PATRIMÔNIO E CAPACITAÇÃO: UMA REFLEXÃO, UMA CAMINHADA
Angela Savastano*
Centro de Estudos de Cultura Popular - CECP - S.J. dos Campos - SP - BRASIL
RESUMO
Abordamos o tema: Patrimônio e Capacitação dos atores do desenvolvimento local, através do nosso
estudo de caso, dando o depoimento sobre nossa caminhada, longa e árdua, na busca da implementação
de um Ecomuseu em São José dos Campos.
Acreditamos que através do folclore poderíamos trabalhar as sabedorias, o patrimônio cultural que cada
um traz em si como herança e, através da conscientização e posse desse patrimônio, o homem poderia
exercer seu papel de cidadão. Ao se sentir forte e capaz, exerceria uma cidadania consciente e plena.
Sendo assim, foram criadas diversas "ferramentas" com o objetivo de ajudar as pessoas a se conhecerem
melhor. Ao reconhecerem-se possuidores de tantos saberes, também viram-se capazes de solucionar
situações difíceis. Desta forma estavam capacitados para, com base nos seus saberes vividos e
experimentados, encontrar caminhos mais fáceis, soluções e praticas mais justas e saudáveis para todos,
não só para os mais próximos mas também para aqueles mais distantes. Neste difícil exercício de "achar
caminhos certos" (isso não significa "caminhos mais fáceis e curtos") fomos aprendendo a (e querendo)
acertar ou errar menos. Isso nos deu mais segurança, mais confiança e mais clareza para propormos essa
segunda etapa - a criação do Ecomuseu Campos de São José.
Palavras- Chave: Folclore, Sabedoria, Vivência e Cidadania.
ABSTRACT
"Equity and Empowerment of local development actors" is the theme we approach using our case study,
where we give testimony about our journey - a long and arduous search for the implementation of an
Ecomuseum in São José dos Campos.
We believe that the folklore could let us work the wisdom, the cultural heritage each one brings with itself
as a legacy. And having awareness and ownership of assets, the man could play its role as a citizen. When
you feel strong and capable, you exercise a full and conscious citizenship. Thus, we created several "tools"
in order to help people become better acquainted with themselves. Recognizing they have so much
knowledge, allowed them resolve difficult situations. Thus they were able, based on their knowledge lived
and experienced, to find easier ways, solutions and practices fairer and healthier for everyone, not only to
the nearest one but also for those more distant. In this difficult task of "finding proper ways" (this does not
mean "easier ways and shorter ones") we learned how to (and wanting) do it right or at least with less
mistakes. This gave us more confidence and more clarity for proposing this second step - the creation of
the Campos de São José Ecomuseum.
Key words: Folklore, Wisdom, Experience, Citizenship
PATRIMÔNIO E CAPACITAÇÃO: UMA REFLEXÃO, UMA CAMINHADA
Angela Savastano - SP - CECP - BRASIL
É nossa intenção aqui, explanar sobre nossa caminhada na direção da instalação de um Ecomuseu em
São José dos Campos.
A vida de todos nós pulsa e pulsa num ritmo que, às vezes, não percebemos
nem compreendemos bem. No ritmo desse pulsar alguns momentos de nossas
vidas coincidem pulsar no mesmo ritmo e foi isso que aconteceu.
Em 1986 foi criada em São José dos Campos uma Fundação Cultural que abrigava em seu bojo 7
comissões, entre elas a Comissão Municipal de Folclore. Um grupo de pessoas foi convidado a participar
dessa Comissão. Eu e muitas outras mulheres fazíamos parte deste grupo.
DESEJAR E ACREDITAR - tudo começou assim.
Acreditamos que poderíamos, de alguma forma, dar a nossa colaboração na proposta cultural daquela
Fundação na área do folclore. Logo percebemos que a missão não seria tão fácil. Nos indagamos sobre a
*
Angela Savastano – Cientista Social e Folclorista; Presidente do Centro de Estudos da Cultura Popular (CECP) de São José
dos Campos – São Paulo, [email protected]
intenção da Fundação Cultural, proporcionando meios e oportunidades para, através dos caminhos da
arte (teatro, música, dança, literatura etc), ajudar o homem a ser suficiente, capaz, elemento vital e
necessário e conscientemente fazer parte da comunidade. Sim, com certeza. Dar oportunidade para o
indivíduo crescer, usar toda sua potencialidade criadora, proporcionar oportunidades para que esse
homem disponibilize, divida seus dons artísticos com seus próximos, só ajudará na riqueza coletiva. Mas
continuando nossa reflexão: e o homem que se considera comum, “sem esses dons artísticos”, esse
homem que não avalia nem é avaliado pelo muitos saberes que detém (seu patrimônio), que não tem
tempo nem oportunidade de mostrar esse saber, torná-lo conhecido e avaliado, onde e como esse
homem, portador desses saberes, pode fazer parte dessa comunidade? Qual a importância e papel que
ele representa no todo, na sociedade? As perguntas inundaram nossas mentes. Foram muitas.
Precisávamos de respostas e foi o que fizemos.
ACREDITAR - Acreditamos que através do folclore poderíamos trabalhar essas sabedorias, esse
patrimônio cultural que cada um traz em si como herança e através da conscientização e posse desse
patrimônio, o homem possa exercer seu papel de cidadão. Se sentirem fortes e necessários para tanto. Se
sentirem também capazes. Exercerem com consciência o papel de cidadão. Uma cidadania consciente e
plena.
DESEJAR - também desejamos. Desejamos participar da criação de ferramentas que ajudassem a todas
as pessoas se conhecerem melhor. Reconhecerem que apenas por possuírem aqueles saberes eram
capazes de resolver tantos problemas, eram capazes de solucionar tantas situações difíceis. Estavam
capacitados para, com base nos seus saberes vividos e experimentados, encontrar caminhos mais fáceis,
soluções e praticas mais justas e saudáveis para todos, não só para os mais próximos, mas também para
aqueles mais distantes. Práticas e soluções mais justas e saudáveis para serem aplicadas em espaços
maiores, em regiões, em estados, em paises, no planeta. Por que não? Não só é possível como é
desejável. Assim, acreditando e desejando, demos o primeiro passo. Elegemos um lugar para juntos,
comissão e quem mais tivesse interesse, discutir e criar ações voltadas para esse fim. O Museu do
Folclore, lugar onde estariam objetos e documentação que mostrassem e comprovassem a existência e a
realidade desses saberes. Lugar onde pudessem ser colocados conjuntos de artefatos, objetos e
documentação visível para um público, interessado ou não, específico ou não, espontâneo ou não, com a
intenção de começar ali um processo de “tomar posse” daquilo que me pertence, que é meu, me é útil e
me permite ser como sou. Estão sendo desenvolvidos neste espaço, no Museu do Folclore, projetos e
programas planejados para cumprir essa missão. Entre eles está o projeto Museu Vivo onde a troca
desses saberes e experiências são mostrados ao vivo. Um momento rico e precioso para quem sabe e
para quem quer saber. Este mais enriquecido, com algo a mais, o aprendiz, aquele mais respeitado, mais
valorizado, o mestre. Outros projetos realizados no Museu do Folclore, buscando, juntamente com o
Museu Vivo o mesmo objetivo: conscientizar o homem do seu patrimônio cultural e ajudá-lo a se apropriar
desse patrimônio para possibilitar a realizações de ações embasadas e fortalecidas nos valores desse
mesmo patrimônio. São os seguintes e principais projetos desenvolvidos no Museu do Folclore: Exposição
Patrimônio Imaterial - Folclore & Identidade Regional, Museu Vivo, Salvaguarda do Folclore, Terças com
Folclore, Dialogando com Folclore (Terças Especiais), Apoio a grupos folclóricos, edição anual dos
Cadernos de Folclore (já na 22 a. Edição), Ação Sócio educativa - atendimento à rede escolar como
"lugares de aprender" e ainda atendimento na Biblioteca Maria Amália Gifonni especializada em folclore a
público voltado para a pesquisa.
Dentro dessa proposta, que é valorizar os saberes e a capacidade dos homens para sua participação
consciente e efetiva no processo de desenvolvimento e transformação social é que, desde 1999, estamos
acompanhando as experiências, as ações e práticas, chamadas ecomuseológicas, onde entidades e
grupos de pessoas estudiosas de diversas áreas do conhecimento nos vem disponibilizando. Temos plena
consciência, adquirida nos ensinamentos e exemplos de experiências trocadas durante esses encontros
nos quais participamos que é fundamental para uma comunidade desejar e querer alguma ação
ecomuseológica no espaço que ocupa, ser necessário que cada cidadão esteja consciente do seu papel e
função na comunidade e realmente ter condições de exercer o papel que a comunidade espera dele.
Nesse sentido estamos desde 2008 desenvolvendo ações de aproximação e valorização da cultura
popular local.
O Centro de Estudos da Cultura Popular – CECP faz parte de uma Rede Social, apoiada pelo SENAC de
São José dos Campos assim também fazem parte outras entidades tais como Escolas, Igrejas,
Secretarias, Sindicatos, Clubes de Serviços (Lions), OAB, Empresas, Indústrias, e Clubes locais. O CECP
em parceria com a escola do bairro Campos de São José e em contato com outras entidades da mesma
região já iniciou, há alguns anos, um trabalho de aproximação local pondo para reflexão e discussão
temas como folclore, cultura popular, festas, alimentação e durante um trabalho desenvolvido em parceria
com a SIGNI, entidade que também faz parte dessa Rede, foi trabalhado o tema LIDERANÇA. Tudo isso
nos faz crer ser este bairro um local acolhedor e interessado em desenvolver ações com fundamentos na
proposta da ecomuseologia.
Há 17 anos, em São José dos Campos, foi criada uma lei Municipal de incentivo à cultura, a LIF (Lei de
Incentivo Fiscal). Essa lei dá oportunidade de projetos serem realizados com verbas de impostos (ISS)
recolhidos em São José dos Campos. É necessário que esses projetos sejam analisados e aprovados por
3 comissões especiais da Fundação Cultural Cassiano Ricardo. Este ano o CECP apresentou um projeto
de criação do ecomuseu em São José e o mesmo foi aprovado. Agora é partir para a captação da verba.
Mais do que nunca é DESEJAR E ACREDITAR.
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