Revista Eletrônica do Programa
de Pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero
Volume 5, nº 1, 2013
Artigo
O AVANÇO DA ETNOGRAFIA COMO UM
RECURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO EM
ESTUDOS DE INTERNET NO BRASIL
Um relato sobre o grupo de pesquisa GrupCiber
Marcelo Crispim da Fontoura* e Guilherme Mendes Pereira**
Resumo
Resumo
Empreendemos no presente estudo, a partir de um relato da trajetória de pesquisa do GrupCiber e de algumas de suas produções acadêmicas, compreender um pouco mais sobre a aplicação do viés teórico-metodológico da etnografia em estudos de internet. Buscamos apontar
indícios do contexto contemporâneo repleto de novas formas de socialidades cibermediadas, e indicamos também o avanço da aplicação
da etnografia em pesquisas de internet recentes, no âmbito brasileiro.
Palavras-chave
Palavras-chave
Etnografia. Estudos de internet. Metodologia da pesquisa em comunicação.
Abstract
Abstract
We undertook the present study, from a report of research trajectory of GrupCiber and some of his academic productions, understand a
little more about the application of theoretical and methodological bias of ethnography in studies of internet. We seek evidence the contemporary context full of new forms of mediated cyber socialites and indicated also the advancing of application of ethnography in recent
internet researches in the Brazilian context.
Keywords
Keywords
Ethnography. Studies internet. Research methodology in communication.
* Mestrando em Comunicação Social pela Famecos-PUCRS. Bolsista Capes-PROSUP. Graduado em Jornalismo pela mesma instituição.
Email: [email protected]
** Mestrando em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), bolsista CAPES. Especialista
em Linguagens Verbais, Visuais e suas Tecnologias pelo Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul / 2011). Graduado em Artes Visuais Design Gráfico pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel / 2008)). [email protected]
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Introdução
O estudo sobre as implicações das tecnologias digitais nas sociedades contemporâneas tem
crescido no cenário acadêmico brasileiro. As pesquisas envolvendo as relações sociais a partir de
aparatos tecnológicos e pensando suas características, fundos e consequências não são poucas, e
isso tem se refletido em estudos e nos Grupos de Pesquisa em diversas áreas.
Com base nisso, o presente estudo traz um relato investigativo acerca do GrupCiber, um
grupo de pesquisa em Ciberantropologia formado em 1998 e voltado ao estudo das novas práticas
sociais e culturais atreladas ao advento do ciberespaço e da cibercultura.
Como nos interessa um estudo das relações sociais mediadas tecnologicamente a partir de
paradigmas diferentes dos comumente utilizados na Comunicação (campo de atuação dos autores), ou seja, não tendo como pressupostos os dispositivos tecnológicos e suas funções, consideramos o estudo do GrupCiber, vinculado à Antropologia, de grande valia.
Baseado no relato da trajetória de pesquisa do GrupCiber e de algumas produções, buscamos
entender o funcionamento da pesquisa sobre as relações sociais e comunicacionais no ciberespaço
através da etnografia. Tentamos também, com alguns autores, apontar indícios do contexto contemporâneo, bem como o avanço da aplicação do viés teórico-metodológico da etnografia em pesquisas de internet no contexto brasileiro.
Pressupostos históricos e teóricos
Rüdiger (2011) apontou que a vida em rede provocou uma ruptura. A cibercultura desmaterializa fronteiras entre o real e o virtual (Rocha; Montardo, 2005). A fragmentação social e o individualismo passaram a configurar a imagem da rede que pouco a pouco tem substituído a ideia
de sociedade. O comportamento dos indivíduos atuantes nas redes perfaz atores sociais, entidades
construídas idealmente e totalmente controláveis, que ao mesmo tempo são operadores simbólicos
(Rüdiger, 2011).
Em meio a essas transformações, foi necessário o desenvolvimento de métodos de pesquisa
mais específicos às novas peculiaridades históricas e espaço-temporais. Na década de 1990, por
exemplo, apontaram estudos de cunho profético, tendências e modismos, com viés tecnófilo. Nessa
mesma época, começou a transposição do método etnográfico aos estudos de internet, que não era
bem quisto por etnógrafos ortodoxos, já que a prática demandava tradicionalmente a ida a campo
e o contato presencial. Já nos anos 2000 emergiram abordagens metodológicas voltadas à análise de
dados e aos usos da internet pelos indivíduos (Fragoso; Recuero; Amaral, 2011).
Ao passo que a etnografia começa a ser adotada para pesquisas de internet, surgem neologismos: etnografia digital ou etnografia virtual aparecem mais comumente em pesquisas oriundas
do campo das ciências sociais aplicadas, se referindo a estudos acerca das socialidades e culturas
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cibermediadas. Já netnografia ou webnografia são empregados por analistas dos campos do marketing. Fragoso, Recuero e Amaral, (2011) defendem o uso simplesmente de etnografia aplicada
em estudos de internet, a fim de gerar maior consistência metodológica.
A etnografia é o estudo documental das práticas culturais sociais. O pesquisador trava contato e constrói uma relação com seu objeto de estudo a partir da imersão cotidiana e experiencial.
Etnografar é ler e dar sentidos e consistência à incoerências e problemáticas vislumbradas em
fenômenos sociais cotidianos. O estudioso constrói sentidos para os atores e fenômenos sociais a
partir de hipóteses, ou pelo entendimento de significados já dados pelos grupos sociais ou indivíduos (Rocha; Montardo, 2005). O empiricismo seria assim a principal característica da etnografia,
que, aplicada em estudos de internet, articularia nuances do individual e do coletivo mediados por
novos meios comunicacionais. O método, portanto, teria por objetivo legitimar percepções, narrativas empíricas e construções teóricas, se constituindo a partir de múltiplas textualidades (Fragoso; Recuero; Amaral, 2011). Conforme a metodologia etnográfica é aplicada ao espaço virtual,
este passa a ser percebido como algo inter-relacionado e dependente dos lugares off-line (Amaral,
2010).
Lewgoy (2009) explicou que novas mídias trazem novos elementos discursivos, e provocam
um reposicionamento chamado, no campo da Antropologia, de grande divisão. O autor criticou a
inclinação ingênua de muitos pesquisadores ancorados em um evolucionismo tecno-utópico. Outro
perigo, ressaltou Lewgoy (2009), é o discurso tecnófobo, que traz uma perspectiva também reducionista das relações cibermediadas como mera reprodução das relações offline impulsionadas por
uma lógica capitalista/fetichista tecnologicamente renovada. Para além da dicotomia tecnófilos/
tecnófobos, a antropologia do ciberespaço “[...] é um tipo de domínio emergente, ambíguo e não
estruturado, um quase-objeto, em busca de conceitos-metáforas e analogias de alto valor heurístico para sua interpretação” (Lewgoy, 2009:191).
A etnografia aplicada a pesquisas de internet depende do contexto no qual será desenvolvida, não existindo protocolos e direcionamentos rígidos, tendo como pressuposto que os movimentos no ciberespaço estão em constante transformação (Amaral; Natal; Viana, 2008).
Por propiciar um desprendimento do espaço/tempo maior em relação a técnicas de pesquisa
presenciais, a etnografia digital envolve consumo menor de tempo, é pouco onerosa e menos invasiva. Outra vantagem é o acesso à informação documental acerca do objeto de pesquisa (Amaral;
Natal; Viana, 2008; Fragoso; Recuero; Amaral, 2011). No entanto, o contato a partir destas manifestações sociais mais específicas e restritas oculta outras camadas de sentido, como gestos e entonações (Amaral; Natal; Viana, 2008).
Na sequência, apresentamos um relato acerca do GrupCiber e de seu percurso, bem como
indicamos algumas de suas produções teóricas. É interessante observar como a aplicação da etno-
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grafia no ciberespaço se mostra quando articulada a partir de produções de um grupo de pesquisa
com propósitos e ações bem definidos e sistematizados.
O Grupo de Pesquisa em Ciberantropologia, GrupCiber,1 é vinculado ao Laboratório de Antropologia Social, dentro do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFSC, em
Florianópolis, e é certificado pelo CNPQ. Foi fundado em 1998, o que demonstra uma preocupação
desde cedo com esta área de estudos: “Trata-se de um campo em que o GrupCiber tem estado entre
os pioneiros no âmbito da antropologia” (DIRETÓRIO DOS GRUPOS DE PESQUISA NO BRASIL,
2012).
O grupo conta com cinco pesquisadores: Fernanda Guimarães Cruz, Jean Segata e Juciano de
Sousa Lacerda, além dos dois líderes: Theophilos Rifiotis e Maria Elisa Máximo. Compõem o grupo também seis estudantes e nenhum técnico. As linhas de pesquisa do grupo são também cinco:
• Admirável Mundo Pet: novas relações entre humanos e animais no Alto Vale do Itajaí
• Antropologia do Ciberespaço
• Bruno Latour e a Psicologia: tópicos para uma reflexão teórico-metodológica
• O Estatuto da Descrição Antropológica representação, tradução e criação
• Políticas Públicas e Cibercultura
Vamos primeiro nos dedicar a uma observação do capital cultural incorporado do grupo,
composto pelos interesses acadêmicos dos pesquisadores. Percebe-se uma influência clara do trabalho do filósofo e antropólogo francês Bruno Latour, um dos pensadores da teoria ator-rede. Uma
das linhas de pesquisa é voltada para o trabalho do pesquisador francês, aliando-o à área da psicologia. Rifiotis tem, inclusive, trabalho apresentado em simpósio, em 2009, explorando a aplicação
da ideia de redes sociotécnicas de Latour na pesquisa da cibercultura. Como veremos adiante, a
palavra-chave “redes sociotécnicas”, de grande valia no trabalho de Latour, é a mais verificada nas
linhas de pesquisa do grupo.
Máximo vai buscar apoio também no conceito de drama social de Victor Turner e na abordagem interacionista de Erving Goffmann. Outro autor muito presente em suas influências é o etnógrafo Dell Hymes.
Produção do Grupo
Vamos explorar as palavras-chave das pesquisas realizadas em cada uma delas, para melhor
compreender por quais caminhos a produção do GrupCiber se deu.
• Admirável Mundo Pet: novas relações entre humanos e animais no Alto Vale do Itajaí -
1. Registro no CNPQ: <
http://goo.gl/zLWIyg>.
Disponível em: <http://
www.grupciber.net/>.
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agência; hibridismo; natureza/cultura;
• Antropologia do Ciberespaço - Ciberespaço; Comunicação mediada por Computador; Comunidades Virtuais; Internet; Sociabilidade; Sociedade da Informação;
• Bruno Latour e a Psicologia: tópicos para uma reflexão teórico-metodológica - redes sociotécnicas;
• O Estatuto da Descrição Antropológica representação, tradução e criação - etnografia; redes sociotécnicas; tradução;
• Políticas Públicas e Cibercultura - cibercultura; Internet; políticas públicas; redes sociotécnicas; telecentro;
Sentimos falta de explicações detalhadas sobre o que se propõe cada linha de pesquisa. Não
há objetivo listado na página do CNPQ em nenhuma delas, o que é uma falta para um grupo que
mantém outras informações atualizadas. Os resumos seriam muito interessantes para identificar
preocupações e objetivos, além de informar o destino que as pesquisas receberam.
A primeira linha de pesquisa, Admirável Mundo Pet, se preocupa com a relação entre humanos e animais, mas não possui nenhuma evidência do estudo da cibercultura. Ao consultarmos o
currículo lattes do pesquisador Jean Segata percebemos que a linha está mais relacionada ao trabalho no Núcleo de Estudos Antropológicos, um desdobramento do GrupCiber.
Percebemos um grande incidência da palavra-chave redes sociotécnicas, indicando uma ênfase no estudo de redes sociais. Preponderância é outro termo largamente veiculado, sinal da influência de Latour. Ademais, há uma constância do estudo da internet como prática social, dando
atenção a seus usos e apropriações. Isto aparece, por exemplo, nas abordagens para políticas públicas e internet, além da linha que envolve etnografia das redes sociotécnicas. O método etnográfico,
adaptado para as redes digitais, tem presença constante no grupo, não apenas como metodologia
utilizada, mas como objeto próprio de pensamento e desenvolvimento, uma vez que o grupo se
propõe a pensar o pensamento antropológico na internet. Palavras-chave como sociabilidade e comunicação mediada por computador denotam o mesmo lugar de fala. Este posicionamento teórico-metodológico do grupo lembra o dos Estudos Culturais, principalmente o de autores como David
Morley, que valorizam as práticas e rituais que os sujeitos estabelecem com os meios tecnológicos,
em vez de considerar as tecnologias um avanço por si.
Cabe notar que, além da página no diretório de grupos do CNPQ, o GrupCiber mantém ainda
um site próprio, com informações sobre a trajetória acadêmica do Grupo e textos dos integrantes.
Isto demonstra uma ótima interação do grupo com o próprio objeto de estudo, e evidencia que ele
consegue se locomover com desenvoltura nos espaços cibernéticos.
Constam no site próprio do GrupCiber menções a trabalhos desde 1996, com o projeto de
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pesquisa Internet: novos caminho de socialização e cooperação científica. Aparecem ainda o mestrado e o doutorado da co-líder, Maria Elisa Máximo.
Um trabalho muito interessante foi a criação e tutela de um Grupo de Trabalho junto a congressos da ANPOCS, Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais. Entre
2001 e 2003, acontecia nas edições do evento o GT Sociedade da Informação: redes sociais, fundamentos da sociabilidade e transformações dos processos políticos. Entre os coordenadores do GT
estava Rifiotis.
Já em 2002, Rifiotis publica artigo denominado Antropologia do ciberespaço no periódico Antropologia em Primeira Mão, do próprio PPGAS. O trabalho aborda questões teórico-metodológicas
sobre pesquisa de campo e etnografia no ciberespaço, uma preocupação constante do grupo e que,
como se vê, aparece desde cedo. Através de uma análise da apropriação de termos como cibercultura, comunidades virtuais, novas formas de sociabilidade, comunicação mediada por computador,
redes sociais em pesquisas da antropologia e da comunicação, pensando em novos paradigmas teóricos e metodológicos para o estudo das relações homem-máquina e homem-homem mediadas por
computador. A inquietação não apenas com teoria, mas com questões metodológicas são um diferencial. Exemplos de aplicações práticas do método vinculadas ao grupo são o trabalho de mestrado
de Segata, Lontras e a Construção de Laços no Orkut, e o artigo de Apgaua O Linux e a Perspectiva
da Dádiva.
Em 2008, três integrantes do grupo (Rifiotis, Máximo e Lacerda) apresentaram trabalho no
Intercom Sul, abordando os usos e apropriações da internet em centros públicos de acesso, como
lan houses, cibercafés e telecentros, através de uma abordagem etnográfica. Este projeto demonstra dois pontos importantes. O primeiro é a intenção de difundir o trabalho do grupo, o que é
fundamental. O segundo é o esforço admirável de conversar com outras áreas das Ciências Sociais
Aplicadas, visto que o trabalho foi desenvolvido junto ao Núcleo de Estudos em Comunicação da
Ielusc e apresentado em um congresso de comunicação. Esta conversa com um meio que também
faz muitas pesquisas relacionadas ao ciberespaço é muito produtiva.
A tabela presente na página do CNPQ evidencia que, pelo menos desde 2009, a produção do
GrupCiber é constante, sendo um pouco mais baixa em termos de produção bibliográfica no primeiro ano mas mesmo assim sendo representativa. Em matéria de produção técnica e orientações
concluídas, 2010 foi o ano mais proveitoso.
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Tabela 1
Fonte: DIRETORIO DOS GRUPOS DE PESQUISA NO BRASIL (2012)
Tipo de produção
2009
2010
2011
2012
Produção bibliográfica
3
8
7
4
Produção técnica
20
36
13
13
Orientação concluída
3
5
2
4
0
1
0
0
Produção artística/cultural
e demais trabalhos
Várias destas produções puderam ser reunidas em um dos trabalhos mais relevantes do grupo,
o livro Antropologia do Ciberespaço. Publicado em 2010 pela Editora da UFSC, se trata de uma coletânea de trabalhos produzidos pelo grupo durante sua trajetória. “Em síntese, é um projeto que procura
resgatar nos estudos do ciberespaço a dimensão vivencial dos sujeitos que nele habitam e discutir
criticamente a inteligibilidade de uma antropologia no ciberespaço” (Rifiotis et al., 2010-s/p.).
São oito trabalhos de temáticas e épocas de publicação variadas, mas que, cada um à sua
maneira, abordam as questões teórico metodológicas de explorar o ciberespaço: “(...) há uma forte
presença de uma perspectiva antropológica e, na sua grande maioria, de uma reflexão antropológica crítica. Procuramos contribuir com os debates, trazendo um elemento essencial através de
trabalhos etnográficos” (Rifiotis et al., 2010-8).
É possível montar a seguinte tabela nas produções reunidas nesta publicação2, mapeando os
objetos estudados nos trabalhos:
Tabela 2
Fonte: os autores (2012)
Trabalho
Objeto
Da metrópole às redes sociotécnicas: a caminho
de uma antropologia no ciberespaço
Ciberespaço e sociabilidade
Sociabilidade e tecnologias no ciberespaço
Software e sociabilidade
Duas ou três coisas sobre elas, as comunidades virtuais
Comunidades virtuais
O Linux e a perspectiva da dádiva
Software e sociabilidade
A construção de vínculos e coletivos em teritórios digitais:
o caso Recomsol – Rede de Comunicadores Solidários
Comunidades virtuais
Um local-global, um global-local. Eu, a cidade de lontras e o Orkut. Redes sociais
Compartilhando regras de fala: uma análise da dinâmica
2. Optamos por não
incluir na tabela nem
a Apresentação, nem o
primeiro texto, Antropologia do Ciberspaço:
questões-teórico metodológicas sobre pesquisa
de campo e modelos de
sociabilidade, ambos de
Teophilos Rifiotis, por
considerarmos se tratarem de textos mais gerais
sobre o grupo, teoria e
método.
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de interação na lista eletrônica de discussão “cibercultura”
Comunidades virtuais
Observa-se a preponderância dos estudos envolvendo comunidades virtuais, além de sociabilidade. Apesar de os objetos em si serem heterogêneos, a tabela demonstra o foco firme de estudos do grupo. Ele cumpre o objetivo a que se propõe: pensar as interações no ciberespaço a partir
da antropologia, explorando novas formas de sociabilidade nos mais diversos formatos.
É interessante verificar também o posicionamento do grupo em criar pesquisas que não se
enquadrassem dentro de visões simplistas dos espaços das redes. “Por que teríamos que optar entre os conhecidos discursos, digamos, pessimistas, e por vezes catastrofistas sobre o mundo contemporâneo e outros celebracionistas, se não ufanistas?” (Rifiotis et al., 2010:8). Na apresentação,
Rifiotis destaca que a edição de um segundo livro, nos moldes do primeiro, está sendo planejada.
As relações do grupo
Para levar adiante os resultados e as preocupações de seus trabalhos e de propiciar troca intelectual, é fundamental a um grupo de pesquisa ter boas relações acadêmicas entre seus membros
e integrantes de outras instituições
Este é o caso do grupo analisado, que demonstra possuir relações fortes com a comunidade acadêmica. Theophilos Rifiotis tem amplas relações com meios acadêmicos no Brasil e fora.
Graduou-se em Física e Ciências Sociais (tanto licenciatura quanto bacharelado nesta última) pela
Universidade de São Paulo. Já o mestrado foi o início de sua carreira acadêmica em programas de
outras instituições, cursado na Université Paris Descartes, na área de Antropologia Social e Cultural. O doutorado de Rifiotis foi na USP, estreitando ainda mais os laços com aquele meio. O pesquisador aproveitou os pós-doutorados para expandir ainda mais suas relações acadêmicas. Possui
três, sendo dois na Université de Montreal, referência no Canadá, e um na Ecole des Hautes Études
en Sciences Sociales, na França. Assim, nota-se um grande desenvolvimento do pesquisador em
países francófonos. Mesmo que seu desenvolvimento nestes programas nacionais e estrangeiros
tenha se dado, por vezes, em áreas diversas à da cibercultura (como violência e sociedade), ainda
se tratam de ligações preciosas. Ministrou também aulas na Universidade Federal do Mato Grosso
e na Universidade do Vale do Itajaí. Podemos destacar ainda a participação em instituições como a
Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, além do próprio CNPQ e outros órgãos governamentais. Rifiotis é também vice-presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura, entidade importantíssima no estudo dos cibermeios no Brasil; o grupo
participou ainda da Rede Temática ‘Comunicação, Cidadania, Educação e Integração na América
Latina’ (Rede AmLat), uma rede de colaboração entre algumas instituições e grupos de pesquisa
de quatro países da América Latina. Nota-se um grande envolvimento do grupo não só com outros
meios acadêmicos, mas com cenários diversos em várias áreas da academia.
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Já Máximo possui experiência um pouco menor, mas também muito relevante para as relações do grupo. Apesar de ter graduação, mestrado e doutorado pela própria UFSC, fez doutorado-sanduíche também na Université de Montreal, ou seja, estreitando ainda mais laços com aquele
meio acadêmico. Máximo, apesar de ser graduada e possuir pós-graduações também em Ciências
Sociais, faz uma ponte muito pertinente com a Comunicação Social. É professora titular, coordenadora de Monografias e coordenadora geral do Núcleo de Estudos em Comunicação no Departamento de Comunicação Social da Associação Educacional Luterana Bom Jesus Ielusc. Como se vê,
a sinergia entre Antropologia e Comunicação é produtiva no GrupCiber, trazendo pontos de vista
e abordagens diversas e complementares.
Considerações sobre o relato do Grupo
Como pontos negativos indicamos que poderia ser melhor explicado o que foram, de fato, as
pesquisas realizadas nas linhas de pesquisa. Não consta também no diretório do CNPQ um objetivo
para cada linha, o que ajudaria a delimitar cada pesquisa. Além disso, seria pertinente uma hierarquização que pontuasse melhor o que é do grupo e o que não é.
Por outro lado, o grupo mantém um site próprio bem completo, o que demonstra envolvimento com o próprio objeto. Em sua homepage constam informações muito úteis para quem quer
conhecer o trabalho do grupo mais de perto. Ainda é necessária, no entanto, uma atualização mais
constante do site, tanto de trabalhos publicados quanto de conteúdo em geral. O resumo no diretório
do CNPQ é completo, com muitos dados atualizados sobre o grupo, seus trabalhos e sua trajetória.
O avanço da etnografia como recurso teórico-metodológico em
estudos de internet no Brasil: algumas considerações
Como pudemos observar, é importante que haja um trabalho sistematizado envolvendo estas
temáticas. Geralmente as pesquisas sobre internet e produtos digitais no Brasil se fixam muito em
aspectos instrumentais e tecnológicos, se filiando a causas prometeicas, sem dar atenção aos usos
e práticas que se tem feito dessas tecnologias, bem como às novas socialidades que estão sendo desenvolvidas. O GrupCiber trabalha com comunidades virtuais, redes sociais, políticas públicas para
a internet, sempre relacionando os objetos com o seu contexto social e histórico.
Conforme destacaram Fragoso, Recuero e Amaral (2011), os estudos etnográficos aliados a pesquisas de internet ainda são bastante modestos no Brasil. Urge a necessidade de mais pesquisas na área,
com questões epistemológicas e metodológicas melhor trabalhadas. E um bom indício disso é que pesquisas etnográficas online tem sido desenvolvidas por pesquisadores do campo da Antropologia, antes
arredios a essa púbere perspectiva. É muito produtivo que um grupo se dedique a explorar esta seara
acadêmica, não apenas se utilizando extensamente dos métodos, mas se propondo a pensar nas implicações teórico-metodológicas da pesquisa em internet e no âmbito da realidade brasileira.
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São Paulo, v.1, n.4, nov. 2013/dez 2013
A revista CoMtempo é uma publicação científica semestral em formato eletrônico do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da Faculdade Cásper Líbero. Lançada em novembro de 2009, tem como principal finalidade divulgar a produção
acadêmica inédita dos mestrandos e recém mestres de todos os Programas de Pós-graduação em Comunicação do Brasil.
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