O PARADIGMA DA COMPLEXIDADE: DESAFIOS PARA O COHECIMETO
Maria Auxiliadora de Resende Braga. MARQUES
Centro Universitário Moura Lacerda
RESUMO: este texto tem por objetivo compreender a importância da epistemologia da
complexidade para repensar o paradigma cientificista e instrumental dominante, na
perspectiva da educação, do conhecimento e da formação na universidade. A construção do
conhecimento, em qualquer campo da ciência, dependerá das articulações e do
estabelecimento de condições sócio-culturais que vão constituir o processo da construção.
Trata de um tema bastante relevante, tendo em vista as conseqüências sociais e ambientais
no contexto da modernidade, onde prevaleceu o paradigma instrumental, como controlador
da validade do conhecimento científico. Nessa direção, entende-se que pensar a construção
do conhecimento implica ampliar o contexto de sua construção, inseri-lo em condições
sócio-culturais, para além da hiperespecialização, trazendo para o seu eixo temático, outros
saberes que articulem e contribuam para a relevância social do conhecimento ampliando
para o campo da educação em geral.
Palavras-chave: Conhecimento, Universidade, Paradigma, Modernidade, Complexidade.
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O PARADIGMA DA COMPLEXIDADE: DESAFIOS PARA O COHECIMETO
Maria Auxiliadora de Resende Braga MARQUES - CUML
Introdução
As limitações do paradigma cientifico como norteador do desenvolvimento
científico, social no contexto da modernidade, tem despertado a preocupação de estudiosos
sob muitas questões. É sobre esse enfoque que esse trabalho permeia, a partir de um olhar
crítico sobre o paradigma moderno e a possibilidade de ampliar esse olhar focado na
epistemologia da complexidade. Não há dúvidas sobre o progresso do conhecimento e a sua
contribuição para a solução dos problemas promovidos pelas ciências modernas, motivando
um tipo de pensamento com cientificista e reducionistas.
Nossa civilização e, por
conseguinte nossa educação em geral, privilegiaram a separação, a especificidade em
detrimento da ligação e da contextualização, ou seja, a análise em detrimento da síntese.
A força dessa razão técnica e instrumental (Habermas, 1990), tomou conta dos
avanços da ciência e da tecnologia no século XX, articuladas ao poder econômico do
mercado cujas exigências pretendem fazer dela (ciência e técnica) o instrumento de
produção. O momento atual expressa muitos paradoxos, contradições, incertezas, mas
também desafios, este último iluminado por bases teóricas alternativas e emancipadoras
capazes de construir novos modos de pensar e agir. A inadequação das bases teóricometodológicas e epistemológicas fundamentadas pelo pensamento linear, dominado pela
lógica reducionista cartesiana, cristalizou-se uma visão de ciência e comprometeu os
aspectos essenciais da visão de conjunto - mediante uma visão global do objeto
contextualizado.
A relevância de discutir o paradigma da ciência moderna faz-se necessário a partir
de duas questões que sugerem e exigem questionamentos e crítica. Primeiro trata-se de
identificar nas conquistas atuais das ciências naturais, nos diferentes campos do
conhecimento, por exemplo, agricultura, medicina, biologia entre outras, as quais do ponto
da ciência e da tecnologia avançaram em proporções significativas. Segundo atentar-se a
partir das conseqüências sociais e ambientais produzidas sob a influência do paradigma da
modernidade, como eixo para avançar efetivamente na perspectiva de buscar um outro
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paradigma apoiado em dimensões mais amplas. Essa perspectiva sugere uma nova
epistemologia para a prática educativa, para a construção do conhecimento em todos os
níveis, e, mormente, na universidade, considerada como instituição social, onde se dá o
desenvolvimento do conhecimento científico e da formação humana e profissional. Para
isso, a discussão é pertinente no sentido de buscar as conexões possíveis para compreender
o processo da construção do conhecimento, o qual dependerá também de uma nova visão
de universidade, mais articulada nas relações com a sociedade.
A epistemologia da complexidade: para re-pensar a construção do conhecimento
Em face das constatações das conseqüências sociais produzidas em todo o século
XX, Morin propõe que a educação colabore para a superação dos erros e ilusões
provocadas pela ciência moderna. “A educação deve se dedicar, por conseguinte, à
identificação da origem de erros, ilusões e cegueiras.” (p.21). O autor chama a atenção
para o cuidado de identificar os erros, suas fontes paradigmáticas aceitas, o preconceito
para com as questões sociais e ambientais e ainda o distanciamento do compromisso da
ciência sobre a humanidade e o planeta.
É preciso não perder de vista que o homem buscava o conhecimento numa
integração harmônica com a natureza, numa perspectiva relacional entre todo e partes.
Porém, a propósito da dessa discussão os antagonismos estabelecidos separaram as relações
que deveriam ser conectadas, como a relação sujeito-objeto, teoria e prática, razãoemancipação, entre outros, adquirem uma relação de dominação, um sobre o outro. A
necessidade de mudanças são importantes para ultrapassar essa visão utilitarista de homem,
mundo e a partir daí novas (re)configurações para os modos de pensar e fazer o
conhecimento e a educação sob o modelo de uma pluralidade teórica e epistemológica
instaurada pela modernidade.
É importante ressaltar que toda aprendizagem e todo conhecimento são uma
tentativa de mergulhar sobre as essências, as realidades, para identificar e extrair os objetos
do conhecimento. Morin nessa direção em Os Sete Saberes necessários para a educação do
futuro (2000) diz que “o conhecimento não é um espelho das coisas ou do mundo externo”
(p.20), quer dizer que todo o conhecimento é uma busca, investigação, indagação e por isso
pode incorrer erros (Bacon) sobre o modo de conhecer.
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A teoria da complexidade ao propor um novo modo de pensar, ressalta a
possibilidade da religação dos saberes compartimentados, como possibilidade de superação
do processo de atomização. Ao examinarmos a estrutura que orienta a produção do
conhecimento científico, sedimentada em bases instrumentais, identifica-se que a visão
mecanicista e utilitarista ainda persiste na produção do conhecimento na universidade,
transformando essa prática num ato simplificado e compartimentado do contexto onde se
insere. A universidade tem contribuído para essa simplificação, configurando assim, uma
crise de legitimidade daquilo que ela produz e da função social que ocupa.
Morin (2000) apresenta na epistemologia da complexidade, no seu sentido próprio,
a capacidade de interligar, ou seja, a capacidade de juntar e reconstruir aquilo que nunca
deveria ser separado. Para isso, o autor apresenta as relações necessárias, a educação,
cultura, sociedade, meio ambiente, envolvendo as dimensões políticas no sentido da
argumentação coerente as necessidades humanas e planetárias. Em relação à educação, ao
conhecimento e a formação o autor apresenta contribuições importantes, envolvendo os
aspectos culturais, sociais e éticos necessários, para subsidiar uma reforma do pensamento e
novos modos de organização conhecimento.
“(...) o conhecimento do conhecimento não pode fechar-se em
fronteiras estritas” pois, o conhecimento não é insular, mas
peninsular, e, para conhecê-lo, temos que ligá-lo ao contexto mais
amplo, do qual faz parte. As partes devem ser interligadas entre si.
p.26).
Esclarece que todo conhecimento comporta necessariamente: a) uma competência
(aptidão para produzir conhecimentos); b) uma atividade cognitiva (cognição), realizandose em função da competência; c) um saber (resultante dessas atividades). As competências
e atividades cognitivas humanas necessitam de uma formação, de um aparelho cognitivo, o
cérebro, e ainda, as relações que permeiam essa interligação, entre o cérebro que pensa e
sobre o que pensa, para quem pensa, para além da cegueira. As aptidões cognitivas
humanas só podem desenvolver no seio de uma cultura que produziu e conservou, sob a
lógica e os critérios de verdade estabelecidos para o capital de saberes, necessários a
especialização.
Acrescentando, tanto o ensino quanto a pesquisa, direcionam nessa perspectiva, o
pesquisador deve perguntar o que pesquisar, por que pesquisar e para quem serve? A
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produção do conhecimento vai depender dessas questões A compreensão do conhecimento
como prática social, articulada a outras dimensões da sociedade, orientada pela visão de
mundo, de homem e natureza mais ampla. Quanto ao segundo buraco é que não ensinamos
as condições de um conhecimento pertinente. O caráter disciplinar e a ordem dada aos
processos do ensino e da pesquisa ajudaram no avanço do conhecimento científico,
obedecendo à ordem metodológica do processo, bem como a simplificação das concepções
teóricas e epistemológicas que fundamentam a prática do ensino e da pesquisa. Não é a
quantidade dos avanços da ciência, de conhecimentos e informações, nem a sofisticação da
de determinadas áreas, que podem responder pelo conhecimento pertinente, mas sim a
capacidade de colocar o conhecimento no contexto das inter-relações necessárias.
Contextualizar as questões atuais é uma questão ética, porém, ainda persiste a visão
sob as bases teóricas do paradigma dominante, negligenciando as questões complexas, pela
produção exacerbada do conhecimento científico. Conseqüentemente, o modo de pensar
dos sujeitos, encontra-se na cegueira (Morin, 1996), reproduzindo a educação e o ensino, e
da mesma forma os objetos de investigação que reproduzem a organização social e
econômica, de acordo com interesses políticos e econômicos.
Trata-se de uma obsessão individual o cientista em relação aquilo que faz e domina
(ensino-pesquisa) seguido pelo método ou modelo em que apóia as sua fundamentação
teórica e metodológica e ainda das relações econômicas e de poder existentes, que
possibilita o desenvolvimento do conhecimento. Compreender a realidade da construção do
conhecimento na universidade em sua multidimensionalidade, o todo nunca poderá resumir
como a soma das partes.
De fato a hiperespecialização impede tanto a percepção do global
(que ela fragmenta em parcelas), quanto do essencial (que ela
dissolve). Impede até mesmo tratar corretamente os problemas
particulares, que só podem ser propostos e pensados em seu
contexto. (MORIN, 2000: p.41).
A relevância do diálogo entre as ciências humanas e ciências exatas, enfim, re-ligar
tudo o que separamos em toda a história da modernidade, na obediência aos modelos, leis,
métodos e técnicas. A hiperespecialização comprometeu os aspectos essenciais - a noção de
interdependência e da visão de conjunto - que se apreende mediante uma visão de mundo,
de ciência, de homem e natureza. A filosofia pode contribuir eminentemente para o
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desenvolvimento de uma concepção crítica e problematizada, no sentido de situar o sujeito
em relação ao objeto, de forma contextualizada, interrogando-o e submetendo-o a
condições interrogativas, esse seria o caminho e a condição para a construção do
conhecimento científico, incluindo a condição humana. A complexidade é o desafio da
visão global. Já a visão fragmentada, a qual promove a irresponsabilidade considera apenas
partes, cuida apenas de partes, deixando de considerar a totalidade. (MORIN, 2004: p. 18).
É urgente, promover uma reforma do pensamento, da educação e da ciência – o
conhecimento precisa a voltar ser um bem social, uma obra da condição humana, um bem
para a humanidade “a reforma do ensino deve levar à reforma do pensamento, e a reforma
do pensamento deve levar à reforma do ensino”. (2004: p. 20).
Considerações
Os desafios são muitos, na luta para a superação da racionalidade técnicainstrumental, e seus desdobramentos epistemológicos para a educação e para a ciência.
O momento é de Certezas? Esperanças? Na medida em que novas possibilidades
apontam caminhos a ser seguido, ainda com atalhos longos e inesperados. A novidade é que
nosso planeta, a sociedade em geral, o desenvolvimento da civilização acenam para a
urgência de um conhecimento sob bases teóricas contextuais entre culturas, ética e no
diálogo entre as diferentes áreas da ciência.
Re-encontrar o elo perdido entre Homem e Natureza, resgatar o diálogo entre as
exigências da reflexão filosófica, epistemológica, procurar a sustentação necessária para
avançar em direção a uma nova visão de ciência, de mundo, e para tanto, isso implica
compreender a complexidade como uma unidade que exige e amplia a visão do contexto,
situando a humanidade e planeta como a fonte indissociável e muldimensional.
“O único meio de se não morrerem as idéias é continuar nascendo...”(Wittgenstein, L.)
Bibliografia
HABERMAS, J. O Discurso Filosófico da Modernidade. Lisboa, Dom Quixote, 1990.
MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. Lisboa: Instituto Piaget, 1991.
MORIN, E. A cabeça bem feita. Repensar a reforma, reformar o pensamento. Trad. Eloá
Jacobina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
MORIN, E. A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Trad. Flavia Nascimento.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
MORIN, E. Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. Cortez Editora, 2000.
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O PARADIGMA DA COMPLEXIDADE: DESAFIOS PARA O COHECIMETO
Maria Auxiliadora de Resende Braga MARQUES
Centro Universitário Moura Lacerda /Ribeirão Preto-SP
ITRODUÇÃO
As limitações do paradigma cientifico como norteador do desenvolvimento
científico, social no contexto da modernidade, tem despertado a preocupação de estudiosos
sob muitas questões. É sobre esse enfoque que esse trabalho permeia, a partir de um olhar
crítico sobre o paradigma moderno e a possibilidade de ampliar esse olhar focado na
epistemologia da complexidade. Não há dúvidas sobre o progresso do conhecimento e a sua
contribuição para a solução dos problemas promovidos pelas ciências modernas, motivando
um tipo de pensamento com cientificista e reducionistas.
Nossa civilização e, por
conseguinte nossa educação em geral, privilegiaram a separação, a especificidade em
detrimento da ligação e da contextualização, ou seja, a análise em detrimento da síntese.
Essa perspectiva sugere uma nova epistemologia para a prática educativa, para a
construção do conhecimento em todos os níveis, e, mormente, na universidade, considerada
como instituição social, onde se dá o desenvolvimento do conhecimento científico e da
formação humana e profissional. Para isso, a discussão é pertinente no sentido de buscar as
conexões possíveis para compreender o processo da construção do conhecimento, o qual
dependerá também de uma nova visão de universidade, mais articulada nas relações com a
sociedade.
OBJETIVO: buscar as conexões possíveis para compreender o processo da construção do
conhecimento, à luz da epistemologia da complexidade.
DESEVOLVIMETO
Essas discussões fazem parte da nossa temática de pesquisa, sobre a construção do
conhecimento na universidade, a qual conta com o referencial teórico do contexto da
modernidade.A centralidade da racionalidade técnica-cientificista norteada da visão de
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mundo, de ciência e necessariamente da educação, tem reproduzido ainda no mundo
contemporâneo os ideais da ciência moderna. As transformações contemporâneas, a
quantidade de informações, de tecnologia e os impactos ambientais negativos são algumas
das questões que levam à instabilidade da sociedade pós-moderna. Existe conceitos e
concepções que até então considerados como verdades absolutas não respondem mais pelas
necessidades atuais.. Tais incertezas produzem complexidade, dialogicidade entre os
processos socioculturais e o conhecimento científico.
COSIDERAÇÕES
Os desafios são muitos, na luta para a superação da racionalidade técnica-instrumental, e
seus desdobramentos epistemológicos para a educação e para a ciência.
O momento é de Certezas? Esperanças? Na medida em que novas possibilidades apontam
caminhos a ser seguido, ainda com atalhos longos e inesperados. A novidade é que nosso
planeta, a sociedade em geral, o desenvolvimento da civilização acenam para a urgência de
um conhecimento sob bases teóricas contextuais entre culturas, ética e no diálogo entre as
diferentes áreas da ciência.
Re-encontrar o elo perdido entre Homem e Natureza, resgatar o diálogo entre as exigências
da reflexão filosófica, epistemológica, procurar a sustentação necessária para avançar em
direção a uma nova visão de ciência, de mundo, e para tanto, isso implica compreender a
complexidade como uma unidade que exige e amplia a visão do contexto, situando a
humanidade e planeta como a fonte indissociável e muldimensional.
“O único meio de se não morrerem as idéias é continuar nascendo...”(Wittgenstein, L.)
BIBLIOGRAFIA
HABERMAS, J. O Discurso Filosófico da Modernidade. Lisboa, Dom Quixote, 1990.
MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. Lisboa: Instituto Piaget, 1991.
MORIN, E. A cabeça bem feita. Repensar a reforma, reformar o pensamento. Trad. Eloá
Jacobina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
MORIN, E. A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Trad. Flavia Nascimento.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
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