ÁGUA DE AMASSAMENTO NO CONCRETO ESTRUTURAL
CARVALHO, L. O.1, SUELA, A.G.L.1, DULTRA, E.J.V.2
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Aluno do Curso Técnico em Edificações do IFBA – Campus Eunápolis
Prof. MSc. Curso Técnico em Edificações do IFBA – Campus Eunápolis
INTRODUÇÃO
Concreto estrutural é aquele que faz parte da estrutura das obras civis exigindo
maior responsabilidade, por parte dos técnicos, em seu preparo. Em concretos destinados para
fins estruturais duas características são imprescindíveis: a resistência mecânica e a
durabilidade. Tais características foram priorizadas na revisão da NBR- 6118/2003 na qual
mudanças significativas em muitos itens do cálculo estrutural e, ainda, em características na
geometria das peças estruturais foram estabelecidas e passaram a vigorar a partir de 2003.
Uma mudança de importância relevante foi a fixação do fck mínimo para estruturas de
concreto armado em função da classe de agressividade ambiental do local da construção – de I
a IV em ordem crescente. Com isso, de acordo com a NBR-6118/2003, para classe de
agressividade ambiental I, o fck mínimo é de 20 MPa.
Na execução de concreto estrutural, máxima atenção deve ser prestada em
todas as fases de preparação: mistura, transporte, lançamento, adensamento e cura. Na fase de
mistura, o controle da quantidade de água – água de amassamento – é um item de
fundamental importância para se obter o máximo de resistência para um determinado traço de
concreto. Neste, a quantidade de água é expressa através do fator água/cimento que consiste
na razão entre a massa de água e a massa de cimento utilizada. O concreto estrutural deve ser
preparado com o mínimo de água possível, mantendo as condições de trabalhabilidade
recomendadas para a sua aplicação. A vasta bibliografia relacionada afirma que, quanto mais
água é adicionada na fase de mistura do concreto, menor será sua resistência mecânica. O
embasamento dessa afirmação se deve à segregação dos materiais envolvidos – durante o
estado plástico – ser facilitada quando a quantidade de água presente é maior. A segregação
começa a ocorrer logo após a fase de mistura – retirada do concreto da betoneira – e segue
durante o transporte, lançamento, adensamento até instantes antes do fim de pega do cimento.
Os materiais mais pesados – partículas de areia e brita - tendem a se acomodar ao fundo,
enquanto que os mais leves – a água e os finos – tendem a migrar para a parte superior.
Durante esse deslocamento, a água e os finos deixam o material mais poroso, ou seja, menos
compacto, diminuindo assim, a resistência mecânica do concreto. É intuitivo que, quanto mais
água existir no material, maior quantidade de água se deslocará para a parte superior,
carreando finos e, portanto, mais poroso se tornará o concreto. Segundo Mehta (1994), do
ponto de vista da resistência, a relação água/cimento-porosidade é indiscutivelmente o fator
mais importante porque, independentemente de outros fatores, ela afeta a porosidade tanto da
matriz pasta de cimento como da zona de transição entre a matriz e o agregado graúdo.
Em muitas obras de pequeno porte o controle na adição de água de
amassamento não existe, e os funcionários preferem fabricar concreto com água em excesso,
pois, a consistência fluida do concreto facilita o preenchimento das fôrmas. Essa é uma
prática não recomendada devido à consequente diminuição da resistência mecânica do
concreto. Quando a consistência fluida é necessária – para concreto bombeado, por exemplo deve-se fazer uso de aditivos plastificantes e superplastificantes que interagem quimicamente
com a água, diminuindo sua tensão superficial e, paralelamente, aumentando a fluidez do
concreto, sem a necessidade de acrescentar água.
Este trabalho visa obter dados experimentais que permitam avaliar a perda de
resistência mecânica do concreto em função do acréscimo de água de amassamento.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi utilizado o método da ABCP para determinar um traço de concreto,
considerando fck = 20 MPa, com desvio padrão = 7. O cimento utilizado foi o CP III 40 – RS.
Foram realizadas cinco misturas variando apenas a quantidade de água, utilizando uma
betoneira elétrica com capacidade para 150 litros. O menor fator água/cimento foi 0,46 onde,
a partir deste foram acrescentados os percentuais de 10, 20, 30 e 40% de água. Para cada
mistura, foi determinado o abatimento em cm e moldados seis corpos de prova cilíndricos
∅ 10x20 cm. Após a desmoldagem, os corpos de prova foram imersos em água por 28 dias.
Em seguida, os mesmos foram capeados com enxofre e rompidos em prensa hidráulica
manual com capacidade para 100 toneladas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na tabela 1 são apresentados os valores dos abatimentos do concreto fresco
para as diferentes misturas realizadas.
Tabela 1 – Valores do abatimento do concreto fresco.
MISTURA
B1 0
B2 10
B3 20
B4 30
B5 40
a/c
0,460
0,506
0,552
0,598
0,644
ABATIMENTO (cm)
10,8
18,3
22,3
26,3
26,7
De acordo com os valores é possível verificar que o aumento do abatimento foi
expressivo perante o acréscimo de água para faixas mais baixas de fator a/c e que esse
aumento decresce para faixas maiores de fator a/c. De acordo com Ripper (1995), pode-se
classificar a consistência do concreto fresco de ‘firme’ a ‘muito mole’ para valores de
abatimento entre 2 e 13 cm. Portanto, para as misturas B2 10 a B5 40 o abatimento está
excessivo ultrapassando o parâmetro de consistência muito mole. Na figura 1 são mostrados
os resultados obtidos no ensaio de compressão dos corpos de prova de concreto.
38
36,78
Resistência à compressão (MPa)
36
34
32
30
29,83
28
26
24
23,07
22
20
0,44
Resistência
0,46
0,48
0,50
22,09
0,52
0,54
0,56
0,58
0,60
Fator água/cimento (a/c)
Figura 1 – Resistência à compressão dos corpos de prova de concreto.
De acordo com os resultados, é possível confirmar a afirmação da bibliografia
quanto ao efeito do acréscimo de água de amassamento na mistura do concreto, pois os corpos
de prova das misturas com maior quantidade de água obtiveram valores menores de
resistência à compressão. A queda na resistência mecânica entre as misturas B1 0 e B5 40 foi
acentuada e da ordem de 60%. Deve-se ressaltar que a única diferença na dosagem dos
materiais para as misturas estudadas é a quantidade de água adicionada.
CONCLUSÃO
Os resultados obtidos nos ensaios permitem avaliar que o controle da
quantidade da água de amassamento é necessário para execução de concreto estrutural, devido
à sua significativa influência na resistência mecânica final. Providências devem ser tomadas
para possibilitar o transporte, lançamento e adensamento do concreto com fator a/c baixo.
AGRADECIMENTOS
À BRITAKÍ – Britas e Areias, pelo fornecimento dos materiais utilizados no
estudo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
NBR – 6118-2003 – Projeto De Estruturas de Concreto – Procedimento. ABNT, 2003.
MEHTA, P.K., MONTEIRO, P.J.M.. Concreto – Estrutura, propriedades e materiais. Ed.
PINI, São Paulo, 1994.
RIPPER, Ernesto. Manual prático de materiais de construção. São Paulo, Ed. PINI, 1995.
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