IV Mostra Científica do Curso de Enfermagem da ESA-UEA. Manaus, Amazonas, Brasil, de 16 a 17 de
maio de 2013. Anais. OR 19. p. 137-139.
PERFIL EPIDEMIOLOGICO DE CRIANÇAS COM HIDROCEFALIA
ATENDIDOS NUM HOSPITAL PÚBLICO DO MUNICIPIO DE
MANAUS, AM, BRASIL
Mirian Elenit Lima de Fachín 1
Alessandra Cristina da Silva 2
Flávia Roberta Dias Coelho 3
Maria de Nazaré de Souza Ribeiro 4
INTRODUÇÃO: A hidrocefalia é um acúmulo anormal de liquido cefalorraquidiano, nas
cavidades dentro do cérebro chamadas ventrículos. O fluído cérebro espinhal produzido nos
ventrículos circula através do sistema ventricular e é absorvido na corrente sanguínea. A
doença ocorre quando há um desequilíbrio entre o montante de fluído cérebro espinhal que é
produzido e a quantidade que é absorvido. Por aumentar a quantidade de fluído cérebro
espinhal, os ventrículos se dilatam e a pressão dentro da cabeça aumenta. A doença pode ser
classificada como hidrocefalia congênita ou adquirida ou comunicante e não comunicante
dependendo da sua etiologia. Esta patologia é considerada uma anomalia freqüente do sistema
nervoso central, sua prevalência na população estima-se entre 1 a 1,5% e a incidência de 0,12
a 2,5 casos/ 1000 nascimentos (COBO, 2008). Seus portadores têm uma qualidade de vida
comprometida por múltiplas complicações e incapacidade, gerando evidentes repercussões a
suas famílias e custos elevados para toda a sociedade. A hidrocefalia atinge no mundo, cerca
de uma em cada 500 crianças nascidas. A hidrocefalia constitui um problema neurológico
observada com certa frequência no Hospital Pronto Socorro da Criança da Zona Leste de
Manaus (HPSC-ZL). Neste hospital existe uma enfermaria para as internações e atendimento
dos clientes com este tipo de patologia, razão pela qual foi escolhido como local de estudo.
OBJETIVOS: Frente a este quadro, nossa pesquisa foi direcionada a: Caracterizar o perfil
epidemiológico das crianças com hidrocefalia atendida no HPSC-ZL de Manaus; Determinar
os fatores que influenciam a situação familiar de saúde das crianças com hidrocefalia; Avaliar
se o responsável pela criança detém conhecimentos sobre hidrocefalia; Identificar se existe
um programa de saúde onde os pacientes fazem o seu controle. METODOLOGIA: Esta
pesquisa foi realizada no HPSC-ZL, no período de agosto de 2011 a julho de 2012. A
pesquisa foi do tipo exploratória, de caráter descritivo, com abordagem quanti-qualitativa.
Foram estudadas 11 mães, cujos filhos apresentaram problema de hidrocefalia e encontraremse internados no local de estudo referido. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi
uma entrevista estruturada contemplando dados de identificação da mãe e da criança assim
como questões específicas sobre o tema de pesquisa. RESULTADOS E DISCUSSÃO: A
maioria das mães (37%) encontra-se na faixa etária entre 23 a 27 anos. Estudos mostram que
as mães de crianças com hidrocefalia são jovens, o que não foi obsevado nesta pesquisa
(OLIVEIRA et al., 2010). As crianças com hidrocefalia possuem necessidade de atendimento
especial geralmente quando envolve o pós-operatório, na maioria das vezes o cuidador
responsável é a própria mãe, pesquisas revelam que o conhecimento do cuidador tende há
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Enf. MSc. Docente da Escola de Ciências da Saúde-UEA. E-mail: [email protected]
Enf. Esp. Docente da Escola de Ciências da Saúde-UEA. E-mail: [email protected]
3
Enf. Esp. Docente da Escola de Ciências da Saúde-UEA. E-mail: [email protected]
4
Doutora, Docente da Escola Superior de Ciências da Saúde-UEA. E-mail: [email protected]
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aumentar com a idade, e isto faz com que preste melhor assistência à criança. As mães
declararam-se solteiras (64%) enquanto as outras afirmavam estar casadas, é importante
mencionar que durante a entrevista, através das falas dos sujeitos, se pode constatar que
dentre as mães que se declararam casadas, nem todas se caracterizavam como um casamento
legal perante a lei e, sim como união estável porém, faziam questão de enfatizar que eram
casadas. Assim sendo esse dado contribui para maximizar o contingente de mães solteiras.
Grande parte das mães (54%) esta no seu segundo filho, enquanto que havia mães que
possuíam até quatro filhos (27%), esse é um importante dado para se relacionar com a
genética já que em nenhumas das famílias havia mais de 2 filhos com hidrocefalia, as mães
primiparas eram minoria (18%). Todas as mães eram alfabetizadas, sendo que, possuíam o
ensino médio completo (45%), enquanto que 36% tinham ensino médio incompleto e 18%
ensino fundamental incompleto. Estudos demonstram que essa é a principal variável
relacionada ao nível de conhecimento do cuidador, mães com maior nível de escolaridade
conhecem melhor a definição e as causas da hidrocefalia (OLIVEIRA et al., 2010). Em
quanto às atividades descritas por elas, a maioria se dedicava as atividades do lar (72%),
possuía baixa renda (45%) sobrevivendo com 1-3 salários mínimos, essa variável é
influenciada pelo local da pesquisa onde normalmente se atende às classes sociais menos
favorecidas. A fonte de renda das mães (81%) vem do trabalho. Quanto a religião 64% se
declarou evangélica, seguido pelos Católicos (27%) e a Assembleia de Deus (9%). No
controle pré-natal todas declaram ter feito ao menos uma consulta. O que é de suma
importância quando se trata de doenças congênitas, o diagnostico de hidrocefalia neste
período tem aumentado muito devido a ultrassonografia que facilmente a detecta
(CAVALCANTI & SALOMAO, 2003). Nenhuma das mães relatou qualquer tipo de doença
durante a gravidez, o que contradiz com vários estudos passados devido a hidrocefalia muitas
vezes ser causada por infecções congênitas como meningite purulenta (10,2%), toxoplasmose
(5,1%) e a neurotuberculose (5,1%) (KLIEMANN & ROSEMBERG, 2005). A maioria (64%)
afirmou ter tomado algum tipo de medicamento para a gripe e 36% negou. Todas relataram
tomar suplementos vitamínicos como o sulfato ferroso, a desnutrição esta envolvida na má
formação do sistema nervoso central (SNC) principalmente pela carência de acido fólico,
elemento importante no fechamento do tubo neural. Sobre as orientações no momento do
diagnostico, ou seja, o primeiro contato real com a realidade de doença, elas se direcionaram
mais as condutas a serem tomadas (64%) do que propriamente o que seria a doença e o que a
causa (18%), um percentual pequeno relatou não ter recebido orientações (9%). Apenas em
dois casos não houve nenhum tipo de informação do médico (18%), e uma não conseguiu
entender as orientações médicas (9%). As mães demonstraram ter conhecimento das condutas
que estavam sendo realizadas (73%) em seus filhos, porem não foi observada nenhuma
informação sobre o que é a doença e o que a causa. Saber as condutas a ser tomadas é de suma
importância e é notável que elas estejam sendo dadas com clareza e eficiência, porém nota-se
um certo abandono das informações sobre o doença em si o que ajudaria no cuidar da criança
e proporcionaria melhor adesão e confiança no tratamento. Estudos referem que as mães
cuidam baseando-se em seus referenciais, crenças, costumes e recursos, esses referenciais
nem sempre estão de acordo com o cuidado da equipe de saúde, podendo vir a intervir no
tratamento (OLIVEIRA et al., 2010). A falta de conhecimento sobre hidrocefalia aqui
reportado pode ser tanto pela falta de orientação dos profissionais e o uso de linguagem mais
acessível como pela baixa escolaridade observada. As infecções foram o principal problema
relatado durante a gravidez, sendo as do sistema respiratório os mais frequentes (46%), não se
encontrou qualquer menção de tal problema na literatura. Uma única mãe relatou que não teve
nenhum tipo de problema de saúde (9%). Houve relatos de problemas inespecíficos como
febre (18%). Não houve relação dos sexos com a incidência de hidrocefalia, sendo 54% do
sexo masculino e 45 do sexo feminino, apesar de já ter conhecimento de síndromes que
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causam hidrocefalia, como a estenose do aqueduto de Sylvius, paraplegia espástica e
síndrome de MASA, porém, os estudos sempre demonstram uma incidência semelhante entre
os sexos. O tempo de internação dos sujeitos variou desde os que passaram pouco mais de um
dia, a aquele que não poderiam mais voltar as suas casas, ficando entre 1 e 3 semanas o mais
frequente (36%), sendo em média 2,8 semanas o tempo de internação. A idade das crianças
variou entre 2 semanas e 10 anos, dos quais, apenas 3 das onze crianças estão acima de um
ano. Foram vários os motivos que levaram a internação das crianças, encontrando sintomas
frequentes de hidrocefalia (36%) devido ao acumulo de liquido, outros devido às
complicações da válvula de derivação ventricular que já faziam uso (18%), indicação de
cirurgia para correção sem relatar sintomas (27%) e problemas urinários e tumefação do
abdome gerada pela obstrução mecânica da derivação (9%). As complicações mecânicas das
derivações são por alguns autores ditas como a mais frequente causa, acontecendo em 30 % a
60%, porém essa alta frequência não foi observada no estudo, sendo relatada apenas num
caso, por o “fio ter embolado”. Os casos de infecção acontecem segundo a literatura em 2 a
15% das derivações, (KLIEMANN & ROSEMBERG, 2005), sendo observado nesta pesquisa
somente um caso. Também as convulsões são um quadro comum na hidrocefalia, chegando
em 43,6% ate crises epilépticas, o que não foi evidenciado nesta pesquisa.
CONSIDERACOES FINAIS: A hidrocefalia é frequente em crianças de ambos os sexos, a
faixa etária vária entre 2 semanas a 10 anos. A identificação da doença ocorre durante o
controle pré-natal e nos primeiros anos de vida. A maioria deles são internados para correção
e tratamento clinico em casos de infecção. As crianças são de origem de famílias de baixa
renda e nível cultural, trabalhadoras do lar. Os cuidados destas crianças recaem sobre as mães,
sendo o pai ausente. A maioria das mães conhece as condutas que são tomadas com seus
filhos, entretanto desconhecem o próprio significado da doença e suas causas, e não existe
programa especifico para controle deste pacientes.
PALAVRAS CHAVE: Hidrocefalia. Perfil Epidemiológico. Crianças.
REFERÊNCIAS
CAVALCANTI, Denise P.; SALOMÃO Maria A. Incidência de hidrocefalia congênita e o
papel do diagnóstico pré-natal. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro;v.79(2) p.135-40, 2003.
COBO,
Enrique
de
Jongh.
Hidrocefalia.
2008.
Disponível
em:
<www.sld.cu/galerias/pdf/sitios/.../hha2008_hidrocefalia.pdf>. Acessado em: 15 abr.2011.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. 9. reimpr. São Paulo: Editora Atlas,
2007.
KLIEMANN, Susana Ely; ROSEMBERG, Sérgio. Hidrocefalia derivada na infância: um
estudo clínico-epidemiológico de 243 observações consecutivas. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/anp/v63n2b/a24v632b.pdf>. Acessado em 15 set. 2011.
OLIVEIRA, Débora Moura da Paixão; PEREIRA, Carlos Umberto; FREITAS, Záira Moura
da Paixão. Conhecimentos dos cuidadores de crianças com hidrocefalia. Revista Brasileira
de Enfermagem, Brasília, v.63 n.5: p.782-5 set-out, 2010.
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2013_Perfil epidemiológico de crianças com hidrocefalia