RELAÇÃO ENTRE INSATISFAÇÃO COM A IMAGEM CORPORAL E
O PERFIL ANTROPOMÉTRICO EM ADOLESCENTES E JOVENS
COM SINTOMAS DE TRANSTORNOS ALIMENTARES
Joanna Darc de Souza Cintra¹, Rosana Christine Cavalcanti Ximenes; Saulo Fernandes Melo De
Oliveira
1. [email protected]
Resumo
A insatisfação com a autoimagem e forma corporal é uma dos principais gatilhos para o
desenvolvimento de transtornos alimentares (TA), que são distúrbios multifatoriais, de etiologia
não definida e que desenvolvem-se geralmente durante a adolescência. Diante do rápido
aumento da incidência de casos de TA, alguns autores estão buscando relações entre a
antropometria e a insatisfação corporal. O diagnóstico precoce e o tratamento são fundamentais
para a minimização das consequências desses transtornos, ainda mais em uma população que
trabalhe diretamente com temáticas de saúde. Esse estudo investigou a relação entre os índices
antropométricos de universitários de cursos de Saúde do interior de Pernambuco, sua
insatisfação corporal e sintomatologia de TA. Foram analisados 39 estudantes do Centro
Acadêmico de Vitória – UFPE. Para a análise da sintomatologia de TA foram usados os
instrumentos BITE (Bulimic Investigatory Test of Edimburgh) e o EAT-26 (Eating Attitudes
Test). Já para a detecção da insatisfação corporal foi utilizados o BSQ-34 (Body Shape
Questionary). Todos os instrumentos foram validados para a língua portuguesa. Já para avaliar
a composição corporal, utilizou-se a relação cintura-estatura (RCE), a relação cintura-quadril
(RCQ) e o índice de conicidade. Para avaliar o grau de associação entre a imagem corporal, o
transtorno alimentar e o perfil antropométrico foram utilizados o teste qui-quadrado (X2) para
variáveis categóricas e a correlação momento-produto de Pearson (r) para as variáveis
numéricas, usando o valor de p≤0,05. Dentre os avaliados, 30,5% apresentaram algum grau de
insatisfação corporal através do BSQ-34; desses, mais de 70% foram mulheres. Já quanto a
sintomatologia de TA, 17,9% apresentaram sintomatologia positiva para o EAT-26 (sendo a
maioria mulheres), e 30,7% através do BITE (sendo a maioria homens). Nem a sintomatologia
de TA nem a insatisfação corporal apresentaram associação significativa com os índices
antropométricos da população desse estudo. Apesar de não ter encontrado relação entre índices
antropométricos e a sintomatologia de TA e insatisfação corporal, este estudo indicou um alto
índice de estudantes insatisfeitos com seu corpo, principalmente mulheres, não necessariamente
associados a hábitos alimentares de risco ou TA. A importância do combate desses sintomas
torna-se imprescindível dentro de um ambiente acadêmico, principalmente quando relacionado
a futuros profissionais de saúde.
Abstract
Dissatisfaction with self-image and body shape is one of the main triggers for the development
of eating disorders (ED), which are multifactorial disorders, etiology not set and that usually
develop it during adolescence. Faced with the rapidly increasing incidence of TA, some authors
are seeking relationships between anthropometry and body dissatisfaction. Early diagnosis and
treatment are critical to minimize the consequences of these disorders, especially in a population
that works directly with health issues. This study investigated the relationship between
anthropometric indexes of university courses within the Health of Pernambuco, your body
dissatisfaction and symptoms of TA. We analyzed 39 students of the Academic Center of
Victoria - UFPE. For TA symptoms of analysis were used the instruments BITE (Bulimic
Investigatory Test of Edimburgh) and EAT-26 (Eating Attitudes Test). As for the detection of
body dissatisfaction was used the BSQ-34 (Body Shape Questionnaire). All instruments have
been validated for the Portuguese language. As for assessing body composition, we used the
waist-height ratio (WHR), the waist-hip ratio (WHR) and conicity index (CI). To assess the
degree of association between body image, eating disorders and the anthropometric profile were
used the chi-square test (X2) for categorical variables and the correlation product-moment
Pearson (r) for numerical variables, using the value of p ≤ 0.05. Among the evaluated, 30.5%
had some degree of body dissatisfaction through the BSQ-34; of these, more than 70% were
women. As for the symptoms of TA, 17.9% had positive symptoms for the EAT-26 (mostly
women), and 30.7% through the BITE (and most men). Neither TA symptoms or body
dissatisfaction were significantly associated with anthropometric indexes of the population of
this study. Despite not having found relationship between anthropometric indices and the
symptoms of TA and body dissatisfaction, this study indicated a high rate of students
dissatisfied with their bodies, mostly women, not necessarily associated with eating habits risk
or TA. The importance of combating these symptoms becomes essential within an academic
environment, especially when related to future health professionals.
Introdução
Os transtornos alimentares (TA) são doenças multifatoriais caracterizadas por alterações no
comportamento dietético que causam uma grave perturbação nutricional e podem gerar graves
consequências sociais e psicológicas. (XIMENES, 2006; CONTI, 2008).
A imagem corporal e a percepção da autoimagem são produtos de experiências pessoais e
sociais, e refere-se ao julgamento da forma e da composição corporal e é composta por diversos
aspectos derivados da experiência corporal de cada indivíduo. (CONTI, 2008). Esse conceito
do próprio corpo produz efeitos que podem ocasionar comportamentos alimentares de risco,
como o consumo de alimentos dietéticos, ergogênicos, contribuindo para o surgimento de
transtornos alimentares (BRAGGION et al. 2000; BRANCO et al. 2006).
Diante desses acontecimentos, uma das subáreas da Educação Física que vem contribuindo para
o diagnóstico de transtornos de imagem é a avaliação antropométrica. Ela fornece dados
específicos para a determinação da composição corporal de um indivíduo.
Tendo por base esses conceitos, este estudo avaliou as características antropométricas de
adolescentes de uma universidade pública, a insatisfação com a imagem corporal e possíveis
sintomas de transtornos alimentares. Essa pesquisa é de extrema importância, pela escassez de
pesquisas relacionadas ao tema imagem corporal, transtornos alimentares e medidas
antropométricas, principalmente fora de grandes cidades e regiões metropolitanas.
Referencial Teórico
A imagem corporal é composta por diversos aspectos derivados da experiência corporal de cada
indivíduo. A percepção da autoimagem refere-se ao julgamento feito em relação à própria
estrutura, tamanho e composição corporal (CONTI, 2008). Esse conceito do próprio corpo
produz efeitos nos hábitos de saúde dos adolescentes, podendo levar ao consumo de alimentos
dietéticos, ergogênicos, contribuindo para o surgimento de transtornos alimentares
(BRAGGION et al. 2000; BRANCO et al. 2006).
Os transtornos alimentares (TA) são doenças multifatoriais caracterizadas por alterações no
comportamento dietético que causam uma grave perturbação nutricional e podem gerar graves
consequências sociais e psicológicas. Isso se torna potencialmente mais perigoso em uma
população adolescente, que passa por uma fase de transformação e construção da autoimagem
(XIMENES, 2008; CONTI, 2008).
Dentre os TA, dois tem recebido grande destaque na literatura por sua alta incidência e
seriedade: A Anorexia e a Bulimia Nervosa. O termo Anorexia Nervosa (AN) foi denominado
por Willian Gull em 1874. Anorexia (an: sem; oréxis: apetite), palavra de origem grega, pode
ser traduzida literalmente como “ausência de fome”. Segundo o DSM-IV, alguns dos critérios
diagnósticos são a recusa em manter o peso dentro do normal; perturbação no modo de
vivenciar o peso e/ou a forma corporal; e medo mórbido de ganhar peso. Particularmente em
mulheres, a amenorreia também é considerada como sintoma de AN; já os homens são
acometidos pela diminuição da libido (PHILIPPI E ALVARENGA, 2004; XIMENES, 2008).
Com as modificações de padrão de beleza e a exigência midiática e social em torno do corpo e
comportamento, principalmente feminino, outros quadros de sintomas passaram a ser
percebidos e diagnosticados. A partir do início do século XX, começou a ser caracterizado um
novo transtorno: a Bulimia Nervosa (BN). Do grego “bous”: “boi”; “limos”: “fome” pode ser
traduzida como “fome suficiente para comer um boi” e consiste em uma desastrosa estratégia
para perder peso baseada em episódios de compensação após a ingestão exagerada de comida
(NUNES et al., 2006, XIMENES, 2008). Dentre os métodos compensatórios o mais comum é
o vômito induzido, porém enemas e uso de laxantes são outras formas relatadas na literatura
(SILVEIRA et al., 2009).
A extrema valorização da magreza e a lipofobia (horror à gordura) tornaram-se comportamentos
comuns na sociedade (SOPHIA, 2013). Segundo Graup et al. (2008), a mídia tem grande
influencia sobre a percepção da imagem corporal, causando um fenômeno de padronização de
corpos. Na televisão e em campanhas publicitárias essa valorização do corpo magro e esbelto
aparece mascarada e agravada pelos retoques a cada dia mais plastificados em modelos de
ambos os sexos. Assim, o ambiente sociocultural onde está inserido o indivíduo, interfere
diretamente no desenvolvimento de distúrbios acerca desse estereótipo da imagem corporal
(KAKESHITA E ALMEIDA, 2006).
Em meio a esse bombardeio de culto a beleza perfeita, o número de casos de TA em
adolescentes e jovens vem tomando contornos preocupantes. Estudos epidemiológicos indicam
uma incidência de 1 a 4% na população (PHILIPPI E ALVARENGA, 2004). Apesar de estarem
comumente associados às mulheres, os TA não aparecem apenas na população feminina. Cerca
de 10% dos casos de TA acometem indivíduos do sexo masculino, o que demonstra não só as
diferenças entre os gêneros como também a dificuldade de diagnóstico dos TA nessa população
(MELIN E ARAÚJO, 2002). Diante desses acontecimentos, uma das subáreas da Educação
Física que vem contribuindo para o diagnóstico de transtornos de imagem é a avaliação
antropométrica. A avaliação antropométrica é utilizada desde a Antiguidade, naquela época,
atribuída a arte. Hoje, com o auxilio da estatística e dos grandes estudos epidemiológicos,
podemos categorizar faixas de perigo para varias doenças a partir de relações e índices
antropométricos (GUEDES E GUEDES, 2006).
A antropometria fornece dados específicos para a determinação da composição corporal de um
indivíduo, como os índices de massa corporal (IMC) e de conicidade (IC), a razão cintura
estatura (RCE), a relação cintura quadril (RCQ) e somatotipo. Uma das grandes vantagens do
uso da antropometria é seu baixo custo quando comparada a testes laboratoriais. Apesar de
serem mais precisos, os modelos laboratoriais de análise de composição corporal são caros e
raramente encontram-se disponíveis para o grande público, seja por seu valor ou por seu manejo
complexo. Dessa maneira, a simplicidade da antropometria permitiu o aprofundamento dos
estudos até chegar a equações de predição que, mesmo duplamente indiretas, possuem alto
índice de confiabilidade e baixo custo de reprodução. (GUEDES E GUEDES, 2006).
A razão cintura-estatura e a circunferência da cintura estão sendo usadas como métodos mais
sensíveis e eficazes que o IMC (índice de massa corporal) para a determinação da distribuição
de gordura, bem como para a predição de riscos coronarianos (ARAÚJO e CAMPOS, 2008).
O índice de conicidade também apresenta maior confiabilidade para a determinação da
composição corporal que o IMC (PITANGA; LESSA, 2004; HUAN et al., 2009). Esses
métodos nos permitem avaliar de que maneira a gordura corporal se distribui no indivíduo. A
partir desses resultados podemos observar o padrão de distribuição corporal, podendo ele ser
genóide (acúmulo na região da barriga; corpo tipo maçã; mais frequente entre os homens) ou
ginecóide (acúmulo de gordura na região dos quadris; corpo tipo pêra; mais frequente entre as
mulheres).
Tendo por base esses conceitos, este projeto avaliou as características antropométricas de
adolescentes e jovens de uma universidade pública do estado de Pernambuco, seu nível de
insatisfação com a imagem corporal e possíveis sintomas de transtornos alimentares. Essa
pesquisa é de extrema importância, pela escassez de estudos relacionados ao tema imagem
corporal, transtornos alimentares e medidas antropométricas, principalmente fora de grandes
cidades e regiões metropolitanas.
Metodologia
Esse estudo foi desenvolvido na cidade de Vitória de Santo Antão, no estado de Pernambuco.
A seleção da amostra foi realizada por conveniência. A população estudada foi composta por
adolescentes e jovens de ambos os sexos, devidamente matriculados no Centro Acadêmico de
Vitória de Santo Antão -UFPE no período de 2014/2015.
Todos os participantes responderam a um questionário contendo dados biosociodemográficos
com a finalidade de descrever o perfil socioeconômico da amostra pesquisada e,
consequentemente, avaliando o acesso destes indivíduos aos alimentos. A classificação
sociodemográfica será baseada nos critérios de classificação econômica do Brasil (ABEP,
2013).
Para a avaliação dos sintomas de TA foram utilizados dois questionários. O Bulimic Test of
Edimburg (BITE) e o Eating Attitudes Test (EAT-26). O Teste de Avaliação Bulímica de
Edinburgh (BITE) foi desenvolvido por Herderson e Freeman, em 1987, para o rastreamento e
a avaliação da gravidade da bulimia nervosa a partir da avaliação de aspectos cognitivos e
comportamentais. Foi traduzido para o português como Teste de Avaliação Bulímica de
Edimburgo por Cordás e Hochgraf, em 1993 e está validado na população brasileira.
O Teste de Atitudes alimentares (EAT-26) foi desenvolvido por Garner et al. (1982), já
traduzido e validado no Brasil (BIGHETTI et al., 2004). O instrumento EAT-26 –
originalmente construído para rastrear comportamentos presentes na Anorexia Nervosa – mede
principalmente comportamentos alimentares restritivos, como dieta e jejum, e comportamentos
bulímicos, como a ingestão excessiva de alimentos e vômitos provocados. Sendo assim, o EAT26 pode ser utilizado para identificar precocemente o TA, conduzir a um tratamento precoce e
reduzir a morbidade e a mortalidade (NUNES et al., 2001; VILELA et al., 2004).
O BSQ (Body Shape Questionay) é um questionário desenvolvido por Copper et al. (1987) e
traduzido por Cordás e Castilho (1994). Consiste de 34 perguntas sobre a satisfação do
indivíduo com seu próprio corpo. O instrumento classifica a distorção da autoimagem entre
leve, moderada ou intensa.
Além desses questionários, a coleta continha uma ficha de medidas antropométrica. Nela foram
colhidas as informações referentes aos perímetros de cintura, quadril e a altura (em centímetros
- cm), e o peso (em kg), necessários para determinar os seguintes índices:
Razão cintura-estatura (RCEst): Obtida a partir do perímetro da cintura (em centímetros)
dividido pela estatura do indivíduo (em centímetros). A RCEst é um indicador antropométrico
muito utilizado para a avaliação da composição corporal e do risco de doenças coronarianas
(HAUN et al., 2009).
Razão cintura-quadril (RCQ): Obtida a partir do perímetro da cintura (em centímetros) dividido
pelo perímetro do quadril (em centímetros). A RCQ é utilizada para determinar a distribuição
de gordura no corpo: ou na região periférica/extremidades (quadris, coxas, glúteos) ou na região
central do corpo (no tronco, principalmente no abdome) (GUEDES E GUEDES, 2006).
Índice de conicidade (IC): Obtido a partir da divisão do perímetro da cintura (em metros) pelo
produto da raiz quadrada da divisão da massa corporal (em quilo gramas) sobre a estatura do
indivíduo (em metros) multiplicado por 0,109. (GUEDES E GUEDES, 2006).
Os dados foram coletados na Sala de Musculação do Centro Acadêmico de Vitória onde está
localizado Laboratório de Biomecânica e Movimento Humano. Os jovens que optaram
participar da pesquisa receberam uma prancheta e foram acomodados de forma que um não
interferisse na resposta do outro. Os alunos participantes foram acomodados no laboratório e
receberam o Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Após a resposta dos
questionários, eles foram encaminhados até um ambiente reservado onde foram coletados os
dados antropométricos. Esses dados foram coletados por estudantes integrantes do Grupo de
Estudos em Biomecânica e Movimento Humano. Quatro avaliadores, todos com experiência,
participaram da coleta de dados antropométricos, sendo dois homens e duas mulheres, de modo
que não houvesse constrangimento para os participantes de ambos os sexos. A estatura foi
obtida com um estadiômetro portátil com precisão de 1 milímetro e limite superior de 2,30m.
Já o peso foi obtido com uma balança digital com precisão de 100 gramas e carga máxima de
300 quilos. As medidas da cintura e estatura foi coletadas com fitas métricas não elásticas, com
precisão de 1 milímetro e limite de 150 centímetros.
As coletas aconteceram entre os meses de março/maio no Centro Acadêmico de Vitória –
UFPE. Este projeto está vinculado a um projeto de pós-doutorado, já aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade
Federal de Pernambuco, sob o protocolo de número 236.160.
A construção do banco de dados e a análise estatística foram realizadas no programa Epi-info
versão 6.04. Com o objetivo de avaliar o comportamento das variáveis segundo o critério de
normalidade da distribuição, o programa estatístico SPSS, na sua versão 17, foi utilizado. Os
dados foram analisados através de técnicas de estatística descritiva e inferencial. Para comparar
os valores relativos à imagem corporal, transtorno alimentar e do perfil antropométrico dos
adolescentes foram utilizados testes de comparação de médias independentes. O grau de
associação entre a imagem corporal, o transtorno alimentar e o perfil antropométrico foi
verificado por meio do teste qui-quadrado (X2), para as variáveis categóricas, e do coeficiente
de correlação momento-produto de Pearson (r) para as variáveis numéricas. Para todos os
procedimentos estatísticos foi considerado um valor de P≤0.05 (5%).
Resultados
A amostra foi composta de 39 estudantes, sendo 64,11% composta de homens. A média de
idade dos participantes foi de 21,1±3,1 anos; 38% se autodeclararam pardos e 43,5% o irmão
mais novo na ordem de nascimento.
A porcentagem de participantes com alguma preocupação quanto à forma física mensurada
através do BSQ-34 foi de 30,5%. Os maiores scores foram apresentados pelas mulheres
(72,7%). Quanto aos sintomas de TAs 17,9% dos participantes apresentaram escore positivo
para sintomatologia a partir do EAT-26 e 30,7% através do BITE. Também entre as mulheres
estavam os maiores escores de sintomatologia para TAs detectados através do EAT-26 (85,7%);
já através do BITE, mais homens apresentaram sintomatologia para TAs (58,3%). Apesar do
alto índice de insatisfação corporal, 66,6% dos participantes declararam se sentiram com peso
médio. Todos os
participantes
apresentaram
índices
antropométricos para
razão
cintura/estatura, razão cintura/quadril e índice de conicidade dentro da normalidade.
O alto índice de incidência de sintomatologia positiva para TA em mulheres concorda com a
literatura. Kakeshita (2006) em estudo com universitários quanto à imagem corporal, avaliou
que mulheres com peso normal apresentaram uma distorção de sua imagem da escala de
silhuetas maior que homens e mulheres obesas. Isso poderia tanto sugerir um maior risco de
desenvolver comportamentos alimentares de risco para mulheres, como uma facilidade de
desenvolvimento de doenças crônicas em homens, já que têm uma dificuldade maior de
conscientizar-se quanto ao seu comportamento alimentar e o reflexo disso no seu peso.
Em nosso estudo, 17,9% dos participantes apresentaram comportamento alimentar de risco para
a AN. Esse índice se assemelha a outros estudos realizados com universitários, como o
Gonçalves et al.(2008). Em estudo realizado com estudantes de Taubaté, os autores
encontraram relação entre a sintomatologia de AN e a insatisfação corporal em estudantes dos
cursos de educação física e nutrição. Em semelhança com nossos resultados, o número de
jovens do sexo masculino com sintomatologia para TA e insatisfação corporal foi menor que
do sexo feminino. Esses resultados inspiram preocupação, haja vista os sujeitos dos estudos são
futuros profissionais em saúde.
Não foram encontradas relações significativas entre os índices corporais e a sintomatologia de
TA e insatisfação corporal. Em estudo realizado com escolares, Graup et al.(2008) também não
encontraram essa relação quanto a RCQ. Esse resultado indica que a sintomatologia de TA não
está exclusivamente associada ao perfil antropométrico e à distribuição do peso corporal,
reafirmando a importância os fatores psicossociais. A influencia midiática, principalmente
quanto a forma corporal feminina, nos levam a refletir sobre uma proposição levantada por
NUNES et al.(2006): como é possível diferenciar a etioloigia do comportamento alimentar de
risco? Levando em conta os achados nos últimos 50 anos, em que o número de casos de TA
aumentou drasticamente, parece que a insatisfação corporal vai além dos grupos patológicos,
tanto de TA quanto de insatisfação com a imagem e a forma corporal. Ou seja pessoas
consideradas saudáveis através das escalas de comportamento alimentar e normais quanto a
suas medidas antropométricas, podem altos índices de insatisfação corporal com a autoimagem,
principalmente no sexo feminino.
Considerações Finais
Apesar de não ter encontrado relação entre índices antropométricos e a sintomatologia de TA e
insatisfação corporal, este estudo indicou um alto índice de estudantes insatisfeitos com seu
corpo, principalmente mulheres, não necessariamente associados a hábitos alimentares de risco
ou TA. Esses resultados indicam a necessidade de desenvolver políticas públicas que se
destinem a combater o estereótipo do padrão de beleza e ao tratamento e prevenção de
transtornos de imagem e comportamento alimentar de risco em adolescentes e jovens, inclusive
os que apresentam perfil antropométrico normal. A importância do combate desses sintomas
torna-se imprescindível dentro de um ambiente acadêmico, principalmente quando relacionado
a futuros profissionais de saúde.
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