Goiânia, terça-feira, 20 de maoio de 2014
Tensão dentro e fora do TRT
Do lado de fora do prédio do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) a movimentação foi intensa
durante as mais de três horas de audiência. Os motoristas que não conseguiram entrar por causa da
falta de lugares para sentar, permaneceram no local à espera do resultado da reunião. O clima de
tensão, revolta e disposição para paralisar o serviço era nítido e repetido diversas vezes por cada um
deles. Muitos dos que não puderam comparecer, porque estavam em horário de trabalho recebiam
as notícias via Whatsapp. A pergunta feita era: “E aí, é para parar?” Os motoristas criaram grupos
no aplicativo de bate-papo - um deles, por exemplo, tem mais de 230 inscritos - e, por meio deles,
eles combinam todas as ações.
No decorrer da tarde, diante da falta de acordo entre as partes, por diversas vezes, motoristas que
estavam acompanhando a audiência do lado de dentro saíam para repassar informações para os
colegas que estavam do lado de fora. Quando ficou acertado que não se chegaria a um acordo, a
decisão entre eles era só uma: parar imediatamente o serviço. E os primeiros terminais seriam
Bandeiras, Cruzeiro e Veiga Jardim. A difusão de informações foi grande. Ao mesmo tempo em que
se falava que os ônibus seriam paralisados, outros afirmavam que já estava tudo parado, com os
terminais fechados.
Entre os motoristas, observava-se a necessidade de frisar que a paralisação seria por conta própria,
sem o envolvimento de qualquer sindicato. Muitos, inclusive, disseram não ser representados por
nenhum e que agiriam como trabalhadores, apenas. Em determinado momento, um dos motoristas
passou a fazer as vezes de informante. Trata-se de Juliano de Souza Parra, de 33 anos e que há três
meses trabalha na Rápido Araguaia. Ele pediu para falar, durante a audiência, foi autorizado pelo
juiz e expressou, recebendo apoio imediato da maioria: “A gente não tem sindicato. A gente vai
parar, porque essa negociação não se chega a lugar nenhum e nós não somos cachorros”.
Instantes depois, Juliano saiu para se acalmar. Ele é paulista, veio para Goiás há 15 anos, trabalhou
como caminhoneiro por muito tempo e decidiu, recentemente, optar pelo transporte coletivo para
não viajar mais e ficar mais perto da família. Questionado sobre a ausência de uma liderança nítida
no movimento, ele chegou a afirmar ao POPULAR que seria o líder, e assim atuou nos instantes
posteriores. Por sucessivas vezes, ele entrava e saía do prédio para colher informações e repassar
aos que estavam do lado de dentro qual era a posição dos colegas que estavam aguardando do lado
de fora.
Juliano chegou a sugerir uma saída em carreata dos motoristas até a Praça Cívica para interditar os
dois anéis em horário de pico. Depois, falou em ocupar a sede do Sindicato dos Trabalhadores em
Transportes Rodoviários do Estado de Goiás (Sindittransporte) para forçar a realização de uma
assembleia. E o tempo todo falava em fechamento imediato dos terminais. As ideias eram todas
aplaudidas e acatadas pela maioria. Ao fim, em razão do rumo que as negociações tomou, com nova
reunião marcada para amanhã, e por causa do horário, os motoristas optaram, orientados pelo
advogado do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores no Transporte Coletivo Urbano de
Goiânia e Região Metropolitana (Sindcoletivo), Nabson Santana Cunha, a aguardar o resultado da
próxima audiência.
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