Universidade Presbiteriana Mackenzie
REDES SOCIAIS E TERCEIRO SETOR, UM ELO PODEROSO NA ERA DIGITAL
Luiz Felipe Pereira Chaguri (IC) e Fred Izumi Utsunomiya (Orientador)
Apoio: PIBIC Mackenzie/MackPesquisa
Resumo
O trabalho apresenta um estudo de caso de uso das redes sociais na internet como uma estratégia
para uma Organização Não-Governamental do Terceiro setor – no caso o Greenpeace / Brasil –
divulgar seus objetivos e ações.
Palavras-chave: redes sociais, terceiro setor, Internet
Abstract
The paper presents a case study of use of social networks as a strategy for a Non-Governmental
Organization of the Third Sector - in this case Greenpeace / Brazil - to disclose their objectives and
actions.
Key-words: social networks, third sector, Internet
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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011
Introdução
O Terceiro setor é composto por instituições e organizações orientadas para causa sociais e
não por propósitos financeiros, como são as empresas com fins lucrativos. Parte de uma
visão tripartite da sociedade, baseada no critério de base econômica: o Primeiro setor é
composto pelo Estado e por organizações governamentais e instituições públicas; o
Segundo setor é definido pelas empresas que visam lucro, também identificado como de
forma genérica como “mercado”. O Terceiro setor se caracteriza por se basear em iniciativas
cujos atores sociais envolvidos percebem a participação e colaboração de voluntários, da
comunidade e da sociedade como um meio eficaz para a realização de transformações
sociais. Segundo a especialista em Terceiro Setor, Simone de Castro Coelho, esse setor
...engloba um conjunto de organizações sociais sem fins lucrativos
(associações, fundações, institutos etc.), presentes desde longa data em
nossa sociedade, com uma atuação voltada ao atendimento das
necessidades da população e unidas por uma mesma legislação
reguladora. [...] O terceiro setor pode ser definido como aquele em que as
atividades não seriam coercitivas nem voltadas para o lucro [...] suas
atividades visam ao atendimento de necessidades coletivas e, muitas
vezes, públicas” (COELHO, 2000, p.17, p.40).
A divisão da sociedade em três setores, ajuda na compreensão do fenômeno social da
interrelação entre eles, mas é importante saber que essa relação nem sempre é harmônica:
às vezes é dialética e contraditória, pois o Terceiro setor ora está em consonância com um
outro setor, ora contra ele, como apresentam Ruben César Fernandes (FERNANDES, 1994)
e Francisco Paulo Melo Neto (MELO NETO & FROES, 2001).
As Organizações Não-Governamentais – as ONGs – hoje são responsáveis por orientar
pessoas e organizações para ações visando o bem social, disponibilizando oportunidades e
desafios. Essas organizações vêm aparecendo com destaque no cenário das redes sociais
como Twitter1 e Facebook2, divulgando seus trabalhos e organizando as empresas de uma
forma mais responsável e sustentável.
Uma rede social é definida como um conjunto de elementos: atores
(pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e suas conexões
(interações ou laços sociais) [...] Uma rede, assim, é uma metáfora para
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Twitter é uma rede social existente na internet, que permite aos usuários enviar e receber atualizações
pessoais de outros contatos (em textos de até 140 caracteres, conhecidos como "tweets"), por meio do website,
por SMS (telefonia celular) e por softwares específicos de gerenciamento.
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Facebook é a rede social existente na interntet mais acessada no mundo. Tem mais de 500 milhões de
usuários e foi lançada em 4 de fevereiro de 2004, por Mark Zuckerberg.
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observar os padrões de conexão de um grupo social, a partir das conexões
estabelecidas entre os diversos atores. (RECUERO, 2009, p. 24)
As redes sociais não são randômicas (aleatórias). Existe um tipo de ordem e lógica nelas.
Pessoas com gostos ou semelhanças entre si, possuem mais chances de se conhecerem e
formarem uma rede do que aquelas que se não têm afinidades (GRANOVETTER, apud
RECUERO, p.62). As redes sociais, portanto, são formadas com uma lógica de afinidade e
proximidades dos atores sociais.
Uma rede social é composta por atores. O ator está sempre em constante transformação.
Isso ocorre no Facebook, Orkut3, Twitter e em outras redes sociais da internet.
As redes sociais nem sempre foram digitais, antes os serem humanos sempre se
relacionaram em rede, ajudando-se mutuamente, há muitos séculos. Hoje, o que se pode
ver de novo nas redes sociais é a velocidade e a capacidade de construção conjunta que
não havia tempos atrás, devido às facilidades que a rede internacional de computadores,
com seus websites que possibilitam a formação de grandes redes sociais internacionais,
até, implementou no cotidiano das pessoas do século 21. Este trabalho tem como foco o uso
das redes sociais como instrumentos e ferramenta para o desenvolvimento de ações de
organizações do Terceiro setor.
O problema de pesquisa deste trabalho é responder à seguinte questão: como as ONGs têm
usado a dinâmica das redes sociais da internet estrategicamente em seus objetivos?
O objetivo principal deste projeto é apresentar um breve estudo de caso.
1.
Referencial teórico
O desenvolvimento das tecnologias da informação, configurado na “Sociedade da
Informação,
ou Sociedade em Rede,
ou Sociedade do Conhecimento”, alterou
significativamente a organização social e as relações entre indivíduos (CASTELLS, 2003).
Para o autor, o paradigma informacional é composto por: informação como matéria-prima,
desenvolvimento das novas tecnologias com ampliação de sua presença na sociedade,
princípio da interconexão, flexibilização dos processos e convergência das tecnologias. O
uso da Internet acarreta alterações no direcionamento, velocidade, volume e espaços que
envolvem o ciclo informacional. Provoca mudanças, também, nas relações sociais entre os
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Orkut rede social pertencente ao Google, criada em 24 de Janeiro de 2004 cujo nome vem do engenheiro turco
Orkut Büyükkökten, criador da plataforma. Possuia cerca de 32 milhões de usuários no Brasil em fevereiro de
2011, um número muito superior aos 18 milhões de usuários brasileiros do Facebook.
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indivíduos. “A internet parece ter um efeito positivo sobre a interação social, e tende a
aumentar a exposição a outras fontes de informação” (CASTELLS; 2003).
A sociedade, a comunicação e as relações interpessoais estão mudando radicalmente com
as inovações tecnológicas e as facilidades proporcionadas por elas. Internet e celulares são
as principais protagonistas destas mudanças. Evoluindo surpreendentemente rápido. Os
jovens, a geração que cresceu e convive diariamente com essas mudanças, é o melhor
espelho dessas transformações. “A internet não é simplesmente uma tecnologia, é um meio
de comunicação, a infra-estrutura de uma forma organizacional: a rede” (CASTELLS; 2003),
pois além de estabelecer um importante papel na estruturação de relações sociais, contribui
para um individualismo e grupos sociais de interesses mais específicos.
Para Lemos (2006) o mundo hoje se encontra inserido na era dos portáteis, da cibercultura
e da mobilidade, onde a Era da Informação é atualmente substituída pela Era da Conexão.
A fase atual de conexão e mobilidade é caracterizada pela computação ubíqua, pelos
objetos sencientes, pelos computadores pervasivos e pelo acesso sem-fio, mostrando a
emergência da era da conexão e da relação intrínseca entre espaços físicos e espaço virtual
(LEMOS, 2006).
Segundo o autor mencionado os processos de desterritorializações implicados na
mobilidade traduzem também outros processos de territorializações que produzem
movimentos constantes de controle e acesso à informação.
Recuero (2006) define rede social como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas,
instituições ou grupos) e suas conexões. Trata- se, assim, de uma abordagem focada na
estrutura social. A abordagem de rede é importante porque enfatiza as conexões entre os
indivíduos no ciberespaço. A conexão apresentada entre dois atores em uma rede social é
denominada laço social. Um laço é composto por relações sociais, que por sua vez, são
constituídas por interações sociais. Uma interação social é aquela ação que tem um reflexo
comunicativo entre indivíduo e seus pares. O conceito de laço social implica interação
social, laço relacional, Associação, relações sociais, sentimento de pertencimento, laço
associativo.
As principais formas de Redes Sociais são: Weblogs, Facebook, Orkut, Twitter, Fotolog,
Smart Mobs. Este trabalho enfatizará Orkut, o Facebook e o Twitter
2. Metodologia
Dado o caráter do problema investigado nesta pesquisa, o método escolhido foi a pesquisa
qualitativa,
realizada
através
de
entrevistas.
Inicialmente foram feitas
pesquisas
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bibliográficas em livros, artigos, sites e posteriormente foram realizadas as pesquisas de
campo.
A pesquisa qualitativa possui dois tipos de abordagem – a direta e a indireta. Na abordagem
direta, o objetivo do projeto é revelado aos respondentes, ou então se torna óbvio pelas
próprias questões formuladas. Os grupos de enfoque e as entrevistas em profundidade são
as técnicas diretas mais importantes. Em contraste, a pesquisa que toma a forma de uma
abordagem indireta disfarça o verdadeiro objetivo do projeto. As técnicas projetistas,
técnicas indiretas comumente usadas, consistem de técnicas de associação, de
completamento, de construção e expressivas (MALHOTRA, 2004, p.156).
Malhotra (2004) denomina o tipo não-estruturado de entrevista de profundidade. As
entrevistas em profundidade devem ser realizadas uma a uma, e são indicadas para se
levantar ou detectar opiniões, e fatores psicológicos: Entrevista de profundidade: uma
entrevista não-estruturada, direta, pessoal, em que um único respondente é testado por um
entrevistador altamente treinado, para descobrir motivações, crenças, atitudes e sensações
subjacentes sobre um tópico (MALHOTRA, 2004, p.163). Neste trabalho foi utilizada
entrevistas em profundidade, com perguntas preestabelecidas e organizadas.
A ONG escolhida para este trabalho foi o Greenpeace, e entrevista foi realizada com
Eduardo Santaela, webmaster da organização, no dia 18 de abril de 2011. O conteúdo total
da entrevista foi transcrito e está disponível em anexo à parte.
3. Facebook x Orkut
Nos últimos meses da pesquisa ouve um crescimento imenso do Facebook no Brasil. A rede
social que possui mais usuários em todo mundo ainda tinha poucos usuários no país, se
comprado ao Orkut. Em gráfico do site veja.com.br, é possível verificar uma freada no
crescimento da rede social do Google e um crescimento acelerado do Facebook. Em
Setembro de 2010 o Orkut tinha 31,5 milhões de visitantes únicos, enquanto o Facebook
tinha apenas 10,8 milhões. Ao longo dos meses até a contagem em Fevereiro de 2011 a
rede de Mark conseguiu um aumento incrível, se aproximando de 18 milhões de visitas
enquanto o Orkut se manteve estável com 32, 4 milhões de visitas. (SBARI, 2011)
Esses dados talvez se justifiquem pelo maior número de ferramentas que o Facebook
possui. Com mais programas, jogos, privacidade, interação com seus amigos e atualizações
fazem com que possivelmente o público brasileiro aos poucos fosse modificando a sua
maneira de atuar em uma rede social. O fato de usuários poderem criar aplicativos para a
rede, é um dos diferenciais que torna a plataforma mais interessante.
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O Orkut não agrega muitas novidades para a vida cotidiana fora de sua rede de
relacionamentos. Já o Facebook permite construir uma imagem pessoal para um futuro
emprego, pode obter informações úteis para pesquisas etc. O público do Orkut talvez tenha
se cansado de apenas se divertir com o jogo “Colheita Feliz” e tenha resolvido entrar em
uma rede com maior possibilidade de interação.
Apesar disso, o Orkut no Brasil tem o maior número de usuários (quase o dobro do
Facebook), com certeza pelo fato dessa rede social ter sido a primeira a desembarcar no
país, formando uma grande rede, que só agora começa a se interessar pela rede social
concorrente.
4. Publicidade em redes sociais: o caso do Orkut
Na rede social do Orkut, essa caracterização dos atores, também conhecidos como
“usuários” era identificada a partir do que cada pessoa colocava em seu perfil. Um garoto
apaixonado por futebol que tivesse várias comunidades de futebol, receberia várias
propagandas de empresas relacionadas ao assunto como Nike, Adidas, Puma e etc. Caso
não fosse possível perceber os gostos por comunidades, já que no Orkut muitas pessoas
entravam em centenas de comunidades porque a rede permitia, o Google poderia pegar as
informações de cada usuário em seu perfil e relacionar a descrição das paixões, interesses,
religião, esportes etc. para selecionar a melhor propaganda para seu usuário.
Cinthia Assali, especialista de produtos do Orkut em palestra postada no Youtube4, afirma:
“Nós temos uma parte de segmentação muito boa, temos muita informação
dos usuários. Os usuários dão várias informações para o Google e o que
nós queremos fazer é com que vocês consigam usar essa informação de
um jeito proveitoso para fazerem suas campanhas, que o objetivo de vocês
seja atingidos. Independente se vocês quererem alcance ou relevância, a
segmentação consegue ser feita na plataforma do Orkut. Estamos
preparando uma plataforma boa de publicidade que os usuários gostem dos
anúncios e que os anunciantes também atinjam os objetivos deles.”
Nessa época (29/7/2009), existia apenas um espaço de publicidade no Orkut, no canto
superior direito da página inicial do seu usuário. O banner era um dos tipos de publicidade
mais comuns, e o anunciante ficava em destaque na página do seu possível cliente. “Por
estar sozinho ali na página, o usuário tem tudo para prestar atenção na sua propaganda”
dizia Cinthia. A segmentação dos usuários poderia ser feita por um filtro demográfico, por
4
Vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=BFVRR6ksWd0. Acesso em 12/12/2010.
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interesse, contexto através de palavras-chave. Se o banner não era algo tão inovador, o que
mais chamava atenção dos publicitários era a maneira que usado o filtro. O mais inovador
era colocar a sua propaganda em um determinado horário. Se o anunciante tivesse o
interesse de divulgar o seu produto somente na hora do almoço era possível. O filtro
geográfico que determinava a região geográfica do país ou até do planeta que se gostaria
de anunciar também era uma das opções além do filtro demográfico que não obtinha muito
sucesso pois muito usuários não colocavam corretamente sua idade visto que o Orkut só
começava a contabilizar a idade da pessoa a partir dos 18 anos.
Algumas curiosidades sobre os anúncios com relação a valores: a propaganda mais barata
em 2009 tinha o valor de 15 mil reais e os “RoadBlocks” (publicidade de duas horas que
abrangia todo o Orkut do período das 11h até as 13h) tinha o valor de 16 mil reais. O das
17h às 19h custava 20 mil reais para o investidor. Era realmente um começo, mas que já
rendia muito ao Google. Ainda não havia vídeos publicitários e apenas imagens ou arquivos
em formato Flash eram aceitos. Segundo um estudo feito pela ComScore Media Metrix,
mais de 24 milhões de usuários eram considerados ativos, ou mais de 70% da população
brasileira que acessava a internet das mais de 26 bilhões de páginas vistas no Brasil a cada
mês. Segundo essa fonte e o www.orkut.com.br/advertise os usuários em média, visitavam
suas páginas iniciais 42 vezes por mês e passavam mais de 9 minutos em cada acesso.
As redes sociais Facebook e o Twitter também possuem modalidades de publicidade
semelhantes, mas a cada período o modelo de anúncio tem se atualizado.
O Terceiro setor teve um bom tempo para se adaptar a essa oportunidade de novo modelo
de negócio do Orkut, mas é muito complicado para empresas que vivem de doações para se
sustentar, pagar pelos espaços publicitários. Muitas pessoas chegaram a entrar nas
comunidades das ONGs, porém poucos participavam dos fóruns da comunidade. E isso
permanece até hoje. Desde 2004 até 2011 os perfis de muitas ONGs não souberam
explorar esse modelo de publicidade do Orkut pois ainda não havia um laço, uma ligação
entre o usuário e a ONG. Ambos estavam presentes na mesma plataforma – Orkut – porém
não se articulavam com clareza.
Isso mudou em outras redes sociais como o Twitter e Facebook. O Greenpeace é um
destaque de sucesso nas mídias sociais. Tanto no Twitter quanto no Facebook a ONG
consegue divulgar seus eventos e mobilizar seu público.
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5. O caso do Greenpeace
Antes de explicar a atuação da empresa nas redes, é importante fazer um registro sobre a
história do Greenpeace no Brasil e no mundo. Segundo informações disponibilizadas no site
http://www.greenpeace.org.br5:
“O Greenpeace é uma organização global e independente que atua para
defender o ambiente e promover a paz, inspirando as pessoas a mudarem
atitudes e comportamentos.“ [...] “Investigando, expondo e confrontando
crimes ambientais, desafiamos os tomadores de decisão a rever suas
posições e adotar novos conceitos. Também defendemos soluções
economicamente viáveis e socialmente justas, que ofereçam esperança
para esta e para as futuras gerações.” [...] “Nossos valores são a expressão
dos princípios que nos guiam e que acreditamos. Utilizamos estes valores
para guiar o desenvolvimento de nossas campanhas, comunicação e
mobilização de recursos. Nossos valores atuais são: Independência, Não
violência, confronto pacífico e engajamento.”
Essas quatro palavras (Independência, Não-violência, engajamento e confronto-pacífico)
são chaves para o Greenpeace e realmente dão o tom e caráter da instituição. Em
entrevista concedida para este trabalho, o webmaster do Greenpeace Eduardo Santaela
esmiuçou muitas das características da ONG que servem de exemplo para outras que
pretendem se especializarna área não só de redes sociais mas também de mídias digitais.
“Nós temos dois caminhos de mobilização, as redes sociais e o
ciberativismo. Nas redes sociais é mais no quesito de mobilizar, chamar as
pessoas para irem atrás de um objetivo junto com a gente. Fazemos isso
mais para o público saber o que está acontecendo, do que propriamente
divulgar a marca da empresa ou o evento”.
Uma das inovações do Greenpeace, sem dúvida é o Ciberativismo. Com ele, pessoas
podem contribuir com as causas, sem sair de casa e ainda podem mobilizar mais pessoas a
participarem das iniciativas do Greenpeace.
“Ciberativismo são 320 mil pessoas nessa base. As pessoas que sempre
nos apóiam e colaboram com a gente são umas 100 mil que estão em
várias causas conosco e temos um público realmente fiel que está em
quase todas as bases conosco, mandam email regularmente, enfim sempre
estão com a gente. Ciberativista não é necessariamente um colaborador
que vai as ruas nas manifestações. Ele pode estar engajado com as causas
5
http://www.greenpeace.org/brasil/pt/quemsomos/Missao-e-Valores-/ acesso em: 28/01/2011.
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e ações do Greenpeace mas nem sempre pode estar presente fisicamente
em uma passeata por exemplo. mas é aquele que pode estar online
trabalhando com a empresa. É uma pessoa que assina nossas petições,
que divulga as nossas ações via email ou nas redes sociais dele e a pessoa
que faz a pressão em cima do alvo que a gente tem. A gente busca criar
ciberativistas mas é uma situação que vai acontecendo naturalmente com o
nosso parceiro. Só da pessoa ter o interesse de mudar a realidade e
repassar algo no face ou Twitter ele já está nos ajudando e depois pode
também vir a ser um colaborador financeiro também. Quando nós fazemos
o monitoramente e percebemos que a pessoa está realmente envolvida, da
Retweets, publica em seu mural do Facebook várias coisas, nós entramos
em contato com essa pessoa pra trabalhar a parte de mobilizadores de
bloco. Percebemos uma certa influencia da pessoa pra divulgar o nosso
conteúdo”.
Sobre as últimas causas em que o Greenpeace participa, uma que merece destaque é a
tentativa de frear a mudança no Código Florestal proposta por Aldo Rebelo do (PCdoB-SP).
Segundo as ONGs ambientalistas como o Greenpeace, SOS Mata Atlântica e WWF, a
mudança acarretaria em uma grande diminuição da área de preservação ambiental
brasileira. As redes sociais foram os principais locais onde o Greenpeace se manifestou
contra a decisão do político.
Através do cibertativismo, o Greenpeace já postava o email e contatos do deputado Aldo
Rebelo para que os seus seguidores já se conectassem com “alvo”. Rebelo, segundo
Eduardo é o deputado que mais tem capacidade para mudar a proposta do Código Florestal
e foram 88 mil email assinados como petição e Aldo Rebelo acabou se manifestando,
tentando explicar a situação.
“O cara tem que ver que não é só uma organização ou um editorial de jornal
criticando ele, é uma série de pessoas da sociedade civil. Nós também
pedimos para as pessoas escreverem no Twitter do Aldo Rebelo e fazerem
os questionamentos sobre o código florestal. Ultimamente as pessoas
públicas estão usando mais as redes sociais, alguns acabam colocando um
assessor pra operar, mas nem sempre o resultado é bom e como Aldo cuida
do próprio Twitter, o resultado foi positivo.”
Eduardo complementa dizendo que o “Twitter é uma ótima ferramenta, pois algumas
pessoas acabam excluindo emails mandados por determinadas empresas, outros vêem que
está escrito “Greenpeace” e já ativam o anti-spam. No Twitter a pessoa está exposta para
todos verem, não é tão fácil se omitir em questões desse porte”.
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No Facebook Eduardo explica que a empresa coloca mais conteúdo, matérias detalhadas,
parecidas com as do site. “Posts” do blog, notícias, galeria de fotos de algum protesto,
vídeos e na rede de Mark Zuckerberg o Greenpeace consegue obter um grau maior de
integração entre o público, pois as pessoas publicam no seu mural, ativam o “curtir”,
questionam notícias, mandam-nas para os amigos, publicam fotos e vídeos.
“No Facebook nós vemos que as pessoas querem se envolver de fato. Mais
do que ajudar financeiramente o Greenpeace, as pessoas gostam de
aparecer na timeline do Greenpeace, é interessante para esse usuário”.
A instituição raramente paga por espaços publicitários na mídia e nas redes sociais não é
diferente. Ela aproveita do popular “calhau” (área vaga que sobra pela falta de anúncios,
matérias ou outro material editorial publicável) de alguns veículos.
“Dificilmente compramos espaços, a não ser que seja realmente necessário.
Com os nossos blogs parceiros sempre há boa divulgação e com as redes
socais as nossas idéias ficam muito evidentes, visto que não há limites hoje
na comunicação. Custa muito caro para uma organização que trabalha com
dinheiro de pessoa física gastar 100 mil reais por um espaço na mídia”.
6.
Política de doações do Greenpeace
No Brasil ainda há uma insegurança nas doações e é contra isso que as ONGs do Brasil
continuam lutando. Talvez pelo país já ter passado por vários casos de corrupção em sua
história, o brasileiro ainda pensa duas vezes antes de fazer uma doação para uma ONG. A
melhor maneira pensada por algumas delas é vincular realmente o seu doador à
organização, prestando contas e mostrando para o investidor onde seu dinheiro está sendo
aplicado.
A cultura no Brasil de doações é meio difícil. Pedir dinheiro na rua não é
fácil então dependemos também da ajuda financeira do Greenpeace
internacional. É mais uma questão de cultura a pouca prática de doações.
Nós temos grupos de pessoas que ficam nas ruas e buscam doações
porém as doações que dão mais certo são as mensais porque aí a pessoa
vira uma parceira da empresa que se propõe a dar retorno sobre o
investimento da pessoa e colocamos os números de gastos que tivemos no
ano. Muitas vezes colocamos em pauta, objetivos de campanhas que o
doador pode nos ajudar. Um exemplo seria uma grande bandeira em
Brasília para que os políticos vissem a nossa atuação. Para a construção
dessa imensa bandeira fazemos um orçamento de quanto vamos gastar e
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divulgamos o valor para que tenhamos doações. Existem várias maneiras
de você coletar dinheiro, é que nós não aceitamos dinheiro de empresas
como, por exemplo, a SOS Mata Atlântica que é uma de nossas parceiras e
recebe doações do Bradesco e em conjunto fecham com o slogan “ Banco do
Planeta”.
As doações, segundo Eduardo, ainda não podem ser feitas pelas redes sociais, mas sim
pelo site. Nas redes sociais existem indicações para as pessoas se vincularem à ONG e
fazerem doações através do site. Há uma ficha que pode ser preenchida para se tornar um
“colaborador”.
7. Protestos e princípios
A última maneira de cobrar e conseguir mudanças são através de protestos. Primeiramente
já é bom frisar que o Greenpeace sempre faz protestos pacíficos e repudia qualquer atitude
de agressões. O que poucos sabem é que um dos criadores da empresa é adepto de
“pancadaria”. Paul Watson, um dos quatro fundadores do Greenpeace acabou se
desvinculando da organização por divergências em opiniões sobre alguns pontos. Eduardo
Santaela, confirmou que Paul acabou criando uma outra ONG, chamada “Sea Sepherd” que
está mais voltada contra a caça as baleias e afundamento de navios que praticam a caça
desses animais marinhos na América do Norte. Paul comprou briga com a ONG e no site
oficial do Greenpeace ele não aparece como um dos fundadores da organização. Em
publicação em seu website americano6, o Greenpeace explica o porquê do afastamento de
Paul em 1977 e a ira que ele tem até hoje contra a organização da qual fez parte por quase
seis anos.
“Paul Watson fez muitos pedidos a público para o Greenpeace revelar a
localização da frota baleeira ou cooperar com o Sea Shepherd no Oceano
Antártico, quando os navios de ambas as organizações foram para lá
simultaneamente. Nós temos o grande desejo de parar a caça, e iremos
fazê-lo pacificamente. É por isso que não vamos ajudar o Sea Shepherd. O
Greenpeace está vinculado a imagem da não-violência e nós nunca, jamais,
vamos mudar isso. Se ajudamos o Sea Shepherd na busca para encontrar a
frota baleeira seríamos responsáveis por qualquer coisa que eles fizessem
e a história mostra que eles já usaram de violência no passado, nos mares
mais perigosos da Terra. Para nós, a não-violência é um princípio não
negociável, precioso. O Greenpeace continuará a agir para defender as
6
Texto traduzido pelo autor do endereço: http://www.greenpeace.org/international/em/about/history/
paul-watson/ Acesso em 28/01/11.
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baleias, mas nunca vai atacar ou colocar em perigo os baleeiros. Nós
discordamos com Paul Watson sobre o que constitui a violência. Ele afirma
que ninguém jamais foi prejudicado por uma ação do Sea Shepherd. Mas o
teste de não-violência é a natureza de sua ação, não se os resultados
provocaram danos ou não. Há muitos atos de violência - por exemplo,
segurando uma arma na cabeça de alguém - que resulta em “nenhum
dano”. Mas isso não muda a natureza da abordagem. Nós acreditamos que
jogar ácido nos baleeiros, soltando os cabos para estragar os seus
adereços, e ameaçando afundá-los nas águas geladas da Antártida constitui
violência por causa das possíveis consequências. O fato de que as
consequências não foram concretizadas, é irrelevante. Além de ser
moralmente errado, acreditamos que o uso da violência na proteção das
baleias é um erro tático. Se há uma maneira de fortalecer a opinião pública
japonesa e garantir a caça continua, é usar táticas violentas contra sua
frota.”
8. Sea Shepherd Conservation Society
Toda essa rivalidade de Watson com o Greenpeace também fica evidente nas redes sociais.
Apesar do Sea Shepherd ser uma “dissidência” do Greenpeace, a ONG tem o número de
250.000 “curtir” no Facebook enquanto o Greenpeace internacional tem aproximadamente
837.000. Isso demonstra a popularidade da ONG no meio da rede social.
Figura 1 – Logotipo do Greenpeace
Pode-se dizer que o Sea Shepherd não esconde o ar de “organização rebelde”. Fica
evidente na foto do perfil da empresa tanto no Facebook quanto no Twitter, o logo de uma
caveira branca com um fundo negro, no qual estão presentes uma baleia e um golfinho.
Essa caveira “segura” uma espécie de uma lança em que há também o desenho de um
golfinho, passando a imagem de ser uma espécie de organização vingativa aos matadores
ou capturadores de animais marítimos. Já o Greenpeace mostra leveza e em sua home do
Twitter. Ele usa de um certo humor negro para caracterizar uma de suas atividades. Um
rosto espantado com as cores e o símbolo da radioatividade expressam o horror que ela
(radioatividade) vem causando no mundo. Com relação a números o Greenpeace
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Internacional tem 233 mil seguidores aproximadamente, enquanto a afundadora de navios
detém o número de 35 mil.
Figura 2 – Logotipo do Sea Shepherd
9.
Considerações finais
Foi possível perceber através desta pesquisa um grande universo que ainda está por vir na
área de redes sociais. As redes se adaptaram mais aos usuários e vice-versa. Assim como
podemos dizer que a publicidade se adapta a plataforma midiática e vice-versa.
A internet pode ser, portanto, um importante recurso para as redes, representando um
espaço de conexão entre as organizações, otimizando a sua comunicação e informação.
Websites, “chats”, educação à distância, lista de discussões são alguns exemplos da era
digital. (RECUERO, 2006)
Terceiro setor e redes são hoje realidades intrinsecamente relacionadas. O terceiro setor é
essencialmente uma rede e aqui se pode imaginar uma grande teia de interconexões.
(RECUERO, 2006). O caso do Greenpeace ilustra grandemente essa afirmação. A internet
pode ser, portanto, um importante recurso para as redes, representando um espaço de
conexão entre as organizações, otimizando a sua comunicação e informação. Websites,
“chats”, educação à distância, lista de discussões são alguns exemplos da era digital.
(RECUERO, 2006).
Mesmo sendo uma área nova tanto para a publicidade e também para o terceiro setor, as
redes digitais parecem estar mais adaptadas para o modelo publicitário. É só ver a diferença
e o grau de complexidade dos perfis de agências e empresas nas redes. As ONGs ainda
estão se adaptando a um novo modelo de divulgação dos seus compromissos. Isso fica
perceptível porque se o Greenpeace que é uma das ONGs brasileiras que mais investem na
área de redes ainda está “engatinhando” outras empresas, tão grande como ele ainda são
“recém-nascidas” na área.
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As redes digitais são uma nova forma de se fazer a sociedade e isso é muito perceptível
porque como em toda sociedade, as redes são mutáveis em qualquer momento. Hoje um
usuário está no Orkut, mas no mês seguinte ele começa a participar do Facebook. Quando
se acha que tudo está estabilizado, mais transformações aparecem. É por isso que as redes
estão em constante transformação, penetrando no cotidiano das pessoas. As empresas e
organizações estão descobrindo esse potencial comunicativo das redes e têm feito
experimentos e tentativas nessa área.
10. Referências bíbliográficas
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2007
COELHO, Simone de Castro. Terceiro Setor: Um Estudo Comparado Entre Brasil e Estados
Unidos. São Paulo: Editora Senac, 2000.
FERNANDES, Rubem Cesar. Privado porém Público: O Terceiro Setor na América Latina.
Relume-Dumara, 1994.
GRANOVETTER, M. The Strenght of Weak Ties. The American Journal of Sociology, vol.
78, n. 6, p. 1360-1380, maio de 1973.
LEMOS, André. Ciberespaço e Tecnologias Móveis. Processos de Territorialização e
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Luiz Felipe Pereira Chaguri