____________________________________________A Arquitetura Moderna e Promoção da Saúde: A Construção de Hábitats Saudáveis
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A ARQUITETURA MODERNA E PROMOÇÃO DA SAÚDE: A CONSTRUÇÃO DE
HÁBITATS SAUDÁVEIS
Jársia de Melo Santos1
Luciana Nogueira dos Santos2
Simone Cynamon Cohen3
Resumo: Este artigo descreve a interferência direta e indireta dos acontecimentos históricos da
arquitetura moderna, na saúde do ambiente. Seu objetivo é avaliar a arquitetura do século XX como
construção de habitação saudável. Foram pesquisadas as descrições arquitetônicas ao longo da
evolução da metade do século XVII e suas adaptações, para suprir as necessidades do presente. O
processo da evolução da arquitetura teve início a partir da autonomia das formas históricas da arte e
do impacto provocado pela Revolução Industrial, conciliando novos materiais produzindo um estilo
atual. Essa evolução pôde ser identificada através de elementos que revelavam um espaço
habitacional disposto de forma organizada, promovendo através da arquitetura, a saúde e o bemestar, incluindo todos os processos do ambiente. Como metodologia foi realizada uma revisão
bibliográfica sobre a evolução da arquitetura, inicialmente, com o resgate das descrições
arquitetônicas, ao longo da evolução da metade do século XVII, e suas adaptações para suprir as
necessidades do presente. Posteriormente, sua influência na arquitetura moderna, mostrando o
processo da tomada de consciência, das modificações arquitetônicas neste período, com a finalidade
de identificar as necessidades de promover a saúde, e desenvolver uma habitação saudável adequada
às demandas locais.
Palavras - Chave: Promoção da Saúde; Habitação Saudável, Arquitetura Moderna, História da
Arte.
Abstract: This article describes the direct and indirect interference of the historical events of the
modern architecture, in the health of the environment. Its objective is to evaluate the architecture of
20th century as construction of healthful habitation. The descriptions had been searched
architectural to long of the evolution of the half of 17th century and the its adaptations, to supply the
necessities of the gift. The process of the evolution of the architecture had beginning from the
autonomy of the historical forms of the art and the impact provoked for the Industrial Revolution,
Especialista em Engenharia Sanitária e Controle Ambiental pela Escola Nacional de Saúde Pública / Fiocruz – RJ.
Bióloga graduada pela Universidade Católica do Salvador – BA. Atualmente é Pesquisadora da Faculdade de Tecnologia e
Ciência Salvador-BA. E-mail: [email protected]
2 Especialista em Engenharia Sanitária e Controle Ambiental pela Escola Nacional de Saúde Pública, Fiocruz – RJ.
Especialista em Vigilância Sanitária em Serviços de Saúde pela Escola Nacional de Saúde Pública, Fiocruz – RJ.
Especialista em Virologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Bióloga graduada pela Universidade Gama Filho –
RJ. Atualmente trabalha como Apoio Técnico Especializado no Centro de Pesquisa do INCA-RJ e Departamento de
Genética Humana da Fiocruz – RJ na área de Epidemiologia e Genética. E-mail: [email protected]
3 Doutora em Saúde Pública - Escola Nacional de Saúde Pública, Fiocruz – RJ Atualmente, é Pesquisadora Associada da
Fundação Oswaldo Cruz do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental. E-mail:[email protected]
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conciliating new materials producing a current style. This evolution could be identified through
elements that disclosed habitacional a space made use of organized form, promoting through the
architecture, the health and the welfare, including all the processes of the environment. As
methodology it was carried through a bibliographical revision on, modern architecture, initially, with
the rescue of the descriptions architectural, to the long one of the evolution of the half of 17th
century, and its adaptations to supply the necessities of the gift. Later, its influence in the modern
architecture, showing the process of the taking of conscience, the modifications architectural in this
period, with the purpose to identify the necessities to promote the health, and to develop adequate a
healthful habitation to the local demands.
Words - Key: Promotion of the Health; Healthful habitation, Modern Architecture, History of the
Art
1 Introdução
Neste artigo, procurou-se mostrar como a Arquitetura e a Promoção da Saúde, dois grandes
temas da atualidade, desde os primórdios da arquitetura, já foram pensados conjuntamente. A
importância desta temática se deve ao fato de que a história da arquitetura pode ser considerada uma
síntese da história da humanidade, em que aparece, com bastante nitidez, o jogo do poder, da
segmentação da sociedade e o jogo de interesses e de veleidades humanas, que levam ao
aprofundamento da segmentação, a ponto de chegar à segregação, destruição e opressão dos
segmentos, daqueles que podem mais em relação àqueles que podem menos. (COHEN et al, 2000).
A arquitetura é considerada a técnica com arte de edificação, e tem como objetivo responder as
dimensões físico-geográficas, ambientais, climáticas, econômicas, socioculturais e biológicas. No
processo de interação do homem com o meio ambiente, a arquitetura como arte de projetar deve,
efetivamente, buscar atender as necessidades humanas, abrangendo o ambiente físico com o bem
estar ambiental. (COHEN et al, 2000).
Ao longo da história, no processo da dinâmica social, os impactos da ação do homem sobre o
meio ambiente foram positivos e negativos. Os adensamentos humanos geraram a necessidade de
produção de abrigos, alimentos e vestuário e de trabalho e renda. Nesse sentido, todo adensamento
humano pode ser considerado positivo, no sentido de criações de condições favoráveis ao
desenvolvimento de todos e focalizando a sustentabilidade do processo sócio-ambiental para
presente e para o futuro. Porém, quando há alterações do equilíbrio ecológico, estas geram
alterações: do habitat da flora e fauna; nos solos; na qualidade físico-química e biológica dos recursos
hídricos; na qualidade do ar atmosférico e perda da biodiversidade. Essas modificações são, portanto,
consideradas negativas. (COHEN et al, 2000).
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O desnível entre as áreas de ocupação trouxe como conseqüência má qualidade de vida e a
violência. As áreas de risco à saúde humana foram se formando e se tornaram um grave problema a
ser resolvido com a participação, por vezes, da liderança da Saúde Pública. (COHEN et al, 2000).
A arquitetura moderna, enquanto um movimento ampliado traz em sua filosofia básica a busca
de construção de ambientes promotores da saúde humana e ambiental. Porém, não é somente neste
movimento, que a arquitetura procura concretizar habitats saudáveis. Para tanto é necessário fazer
uma análise histórica da evolução da arquitetura para entender esta disciplina como gênese da
promoção da saúde na arte de construção. (COHEN, 2004)
2 A evolução da arquitetura
Desde o Século I a.C., quando Vítrúvio legou para a arquitetura a preocupação de responder as
demandas do próprio homem com as respectivas dimensões de suas várias partes do corpo, já havia
a apreensão da arquitetura, enquanto técnica de promover a saúde do ambiente por meio da arte de
edificação (Filho, J.A.L; SILVA S.S.,2006)
Até metade do século XVII, foi fácil compreender os fatos da arquitetura dentro, de um
quadro unitário: as formas, os métodos de projetar, o comportamento dos projetistas, dos que
encomendavam as obras e dos que executavam, variavam com o tempo e o lugar, mas se
desenvolveram no âmbito de um relacionamento, substancialmente, fixo e certo entre a arquitetura e
a sociedade (JANSON, H.W. 1996).
Com o desenrolar do Renascimento, o constante estudo e aplicação dos ideais clássicos, surge
novo movimento denominado de Maneirismo, onde arquitetos apropriam-se das formas clássicas.
São constantes as referências visuais em espaços internos aos elementos típicos da composição de
espaços externos: janelas que se voltam para dentro, tratamento de escadas externas em alas
interiores de edifícios. A perspectiva, já consagrada, permite experimentações diversas que fogem ao
espaço perspectivo dos períodos anteriores (WIKIPEDIA, 2006).
Após o Renascimento, veio o Barroco também entre os século XVII e XVIII, que potencializa
o descontentamento do Maneirismo pelas normas clássicas e voltadas para os avanços científicos e
propicia a gênese de um tipo de arquitetura inédita, ainda que freqüentemente possua ligações
formais com o passado. O indivíduo queria experimentar um novo tipo de contato com o divino e o
metafísico. Os espaços eram projetados de forma elíptica, com o objetivo de responder as
necessidades da época (WIKIPEDIA, 2006).
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Com o advento da Revolução Industrial, a relação do homem com a máquina, do homem com
seu ambiente físico de trabalho, a arquitetura, enquanto arte de projetar ganha a dimensão da
ergonomia, como um estudo de um sistema com possibilidades e limites do desempenho do homem
no trabalho, visando melhorar as respostas motoras, de conforto, de esforço e de bem-estar. Mais
uma vez, mostrando a arquitetura como a técnica com arte de promover ambientes saudáveis.
(FILHO, J.A.L.; SILVA, S.S., 2006)
No final do século XVIII e início do XIX, com o avanço tecnológico, resultante dos primeiros
momentos da Revolução Industrial e da cultura iluminista, foram descobertos novos materiais e
métodos construtivos e estruturais, concreto, o concreto armado e metal. Buscou-se uma síntese
espacial e formal mais racional e objetiva. Surge o movimento Neoclássico, não como estilo novo,
mas como volta ao clássico e tendo como preocupação a aplicação das novas tecnologias
(WIKIPEDIA, 2006).
Com a Idade Contemporânea, a arquitetura refletiu os avanços tecnológicos e os paradoxos
socioculturais, conseqüentes da Revolução Industrial. As cidades cresceram e novas demandas
apareceram. O urbanismo, enquanto disciplina acadêmica, surgiu. A arquitetura foi questionada e
novos paradigmas aparecem. Nasceu uma crise na produção arquitetônica, que permeou todo o
século XIX e somente foi resolvida com a arquitetura moderna. A crise estética se traduz em
movimento chamado de revivalismo, pelo fato das inovações tecnológicas não encontrarem naquela
contemporaneidade uma manifestação formal adequada. Este movimento evolui para o Ecletismo,
um movimento que misturou estilos. (WIKIPEDIA, 2006).
Houve tentativas de respostas à questão da tradição x industrialização, como o movimento
estético Arts & Crafts, fundado por John Ruskin e William Morris, cuja proposta era a pesquisa
formal aplicada às novas possibilidades industriais. Este movimento defendia a figura do artesão
como agente transformador. As idéias deste movimento evoluíram para outro movimento estético,
dentro do contexto francês denominado de art noveau, último do Século XIX e primeiro do Século
XX (WIKIPEDIA, 2006).
No Século XX, houve uma cisão na arquitetura com a existência de duas correntes de
profissionais, àqueles que estavam ligados à tradição e outros à vanguarda artística. Neste período
houve a fundação da Bauhaus na Alemanha, a Vanguarda Russa na União Soviética e pensamento da
arquitetura orgânica fundada por Frank Lloyd Wright nos EUA (WIKIPEDIA, 2006).
Os profissionais ligados à vanguarda propuseram movimentos de renovação estética como o
Cubismo, Neoplasticismo, Construtivismo, no campo das artes plásticas, mas abre caminhos para
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novos pensamentos na arquitetura e para uma sociedade regulada pela Industria. Teorias que
influenciam o trabalho artístico como racional, preciso, moderno. A idéia da modernidade surge
como um ideário ligado à nova sociedade constituída, a qual coexistia um novo tipo de educação
estética e novas relações sociais onde as desigualdades foram superadas pela neutralidade da razão
(WIKIPEDIA, 2006).
Na arquitetura, a modernidade traz a idéia do ambiente habitável, desde o micro espaço
habitacional até a cidade como macro espaço. Existe um forte discurso social e estético de renovação
do ambiente de vida do homem contemporâneo. Este ideário saiu da Alemanha, da Escola Bauhaus
e criou corrente internacional denominada de international style (WIKIPEDIA, 2006).
Um dos pioneiros do movimento moderno foi o arquiteto franco-belga Auguste Perret, que
trouxe para arquitetura o concreto armado. Ele fundou, em 1905 uma empresa denominada Perret
Frères, com seus dois irmãos e realizou inúmeros projetos importantes. Ele criou uma arquitetura a
partir da engenharia e desprezou as características plásticas do concreto e se expressou através da
modernização literal do vocabulário clássico. Houve crítica a esta opção do arquiteto, fato que não o
impediu de ser considerado um dos maiores arquitetos franceses da sua época (SERAPIÃO, 2006).
Auguste Perret ensinou e influenciou vários arquitetos como Lê Corbusier, quanto à visão
estrutural do concreto. Este arquiteto franco-suíço (Le Corbusier) também trouxe muitas inovações
tecnológicas. Dentre elas, em 1946, ele influenciado pela visão de Vitrúvio, estabeleceu o seu
“Módulo” com dimensões para as escalas humanas, aplicáveis, universalmente, na arquitetura. O
Módulo foi criado para ser uma medida reguladora das proporções de uma obra arquitetônica,
mostrando que a natureza era constituída de proporções matemáticas. Anteriormente, os estudos de
Leonardo Pisano Fibonacci (1170-1250), sobre a busca de harmonia visual introduziram a
funcionalidade humana na arquitetura e foram incorporados os aspectos dimensionais e funcionais
da relação homem-ambiente (Filho, J.A.L.;SILVA, S.S.,2006)
A partir de 1960, houve mudanças na sociedade com questionamentos sobre direitos sociais
que, impulsionaram estudos sobre populações e questões demográficas e de vulnerabilidade.
Constataram-se as desigualdades e a existência de situações que mereciam um cuidado especial como:
(a) as pessoas portadoras de deficiência; (b) os idosos. O homem padrão, cheio de força, de
capacidades físicas, locomotoras, sensoriais e cognitivas não representava a grande maioria das
pessoas. Iniciou-se o entendimento da pirâmide de evolução durante as fases etárias da vida, onde o
indivíduo apresentava capacidades diferenciadas. Autores como Selwyn Goldsmith, na década de 60
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introduziram a questão das medidas antropométricas, as variantes de sexo, idade e suas capacidades e
potencialidades.
Na década de 80, H. Dreyfuss acrescentou a questão da criança portadora de deficiência e a
necessidade de adaptação dos espaços (FILHO, J.A.L.;SILVA, S.S.,2006)
No Brasil, o movimento de modernização da arquitetura, ocorreu entre os anos de 1950 e
1970. Porém as idéias modernistas iniciam na década de 30, com a Escola de Belas Artes do Rio de
Janeiro. O arquiteto Lucio Costa foi o grande teórico do movimento que, teve como representantes
Oscar Niemeyer, Jorge Machado Moreira, Milton e Marcelo Roberto, Affonso Eduardo Reydi,
Roberto Burle-Marx, Luiz Nunes, Hélio Duarte, Acácio Gil Borsoi, Francisco de Assis Reis, João
Filgueiras Lima e Severiano Mário Porto (GUIMARAENS, 2006).
Rapidamente, por meio das universidades no Rio de Janeiro, formam-se arquitetos imbuídos
das idéias modernistas e elas são irradiadas pelo país, onde profissionais empregam os modelos e
padrões modernistas em Pernambuco, na Bahia e no Amazonas, adaptando-os, simultaneamente, às
necessidades tropicais. Dessa forma, inovações como a tecnologia do concreto armado avançado e
materiais locais ganham espaço, por meio da escola carioca. Como também, novas formas curvas,
varandas, terraços, marquises, brise-soleil e cobogós (elementos vazados) entram em projetos de
habitação multi e unifamiliares. Normas urbanas inglesas e americanas também se agregam ao
movimento, por meio da transferência de: experiências, processos, técnicas de construção e de
controle ambiental (GUIMARAENS, 2006).
3 A Renovação da Arquitetura: um passo para Habitação Saudável
A evolução da habitação começou com a necessidade entre a organização do trabalho coletivo
e a autonomia do indivíduo e da família. Este interesse foi iniciado devido ao crescimento da escala
humana, como uma das formas de controle social sobre a classe operaria, e vinha com a preocupação
das formas higiênicas e sociais da habitação coletiva que dependia de uma estrutura política e
administrativa insuficiente. A distribuição do espaço para que todas as unidades de habitação
tivessem condições iguais de ar, luz e horizonte coincidem exatamente com as condições de uma
habitação saudável como um espaço com qualidade a ser habitável (ARGAN, 1992).
Tomando como ponto de partida as denuncias dos higienistas e dos reformadores sociais, na
primeira metade do século XIX, considerava-se confirmado o fato de que, a qualidade das moradias
piorou em conseqüência da pressa e das exigências especulativas onde afirma a relação entre
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insalubridade e as más condições de habitação e uma taxa de mortalidade elevada, uma baixa
esperança de vida e a doença (BEGUIN, 1991).
A qualidade de vida passou a ser uma prioridade, com isso, sugiram formas de construção,
onde, a meta, era a construção de ambientes com estruturas físicas e sanitárias adequadas e, a
interação do homem e do ambiente que o circunda, passando ser fundamental para a promoção do
equilíbrio da saúde na habitação (ABRASCO, 2003).
O movimento inovador da arquitetura foi conduzido em nome de toda a sociedade, através da
modificação do cenário físico, necessário para a criação de um ambiente saudável. A arquitetura
proporcionou um ponto que intermediava o conflito entre a civilização industrial e a sociedade,
influenciando na organização social (ABRASCO, 2003).
A arquitetura enquanto forma de arte produziu mudanças no ambiente, com reflexo na saúde.
O caráter positivo desses reflexos trouxe um melhor entendimento para promoção da saúde. Com a
proteção, tanto dos ambientes naturais como dos artificiais, a saúde passou a ser também um reflexo
de um ambiente saudável (ABRASCO, 2003).
4 A Promoção da Saúde
Em 1946 Sigerist referiu o termo, quando definiu as quatro tarefas essenciais da medicina: a
promoção da saúde, a prevenção das doenças, a recuperação dos enfermos e a reabilitação, e afirmou
que a saúde se promove proporcionando condições de vida decentes, boas condições de trabalho,
educação, cultura física e formas de lazer e descanso, para o que pediu o esforço coordenado de
políticos, setores sindicais e empresariais, educadores e médicos. A estes, como especialistas em
saúde, caberia definir normas e fixar padrões (ROSEN, 1979).
Uma das noções de promoção da saúde foi introduzida por Leavell e Clark, em 1976, no
desenvolvimento do modelo denominado "História Natural da Doença". Neste modelo, aplicado a
partir do grau de conhecimento do curso de cada uma das doenças, Leavell e Clark definiram três
níveis de prevenção: primário, secundário e terciário. Dentre elas a prevenção primária era prioritária,
tendo por objetivo evitar que as pessoas adoecessem. Para tanto, seria necessária, medida voltada
para as condições do meio ambiente e do social (ROSEN, 1979).
A partir de 1980, apareceram características nas novas versões da promoção da saúde. Um
entendimento muito freqüente refere-se à promoção como a busca de um ambiente saudável, onde
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as pessoas teriam uma boa qualidade de vida e gozassem de bem estar a partir da habitação (ROSEN,
1979).
As condições de salubridades seriam atingidas com o cumprimento de dois elementos
básicos da promoção da saúde que seriam: a equidade e a intersetorialidade. Entendendo como
equidade todo o processo de redução das diferenças no estado da saúde da população e
asseguradas às oportunidades e recursos igualitários para capacitar todas as pessoas a realizar
completamente, seu potencial de saúde (BUSS et al. 1998).
A intersetorialidade, no contexto da promoção da saúde seria fundamental, pois a
salubridade não seria responsabilidade exclusiva do setor saúde. Demandaria uma ação coordenada,
entre todas as partes envolvidas: governo, setor saúde, outros setores sociais, econômicos,
industriais, comerciais e a mídia (BUSS et al. 1998).
Os conhecimentos foram ao longo do tempo se compartimentando, originando lacunas
devido à segmentação do saber, o que levaria a proposição de intercambio com participação,
constante, integrada e articulada, entre os setores técnico-cientifico, ao qual se denomina de
interdisciplinaridade (BUSS et al. 1998).
A promoção da saúde como campo conceitual e de prática, vem recebendo nova abordagem
acerca da problemática da saúde da população e dos indivíduos. A construção de ambientes e
habitat saudáveis tem sido uma nova proposta, para os programas de promoção da saúde. A
evolução da habitação, enquanto, ação de habitat em um espaço, envolve o elemento físico,
podendo ser a moradia e sua relação com o entorno (COHEN, 2004).
Um ambiente construído para ser considerado um habitat-ação é necessário que sua estrutura
física, sanitária, sociocultural e psíquica sejam feitas como um espaço com qualidade de ser
habitável. Dessa forma foi ampliado o conceito do habitat – ação de habitável para também
saudável (COHEN, 1993).
5 Considerações Finais
Este artigo mostrou a evolução da arquitetura como agente promotor da saúde, refletido
através de uma habitação saudável. Com isso, se fez necessário uma breve passagem pela história
da Revolução Industrial, por se tratar da determinante desta evolução, visto que o progresso e a
tecnologia decorrente desta, tiveram como conseqüência o aumento do êxodo rural. Esta relação
entre os eventos se tornou uma relação de complexidade de causa e efeito em si.
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A Revolução Industrial alterou profundamente as condições de vida do trabalhador braçal,
provocando inicialmente um intenso deslocamento da população rural para as cidades. Criando
enormes concentrações urbanas e durante o início da revolução industrial os operários viviam em
péssimas condições, se comparadas às condições dos trabalhadores do século seguinte. Tendo um
cortiço como moradia e ficava submetida a jornadas de trabalho enormes com salários medíocres,
tanto para os homens como mulheres e crianças (WIKIPÉDIA, 2007).
A industrialização trouxe uma mudança progressiva das necessidades da população. Assim, foi
despertada na sociedade não só a importância da tecnologia como também do sanitarismo, o
progresso dependia diretamente, do bem estar dos operários. O sanitarismo estava relacionado
diretamente com as condições de moradias e de trabalho, visto que, as condições do ambiente
interno, era inadequado e insalubre, com pouca iluminação e ventilação deficiente (ROSEN, 1979).
A evolução da construção civil sofreu necessárias mudanças, construir deixou de ser apenas
uma arte como também uma forma de expressar a harmonia entre a habitação e o meio ambiente,
através da aquisição e utilização de novos materiais. O emprego dos materiais tradicionais mudou,
os produtos de olaria e o madeiramento eram produzidos industrialmente, com melhor qualidade.
Difundiu-se, nesse período, o uso do vidro para janelas tornando os ambientes mais iluminados,
aproveitando ao máximo a luz solar. Promoveu-se, deste modo, uma interação com o ambiente
externo. Também se substituiu em lugar de palha, o uso da ardósia ou de telhas para as coberturas,
diminuindo assim a presença de hospedeiros indesejáveis, causadores de doenças freqüentes da
época (BENEVOLO, 1998).
Um ambiente preservado passou a fazer parte da construção de um habitat saudável, necessário
para melhoria da qualidade de vida, tendo um olhar sobre a saúde e seus determinantes,
transformando-se em um instrumento de articulação entre os saberes técnicos e populares. Com isso
houve a necessidade de se pensar em ambientes mais adequados que proporcionassem melhores
condições de vida e de trabalho (BENEVOLO, 1998).
Alguns arquitetos da época começaram a pensar no coletivo. Uma forma de habitação em que
fosse necessário um processo de distribuição e divisão do espaço, para que a moradia tivesse
condições de arejamento e exposição ao sol, integrando a sociedade à natureza. O concreto armado
trouxe a possibilidade de casas sobre pilotis, que se aprofundava no terreno, a edificação sobre
pilotis promovia maior circulação de ar, preservação do verde e incidência de raios solares
contribuindo para proteção da saúde humana (BENEVOLO, 1998).
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Toda organização social compreende um processo complexo de relação com a promoção da
saúde e estão intrinsecamente ligadas, que não se pode separar a saúde dos outros objetivos. Os
laços que unem o indivíduo e seu meio constituem a base de uma aproximação sócio-ecológica à
saúde. O princípio que deve guiar as ações sociais tem de ser a necessidade de proteger-nos, uns
aos outros, assim como ao nosso meio natural (ROSEN, 1979).
Diante de todos estes acontecimentos, este artigo vem refletir sobre a importância da habitação
saudável, a partir da arte de construir, mostrando que viver bem, significa, estar em um ambiente
onde há harmonia entre o homem e o meio ambiente que o rodeia, impactando o menos possível,
sabendo interagir o meio à sociedade. A revolução industrial, a consolidação do capitalismo e as
suas conseqüentes transformações sociais foram responsáveis pela degradação das condições
ambientais e sociais. Isto colaborou para o desenvolvimento de teorias que relacionavam a
ocorrência das doenças com as condições de vida da população (ROSEN, 1979).
Referências
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COHEN, S.C., Reabilitação de Favela: Até que ponto a Tecnologia Empregada é Apropriada?,
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