ISSN: 2316-3992
Aspectos da viabilidade economica na pecuária leiteira
Jaize dos Santos Duarte¹; Alencar Ferri²; Claucia Aparecida Honorato³*
RESUMO:
A produção de leite brasileira atinge aproximadamente 26 bilhões de litros anuais. Apesar do volume considerado elevado, o setor esconde uma série de problemas, entre os principais, destaca-se a
viabilidade econômica da atividade. Diversas ocorrências registradas ao longo dos últimos anos contribuíram para que a pecuária leiteira adentrasse em um caminho onde os problemas são mais presentes
que as soluções, bem como o prejuízo se faz mais constante que o lucro. Cadeia produtiva distorcida,
remuneração inadequada frente aos custos de produção, baixo nível tecnológico e pequeno controle
gerencial, são alguns dos motivos que atuam decisivamente na desestabilização deste setor. Desta
forma, o objetivo deste artigo é, a partir de revisão bibliográfica, expor os principais problemas encontrados na cadeia produtiva da pecuária leiteira, principalmente a viabilidade econômica da atividade.
Palavras -chave: produção leiteira, viabilidade econômica, bovino.
ABSTRACT:
The Brazilian milk production reaches 26 billion annual liters approximately. Although the considered volume raised, the sector hides a series of problems, among the main ones, is distinguished it economic viability of the activity. Diverse occurrences registered throughout the last years had contributed
so that the cattle milkmaid adentrasse in a way where the problems are more gifts that the solutions,
as well as the damage if more makes constant than the profit. Distorted productive chain, inadequate
remuneration front to the production costs, low technological level and small managemental control,
are some of the reasons that act decisively in the run down of this sector. In such a way, the objective of
this article is, from bibliographical revision, to display the main problems found in the productive chain
of the cattle milkmaid, mainly the economic viability of the activity.
Keywords: milk production, economic viability.
*¹Aluna do curso de Medicina Veterinária, Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, Centro Universitário da Grande
Dourados - UNIGRAN
²Mestrando do curso de Mestrado em Biotecnologia pela Universidade Católica Dom Bosco, UCDB
³Docente do curso de Medicina Veterinária, Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, Centro Universitário da Grande
Dourados - UNIGRAN
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RESUMEN:
La producción de leche de Brasil llega a cerca de 26 mil millones de galones. A pesar del alto volumen de interés, la industria se esconde una gran cantidad de problemas entre los atractivos principales
es la viabilidad económica de la actividad. Varios incidentes registrados durante el año pasado contribuyeron a la lechería entrar en él de una manera en que los problemas son más presente que las soluciones, así como el daño que se hace más constante que el beneficio. Producción cadena distorsionada,
la remuneración inadecuada frente a los costos de producción, la tecnología y bajo el control administrativo pequeña son algunas de las razones por las que actúan de manera decisiva en la desestabilización de este sector. Por lo tanto, el objetivo de este artículo es de una revisión de la literatura, presentar
los principales problemas encontrados en la cadena de suministro de productos lácteos, especialmente
la viabilidad económica de la actividad.
Palabras-clave: producción de leche, la viabilidad económica, bovino.
Introdução
A pecuária leiteira nacional representa parcela importante do agronegócio brasileiro. O volume de leite produzido, em torno de 26 bilhões de litros de leite anuais, além do volume de emprego gerado e renda produzida,
tornam a atividade um dos pilares do agronegócio brasileiro (ZOCCAL et al., 2007).
A pecuária leiteira também atravessou profundas mudanças nos últimos anos como mudanças econômicas,
falta de regulamentação governamental, exposição à concorrência externa que, crescentes custos de produção
e queda no preço pago pelo litro de leite, tornaram a atividade um verdadeiro desafio. Se de um lado muitos
produtores alcançam a eficiência produtiva, poucos deles obtêm o mesmo sucesso em termos econômicos.
Ainda faz parte do cenário da produção leiteira brasileira uma cadeia produtiva distorcida, o qual o produtor
de leite ainda se apresenta de descapitalização o que inviabilização o incremento da produção.
As perspectivas de melhorias no sistema de produção que irão refletir nos custos operacionais necessitam de
amplas e profundas discussões, que deve ser realizado de forma dinâmica entre o os segmentos: produtores,
sociedade e o poder público.
No que tange o setor produtor alguns apontamentos se fazem essencial como diagnóstico do cenário de
produção leiteira. Fatores como a baixa escolaridade, a falta de acesso a informações e a pouca e até mesmo
inexistente assistência administrativa e produtiva, contribui negativamente para o setor produtivo. A junção destes
fatores faz com que a atividade não seja controlada quanto aos índices de produtividade inviabilizando a análise
da viabilidade e dos custos do empreendimento leiteiro (EMBRAPA, 1997).
O presente trabalho busca, através de levantamento bibliográfico, analisar a viabilidade da atividade pecuária leiteira. Tendo em vista a importância que o setor possui frente à economia brasileira.
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A pecuária leiteira brasileira
A pecuária leiteira brasileira merece destaque pelo volume produzido anualmente. Dados de 2006 apontam
para uma produção de 25,7 bilhões de litros, o que gerou uma receita de 12,1 bilhões de reais e 1,3 milhões
de empregos diretos, além de outros 5 milhões indiretos (ZOCCAL et al., 2007).
Apesar dos números gerais impressionarem pelo volume alcançado, a atividade esconde índices zootécnicos,
produtivos e econômicos fracos e muito aquém dos observados em outros países produtores, como Austrália e
Nova Zelândia (VERCESI FILHO et al., 2000).
Mesmo possuindo o maior rebanho comercial bovino do mundo, o Brasil produz apenas 12% do leite/animal/ano do mundo com uma produtividade média de pífios 3,0 litros/vaca/dia (NETO et al., 2002).
Diversos fatores são relacionados com o fraco desempenho da pecuária leiteira nacional. Entre eles destacam-se: a baixa rentabilidade obtida na atividade; acesso escasso a informações; baixa escolaridade dos criadores; ausência de inovações tecnológicas; cadeia produtiva deficitária e plantéis com pequeno ou mesmo ausente
valor zootécnico (NETO et al., 2002).
O somatório destas realidades aliado as instabilidades proporcionados pelo mercado leiteiro e as decorrentes de alterações climáticas, fazem com que a atividade torne-se de risco, sobretudo, para os produtores menos
preparados.
A disparidade do setor leiteiro nacional é outro ponto que chama atenção. Muitos produtores produzem
pouco e poucos produtores produzem muito. Assim verifica-se que produtores de até 50 litros diários respondem
por 50% do número total de produtores, porém, produzem apenas 10% do total, ao passo que os produtores
com mais de 200 litros diários constituem apenas 10% do total de produtores e respondem a 50% da produção
nacional (SANTOS et al., 2004).
Não bastassem as distorções do mercado nacional, as políticas públicas praticadas nos países exportadores
de leite acabam deprimindo ainda mais o mercado nacional, haja vista que uma prática corrente no exterior é
o subsídio ao litro de leite produzido, o que faz com que por diversas vezes importar o produto seja mais barato
que produzi-lo aqui (MARTINS, 2004).
As distorções em uma cadeia produtiva que beneficia apenas a indústria e atravessadores produzem uma
situação inusitada. Conforme Vilela (2004), para cada dólar gerado pelo aumento na produção leiteira, ocorre
um crescimento de cinco dólares no Produto Interno Bruto (PIB). Rentabilidade essa que supera atividades como
o setor têxtil e de siderurgia. Contudo, a pecuária leiteira não se desenvolve satisfatoriamente porque quase a
totalidade da riqueza produzida pelo setor não volta às mãos do produtor rural, o qual, descapitalizado e desmotivado, não investe no incremento da produção.
Os problemas com a cadeia produtiva do leite não são atuais. Exemplifica bem a situação a Proposta de
Fiscalização e Controle (PFC) n°63, ainda de 2001, da Comissão de Agricultura e Política Rural da Câmara dos
Deputados, a qual unificou os trabalhos das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI’s) que então encontra-
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vam indícios que a Lei de Concorrência n°8.884/1994 era acintosamente desrespeitada em Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Goiás, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A época verificou-se que setores da cadeia produtiva
leiteira estavam abusando de seu poder econômico e formando cartéis, em detrimento dos produtores rurais. De
posse de provas cabais, foram adotadas as seguintes medidas: a) resolução n°1/2001 da Câmara de Comércio
Exterior (CAMEX) que após concluir a existência de Dumping nas importações provenientes da Argentina, Uruguai, Nova Zelândia e União Européia entre julho de 1998 e junho de 1999 e os danos causados aos produtores brasileiros, como margem de lucro negativa, fixou diretos antidumping da ordem de 16,9%; 14,8% e 3,9%
por durante cinco anos sobre as importações de leite em pó provenientes, respectivamente do Uruguai, União
Européia e Nova Zelândia (essa medida é tida como a mais importante medida de defesa comercial já adotada
pelo Brasil frente a outros países); b) homologação pelo CAMEX de compromisso de preços para as importações
de leite em pó oriundos da Argentina, da empresa dinamarquesa Arla Foods, União Européia, Nova Zelândia e
do Uruguai; c) revisão de todos os contratos estabelecidos para a importação de leite em pó provenientes da Argentina, Uruguai e Nova Zelândia; d) adoção da Resolução n°63 para a fiscalização do setor (MARTINS, 2004)
Ainda sim, mesmo após esse escândalo e da punição das empresas que se aproveitaram da liberalidade brasileira e do descaso do poder público para com o setor leiteiro, a cadeia produtiva continua sem regulamentação
séria e estruturação adequada, reduzindo cada vez mais a força do produtor (MARTINS, 2004).
Mais tarde, como resposta aos anseios dos produtores, criou-se a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do
Leite e Derivados, a qual está ligada ao Conselho do Agronegócio (CONSAGRO), que por sua vez está ligada
ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), no entanto, a Câmara setorial ainda não realizou
feitos dignos de nota, capazes de melhorar a situação do produtor rural.
A busca por modelos de exploração leiteira economicamente viável
Apesar da precariedade geral do sistema de produção leiteira brasileira, verifica-se uma modernização na
atividade principalmente nas propriedades das regiões sul e sudeste. Nestes estados é possível encontrar unidades produtoras que atuam sob sistema intensivo e utilizam animais com índices produtivos entre 3.500 e 4.000kg
de leite por lactação (DERESZ et al., 2006).
Gomes et al. (2002) e Martins (2004) descreveram que o aumento na quantidade de leite produzido no Brasil
deve-se, muito mais pela expansão das fronteiras agrícolas, sobretudo a partir de meados da década de 90 do
que propriamente pelo aumento em termos produtivos.
Neto et al. (2002), comentam que a falta de especialização e acompanhamento tecnológico reflete diretamente nos custos finais de produção do leite, encarecendo-o sobremaneira e retirando parcela considerável do
lucro que poderia ser obtido.
A busca por modelos produtivos que atendam as necessidades dos produtores, quando implantados corretamente e sob supervisão de órgãos e institutos competentes para tanto, redunda na melhora do gerenciamento
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da atividade leiteira, e, por conseguinte, decisões relativas à nutrição do plantel, escolha dos animais, técnicas
de manejo sanitário e de produção, bem como melhora no leite produzido e melhora nos índices econômicos
são obtidos (EMBRAPA, 1997).
Diversos modelos produtivos de outros países com características em parte semelhantes ao Brasil, já foram
adotados no país, porém não surtiram os efeitos desejáveis.
Estudos realizados pelo Centro de Pesquisa em Pecuária Leiteira Tropical da Universidade de Queensland,
Austrália, deram origem ao que seria um modelo de unidade produtora de leite ideal, capaz de gerar renda
suficiente para que o produtor se mantenha na atividade. Apesar de o estudo levar em consideração criatórios
mantidos no clima tropical, o que, portanto, inclui parte do Brasil, o modelo foge a realidade nacional (MATOS,
2005).
No estudo, os pesquisadores propõem rebanhos entre 100 e 200 cabeças, com alimentação baseada em
pastagens tropicais perenes que possuam alta capacidade de suporte animal. A raça ideal para tal tipo de criação seria a Holandesa-Frísia, ou ainda animais da raça Jersey. A infra-estrutura considerada é mínima e envolve
construções apenas para a sala de ordenha além de uso de mão-de-obra familiar. Os animais considerados
devem produzir uma média 4.100 kg/lactação com níveis elevados de proteína e gordura (MATOS, 2005).
O modelo proposto é desejável e capaz de subsidiar uma família de cinco pessoas, entretanto, sua inaplicabilidade à realidade brasileira salta aos olhos, pois, a grande maioria dos produtores brasileiros dispõe de
pequenas áreas, com média de 25 hectares, insuficientes para abrigar rebanhos muito maiores que 30 cabeças,
principalmente se alimentadas exclusivamente a pasto. Além disto, verifica-se, mesmo junto às propriedades mais
tecnificadas, uma média anual de 1.400 kg/lactação, muito abaixo do estimado para a rentabilidade do sistema
(FREITAS et al., 2007).
A falta de um modelo estruturado e uma cadeia produtiva confiável, aliado a crescente valorização dos insumos e o não acompanhamento dos preços recebidos pelo litro do leite, tem descapitalizado ano após ano os
produtores, de forma tal que atualmente a busca por maneiras de equacionar o custo de produção tornou-se o
ponto nevrálgico da atividade (MARTINS, 2004).
Dados da Fundação Getúlio Vargas (2004), apontam que desde o início do Plano Real (junho de 1994), o
preço do leite variou cerca de 70,32% e o preço dos produtos lácteos subiu cerca de 97,65% no varejo, ao mesmo tempo em que máquinas agrícolas, fertilizantes, rações e combustíveis subiram, respectivamente, 117,5%;
136,3%; 142,8% e 164,83%.
Além de acumular perdas gradativas anuais, os produtores de leite na medida em que não estão inseridos
em uma cadeia produtiva que os proteja, sofrem todos os anos com as variações mercadológicas do preço do
leite, o qual sobe na entressafra e cai durante a safra, eliminando a possibilidade de equacionamento das contas
das propriedades.
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Uma das alternativas que encontra consenso entre pesquisadores nacionais é a produção de leite a partir do
uso intensivo de pastagens tropicais. Neste modelo de produção a principal atividade a ser considerada pelo
produtor é a produção de forragem de boa qualidade, capaz de suprir as necessidades alimentar do rebanho
(MATOS, 2005).
Além da adoção de um sistema produtivo eficiente, o pecuarista leiteiro precisa aprender a controlar os dados
zootécnicos de sua propriedade afim de torná-la competitiva. Fatores como preço da energia utilizada, custos
de financiamentos, remuneração da mão-de-obra, custos de insumos e grãos são itens que compõem o custo
econômico da atividade (ARÊDES et al., 2006).
A pecuária leiteira como agronegócio
A pecuária leiteira, a despeito de outras atividades, sejam elas agropastoris, industriais ou comerciais, precisa
ser encarada como um negócio empresarial. O produtor de leite deve se conscientizar e/ou ser conscientizado
que mesmo que sua produção seja diminuta, ele está inserido em uma economia de mercado e, portanto, está
susceptível a todos os humores da economia nacional e global (BARONI, 2002).
O produtor leiteiro, mesmo aquele que tem apenas parte de sua renda oriunda desta atividade, deve entender que tanto o preço que lhe é pago pelo litro de leite, quanto o preço dos insumos que lhe são indispensáveis
para a manutenção de sua atividade e de sua propriedade, estão intimamente ligados as ocorrências no mercado internacional. Este fato exige que o produtor atual possua conhecimentos sobre economia, mercado de
valores e tenha boas noções de como estabelecer os custos de sua atividade (BARONI, 2002).
É certo que estar inteirado das ocorrências econômicas mundiais e nacionais, não é garantia de sucesso
na atividade, mas ajuda a pavimentar boa parte do caminho que leva a rentabilidade e ao lucro (WEDEKIN e
CASTRO, 2002).
O entendimento de que a propriedade leiteira precisa ser encarada como um empreendimento empresarial
está intimamente ligada a educação dos proprietários. Não é possível ensinar conceitos básicos de economia e
matemática financeira, conhecimentos indispensáveis para uma gestão razoável de qualquer empreendimento,
a indivíduos analfabetos ou com escolaridade básica. Logo, este é mais desafio dentre tantos que se apresentam
na cadeia produtiva do leite nacional (WEDEKIN e CASTRO, 2002).
A medida que o pecuarista leiteiro entende que sua missão é produzir leite e isto, portanto, torna-se sua
profissão, ele passa a enxergar sua ocupação como uma atividade econômica, tendo como objetivo principal a
obtenção de lucro e o item primordial para a obtenção de lucro é o estudo do custo de produção e de formas
de reduzi-lo (MATOS, 2005).
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Custos na pecuária leiteira brasileira
O comportamento dos custos da pecuária leiteira são extremamente divergentes conforme a região que
ao propriedade está localizada devida as diferenças edafoclimáticas. Por isso, somente estudos regionalizados
possuem a capacidade de ofertar informações válidas e seguras, e estas devem ser consideradas tão somente
para a região em questão, a extrapolação de seus dados para outras áreas é praticamente inviável. Isto decorre
basicamente de duas características que a pecuária leiteira possui no país, quais sejam a abrangência nacional
e a grande variabilidade nos sistemas de produção praticados. A dispersão das áreas produtoras nacionais pode
ser observada pela figura 1(ASSIS et al., 2005).
Figura 1- Áreas produtoras de leite no Brasil e o percentual produzido. Fonte: IBGE (2006) apud Medeiros
(2008).
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Outro ponto que torna difícil a análise de custos na pecuária leiteira, conforme Gomes (2007) são suas características, tais como produção simultânea de leite e de animais; elevada participação de mão-de-obra familiar
(a apropriação destes custos por vezes esbarra na subjetividade); produções díspares ao longo do ano; altos
investimentos em terras, benfeitorias, máquinas e animais (itens que também se tornam subjetivos), além da falta
de informações ou coleta de informações contraditórias.
Os próprios modelos de procedimentos metodológicos para a apuração de custos na pecuária leiteira tornam-se motivo de controvérsia entre os diferentes estudiosos do tema. Desta forma, a elaboração de custos na
pecuária nacional, caracterizada por inúmeros meandros, representa uma tarefa que precisa ser cumprida em
partes, observando as peculiaridades de cada região e os modelos de extração leiteira (GOMES, 2007).
Na pecuária leiteira nacional identifica-se 4 tipos básicos de exploração leiteira. O sistema extensivo que
comporta animais com produção de até 1.200 litros de leite/vaca/ordenha/ano, com animais alimentados exclusivamente a pasto; sistema semi-extensivo, onde a produção varia entre 1.200 a 2.000 litros/vaca/ordenha/
ano e os animais são mantidos a pasto, mas recebem suplementação volumosa nas épocas de menor produção
das forragens; sistema intensivo a pasto, o qual abrange animais com produção entre 2.000 e 4.500 litros/
vaca/ordenha/ano, e que além do pastoreio em forragens de alta qualidade e capacidade de suporte recebem
suplementação volumosa, em parte ou durante o ano todo; e o sistema intensivo em confinamento. Neste sistema são mantidos animais com produção a partir de 4.500 litros/vaca/ordenha/ano. Os animais permanecem
confinados e recebem no cocho toda a sua alimentação, desde volumosos até concentrados (ASSIS et al., 2005).
As diferenças de custo de produção e de rentabilidade variam entre os diferentes modelos de extração leiteira. É inegável que os animais utilizados no sistema extensivo são inferiores zootecnicamente do que aqueles
mantidos em confinamento. Essa constatação denota menor investimento em animais e instalações, bem como
na aquisição e/ou produção de alimentos, contudo, é igualmente menor a rentabilidade e o valor recebido pelo
litro de leite quando comparado com sistemas que adotam animais mantidos em sistema intensivo a pasto ou
mesmo em confinamento (ASSIS et al., 2005).
Apesar da precariedade do sistema extensivo e da pequena rentabilidade, 8,9% dos produtores nacionais
adotam essa forma de produção e respondem por 37,7% da produção nacional, ao passo em que o sistema
considerado mais apurado tecnologicamente, o confinamento, é mantido por uma parcela < 0,1% dos produtores e ainda sim é responsável por 4,6% da produção leiteira (ASSIS et al., 2005; SILVA et al., 2008).
Após a estabilização da moeda brasileira, em 1994, o número de produtores que se utilizavam de consideráveis níveis tecnológicos começou a decrescer gradativamente, pois, os produtores de leite depararam-se com
uma nova realidade. A estabilidade econômica, desejada por muitos durante longas décadas, trouxe para o
setor leiteiro dificuldades antes desconhecidas. Em geral os custos de produção aumentaram gradativamente,
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enquanto que a remuneração paga pelo litro de leite não acompanhou tal evolução. Essa realidade fez com que
inúmeros produtores, sobretudo aqueles que adotavam sistemas altamente tecnificados, atravessassem dificuldades financeiras (GOMES, 2007; SILVA et al., 2008).
Analistas do mercado lácteo apontam que esse processo no curto prazo, à época, trouxe uma queda na
qualidade do leite produzido, o qual somente após 2001 voltou a ser motivo de preocupação de produtores e
da indústria. Demandando assim uma produção de leite com maior qualidade em nutrientes (lipídeos) e sanitária
o que demanda aumento dos investimentos (SILVA et al., 2008). Por diversas razões como descapitalização do
setor e por oscilação no preço do produto pouco se avançou em termos de qualidade de nutriente.
No entanto, apesar da demanda por maiores níveis de nutrientes como teor de gordura e teor de proteína,
poucas empresas praticam o pagamento por qualidade do produto recebido o que reflete diretamente no setor
produtor que não se estimula por tal prática (MARTINS et al., 2003).
A manutenção da viabilidade econômica da atividade leiteira passa necessariamente por dois pontos, os
quais podem atuar em conjunto ou separadamente, quais sejam a redução de custos e/ou aumento da produtividade. Contudo, o primeiro passo para qual atividade agropecuária lucrativa começa na organização dos custos
de produção da propriedade e avaliação financeira da atividade leiteira devem ser constantes (BARONI, 2002;
LOPES et al., 2005).
O desconhecimento do produtor sobre os seus custos compromete decisões quanto a alternativas de emprego dos fatores de produção. Esta ocorrência é de extrema gravidade, uma vez que, a unidade produtora tem
na eficiência produtiva a condição necessária para a sobrevivência e crescimento dentro de uma economia de
mercado, na qual os custos ajustam-se aos preços praticados. Desta forma, para produzir com baixo custo, o
produtor precisa combinar os recursos materiais que dispõem (terras, instalações, mão-de-obra, alimentos, etc.)
com a eficiência da produção e os valores recebidos pelo leite produzido. O fechamento desta equação exige
que o resultado final seja o lucro (GOMES, 2007; MARQUES et al., 2002).
Uma das principais formas de se mensurar a eficiência da produtividade é comparar os resultados obtidos
com outras propriedades que produzem em sistemas semelhantes e sob condições próximas. Uma ocorrência
relativamente comum no setor produtivo leiteiro é o produtor alcançar a eficiência em termos produtivos, porém,
não em termos econômicos a qual, em última análise, ditara o rumo da atividade (ARÊDES et al., 2006; LOPES
et al., 2005).
A obtenção de lucro, proveniente da venda da produção, é determinada pela capacidade produtiva do estabelecimento. A maior ou menor rentabilidade estará ligada aos custos de produção. A capacidade produtiva
máxima refere-se ao nível em que os custos são reduzidos ao mínimo e os lucros elevados ao máximo. O conhecimento deste item é indispensável para o produtor, pois permite que seja elaborada uma escala de produção e
o produtor passe a trabalhar dentro de um nível ótimo onde a atividade torna-se lucrativa (ARÊDES et al., 2006;
LOPES et al., 2005; MARQUES et al., 2002).
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A análise econômica da atividade leiteira deve ser uma constante, pois, somente através dela é possível
utilizar os fatores de produção, tais como terra, trabalho e capital e identificar onde se localizam os pontos de
estrangulamento, os quais inviabilizam ou retiram parcela considerável da lucratividade, além do que os custos
de produção estão diretamente ligados ao nível tecnológico utilizado na propriedade (ARÊDES et al., 2006).
Lopes et al. (2005), pesquisando propriedades leiteiras na região de Lavras com diferentes níveis tecnológicos (baixo, médio e alto), inicialmente se propuseram a estudar 16 casos, contudo, em coleta prévia de dados,
verificou-se que do total de propriedades selecionadas (16), cinco delas não atingiam ponto de equilíbrio, ou
seja, tinham seu custo de produção superior a renda obtida. Essa constatação demonstra o quão subserviente é
o sistema de produção leiteira brasileiro. As demais propriedades, apesar de obter ponto de equilíbrio, no momento da execução da pesquisa, demonstram que percorrem um processo de descapitalização, o qual no médio
e longo prazo tornará a atividade inviável. Neste estudo, as propriedades produtoras de leite a pasto saíram-se
melhor economicamente que aquelas tecnificadas, apesar de produzirem um volume menor.
Silva et al. (2008), ao pesquisar uma propriedade leiteira, na qual desenvolveu-se diferentes sistemas produtivos, desde o leite a pasto até produções suplementadas em 100% da alimentação, também concluíram que
a produção a pasto é a mais lucrativa, embora produza menos que os demais modelos nos quais os animais
recebem suplementação alimentar. Contudo, a exemplo de Lopes et al. (2005), os autores chamam a atenção
para o processo de descapitalização pelo qual os produtores leiteiros atravessam, o que a longo prazo torna a
atividade insustentável.
Estudos conduzidos pela Embrapa Gado de Leite demonstraram que a produção de leite a pasto, com animais de alto potencial produtivo, apesar de produzir cerca de 20% menos leite que o sistema de confinamento,
quando bem conduzido, chega a ser até 50% mais lucrativo (ASSIS et al., 2005; SILVA et al., 2008).
Arêdes et al. (2006), comparado propriedades tecnificadas ressalta que apesar de possuírem um maior custo
operacional variável, tem seu custo total reduzido, por produzirem em maior escala e com mais qualidade, consequentemente recebem melhores preços pela produção.
Schiavon et al. (2008), ressaltam que a produção leiteira só se torna lucrativa quando se considera a propriedade como um todo considerando a venda de animais (vacas de descarte, machos de engorda e novilhas não
utilizadas na reposição) para manter o saldo positivo. Este fato demonstra que a produção leiteira, deve procurar
trabalhar em um sistema integrado diversificando a produção como toda a cadeia de produtos agropecuários.
Gomes (2007) descrevem que a necessidade de venda de animais concomitante com a produção de leite, a fim
de, tornar a atividade leiteira rentável.
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Considerações finais
A produção de leite é um dos grandes geradores de renda e emprego para a economia nacional, contudo,
desordens em sua cadeia produtiva provocaram abalos na saúde financeira da produção o que pode levar a
inviabilidade da produção (ZOCCAL et al., 2007).
A concentração da renda nas mãos da indústria tem levado ano após ano a descapitalização dos produtores.
Essa constatação comprovada por diversos estudos demonstra que no médio e no curto prazo a atividade tende
a entrar em colapso.
A falta de proteção do produto nacional, com a premente possibilidade de importações de produtos produzidos com menor custo e mais tecnologia, além de colocar em xeque a produção nacional, desestimula o investimento na produção brasileira, perpetuando um modelo que apesar de contar com exceções, é arcaico e de má
qualidade, sobretudo quando comparado com outros países de histórico produtor leiteiro.
A resolução das dificuldades encontradas na cadeia produtiva do leite, sobretudo o equacionamento da viabilidade econômica, são atividades prementes de toda a sociedade, uma vez que a renda e o emprego gerados
pelo setor contribuem sobremaneira para o giro da economia nacional. Uma pecuária leiteira fraca e a mercê
dos humores de mercado, tendo que competir com países que se utilizam de maior tecnologia, que produzem
mais com um custo menor e ainda recebem subsídios, tende a retirar renda do campo e agravar o problema nas
cidades, pois contribuirá para o êxodo rural.
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REFERÊNCIAS
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