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DEMANDAS DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO ÂMBITO
DAS RECENTES
CONFIGURAÇÕES SÓCIO –
ECONÔMICAS.
FERNANDO ROQUE DE LIMA - Sociólogo; Mestre em Administração - UFBA;
Doutorando – Análise Regional – Universidade de Barcelona.
Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Faculdade de Administração em Comércio Exterior – FACEX
Resumo
As atuais mudanças sociais e econômicas exigem a emergência de novos padrões de
conduta que influem na performance das organizações e dos indivíduos. Tal processo
suscita a necessidade de qualificação técnica adequada ao novo ethos instaurado. O
perfil do administrador passa a ser delineado a partir dos conteúdos advindos dessa
nova configuração sócio-econômica
Cenário das atuais transformações sócio técnicas
Na atualidade parece que há uma grande unanimidade : o mundo passa
por profundas transformações. Tais mudanças denotam uma magnitude que
tem estimulado muitos autores a atribuírem o estatuto de uma nova revolução
industrial.
Este processo, ora em curso, denota uma transformação estrutural nas
sociedades avançadas. Este evento origina-se do impacto de uma revolução
sustentada em tecnologias de informação-comunicação vinculado com a emergência
de uma economia global, que tem propiciado um movimento de mudança cultural.
Observa-se que a geração de conhecimento e processamento de informação
são elementos centrais e subsidiam a nova revolução sócio-técnica, semelhante à que
constitui a revolução tecnológico – social referenciada na produção e uso de energia
que propiciaram o surgimento da sociedade industrial. Os teóricos da
contemporaneidade são unânimes quando analisam as implicações de variada ordem
presentes neste processo.
Sabe-se que a ciência e a tecnologia foram as principais fontes de
produtividade, durante a primeira metade do século XX. O conhecimento e a
informação se convertem nos elementos fundamentais de geração de riqueza e de
poder na sociedade, no período posterior à Segunda Guerra Mundial
A tecnologia se traduz na ciência e nas máquinas assim como na tecnologia
social e organizativa. Neste sentido, tanto a ciência como a tecnologia social, junto com
conhecimentos técnico–administrativos foram consideradas as principais forças no
crescimento contínuo da produtividade durante, as últimas décadas.
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Uma das características principais da nova sociedade é a estreita
interdependência entre as esferas social, política e econômica. As tecnologias da
informação são um componente essencial da transformação social em seu conjunto,
porém não é o único fator determinante. Alia-se a este processo, a expansão dos
serviços que, na sociedade moderna, denota o incremento do trabalho humano que
extrapola o âmbito da produção material.
Assim, a economia informacional, além de suscitar a produtividade, permite a
expansão das atividades de serviços. Em decorrência dos imperativos econômicos e
das demandas sócio – institucionais, uma significativa proporção da atividade humana
e recursos são alocados para o processamento de informação e outras atividades não
produtivas.
Uma revolução tecnológica de proporções históricas se vem delineando no
último quarto do século XX. São realçados dois aspectos fundamentais que
caracterizam a revolução tecnológica em curso, segundo perspectiva adotada por
Manuel Castells:
a) Está enfocada para os processos, como todas revoluções tecnológicas
principais, ainda que seja também importante a inovação contínua de
produtos. Porque está centrada em processos, seus efeitos são intersticiais
e abarcam todas as esferas da atividade humana.
b) Sua matéria–prima fundamental, assim como seu principal resultado, é a
informação, como a energia foi a matéria–prima da revolução industrial.
Desse modo, a informação da revolução tecnológica diferencia-se das
revoluções tecnológicas que a precedem. Enquanto a informação e o
conhecimento foram sempre, por definição, elementos essenciais em alguns
processos do descobrimento científico e da mudança técnica, este é o
primeiro momento da história no qual o novo conhecimento é aplicado
principalmente aos processos de geração e ao processamento do
conhecimento e da informação. As tecnologias da informação não estão
limitadas à microeletrônica baseada nas tecnologias. Devemos também
incluir a engenharia genética como componente fundamental das tecnologias
da informação, desde que se descubra a decodificação da reprogramação
individual dos códigos de informação contidos na matéria viva. Além disso, a
interação entre as tecnologias da informação baseadas na microeletrônica e
as baseadas na genética é uma nova fronteira da ciência e da tecnologia no
século XXI.
A nova ambiência social, onde as organizações operam, é constituída por dois
elementos essenciais: complexidade e incerteza. A administração das organizações
necessita de flexibilidade e adaptabilidade. O sistema externo da organização é
adaptado tendo em vista cada novo padrão de direção estratégica. Em decorrência da
extensão que as tecnologias da informação provocaram, as empresas e as instituições
propiciaram a auto-descentralização e tornaram-se flexíveis sem diminuir seu controle
e sistemas de direção. Por sua vez, as empresas pequenas e médias uniram-se,
relacionando-se com um mercado maior e transformando-se em distribuidoras de uma
variedade de empresas grandes, aduzindo uma flexibilidade substancial ao sistema
como um todo. Em decorrência, as corporações multinacionais descentralizaram suas
unidades para constituírem constelações de entidades quase independentes.
As novas demandas econômicas e sociais
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As novas configurações sociais emergentes que não possuem padrões firmes e
estáveis, suscitando incertezas, constantes mudanças e novas formas de
comportamento humano com que as organizações vão lidando. É certo que essas
novas tendências não se encontram em todas as organizações.
Sabe-se que a tecnologia afeta as formas de trabalho e os tipos de produto e
serviços, introduzindo um elemento de intensificação e incerteza, obrigando à assunção
de comportamentos flexíveis nas ações e na mentalidade. Neste processo, o homem
tem uma consciência mais clara de sua finitude, com isso é estimulado à busca de
satisfação e realização pessoais. Por sua vez, as organizações demandam sua
inteligência e criatividade em níveis de exigência mais intensificados.
No âmbito organizacional, admite-se a incapacidade de a burocracia ser capaz
de lidar com um mundo em movimento e incerto. Outro item relevante é o abandono do
projeto de expansão em todas as direções, definindo-se por uma concentração
especializada em ações onde a empresa apresenta melhor performance, para
enfrentar um mundo altamente competitivo.
Atualmente, a organização, incluindo os empreendimentos turísticos, admite a
possibilidade de fazer uso das mais diversas formas organizacionais, especialmente
aquelas de duração limitada no tempo.
A importância da estratégia emerge como sendo fundamental, seja para antever
o que se pode esperar, seja para definir formas de ação num mundo inesperado e
competitivo. A visão estratégica não é privilégio da cúpula organizacional, ao contrário,
todos os membros da organização, em todas as áreas, especialmente a organização
da gestão dos empreendimentos turísticos devem estar imbuídos da visão e da postura
estratégicas.
Tem-se a sensação de que a concorrência está sempre próxima, suscitando a
necessidade de se estar constantemente preparado. Sabe-se que uma das formas de
lidar com ela é estabelecer relações diferenciadas com aquele que recebe ou adquire
os produtos ou serviços da organização. O cliente é alvo de obstinada corte com vistas
a estabelecer uma relação de parceria com o intuito de consolidar uma fidelidade para
evitar que o cliente não seja seduzido por algum concorrente que lhe oferece uma
pequena diferença de preço ou de qualidade.
A atualidade vem criando novas demandas sociais que se manifestam nos
diversos setores da sociedade. Neste sentido, a contemporaneidade tem suscitado
transformações no mundo dos negócios, iniciadas nos anos 80. A ampliação dos
conhecimentos relacionados com a gestão vincula-se estreitamente com este
processo.
Em decorrência, fenômenos como a internacionalização do capital, a abertura
dos mercados nacionais à competição mundial aliados com a aceleração dos
processos de transformação tecnológica e a redução do papel econômico do Estado,
alteram substancialmente o modo de administrar os negócios.
São criadas novas exigências de competitividade e produtividade crescentes,
inclusive na indústria do turismo, propiciando o acirramento da concorrência. Acrescente-se
que a perspectiva de privatização dos serviços públicos, a utilização da informação como
ferramenta empresarial modificam o comportamento e a conduta do gestor, influindo nas
relações de trabalho e passam a exigir novas competências gerenciais.
Quase unânimes, os modelos contemporâneos de gestão exigem, além dos
conhecimentos técnicos e gerenciais tradicionais, um novo acervo de competências
onde uma visão estratégica do negócio, bem como aspectos comportamentais e
informacionais ganham relevância à medida que os processos produtivos passam a ser
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vistos como elementos de uma cadeia de geração de valor, autônomos e integrados
aos demais processos da organização.
Alguns elementos ganham realce neste cenário : complexidade, criatividade,
comunicação, integração sistêmica, diversidade são alguns dos novos itens
conceituais que passam a integrar o ambiente gerencial.
A educação e as novas configurações sociais contemporâneas
As transformações em curso exigem das organizações sensibilidade,
capacidade de mudança, lucidez prospectiva, rapidez adaptativa, concertação
estratégica de ações e participação ativa e permanente de seus membros.
Diante destas crescentes e aceleradas mudanças experimentadas no mundo
atual e particularmente no âmbito da administração, suas múltiplas dimensões e
implicações, as instituições são estimuladas a adotarem, em seu cotidiano,
flexibilidade e aguçamento da sensibilidade para atender às demandas oriundas da
sociedade. Neste sentido é necessário adequar seus programas de formação e
capacitação de recursos humanos às necessidades oriundas do entorno social.
Neste sentido, as instituições de ensino devem estar atentas aos processos de
reestruturação econômica que propiciam aumento da produtividade, a modernização
tecnológica necessárias ao movimento de competitividade nacional e internacional.
Neste processo observa-se uma profusão de informações oriundas da globalização,
estimulando o debate entre quantidade e seletividade.
Em decorrência, a formação de uma nova geração de líderes gerenciais é
fundamental para tornar a economia brasileira competitiva a nível mundial. Administrar
passa a ser olhar para fora da empresa e compreender o impacto das transformações
de um mundo em constante mudança manifesta em todas as áreas empresariais.
Competências e habilidades desejadas
No mundo moderno, as mudanças em curso influem as relações de trabalho, na
produção do conhecimento e na vida social, e, simultaneamente, ensejam novos
valores, novas referências, novas dinâmicas e trazem subjacentemente a exigência de
desenvolvimento de complexas competências do cidadão, tendo em vista a
transitoriedade dos conhecimentos e sua relação com o trabalho.
Nesse contexto, apresenta-se ao profissional da área de administração
exigências de construção de conhecimentos, habilidades e competências que lhe
permitem uma inserção no mundo contemporâneo, como gestor de processos que
envolvem a administração. A abrangência deste trabalho requer que o aluno do curso
de administração se desenvolva em todas as suas potencialidades e dimensões
humanas, que reconheça a transitoriedade dos conhecimentos, que seja ético, crítico,
autônomo, criativo, cooperativo, líder, pesquisador, cidadão capaz de participar dos
grupos sociais em que está inserido. Um profissional que conceba o fenômeno
administrativo no processo histórico, de forma ampla, diversificada, com sólida
fundamentação científica, tecnológica, socio-cultural e que seja capaz de responder
com alternativas de superação, aos desafios que a sociedade lhe coloca.
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Dada a necessidade de ser estimulada a formação de um perfil desejado, às
competências fundamentais a serem desenvolvidas, acrescenta-se os seguintes itens :
Gestão e Empreendedorismo
Evidencia-se no cenário atual um movimento no interior das grandes empresas –
intrapreneurship – que denota a necessidade de se instituir a capacidade empresarial
no interior de uma grande empresa. Procura-se fomentar o espírito de iniciativa
empresarial em seus membros de modo que algo proveniente do espírito das
empresas menores possa estar presente fornecendo um novo dinamismo.
Considera-se o empreendedorismo como uma habilidade que propicia a alguém implantar e
constituir algo criativamente a partir de poucos recursos. É a sensibilidade individual para perceber
uma oportunidade quando outros enxergam apenas dificuldades . É possuir competências para
descobrir e controlar recursos aplicando-os produtivamente.
Empreendedorismo não é necessariamente uma característica de
personalidade, embora seja característica idiossincrática, tanto nos indivíduos como
nas instituições. O empreendedorismo é tido como um comportamento ou um processo
para iniciar e desenvolver um conjunto de atividades com resultados positivos criando
valor através do desenvolvimento de uma organização.
Devido às transformações estruturais antes aludidas, cresceu a importância dos pequenos
empreendimentos como gerador do desenvolvimento econômico face à sua propensão para inovar,
diversificar e criar novos empregos. Este fenômeno coloca, perante os agentes de desenvolvimento,
entidades governamentais, universidades, o desafio de estimular o
desenvolvimento de novos
empreendimentos mediante a formação de uma cultura empreendedora.
Neste sentido, a educação para o empreendedorismo está se tornando um item
importante na articulação interdisciplinar dos programas acadêmicos de universidades,
com tendência à expansão propiciada pelo estimulo oriundo dos agentes sócio econômicos.
Um fato relevante se manifesta nas diretrizes educacionais, ao propor que os
estudantes construam uma performance tanto de generalistas como de especialistas
para serem desenvolvedores e solucionadores de problemas.
Um grande número de educadores reconhece que o atual sistema de
ensino põe muita ênfase na aquisição de conhecimento e pouco enfoque é
dado ao desenvolvimento de habilidades específicas que tenha a práxis como
referência para o uso desses conhecimentos.
No plano local, regional, nacional e internacional, as demandas sociais solicitam
a emergência de um profissional com conhecimentos sócio-culturais e técnicocientíficos que assegurem a sensibilidade para perceber o presente e o futuro,
permitindo-lhe compreender e avaliar os elementos presentes nas atividades
relacionadas ao seu cotidiano profissional em suas concatenações com a dimensão
econômica, política e cultural.
Adotando-se como pressuposto a perspectiva de que o conceito de
competência deve ser decomposto para que lhe seja retirado sua conotação
meramente instrumental, considera-se que a competência denota uma performance
constituída pelo domínio de um conjunto de saberes traduzidos em conhecimentos,
práticas e atitudes que são absorvidos ao longo de um processo de continuada
educação. Assim, a assunção de atitudes que denotem os saberes que propiciam a
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competência profissional requer o desenvolvimento, nos envolvidos com o processo
educativo, de habilidades vinculadas à dimensão cognitiva e atitudinal.
Tendo em vista o propósito de propiciar as condições necessárias para o
desenvolvimento da performance que denota a competência técnico-profissional e
pessoal, deve-se promover o desenvolvimento de habilidades essenciais demandadas
ao cidadão pela nova configuração sócio-econômica da contemporaneidade.
Neste sentido, acreditamos, a educação em seu sentido amplo deve ser
referenciada em parâmetros pertinentes com o pensamento autônomo. Com isso, o
homem é estimulado a abandonar a rigidez das idéias, atitudes fundamentadas no
sistema de valores tradicionais, buscando respostas nos valores de uma modernidade
reflexiva. Giddens (1996 ) sugere que a atualidade é caracterizada pela
destradicionalização, na medida em que as tradições são constantemente colocadas
em contato umas com as outras e forçadas a se declararem, propiciando a
reflexividade social. Esta, por sua vez, emerge, simultaneamente, como condição e
resultado de uma sociedade pós-tradicional, onde as decisões devem ser tomadas
com base em uma reflexão mais ou menos contínua sobre as condições das ações de
cada um.
Autonomia refere-se às múltiplas capacidades do indivíduo em se representar tanto
nos espaços públicos como nos espaços privados da vida cotidiana, ao seu modo de viver e
aos seus valores culturais; à luta pela sua emancipação e desalienação; à forma de ser,
sentir e agir; à capacidade de potenciar atividades em diversas formas de trabalho; à
solidariedade.
De acordo com Giddens ( 1996 ), na sociedade contemporânea, o diálogo deve
perpassar a política e as demais atividades do cotidiano humano, propiciando
discussões necessárias à definição da confiança ativa, na medida em que se espera
que os agentes sociais promovam a renovação de responsabilidade pessoal e social
em relação aos outros, constituindo o exercício da alteridade.
Os conteúdos relacionados à formação de natureza educacional e técnica
devem ser pensados de modo a propiciar a pertinente qualificação necessária ao
desenvolvimento da capacidade de gestão, participação, decisão e inovação, tanto no
processo produtivo, quanto, e especialmente, nas relações sóciopolíticas.
Inovação e desenvolvimento endógeno
Ao conceituar a inovação, Horácio Capel ( 1999 ) sugere que esta noção é entendida em seu
sentido mais amplo, como qualquer novidade que não existia antes ou, de forma mais concreta, como
inovação política, social, econômica, científica o técnica. Inovação deve se relacionar, especialmente, à
criação de novos referenciais de condução dos negócios de interesse público. Assim é que uma nova
ambiência favorável ao desenvolvimento de potencialidades dos atores locais deve ser estimulada,
considerando as especificidades de cada espaço particular.
Sublinhando os aspectos fundamentais propiciadores às condições de
desenvolvimento local, H.Capel argumenta que “o desenvolvimento tem que ver com a
exist6encia de capacidades empresariais nas organizações privadas e nas instituições
públicas e com a influencia na sociedade de forças social e intelectualmente
progressistas que estejam interessadas em promover a mudança e a incorporação de
inovações”. Neste sentido, acreditamos que o exercício da participação efetiva de
segmentos sociais com potencial e capacidade de intervir na realidade social com
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intuito de propiciar mudanças significativas que se traduzam em desenvolvimento do
bem-estar social, é um dos elementos definidores na consecução de tal objetivo.
Reportando-se às perspectivas que orientam as políticas de desenvolvimento local e regional,
Capel ( op cit ) chama a atenção para o fato de que enquanto os enfoques tradicionais de política
regional vem pondo ênfase no papel dos incentivos financeiros, a construção de infra-estruturas e os
acordos de planejamento entre a administração pública e as grandes empresas industriais, o enfoque
endógeno, sem descarta-los, concedem maior papel a medidas tais como: as investimentos em
educação técnica e o desenvolvimento da capacidade de gestão da força de trabalho, o
desenvolvimento de relações cooperativas entre os atores privados locais e os públicos, a criação de
redes de cooperação entre empresas e organizações locais e exteriores, o desenvolvimento de
modernos serviços e negócios, a melhora da qualidade do meio ambiente, e um eficiente uso do solo e
política urbana que desenvolvam o caráter atrativo dos centros urbanos regionais. Neste sentido, as
novas estratégias de desenvolvimento regional insistem em que os obstáculos mais importantes que se
devem remover são a baixa capacidade empreendedora e inovadora, a escassez de conhecimentos
específicos, e a baixa internacionalização das economias regionais menos desenvolvidas, conclui.
Aduzindo outros elementos à sua argumentação, Capel ( op cit ) nos sugere que as novas
teorias sobre o desenvolvimento endógeno ao insistir na importância das condiciones locais destacam,
ao mesmo tempo, o papel decisivo da urbanização para o desenvolvimento econômico sustentável. A
exist6encia de cidades de um tamanho suficiente é essencial para o desenvolvimento econômico
regional, já que são os vetores principais na rede de infra-estruturas. As cidades constituem assim um
meio local especialmente favorável para o desenvolvimento. Ao mesmo tempo estes enfoques põem em
evid6encia a transcendência da atitude receptiva à inovação. Um aspecto que está muito ligado, por sua
vez, com o desenvolvimento da urbanização e a ciência, duas dimensões íntima e essencialmente
vinculadas à cidade, finaliza.
Por sua vez, Antonio Barquero ( 1999 ) acrescenta que o conceito de desenvolvimento
endógeno é, antes de tudo, uma estratégia de ação. Acredita que as comunidades locais possuem
uma identidade própria que a impulsa a lançar iniciativas que propiciam o desenvolvimento da
comunidade local. Para este autor, “cuando han desarrollado sus capacidades organizativas pueden
evitar que as empresas y organizaciones externas limiten sus potencialidade de desenvolvimento y
entorpezcan el proceso de desenvolvimento próprio. A capacidad de liderar el propio proceso de
desenvolvimento, unido a Ia movilización de su potencial de desenvolvimento, es lo que permite dar a
esta forma de desenvolvimento el calificativo de desenvolvimento endógeno” ,assegura.
O conceito de desenvolvimento endógeno puede entenderse como un proceso
de crecimiento econômico y cambio estructural, liderado pela comunidad local
utilizando el potencial de desenvolvimento, que conduce à melhoria del nivel de vida da
población local. De sua parte, J. Arocena ( apud Barquero ) aduz que el
desenvolvimento endógeno es un proceso en el que lo social se integra con lo
econômico. La distribución da renta y da riqueza y el crecimiento econômico no son dos
procesos que surgen y toman forma de manera paralela, sino que adquieren una
dinárnica común debido al hecho de que los actores públicos y privados toman
decisiones de inversión orientadas a aumentar a productividad y competitividad das
empresas, resolver los problemas locais y mejorar o bienestar da sociedad.
Caracterizando os elementos constituintes do conceito, Barquero ( op cit ) elenca
outras dimensões da noção ora discutida: “en los procesos de desenvolvimento
endógeno se pueden identificar, al menos, tres dimensiones:” una econômica,
caracterizada por un sistema específico de producción que permite a los empresarios
locais usar, eficientemente, los factores productivos y alcanzar los niveles de
productividad que les permiten ser competitivos en los mercados; otra sociocultural, en
que los actores econômicos y sociales se integran con las instituciones locais formando
un sistema denso de relaciones que incorporam los valores da sociedad en el proceso
de desenvolvimento; y otra, política, que se instrumenta mediante las iniciativas locais y
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que permite crear un entorno local que estimula a producción y favorece o
desenvolvimento sostenible “, assevera.
Para Barquero ( op cit ), o desenvolvimento econômico e a dinâmica produtiva
dependem da introdução e difusão das inovações que impulsionam a transformação e
renovação do sistema produtivo local. Argumenta o citado autor que, para que “ello sea
posible, es necesario que los actores envolvidos en o proceso tomen las decisiones
adecuadas de inversión en tecnología y organización. Cuando esto ocurre, el sistema
productivo se convierte en un entorno innovador”.
Habilidades fundamentais:
No plano local, regional, nacional e internacional, as demandas sociais solicitam
a emergência de um profissional com conhecimentos sócio-culturais e técnicocientíficos que assegurem a sensibilidade para perceber o presente e o futuro,
permitindo-lhe compreender e avaliar os elementos presentes na administração em
suas concatenações com a dimensão econômica, política e cultural.
Adotando-se como pressuposto a perspectiva de que o conceito de
competência deve ser decomposto para que lhe seja retirado sua conotação
meramente instrumental, considera-se que a competência denota uma performance
constituída pelo domínio de um conjunto de saberes traduzidos em conhecimentos,
práticas e atitudes que são absorvidos ao longo de um processo de continuada
educação. Assim, a assunção de atitudes que denotem os saberes que propiciam a
competência profissional requer o desenvolvimento, no educando, de habilidades de
dimensão cognitivas e atitudinais.
Tendo em vista o propósito de propiciar as condições necessárias para o
desenvolvimento da performance que denota a competência técnico–profissional e
pessoal, o curso de administração deve promover o desenvolvimento de habilidades
essenciais demandadas ao cidadão pela nova configuração sócio-econômica da
contemporaneidade:
- Saber pensar
- Aprender a aprender
- Ter iniciativas para resolver problemas
- Ter capacidade para tomar decisões
- Ser criativo
- Ser autônomo
- Estar em sintonia com as realidades contemporâneas
- Ter responsabilidade social, inserção e vivência nas relações de trabalho
Embora uma preparação sólida não seja uma garantia para suscitar o afloramento da
criatividade, não resta dúvida de que, quanto maior o domínio de conhecimentos, experiência, maiores
serão as chances de se produzirem idéias e atitudes que propiciem inovação e valor.
A um profissional que se quer gestor, serão requeridas ainda, habilidades mais
específicas, tais como:
- dominar os princípios teórico-metodológicos das áreas de conhecimento que
se constituam objeto de sua prática profissional ;
- elaborar planos de ação profissional que expressem o processo de
planejamento desenvolvido na instituição onde esteja inserido;
- sistematizar resultados de estudos para orientar novas ações;
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lidar com a diversidade cultural, étnica, sexual, religiosa, etc.;
trabalhar em equipe;
articular ações dos diversos setores/ segmentos da instituição em que atua,
em torno de projetos coletivos;
elaborar planos, programas e projetos;
organizar e coordenar reuniões;
elaborar, executar e avaliar projetos de pesquisa em administração;
selecionar abordagens, procedimentos e instrumentos de investigação;
sistematizar resultados de pesquisas.
Considerações finais
Até aqui procuramos enunciar as características que tem delineado a performance desejável
de um dos segmentos da atividade sócio - econômica contemporânea. Talvez fosse oportuno
empreendermos uma breve e concisa referência a um dos principais teóricos da Modernidade: Max
Weber. Este autor nos ajuda a compreender as atuais transformações, que são, em última instância,
manifestações de saturação de um padrão de racionalidade econômica e social que não atende às
expectativas existenciais de expressivos segmentos da sociedade contemporânea.
Dado que cada período histórico possui um ethos dominante, a
contemporaneidade é hegemonicamente regida pela racionalidade instrumental, aqui
entendida como um conjunto de ações que os homens efetuam tendo em vista um fim
específico a ser alcançado. É a lógica do mercado que perpassa toda a tessitura
social, condicionando a sensibilidade humana a estreitos horizontes existenciais. O
evento marcante que inicia essa nova mentalidade está associado a pressupostos
sustentados pelo positivismo. Este corpo teórico-metodológico e doutrinário instaura
um novo paradigma para a ciência, e, esta, legitimando com seu arsenal técnico, vem
dirigindo amplos setores da vida social com as mesmas premissas epistemológicas
aplicadas às ciências da natureza.
Max Weber tenta demonstrar que a racionalização da vida econômica que
caracteriza o capitalismo moderno, se relaciona com compromissos de valores morais
– a ética protestante – suscitada nas crenças calvinistas que exigem de seus crentes
uma vida coerente de disciplina em todos os momentos. O que se pretende instituir é
uma sociedade perfeita que não repousa já sobre o fantasma religioso ou imaginário,
mas que se funda na razão, fazendo com que as equações matemáticas se constituam
em arrojadas pontes entre os diversos elementos da natureza e da sociedade.
Para Weber, a racionalidade formal e instrumental é determinada por uma
expectativa de resultados, ou fins calculados. Por outro lado, a racionalidade
substantiva, ou de valor, é determinada independentemente de suas expectativas de
sucesso e não caracteriza nenhuma ação humana interessada na consecução de um
resultado ulterior a ela.
Ensejando insegurança psicológica, degradação da qualidade de vida, além de outros
desconfortos, a modernização denota o caráter ofuscante das individualidades, observado
nas sociedades contemporâneas. Registra-se a eclosão de diversos movimentos sociais
enfrentando o ethos cotidiano referenciado exclusivamente na racionalidade instrumental o
que tem suscitado perplexidades que podem viabilizar uma reformulação teórica de enorme
magnitude.
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BIBLIOGRAFIA
BARQUERO, Antonio Vásquez. Desarrollo, redes e innovación. Lecciones sobre
desarrollo endógeno. Madri: Ediciones Pirámide, 1999.
CAPEL, Horacio.
Ciencia, Inovación y Desarrollo Económico en la ciudad
Contemporánea.
Scrita Nova- Revista Electrónica de Geografia y Ciencias Sociales., Universidad
de Barcelona, n° 23, 15 de Junio de 1998.
CASTELLS, Manuel et all. Novos Paradigmas Críticos em Educação. Ed. Vozes,
1998
GIDDENS, Anthony. Capitalismo e Moderna Teoria Social. Editorial Presença, Lisboa
2ª edição. 1984.
GIDDENS, Anthony. Modernização Reflexiva: Política, Tradição e História na Ordem
Social Moderna. São Paulo. UNESP, 1997.
SCHNITMAN, Dora Fried.(org.) Novos Paradígmas, Cultura e Subjetividade.Trad.
Rodrigues, Jussara Haubert. Ed. Artes Médicas, Porto Alegre,1996
LIMA, Fernando Roque de. A Razão na Modernidade. Cadernos de Educação, ano 1,
nº 1, Universidade Estadual de Feira de Santana, 1996.
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