VISUALIZAÇÃO DE TRECHOS RODOVIÁRIOS
CRÍTICOS EM SISTEMA DE INFORMAÇÕES
GEORREFERENCIADAS DE SEGURANAÇA VIRÁRIA
Mariana Dias Chaves
João Fernando Custodio da Silva
VISUALIZAÇÃO DE TRECHOS RODOVIÁRIOS CRÍTICOS EM SISTEMA DE
INFORMAÇÕES GEORREFERENCIADAS DE SEGURANÇA VIÁRIA
Mariana Dias Chaves
Programa de Pós-Graduação em Ciências Cartográficas - Universidade Estadual Paulista (UNESP)
João Fernando Custódio da Silva
Departamento de Cartografia - Universidade Estadual Paulista (UNESP)
RESUMO
A infraestrutura do transporte rodoviário no Brasil ainda não atende a demanda por qualidade e segurança. Os
índices de acidentes viários preocupam a sociedade e também os gestores de segurança em transportes. Com o
propósito de colaborar com os esforços para redução das ocorrências, um SIG (Sistema de Informação
Geográfica) denominado webSIG/SV, foi iniciado e trata de uma contribuição mediante o processo de
informação científica na web e compreensão da distribuição espacial dos dados. Ainda em desenvolvimento,
reportou resultados parciais nos estudos de um trecho da rodovia SP-270 (Raposo Tavares). O mesmo sistema
será utilizado na continuidade do projeto e espera-se que as futuras análises confirmem e realcem os trechos
rodoviários críticos. Tais locais, em tese, corresponderiam à falta de um ou mais fatores de segurança na rodovia,
sugerindo que ela poderia realmente ser um fator contribuinte dos acidentes nesses pontos críticos.
1. INTRODUÇÃO
Os acidentes no trânsito compõe um sério e grave problema, tanto que a ONU (Organização
das Nações Unidas) lançou, em 2011, a Década de Ação pelo Trânsito Seguro 2011-2020. Os
governos dos países membros se compromissaram em adotar novas medidas de prevenção de
acidentes, que somam cerca de 1,3 milhões de mortes de pessoas por ano (Onubr, 2011).
Inicialmente, este assunto foi considerado uma responsabilidade do setor de transportes e
conduzido quase que exclusivamente por engenheiros especialistas na área. A partir da década
de 1960, a segurança no trânsito passou a ser tratada como um problema multidisciplinar e
estudada, pesquisada e conduzida sobre metodologia científica.
Desde então, profissionais de diferentes áreas passaram a integrar equipes de ações e o
enfoque científico comprovou que os acidentes de trânsito são, em grande medida, previsíveis
e evitáveis. Atualmente, as abordagens multidisciplinares de áreas retratam uma melhor
compreensão da segurança nos deslocamentos, no estudo da natureza (causa) real dos
conflitos e da localização das zonas de maior concentração de acidentes (Ferraz et al., 2008).
Ao assumir que os acidentes resultam de vários fatores encadeados, presume-se não ser
possível detectar as causas e sim fatores que, juntos, contribuem para sua ocorrência
(Castrillón e Candia, 2003). Em locais com alta concentração de ocorrências devem-se
reconhecer os fatores contribuintes presentes (condutor, via, meio ambiente e veículo) e a
relação que há entre eles (Simões, 2001; Dft, 2004).
Uma das formas mais eficientes de tratar o problema é por meio da aplicação um programa
abrangente de gerenciamento da segurança viária (GSV) (Elvik et al., 2009; Nodari, 2003).
Há aqui uma enorme lacuna para a construção da informação geográfica de interesse social
com base nas Ciências Cartográficas por meio da visualização cartográfica e tridimensional
das informações georreferenciadas do sistema viário. Relacionado a aspectos da via, almeja-se
que a análise estatística possa sugerir os trechos críticos.
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Tomando-se o condutor como centro do problema, acredita-se que a integração dos campos
mencionados, que ora está disperso, e dos dados textuais (registros dos acidentes)
proporcionará o conhecimento dos trechos com mais propensão aos acidentes rodoviários.
O objetivo da linha de investigação é a integração de dados sobre ocorrência de acidentes
provenientes de diferentes fontes, presente no webSIG/SV; a utilização de geotecnologias
para o tratamento dos dados, e a aplicação de técnicas de estatística espacial. O webSIG/SV é
um sistema de informações, disponibilizado na internet, para o livre acesso de condutores
acerca dos setores ou locais de maior risco de acidentalidade (Chaves, 2013, 2014).
O objetivo deste artigo é apresentar os fundamentos da pesquisa da tese em desenvolvimento
bem como a metodologia a ser empregada no projeto frente à contribuição já obtida com os
resultados do uso do sistema webSIG/SV.
2. CONCEITOS
2.1 Influência das características físicas da rodovia na ocorrência de acidentes
Acredita-se que as características geométricas da via afetam suas condições de segurança e
influenciam nas oportunidades de conflitos (Miranda, 1997). Nodari (2003) identificou 297
dessas características da rodovia com base no conhecimento e experiência de policiais,
projetistas, especialistas rodoviários nacionais e internacionais em segurança viária.
Em tese, tais trechos corresponderiam à falta de um ou mais fatores de segurança na rodovia,
sugerindo assim que a rodovia ou um trecho dela poderia realmente ser um fator contribuinte
dos acidentes. Neste caso, uma alternativa seria a identificação e correção dos pontos ou
locais críticos, pelo processo tradicional reativo de análise e tratamento da GSV, amplamente
referenciado na literatura internacional como black spots accident ou prone locations.
2.2 Sistemas de Mapeamento Móvel (SMM)
Os SMM integram sensores de posicionamento por satélites e inerciais, de modo a produzir
uma posição espacial de qualquer detalhe na ou próximo à superfície terrestre. Formam um
conjunto de equipamentos, como câmaras digitais, receptores GNSS (Global Navigation
Satellite System), plataformas inerciais, entre outros (Silva et al., 2001).
Uma das potencialidades da tecnologia em questão é a contribuição para a segurança viária.
Silva et al. (2012) recomendam esta aplicação por seu expressivo benefício social e
econômico latente. Aliada ao SIG tem grande potencial pedagógico e amplia o conhecimento
acerca do trecho crítico da rodovia, porque associa informação estatística com dados visuais.
2.3 A web como ambiente de execução de um SIG
A aplicação de um SIG pode ser direcionada para a web (world wide web). Faz-se necessário
garantir a manipulação de todos os componentes do SIG através da internet, ao passo que a
cooperação com o sistema integrado seja o poder de comunicação e acessibilidade de dados
culminando numa ferramenta ainda mais poderosa no âmbito de tomada de decisão.
Tão relevante quanto garantir o acesso do SIG na internet é alcançar a integração entre seus
componentes. O fato de ser uma aplicação na internet viabiliza a combinação de softwares.
Tais categorias de software incluem base de dados geográficos (PostgreSQL+PostGIS) e
linguagens de programação (PHP (Hypertext Preprocessor) e JavaScript).
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3. RESULTADOS INTERMEDIÁRIOS OBTIDOS COM O WEBSIG/SV
O sistema é composto pelos módulos de interface de navegação (figura 1) e de dados.
Figura 1: Interface do webSIG/SV com a classificação dos trechos da rodovia SP-270.
O objeto de estudo foi a rodovia Raposo Tavares (SP-270), entre os quilômetros 493+340 m
(limite municipal de Rancharia-SP) e 592+670 m (limite municipal de Presidente BernardesSP). O subtrecho da rodovia que corta a área urbana de Presidente Prudente (entre os
quilômetros 560 e 570) apresenta a maior quantidade de acidentes, tais como: colisão traseira,
engavetamento, capotamento e tombamento; envolvendo automóveis e motos; nas terças e
sextas-feiras, o que se dá predominantemente entre os quilômetros 568 e 570.
O estudo com os dez quilômetros (10% do trecho da rodovia) confirmaram os publicados por
Picado (2005), onde 15% a 25% do total de acidentes ocorrem em apenas 5% a 10% da
extensão da rede viária. Sobre a concentração das ocorrências, os dois quilômetros (568 e
570) mostraram-se responsáveis por cerca de 40% de todos os tipos de acidentes, sendo 80%
do total de atropelamentos de pedestres e engavetamentos registrados no trecho da rodovia.
4. METODOLOGIA PROPOSTA PARA A CONTINUIDADE DA PESQUISA
O sistema será utilizado na continuidade do projeto para os testes de mais dois trechos, dados
como muito perigosos pela PMR-SP: um na rodovia SP-294 (Rod. Com. João Ribeiro de
Barros) e outro na SP-613 (Rod. Arlindo Bettio). O processo foi dividido em três módulos.
No Módulo I (Identificação dos locais críticos), o webSIG/SV será preparado para aplicação
da GSV e serão calculados índices de acidentes por quilômetro da malha viária de cada
unidade de área selecionada. O resultado deste módulo será uma lista de Possíveis Pontos
Críticos (PPC), produto da comparação entre os índices calculados.
No Módulo II (Investigação dos fatores contribuintes), tem-se a análise exploratória de
padrões pontuais dos PPC pelo índice do vizinho mais próximo; a análise da distribuição
espacial dos tipos de acidentes (em função da tipologia), e; aplicação da técnica hierárquica de
agrupamento. Na análise exploratória em áreas, a identificação de tendências espaciais será
visualizada com a média móvel espacial; as regiões de transição, com o diagrama de
espalhamento de Moran; as estatísticas globais serão calculadas, e; a correlação espacial dos
índices será classificada. Ainda no Módulo II será realizado um levantamento móvel nos PPC.
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Do levantamento (vídeos gravados) serão identificados manualmente os componentes da via
presentes nos trechos com interseção fotogramétrica. Tais componentes serão confrontados
com os da lista proposta por Nodari (2003) e será montada uma nova lista, que, por sua vez,
será conferida com a proposta por Chagas (2011), que trata dos fatores contribuintes da via.
Então, será montado um Banco de Imagens Georreferenciadas de Componentes da Via
(BIGCV) possíveis causadores de acidentes.
No Módulo III (Tratamento do local crítico) as duas análises realizadas (nos PPC e no
BIGCV) serão correlacionadas por medidas estatísticas. A intenção é identificar os trechos
homólogos e estabelecer possíveis causas dos acidentes em função das características da via.
O webSIG/SV será aperfeiçoado para o teste com mais dois trechos da região. Por haver com
dados de diferentes formatos e fontes, o tratamento e organização reportará a validação do
método e consequente contribuição com a categoria de inovação tecnológica.
Agradecimentos
À FAPESP, Proc. 2011/07208-0 (IC) e 2012/12075-2 (mestrado); à Polícia Militar Rodoviária do estado de S.
Paulo pelos dados disponibilizados; e ao Capitão João Carlos Lemes pela atenção.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Castrillón, A. D. e J. S. Candia (2003) Guía para realizar auditoria de seguridad vial. Chile.
Chagas, D. M. (2011) Estudo sobre fatores contribuintes de acidentes de trânsito urbano. 114p. Dissertação
(Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UFRGS. Porto Alegre.
Chaves, M. D. (2014) Desenvolvimento de um Sistema de Informações Georreferenciadas de Segurança Viária
161p. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Ciências Cartográficas, FCT-UNESP.
Presidente Prudente.
Chaves, M. D.; J. F. C. Silva; M. H. Shimabukuro (2013) WebSIG/SV: um sistema web de informações
georreferenciadas de segurança viária. Anais do 8° Congresso Brasileiro de Rodovias e Concessões,
CBR&C e BRASVIAS. Santos, v.1, p. 1-11.
DfT (2004) Instructions for the completion of road accident reports. Department for Transport, London.
Disponível em: http://www.dft.gov.uk/pgr/statistics/datatablespublications. Acesso em: 12/07/13.
Elvik, R.; A. Hoye; M. Sorensen (2009) The handbook of road safety measures. (2a ed). Ed. Bingley: Emerald.
Ferraz, A. C. P.; A. R. Junior; B. Bezerra (2008) Segurança no trânsito. Ed. Grupo São Francisco. São Carlos.
Miranda, V. A. A. (1997) Utilização do método Tripod na investigação dos fatores envolvidos nos acidentes de
trânsito. Dissertação (Mestrado). Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Transportes. Rio de Janeiro.
Nodari, C. T. (2003) Método de avaliação da segurança potencial de segmentos rodoviários rurais de pista
simples. 221p. Tese (Doutorado). UFRGS. Porto Alegre.
ONUBR (2013) Década de Ação pelo trânsito seguro 2011-2020 é lançada oficialmente hoje (11) em todo o
mundo. Nações Unidas do Brasil. Disponível em: http://www.onu.org.br/decada-de-acao-pelo-transitoseguro-2011-2020-e-lancada-oficialmente-hoje-11-em-todo-o-mundo/. Acesso em: 28/08/2013.
Picado, J. (2005) Manual la ingeniería de tránsito y la Gestion de seguridad vial. San José, Costa Rica.
Queiroz, M. P. (2003) Análise espacial dos acidentes de trânsito do município de Fortaleza. 141p. Dissertação
(Mestrado). Programa de Mestrado em Engenharia de Transportes, UFC. Fortaleza.
Silva, J. F. C.; E. C. Cruz; M. D. Chaves; M. C. L. Neto; M. H. Shimabukuro (2012) Aplicações e
potencialidades do mapeamento móvel. Anais do III Simpósio Brasileiro de Geomática. Presidente
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Silva, J. F. C.; P. O. Camargo; M. C. Guardia; M. L. L. Reiss; R. A. C. Silva; R. B. A. Gallis; R. A. Oliveira
(2001) Mapeamento de ruas com um sistema móvel de mapeamento digital. Revista Brasileira de
Cartografia, n.53, p. 82-91.
Simões, F. A. (2001) SEGTRANS – sistema de gestão da segurança no trânsito urbano. Tese (Doutorado). PósGraduação em Engenharia de Transportes, EESC-USP. São Carlos.
Mariana Dias Chaves
Email: [email protected]
João Fernando Custódio da Silva
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