METÁSTASE CUTÂNEA E OCULAR DE TUMOR VENÉREO TRANSMISSÍVEL EM CÃO
RELATO DE CASO
RENATO LINHARES SAMPAIO
Médico Veterinário, Doutor, Professor de cirurgia do curso de Medicina Veterinária do convênio UNIUBE, FAZU e ABCZ
Hospital Veterinário de Uberaba Av.do Tutuna, 720, Tutunas, Campus FAZU, Uberaba-MG CEP: 38061-500
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RESUMO
O tumor venéreo transmissível, também conhecido como tumor ou sarcoma de Sticker, é uma moléstia genital com distribuição mundial que afeta igualmente
machos e fêmeas. A etiologia ainda é desconhecida, apesar dos resultados de estudos recentes sugerirem uma possível origem viral para o problema. A
principal forma de transmissão é a implantação por esfoliação do tumor durante o coito, o que faz do aparelho genital do macho e da fêmea os locais com maior
taxa de identificação do tumor. Apesar disto, tem sido descrito que o tumor pode dar origem a metástases, já tendo sido observado sua presença nos
linfonodos regionais, tonsilas, olhos, cérebro, glândula pituitária, pele, coluna vertebral, além de vísceras abdominais e torácicas.
O presente trabalho apresenta um caso de tumor venéreo transmissível em um cão macho, sem raça definida, de 5 anos, encaminhado ao Hospital Veterinário
de Uberaba. De acordo com as informações do proprietário o animal estava apresentando sangramento durante a defecação. Ao exame clínico observou-se a
presença de inúmeras úlceras na região perianal, por toda a extensão da área de transição mucocutânea, atingindo também o reto e o músculo esfíncter anal
externo. O exame clínico revelou ainda nódulos cutâneos espalhados por toda a superfície corporal, com maior densidade na região abdominal ventral. Foram
encontrados ainda nódulos nas pálpebras e terceira pálpebra de ambos os lados. Exame radiográfico da cavidade torácica demonstrou a presença de uma
massa próxima à base do coração e o hemograma revelou intensa leucopenia e anemia arregenerativa. Em função dos achados clínicos sugeriu-se a realização
de biópsia para a confirmação do diagnóstico que ao exame histopatológico confirmou a suspeita de tumor venéreo transmissível.
1. INTRODUÇÃO
Das neoplasias de células redondas, o tumor venéreo transmissível (TVT) apresenta uma
das maiores taxas de morbidade, não possuindo predileção racial ou sexual. A
distribuição geográfica demonstra uma maior incidência nas regiões tropicais e
subtropicais, com maior população de animais afetados nos centros urbanos. O TVT,
também denominado de sarcoma venéreo transmissível ou granuloma venéreo é um tipo
específico de tumor caracterizado tela transplantação celular alogênica como forma de
transmissão de um animal para outro, apresentando, segundo estudos citogenéticos
recentes, antígenos de superfície característicos em diversos tumores, sugerindo que
todos os tumores venéreos deste tipo têm a mesma origem. A mensuração do número de
cromossomos presentes no núcleo das células tumorais revelou que estas possuem em
média 59 cromossomos, com variação de mais ou menos 5 cromossomos, diferenciandose das células diplóides caninas que possuem 78 cromossomos.
A transmissão se dá preferencialmente pela esfoliação celular e implantação em outro
tecido aonde o tumor passa a se manifestar. O sítio preferencial para a manifestação
clínica da doença é o trato reprodutivo dos machos e fêmeas de cães, o que justifica,
pelos estudos epidemiológicos, a alta taxa de morbidade dos animais entre 2 a 4 anos,
quando estes se encontram em atividade sexual plena.
As características macroscópicas do TVT o diferenciam da maior parte das neoplasias
conhecias. Inicialmente, o tumor aparece como pequena pápulas hiperêmicas sobre a
mucosa peniana ou vaginal, evoluindo para massas multilobuladas e friáveis, com aspecto
de “couve-flor” e que sangram facilmente, quando traumatizada. Como citado
anteriormente, o exame histopatológico demonstra o TVT como uma neoplasia de células
redondas, cuja geometria pode sofrer pequenas alterações, mesclando as células
redondas com outras ovais ou mesmo poliédricas. Os núcleos são invariavelmente
grandes, circulares e intensamente corados pela cromatina (característica hipercromática).
O citoplasma se cora pobremente pela eosina caracterizando-se por possuir, às vezes,
bordas indefinidas.
Apesar do sítio preferido para a manifestação do TVT ser o trato reprodutivo, muitos
relatos tem demonstrado que este tumor pode estar presente em sítios distantes,
colonizando a pele, olhos, órgãos abdominais e torácicos, entre outros. O tratamento por
muitos anos ter era exclusivamente a ressecção cirúrgica, que muitas vezes causava
mutilações, quando não era acompanhado de freqüentes recidivas. Hoje, a quimioterapia
tem demonstrado alta taxa de sucesso no tratamento do TVT, apesar de alguns tumores
se mostrarem parcialmente refratários. De acordo com a literatura, 90% dos tumores
tratados com o sulfato de vincristina regridem apenas com a quimioterapia. O principal
cuidado a ser tomado durante o tratamento está relacionado aos efeitos colaterais da
droga que tem ação antimetabólica, agindo no ciclo de multiplicação tanto das células
neoplásicas como de células normais do paciente, principalmente aquelas com alta taxa
metabólica, como as células originadas da medula e que formaram as células sanguíneas.
Não é raro portanto os pacientes apresentarem depressão medular
e anemia
2. MATERIAIS E MÉTODOS
arregenerativa.
O presente trabalho relata o caso de um cão macho, sem raça definida, de 5 anos de idade
que foi encaminhado ao Hospital Veterinário de Uberaba com histórico de sangramento
pelo ânus já há alguns meses. O exame clínico revelou a presença de nodulações por
toda a superfície corporal além dos olhos. A região apresentava inúmeras úlceras e
nódulos. O exame hematológico revelou anemia profunda e leucopenia. A confirmação do
diagnostico foi feita com base no laudo do exame histopatológico de amostras das áreas
afetadas (olho, pele e ânus) O paciente foi submetido a transfusão sanguínea e terapia de
apio nutricional durante 15 dias, sem melhora do quadro clínico e hematológico. Após a
primeira sessão de quimioterapia o paciente veio a óbito, não tendo sido diagnosticado
no exame pos mortem alteração outra que justificasse o óbito se não o estado geral e
anemia profunda, além do estado de imunossupressão. Conclui-se com este relato que
apesar das características benignas, o tumor venéreo transmissível pode se manifestar
de forma mais agressiva, estando este fato relacionado ao estado imune do paciente,
como descrito na literatura.
FIGURA 1
FIGURA
2
FIGURA 3
FIGURA 4
FIGURA 5
LEGENDA
FIGURA 1. Aspecto da face do animal com nódulo na conjuntiva e terceira pálpebra
FIGURA 2. Aspecto da porção ventral do abdômen demonstrando a presença de inúmeros nódulos
cutâneos
FIGURA 3:detalhe do olho com nódulos na conjuntiva e terceira pálpebra
FIGURA 4: Aspecto da região perianal demonstrando a presença de úlceras e nódulos cutâneos
FIGURA 5: detalhe das úlceras na região perianal
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Tumor venéreo transmissível