Colégio Planeta
Prof.: Caetano
Lista de Redação
Aluno(a):
Lista
02
Data: 27 / 08 / 2010
Semi Extensivo
Turma:
Turno: NOTURNO
Aula 5
Exercícios de uso da coletânea
Como usar a coletânea
Recebi muitas cartas solicitando a minha opinião sobre a
questão judaico-palestina e sobre a perseguição aos judeus na
Alemanha. Não é sem hesitação que ouso expor o meu ponto de
vista.
Na Alemanha as minhas simpatias estão todas com os
judeus. Eu conheci-os intimamente na África do Sul. Alguns deles
tornaram-se grandes amigos. Através destes amigos aprendi muito
sobre as perseguições que sofreram. Eles têm sido os "intocáveis"
do cristianismo; há um paralelo entre eles, e os "intocáveis" dos
hindus. Sanções religiosas foram invocadas nos dois casos para
justificar o tratamento dispensado a eles. Afora as amizades, há a
mais universal razão para a minha simpatia pelos judeus. No
entanto, a minha simpatia não me cega para a necessidade de
Justiça.
O pedido por um lar nacional para os judeus não me
convence.
Por quê eles não fazem, como qualquer outro dos povos
do planeta, que vivem no país onde nasceram e fizeram dele o seu
lar?)
A Palestina pertence aos palestinos, da mesma forma que
a Inglaterra pertence aos ingleses, ou a França aos franceses.
É errado e desumano impor os judeus aos árabes. O que
está acontecendo na Palestina não é justificável por nenhuma
moralidade ou código de ética. Os mandatos não têm valor.
Certamente, seria um crime contra a humanidade reduzir o orgulho
árabe para que a Palestina fosse entregue aos judeus parcialmente
ou totalmente como o lar nacional judaico.
O caminho mais nobre seria insistir num tratamento justo
para os judeus em qualquer parte do mundo em que eles
nascessem ou vivessem. Os judeus nascidos na França são
franceses, da mesma forma que os cristãos nascidos na França
são franceses.
Gandhi em 26 de novembro de 1938.
00
Segundo Gandhi “seria um crime contra a humanidade reduzir
o orgulho árabe para que a Palestina fosse entregue aos
judeus parcialmente ou totalmente como o lar nacional judaico.”
02
Segundo Gandhi “seria um crime contra a humanidade reduzir
o orgulho árabe para que a Palestina fosse entregue aos
judeus parcialmente ou totalmente como o lar nacional
judaico.”, frase esta que resume a causa do conflito.
04
Até Gandhi já dizia que a injustiça histórica cometida contra os
judeus não justifica o que hoje fazem com os palestinos.
06
Até Gandhi já dizia que a angústia histórica cometida contra os
judeus não justifica o que hoje fazem com os palestinos. Isso
foi em 1938, antes do holocausto, porém nem mesmo esse
genocídio justifica a revanche, uma vez que ele só gera mais
sentimentos de ódio.
08
Gandhi entrou no assunto do conflito árabe em 1938. Mas sua
mais famosa ação nos momentos de conflito global não foi
realizada: a greve de fome. Talvez seja porque o mundo já deu
crédito para os judeus gastarem por conta do holocausto,
créditos estes que se configuram em armas modernas,
“doadas” pelos EUA aos rabinos raivosos.
EXEMPLO DE ARTIGO DE OPINIÃO
MÃE DINÁ VAI AO CONCURSO
Quem já foi aluno de cursinho, provavelmente já passou
pela seguinte experiência em uma aula de redação: o
professor, que deveria ensinar a escrever chega em sala,
apresenta uma proposta feita por ele e, então, fala o que pensa
a esse respeito. O texto feito pelo aluno em casa deve ser uma
representação da visão apresentada pelo professor.
Bem, essa visão de aula de redação baseia-se na
concepção de que a produção de um texto é basicamente a
constituição de ideias sobre um tema e que, tendo a ideia, o
resto se resolve. Quanta ingenuidade!
Quantas vezes na minha época de aluno de cursinho eu
assistia a uma ótima aula de redação e, quando ia escrever em
casa, percebia que o professor não havia me ensinado a
escrever aquele texto. O que eu tinha eram ideias que o
professor discutiu, mas, por mais que eu as escrevesse, a
corretora escreveria na minha redação:
- Está sem articulação. Use a coletânea. Seja criativo.
Ironia das ironias era perceber que nas aulas meu
professor nunca falava de articulação, coletânea e se falava de
criatividade era pouco claro:
- Seja criativo. (Mas isso a corretora já não tinha dito?)
Dessa forma, ao dar aulas, sempre achei que é
desimportante discutir temas em uma sala com cem alunos.
Simplesmente porque no vestibular, ou no concurso, não é
assim.
Imaginem a cena ridícula: o fiscal chega com a prova, lê
a coletânea com os concorrentes, todos se reúnem em torno da
discussão, e então, escrevemos. É assim? Não, porque ao falar
a respeito de um tema eu estou influenciando o outro. E, logo,
ele não está fazendo a redação dele.
Por isso as aulas de redação deveriam se concentrar em
recursos, ferramentas para ajudar os alunos. Em uma aula eu
ensino a usar a coletânea, na outra a construir coerência, em outras
eu melhoro o uso dos elementos coesivos. E, sim, eventualmente
eu posso falar sobre o tema, mas sem essa balela de :
- Olha, esse ano o tema pode ser tal.
Como se adivinhar fosse função do professor! O bom
professor não é aquele que “adivinha” o tema, mas aquele que
oferece tantas ferramentas para o aluno que, mesmo que ele não
tenha falado do tema, a prova pareça fácil. É bom esclarecer que
não estou apontando críticas a pessoas e sim a posturas. Posturas
que na minha concepção e na de muitos alunos deveriam ser
revistas. Aliás, é bom dizer que acontece sim de um professor falar
em sala daquilo que cai na prova. Alguns professores há anos dão
aulões antes da primeira fase do vestibular que parecem uma xerox
da prova da Federal, mas minha gente, isso não é adivinhação, é
competência. As aulas se parecem com a prova porque o
profissional é preparado, conhece o conteúdo, lê a prova todos os
anos e tem uma idéia das relevâncias a apresentar. Mas falar que
adivinhou é golpe baixo. Afinal, nós somos professores ou mães
Dinás?
Se eu tiver aula em um cursinho quero entender porque às
vezes eu travo para escrever e como fazer para isso parar. Eu
quero saber unir minhas palavras e frases sem que meu texto fique
confuso. Importante: eu não desprezo as ideias do meu professor,
mas eu quero aprender a ter as minhas.
Talvez os professores queiram discutir os textos com os
alunos por achar que falta a eles o mais fundamental: pensar. Essa
idéia é preconceituosa e já a ouvi de alguns colegas. Não se ensina
ninguém a pensar, ensina-se a organizar o pensamento em texto.
Afinal, se pararmos para refletir também não se ensina ninguém a
escrever, pelo menos não no cursinho. Ensina-se a organizar um
processo que às vezes ficou pelo meio. O aluno já é alfabetizado –
por vezes com dificuldades – o que ele precisa é ser preparado
para que um leitor consiga diante daquilo que ele escreveu chegar
até a linha 40 e entender seus argumentos.
Vai uma mãe Diná aí?
Caetano Mondadori é professor de redação.
Publicado no Diário da Manhã no dia 26 de maio de 2010.
Aula 6
Terceira proposta de redação
Leitura de produção de aluno.
TEMA 03
A prova de redação apresenta uma proposta de produção
textual. Para produzir o seu texto, você deve seguir a definição de
gênero logo abaixo descrita.
DISSERTAÇÃO, ARTIGO DE OPINIÃO, CRÔNICA
O tema é único e deve ser desenvolvido segundo a proposta
escolhida. A fuga do tema anula a redação. A leitura da coletânea é
obrigatória. Ao copiá-la você não deve copiar trechos ou frases
sem que esta transcrição esteja a serviço de seu texto. Seu
texto não deve ser assinado.
TEMA:
A construção da cor no Brasil
A) “O homem livre, o homem branco, além de ser muito mais
inteligente que o negro, que o africano boçal, tem o incentivo do
salário que percebe, do proveito que tira do serviço, da fortuna
enfim que pode acumular a bem de sua família. Há entre esses dois
extremos, pois, um abismo que separa o homem do bruto. [...] Cada
africano que se introduz no Brasil, além de afugentar o emigrante
europeu, era em vez de um obreiro do futuro, o instrumento cego, o
embaraço, o elemento de regresso das nossas indústrias.” Tavares
Bastos, jurista e político fundador da Sociedade Internacional de
Imigração (1866), era a favor da abolição dos escravos. Como
se pode ler na sua frase, não porque acreditasse em algum tipo
de equidade entre ele e os negros. Queria na verdade substituir
os cativos por homens brancos assalariados, queria postos de
trabalho que atraíssem imigrantes para o solo nacional a fim de
promover mais ‘progresso’ ao País. E nesse progresso não
havia espaço para pretos.
Bastos não estava sozinho em sua empreitada. Como ele,
outros “ilustrados” também se baseavam, alguns sem saber,
nas teorias do francês Joseph-Arthur de Gobineau (18161882). Foi ele que, em seu Ensaio sobre a desigualdade das
raças humanas (1853-1855), espraiou o que entendemos hoje
como racismo. Ele está baseado na falsa crença da existência
de várias raças humanas, no entendimento de diferenças entre
tais raças e finalmente na ideia de que entre estas raças
algumas são mais superiores que outras. Um britânico chegou
para complementar o engano: Houston Stewart Chamberlain
(1825-1927) é o pai do mito da superioridade da raça ariana,
do qual Hitler se apropriaria através das ideias de Alfred
Rosenberg (1893-1946). Este, munido de gráficos, números,
tabelas e “pesquisas”, sustentou “cientificamente” o nazismo ao
afirmar que judeus, ciganos, eslavos e homossexuais eram
inferiores e o alemão personificava a perfeição da humanidade.
Gobineau, Chamberlain e Rosenberg certamente não tomariam
Bastos como um belo exemplar da “raça”. Mas aqui, em meio a
um país irreversivelmente mestiço, ele abria os braços
conclamando mais iguais. Mais brancos.
Jornal do Comércio: Especial Joaquim Nabuco. Um pé no salão, outro na
senzala. O negro, um mero “objeto da sciencia”
B) A Faculdade de Direito do Recife foi, em solo nacional, um
dos centros de difusão da crença na inferioridade negra
baseada no evolucionismo e no positivismo. “O negro não é só
uma máquina econômica; ele é antes de tudo, e malgrado a
sua ignorância, um objeto de sciencia", escreveria um de seus
mais famosos integrantes, o crítico Sílvio Romero (1851-1914),
no prefácio de Africanos no Brasil, livro de Nina Rodrigues,
outro arauto do “racismo científico”. Romero acreditava que a
mescla de cores trouxe-nos aspectos não desejáveis, por isso
era mister embranquecermos. “Romero contribui para mostrar
que o atraso estava ligado ao trabalho do índio, que seria lento,
e ao escravo, que era causa de nossa estagnação econômica.
Não estávamos, assim, aptos ao desenvolvimento, não
estávamos prontos para um país novo, capitalista. Ele estava
convencido de nossa inferioridade e por isso investe seu
otimismo no branqueamento”, diz o sociólogo Arim Soares do
Bem, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
Segundo ele escreve no artigo Criminologia e etnicidade: culpa
categórica e seletividade de negros no sistema judiciário
brasileiro, a influência de Silvio Romero foi grande a ponto de
estimular o recrutamento de imigrantes em vários países
europeus, dando início a uma nova fase imigratória que
somente foi interrompida com o processo de nacionalização da
mão de obra introduzido por Getúlio Vargas na década de 30
do século 20. De 1880 até 1940, vieram para o Brasil cerca de
1,4 milhão de italianos, 1,2 milhão de portugueses, 580 mil
espanhóis, 170 mil alemães, 108 mil russos e 47 mil poloneses.
Jornal do Comércio: Especial Joaquim Nabuco. Um pé no salão, outro na
senzala. O negro, um mero “objeto da sciencia”
C) O antropólogo norte-americano Marvin Harris estava
intrigado. Afinal qual era exatamente a cor de uma pessoa
acastanhada? Ou alviescura, amarelada, alvirrosada? Passava
os olhos pela lista divulgada nos anos 70 pela Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (Pnud), na qual os
entrevistados declaravam a própria cor. Eram incríveis:
alvarenta; alvarinta; alvinha; amarela; amarelo-queimada;
amarelosa; amorenada; avermelhada; azul; baiana; bembranca; avermelhada; branco-melada; branco-morena; brancopálida; branco-queimada; branco-sardenta; branco-suja;
branquinha; bronze. Estava estudando uma população no
interior da Bahia. Ali, lançou uma questão que até hoje
reverbera em solo nacional: who are white? (quem é branco?).
Para conseguir a resposta, teve que se investir de uma
percepção refinada e um olho descondicionado – ajudava o fato de
não ter nascido na terra dos múltiplos coloridos. A quantidade de
declarações sobre a cor da pele mostrava que, mesmo em um
Estado com alto índice de negros e mulatos como a Bahia, a
população simplesmente não conseguia se dizer “branca” ou
“negra”. Harris foi seguindo a trilha dessa multiplicidade de tons e
percebeu que a cor estava claramente atrelada ao sucesso social
de seu dono. Chegou a uma conclusão surpreendente, formulando
assim um instigante esquema. Ele nos diz: um negro é um branco
muito pobre; um mulato muito pobre; um mulato pobre; um negro
muito pobre; um negro pobre; um negro medianamente rico. Já um
branco é: um branco muito rico; um branco medianamente rico; um
branco pobre; um mulato muito rico; um mulato medianamente rico;
um negro muito rico.
É, sem dúvida, uma forma mais eficaz para lidar com a questão
racial no País: ela não se localiza apenas no fenótipo, na aparência,
mas perpassa também pela classe social do indivíduo. Significa
dizer que o racismo no Brasil manifesta-se pelo branqueamento
daqueles que agregam diferentes status e, ao contrário, o
enegrecimento ou empardecimento daqueles sem prestígio social.
Os psicólogos Marcus Eugênio Lima (Universidade Federal da
Bahia) e Jorge Vala (Universidade de Lisboa) se muniram da
análise de Harris para tentar decifrar essa rede complexa – e, por
isso, nem sempre muito visível no trato cotidiano. “Estamos diante
de um racismo camaleônico, que utiliza o notável caleidoscópio de
cores que compõem a sociedade brasileira para construir um tipo
de representação social que associa o fracasso à cor negra e o
sucesso à cor branca. Essa forma brasileira de racismo pode fazer
mudar subjetivamente a cor de um indivíduo a fim de manter
intactas as crenças coletivas e as atitudes negativas associadas à
categoria de pertença desse indivíduo.”
Jornal do Comércio: Especial Joaquim Nabuco.
Um negro é um branco muito rico.
D) A cor também está veiculada àquilo que é associado ao que é
negativo (preto) ou positivo (branco). A pesquisa empreendida pelo
sociólogo Sérgio Adorno a partir dos boletins de ocorrências de
crimes violentos em São Paulo durante os anos 90 traz uma
assustadora conclusão: se o réu era inocentado pelas evidências,
tornava-se “branco” nos registros. Já aqueles cujas evidências
apontavam para a culpa eram descritos, mesmo tendo a pele clara,
como “morenos” ou “negros”. Mas foi o vice-presidente do Instituto
Cidadania Democrática (ICD/SP), Silvio Luiz de Almeida, quem
conseguiu responder mais sucintamente à pergunta do assombrado
Marvin Harris. Ao estudar o acesso à universidade e a
emancipação dos afro-brasileiros, ele afirma: ser “branco”, no
Brasil, não se refere apenas à cor da pele, mas a todo um conjunto
de atitudes e de privilégios políticos e econômicos que nossa
sociedade atribui aos que possuem uma aparência branca. E essa
aparência, como sabemos, pode ser construída de diversas
maneiras, seja através do sucesso econômico, político, cultural. A
falta de privilégios, por sua vez, confere simbólicos pigmentos, uma
melanina brasileiríssima.
Jornal do Comércio: Especial Joaquim Nabuco.
Um negro é um branco muito rico.
E) Para quem não conhece, Femi Ojo-Ade é um professor e escritor
africano, conferencista internacional e autor do livro "Brasil, paraíso
ou inferno para o negro?". Usando como mote a famosa frase do
ex-presidente norte-americano Franklin Roosevelt, que teria dito
que no Brasil não existe racismo, o autor parte desse princípio para
concluir que o nosso país é racista sim, e conclama os negros
brasileiros a se unirem aos negros africanos e afro-americanos e
reagirem à esse racismo mascarado.
Li o livro porque precisava fazer um trabalho de História e Cultura
Africana. Confesso que não gostei, mas fiz o trabalho segundo a
ótica que meu professor havia pedido. Depois, fiquei tão
incomodado com o texto que preparei o adendo a seguir e
entreguei junto com o trabalho.
MEU CARO PROFESSOR RODRIGO:
Tendo terminado o meu trabalho, senti-me na obrigação de dizerlhe que discordo da posição adotada pelo autor do texto, o
professor Ojo-Ade. Na verdade, não vejo muita diferença entre
suas opiniões e a de qualquer racista de cor branca que
incentiva a separação entre as raças e a consequente guerra
inter-racial que sempre irá advir dessa separação. Acho
inconcebível que em pleno século XXI, quando a maioria dos
seres humanos já entendeu que união é fator primordial para a
paz no mundo, pessoas ainda pensem com a mentalidade de
séculos atrás e utilizem palavras de ordem como "orgulho",
"unificação", "luta definitiva", "nossa raça" e etc. Há poucos
anos, um homem utilizou-se destas mesmas palavras para
levar todo um país a uma catastrófica aventura militar. O nome
dele era Adolf Hitler, lembra-se?
Sim, existe racismo no Brasil, como em qualquer parte do
mundo. Até mesmo na África. Por que será que o professor
Ojo-Ade procura enfatizar que o negro é vítima do branco
opressor e esquece convenientemente que, como a História
nos ensina, a diáspora foi iniciada quando os próprios negros
venderam seus irmãos de cor considerados "inimigos" aos
brancos? Até mesmo o senhor, um professor branco que
leciona cultura negra, acaba vítima da metralhadora giratória de
Ojo-Ade, quando ele afirma que "O congresso brasileiro de
1997 mostra outra vez que são pesquisadores brancos que
estão falando sobre o negro".
Ele pede que o Brasil tenha um presidente negro, e bem negro
de preferência. Ora, Idi Amin Dadá era negro, e bem negro por
sinal, como pede o professor Ojo-Ade, e foi presidente de um
país africano. Ditador. Corrupto. Assassino. Louco. A cor da
pele tem algo a ver com competência? Não creio. A cidade de
São Paulo foi administrada por um negro tempos atrás, Celso
Pitta. Preciso dizer mais? O Brasil não precisa de um
presidente negro, o Brasil precisa de um presidente
competente, honesto e que respeite o povo que governa. Aliás,
todos os países do mundo precisam de homens assim, e o que
menos importa é que cor de pele eles têm.
Continuando, ele condena a multirracialidade, chega a chamar
o professor Gilberto Freyre, um dos mais conceituados
sociólogos do mundo, autor do clássico "Casa grande e
senzala", de "racista mascarado". Mostra-se contra a
miscigenação brasileira que, segundo ele, gera negros
"morenos", com a desculpa de "embranquecimento da
população". Isso não seria racismo explícito? Lembra-me uma
passagem do livro "Negras raízes", do professor americano
Alex Haley, onde as mulheres africanas mais claras tinham que
pintar o rosto de tinta preta para parecerem negras
"autênticas". Imagino que a filha de Mr. Ojo-Ade jamais poderá
apaixonar-se por um homem branco, sob pena de que seu filho
nunca tenha um avô materno.
Por fim, ele prega o orgulho racial do negro. Meu querido
professor Rodrigo, o senhor sabe qual é a diferença entre um
negro que ostenta uma camiseta com os dizeres "100% negro"
e um branco com uma camiseta que diz "100% branco"? A
única diferença é que o branco pode ir parar na cadeia por
racismo. Onde está a tão propagada igualdade perante a lei de
que fala a nossa constituição? Sim, eu sei que os negros foram
massacrados num passado recente e que as feridas ainda
estão abertas. Mas será que um erro justifica outro? Creio que
não. O pastor Martin Luther King, que era negro, disse no seu
mais famoso discurso, pouco antes de ser vitimado pelo ódio
racial, que sonhava em ver um mundo onde todos vivessem
como irmãos. Infelizmente, quando se fala tanto em orgulho,
seja ele de que tipo for, esse sonho fica cada vez mais
distante. Orgulho é uma palavra feia, arrogante. A grande
maioria das guerras começaram por causa do orgulho racial.
Pessoas matam e morrem todos os dias por orgulho. Sou
negro, mas isso não me provoca nenhuma sensação extrema,
nem de orgulho nem de vergonha. É apenas melanina,
substância produzida pelo corpo humano para proteger a pele
dos raios ultra-violetas. Isso não me faz melhor ou pior que
ninguém. Honestidade, sim. Paciência. Competência naquilo
que faço. Bom humor. Bom senso. Otimismo. Respeito pelas
diferenças. Isso tudo me faz um ser humano melhor, não a cor
da minha pele.
É louvável que no mundo tenhamos pensadores de todas as
raças e que eles tenham liberdade de pensamento, mas
quando leio textos panfletários como este tenho certeza que os
grandes escritores nunca tiveram cor. Vide Machado de Assis, que
era negro numa época de escravidão e racismo absolutos, e
venceu pela sua capacidade, sem nunca ter sido panfletário. Fez da
sua vida o exemplo de que um homem não pode ser julgado pela
cor da sua pele e sim pelo seu talento, tornando-se um dos maiores
escritores brasileiros, reconhecido internacionalmente.
Penso que enquanto houver pessoas que pensam como o
professor Ojo-Ade, as guerras raciais continuarão a acontecer pelo
mundo afora. Uma pena, temos um planeta tão bonito, que fico
imaginando, como Lennon, que era branco, como seria se não
existissem guerras nem raças.
PS: mesmo discordando do texto, entendo que o professor Femi
Ojo-Ade tem todo o direito de expressar a sua opinião. Como já
dizia Voltaire, que eu não sei de que cor era, "Discordo de cada
palavra do que dissestes, mas defendo até à morte o teu direito de
dizê-las."
OLIVEIRA; Frodo. Existe racismo no Brasil? Texto publicado no recanto das letras em
15 de fevereiro de 2008.
DISSERTAÇÃO
Usando o método apresentado na aula de dissertação crie uma
dissertação, a respeito do preconceito racial no Brasil, que conte
com a estrutura sugerida por Paulo Coimbra Guedes. Você precisa
usar a coletânea para fundamentar sua opinião.
DIÁRIO
O diário é texto que pertence a um grupo de gêneros textuais
chamados de pessoais. Eles são assim chamados por pertencerem
ao universo doméstico e por caracterizarem marcas de intimidade e
um tom confessional não presente em outros gêneros que
pertencem a outros ambientes.
Imagine que você seja Frodo Oliveira (coletânea e) e que tenha se
sentido ofendido com o pedido de trabalho a respeito da raça feito
por seu professor. Em sua opinião você acredita que o discurso de
raça defendido por alguns negros faz com que as pessoas negras
comecem a ser preconceituosas com os brancos e isso pode criar
um ciclo infindável de desprezo racial.
Sendo assim, após escrever a carta para o professor Rodrigo você
resolveu escrever uma página em seu diário falando sobre o
assunto. Mesmo sendo negro você preza antes da cor a dignidade
do ser humano e acha que mais importante do que separar as
pessoas por suas cores é tentar fazer com que elas se unam em
torno de um ideal comum.
CARTA ARGUMENTATIVA
A carta argumentativa é um gênero que tem a intenção de
demonstrar a um determinado interlocutor as opiniões que um
locutor tem a seu respeito. Aqui você deve lembrar que suas
sequências
devem
ser
predominantemente
expositivoargumentativas. Não adianta assim apenas expor os fatos que
melhor ilustram sua opinião, é necessário criar para eles uma série
de causas e conseqüências a fim de que você exiba sua
capacidade de demonstrar ao leitor como determinados fatos se
dão socialmente e porque você concorda ou não com eles.
Sendo assim, imagine que você seja um estudante de história
e que tenha lido a carta de Frodo de Oliveira a respeito do racismo
A)
B)
Caso você concorde com ele, demonstre sua opinião e o
agradeça por ter contribuído de maneira tão clara com aquilo
que você defende.
Caso você não concorde com ele, demonstre sua opinião e use
o restante da coletânea para fundamentar seus argumentos a
fim de que eles se tornem mais claros e bem formulados. Exija
que ele modifique a maneira de ver o assunto e reveja seus
pontos de vista.
Aula 7
E essa tal de crítica. Uso prático da crítica em um texto.
Iremos analisar o texto abaixo e tentar identificar a maneira
como o autor constrói uma crítica a respeito daquilo que de
alguma forma ele considera negativo.
Nossa tradição escolar, baseada em concepções de linguagem
arcaicas, de antes de Cristo, sempre tratou de fazer uma
separação rígida entre língua falada e escrita: só a língua
escrita ou, mais restritamente, só a língua escrita literária
merecia ser estudada, analisada e codificada para, em
seguida, se tornar objeto exclusivo de ensino. Com isso, a
língua falada não só era deixada de lado como também
considerada caótica, desregrada, imperfeita e ilógica. Uma das
principais revoluções da ciência lingüística moderna foi
precisamente corrigir essa distorção milenar e colocar a língua
falada no centro da investigação sobre a linguagem.
As conseqüências negativas da supervalorização da escrita e
da depreciação da fala são muitas e profundas. Uma delas é a
falácia, que muita gente assume, de que todo e qualquer texto
escrito tem que ser rebuscado, recheado de palavras e
construções pouco usuais, de modo a ficar o mais distante
possível da "banalidade" da língua falada. Assim, entre duas
opções possíveis, só deve figurar na escrita aquela que for a
menos empregada na fala. Resultado: usos que contrariam ao
mesmo tempo a fluência natural da fala e as regras
tradicionalmente prescritas pelas gramáticas normativas para a
língua escrita, devido ao conhecimento superficial dessas
formas menos habituais e a seu uso exagerado.
Um bom exemplo é o pronome o qual. Raríssimo na fala
espontânea, muita gente o emprega a torto e a direito na
escrita porque lhe ensinaram a bobagem de que é preciso
evitar a repetição do que. Aparecem, então, coisas como "um
livro o qual nos ensina muito" ou um país o qual visitei há
pouco". Também freqüente é o uso de o qual no masculino
singular e sem a preposição que deveria acompanhá-lo: "uma
cidade o qual temos filial", como me escreveram certa vez. A
presença de o qual várias vezes na mesma página é indício
seguro de um texto com problemas.
Hoje, pelas mesmas razões, muita gente está acometida da
febre de possuir. Em lugar do simples, prático e eficiente verbo
ter, de uso essencial, aparece a todo momento o verbo possuir,
como se fosse sinônimo absoluto de ter e coubesse em todos
os contextos. Assim, preenchendo um formulário encontrei:
"Você possui filhos?". Me deu vontade de responder: "só os
dos outros"! Num livro de aventuras juvenis:
"Era um malfeitor que possuía muitos homens.”.
De repente virou um romance gay. Antes, na caixa de
mensagens do celular, a gravação dizia: "Você tem uma nova
mensagem." Agora, a gravação diz: "Você possui uma nova
mensagem." Provas pedem ao candidato que assinale a opção
que "possui a resposta certa". Nos aeroportos, se dá prioridade
às pessoas que "possuam dificuldades de locomoção". Na
base de curriculos do CNPq: "Fulano possui mestrado e
doutorado".
Num documentário na televisão: "tal ave possui hábitos
migratórios", "cada ninho possui três ovos", "só o macho possui
canto", entre outros quinze usos de possuir num programa de
trinta minutos... É que além de substituir indevidamente o verbo
ter, o possuir também serve de curinga. Tal repetição revela a
pouca destreza do escrevente no manejo da língua escrita
mais monitorada, culpa de um ensino que se prende a
gramatiquices inúteis e não favorece o letramento.
Na paranóia de separar o certo do errado, a escrita da fala,
nosso ensino de língua acaba gerando, ele sim,
representações da língua totalmente errôneas que se
manifestam em textos untuosos e mal articulados. Resultado:
reprime-se a oralidade, que é de uma riqueza inesgotável, e ao
mesmo tempo não se promove uma escrita fluente e agradável
de ler.
Marcos Bagno é Doutor em Lingüística e professor titular da Faculdade de Letras
da Universidade de Brasília, sendo também articulista convidado da revista Caros
Amigos. É autor do Best seller “Preconceito Lingüístico”.
Aula 8
Quarta proposta de redação
Leitura de produção de aluno.
TEMA 04
Tema:
NÃO SE DEIXE FRUSTRAR
A prova de redação apresenta três propostas de produção textual.
Para produzir o seu texto, você deve seguir a definição de gênero
logo abaixo descrita.
CARTA DE AGRADECIMENTO, PALESTRA,
CARTA PESSOAL
O tema é único e deve ser desenvolvido segundo a proposta
escolhida. A fuga do tema anula a redação. A leitura da coletânea é
obrigatória. Ao copiá-la você não deve copiar trechos ou frases
sem que esta transcrição esteja a serviço de seu texto. Seu
texto não deve ser assinado.
a) Frustração é uma emoção que ocorre nas situações em que
algo obstrui o alcance dum almejo pessoal. Quanto mais importante
for o objetivo, maior será a frustração. Pode ser comparada à raiva.
As fontes da frustração podem ser internas ou externas. As fontes
internas da frustração envolvem deficiências pessoais como falta de
confiança ou medo de situações sociais que impedem uma pessoa
de alcançar uma meta, já as causas externas da frustração, por
outro lado, envolvem condições fora do controle da pessoa, tais
como uma estrada bloqueada ou falta de dinheiro, por exemplo.
Em termos de psicologia, o comportamento passivo-agressivo é um
método de lidar com a frustração. Quando este não funciona, outra
"solução" comumente adotada é uma "regressão" (inconsciente,
consciente ou simulada) a um comportamento infantil e mimado,
geralmente visando comover ou sensibilizar terceiros através de
algum tipo de apelo emocional.
Algumas pessoas, diante da frustração, tendem a assumir
comportamentos negativos diante das situações enfrentadas,
optando por se sentirem insignificantes, sem capacidade para levar
adiante suas empreitadas, responsabilizando sempre os outros por
atitudes que são, na verdade, iniciativas delas mesmas. Assim, elas
se acomodam e criam em torno de si uma fachada ilusória, e
chegam realmente a acreditar que são os outros que exigem
demais delas.
Retirado do verbete do Wikipédia. (Alterado)
b) As frustrações se referem a todos os tipos de impedimentos a
que o homem está submetido em sua jornada, mas pode-se dizer
que basicamente elas se resumem a um embate entre um desejo
expresso e uma realidade que não muda. Desde a infância o ser
enfrenta este conflito, essencial para seu crescimento – a perda do
seio materno, a necessidade de abdicar de alguns de seus
prazeres para cumprir determinadas obrigações, entre outras tantas
proibições.
Quando o sujeito se torna adulto, este sentimento adquire
colorações mais afetivas, com uma avalanche de decepções,
perdas, separações, rompimentos, exclusões de grupos sociais,
falta de popularidade, entre outros. Mas também há os obstáculos
de teor material, como desemprego, falta de perspectiva
profissional, colegas antiéticos no ambiente profissional, etc.
Em momentos como este, a pessoa pode até se tornar triste,
depressiva, como o jovem recém-saído da Universidade, ao
perceber o quanto é instável o mercado de trabalho em seu campo
de atuação. Este comportamento é parte do que se chama de
‘síndrome de final do curso’. Não necessariamente ele pode ser
classificado como um indivíduo depressivo, pois no momento em
que ele visualizar uma luz no fim do túnel, ou quando receber uma
oportunidade de praticar sua vocação, este sentimento
desaparecerá. Portanto, é importante distinguir a frustração de uma
depressão.
Os dois quadros psíquicos são muito parecidos, principalmente
porque uma exacerbação da frustração pode também levar à
depressão. O mais importante é não rotular todos os
desajustes emocionais como transtornos depressivos, pois é
preciso investir na qualidade de vida, tanto a vivencial quanto a
social, para que as pessoas superem melhor estas crises.
Portanto, períodos de depressão, principalmente quando o
sujeito se depara com as frustrações, é normal em nossos dias.
Deve-se ficar atento, assim, para a intensidade e a freqüência
destes episódios, para melhor discernir entre estas distintas
emoções. E não se deve esquecer que a frustração pode
igualmente ser vista como um desafio, algo que estimule a
imaginação, a capacidade humana, e se transforme assim em
um aprendizado, ou em projetos edificantes e nobres.
SANTANA, Ana Lucia. Frustração. Retirado do site Infoescola
c) As novas gerações sofrem de dilemas que, antigamente,
nem passavam pela mente das pessoas. Hoje se compete
mais, se compara mais, se ganha e, consequentemente, se
perde mais.
A dificuldade nova é lidar com as frustrações, sendo fruto de
pais que fazem de tudo para deixar os filhotes em bolhas
protegidas. Aí, sem cair, fica bem difícil aprender a levantar.
Psicólogos e pedagogos concordam que incentivar demais a
fantasia de uma felicidade constante e intocável pode ser
nociva à saúde. Cesar Ibrahim, em entrevista ao Instituto
Alana, por exemplo, disse acreditar que o privilégio ao prazer,
preocupação fundamental de pais da classe média, funciona
como um analgésico para os filhos. O problema é que, nessa
vida sem dor ou esforço, a criança não cresce com a defesa
necessária nem com a segurança e clareza suficientes para
agir de forma consciente quando adulto.
A psicóloga Cida Rabelo concorda com Cesar e diz que
frustração é sim importante para o desenvolvimento do
indivíduo. "Muitos pais se sentem culpados em dizer ‘não’ aos
filhos", afirma. "Até os 7 anos pensamos que o mundo gira em
torno de nós, estamos completamente imersos no narcisismo e
no egocentrismo. Com esta percepção, achamos que tudo e
todos estão no mundo para atender as nossas expectativas. A
medida que crescemos e somos frustrados, temos a
possibilidade de abandonar este narcisismo e entender que
ninguém está no mundo para atender a minha expectativa".
As novas gerações encaram essas frustrações com mais
resistência porque tudo que querem é instantâneo, rápido. "As
pessoas são substituídas facilmente, as coisas chegam
prontas, sem envolvimento. É o mundo descartável, uma
geração descartável", analisa Cida.
Para resolver, só mesmo aceitando as próprias limitações.
"Quanto acolhemos a impotência, deixamos de lado a
compulsão", diz Cida. Segundo ela, o fracasso é importante
para que as pessoas conheçam seus limites, repensem e
aprendam a viver com os próprios erros. "A maneira que
lidamos com os nossos fracassos determina quem somos",
garante. "E os pais podem ajudar as novas gerações
mostrando que fracassar faz parte da vida e que errar faz, sim,
parte do aprendizado".
PASSOS, Sabrina. O lado positivo da frustração.
d) Você conhece alguém a quem possa referir-se como uma
pessoa feliz? Cuidado. Ao final deste texto você poderá ter
uma grande surpresa. Digo isso porque a ideia deste texto é
justamente descrever o frustrado. Consultando o dicionário,
encontramos o variado quadro de definições. Vejamos:
frustrado adj. 1. Que não produziu efeito. 2. Que não deu
resultado. 3. Malogrado. 4. Que não chegou a desenvolver-se.
5. Inútil, baldado. frustrar - Conjugar v. tr. 1. Privar (a outrem)
do que espera com fundamento. 2. Iludir. 3. Baldar, inutilizar. v.
pron. 4. Ficar sem resultado. 5. Malograr-se. 6. Inutilizar-se.
(Fonte: Dicionário Priberam) Porém, apesar de tanta exatidão,
a definição do frustrado é mais complexa do que parece. Isto
porque existem dois tipos: os ocultos e os declarados. O
frustrado declarado é aquele que sempre reclama de tudo.
Difere-se do pessimista porque nem ao menos cria
perspectivas, por pior que pareçam. Não sente inveja dos outros,
mas entristece quando vê alguém vencer, independente de qual
área for o êxito. O tom emotivo deste tipo de frustrado aumenta
ainda mais quando ele vê a vitória alheia e percebe não possuir
forças para almejar um objetivo. O frustrado oculto é o mais
perigoso porque pode acarretar em seqüelas graves para a vida da
própria pessoa e dos outros. É o tipo mais comum, embora mais
difícil de detectar. Sempre aparenta vitalidade, acredita fielmente na
sua felicidade e busca momentaneamente exprimi-la à sociedade
como uma espécie de necessidade de mostrar que tudo está bem.
A chave da percepção do frustrado está justamente aí. Demonstrar
felicidade é seu cargo chefe, deixando de lado a busca pelo próprio
sucesso. Vive a vida como a deixando levar, sem rumo certo, e
refugia-se nestas pequenas doses de bons momentos. Alcançar a
felicidade se resume em concretizar objetivos, tornar real o sonho.
Esta sensação não tem preço, mas muitos não se intimidam em
jogar fora suas vidas e atender aos padrões morais da sociedade,
como se viver tivesse cartilha básica, algo para ser seguido e fim.
Entro nos âmbitos da objetividade e padrões sociais pelo fato de
não ser atributo do frustrado visar algo. Muitas vezes, ele se
orgulha de coisas comuns, como ter tido vida difícil, começado a
trabalhar cedo, constituído família e, ao mesmo tempo, não
consegue visualizar nada de mais atrativo ao seu redor. É uma
pessoa cheia de sonhos contrastantes à realidade que ele mesmo
plantou. O maior problema do frustrado oculto é que, além de não
conseguir realizar nada, ele ainda gosta de se impor sobre os
outros com discurso autoritário e fala inflamada. Sempre se coloca
como o menestrel da verdade, direcionador da vida alheia, mesmo
sem se conhecer. Por isso, acredito na existência da república dos
frustrados. Aponto o tom republicano pela presença da democracia.
É verdade, acredite. O regime é democrático, pois o frustrado
adquire este título pelos próprios méritos. Não existe grande
segredo para sair da frustração. Como primeiro passo, acredito no
auto descobrimento do homem, incluindo seus medos e limites.
Quando a pessoa sabe conviver com suas limitações ela usa o que
possui de melhor para reparar as possíveis gotas de desânimo. É
uma questão de querer. Quando ficava quatro horas parado no
ponto de ônibus, no auge da obesidade mórbida, não possuindo
forças psicológicas para entrar pela porta da frente da condução, eu
ainda era capaz de ir até a faculdade e conseguir transmitir alegria
como se realmente eu fosse daquela forma. Quando entendi o que
era ser frustrado, assimilei minhas barreiras, descobri meu objetivo
naquele momento, transformei a alegria momentânea em
positividade e hoje já se foram 130 kg. Se após este texto você
detectou algum frustrado: não fique preocupado. É apenas a
capacidade de percepção aflorada e colocada em prática. Se você
se auto avaliou portador de frustração, o único conselho da minha
parte é que mude enquanto ainda há tempo. O maior desafio na
atualidade é saber se somos quem realmente apresentamos à
sociedade.
LODI, Marcos. A república dos frustrados. Retirado do blog
do autor “Quando é preciso reagir”.
CARTA DE AGRADECIMENTO
A carta de agradecimento é um gênero do discurso argumentativo
que tem como intenção expor ao receptor o quanto o emissor do
texto se sente agradecido por algo que ele tenha feito. Dessa
forma, percebemos que sua estrutura deve ser expositivoargumentativa e assim o autor expõe as razões que o fazem se
sentir agradecido e logo depois argumenta os motivos dessa
gratidão.
Suponha que você seja um estudante de jornalismo e que tenha
sido durante muito tempo um obeso mórbido. Embora não se
sentisse mal por isso, sofria com todas as questões que essa
doença pode provocar (desconforto de transporte, dores
musculares e nas articulações, preconceito). Num certo dia,
navegando na internet você entrou no blog de Marcos Lodi e
conheceu melhor sua história (coletânea D). Tendo sabido que ele
venceu a obesidade e lendo o quanto ele era frustrado com ela,
você pôde olhar melhor para si e ver que sem ter notado você
muitas vezes disfarçou sua satisfação consigo mesmo porque
sentia medo de mudar.
Assim sendo, você começou a encarar seus problemas e suas
frustrações com mais verdade e decidiu resolver esse problema
que você insistia em não ver. Hoje, tendo um peso saudável e
praticando exercício físico regularmente, você percebe que o
que desejava não era realmente se enquadrar em um padrão
estético, mas apenas ter uma vida satisfatória e plena, que
agora conquistou.
Sabendo que toda essa mudança teve início com o blog de
Marcos Lodi você decide enviar uma carta de agradecimento
contando como o “conheceu” e como o contato com seus
textos pôde ajudar sua vida. Lembre-se que, embora o tom da
carta seja leve, você não tem intimidade para que essa seja
uma carta afetiva. A assinatura nessa carta não é necessária.
PALESTRA
A palestra é um gênero expositivo-argumentativo em que um
dado locutor tenta expor para uma platéia suas impressões e
conhecimentos a respeito de um determinado tema na tentativa
de explicar aos seus ouvintes como suas conclusões podem
ajudá-los a melhorar aspectos de sua vida cotidiana.
Sendo assim, imagine que você é Marcos Lodi (autor da
coletânea d) e que tenha sido convidado pela Sociedade
Goiana de Psicologia a proferir uma palestra em um encontro
que tem como tema “Frustração e contemporaneidade”. Dessa
maneira, você deve expor a experiência desse personagem
para demonstrar como a frustração pode ser uma ferramenta
que impede que nós consigamos realizar algumas de nossas
tarefas diárias e de nossa vida como um todo.
Tente demonstrar, ao longo de seu texto, a interlocução
necessária para que esse gênero demonstre a naturalidade de
uma “conversa” sem é claro a fala do outro. Instigue as
possíveis experiências dos ouvintes como ponto de partida
para levantar hipóteses. Lembre-se de escrever o texto
fundamentalmente na primeira pessoa.
CARTA PESSOAL
A carta pessoal é um gênero do discurso narrativoargumentativo pertencente a um grupo gêneros conhecidos
como pessoais. Eles são assim chamados por revelarem
intimidade e certo tom confessional. Nesse gênero o autor
escreve algo para alguém de seu círculo íntimo a fim de narrar
alguns fatos recentes de sua vida e argumentar a respeito de
algumas decisões.
Imagine que você seja Marcos Lodi (autor da coletânea d) e
que depois de ter emagrecido muitos quilos tenha começado a
escrever sobre bem-estar e auto-estima, a ponto de até ser
chamado para dar palestras a respeito. Feliz com a atual
situação você decide escrever uma carta para sua mãe falando
dos últimos acontecimento de sua vida, mas principalmente a
respeito de como a percepção de ser um frustrado pode ser
capaz de fazer com que sua vida mudasse. Nessa proposta
você pode assinar, mas com o nome do personagem.
EXEMPLO DE CRÔNICA QUE SE MISTURA COM CARTA
Carta a uma amiga solteira
Querida Thais:
Eu tinha que escrever essa crônica para o jornal sobre o
dia dos namorados. Mas você escreveu algo em seu twitter que
não me deixou em paz e depois de um tempo percebi que
minha “crônica” conversava mais com você do que com o leitor
do Diário da Manhã. Desculpe o nosso leitor, que pode ler
tranquilamente as linhas que escrevo para essa minha amiga,
mas é que não posso deixar de dizer essas linhas para alguém
com quem estou preocupado.
Bem Thais, em seu twitter você disse na semana
passada que “no próximo dia 12 desejo que todos os namorados
morram afogados em suas respectivas salivas”. Fiquei preocupado
com sua atitude, pois embora você esteja, até onde eu sei, sozinha,
estar solteiro não deve ser motivo de tanta raiva, tanto ódio, tanto
desgosto, tanto ressentimento, tanto dor, tanta sede assassina!
Logo você, uma moça bonita, inteligente, ex-loira, interessante. Não
fique assim.
Brincadeiras a parte, esse seu comentário no twitter falou
exatamente aquilo o que eu queria dizer sobre o dia dos
namorados. Às vezes, quando estamos solteiros, parece que o dia
dos namorados é na verdade o dia do “humilhe aqueles que estão
sozinhos”. Por qualquer loja que passemos a decoração é cheia de
corações e fotos de homens e mulheres lindos que se beijam
apaixonadamente. E todos estão felizes nesses dias, contentes,
realizados, comprometidos. Por onde você passa vê escrito: “Faça
seu namorado feliz e compre tal coisa”, “parcele o sonho de sua
namorada” (essa é a mais brega de todas) e os vendedores não
aceitam que ninguém compre algo nesses dias que seja para si
mesmo.
Lembra aquela vez que uma vendedora lhe disse:
-Vamos comprar algo para seu namorado, senhora?
Tudo bem Thais, eu até entendo que eles devem perceber
que existem pessoas solteiras, mas não acha que um soco foi
exagero?!
Sério, acho mesmo que o grande problema do dia dos
namorados é a minha dificuldade com datas. As pessoas criam
datas para esquecerem que na verdade o ano inteiro elas precisam
dar valor as pessoas. Assim é fácil. Eu tenho um dia para as mães,
uma para os pais, um para o namorado e assim por diante. O dia
dos namorados é a copa do mundo do amor. As pessoas só são
românticas no dia 12 junho, como só são patriotas de quatro em
quatro anos. Fora dessas épocas é brega, démodé, chato,
vergonhoso, ingênuo tanto ser romântico quanto patriota. Ambos
são considerados sentimentos idealistas que não podem ser
transferidos para o dia-a-dia.
Sabe Thais, é igual aquela amiga que todo mundo tem em
seu círculo social, que passa a vida inteira procurando um homem
que seja romântico e quando encontra um cara culto, inteligente,
interessante, com diploma, trabalho estável, possibilidade de
progredir na vida e tudo mais, diz que na verdade queria apenas
“um homem que tivesse mais pegada”. Dá para entender vocês,
mulheres?!
Ou então, tem aquela outra que tem um radar para
vagabundos. Se, em um raio de 50 quilômetros, tiver um homem
que não presta, o coração dessa mulher irá bater apaixonado. É
verdade! Então, Thais, essa amiga vem com a conversa fiada que,
no fundo, nem ela mesma acredita:
- O fulano é muito bom, sabe. É que as pessoas não
acreditam que os outros podem mudar. Ele teve problemas com
drogas, mas agora está recuperado e com fé em deus vai ficar só...,
só..., só no cigarro convencional. É verdade que às vezes ele é
meio esquentado, mas quem não se irrita, não é mesmo? E ele tem
melhorado. Está trabalhando em uma oficina de carros e tudo.
O fulano não vai mudar porque a ciclana gosta mesmo é de
homem que não presta. A oficina de carros, todo mundo sabe que é
um desmanche. E cigarro convencional é eufemismo para todo
mundo sabe o quê.
Mas Thais, essas duas mulheres que eu descrevi, não
combinam muito com você. Elas até combinam com uma ou outra
de nossas amigas, mas com você não. Mas tem uma mulher que
combina com você porque combina com todas as mulheres. Essa é
a mulher desesperada. Essa mulher combina com todas porque o
desespero é um estado de espírito muito particular do feminino.
Não que os homens não possam ficar desesperados, mas as
mulheres parecem fazer isso se tornar muito mais amplo. Lembra
do Almodóvar?
O que quero dizer, com toda essa carta, que devia ter sido
uma crônica, mas é uma carta. Como estou confuso! O que eu
quero dizer para você Thaís, mas serve para todas as leitoras
solteiras do jornal é: não sucumba ao desespero hoje!
Não importa quantas amigas suas ganhem flores, nem
bombons, nem coloquem frases românticas no Orkut, twitter, blogs.
Não aceite aquele convite de um cara chato só porque hoje é o dia
dos namorados. Muitas vezes, um convite em um momento de
solidão pode se transformar até em um casamento antes dos trinta
e cinco anos. Não! Se você estiver só, aceite isso hoje ou
mande flores para você mesma com um cartão sem assinatura.
Faz muito sucesso também.
Beijos para você minha amiga,
Caetano Mondadori é professor de redação.
([email protected]) Acesse o blog
(http://caetanomondadori.blogspot.com).
Publicado no Diário da Manhã no dia 12 de junho de 2010.
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Lista 2 - PRONTA - Colégio Planeta