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ACIDENTES DE MOTOCICLETAS NO BRASIL, DESAFIOS PARA O ENFERMEIRO:
Revisão Integrativa da Literatura
André Luiz Couto da Paixão
Elden Carlos Lobato Ferreira
Fabianne de Jesus Dias de Sousa
Margareth Braun Imbiriba
Maria Conceição Freitas
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
Universidade da Amazônia (UNAMA)
e-mail: [email protected]
Resumo: Atendimento Pré-Hospitalar (APH) é prestado aos pacientes portadores de quadros
agudos que levam a sofrimento, sequelas ou à morte. O enfermeiro, integrante da equipe assume a
responsabilidade pela assistência prestada as vítimas. Objetivou-se analisar as evidências na
literatura, relacionadas ao atendimento do enfermeiro no APH decorrentes de acidentes com
motocicletas. Realizado revisão integrativa da literatura, incluindo artigos publicados de 2005 a
2011. O aumento de acidentes envolvendo motocicletas é ocasionado pelo crescimento desordenado
da frota, devido baixo custo de aquisição e praticidade de deslocamento. Ficou evidenciado
dificuldades do enfermeiro relacionadas ao processo de formação acadêmica em relação ao APH.
Descritores: Enfermagem. Acidentes. Formação
Abstract: Pre-Hospital Care (PHC) is given to patients with acute conditions that lead to suffering,
sequelae or death. The nurse, a member of the team takes responsibility for assisting the victims.
This study aimed to examine the evidence in the literature, related to the care of nurses in PHC
resulting from motorcycle accidents. Conducted a literature review, including articles published
from 2005 to 2011. The increase in accidents involving motorcycles are caused by uncontrolled
growth of the fleet, due to the low cost and convenience of travel. Evidenced nurses' difficulties
related to academic learning process regarding the APH.
Keywords: Nursing. Accidents. formation
1.CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O Atendimento Pré-Hospitalar (APH) é aquela assistência prestada, num primeiro nível de
atenção, aos pacientes portadores de quadros agudos, de natureza clínica, traumática ou ainda
psiquiátrica, que possa levar a sofrimento, sequelas ou mesmo à morte (BRASIL, 2006).
O tempo decorrido entre o acidente e o atendimento hospitalar é um fator decisivo para
reduzir a mortalidade e a ocorrência de sequelas, uma vez que 40% dos óbitos ocorrem na fase préhospitalar; em face destas características, para o atendimento neste cenário, há a necessidade de
profissionais capacitados (CYRILLO et al, 2009).
O atendimento pré-hospitalar - APH no Brasil é representado pelo Serviço de Atendimento
Móvel de Urgência (SAMU), com base na Portaria n°2048/GM, de 5 de novembro de 2002. Possui
como objetivo principal ordenar a assistência enquanto forma de resposta rápida às demandas de
urgência, seja no domicílio, no local de trabalho, em vias públicas, ou em outros locais nos quais o
paciente vier a precisar (VEGIAN; MONTEIRO, 2011).
Dentre as tecnologias que vem sendo empregadas no atendimento inicial ao traumatizado,
destaca-se o atendimento pré-hospitalar, que possui duas modalidades: o “Suporte Básico de Vida”
cuja característica principal é não realizar manobras invasivas de preservação da vida e o “Suporte
Avançado à Vida” que prevê a realização de procedimentos invasivos (MALVESTIO; SOUSA,
2008).
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2
O enfermeiro é participante ativo da equipe de atendimento pré-hospitalar e assume em
conjunto com a equipe a responsabilidade pela assistência prestada as vítimas. Atua onde há
restrição de espaço físico e em ambientes diversos, em situações de limite de tempo, da vítima e da
cena e, portanto são necessárias decisões imediatas, baseadas em conhecimento e rápida avaliação
(RAMOS; SANNA, 2005).
O conhecimento do enfermeiro sobre as necessidades de oxigenação/respiração e circulação
é fundamental para a detecção precoce das alterações que ocorrem com as vítimas atendidas pelo
APH móvel, cuja finalidade é prevenir, principalmente, o agravamento da situação na cena do
acidente (CYRILLO et al, 2009).
A presença do enfermeiro é de fundamental importância na assistência direta às vítimas, na
capacitação técnica das equipes, na elaboração de protocolos de atendimentos e material didático e
na supervisão do pessoal. Proporciona atendimento mais rápido, organizado, seguro e tranquilo,
sendo considerado um ponto de apoio para as equipes (ROMANZINI; BOCK, 2010).
A motocicleta é um veículo que proporciona menos segurança que o automóvel, já que a
motocicleta não possui a estrutura e dispositivos de proteção que este possui o que possibilita uma
maior exposição dos seus ocupantes. Ademais, a alta velocidade, o álcool, a desatenção, a fadiga e a
sonolência são fatores considerados como grandes contribuintes para o aumento das ocorrências e
gravidade das vítimas (VIEIRA et al, 2011).
O número de veículos em circulação, a desorganização do trânsito, a deficiência da
fiscalização, as condições dos veículos, as imprudências dos usuários e a impunidade dos infratores
contribuem significativamente para as ocorrências de trânsito na população de motociclistas.
Adicionalmente, as ocorrências que envolvem motocicletas são, particularmente, as mais perigosas,
porque, quando um veículo colide com a motocicleta, os motociclistas são as vítimas que apresentam
maior frequência de lesões graves e morte (OLIVEIRA; SOUSA, 2011).
As profissões de “motoboy” e “mototaxista” foram consolidadas nesse contexto e
regulamentadas pela Lei nº 12.009, de 29 de julho de 2009, que exige idade mínima de 21 anos,
possuir habilitação por pelo menos dois anos na categoria e ter sido aprovado em curso especializado
para o seu exercício. A pressão de clientes e de patrões para realização de entregas rápidas,
remuneração por produtividade e turno de trabalho que ultrapassam às dez horas diárias, são apontadas
como determinantes da condução inadequada. Característica do jovem do sexo masculino, como
audácia, imaturidade, somada à necessidade de integra-se ao grupo, que o estimula a ultrapassar
limites e a transgredir, colaboram para agravar os acidentes de trânsito (BACCHIERI; BARROS,
2011).
No que se refere às dificuldades encontradas pelos enfermeiros nos serviços de atendimento
pré-hospitalar, além da falta de experiência e da pouca formação, destaca-se a adaptação a um novo e
diferente ambiente de trabalho e o confronto com a vulnerabilidade social e situações de violência
interpessoal, inclusive agressões verbais dirigidas aos profissionais de saúde (AVELAR; PAIVA,
2010).
Com suas funções pré-estabelecidas esses profissionais sofrem de intensa pressão pela
necessidade de ter respostas rápidas em relação aos casos com que se deparam em seu dia-a-dia.
Enfrentam também situações limítrofes de vida e sofrimento, e, portanto, estão num processo
constante de ajustes e reajustes para alcançarem o equilíbrio. Esta exigência de manter a sintonia se
deve ao ritmo acelerado de trabalho e à constante presença de fatores intervenientes que colaboram
com o desgaste destes profissionais, podendo gerar insatisfação no trabalho. Dentro dessa abordagem,
compreendemos que o ser humano é ao mesmo tempo, objeto e agente do cuidar, passível de ser
influenciado pelas características e elementos ocupacionais do trabalho, em seu bem-estar físico,
mental e social. Dessa forma, entendemos que o indivíduo pode estar tecnicamente qualificado para
ocupar determinada função na equipe, mas pode não se ajustar às condições psicossociais que a
mesma exige (CAMPOS et al, 2009).
Diante da situação exposta pretendemos obter com este estudo visão da atuação do enfermeiro
na assistência pré-hospitalar em situações que envolvam acidentes com motocicletas, em cidades do
Brasil, escolhidas aleatoriamente através de publicações cientificas, na qual evidenciam as suas
habilidades e novos conhecimentos no processo de cuidar das vítimas em acidentes com motocicletas,
haja vista que a Enfermagem vem se firmando enquanto ciência a cada dia. Durante o processo de
578
3
formação acadêmica sentimos uma grande necessidade de nos aprofundarmos a temática envolvendo o
atendimento pré-hospitalar, e como estaria o enfermeiro neste contexto.
Evidenciamos que a disciplina de Urgência e Emergência só abrange a assistência intrahospitalar. Sendo assim, observamos a importância do profissional enfermeiro e sua atuação
especializada de enfermagem diante as situações que necessitem de atendimento fora do âmbito
hospitalar. Com a escolha desta temática pretende-se socializar os resultados obtidos com a
Enfermagem, em especial aos Enfermeiros já atuantes no APH, a comunidade acadêmica como fonte
para futuras publicações.
Neste estudo objetivamos analisar as evidências na literatura, relacionadas ao atendimento do
enfermeiro no APH decorrentes de acidentes com motocicletas, em algumas cidades do Brasil,
identificando as dificuldades apresentadas pelos enfermeiros no APH às vítimas de acidentes com
motocicletas no Brasil.
2. ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR (APH)
O sistema de saúde deve ser capaz de acolher toda a clientela com agravo a saúde fora do
ambiente hospitalar prestando-lhe atendimento e redirecionando-a para os locais adequados de
tratamento. Com base nesta necessidade, foi instituído, no Brasil, o Atendimento Pré-Hospitalar
(APH) que corresponde aos cuidados prestados na cena do acidente e transporte da vítima até chegar
ao Hospital de Referência, com vida e o mínimo de consequência possível (CAMPOS et al, 2009).
O APH compreende as ações iniciais realizadas em curto espaço de tempo pela equipe de
resgate no local onde ocorre o agravo à saúde, seja ele traumático, clínico ou psíquico. A remoção das
vítimas com segurança e com suporte de vida até um centro de atendimento hospitalar de referência
tornou-se indispensável, atualmente (ROMANZINI; BOCK, 2010).
A primeira hora (golden hour) após a ocorrência de uma lesão traumática é considerada o
tempo crítico para a instituição do tratamento que modificará o prognóstico, uma vez que até 40% dos
óbitos ocorrem na fase pré-hospitalar do cuidado (LADEIRA; BARRETO, 2008).
A finalidade do APH na assistência á pessoa que sofreu acidente de transito é mantê-la viva
até a chegada ao local onde será possível curá-la, diminuir as sequelas, possibilitando melhor
qualidade de vida ou mesmo sua própria vida. Considerando que o objeto do trabalho é a pessoa
vitima de trauma por acidente de transito e o tempo para cumprir com sua finalidade é extremamente
curto, torna-se necessário uma organização do trabalho no APH fundamentado no trabalho em equipe
(PERREIRA; LIMA, 2009).
Os cuidados pré-hospitalares podem fazer a diferença entre a vida e a morte, entre uma
sequela temporária, grave, ou permanente, ou ainda, entre uma vida produtiva e uma destituída de bem
estar. As intervenções que auxiliam o enfermeiro neste cenário do APH estão embasadas em diretrizes
preconizadas universalmente (CYRILLO et al, 2009).
No atendimento pré-hospitalar todos os profissionais participam do acolhimento ao paciente,
realizando procedimentos mais ou menos invasivos, de maior ou menor complexidade. Profissionais
do atendimento pré-hospitalar, independente da categoria profissional, estão expostos a riscos
ocupacionais relacionados à exposição a sangue e fluidos; devem, portanto, possuir conhecimentos
mínimos sobre estes riscos e como proteger a si e ao paciente (LOPES et al, 2008).
Para os profissionais que trabalham em APH, a atuação face ao inesperado é rotineira, pois
raramente os trabalhadores sabem o tipo de atendimento que irão prestar, ou as características do local
e dos agentes que poderão interferir no atendimento prestado. Outros aspectos devem ser destacados,
como a necessidade da tomada rápida de decisões, a exigência de condicionamento físico adequado, a
exposição a condições estressantes e os níveis elevados de ansiedade, entre outros (VEGIAN;
MONTEIRO, 2011).
O Corpo de Bombeiro teve uma atuação histórica importante no sistema pré-hospitalar
antecedendo a política representada pelo SAMU. Houve um grande investimento em capacitação de
instrutores e em padronização de conteúdo didático e, a partir daí, foram treinados bombeiros de todos
os estados da federação, dando inicio ao processo de implantação e fortalecimento do APH móvel
executado pelo Corpo de Bombeiro-Militar em todo o país (PERREIRA; LIMA, 2009).
579
4
O atendimento pré-hospitalar nas últimas décadas tem sido amplamente discutido e
remodelado por autoridades de várias esferas governamentais. Regulamentado e assegurado por lei,
ele passou por uma série de modificações, que tiveram como consequência a padronização do serviço
em nível nacional (AVELAR; PAIVA, 2010).
Considerando a real carência populacional brasileira em atendimentos pré-hospitalares, o
Governo Federal por meio do Ministério da Saúde – MS, aprovou a Portaria GM Nº 1.864, de 29 de
setembro de 2003, que institui o componente pré-hospitalar móvel previsto na Política Nacional de
Atenção às Urgências, por meio da implantação de Serviços de Atendimento Móvel de Urgência –
SAMU 192, suas Centrais de Regulação (Central SAMU 192) (MACHADO et al, 2011).
Os SAMU’s são compostos por centrais reguladoras e por um conjunto de ambulâncias, e
requerem profissionais qualificados e equipamentos adequados para o atendimento às urgências. As
centrais podem ser acionadas pelo número de telefone 192 e médicos reguladores designam as
ambulâncias apropriadas para cada atendimento. No modelo brasileiro, adotaram-se dois tipos
principais de ambulâncias. As de suporte básico – SBV, contam com motorista, técnico de
enfermagem e material básico para o primeiro atendimento às urgências, em casos sem risco imediato
de vida, sob orientação dos médicos das centrais. Já as de suporte avançado - SAV incluem motorista,
médico e enfermeiro, além de equipamentos para cuidados intensivos, nas situações de risco iminente
de vida. Foram propostos também meios alternativos de transporte, como as “ambulanchas”, para o
atendimento de populações ribeirinhas; as “motolâncias”, para áreas remotas ou de tráfego intenso; e o
transporte aéreo, para situações específicas (MACHADO et a, 2011).
Para atingir o objetivo do SAMU, é necessária uma equipe multiprofissional integrada e
preparada para refletir positivamente sobre o paciente, uma vez que as possibilidades de sua
recuperação estão diretamente relacionadas com a rapidez e eficiência dos serviços prestados na
urgência. Essa equipe é composta por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e os condutores
que devem ter, além da capacitação em urgência, disposição pessoal para a atividade, capacidade para
trabalhar em equipe, iniciativa, equilíbrio emocional e autocontrole, atuando dentro dos limites e
critérios necessários na prestação de um cuidado humanizado (CAMPOS et al, 2009).
3. ATUAÇÃO DO
MOTOCICLETAS
ENFERMEIRO
NO
APH
DIANTE
AOS
ACIDENTES
COM
A normatização da estrutura e funcionamento dos serviços de APH móveis, no Brasil,
aconteceu somente no ano de 2002, mais de uma década após sua implantação, por meio da portaria nº
2.048 do Ministério da Saúde, sendo este o primeiro regulamento proposto por meio de temas,
conteúdos, habilidades e cargas horárias mínimas, a respeito da capacitação específica para
enfermeiros em APH (GENTIL et al, 2008).
Segundo a legislação, que dispõe sobre a regulamentação da assistência de enfermagem em
APH e demais situações relacionadas com o suporte básico e avançado de vida, somente o enfermeiro
poderá realizar procedimentos de alta complexidade e prestar assistência de enfermagem em unidades
móveis de UTI e suporte avançado de vida terrestre, aéreo ou aquático (CYRILLO et al, 2009).
Para a identificação das respostas do indivíduo ao trauma o enfermeiro deve possuir uma base
sólida em semiologia, anatomia e fisiopatologia, agregando sua experiência clínica e de suas
habilidades de interação e observação. Entende-se assim, que esse conjunto de habilidades é essencial
para o julgamento clínico e consequente tomada de decisão (RAMOS e SANNA, 2005).
A enfermeira assume no pré-hospitalar o papel de articulação, integração da equipe,
contribuindo na inter-relação entre os diversos atores, além de ser reconhecida como coordenadora da
equipe de enfermagem. Ela constitui-se em um elo entre a gestão e a assistência, entre a regulação
médica e a equipe socorrista, entre a coordenação do serviço e a equipe, pois transita em quase todos
os espaços, atuando junto à equipe básica, junto com o médico no suporte avançado, fazendo a
administração do serviço, a supervisão da equipe e educação permanente da equipe de técnicos e
auxiliares de enfermagem, motoristas e de outros atores (PERREIRA; LIMA, 2009).
No Brasil, a atuação do enfermeiro e a sua capacitação está em atraso, se comparados com
outros países como, por exemplo, Estados Unidos e França, que possuem um sistema de APH mais
desenvolvido, nos quais os enfermeiros têm sua função consolidada e reconhecida em seus sistemas de
atendimento (CYRILLO et al, 2009).
580
5
Nos Estados Unidos da América, a formação, a experiência e as habilidades exigidas do
enfermeiro para atuar no APH variam de Estado para Estado, sendo os cursos geralmente extensos e
com conteúdo diversificado. A obtenção de licença para atuar em APH inclui experiência de, no
mínimo, 1 a 3 anos de prestação de assistência em serviços de emergência ou aos pacientes críticos,
incluindo a certificação em cursos específicos para desenvolvimento de habilidades (GENTIL et al,
2008).
Na França, o sistema de atendimento às urgências, Services d´Aide Medicále Urgente, é
composto por enfermeiros especializados em anestesiologia. A aquisição de competência em
atendimento às urgências, pelo enfermeiro francês, inicia no curso de graduação em enfermagem, em
unidades de cuidados intensivos e em práticas de suporte avançado de vida (GENTIL et al, 2008).
No caso específico do enfermeiro e de suas práticas no cuidar em situações de urgência e
emergência (APH), destacam-se, dentre as suas funções: a identificação de sinais e sintomas de
gravidade, a interpretação destes, a utilização de todos os recursos disponíveis para a assistência
(AVELAR; PAIVA, 2010).
4. ACIDENTES COM MOTOCICLETAS NO BRASIL
As motocicletas invadiram o espaço urbano como eficientes ferramentas de transporte e
trabalho diante do trânsito congestionado das grandes cidades. A ineficiência do transporte coletivo, o
mercado de tele-entregas, a possibilidade de renda para jovens sem qualificação profissional e a
facilidade de aquisição de uma motocicleta contribuíram para crescimento em cinco vezes, em relação
ao aumento da frota de automóveis (BACCHIERI; BARROS, 2011).
O aumento na quantidade de motociclistas que fazem fretes (motoboys ou motociclistas de
entrega) é visível nos centros urbanos do país, visto que esses trabalhadores atendem às necessidades
de rapidez e agilidade na prestação de serviços e entrega de produtos, e sua presença e tendência de
crescimento parecem irreversíveis a curto e médio prazo. Neste contexto, de agilidade, necessidade de
rapidez, sociedade de consumo e trânsito caótico, os motoboys representam uma população de grande
risco de envolvimento em acidentes de trânsito (SOARES et al, 2011).
A motocicleta se tornou viável no trânsito lento e congestionado, sendo econômica, de custo
bem inferior quando comparada aos automóveis, de fácil aquisição e manejo. Apesar da frota de
automóveis ser superior à frota de motocicletas, essas facilidades têm levado a uma inversão nos
padrões de acidentes de trânsito: as vítimas de acidentes de trânsito envolvendo motocicletas
(motociclistas e pedestres) predominam em relação àquelas envolvendo os ocupantes de automóveis
(CABRAL et al, 2011).
Assinale-se que, na última década, dentre os acidentes de trânsito, vem- se observando o
aumento crescente do número de acidentes envolvendo motocicletas, veículo que ganha cada vez mais
à aceitação e aprovação da população, por ser ágil e de custo reduzido (SANTOS et al, 2008).
Os condutores de motocicletas são considerados o grupo prioritário em programas de
prevenção, com risco sete vezes maior de morte, quatro vezes maior de lesão corporal e duas vezes
maior de atropelar um pedestre, quando comparados aos automobilistas. Motociclistas são as
principais vítimas dos AT, posto historicamente ocupado pelos pedestres. Em quatro aglomerações
urbanas (Belém, PA, Recife, PE, São Paulo, SP, e Porto Alegre, RS), 7% dos AT com automóveis
geraram vítimas, percentual que variou de 61% a 82% para as motocicletas (BACCHIERI; BARROS,
2011).
O consumo de bebidas alcoólicas pode ser apontado como um dos principais fatores
responsáveis pela alta incidência dos acidentes com vítimas. De uma maneira geral, em vários países,
costuma-se considerar que entre metade e um quarto dos acidentes com vítimas fatais estão associados
ao uso do álcool (ABREU et al, 2006).
Segundo Abreu et al, 2006: “O novo Código de Trânsito Brasileiro, de 23 de setembro de
1997 (Lei n° 9503), em seu artigo 276, estabelece o nível de alcoolemia limite em 0,6 g/l ou o
equivalente para outras formas de medidas (bafômetro)”. Por ser pouco divulgada a noção do
verdadeiro teor alcoólico das bebidas é que se deve dar atenção às chamadas “bebidas leves”.
É importante observar que qualquer bebida contém a mesma quantidade de álcool puro por
dose padrão e, ao beber um copo de 300 ml ou uma “latinha” (350 ml) de cerveja, estaremos ingerindo
a mesma quantidade de álcool puro, ou seja, em torno de 12 gramas, a mesma quantidade que há em
581
6
uma taça de vinho ou dose de cachaça/uísque, alcançando a taxa de 0,2g/l (alcoolemia). Portanto, uma
pessoa pode atingir 0,6g/l de álcool ao consumir três latas de cerveja ou três doses de uísque, variando
um pouco conforme a massa corporal e a sensibilidade ao álcool do organismo (ABREU et al, 2006).
5. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, que é uma forma de investigar estudos já
existentes, visando obter conclusões a respeito de um tópico em particular. É considerada uma
estratégia utilizada para identificar as evidências existentes, fundamentando a prática de saúde nas
diferentes especialidades.Para a seleção dos artigos foram utilizadas duas bases de dados eletrônicas,
de forma a ampliar o âmbito da pesquisa, minimizando possíveis vieses nessa etapa do processo de
elaboração da revisão integrativa, a saber: SCIELO (Scientific Electronic Library Online) e LILACS
(Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências Sociais e da Saúde).
Os critérios de inclusão definidos foram artigos de periódicos publicados em português, com
os resumos disponíveis nas bases de dados selecionadas, no período compreendido entre 2005 e 2011.
Os artigos foram selecionados inicialmente sob a forma de resumos, sendo que, posteriormente, foram
buscados e analisados na íntegra.Para a análise e posterior síntese dos artigos que atenderam aos
critérios de inclusão, foi construído um quadro sinóptico especialmente para esse fim, que contemplou
os seguintes aspectos: ano de publicação, periódico onde foi publicado, local do estudo e fatores
relacionados aos desafios para o enfermeiro no APH, citados no artigo.Em uma primeira etapa, foram
usados para levantamento dos artigos, os descritores de assunto: Atendimento pré-hospitalar; SAMU
192; Acidentes com motocicletas; Atuação do enfermeiro no APH; posteriormente foi feita a
combinação destes descritores e a palavra enfermagem para a seleção final.
Na busca realizada apenas com os descritores, encontramos um número muito grande de
artigos que se referiam a outras particularidades dos acidentes com motocicletas, principalmente as
que prevaleciam como: gênero, idade, escolaridade, dias e horários da semana, ingestão de álcool e/ou
outras drogas. No refinamento da busca, quando acrescentamos a palavra acidentes encontramos 20
artigos na base SCIELO e na LILACS, que abordavam o tema e continham respostas à questão
formulada. O estudo foi realizado no período de janeiro a maio de 2012.
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A distribuição dos 20 artigos selecionados de acordo com o ano de publicação foi a seguinte:
01(5%) artigos publicados em 2005, 02 (10%) em 2006, 05 (25 %) em 2008, 03 (15%) em 2009, 02
(10%) em 2010 e 07 (35%) em 2011, conforme apresentado na Tabela 1.
Tabela 1 - Distribuição dos artigos segundo o ano de publicação, a base de dados e idioma em
português – Brasil - 2005 a 2011.
Nº
Ano de publicação
Base de dados
2005
Scielo
01
2006
Scielo
02
2006
Lilacs
03
2008
Scielo
04
2008
Scielo
05
2008
Scielo
06
2008
Scielo
07
2008
Lilacs
08
2009
Lilacs
09
2009
Lilacs
10
2009
Scielo
11
2010
Scielo
12
2010
Scielo
13
2011
Scielo
14
2011
Scielo
15
2011
Scielo
16
2011
Scielo
17
2011
Scielo
18
582
7
19
20
2011
2011
Scielo
Scielo
Em relação ao idioma, vinte (100%) dos artigos foram publicados em português, sendo que
dezesseis (80%) dos artigos eram da base de dados da Scielo e quatro (20%) dos artigos eram da base
de dados da Lilacs.
O atendimento pré-hospitalar (APH) móvel faz parte do sistema de assistência às urgências,
constituindo-se um tipo de serviço de saúde recente no Brasil. Caracterizam-se por prestar assistência
às pessoas em situações de agravos urgentes nas cenas em que os eventos ocorrem, garantindo
atendimento precoce e adequado, assim como o acesso do usuário ao sistema de saúde. O APH pode
influir positivamente nas taxas de morbidade e mortalidade por trauma. Os acidentes de trânsito nas
duas últimas décadas tem sido uma das principais razões das mortes por causas externas (PEREIRA;
LIMA, 2009). Em nossa busca observamos dificuldades em obter estudos de prevalência e
relacionados com a atuação do enfermeiro em acidentes com motocicletas no Brasil.
A tabela 2 aponta nove periódicos onde os artigos foram publicados, evidenciando que 05
(25%) artigos têm como foco central os acidentes com motocicletas no Brasil, 08 (40%) da atuação do
enfermeiro no atendimento pré-hospitalar e 07 (35%) de atendimento pré-hospitalar. Este fato mostra
que as publicações do tema acidentes com motocicletas no Brasil e os desafios para o enfermeiro no
pré-hospitalar, ocorrem não só em periódicos especializados da área de enfermagem, como também
na área de saúde pública e epidemiologia.
Tabela 2 - Distribuição dos artigos selecionados, segundo o período em que foi publicado – Brasil 2005 a 2011.
Nº
Autores
Revista
RAMOS,
V.O;
SANNA,
M.C.
Revista
Brasileira
de Enfermagem
01
ABREU, A.M.M; LIMA, J.M.B; ALVES, T.A
Escola Ana Nery R Enfermagem
02
BRASIL, M.S
Ministério da Saúde
03
GENTIL, R.C; RAMOS, L.H; WHITAKER, I.Y
Revista Latino-am Enfermagem
04
LOPES, A.C.S; OLIVEIRA; A.C; SILVA, J.T; PAIVA, Caderno de Saúde Pública
05
M.H.R.S
MALVESTIO, M.A.A; SOUSA, R.M.C
Revista Saúde Pública
06
LADEIRA, R.M; BARRETO, S.M
Caderno de Saúde Pública
07
SANTOS, A.M.R; MOURA, M.E.B; NUNES, Caderno de Saúde Pública
08
B.M.V.T; LEAL, C.F.S; TÉLES, J.B.M
CAMPOS, R.M; FARIAS, G.M; RAMOS, C.S
Revista eletrônica de Enfermagem
09
CIRILLO, R.M.Z; DALRI, M.C.B; CANINI, S.R.M.S; Revista eletrônica de Enfermagem
10
CARVALHO, E.C; LOURENCINI, R.R.
PEREIRA, W.A.P; LIMA, M.A.D.S
Revista Escola de enfermagem
11
AVELAR, V.L.L.M; PAIVA, K.C.M
Revista Brasileira de Enfermagem
12
ROMANZINI, E.M; BOCK, L.F
Revista Latino- Am Enfermagem
13
BACCHIERI, G; BARROS, A.J.D
Revista Saúde Pública
14
CABRAL, A.P.S; SOUZA, W.V; LIMA, M.L.C
Revista
Brasileira
de
15
Epidemiologia
MACHADO, C.V; SALVADOR, F.G.F; O’DWYER, G Revista Saúde Pública
16
OLIVEIRA, N.L.B; SOUSA, R.M.C
Revista Latino- Am Enfermagem
17
SOARES, D.F.P.P; MATHIAS, T.A.F; SILVA, D.W; Revista
Brasileira
de
18
ANDRADE, S.M
Epidemiologia
VEIGAN, C.F.L; MONTEIRO, M.I
Revista Latino- Am Enfermagem
19
VIEIRA, R.C.A; HORA, E.C; OLIVEIRA, D.V; VAEZ, Revista Escola de enfermagem
20
A.C
A realização do atendimento pré-hospitalar nos primeiros minutos após o trauma objetiva que
as medidas de reanimação e estabilização possam impedir o agravamento do quadro e influenciar a
583
8
sobrevivência da vítima, mantendo-a em condições de chegar com vida até o tratamento hospitalar ser
possível (MALVESTIO; SOUSA, 2008).
Na busca dos artigos identificamos que houve uma pequena diferença nos achados, onde
ocorreu um equilíbrio decrescente das temáticas: 08 (40%) da atuação do enfermeiro no APH, 07
(35%) de atendimento pré-hospitalar e 05 (25%) artigos têm como foco central os acidentes com
motocicletas no Brasil, conforme descrito na tabela 3.
Tabela 3 – Fatores associados à temática, de acordo com o artigo pesquisado - Brasil - 2005 a 2011.
Artigo
Fatores associados à temática
Nº
Identificar os marcos históricos no atendimento pré-hospitalar e as transformações na
01
atuação do enfermeiro e aspectos legais do exercício profissional.
Mortalidade em acidentes de transito (motocicletas), relacionadas ao abuso de álcool.
02
Política nacional de atenção as Urgências, Portaria nº 2.048, que regulamenta o atendimento
03
pré-hospitalar.
Conhecimento teórico e habilidades práticas para o exercício profissional dos enfermeiros
04
no APH.
Uso de precauções padrão pelos profissionais do serviço de atendimento pré-hospitalar.
05
Variáveis clínicas e pré-hospitalares associadas à sobrevivência de vítimas de acidentes de
06
trânsito.
Características das vítimas que usaram o atendimento pré-hospitalar relacionados ao menor
07
tempo de chegada ao hospital.
Identificação dos níveis de satisfação profissional da equipe de enfermagem do SAMU 192.
08
Diagnósticos de enfermagem em vítimas de trauma atendidas em um serviço avançado
09
móvel de urgência.
O trabalho em equipe no atendimento pré-hospitalar, relacionado com a vitima de acidente
10
de trânsito.
Identidade do enfermeiro no SAMU.
11
Concepção, sentimentos e formação profissional dos enfermeiros no APH.
12
Mortalidade e acidente de trânsito no Brasil.
13
Perfil epidemiológico das vítimas de acidente de trânsito.
14
Conformação da Política de Atenção Móvel no Brasil.
15
Ocorrências de trânsito com motocicletas relacionados com a mortalidade.
16
Ocorrências de transito envolvendo motoboys e mototaxistas
17
Condições de vida e de trabalho dos profissionais do SAMU.
18
Epidemiologia dos acidentes com motocicletas.
19
20
Perfil epidemiológico do enfermeiro
Após a leitura dos achados nos artigos, os fatores associados com o aumento do índice dos
acidentes envolvendo motocicletas no Brasil, foram classificados segundo sua prevalência, em seis
categorias para análise, dispostos na tabela 4.
Tabela 4 – Fatores associados à temática, de acordo com a prevalência na categoria de análise - Brasil
- 2005 a 2011.
Categorias
Fatores associados ao aumento dos acidentes com motocicletas no Brasil
Fatores relacionados - Condutor
ao gênero masculino - Agressividade
- Audácia
- Autoconfiança
- Impaciência
- Imprudente
- Autoconfiança
- Consumo de bebidas alcoólicas
Fatores relacionados - 18 a 30 anos
584
9
à faixa etária.
Fatores relacionados
ao
dia
da
semana/horário
Fatores relacionados
ao
consumo
de
bebidas alcoólicas
Fatores relacionados
a não utilização de
equipamento
de
proteção individual
(EPI)
Fatores relacionados
às
profissões
de
motoboy
e
mototaxista
- Imaturidade
- Pouca experiência
- Pouca experiência e habilidade para dirigir
- Subestimação
- Não adesão às leis de transito
- Não utilização do EPI
- Comportamento de risco
- Ingestão de álcool e uso de drogas
- 6ª a domingo, com prevalência aos sábados, no período noturno das 18h ás
23h59
- Consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas
- Euforia
- Desinibição
- Diminuição do reflexo
- Agressividade ou passividade
- Fiscalização ineficiente
- Impunidade
- Desconforto no uso
- Inconveniência
- Subestimar o fator perigo
- Pressão de clientes e patrões para rapidez no serviço
- Excesso de jornada de trabalho
- Remuneração por produtividade
- Falta de cumprimento das leis de trânsito
FATORES RELACIONADOS AO GÊNERO E A FAIXA ETÁRIA
Os fatores relacionados ao gênero masculino correlacionam-se com as características citadas
acima. Estas variáveis predominam em todos os artigos analisados para a elaboração desta pesquisa. A
motocicleta por ser um veículo masculinizado, de fácil aquisição, rápido e econômico, ganhou a
aceitação masculina, que a utiliza em deslocamentos ao trabalho e/ou lazer.
Esse predomínio masculino em acidentes motociclísticos que podem ocasionar mortes é
atribuído a uma maior exposição, em decorrência do crescente número de motocicletas, baixos custos,
masculinização do veículo, características da idade: imaturidade, autoconfiança, subestimação do
jovem de sua capacidade e limites, pouca experiência e habilidade para dirigir, ingestão de álcool, uso
de drogas, comportamentos de risco, não adesão às leis e a não utilização do equipamento de proteção
individual (EPI) (VIEIRA et al, 2011).
FATORES RELACIONADOS AO DIA DA SEMANA/HORÁRIO E AO CONSUMO DE
BEBIDAS ALCOÓLICAS
Evidenciamos que os fatores relacionados ao dia da semana/horário e bebidas alcoólicas, tem
maior prevalência nos finais de semana com maior incidência aos sábado no horário das 18h ás 23h59.
As características dos acidentes em relação ao dia da semana da sua ocorrência indicam uma
elevação do número de vítimas a parir da sexta-feira, com maior concentração aos sábados,
relacionado à possível ingestão de bebidas alcoólicas, mais frequentes nestes períodos. O crescente
aumento dos acidentes nesse período é decorrente do maior consumo de bebida alcoólica, além do
desrespeito às leis de trânsito e menor luminosidade das vias públicas. A ingestão de álcool retarda os
reflexos e afeta a visão, além de causar sensação de euforia que induz o motorista a abusar da
velocidade com perda do controle da motocicleta (VIEIRA et al, 2011).
A verificação da presença de álcool no sangue (alcoolemia) é uma questão da maior
importância, para se mostrar o verdadeiro impacto do binômio álcool e direção. Por mais que essa
combinação seja apontada como perigosa, continua-se a desconsiderar sua gravidade, mesmo quando,
sob influência do álcool, os acidentes são mais graves e o índice de mortalidade é maior. No que tange
aos dias da semana, este estudo mostra os fins de semana como responsáveis pelo registro de mais de
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10
2/3 dos acidentes de trânsito, nos quais também se constata uma maior frequência de presença do
álcool. Assim, é essencial chamar a atenção para efetivas ações de combate ao abuso de bebidas
alcoólicas pelos condutores de veículos nos fins de semana. (ABREU et al, 2006).
FATORES RELACIONADOS A NÃO UTILIZAÇÃO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO
INDIVIDUAL (EPI)
A categoria descrita acima relaciona-se ao desconforto e a inconveniência na utilização do
equipamento de proteção individual (EPI), e o fato do condutor subestimar o possibilidade de
acontecer algum sinistro em seu trajeto em via pública.
Estudos que analisaram vítimas de acidentes de moto revelaram que grande parte das vítimas
não utilizavam o equipamento, por motivos diversos como a inconveniência e o desconforto do uso do
mesmo e por não esperar o envolvimento no acidente. Vale ressaltar que apesar do EPI diminuir os
riscos em caso de acidente, o seu uso não exclui a possibilidade de lesões graves ou mortais (VIEIRA
et al, 2011).
FATORES RELACIONADOS ÀS PROFISSÕES DE MOTOBOY E MOTOTAXISTA
Os fatores relacionados às profissões motorizadas correlacionam-se diretamente a pressão de
clientes e patrões para rapidez no serviço, o excesso de jornada de trabalho, a remuneração por
produtividade e a falta de cumprimento das leis de trânsito.
A realidade desses profissionais supera a emoção de pilotar a motocicleta. Condições
precárias, ausência de contratos formais, jornadas extensas, estresse, pressão psicológica por maior
produtividade, baixos rendimentos e riscos de acidente são constantes. Os motoboys convivem com a
dialética risco necessidade:
“Entre trabalhar sob o risco de sofrer um acidente de trânsito (AT) e não trabalhar, o que escolher?
Resta aos motoboys tentar controlar o risco” (BACCHIERI; BARROS, 2011).
Após a leitura dos achados nos artigos, os fatores associados com as dificuldades encontradas
pelos Enfermeiros no APH, foram classificados segundo sua prevalência, em quatro categorias para
análise, dispostos na tabela 5.
Tabela 5 – Fatores associados à temática, de acordo com a prevalência na categoria de análise - Brasil
- 2005 a 2011.
Categorias
Fatores relacionados à
formação profissional
Fatores relacionados ao
atendimento
préhospitalar
Fatores relacionados ao
estado emocional
Fatores associados às dificuldades encontradas pelos enfermeiros no
APH
- Ausência da disciplina APH nas academias de formação profissional
- Ausência de estágios curriculares no APH
- A formação é generalista
- Dificuldades de adaptação em laboratório das situações reais
encontradas na prática do serviço
- Difícil acesso ao local onde se encontram as vítimas
- Atendimento no interior de ambulâncias
- Adversidades do cenário
- Exposição ao risco das cenas e público
- Enfermeiros recém-ingressados no APH
- Desequilíbrio emocional
FATORES RELACIONADOS ÀS CATEGORIAS: FORMAÇÃO
ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR E AO ESTADO EMOCIONAL
PROFISSIONAL,
De acordo com as categorias citadas e seus respectivos fatores associados às dificuldades
encontradas pelos enfermeiros no atendimento pré-hospitalar, destacam-se como fatores essenciais a
ausência da disciplina APH nas academias de formação profissional, onde este profissional tem grande
dificuldade de atuar na área especifica do APH, vivenciando e aperfeiçoando os seus conhecimentos
em seu cotidiano laboral. Quanto ao atendimento pré-hospitalar o enfermeiro encontra diversas
barreiras físicas e emocionais que contribuem para dificultar o seu desempenho profissional. Estas
586
11
dificuldades estão inseridas na realidade que o serviço exige tais quais: difícil acesso ao local do
sinistro, exposição a risco iminente de vida em cenas e público, espaço restrito no interior de
ambulâncias e principalmente um bom preparo emocional para atuar em situações de comoção,
estresse e pressão psicológica.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os acidentes de trânsito envolvendo motocicletas no Brasil ao longo dos anos sofreram
mudanças significativas relacionadas a vários aspectos evidenciados ao longo desta revisão integrativa
da literatura, merecendo destaque a atuação do Enfermeiro no APH.
Foi verificado na análise dos artigos selecionados, o crescente aumento de acidentes
envolvendo motocicletas no Brasil, ocasionado pelo crescimento desordenado da frota, devido ao
baixo custo de aquisição e praticidade de deslocamento ao trabalho, facilitando a sua trafegabilidade
no trânsito caótico das grandes metrópoles, podendo ser utilizada para o lazer e instrumento de
trabalho, como nos casos dos motoboys e mototaxistas.
Tiveram como prevalência nos artigos analisados, adultos jovens do sexo masculino, com
idades variando entre 18 a 30 anos, somados a imaturidade, imprudência, descumprimento as leis de
trânsito e a ingestão de bebidas alcoólicas, onde foi identificado em grandes partes dos artigos
analisados o álcool como fator predominante nos acidentes motociclísticos, aos finais de semana no
período noturno.
Tomando como base o crescente aumento de acidentes envolvendo motociclistas, o enfermeiro
está inserido neste contexto de atendimento pré-hospitalar, sendo o elemento principal da equipe de
enfermagem, participante das ações de coordenação e operacionalização do serviço. O APH por ser
um serviço novo no Brasil e o enfermeiro por estar inserido neste processo especializado de
atendimento evidenciou dificuldades relacionadas ao processo de formação acadêmica, cujo cursos de
graduação em enfermagem ainda não contemplam a temática do APH em suas grades curriculares,
dificultando a formação dos profissionais qualificados para atuarem nessa área. Assim, percebeu-se
que o próprio serviço de APH tem o papel de preparar o enfermeiro para inseri-lo nas rotinas de
trabalho da equipe. Em suas atividades laborais foram identificadas várias dificuldades relacionadas
aos locais de atendimento de difícil acesso, adversidade da cena e situações que exigem um bom
preparo emocional.
Espera-se que os resultados obtidos nessa revisão integrativa da literatura sirvam como
contribuição e estímulo para a comunidade acadêmica-cientifica de Enfermagem, ampliando as
discussões sobre o investimento na formação de profissionais capacitados para atuar na área, desde os
estágios curriculares da graduação, apresentando os acadêmicos aos conteúdos e as particularidades do
atendimento pré-hospitalar.
8. BIBLIOGRAFIA
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