Formação - Teologia Fundamental 1
baseado no curso Teologia Fundamental I - Aula II de Padre Paulo Ricardo http://padrepauloricardo.org
08/10/11
1 Premissas
Um jovem, certo dia, disse ao seu velho professor: Mestre, tudo o que eu queria neste mundo é crer em
Deus, mas não há provas de sua existência... e isso me atormenta.
Então, o velho mestre o levou a um belo planetário da escola e lhe mostrou a beleza do cosmos ali
representado. Lá estavam o sol, os planetas girando em suas órbitas, as estrelas, as galáxias, e tudo mais.
O jovem ficou admirado com a beleza da obra e disse ao professor: Mestre, quem foi que fez tudo isso?
O mestre lhe disse: multiplique por milhões esse pequeno planetário e você terá o Universo todo.
Mas quem fez tudo isso, insistiu o jovem.
Ninguém, respondeu o professor. Tudo isso veio do nada.
Impossível, retrucou o jovem. Tem que haver um inventor para este planetário magnífico! Isto não pode ter vindo do
nada.
Pois, se tu me dizes que Deus não existe... então, eu te digo que isso veio do nada.
O jovem discípulo, entendendo a mensagem, caminhou cabisbaixo em direção a uma montanha próxima
dali e chorou. Olhou o céu e disse: Como tive a ousadia de duvidar de Ti???
1.1 Fé e Razão
"De entre os vários serviços que ela deve oferecer à humanidade, há um cuja
responsabilidade lhe cabe de modo absolutamente peculiar: é a diaconia da verdade."
http://www.vatican.va/edocs/POR0064.HTM Carta Encíclica de João Paulo II fides et
ratio, A Fé e a Razão
Nossa fé não pode se apoiar somente no coração. Temos que dar razão à
nossa fé. “ Estai sempre prontos a responder para vossa defesa a todo aquele que vos
pedir a razão da vossa esperança, mas fazei-o com suavidade e respeito.”(1Pd 3,15)
A vida cristã é atrativa, quando se vive verdadeiramente de acordo com a nossa
fé. Tomemos como exemplo a vida dos santos. Quando vivemos como verdadeiros
cristãos, estamos prontos para responder àqueles que nos perguntarem sobre a razão
da nossa esperança, ou seja, por qual motivo, ao invés de estarmos desesperados,
brilhamos como astros luminosos: (Mt 5,16)
Além disso, devemos estar abertos ao diálogo.
Na carta encíclica do beato João Paulo II: “a fé e a razão”. Segundo ele, fé e
razão constituem como que duas asas.
Nenhum pássaro pode voar com uma asa só (nem avião). Se buscamos Deus só pela
fé, estamos vendo-O somente pelo coração, sem poder explicar nada. Se O vemos
somente pela razão estamos sendo muito materialistas, , secularistas, cientificamente.
Não O vemos com o coração. Há que seguir ambas as coisas, paralelamente, uma
apoiada na outra. Nós somente nos encontramos conosco mesmos, quando nos
encontramos com Deus. Só podemos dar respostas a quem não tem fé, se soubermos,
não só justificar nossa fé com palavras bonitas, mas fundamentados na Palavra, no
nosso testemunho, na Tradição, no Magistério da Igreja e nos seus documentos.
Vejamos os primeiros cristãos. Eram tidos como loucos, bobos, lixo do mundo e
a escória do universo (1Cor 4,13) mas impressionavam os não-cristãos, porque eles,
mesmo jogados aos leões, presos e sacrificados tinham a razão da sua fé e a
esperança na vida eterna. Tomemos como exemplo (2Mc 7,1-42) MARTÍRIO DOS
SETE IRMÃOS.
Mesmo em meio aos sofrimentos, as renúncias: “que vossa conduta seja bela”
(1Pd 2,12)”Seja bom o vosso comportamento, mesmo que falem mal de vós, pois vendo
as vossas boas obras glorifiquem a Deus...”
Importante, também, é nós termos a razão da nossa fé, sabendo dialogar com
o não crente, com o não cristão, com o não católico, mas no campo da Teologia, com
muito respeito ao irmão que pensa diferente de nós, mas que procura a verdade..(1Pd
3,15) “fazei-o com suavidade e respeito”.
"...ninguém é plenamente cristão sem um mínimo de Teologia, pois não é possivel
crer de forma irracional. Cremos, mas somos seres racionais e precisamos que a fé
encontre uma noção racional." (Pe Paulo Ricardo, pg. 5 Teologia Fundamental I)
"Não gostaria de crer se não pudesse perceber que é sensato crer." (São Tomaz de Aquino)
1.2 Conversão
Segundo Papa Bento XVI, o primeiro passo para fazer Teologia é a Conversão.
1.2.1 Mudança de sujeito
morrer e nascer denovo. (Jo3,7)
“Já não sou mais eu que vivo, é Cristo que vive em mim.” (Gal2,20)
1.2.2 Conversão de Santo Agostinho vs Conversão de São Paulo
“Saulo, porque me persegues?”
unus Christianus nullus Christianus (Cristão sozinho não é cristão)
Quando pensamos em conversão pensamos em alguém que vivia uma vida afastada
deDeus, uma vida devassa (santo Agostinho). Todavia, São Paulo era um homem que vivia
uma vida digna, exemplar pelo seu modo de agir. Era impecável. Devido ao zelo, era um
perseguidor de cristãos. Mas, por que? Ele estava convencido de que era impossível que
Jesus fosse Filho de Deus feito homem. Deus não tem filho. Deus não pode se fazer carne e,
finalmente, porque quando o Messias viesse, deveria vir glorioso. Logo, não seria possível que
fosse um miserável e, pior ainda, morrer numa cruz. São Paulo e todo o povo judeu esperava
um Messias glorioso e, no entanto, ele se presenta como Jesus. Todos esperavam um grande
general que viesse libertar o povo hebreu, sofrido. No entanto ele vem e fracassa. Para Paulo,
Deus não pode fracassar. Portanto Jesus é uma farsa e seus seguidores, farsantes. Portanto,
devem ser perseguidos, presos e mortos todos eles. São Paulo cumpria uma profecia do
próprio Jesus: “Expulsar-vos-ão das sinagogas, e virá a hora em que aquele que vos matar
julgará estar prestando culto a Deus”(Jo 16,2). São Paulo cumpria essa profecia de Jesus.
Portanto, São Paulo era coerente: por amor a Deus perseguia os cristãos.
Na entrada de Damasco, Saulo em uma experiência com Jesus, que lhe
pergunta: “Saulo, Saulo, por que ME persegues?” (At 9,4). Nessa pergunta de Jesus, reside
o fato principal da conversão de Saulo. Quem Saulo perseguia? Os cristãos e não Jesus. O
núcleo da conversão de Saulo foi eclesial. Saulo não teve uma experiência a sós com Jesus.
Ele experimentou que os cristãos colocados por ele na prisão, eram o próprio Jesus.
1.3 Crer na Igreja
Não faz sentido estudar Teologia se não cremos na Igreja. A direção é a oposta:
precisamos crer na Igreja para estudar Teologia. Aprofundando mais, é preciso SER Igreja,
fazer parte, para estudar Teologia, caso contrário, a reflexão teológica se torna tarefa
impossível, perde o sentido.
Mesmo que nós cristãos, corpo da Igreja, tenhamos cometido inúmeros pecados ao
longo da história, a Igreja permanece sendo objeto de fé, ainda que nos escandalize. Pe. Paulo
Ricardo vem nos dizer que esta má notícia dos pecados da Igreja torna-se, de repente, boa
notícia, pois se Ele não se envergonha de estar presente em um padre pecador, se não se
envergonha de estar presente em um pedaço de pão, como criança em uma manjedoura,
crucificado na cruz, então ele não se envergonhará de habitar no meu e no teu coração! A
Igreja dos puros seria a pior notícia, pois não teria lugar para nenhum de nós.
2 Motivação
2.1 Organização do estudo das Teologias
http://www.cnbb.org.br/site/geral/publicacoes-teologicas-em-destaque/5150-teologiafundamental?start=2
2.2 Teologia Fundamental
O que é Teologia Fundamental? "saber dar resposta a respeito de nossa fé a quem não
tem fé suficiente ou não possui absolutamente. Antigamente, essa área fronteiriça da Teologia
era denominada Apologética" (Pe Paulo Ricardo, pg. 7 Teologia Fundamental I)
Estuda e introduz os princípios primários, básicos e fundamentais de toda a Teologia
cristã.
Teologia de fronteira: missionária
Prolegômeno: determinar as pressuposições básicas. Nos prepara para as outras
Teologias, que trarão conclusões.
3 Cristo
3.1 Encontro com Cristo
3.1.1 Quem é Cristo (Jo 1,1-3.14)
Podemos ver o discurso de Pedro no dia de Pentecostes (At 2, 14-36)
(MARAVILHOSO). Nenhum deles era teólogo ou doutor em teologia, mas tinham uma teologia
fundamental, ou seja, sabiam o fundamento da sua fé, viviam essa fé pelo testemunho, agora,
cheios do Espírito Santo.
3.1.2 Onde encontro Jesus Cristo? (Documento de Aparecida)
1. Na comunidade eclesial: a Igreja é nossa casa, comunidade de amor, escola de
comunhão;
2. Na Sagrada Escritura: Jesus vive nas escrituras e fala a nós como a um amigo;
3. Na Sagrada Liturgia: Toa celebração é encontro salvífico para a glória de Deus e
salvação do mundo. Valorizar a Eucaristia dominical. O encontro mais intenso e
completo acontece na Celebração Eucarística;
4. Sacramento da Reconciliação: que ninguém se exclua do abraço do Pai, do encontro
com o o bom Pastor e da alegria da misericórdia;
5. A oração pessoal: lugar de aprofundamento da fé e da amizade com o Senhor;
6. Os pobres, os aflitos e os enfermos: neles está Jesus. Eles nos enriquecem com seu
testemunho de fé e de vida;
7. A piedade popular: são as expressões e manifestações da fé popular como: novenas,
rosário, via-sacra, procissões, romarias, orações e penitências;
8. A piedade Mariana: Maria é a discípula mais perfeita. Na escola de Maria aprendemos o
Evangelho;
9. A devoção aos santos: eles são exemplos de fé que estimulam nossa santificação.
3.2 Palavra de Deus
Para se fazer Teologia, é preciso entender que a Palavra de Deus não é um livro, nem
um conjunto de preceitos e doutrinas, mas um acontecimento histórico: o Deus que se faz
carne.
“Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande idéia, mas o
encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte.” Bento XVI.
Deus Caritas Est
a. A Palavra de Deus é Jesus, o Verbo que se fez carne.
b. A Bíblia é a Palavra de Deus, pois as Sagradas Escrituras são uma forma de
entrarmos em contato com a Palavra de Deus, Jesus.
c. Assim como posso encontrar Jesus nos Sacramentos, na vida dos santos, na
realidade da Igreja, também encontro-O na Bíblia.
d. A Igreja precede a Bíblia e, sem a Igreja, não haveria a Bíblia. “A Bíblia foi
escrita por católicos para católicos.” Pe. Karl Becker in Pe. Paulo Ricardo
4 Igreja
4.1 Mistério da Lua
Se imaginarmos que a Luz de Cristo é o Sol, então a Igreja pode ser vista como a Lua,
um astro extremamente menor e sem luz, porém que reflete de forma maravilhosa a Luz do Sol.
4.2 Santa e Pecadora
“Creio na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica.” Credo Niceno Constantinopolitano
Como conciliar que a Igreja não é pecadora se nós que somos Igreja cometemos
pecados? Pe. Paulo Ricardo utiliza a seguinte metáfora para entendermos:
“Se pensássemos a Igreja como um território com limites geográficos, poderíamos
tentar delinear os confins da Igreja e perceberíamos que a fronteira passa dentro de mim. A
verdade é que dentro de mim há uma parte que é Igreja santa e imaculada e outra que ainda é
território de missão e precisa ser evangelizada.”
Quando cometemos um pecado, estamos dando um passo para sair da Igreja. A cada
confissão, convertemos o pagão que há em nós. Essa será a luta de uma vida inteira.
O pecador não é assim, mas está assim. Então o que ele é? É Cristo, para ser mais
preciso, Cristo que habita em você. In interiore homine Santo Agostinho
Vamos repetir: “Há em nós um lugar onde somos tão nós mesmos que já não
somos nós, mas Cristo que habita em nós.” Pe. Paulo Ricardo
Se quisermos fazer Teologia precisamos inclinar a cabeça humildemente e
dizer: "Senhor eu não vos compreendo. Vós, onipotente, na fragilidade de uma Igreja
miserável. Vós onipotente, na fragilidade de um pedacinho de pão e de um pouco de vinho. És
Tu, Senhor, és Tu escondido aí nessa miséria? És Tu, Jesus? Por que viestes misturar-vos
com este pecado? (Pe Paulo Ricardo, pg. 13 Teologia Fundamental I)
4.3 O mundo maravilhoso da Igreja Católica
Irmãos, nós temos a oportunidade de fazer parte de uma Instituição de mais de dois mil
anos, na qual viveram e vivem muitos homens santos e mulheres santas, onde temos
oportunidade de receber os sacramentos, e o melhor de tudo, uma Instituição fundada pelo
próprio Deus! Não há pecado que possa se comparar com tamanha maravilha de estarmos
neste lugar, neste povo.
Façamos a mesma experiência que os Apóstolos fizeram (Jo6,68).
Recomendação de estudo (Igreja Católica Apostólica Ortodoxa):
Vida dos santos > Padres da Igreja > Bíblia
Adaptação para Igreja Católica Apostólica Romana (por Pe. Paulo Ricardo):
Vida dos santos > Catecismo > Bíblia
É preciso ler com cuidado a Bíblia, precisamos saber o que a Igreja tem a dizer
sobre as Sagradas Escrituras, afinal, são mais de dois mil anos de estudo aprofundado
(Exegese).
4.4 Comunhão com a Igreja de sempre
Como é possível evitar que um Papa, bispo ou padre se torne um tirano? Através da
Comunhão. O Papa, e por consequência os bispos e padres precisam estar em comunhão com
todos seus predecessores, desde São Pedro, ou seja, não podem dizer nada que contradiga a
fé.
Também podemos falar da comunhão com a Igreja que já está na Glória, pois quando
falamos de Igreja não nos referimos apenas a nós, visto que a parte principal da Igreja está nos
Céus: Jesus, os santos, os anjos, Maria, todos fazem parte da Igreja.
4.5 Quatro Pilares
É impossível acreditar em Jesus Cristo e não seguir a Sua Igreja, que age, sobre quatro
pilares: (Documento de Aparecida)
1. SANTIDADE: toda ação da Igreja deve culminar na santidade;
2. ALEGRIA DE SER CATÓLICO: dar testemunho da alegria de ser discípulo missionário.
Alegria de ser católico;
3. A COMUNHÃO: A Igreja é um mistério de comunhão com Deus e com os irmãos. É
necessária a espiritualidade da comunhão;
4. A FORMAÇÃO PERMANENTE: formar discípulos missionários, começando pelo
encantamento por Jesus, a comunhão na Igreja, o engajamento na missão até o
aprofundamento bíblico doutrinal.
5 Alguns Conceitos
Apologética: disciplina teológica que se propõe a demonstrar a verdade da própria doutrina,
defendendo-a de teses contrárias.
Heresia: Negação de uma verdade da Fé.
Apostasia: Negação da Fé por completo.
Exegese: Interpretação profunda de um texto, por ex:, bíblico, jurídico, literário.
Teologia Exegética: é a área da Teologia Cristã que procura estudar e interpretar a Bíblia.
Cânone ou cânon: conjunto de regras sobre um determinado assunto.
Hermenêutica: um ramo da filosofia que estuda a teoria da interpretação.
Hermenêutica bíblica: Pretende estudar os princípios da interpretação dos textos bíblicos,
enquanto livros Sagrados e de Inspiração Divina.
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File - Comunidade Graça, Misericórdia e Paz