INQUILINISMO EM CORNITERMES (ISOPTERA, TERMITIDAE) EM DUAS
ÁREAS DE PASTAGEM
Ana Cristina da Silva¹, José Max Barbosa de Oliveira Junior¹, Lauana Nogueira², Letícia Gomes ¹,
Thales Amaral² Reginaldo Constantino³
¹ Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação, Universidade do Estado de Mato GrossoUNEMAT, Nova Xavantina-MT, Brasil.
² Programa de Pós-graduação em Ecologia, Universidade de Brasília-UnB, Brasília-DF, Brasil.
³ Universidade de Brasília- UnB, Brasília-DF, Brasil.
RESUMO
O estudo da heterogeneidade ambiental é importante para explicar os padrões de variação na
diversidade de espécies, bem como a interação entre elas. Desta forma o inquilinismo se torna
um fator importante na coexistência de espécies. Os cupins são indivíduos que apresentam
inquilinismo com outras espécies e desempenham importante papel ecológico nos
ecossistemas naturais atuando como consumidores primários e decompositores. Desta forma,
o objetivo deste trabalho foi verificar a existência de inquilinismo em Cornitermes em uma
área de pastagem degradada e pastagem natural. Ao todo foram amostrados 27 cupinzeiros,
sendo 24 em área de pastagem antrópica e três em pastagem natural. Na área de pastagem
degradada apenas três ninhos apresentaram espécies inquilinas (C4; C5 e C20). Em área de
pastagem natural todos os cupinzeiros apresentaram inquilinos. Apesar da presença de
inquilinismo em alguns ninhos, o baixo número amostral de cupinzeiros, nos quais foram
encontradas outras espécies de cupins, dificulta uma análise precisa de algum tipo de padrão
entre a espécie construtora e espécies de inquilinos.
Palavras chave: Coexistência, Heterogeneidade Ambiental, Térmitas.
INTRODUÇÃO
Ambientes heterogêneos permitem a coexistência de um maior número de espécies do
que ambientes homogêneos, por disponibilizar maior número de microhabitats e uma gama
maior de microclimas. Essa heterogeneidade possibilita maior segregação no uso dos recursos
disponíveis no ambiente, possibilitando a coexistência de um número maior de espécies
(NESSIMIAN et al., 2008; TOWNSEND, et al., 2006). Portanto, a heterogeneidade
ambiental tem sido reconhecida como uma das melhores explicações para a variação na
diversidade de espécies (HOUSTON, 1994).
Esta variação ambiental e a relação entre diversidade de espécies e interação entre elas
se apresentam por meio das mais diversas interações, e dentre essas o inquilinismo.
Algumas espécies de cupins vivem em associação com outras espécies de cupins, o
que torna um fator importante na coexistência de espécies, no qual uma espécie utiliza o
abrigo de outra sem prejuízo para esta ultima (BIGNELL, 2000). Os cupins são indivíduos
que apresentam inquilinismo com outras espécies, os mesmos representam a maior biomassa
animal em florestas primárias, desempenhando importante papel ecológico nos ecossistemas
naturais atuando como consumidores primários e decompositores, consequentemente
participam do ciclo da matéria orgânica e de nutrientes (LIMA et al., 2007;).
Estes organismos são insetos eussociais pertencentes à ordem Isoptera. Existem 2.858
espécies descritas, sendo 537 ocorrentes em ambientes neotropicais e 300 espécies
distribuídas em cinco famílias no Brasil. Estes organismos se alimentam de materiais
celulósicos provenientes de vegetais vivos ou mortos, dessa forma apresentam vasta e
diversificada fonte de recursos, para conseguir se estabelecer em diferentes ambientes (LIMA
et al., 2007). Neste contexto partimos da hipótese de que os cupinzeiros em ambientes de
pastagem degradada apresentam menor riqueza de espécies de inquilinos, em função da
homogeneidade deste ambiente. Desta forma, nosso objetivo foi verificar a existência de
inquilinismos em Cornitermes em uma área de pastagem degradada e em uma área de campo
de murundus utilizada como pastagem.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi desenvolvido na Fazenda Destino (12º52’12,5” S 052º05’8.5”W) no
município de Ribeirão Cascalheira-MT. Os trabalhos de campo foram realizados em duas
áreas: (A) Ambiente alterado utilizado para pastagem e (B) Ambiente natural de campo de
murundu. Onde foram tomadas as medidas de diâmetros e alturas para todos os cupinzeiros.
Em seguida todos os cupinzeiros foram arrancados do solo, amostradas as comunidades de
cupins e posteriormente foram identificados por especialista.
RESULTADOS
Ao todo foram amostrados 27 cupinzeiros, sendo 24 registrados em área de pastagem e
três em campo de murundus, utilizado como pastagem.
Um total de 12 espécies inquilinas associadas a duas espécies de cupins construtores
em duas áreas de amostragem foram identificadas. Na área de pastagem foram amostrados 24
cupinzeiros de Cornitermes silvestrii Emerson, 1949 e todos estavam ativos. Destes, apenas
três apresentaram espécies inquilinas, o C4, C5 e C20 (Tabela 1). No C4 e C5 apenas uma
espécie em cada, enquanto no C20 duas espécies inquilinas.
Na área de murundus foram amostrados três cupinzeiros de Cornitermes bequaerti
Emerson, 1952, e em todos ocorreram espécies inquilinas, sendo que no C25 a espécie
construtora foi ausente, mas com a presença de três espécies de cupins inquilinos. No C26,
além da espécie construtora, ocorreram mais quatro espécies inquilinas, e no C27 ocorreram
seis espécies de inquilinos associadas a espécie de cupim construtor (Tabela 1).
Tabela 1. Cupinzeiros associados a inquilinos na Fazenda Destino, Floresta de transição Cerrado-Amazonia em
Ribeirão Cascalheira, Bacia do rio Araguaia, Mato Grosso.
Cupinzeiro Área
Construtor
Inquilinos
C4
Pastagem alterada
Cornitermes silvestrii
Aparatermes sp.
C5
Pastagem alterada
Cornitermes silvestrii
Grigiotermes sp.
C20
Pastagem alterada
Cornitermes silvestrii
Spinitermes sp.
e Anoplotermes sp.
C25
Pastagem natural
Cornitermes bequaerti
Labiotermes orthocephalus,
(Ausente)
Agnathotermes sp.
e Grigiotermes sp.
C26
Pastagem natural
Cornitermes bequaerti
Labiotermes orthocephalus,
Agnathotermes sp.,
Grigiotermes sp.
e gênero ind. (Termitidae)
C27
Pastagem natural
Cornitermes bequaerti
Curvitermes odontognathus,
Orthognathotermes sp.,
Grigiotermes sp.,
Termes sp.,
Subulitermes sp.
e Ereymatermes sp.
DISCUSSÃO
Neste trabalho foi verificada a presença de inquilinos em cupinzeiros do gênero
Cornitermes, mas em maior quantidade nos ninhos de Cornitermes bequaerti. Esta maior
ocorrência de inquilinos no segundo grupo pode ser explicada por estes estarem localizados
em área de pastagem natural não manejada, podendo, portanto serem considerados mais
antigos. Os ninhos de Cornitermes silvestrii estão presentes em área onde havia anteriormente
uma floresta, sendo que estes animais são nativos de áreas abertas, portanto, a menor
ocorrência de inquilinos pode ser explicada pela constante destruição dos ninhos na pastagem
e pelo fato de que os inquilinos desse grupo não estarem adaptados a ocorrer em áreas
florestais transformadas em pastagens (DIEHL et al.,2005).
COSTA et al. (2009) estudou inquilinos associados a cupinzeiros de Cornitermes
cumulans em cerrado e verificou que algumas espécies são inquilinos obrigatórios, como é o
caso de Serritermes serrifer enquanto outras podem construir seus próprios ninhos,
possivelmente usando o ninho de outras apenas para forragear.
O tamanho grande e a estrutura bipartida (parede externa rígida de barro e galerias
internas cartonadas) dos ninhos de C. cumulans fazem com que estes sejam excelentes abrigos
para outras espécies (REDFORD, 1984) o que pode ser estendido para C. bequarti embora
não seja para C. silvestrii, que não apresenta a parte cartonada da estrutura central.
Apesar da presença de inquilinismo em alguns ninhos, o baixo número amostral de
cupinzeiros, nos quais foram encontrados outras espécies de cupins, dificulta uma análise
precisa de algum tipo de padrão entre a espécie construtora e espécies de inquilinos e ainda,
seria necessário avaliar os componentes ambientais que poderiam favorecer a coexistência
entre as espécies de cupins na região.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIGNELL, D.E. 2000. Introduction to Symbiosis. In: Abe, T., D.E. Bignell & M. Higashi,
editors. Termites: Evolution, Sociality, Symbioses, Ecology. Dordrecht: Kluwer Academic
Publishers. p 189-208
COSTA, D. A.; CARVALHO, R. A.; LIMA-FILHO, G. F. E BRANDÃO, D. 2009.
Inquilines and Invertebrate Fauna Associated With Termite Nests of Cornitermes
cumulans (Isoptera, Termitidae) in the Emas National Park, Mineiros, Goiás, Brazil.
Sociobiology, vol. 53, n. 2B, p. 443-453.
DIEHL, E., JUNQUEIRA, L. K. E BERTI-FILHO, E. 2005. Ant e térmite mound
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HOUSTON, M. A. 1994. The coexistence of species on changing landscapes. Biological
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LIMA, J. T. & COSTA-LEONARDO, A. M. 2007. Recursos alimentares explorados pelos
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NESSIMIAN, J. L.; VENTICINQUE, E. M.; ZUANON, J.; DE MARCO, P. Jr.; GORDO,
M.; FIDELIS, L.; BATISTA, J. D. & JUEN, J. 2008. Land use, habitat integrity, and
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REDFORD, K. H. 1984. The termitaria of Cornitermes cumulans (Isoptera, Termitidae)
and their role in determining a potential keystone species. Biotropica 16(2): 112-119.
TOWNSEND, C. R.; BEGON, M. & HARPER, J. L. 2006. Fundamentos em Ecologia.
Artmed Editora 2 ed.; Porto Alegre, 592p.
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