Por um 2006 acima da média
O Brasil de 2005 foi marcado por fatos econômicos importantes, mas,
principalmente por fatos políticos muito fortes. As denúncias no congresso de haver um
esquema de pagamentos a deputados para votarem a favor do governo ocuparam a agenda
do país de forma significativa. Com certeza, não apenas por isso, mas também por isso o
país teve um desempenho econômico aquém das expectativas.
Sim, crescemos. Crescemos mais do que o Haiti (1,5%), semelhante a El Salvador
(2,5%) e menos do que todo o restante da América Latina. A euforia do segundo trimestre
de 2005 (crescimento de 5,2%) foi derrubada pelo terceiro (menos 1,2%) e pelo quarto que
ainda não foi divulgado, mas sabe-se que não será um céu de brigadeiro. A questão que se
coloca é o efeito comparação. Imagine, por exemplo, que os alunos de uma classe tiraram
na prova de matemática, média cinco, e que nesta disciplina você tirou seis. Na avaliação
de português a média da sala foi oito, e neste caso, você tirou sete. Em qual você foi
melhor? Se olharmos apenas o valor absoluto a melhor nota foi em português. Contudo,
comparando-se com o restante da turma o melhor desempenho foi em matemática, pois está
acima da média dos outros alunos. Assim foi o Brasil em 2005, abaixo da média.
Uma comparação considerando apenas o crescimento econômico é realmente muito
simplista. A Argentina que teve um desempenho bastante superior, quase 9%, parte de uma
base comparação muito ruim e ainda com uma inflação de 12% ao ano. Aliás, um dos
vilões para o baixo crescimento do país foi o árduo controle da inflação. O remédio usado
foi uma altíssima taxa de juros que terminou o ano em 18%. As atitudes tão condenadas em
outros governos foram usadas mais uma vez. Isso não quer dizer que havia alternativas,
mas que na verdade não houve nada de inovador como tanto se apregoou. Friamente se
observando tivemos mais tributos, mais juros e as melhoras, ainda assim, foram abaixo das
expectativas. Infelizmente nem sempre se têm condições favoráveis no mundo que
possibilitem um ganho de qualidade de vida, porque fazer reformas em época de vacas
magras é muito mais difícil. A melhor distribuição de renda e o desenvolvimento passam
necessariamente pelo aumento da produtividade. Esta produtividade precisa ser uma busca
constante principalmente pela desregulamentação da economia, melhora na infra-estrutura
e qualificação da mão de obra que acabaram não tendo a atenção merecidas.
Para 2006 as perspectivas da economia mundial continuam positivas. A liquidez
internacional deve continuar grande, facilitando a acesso de países emergentes a fontes de
recursos, principalmente pelo setor privado. O Brasil , como a maioria, antecipou
pagamentos ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e ao Clube de Paris diminuindo a
necessidade de captações em 2006. Isto deve assegurar uma travessia menos turbulenta
neste ano eleitoral, principalmente no câmbio. Neste último ano do atual governo deverá
haver um empenho maior de realizações de obras públicas com a torneira mais aberta para
um possível segundo mandato do Presidente Lula.
O Brasil pode ter um bom ano. Existem condições para isso, mas sem duvida
perdemos tempo precioso numa época de crescimento mundial. O Banco Central foi
extremamente zeloso no combate à inflação em 2005, talvez faltando um pouco de
sensibilidade para ousar mais. O governo perdeu muito tempo se defendendo de tipo de
denuncia. Esperemos que 2006 seja realmente um ano de retomada consistente, não apenas
do crescimento, mas de tudo que possa torna o Brasil mais produtivo no longo prazo.
Paulo André de Oliveira
Professor de Economia da FMR
Pós-graduando Energia na Agricultura
FCA-UNESP
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