DISCIPLINA
30 dúvidas dos pais
...e as respostas que servem como
ajuda para lidar com a criação dos filhos
Fotos Pedro Rubens
"Quando posso dar umas palmadas?"
A pergunta campeã dos pais nos consultórios
Sob a supervisão de especialistas, VEJA preparou uma lista das perguntas mais
freqüentes feitas pelos pais a educadores, pedagogos e pediatras. Conheça as
trinta mais comuns e as respostas da psicóloga paulista Ceres Alves de Araujo,
especialista em comportamento infantil.
1. Sempre que meu bebê chora, atendo prontamente. Estou certa em
fazer isso?
Não. Está errada. Ao contrário do que pensam os pais, o choro do filho nem
sempre está associado a sofrimento. Às vezes, ele só quer chamar sua atenção.
Nesse caso, não faz mal deixá-lo esperando um pouquinho. Só dê pronto
atendimento em caso de doença.
2. Meu filho só quer colo. Devo cortar esse hábito?
Deve. Coloque-o no carrinho ou no chão, sempre sob a supervisão de um adulto.
Se ele já engatinha ou anda, deixe que se desloque por seus próprios meios. Pai
e mãe não podem ser táxi do filho, levando-o de um lado para outro. Isso cria
uma relação de dependência muito negativa.
3. Minha filha de 1 ano se recusa a largar o peito. Que fazer?
Não tenha pressa em desmamá-la. Saiba apenas que alimentar criança no peito
é fundamental até o sexto mês, útil até o primeiro ano e, a partir daí, há
controvérsia no meio médico sobre sua validade.
4. Devo tirar os objetos quebráveis da vista do meu filho pequeno?
Se algum objeto pode de fato machucar a criança, substitua-o por um inofensivo.
Agora, se você quer que um porta-retratos ou uma relíquia se mantenham onde
sempre estiveram, explique a seu filho que não deve mexer ali. É fundamental
que ele aprenda a lidar com limites.
5. Como fazer meu filho guardar os brinquedos depois de brincar e não
jogar roupa no chão?
A criança precisa saber que a casa é da família, e não propriedade particular
dela. Avise-a antes de começar a brincadeira: ela pode esparramar tudo. Depois,
deve juntar tudo. Ajude-a a guardar.
6. Como evitar que meu filho vá dormir na minha cama?
Não há como evitar, mas leve-o de volta sempre que isso acontecer. A atitude
reforça os limites e noções do que é meu, seu e nosso.
7. Meu filho se joga no chão do supermercado e fico sem ação. Como
lidar com isso?
A criança não pode vencer as batalhas recorrendo ao escândalo. Em troca do
silêncio, jamais ofereça compensações como um doce, brinquedo ou passeio.
Também não se desgaste passando sermões. Uma saída é tirar a criança do
lugar público e explicar de maneira firme que ela não pode se comportar desse
jeito. Se fizer novamente, deverá ser informada de que não irá ao supermercado
na próxima vez.
8. Como agir quando meu filho não divide os brinquedos com os amigos?
Insista na idéia de que, se ele não aprender a repartir o que é dele, acabará
brincando sozinho.
9. Soube pela escola que meu filho morde os coleguinhas. Como devo
agir?
Isso não pode acontecer. Ainda que ninguém morda sem motivo, o filho dos
outros não tem nada a ver com isso. Chame-o para conversar e mostre que a
agressão provoca dor. Informe que ele não pode repetir a atitude.
10. Meu filho tem sido vítima de um coleguinha que o morde na escola.
Como proceder?
Isso não pode acontecer. Seu filho não vai à escola para ser vítima de ninguém.
Reclame com a direção da escola e cobre uma providência. Mas jamais entre em
confronto com os pais do agressor.
11. Como ensinar meu filho que não se pode ganhar todas?
Ninguém quer perder. Para vencerem, muitas crianças roubam no jogo, mudam
as regras. Não permita que isso aconteça. O filho pode achar que os fins
justificam qualquer meio. É fundamental que ele conquiste a vitória pelos
próprios méritos.
12. Quando posso dar umas palmadas?
As palmadas são um testemunho da incompetência dos pais como educadores. A
criança pode até obedecer, mas o faz por medo de apanhar, e não por respeito.
Um olhar seguro e bem dado é, sem dúvida, muito mais eficiente.
13. Castigo funciona?
Funciona, sim. Ele alivia a culpa da criança, que paga o que estava devendo e
tem direito a novos créditos. O castigo também age como disciplinador. Ele
atirou um brinquedo contra a parede? Fica sem brincar com outro brinquedo por
um ou dois dias. Uma falta grave pode ser castigada com a retirada de atenção.
Você pode dizer que gosta muito de seu filho, mas ficou chateada com o que fez
e não vai falar com ele durante um certo tempo.
14. Meu filho só faz o que peço quando grito. Como saio dessa situação?
O grito é um mau hábito. Ele não impõe disciplina. Um diálogo eficiente deve ser
feito face a face, num tom de voz normal – ainda que você precise repetir a
instrução para a criança.
15. Devo sempre explicar por que estou dizendo não?
Não. Até os 5 anos, a criança não deve receber muita explicação. Ela apenas
quer autorização para fazer algo.
Outro dilema freqüente dos pais:
"Meu filho só faz o que peço quando grito. Como saio dessa situação?"
16. Às vezes, depois de dizer não a meu filho, vejo ódio nos olhos dele.
Como evitar isso?
Fique firme. Quando contrariada, a criança sente muita raiva, sim, e não raro
deseja que o pai ou a mãe morram. Mas é esse seu lado mau, o de impor limites,
que faz a criança crescer. Seu "não" será ruim hoje, mas ótimo amanhã.
17. Quando digo sim, meu marido diz não. Meu filho irá perceber nossa
incoerência?
Provavelmente já percebeu. Mãe e pai até podem ter idéias diferentes a respeito
da educação do filho, mas não devem demonstrar isso à criança. Acabam se
desqualificando e perdendo a autoridade. O ideal é chegarem a um consenso
antes de estabelecer regras.
18. Devo deixar minha filha vestir o que ela quer?
Não. Para ir à escola, ela deve seguir as regras propostas pela direção. Fins de
semana admitem uma flexibilização. Não faz sentido insistir para que use uma
calça A se ela quer vestir a B. No entanto, não se deve aceitar que saia de
microssaia num frio danado. O melhor é combinar antes para evitar discussões
de última hora.
19. Meu filho tem o direito de me interromper quando estou conversando
com amigos?
Não. Verifique, no entanto, se ele tem recebido de sua parte a devida atenção.
Pais ocupados demais excluem a criança da agenda e ela passa a ver toda
pessoa – seus amigos, no caso – como competidor. Qualquer que seja a razão,
contudo, a criança deve aprender a conviver com limites.
20. Há algum segredo para ensinar meu filho a cumprimentar as
pessoas?
Até os 5 anos, a criança é muito seletiva. Tem horror ao diferente e às vezes
implica com alguém por causa de um perfume, de um beijo melado ou de uma
voz mais aguda. Então não há muito a fazer nesse sentido, a não ser dar o
exemplo.
21. Como reagir se minha filha me bate quando me nego a fazer o que
ela pediu?
Esse tipo de comportamento precisa ser coibido. Você não tem o direito de bater
nem o dever de apanhar. Recriminar é também educar.
22. Meus filhos vivem brigando e normalmente preciso intervir. Como
saber quem tem razão?
Tentar descobrir quem é o culpado leva a punições injustas. Em caso de brigas
sérias, castigue os dois – e no mesmo grau.
23. Meu marido fala palavrões e nosso filho faz o mesmo. Como evitar
que isso continue a acontecer?
O certo é atacar o mal pela raiz: o pai.
24. Já peguei meu filho mentindo mais de uma vez. Há meios de evitar
que isso vire um vício?
Às vezes, a criança falta com a verdade porque está se sentindo acuada. Para
eliminar as mentiras, colabore e evite os impasses. Digamos que você queira
saber se ela guardou os brinquedos no lugar. Em vez de perguntar: "Você
guardou o carrinho no lugar?", prefira algo do tipo: "Não sei se você guardou
direito o carrinho. Vamos dar uma olhada?".
25. Meu filho não come nada. Como fazer com que se alimente melhor?
Cabe aos pais montar um prato com os ingrediantes de uma alimentação
balanceada. Se a criança não quiser comer, deverá ser informada de que só
voltará a ter direito a comida na próxima refeição. E nada de ceder à tentação e
deixá-la beliscar fora de hora.
26. Meu filho só quer comer em frente da televisão. Como levá-lo à
mesa?
Lugar de jantar ou almoçar é à mesa – com a TV desligada. Crianças habituadas
a comer diante da televisão estão mais propensas a engordar na adolescência e
na vida adulta.
27. Quando viajamos, devo carregar os alimentos de que meu filho
gosta?
De casa, leve apenas remédios. Viagens em família são uma ótima oportunidade
para mudar maus hábitos alimentares da criança. Vai ser ótimo para que
aprenda a lidar com o mundo exterior.
28. Como evitar que meus pais estraguem meus filhos?
Os netos extrapolam porque os avós querem se divertir, não educar. Quando a
criança volta para casa, deixe claro que as regras são outras.
29. De que forma se pode convencer uma criança a escovar os dentes
após as refeições?
Fale sobre os riscos da cárie e conte com a ajuda do dentista. Ele vai saber
explicar de forma divertida como fazer a higiene e respaldar aquilo que você
vinha dizendo havia tempos. Em casa, reforce os ensinamentos do profissional.
30. Depois que me separei, acho que afrouxei os limites que impunha ao
meu filho. Devo retomar o modelo anterior?
Imediatamente. Compreende-se que pais separados temam a rejeição. Mas
nunca se deve deixar que isso atrapalhe na disciplina. Todas as crianças
precisam de limites. A dificuldade adicional, nesse caso, é que pai e mãe
precisam estabelecer limites conjuntos para evitar ordens contraditórias.
Claudio Rossi
Ceres Alves de
Araújo é psicóloga
e professora de
pós-graduação da
pontifícia
Universidade
Católica
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