Joio Hilton Sayeg de Siqueira
Neusa Maria O. Barbosa Bastos
PUC - SP
o presente trabalho tem par objetivo propor
a
introdu~io dos virios nlveis de linguagem nos manuais tra
dicionais,
0
que levaria
0
aluno a contactar nio so com
Portugues culto formal, presente nos exemplos desses
0
ma-
nuais e longe da realidade do nosso adolescente, mas tambim com as demais possibilidades de use de sua lingua materna
(0
informal e
0
neutrol.
Partimos do principio de que
0
aluno fala a lin
gua que adquiriu em sua comunidade, usa essa lingua,
mas
deve saber expressar um mesmo ccnteudo de diversas maneiras.
t
guesa, que
claro para nos, professores de lingua portu 0
aluno precisa do uso formal para se aperfei-
~oar dentro de seu proprio 1dioms, ••s, alim das
de boa forma~io das frases, deve d~inar
regras
os dema1s usos ,
sabendo uti11zar adequadamente -as cra~oes num dado
con-
texto l1ngClstico e numa dada situaiio de comun1ca9io. De
vemos, portanto, procurar exerciti-lo nos diversos usos ,
supondo uma competencia sociolinqdIstica do aluno.
Sabemos que a nossa qramatica tradicional
tea
suas bases nas qramaticas qreqa e latina e, apesar de ter
sofrido modifica~Oes, ainda ha muito a ser acrescentado e
modificado para que ela se torne um elemento mais eficien
te no processo ensino / aprendizaqem em nossas escolas.
Ja no seculo XVI, na qramatica de Fernao de OIl
veira (1536), notamos sua qrande capacidade de observa~ao
pois registrou a existencia de diferen~as linqdisticas ~
tre os diversos qrupos sociais, assunto deixado de
pelos qramiticos que
0
lado
sequiram, e retomado pelos linqui~
tas atuais. Observemos, no sequinte trecho,
0
nIvel
cial que faz com que cada falante use a lInqua de
soacordc
com a sua fun~io na sociedade:
·cada um fala como quem e: os
bons falam virtudes e os maliciosos, maldades: os reliqiosos preqam desprezos
do
mundo e os cavaleiros blasonam suas fa~anhas· (2, p.38)
Ainda com rela~io aos nIveis de linguagem, distinque as diversidades linqdIsticas, segundo fatores
ciologico, reqional e etirio. Quanto ao fator social:
so-
"como OB cavaleiroB que tam
un. vocibuloB e OB lavradores outroB e os cortesios
outros e os mercadores outro ••" (2, p.98)
OUanto ao fator regional:
"os da Beira tem umas falas
e os do Alentejo outras."
(2, p.98)
"E
0
velho, como tem
0
en -
tender mais firme, como que
mais sabe, tambem suas falas sio de peso, e as
do
mancebo mais leves." (2, p.
98)
Isso vem de acordo com a ideia de que nio
te uma lIngua una, e que tada lIngua comporta
eXi~
variayoes
em funyio dos diversos fatores, sendo, portanto, urn conglomerado de variantes que se interseccionam,
com urnaba-
se comum a todas elas.
DaI, querermos salientar para os estudiosos
da
lIngua portuguesa que devemos estar conscios do nosso dever de apontar, num manual de estudo, todas as manifesta-
~oes da linguagem, mostrando ao aluno que
0
seu falar
e
correto, contanto que dentro do seu ambiente familiar, ou
ainda, numa roda de jovens amigos, mas alertando-o de que,
para melhorar
rar
0
0
seu nivel cultural, ele precisara
melho-
seu desempenho lingftistico.
Preocupa-nos, entio, a permanencia da rigidez
de certas regras conservadas ate hoje, vindas de lingua
paradigmatica - 0
0
portugues - e
lingftistico -
0
latim - adaptadas i lingua sintagmatica
0
abandono de tio importante
enfoque
do usa da linguagem, atraves dos seculos.
No entanto, com
0
advento da lingftistica, a gr~
matica passou a ser criticada e mesmo condenada como preconceituosa e acientifica,
0
que deixou
lingua inseguro, sem saber
0
que ensinar: se uma nova te£
0
professor
de
ria aplicada ao ensino, ou a ja conhecida gramatica
tra-
dicional.
Consideramos que a lingftistica deve ser encarada como urn instrurnento para que
0
professor adquira conh~
cimentos a respeito da lingua, e nio se deve querer aplica-la diretamente ao ensino de primeiro e segundo graus
Por esse motivo, os manuais tradicionais ainda sao vali dos para
0
ensino da norma culta. Nio nos devemos
cer, no entanto, que precisamos ter urnmente
0
esqueobjetivo
principal do ensino da lingua materna: dar ao aluno
0
minio de adequa~io da lingua a todos os niveis de uso
do-
Nio pretendemos negar, com isso, a utilidade da
Gramatica Tradicional no ensino do Portugues, pois ela g~
rante a unidade do ensino de LIngua Portuguesa nas
esco-
las de nos so territorio. Achamos, no entanto, que ela pr~
cisa ser revista.
Nio se deve pensar numa revisio de terminologia,
aplicando-se esta ou aquela nova teoria, pois a terminol£
gia gramatical unifocada e coerente
basicas para
0
e
uma das
exigencias
ensino da lIngua materna, mas deve-se pre-
tender colocar a gramitica mais proxima ao nosso
adoles-
cente, fazendo com que ele observe a sua lIngua de uso c£
tidiano paralelamente ao uso culto que sera
ao seu repertorio,
0
acrescentado
que ira capacita-lo ao uso
apropri!
do das diferentes variantes em situa~oes especlficas.
A Gramatica Tradicional peca por manter-se
com
exemplos de Luiz Vaz da Camoes, criados a 1500, Padre Antonio Vieira - 1600, Camilo Castelo Branco - 1800 e assim
por diante, exemplos estes que estio completamente
fora
de nossa realidade, longe do uso que hoje fazemos do Portugues. Portanto, deve-se utilizar varia~oes de lIngua p~
ra,cada um dos capltulos a ser ensinado, procurando levar
o aluno a se sentir mais proximo das regras que ele devera interiorizar, e preparando-o para falar em
usos dentro de sua propria lingua.
diferentes
Sabemos que dominar uma lIngua como instrumento
de comunica~io nio
e
apenas poder construir e entender as
ora~oes gramaticais vistas e lidas nas gramaticas, mas t~
Dim saber como usar determinadas estruturas, observando as
circunstancias em que se estiver, e levando em
~io
0
considera-
nIvel de linguagem do seu interlocutor, seu nIvel s2
cial, intelectual, etc.
o professor de lIngua materna deve ter presente
esse objetivo, sabendo que
0
ensino de uma lIngua so
se
justifica .e ela servir de instrumento de comunica~io para
que
0
aluno apresente melhoras nos processos de
codifica-
~io, enfim, no seu desempenho lingCIstico. Para tal, a Gr~
matica
e
util, mas deve ser considerada nio como um fim
mas como um meio para alcan~ar
0
domInio pratico da lIngua.
Dessa maneira, como ja dissemos,
e
iIrp:>rt:ante
que
o aluno, trazendo a sua variante qeoqrafico-social,
aper-
fei~oe-se nela, conhe~a a lIngua culta, fa~a uso dela
nio
so escrita como oral, e, alim disso, aprenda outras varia~
tes qeoqraficas e sociais. Isso
0
tornara apto a codificar
melhor, fazendo boas reda~oes, expressoes orais, comunican
do-se com pessoas de varios nIveisl e a decodificar melhor
tambim, interpretando textos, lando e compreendendo
livros
e captando mensaqens nio so de pessoas do seu nIvel, idade,
sexo, profissio, mas tambim de todos os demais
da sociedade.
elementos
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Joio Hilton Sayeg de Siqueira Neusa Maria O. Barbosa