A competitividade da indústria nacional de base florestal, que historicamente foi alavancada por fatores
estruturais (naturais, climáticos, disponibilidade de terra a preços atrativos, tecnologia florestal
desenvolvida, disponibilidade de mão de obra qualificada) e internos às empresas (estratégia individual,
escala de operação, qualidade dos produtos, tecnologia e capacidade de gerir o negócio), está em
processo de redução no cenário internacional em função de diversos fatores sistêmicos.
Uma das estratégias que podem contribuir para reverter essa tendência de redução da competitividade é a
promoção de ações mais efetivas para a manutenção e a melhoria da produtividade das florestas
plantadas, com o objetivo de redução do custo de produção e o aumento da disponibilidade de madeira.
No caso do eucalipto, a produtividade média atual dos plantios das empresas associadas da Abraf é de
40,2 m3/ha/ano (valor médio de 2006 a 2011), variando, nesse período, entre 39,4 a 41,3 m3/ha/ano.
Se considerarmos as produtividades obtidas em plantios realizados na década de 1970 como uma
referência inicial, podemos inferir que, nos últimos 40 anos, a produtividade do eucalipto no Brasil
aumentou a taxas entre 0,5 a 1,1% ao ano.
Os valores dessas taxas (resultantes de melhorias no manejo e no material genético) podem ser
considerados muito elevados para culturas perenes e extremamente desafiadores de serem mantidos,
principalmente em plantios que já possuem um padrão tecnológico de material genético e de manejo bem
definido.
Como referência de outras culturas, a taxa de crescimento anual, em nível global, da produtividade de
milho, arroz e trigo, que são culturas com quantidade de ciclos de melhoramento muito superior ao do
eucalipto, ficou entre 1,2 a 1,3 % nos últimos 50 anos.
A produtividade é definida pelo material genético escolhido para ser cultivado e pelos fatores de produção
vegetal, que podem ser agrupados em climáticos (radiação, temperatura do ar, déficit de pressão de
vapor, ventos, água e CO2); edáficos (nutrientes minerais, aeração (O2) e umidade do solo) e biológicos
(competição intra e interespecífica, pragas e doenças).
Uma vez definido o local de cultivo, algumas dessas variáveis (principalmente as climáticas e aquelas
relacionadas à estrutura física do solo) são praticamente fixadas. Sobre as demais variáveis, há uma maior
flexibilidade de controle. A definição das melhores estratégias de manejo desse segundo grupo de
variáveis é de responsabilidade da área de pesquisa.
Em um cenário atual e futuro, caracterizado por:
1. áreas tradicionais de cultivo com várias rotações (podendo, se manejadas inadequadamente, ter
ocorrido comprometimento em características físicas e químicas do solo);
2. expansão (novas fronteiras de cultivo) acontecendo em ambientes edafoclimáticos de potencial
produtivo inferior ao das áreas “tradicionais” de cultivo;
3. custo de insumos (fertilizantes, defensivos, etc.) aumentando consistentemente;
4. restrições previstas em algumas certificações ao uso de alguns defensivos essenciais ao manejo de
pragas em florestas plantadas e ainda sem substitutos no mercado;
5. demanda global de culturas agrícolas para a produção de alimentos, forragem, ração animal e
combustíveis aumentando em ritmo acelerado nos últimos anos, a manutenção e aumento dos níveis
atuais de produtividade, associados a uma redução de custo de produção da madeira, demandarão uma
contribuição ainda mais efetiva da área de pesquisa na proposição e na implementação de inovações ao
atual processo de produção.
Diante desse grande desafio, é necessário refletirmos se os atuais recursos atualmente alocados em
pesquisa são suficientes, e se eles estão sendo aplicados em projetos alinhados com as melhores
oportunidades para a obtenção dos produtos necessários para a garantia da manutenção da
competitividade do setor florestal brasileiro.
No caso da cultura do eucalipto, oportunidades de melhoria no atual processo de produção podem estar
nas seguintes linhas de trabalho de pesquisa:
1. utilização mais intensiva de diferentes espécies (alternativas aos materiais de E. grandis, E. Urophylla e
seus híbridos) utilizadas nos programas de melhoramento genético (exemplo: utilização de E. globulus
para a produção de híbridos para cultivo em regiões de clima mais frio e de baixa evapotranspiração,
destinados à produção de celulose);
2. validação da metodologia de seleção genômica ampla como ferramenta complementar ao
melhoramento genético clássico, visando à redução do tempo e à melhoria da eficiência de seleção de
novos clones comerciais;
3. aplicação de metodologias que consigam separar o efeito de dominância do efeito genético em
experimentos utilizados para a seleção de clones, garantido maior nível de acerto na indicação de novos
clones comerciais;
4. estudos na área de proteômica e metabolômica (era pós-genômica) – permitiriam maior entendimento
de como o genótipo controla o comportamento de plantas de eucalipto em situações de estresse abiótico
e biótico, e também a produção de informações úteis em futuros trabalhos de transformação genética;
5. avaliação da viabilidade de uso de técnicas de modificação genética como estratégia para aumento de
resistência a pragas e a doenças;
6. customização de modelos baseados em processos utilizados para estimativa da produtividade dos
plantios, com objetivo de estimar impactos de mudanças nos fluxos de água, nutrientes e variáveis
climáticas na produtividade;
7. estudos nas áreas de física do solo – diagnóstico das alterações ao longo dos ciclos de cultivo e seus
impactos nos fluxos de água, oxigênio e nutrientes;
8. melhoria de eficiência no uso de insumos – redefinição de produtos (fontes), doses, épocas, localização
e modo de aplicação;
9. impacto do manejo e do aproveitamento de resíduos da colheita na sustentabilidade do sistema;
10. estudo de estratégias de seleção de materiais genéticos e de manejo para minimização de riscos aos
plantios realizados em regiões com maior probabilidade de ocorrência de eventos climáticos desfavoráveis;
11. avaliação e registro de herbicidas a serem utilizados no controle de plantas daninhas – busca de
opções para controle de plantas daninhas de folha larga;
12. viabilização do uso em larga escala de técnicas de silvicultura de precisão;
13. automação de atividades (exemplo: na produção de mudas, verificar a aplicabilidade de sistemas
utilizados na Europa para a produção de flores e hortaliças); dentre outros.
Tão importante como a definição de áreas onde deve haver aumento dos investimentos para a obtenção
de novos conhecimentos, deve ser a definição de como aproveitar o conhecimento já disponível (nas áreas
de solos, manejo, proteção florestal, melhoramento genético, qualidade da madeira e etc.).
Atualmente, a geração de conhecimento pode ser considerada maior que a capacidade de análise das
pessoas responsáveis pela aplicabilidade desse conhecimento.
Para equilibrar essa situação, é necessário pensar na necessidade de redimensionamento das equipes e
investir na capacitação dos profissionais responsáveis por essa atividade (conversão de dados em
informações, de informações em conhecimento, de conhecimento em inovação, de inovação em novo
procedimento operacional e de novo procedimento operacional em agregação de valor ao processo de
interesse).
A promoção de um maior alinhamento entre as demandas e os projetos desenvolvidos pelas principais
fontes de geração de conhecimento nacionais e internacionais (universidades, institutos e empresas)
também podem contribuir para uma maior sinergia entre elas e, consequentemente, aumentar a chance
de proposição de inovações relevantes.
A implementação desse conjunto de ações (aumentos de investimentos em algumas linhas de trabalho,
manutenção das linhas atuais, melhoria da capacidade de organização e de análise do conhecimento já
disponível e promoção de um melhor alinhamento entre as diversas fontes geradoras de conhecimento),
associado à aplicação de ferramentas de gestão de projetos adaptados à gestão de projetos de pesquisa,
certamente, é um dos caminhos para a elevação da produtividade e a redução dos custos de produção da
madeira, que são ações essenciais para elevação do nível de competitividade do setor brasileiro de base
florestal.
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