em
Psicopedagogia, à Professora Orientadora
Jurândi Serra Freitas.
CURITIBA
2014
Ana Lúcia Bello¹
RESUMO
O brincar é essencial para o desenvolvimento das crianças na educação
infantil, serve como ferramenta para desenvolver a psicomotricidade no
ambiente escolar através da educação pelo movimento. O objetivo deste
estudo é mostrar a importância de atividades psicomotoras realizadas por meio
de jogos e brincadeiras na educação infantil como forma de aprimorar a
aprendizagem dos alunos. Trata-se de uma pesquisa teórica e bibliográfica. A
pesquisa contribui para a formação e atuação dos profissionais da educação
que visam trabalhar a estimulação motora tendo em vista uma boa
aprendizagem e o desenvolvimento intelectual, afetivo e motor da criança de
educação infantil.
Palavras-chave: Educação infantil. Brincar. Psicomotricidade.
ABSTRACT
Play is essential to children's development in early childhood education, serves
as a tool to develop motor skills in the school environment through movement
education. The aim of this study is to show the importance of psychomotor
activities through games and play in early childhood education as a way to
enhance student learning. This is a theoretical and bibliographic research. The
research contributes to the formation and performance of professional
education aimed at working motor stimulation towards a good learning and
intellectual, affective and motor preschool child development.
Words-key: Early Childhood Education. Play. Psychomotor.
________________________
¹ Graduada em Licenciatura em Pedagogia pela Faculdade Cenecista de Campo Largo FACECLA. Pós-graduanda do curso de Psicopedagogia da Universidade Tuiuti do Paraná UTP. Atualmente professora da Prefeitura Municipal de Campo Largo-PR.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 5
1 HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL ............................................. 7
2 O BRINCAR COMO FORMA DE APRENDIZADO ................................................ 12
3 O PAPEL DO PROFESSOR NA PSICOMOTRICIDADE ....................................... 16
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 20
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 22
5
INTRODUÇÃO
Este Artigo tem como tema - Movimentar, brincar e aprender: uma reflexão
psicopedagógica.
Justifica-se essa pesquisa pela razão de que é observado que muitas
pessoas de dentro ou de fora das escolas pensam que o brincar é um mero
passa-tempo, ou não entendem muito bem o que ele pode proporcionar ao
desenvolvimento psicomotor infantil.
Ao contrário desse pensamento, a atividade lúdica realizada nas escolas
contribui à formação integral do aluno, na sua criatividade, motivação,
interesse, socialização, e outros aspectos que, por meio do brincar, auxiliam no
desenvolvimento da inteligência e da própria aprendizagem da criança.
Neste estudo destaca-se o movimento como sendo o essencial para a
construção do psiquismo e desenvolvimento infantil.
Dentre os materiais estudados todos afirmam que o ato de brincar,
movimentar, manter a ludicidade é muito importante para o desenvolvimento
infantil.
Apesar de ser um tema bastante procurado e com muita produção na área
(1.480 Artigos - Educação Infantil - 2013) enfatizo, que ainda, o brincar na
Educação Infantil e sua importância psicopedagógica são questões que a
maioria das pessoas e dos próprios professores não têm dado o merecido valor
que esse ato merece.
Seguindo este pensamento a prática escolar nas instituições de educação
infantil pode ser melhor repensada. Quando se faz mais atividades lúdicas e
brincadeiras a aquisição da linguagem é apropriada pela criança de uma forma
mais agradável.
Adequando este aprendizado na época correta de cada um e não
querendo adiantar o processo de leitura e escrita é que formam-se alunos mais
capacitados para seguir em frente seus estudos, sem deixar que este fique
defasado.
Diante desse contexto, este artigo objetivou identificar a importância do
brincar e suas contribuições para a psicomotricidade infantil, tendo em vista
que seus elementos são pré-requisitos para uma boa aprendizagem.
6
Perante o desafio de utilizar a brincadeira e os jogos como instrumento
psicopedagógico algumas questões serão abordadas ao longo da pesquisa,
são elas:
Por que o brincar é importante e pode ser utilizado como instrumento
psicopedagógico?
Quais as contribuições de jogos e brincadeiras para a psicomotricidade?
Qual o papel do professor na educação infantil?
Trata-se de uma pesquisa teórica e bibliográfica. Contribuíram com o
embasamento teórico autores como: Oliveira (1997), Kishimoto (2001) e Alves
(2008) entre outros.
7
1 HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL
Para entender como o brincar se tornou uma peça indispensável na
educação infantil, é necessário rever alguns pontos sobre a história dessas
instituições no Brasil e como são atualmente.
O atendimento realizado com crianças pequenas teve seu início no século
XIX, porém mesmo com vários anos de desenvolvimento é visível que ainda
hoje as instituições de educação infantil buscam melhorar sua qualidade na
educação brasileira.
De acordo com Freitas & Shelton (2005, p.4) “a ‘Roda dos Expostos’, uma
instituição para educar crianças cujos pais não podiam fazê-lo, foi o primeiro
tipo de atendimento oferecido às crianças pequenas no Brasil”.
Como o próprio nome traduz “roda” era um compartimento no qual poderia
ser colocado um bebê, conforme o local era girado, a criança ficava para o lado
de dentro da instituição, o qual era um convento. Esta forma de atendimento foi
a que mais se prolongou na história da educação infantil.
Ela começa a mudar a partir do momento que a mortalidade infantil,
desnutrição e acidentes domésticos aumentam de forma significativa fazendo
com que alguns setores da sociedade, como religiosos, empresários e
educadores, pensassem numa forma de cuidado para as crianças fora do
ambiente familiar (Kuhlman Jr., 2000).
Para amenizar e tentar controlar as maldades da infância, estes setores
começaram a atender os pequenos, todavia estes espaços visavam somente o
cuidado sem criar atividades diversificadas.
Paschoal & Machado (2009) comentam que as creches brasileiras foram
criadas com uma visão mais assistencialista, diferente das instituições de
educação infantil de outros países que mantinham um caráter pedagógico.
As creches nesse período funcionavam apenas para o abrigo e cuidados
essenciais. As crianças eram tratadas somente para dar melhores condições à
família, principalmente para as mães, as quais estavam adentrando ao
mercado de trabalho e precisavam de um lugar para deixar seus filhos. Este
lugar seria de formação compensatória, em decorrência do regime moralista e
higienista vigente no país naquela época.
8
Os lugares que cuidavam de crianças pequenas eram meramente espaços
de convivência comuns a todos, cujo espaço era utilizado pelas mulheres que
não trabalhavam, as chamadas de mercenárias, estas por sua vez vendiam
seu trabalho para cuidar dos filhos das outras mulheres que trabalhavam nas
fábricas. (Paschoal & Machado, 2009)
Nunes (2009) comenta que:
A institucionalidade da educação infantil no Brasil ocorre na década
de 1930, quando importantes acontecimentos sociopolíticos atravessados por relações sociais contraditórias e ambíguas marcaram a história do desenvolvimento capitalista entre nós.
(NUNES, 2009, p.1)
Até este período as crianças estavam em creches apenas para os pais
poderem trabalhar e propiciar uma renda para as mulheres mercenárias. Então
na década de 30 tem-se a necessidade de fazer das creches uma instituição de
educação mais formalizada para atender a toda população infantil.
É a partir deste momento que a história da educação infantil brasileira
passa a ter um cunho pedagógico, visando o bem estar das crianças e
proporcionando o aprendizado.
Segundo Oliveira (2002):
Lutas pela democratização da escola pública, somadas a pressões de
movimentos feministas e de movimentos sociais de lutas por creches,
possibilitaram a conquista, na Constituição de 1988, do
reconhecimento da educação em creches e pré-escolas como um
direito da criança e um dever do Estado a ser cumprido nos sistemas
de ensino (OLIVEIRA, 2002, p. 115).
Estes movimentos sociais que ocorreram na época dos anos 80 tiveram um
papel importante na conquista e reconhecimento da Constituição de 1988
tornando a educação infantil, um direito da criança e da família; e do Estatuto
da Criança e do Adolescente de 1990 em que os direitos das crianças à
cidadania, proteção e educação começaram a ser cobrados.
Na história do atendimento à criança pequena no Brasil ocorreram várias
criações e extinções de órgãos que seriam responsáveis por esta instância da
educação. No começo os órgãos de saúde, assistência social e educação não
eram articulados fazendo com que a educação infantil fosse ramificada e, com
9
isso, nenhum deles ficou responsável por organizar e tomar a frente dos
trabalhos.
Porém, ao longo de 30 anos, as crianças passaram a ser consideradas
cidadãs tendo sua especificidade respeitada, e isso fez com que órgãos como
a assistência, a saúde e a educação se tornassem direito de todas elas.
(Kramer, 2006)
Com o passar dos anos, a educação infantil passa a ser considerada uma
etapa da educação brasileira, no que se refere à Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, no Capítulo III – Da Educação, da Cultura e do
Desporto, Seção I sobre a Educação, no Artigo 208, inciso IV é relatado que o
Estado deve garantir “educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças
até 5 (cinco) anos de idade”.
Para a LDB n° 9394 de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional) a educação infantil complementa a educação da família e à da
comunidade, tendo um papel específico para ampliar experiências e
conhecimentos das crianças pelo ser humano, natureza e sociedade (Barreto,
1998)
No Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil de 1998, criado
para ser um guia de orientação do planejamento, desenvolvimento e avaliação
de práticas educativas, é abordado que:
A maneira como a família vê a entrada da criança na instituição de
educação infantil tem uma influência marcante nas reações e
emoções da criança durante o processo inicial. Acolher os pais com
suas dúvidas, angústias e ansiedades, oferecendo apoio e
tranqüilidade, contribui para que a criança também se sinta menos
insegura nos primeiros dias na instituição. Reconhecer que os pais
são as pessoas que mais conhecem as crianças e que entendem
muito sobre como cuidá-las pode facilitar o relacionamento. Antes de
tudo, é preciso estabelecer uma relação de confiança com as
famílias, deixando claro que o objetivo é a parceria de cuidados e
educação visando ao bem-estar da criança (BRASIL,1998, p. 80).
Quando a criança vai iniciar na educação infantil, as instituições
responsáveis pelo atendimento podem manter um contato com os pais,
mostrando como será o trabalho realizado, como é tratado o cuidar e o educar,
10
para que assim os pais repassem essa confiança para seus filhos e estes não
se sintam inseguros nos primeiros dias na instituição.
É a partir do Referencial Curricular que a participação da família se tornou
uma peça importante para o desenvolvimento infantil. Porém, aquela criança
desprovida de uma boa estrutura familiar também pode encontrar na educação
infantil um ambiente estimulador e de qualidade para se desenvolver.
Paschoal e Machado (2009) relatam que:
O planejamento do currículo inclui a organização de uma série de
elementos que vai enriquecer o universo da escola infantil. Questões
como a rotina, o tempo, o espaço, os materiais disponíveis, os
brinquedos devem permear todo o desenvolvimento das atividades
junto às crianças. (Paschoal & Machado, 2009, p.91)
Com a organização curricular o brincar passou a ser visto como peça
importante no interior das instituições de educação infantil, não sendo
meramente uma forma de passatempo, como alguns podem pensar, mas sim,
tendo um propósito e objetivo delimitado.
As teorias psicológicas e pedagógicas de desenvolvimento, que surgiram a
partir dos anos 60/70, influenciaram creches e escolas maternais (Wajscop,
1995) juntamente com a divulgação da psicologia do desenvolvimento e da
psicanálise contribuíram para afirmar a infância como período essencial do
desenvolvimento do ser humano, colocando a brincadeira como primordial na
educação infantil.
Atualmente as instituições de educação infantil – CMEI (Centro Municipal
de Educação Infantil) - são mantidas pelo município com colaboração do
Estado e da Federação (Barreto, 1998) seu objetivo é propiciar um ambiente de
novas descobertas, com cunho pedagógico, porém não deixa de lado o cuidar,
este é parte essencial do processo educativo, pois é na confiança estabelecida
com o cuidado dos alunos que o professor/educador consegue alcançar seus
objetivos. O aluno se desenvolve com mais facilidade em um ambiente
aconchegante.
Há também o atendimento de Educação Infantil nas Escolas de Ensino
Fundamental. O trabalho pedagógico realizado neste local deve ser o mesmo
11
feito em um CMEI, porém não é isto o que algumas escolas realizam ao propor
várias atividades de cópia e menos atividades lúdicas.
12
2 O BRINCAR COMO FORMA DE APRENDIZADO
O movimento, nos estudos de Henri Wallon, é o primeiro sinal de vida
psíquica, é através de gestos, movimentos e interações com o meio que a
criança aprende. Essa interação não precisa acontecer somente no meio físico,
mas também nas emoções, pois o movimento gera a emoção. (Galvão, 2002)
Quando a criança se envolve afetivamente ocorre a interação necessária
para que ela tenha acesso à linguagem e à outros conhecimentos. Ou seja, é
pela emoção que surge a inteligência e, finalmente, depois da inteligência
desenvolvida é que a criança se constrói como pessoa quando torna
consciência de si como ser individual.
Partindo do pressuposto que o movimento propicia o desenvolvimento
infantil e a melhor adaptação no ambiente escolar Hansen (2014) complementa
que:
...a presença de uma equipe multidisciplinar, organização espacial,
curricular, contexto escolar adequado, espaços amplos, pátios,
playground,
materiais,
experimentação,
vivências,
solos
diferenciados, prática de educação física e psicomotricidade com
profissionais qualificados, desafios constantes e confiança, atividades
que são realizáveis e compatíveis para cada idade, movimentos
dirigidos e planejados de acordo para cada faixa-etária parecem
garantir um bom desenvolvimento. (Hansen, 2014, p.5)
Ao citar a psicomotricidade no ambiente escolar Hansen (2014) defende a
ideia de que esta atividade tem de ser realizada com profissionais adequados,
porém, na atual situação das instituições de educação infantil nem todas
conseguem garantir este tipo de atendimento psicomotor com profissionais
formados na área. Então, o que pode ser feito é realizar através de jogos e
brincadeiras
a
psicomotricidade
necessária
para
garantir
o
bom
desenvolvimento do aluno.
Sobre psicomotricidade, Galvão (1995), comenta ser a ciência que estuda
o homem pelo seu corpo em movimento relacionando seu mundo interno e
externo. O corpo é a origem da aquisição cognitiva, afetiva e orgânica
necessária para a vida, sendo sustentada pelo movimento, intelecto e o
cognitivo.
13
A arte de se movimentar, pelo simples prazer de fazê-lo, é o que contribui
para que as crianças tenham novas experiências, conheçam melhor seu corpo
e se desenvolvam fisicamente e mentalmente.
Na área da educação a psicomotricidade se faz de forma preventiva para
visar o desenvolvimento de capacidades básicas, sensoriais, perceptivas e
motoras através de jogos e brincadeiras para levar à uma organização
neurológica mais adequada para a aprendizagem geral e particularmente a
escrita (Oliveira e Carvalho, 2013)
A melhor maneira de proporcionar essas vivências às crianças é utilizandose
de
atividades
lúdicas
como
forma
de
interação,
aprendizado
e
desenvolvimento.
Do ponto de vista psicomotor, existem pré-requisitos para a aprendizagem
em sala de aula. Para Oliveira (1997):
É necessário que, como condição mínima, ela possua um bom
domínio do gesto e do instrumento. Isto significa que precisará usar
as mãos para escrever e, portanto, deverá ter uma boa coordenação
fina. Ela terá mais habilidade para manipular os objetos de sala de
aula, como lápis, borracha, régua, se estiver ciente de suas mãos
como parte de seu corpo e tiver desenvolvido padrões específicos de
movimentos. Deverá aprender a controlar seu tônus muscular de
forma a saber dominar seus gestos.(Oliveira, 1997, p. 39)
Para que o aprendizado ocorra, verdadeiramente, é necessário preparar o
corpo para receber todas as informações básicas para seu desenvolvimento.
Portanto, não é colocando uma criança em uma sala de aula e proporcionando
o contato com o lápis e o papel que ela saberá qual a função destes materiais e
saberá utilizá-los corretamente, pelo contrário, quanto mais atividades feitas
fora da sala de aula, realizadas com jogos e brincadeiras, mais a criança ficará
preparada para aprender a escrita e o desenho.
Um sujeito que conhece bem a funcionalidade do seu corpo e sabe se
expressar através dele é um ser confiante em si mesmo... A harmonia do seu
corpo com o seu meio será traduzida na sua expressão corporal. (Alves, 2008,
p. 35)
Do mesmo modo que a expressão corporal pode simbolizar a harmonia, a
felicidade e a confiança, ela também pode suscitar algo de errado no contexto
14
familiar, social ou no próprio desenvolvimento infantil, pois a criança, quando
não tratada corretamente pode fica apática a certas situações e não tem
expressão corporal como as outras podem possuir.
Para Kishimoto (2001, p.38-39) a brincadeira tradicional infantil “tem a
função de perpetuar a cultura infantil, desenvolver formas de convivência social
e permitir o prazer do brincar”, essas brincadeiras de geração para geração,
sofrem algumas modificações, mas não perdem sua manifestação livre e
espontânea da cultura popular e nem a sua essência de garantir o lúdico e a
imaginação. Ao ser trabalhadas na educação infantil o sucesso de aprendizado
é garantido.
Kishimoto ainda relata que (2001, p. 39) o faz-de-conta “é a que deixa mais
evidente a presença da situação imaginária”, ou seja, é a partir dela que a
criança começa a imaginar e dar novos significados aos objetos de suas
experiências anteriores. Ao brincar de faz-de-conta a criança atua num
imaginário diversificado, e com isso, ela aprende a criar símbolos e desenvolve
sua função simbólica.
Segundo Friedmann (1996, p. 14) “o jogo implica para a criança muito mais
do que o simples ato de brincar. Através do jogo, ela está se comunicando com
o mundo e também está se expressando”. É no momento do brincar que a
criança tem um meio de interagir com o próximo, de se aproximar com seus
pares, pois para a criança isto se torna uma peça chave, principalmente para
àquelas que são mais tímidas.
Apesar de várias instituições de educação infantil cultivarem o brincar e
para isso possuem uma pessoa responsável para as brincadeiras - o que não
deixa de ser uma ótima iniciativa - esse brincar é visto como uma atividade
separada das outras.
É necessário, então, que essas instituições percebam que o brincar é um
meio no qual as crianças identificam-se no caminho para a aprendizagem e por
esta razão não pode estar separado das atividades de dentro da sala de aula.
No ambiente escolar, Alves (2008) aborda que:
O jogo integra os aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais e
seria muito interessante todos os profissionais da área e o professor
criarem oportunidades para que a motivação permita aos alunos
15
participarem ativamente do processo ensino-aprendizagem. A
psicomotricidade pode ajudar e muito através de exercícios
preparatórios. (Alves, 2008, P. 115)
Seja na Educação Infantil ou nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental as
atividades lúdicas realizadas por meio de brincadeiras ou jogos precisam ser
planejadas pelos educadores/professores para motivar os alunos no processo
de aprendizagem. Não somente o professor, mas os outros profissionais das
instituições podem participar criando oportunidades e situações para os
exercícios psicomotores possam auxiliar ainda mais no desenvolvimento dos
educandos.
16
3 O PAPEL DO PROFESSOR NA PSICOMOTRICIDADE
Sobre o papel do professor de educação infantil atuando com
psicomotricidade, Oliveira e Carvalho (2013) abordam que:
O papel do professor, que será de maior relevância se este, ao invés
de ensinar, de transmitir conhecimentos já estabelecidos, assumir o
papel de facilitador do desenvolvimento da capacidade de aprender,
dando à criança tempo para as suas próprias descobertas,
oferecendo situações e estímulos cada vez mais variados,
proporcionando experiências concretas e plenamente vividas com o
corpo inteiro; nunca transmitidas apenas verbalmente, para que ela
própria possa construir seu desenvolvimento global. Por meio do
contato físico com outras pessoas e ao observar o outro, a criança irá
aprender sobre o mundo e sobre si mesma, colocando em prática a
comunicação através da linguagem corporal. (Oliveira e Carvalho,
2013, p. 8)
Na rotina da educação infantil é importante que cada estímulo e descoberta
ocorram de forma concreta, ou seja, é mostrando fisicamente o que quer ser
trabalhado e visando a interação de todos os alunos entre si, com o professor e
com os demais alunos da instituição que a criança terá um desenvolvimento
pleno.
Ao movimentar-se, a criança expressa a aprendizagem e desenvolvimento
global vivenciado no ambiente escolar (Costa; Ribeiro e Rodrigues, 2014) pelas
brincadeiras as crianças se comunicam com o mundo adulto, e com seus
pares, cada vez mais elaborando seus sentimentos em relação à vida. Ao
brincar a criança pode libertar-se de seu medo, pois é no brincar que ela cria
seu mundo pessoal para fugir da realidade e dos conflitos.
Através de jogos e brincadeiras, que parecem passatempos, iremos
preparar a criança para um aprendizado posterior, mostrando-lhe os limites.
(Alves, 2008, p.134)
A presença de atividades lúdicas nos conteúdos de educação infantil faz
com que a rotina dos alunos seja mais bem aproveitada, estes se sentem mais
felizes e participativos e aprendem os limites, as normas e tudo que está
implícito em aprendizado com jogos e brincadeiras.
Costa, Ribeiro e Rodrigues (2013, p.5) comentam que “na observação
realizada, houve um predomínio de atividades do tipo movimento físico,
seguida de brincadeiras envolvendo a realidade e a fantasia. Em outros
17
momentos, as crianças apenas realizaram recreação livre”, isto prova que além
de proporcionar diversas vivências aos seus alunos, outra característica de um
professor/educador da educação infantil, é o de permitir que seus educandos
brinquem de forma livre, sem ser uma atividade direcionada pelo adulto. Desta
forma o professor pode avaliar como está o desenvolvimento de seu aluno,
atuando como observador e interferindo somente quando solicitado pela
criança.
Em seu livro, Alves (2008) relata algumas atividades que podem ser feitas
nas turmas de educação infantil. Estas atividades para a criança são vistas
como uma simples brincadeira, ou jogo, mas para os professores elas se
tornam uma peça fundamental para auxiliar no desenvolvimento psicomotor de
seus alunos. São eles:
Exercícios de esquema corporal:
- Mímica (adivinhar a ação)
- Esculturas (explorar seu corpo e esculpir na argila)
- Adivinhação (ex.: o que fica em cima do pescoço?)
- Quebra-cabeça humano.
- Desenhar partes do corpo
Exercícios de lateralidade:
- Contornar as mãos
- Contorno dos pés
- Gestos que imitam o professor
- Mão direita no braço esquerdo... etc
Exercícios de coordenação:
- Rolar, engatinhar, correr, pular, dançar, subir, chutar...
- Quebra-cabeça
- Massinha
- Rasgar e amassar
- Recortar, colar, pintar, dobrar, contornar...
- Seguir com os olhos e cabeça um objeto
- Seguir só com os olhos
- Passar o dedo indicador numa reta da esquerda para direita
- Seguir o traçado
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Exercícios de orientação temporal:
- Linha de partida e chegada, rolar a bola e os alunos tem que chegar
antes da bola.
- Reproduzir ritmo
- Ouvir e depois contar a sequência de alguma história
- Ordenar por início, meio e fim.
- Calendário: ontem, hoje e amanhã.
Exercícios de orientação espacial:
- Andar primeiro com olhos abertos e depois fechados
- Amarelinha
- Quebra-cabeça
- Arremessar bolas
- Obedecer a ordens: penal em baio da carteira
Atividades na área de comunicação e expressão:
- Fazer caretas
- Mastigar
- Assoprar apitos...
- Jogar beijo
- Inspirar pelo nariz e expirar pela boca
- Contar história de próprios desenhos
- Formar história pelo título
- Passeios a pé
Exercícios de percepção:
- Reconhecer colegas pelo tato
- Experimentar diferentes sabores
- Cheirar diversos odores
- Cabra-cega
- Imitar sons de animais
- Identificar, agrupar cores.
- Sete erros
Exercícios de relaxamento:
- Relaxar com música instrumental
- Fechar os olhos, deitar...
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Ao realizar estes exercícios o professor deve estar ciente de que na
educação infantil uma atividade para ser bem assimilada tem de ser realizada
no mínimo três vezes. Assim, aquele aluno que não conseguia fazer algum
exercício corretamente pode ter o seu tempo para desenvolver-se até mostrar
que consegue.
Alves (2008) relata com riqueza de detalhes como o papel do professor
pode ser um importante aliado à educação pelo movimento:
Quando o professor conscientizar-se de que a educação pelo
movimento é uma peça mestra da área pedagógica, que permite à
criança resolver mais facilmente os problemas atuais de sua
escolaridade e a prepara, por outro lado, para a sua existência futura
de adulto, sobretudo porque o professor constatará que esse material
educativo não verbal, constituído pelo movimento é, pôr vezes, um
meio insubstituível para afirmar certas percepções, desenvolver
formas de atenção, pondo em jogo certos aspectos da inteligência.
(Alves, 2008, p. 138)
As brincadeiras, os brinquedos e os jogos são realmente importantes no
processo ensino-aprendizagem, principalmente nas turmas de educação
infantil, no qual as crianças estão em fase de desenvolvimento, descobrindo o
mundo, e são capazes de absorver todo tipo de conhecimento.
Portanto o professor/educador tem como objetivo propor atividades lúdicas,
pois é através do brincar que a criança vai criar, recriar e entender o mundo à
sua volta, além de desenvolver aspectos motores e cognitivos, como por
exemplo: a lateralidade, o desenvolvimento corporal, a imaginação, a
afetividade, a aprendizagem, etc.
20
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo sobre o movimento corporal vem a esclarecer sua importância no
desenvolvimento infantil como forma de proporcionar à criança o conhecimento
do próprio corpo e ser a base para o desenvolvimento motor e cognitivo.
Com base neste pensamento é que o Psicopedagogo preocupado com o
aprendizado de seu aluno/paciente pode trabalhar. Oferecer diversos materiais
e oportunidade para que a criança utilize de seu corpo de maneira à se
beneficiar.
Tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, do espaço, de dominar o
tempo e adquirir habilidades, coordenação de gestos e movimentos faz com
que a criança entenda mais sobre seu corpo, as funções de cada parte e
predispõe a uma aprendizagem eficiente.
Toda criança é um corpo em movimento que possui uma livre expressão,
mas precisa ser conduzida nesse processo de interação. Uma forma de
mediação é a psicomotricidade, que organiza e reorganiza os gestos motores
essenciais para a evolução da aprendizagem, como as percepções, sensações
e ações do sujeito.
Dessa
maneira,
as
brincadeiras
e
os
jogos
como
instrumentos
psicomotores são importantes no trabalho do Psicopedagogo e da Educação
Infantil, pois, a partir do conhecimento do próprio corpo, a criança se situa no
mundo em que vive e vai conhecendo-se para desenvolver sua personalidade.
Então a Psicomotricidade serve como um recurso das escolas para
potencializar o desenvolvimento cognitivo das crianças e sua adaptação social.
Sendo assim, as práticas pedagógicas devem propor formas de aprendizagem
e de desenvolvimento integral das crianças, para que estas tenham um
desenvolvimento pleno.
Além de todos os requisitos abordados, a criança precisa ser bem acolhida
por todos os profissionais da instituição, sejam eles: professores, pedagogos,
diretores, merendeiras, zeladoras, enfim, todos os funcionários de CMEI ou de
Escola tem o papel de ajudar esta criança no seu desenvolvimento físico e
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social para se tornar um adulto que conheça seus limites e potencialidades, e
que saiba ajudar o próximo.
A partir deste pensamento é que se pode acreditar numa educação de
qualidade, pois de nada adianta cobrar a leitura e a escrita, sem ao menos a
criança estar ciente de seu próprio corpo e potencialidades.
É com a descoberta do seu corpo que a criança entende que pode usar a
mão para escrever e o corpo para se expressar.
22
REFERÊNCIAS
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Janeiro: Wak, 2008.
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Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 1998. Disponível em:
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