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TÉCNICA TRADICIONAL GRIP SEGUNDO A DIDÁTICA DO TCHÁ DEGGA DA José Ricardo Bassani Graduando do curso de Licenciatura em música da Universidade do Oeste Paulista. E‐mail: [email protected] RESUMO O presente trabalho aborda o tema Técnica Tradicional GRIP”, segundo John Grant, professor da Seleção Brasileira de Percussionistas – Tchá Degga Da”, e tem por objetivo demonstrar a maior conveniência dessa técnica em relação à técnica convencional nas caixas de marcha. É um tema que ganha espaço considerável em função da aplicabilidade e funcionalidade no meio marcial; dessa forma, a pesquisa pretende indicar a facilitação na prática, no momento da performance, identificando a procedência e visão que a caracterizam, procurando evidenciar os possíveis problemas da técnica convencional, e por fim, analisando e sugerindo procedimentos que melhor oriente ao músico percussionista. Palavras‐chave: Técnica Tradicional Grip, Pegada Tradicional, Caixa. INTRODUÇÃO O Tchá Degga Da – Seleção Brasileira de Percussionista, é um projeto social fundado em julho de 2005, pelo músico e professor norteamericano, John Grant, naturalizado brasileiro. O projeto tem o intuito de ensinar percussão para os músicos de todo o território brasileiro; aborda a leitura musical de partituras, teoria musical e técnicas de execução de caixa, tenor drum e bumbo. Dentre as técnicas e ensinamentos do grupo Tcha Degga Da, a técnica Tradicional Grip é a utilizada pelos integrantes do naipe de caixa, uma vez que essa técnica tem sua modificação na postura para facilitar o músico a tocar o instrumento com maior controle das baquetas em suas mãos. A técnica utilizada hoje tem uma árvore genealógica que procede as bandas de gaita de fole e tambor da Europa antiga. Na era militar norte americana, o exército começou a incluir os instrumentos de percussão em seu arsenal, com o intuito do músico dar a cadência da marcha dos soldados e toques de comando. Os percussionistas simplesmente amarravam os instrumentos com um cordão e pendurava‐os ao corpo. Tempos mais tarde, surgiu o talabarte (cinturão), que era mais cômodo e proporcionava ao instrumento um pouco mais de estabilidade, como resultado o instrumento foi padronizado ao lado esquerdo do músico em um ângulo de quarenta e cinco graus e, a técnica Tradicional Grip começava a surgir (MOELLER, 1956). Ao contrário da técnica convencional, em que as mãos são semelhantes, a técnica tradicional utiliza‐se de duas posturas, a palma da mão direita para baixo, enquanto a esquerda Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012
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virada para o corpo. A Tradicional Grip é quase exclusivamente para se tocar caixa, especialmente caixa de marcha, embora também se encontre essa técnica sendo aplicada por bateristas de Jazz (BROWN, 1976). O fato de o instrumento ser posicionado tradicionalmente ao lado esquerdo do corpo implica que o início dos toques musicais seja com a mão contralateral, a mão direita. Além disso, para a uniformidade de marcha, geralmente utiliza‐se o pé esquerdo para rompimento da marcha, e naturalmente a mão direita vai à frente, dessa forma chega‐se uma igualdade entre os passos dos soldados, o que acaba por facilitar a execução da prática musical. Nesse aspecto, é relevante frisar que a técnica Tradicional Grip ganha espaço considerável em função da aplicabilidade e funcionalidade no âmbito marcial, de forma a acertar a postura do percussionista diante do instrumento. Dessa forma, o presente artigo tem o objetivo de demonstrar a maior conveniência da técnica Tradicional Grip em relação à Técnica Convencional no instrumento caixa de marcha em momento de performance, especificando os adornos de procedência e visão dessa técnica, bem como suas características, buscando evidenciar os problemas da Técnica Convencional, e por fim, analisando e sugerindo procedimentos que melhor oriente ao percussionista. DA TÉCNICA Grip ou pegada é o modo como o baterista ou percussionista segura a baqueta em sua mão. Segundo Rich (1942) a pegada tradicional é oriunda dos tempos de guerras, quando o percussionista tinha que tocar de pé com as baquetas. Muitos bateristas e percussionistas, principalmente os que tocam o estilo jazz, continuam a usar este modo, mas apenas para a mão esquerda. Esse tipo de grip ainda é muito utilizado em bandas marciais e fanfarras. Nesta pegada, a baqueta é passada entre o dedão e o indicador (estes dois dedos desempenhando a função de eixo da alavanca formado pelo conjunto dedos+baqueta) e entre o dedo médio e o anelar (cuja função é controlar a descida e subida da baqueta, através da alavanca). Para Arndt (1983) existem três figuras na pintura, todos eles tocando instrumentos musicais. Um homem de cabelos brancos tocando um tambor, um homem de meia‐idade com uma bandagem na cabeça tocando seu pífano, e um menino baterista olhando com admiração para o senhor de mais idade que está tocando seu tambor. Atrás deles, uma companhia de soldados revolucionários está a marchar. Um dos soldados levanta a primeira bandeira americana Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012
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A imagem a seguir, Spirit of '76 de Archibald MacNeal Willard (1910), mostra execução da técnica. Figura I. The Spirit of ’76. A baqueta então descansa no espaço entre o polegar e o dedo indicador, e os dois dedos fechar em torno da baqueta, com o polegar encostado na primeira articulação do indicador. O dedo médio em seguida, descansa um pouco na parte de cima da baqueta (normalmente a ponta do dedo é o único contato feito). A baqueta então repousa na cutícula do dedo anelar com o dedo mindinho apoiar o dedo anelar abaixo.(WIKIPEDIA EUA, 2012) Segundo Moeller (1956) a sensação deve ser a de que os dedos da mão esquerda estão sacudindo as gotas de água, ou seja, de forma harmônica e relaxada. A técnica experimentada, técnica Tradicional Grip, consiste em segurar a baqueta com o polegar e o indicador da mão direita, a cerca de dois terços de distância da cabeça (ponta) da baqueta. O dedo médio, anelar e mínimo controla e auxilia os vários movimentos da baqueta (pinça). A palma da mão deve ficar virada para baixo ao tocar o instrumento. A baqueta da mão esquerda é mantida em cerca de dois terços da distância a partir da cabeça (ponta) da baqueta no centro de equilíbrio, na forquilha, formada pelo polegar e o indicador. O dedo médio funciona como um guia, e é posicionado sobre a baqueta, o dedo anelar e mínimo ficam inferior à baqueta, auxiliando o controle do "swing" (molas). A palma da mão terá que estar voltada para o corpo na hora do toque no Instrumento (RICH, 1942; PODEMSKI, 1968). Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012
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A técnica Convencional consiste em segurar as baquetas com ambas as mãos, esquerda e direita, na mesma posição da mão direita da técnica Tradicional Grip (FIRTH, 1967). Segundo Wikipedia EUA (2012), alguns percussionistas rejeitam a Tradicional Grip, uma vez que se acredita ser inferior a técnica Convencional que contempla termos de conveniência, a eficiência e a qualidade do som. Ao contrário da Técnica Convencional, a Tradicional Grip raramente é usado na maioria dos outros instrumentos de percussão, como teclados e tímpanos. Apesar dessas críticas , a Técnica Tradicional Grip tem sido utilizada em alguns casos, por diversas categorias e melhores percussionistas dos tempos modernos. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Foi escolhida como objeto de pesquisa a organização sem fins lucrativos Tchá Degga Da, pelo fato de que o pesquisador é membro desde maio de 2005, e entender que lá esse tema seria de relevante importância. O método de pesquisa obedeceu aos seguintes níveis: estudos bibliográficos e observacional. A pesquisa exploratória requer um estudo posterior e, normalmente, esse tipo de estudo tem um planejamento mais flexível, que envolve levantamento bibliográfico, análise de documentos, observação de fenômenos e estudo de casos (OLIVEIRA, 2005, p. 36). Quanto aos procedimentos técnicos e metodológicos optou‐se por uma Pesquisa bibliográfica e observacional. O instrumento de pesquisa para o levantamento dos dados foi por meio de livros, e por meio de observação de 36 horas de ensaio do grupo. O estudo foi realizado a partir de pesquisa bibliográfica e observacional no ensaio do grupo Tcha Degga Da, na cidade de São Paulo – SP, nos dias 7, 8 e 9 de setembro de 2012, em que participavam no naipe de caixa 10 integrantes do grupo. Foi observado durante o período de 3 dias, 14 horas diárias, o ensaio do grupo. Os integrantes são estudantes de música selecionados em 5 estados do Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás). Inicialmente, no primeiro dia às 9:00 horas, observou‐se o aquecimento e alongamento muscular dos músicos, que teve a duração de quarenta minutos, segundo Grant, o aquecimento antes do ensaio é de suma importância para o bom desempenho dos músicos e também para Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012
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evitar lesões, essa pratica foi repetida no mesmo horário e no mesmo tempo pelos 3 dias de ensaio. Durante o ensaio, Grant tinha uma ordem de trabalho, primeiro ele trabalhava exercícios para fortalecer as técnicas do grupo, para ganho de agilidade força e precisão, posteriormente, na segunda parte do ensaio, Grant trabalhou as músicas de repertório do grupo, esse planejamento de aula foi imposto pelos três dias de ensaio. Durante todo o período de ensaio, os músicos do naipe de caixa utilizaram a técnica Tradicional Grip, tendo conhecimento que 42 horas de estudo, os alunos não obtiveram nenhuma lesão muscular, Dessa forma, a seguir apresentamos a análise e discussão dos resultados obtidos. RESULTADOS E DISCUSSÃO O resultado obtido a partir da observação dos três dias de ensaio mostra que a Técnica Tradicional Grip é mais conveniente e foi a mais utilizada pelos integrantes do naipe de caixa do grupo de percussão Tchá Degga Da, até pelas questões estéticas que essa técnica oferece e funcional para esse tipo de formação. Segundo Grant, a baqueta deve repousar sobre a unha da segunda mola da mão esquerda, pois é a parte da mão em que temos maior sensibilidade e agilidade, conseguindo maior velocidade e controle. Além disso, a prática ocasiona, frequentemente, bolhas e cortes nas mãos, o que seria evitado com a baqueta posicionada dessa forma, uma vez que a unha tem sua superfície mais resistente em relação à pele. O movimento mais indicado para a execução da técnica consiste em prono‐supinação da mão esquerda, enquanto que a mão direita segue com movimentos de flexo‐extensão. Para o melhor funcionamento da técnica, antebraço, punho e mão devem trabalhar em sincronia para diminuir os esforços musculares, além de possíveis lesões. Com o fortalecimento e o treinamento do movimento de prono‐supinação, ocasionado pela mão esquerda, a técnica proporciona paralelamente, um treino muscular para outras técnicas aplicadas em outros instrumentos, como pandeiro popular brasileiro, pandeiro orquestral e rulos com duas baquetas por mãos para teclados. Nesses três exemplos, o músico utiliza a forma de prono‐supinação da mão esquerda para mexer o instrumento ou para movimentar as baquetas. Como naturalmente essa técnica proporciona um som diferente entre as baquetas, uma vez que a técnica oferece menor superfície de contato da mão esquerda em relação à direita, o percussionista que toca caixa de marcha encontra certa dificuldade para igualar o som emitido Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012
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pelas baquetas ao toque do instrumento, o que vantajosamente os bateristas de música popular utilizam para proporcionar outros sons em seus ritmos e convenções, tornando assim mais rico em timbres. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conclui‐se com base no estudo que a técnica Tradicional Grip oferece mais comodidade e menores prejuízos ao músico percussionista que toca caixa de marcha, além de um efeito performático visual, a técnica oferece ao baterista um recurso de timbres variados. Levando em consideração o contexto histórico, no qual já se utilizava essa técnica, nos dias de hoje há de se considerar as escritas e composições musicais que tem por objetivo a exposição e aproveitamento otimizado dessa técnica. Apesar da difusão ser mais comum na América do Norte e Europa, principalmente nas categorias e divisão das chamadas Bandas Marciais e Fanfarras, oriundas das Bandas Militares, o Brasil tem se aproximado, nas últimas décadas, desses padrões e buscando implementá‐lo dentro da cultura preexistente. A bibliografia sobre o assunto é limitada, há poucos relatos de autores que contribuem na defesa e crítica da técnica em questão, o que não nos permite um estudo comparativo considerável. A proposta do Grupo Tchá Degga Da é oferecer os alunos a proximidade dessa técnica, possibilitando que esses possam aprimorar e difundi‐la em seus grupos de origem, além de ampliar a visão do percussionista no conhecimento de uma técnica a mais que contemple uma variação de sons e modos de se executar determinada peça musical. REFERÊNCIAS ARNDT, Ursula; Giblin, James. Fireworks, Picnics, and Flags: The Story of the 4th of July Symbols. Clarion Books, New York NY, p.41, 1983. BROWN, T.D. A History and Analysis of Jazz Drumming to 1942. University Microfilms, Ann Arbor MI, 1976. FIRTH, V. Snare Drum Method. Book 1‐ Elementary. Carl Fischer, New York NY, p.5‐6, 1967. MOELLER, S. The Moeller Book. Ludwig Masters Publications, Grafton OH, p.5,6,15, 1956. Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012
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OLIVEIRA, Maria Marli. Como fazer projetos, relatórios, monografias, dissertações e teses. Elsevier, Rio de Janeiro RJ, p. 36, 2005. PODEMSKI, B. Podemski’s Standard Snare Drum Method. Mills Music Inc., Miami FL, p.5, 1940. RICH, B. Modern interpretation of Snare Drum Rudiments. Embassy music corporation, New York‐NY, v.1, p.5,6,7, 1942. WIKIPEDIA EUA. Traditional Grip. Disponível em:<http://en.wikipedia.org/wiki/Traditional_grip> Acesso em 20 de setembro de 2012. Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012
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