CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
CURSO SUPERIOR DE BACHARELADO EM HOTELARIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Hotéis Cassino: mais do que hotelaria, mais do que jogo
Miriam Nieri Madi
Thalitta Kisovec Vital
São Paulo
Novembro de 2009
MIRIAM NIERI MADI
THALITTA KISOVEC VITAL
Hotéis Cassino: mais do que hotelaria, mais do que jogo
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Centro Universitário SENAC – Campus
Santo Amaro como exigência parcial para
obtenção de grau do curso de Bacharel em
Hotelaria.
Orientador: Prof. Julio Cesar Butuhy
São Paulo
Novembro de 2009
M182h
Madi, Miriam Nieri; Vital, Thalitta Kisovec
Hotéis Cassino: mais do que hotelaria, mais do que jogo/
Miriam Nieri Madi; Thalitta Kisovec Vital – São Paulo, 2009.
88f.
Orientador: Prof. Julio Cesar Butuhy
Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Hotelaria)
– Centro Universitário Senac – Campus Santo Amaro, 2009.
1. Hotel cassino 2. Jogos de azar 3. Brasil 4. Las Vegas
5. Turismo de experiência I. Butuhy (orient.) II. Madi e Vital III.
Hotéis Cassino: mais do que hotelaria, mais do que jogo.
CDD 647.94
Miriam Nieri Madi
Thalitta Kisovec Vital
Hotéis Cassino: mais do que hotelaria,
mais do que jogo
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Centro Universitário SENAC – Campus
Santo Amaro como exigência parcial para
obtenção de grau do curso de Bacharel em
Hotelaria.
Orientador: Julio Cesar Butuhy
A banca examinadora dos Trabalhos de Conclusão em sessão pública realizada em
05/11/2009, considerou as candidatas:
1) Examinadora: Mônica Bueno Leme
2) Examinador: Rafael Rodrigues da Costa
3) Presidente: Julio Cesar Butuhy
Aos nossos pais, leitores curiosos,
ávidos e críticos.
Ao nosso professor e mentor, Julio C.
Butuhy, fonte de inspiração e apoio em
um tema tão polêmico.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos primeiramente ao Dr. Ciro Batelli, por toda
atenção e colaboração;
Ao nosso orientador, Butuhy, por toda a paciência, estímulo e
atenção durante os três anos que antecederam a realização
desse projeto;
A nossa professora Mônica Bueno Leme, por acreditar que
podíamos desenvolver o tema;
Aos nossos pais, que são a nossa base, exemplo e
incentivadores, por todas as palavras de estímulo nos
momentos em que mais precisávamos;
E aos nossos amigos, pelo carinho e paciência durante todo o
desenvolvimento do trabalho.
"Você pode descobrir mais a respeito de uma pessoa numa hora de jogo do que
num ano de conversação."
Platão
“Se você apostar em um cavalo, isso é jogo. Se você apostar que consegue três
espadas, isso é entretenimento. Se você apostar que o algodão vai subir três
pontos, isso é negócio. Consegue ver a diferença?”
Blackie Sheerod
RESUMO
O trabalho a seguir tem o objetivo de uma re-introdução ao tema de hotéis
cassino. 30 de abril de 1946 foi a morte do jogo de azar no Brasil, ou será que não?
Na realidade a ato de apostar, nascido na antiguidade, permanecerá até os fins do
tempo. O jogo no Brasil continua existindo, visto que a sua forma somente mudou,
porém os cassinos ficaram manchados na sociedade brasileira. Entretanto deve-se
perguntar se os elementos que outrora culminaram no repudio aos cassinos ainda
existem, afinal de conta mais de 60 anos se passaram. O trabalho aqui desenvolvido
visou reavivar a discussão, primeiramente apresentando os elementos que
compõem os hotéis cassino e como eles diferenciam esse ramo hoteleiro dos
demais. Continua por trazer para a pauta questões como o jogo de azar e os
argumentos mais comuns contra a liberação, verificando o que mudou na imagem
dessa indústria. Por último analisou a relação entre hotéis cassino e o turismo, para
que no final, fosse possível combinar os diversos elementos abordados durante o
projeto para elaborar o melhor modelo para o país. Através de extensas pesquisas
em publicações nacionais e internacionais, tanto em material impresso quanto
digital, foram completadas todas as etapas a que esse trabalho se propôs, assim
como determinadas as possibilidades de implantação do modelo proposto no Brasil.
Palavras-chave: hotel cassino, jogos de azar, Brasil, Las Vegas, turismo de
experiência
ABSTRACT
The work that follows had the objective to re-introduce the theme of casino
hotels.30th April 1946 was the death of gambling in Brazil, or was it not? In reality the
act of betting, born in ancient times, will remain everlastingly. Gambling in Brazil still
exists, seeing that only its form has changed, but casino’s image remained stained in
the Brazilian society. However it should be inquired if the elements that once
culminated in the repudiation of casino are still present; after all, over 60 years have
passed. The project developed here aimed to revive the discussion, primarily
introducing the elements that compose casino hotels and how they differentiate this
hospitality business from the others. It continues bringing into discussion subjects
such as gambling and common arguments against the liberalization, verifying what
has changed in the image of that industry. At last it analyzed the relation between
casino hotels and tourism so that, in the end, it would be possible to combine several
of the elements approached during the project to elaborate the best model for the
country. Through extensive research of national and international publications, in
printed and digital material, all the stages which this project proposed were achieved,
as were determined the possibilities of implementing the proposed model in Brazil.
Key-words: casino hotel, gambling, Brazil, Las Vegas, tourism of experience
LISTA DE IMAGENS
IMAGEM
PÁGINA
1 – El Rancho Vegas
18
2 – Flamingo
19
3 – Caesar’s Palace
23
4 – Mirage Volcano
24
5 – Foxwood Casino
26
6 – Isle of Capri Casino Riverboat em Mississippi
27
7 – Copacabana Palace
29
8 – Restaurante Mix dentro do Mandalay Bay
40
9 – Batalha de Galeões no Treasure Island
43
10 – Espetáculo “O” no Bellagio
44
11 – Canais de Veneza versus Canais do The Venetian
49
12 – Loterias Caixa Econômica Federal
55
13 – Poker Online, jogo de azar mais comum na Internet
57
14 – “Bugsy”: a imagem da máfia
61
LISTA DE QUADROS
QUADRO
PÁGINA
1 – Exemplo de Hospedagem em Las Vegas
35
2 – Exemplo de Hospedagem na América Latina
36
3 – Exemplos de Hospedagem no Brasil
37
4 – Comparativo das drogas mais comuns
68
5 – Os impactos positivos e negativos do turismo
73
6 – Dados básicos do Brasil
74
7 – Dados básicos de Las Vegas
75
8 – O básico em hotéis cassino
88
SUMÁRIO
Página
INTRODUÇÃO
12
CAPITULO 1 - BEM VINDO AO MUNDO DOS HOTÉIS CASSINOS
14
1.1 Conceituação
14
1.2 Desenvolvimento
15
1.3 Uma volta ao redor do mundo
19
CAPÍTULO 2 - DESMEMBRANDO OS HOTÉIS CASSINOS
32
2.1 Muito mais do que jogos: o lado hoteleiro dos hotéis cassinos
32
2.2 Acomodações que vão além de simples quartos
33
2.3 Gastronomia diferenciada para todas as ocasiões
38
2.4 Além de simplesmente hotéis: entretenimento, lazer e eventos
41
2.5 Hotéis cassino como turismo de experiência
46
CAPÍTULO 3 - O ELEMENTO JOGO E A LADY LUCK
51
3.1 Cassinos e jogos
51
3.2 O desenvolvimento dos jogos de azar: Loterias, Bingos e Jogos Online
52
3.3 Jogos de Azar: Por que não?
60
CAPÍTULO 4 - “EXPLORE O TURISMO E NÃO O TURISTA”
71
4.1 A importância do Turismo
71
4.2 Uma breve análise comparativa: Brasil e Las Vegas
73
4.3 Primeiro passo: Legislar
77
4.4 Como seria o modelo ideal para o Brasil
83
CONSIDERÇÕES FINAIS
90
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
92
INTRODUÇÃO
A legalização, regulamentação e a liberação dos hotéis cassinos é um tema
recorrente no Brasil. Desde a proibição dos jogos no país através do Decreto-Lei no
9.215, assinado pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra, a volta dos mesmos é assunto
de discussões entre investidores, empresários, a sociedade e o governo. Porém
essas discussões não foram levadas a frente e, decorrente disso, de todos os
projetos de lei criados, a maioria não chegou a ser votado na câmara de deputados.
A legislação brasileira e a burocracia vêm causando entraves no estudo para a
entrada desse tipo de empreendimento novamente no Brasil. Estudo esse que é
imperativo para uma nova discussão sobre o tema.
Segundo Eadington (2002 p. 158), no artigo sobre a proliferação de cassinos
e seu papel no desenvolvimento do turismo, “as jurisdições que legalizaram o jogo
de cassino viram o surgimento de novas indústrias de jogos, com impactos
substanciais sobre o padrão de gasto do consumidor, assim como indústrias
competitivas e complementares”
Ainda verificando a pertinência do estudo e em conformidade com as
constatações de Eadington, Batelli em uma entrevista a IstoÉ Dinheiro, acerca dos
impactos econômicos gerados por esse tipo de empreendimento, salienta que nós
“estamos sustentando todos os cassinos da América Latina sem usufruir nada em
impostos” (DAMIANI, 2005). Após ser conhecido no Brasil como estudioso e
defensor do tema e, posteriormente, sendo reconhecido por seu trabalho nos
Estados Unidos, Batelli se tornou ícone da discussão do tema de hotéis cassino no
Brasil, portanto referência indispensável para o desenvolvimento desse estudo.
Mesmo o jogo não sendo liberado no Brasil, e com isso não sendo permitida a
instalação de hotéis cassino no país, o estudo à respeito do tema é justificado e de
importância, pois representa uma oportunidade de negócios da qual o Brasil não
participa.
Frente
ao
potencial
turístico
não
utilizado
e
das
adversidades
socioeconômicas na qual o Brasil se encontra, este trabalho visou de modo geral
oferecer uma análise do tema de hotéis cassinos para servir de referência e
estímulos a novos avanços na regulamentação, legalização e liberação de hotéis
cassino. De modo mais imediato, esse trabalho tem como objetivo fornecer uma
12
gama de informações pertinentes para o esclarecimento do grande público acerca
do tema foco desse projeto.
Por ser um tema abrangente, intimamente ligado a política, com pouca
divulgação para o público em geral, o material disponível é escasso e disperso.
Portanto, esse trabalho, oferece um embasamento teórico, através de uma reintrodução ao tema. Para a realização desta re-introdução, foram realizadas
pesquisas acadêmicas, que permitiram a construção de uma base teórica acerca
dos hotéis cassino, sua evolução e tendência, como também sobre os jogos de azar.
No entanto a obtenção desses dados foi intrincada e o material impresso
apresentava dubiedade de informação. Por esse motivo foi necessária a utilização
de websites de empresas ligadas ao assunto jogos e hotéis cassino, e baseou-se
também nos principais estudiosos do assunto, entre eles Batelli, que concedeu uma
entrevista as pesquisadoras, no dia 16 de outubro de 2009.
Após a construção dessa base teórica, o segundo passo foi a obtenção de
dados que representassem o cenário atual, tanto brasileiro, quanto estrangeiro, afim
de tornar possível uma comparação e análise do ganho turístico que se poderia
obter através da introdução dos hotéis cassinos no país.
Em suma, o projeto desenvolvido estuda as peculiaridades e a relevância
deste segmento na atividade hoteleira e de turismo, com conseqüências tanto para a
sociedade quanto para a economia, com o intuito final de fomentar a discussão
sobre o tema hotel cassino nos diversos níveis da sociedade e, futuramente, no
governo.
De modo a alcançar os objetivos definidos, é necessário embarcar no tema
dos hotéis cassino, empreendimentos hoteleiros compostos por hospedagem de alto
padrão, gastronomia de qualidade, eventos e convenções para o público de
negócios e inúmeras opções de entretenimento, aliadas com os jogos de azar, para
os mais diversos públicos.
13
"O trabalho é tudo o que se é obrigado a fazer; jogo é tudo o que se faz sem ser obrigado."
Samuel Clemens
CAPÍTULO 1
BEM VINDO AO MUNDO DOS HOTÉIS CASSINOS
1.1 Conceituação
Para muitos, hotéis cassino são simplesmente a condensação de dois
conceitos em um único estabelecimento, ou seja, a junção de um hotel com um
cassino. Segundo Camilo Ferraresi (apud BADARÓ, 2006 p. 125), citando Candido e
Vieira, “hotel é palavra genérica que identifica e define diversos tipos de
estabelecimentos comerciais destinados a acolher, alimentar e entreter pessoas”. No
século XVIII, o termo cassino designava um prédio aonde era possível dançar, ouvir
música e apostar, porém já em 1851 o mesmo passou a ser a denominação de um
estabelecimento para a prática de apostas, conseqüência direta da precedência dos
jogos sobre os demais aspectos no interesse dos freqüentadores (AMERICAN
HERITAGE DICTIONARY, 2009).
Simplesmente juntar os dois conceitos seria o mesmo que dizer que hotéis
cassinos são estabelecimentos para apostas que oferecem hospedagem para os
jogadores, o que pode até ter sido a realidade no início da operação dos mesmos.
Entretanto, os cassinos evoluíram.
Livros se referem a hotéis cassino como sendo uma junção de cassinos com
hotéis, dizendo que o foco tanto do empreendimento quando do publico é nos jogos
de azar e nem tanto a hospedagem, a alimentação e o entretenimento. Porém, o
publico está cada vez mais sendo atraído para esse tipo de empreendimento não só
pelo jogo, mas sim pelo entretenimento total, incluindo shows, convenções, eventos
e também a diversão (jogos inclusos). Esse fato fica embasado com autores como
Kilby, Fox e Lucas que, em seu livro Casino Operations Management (KILBY, FOX e
LUCAS, 2005), transmitem a idéia de que apesar do cassino por si só se bastar
financeiramente, ele não afetaria o emocional dos clientes, se não existissem outras
atrações que auxiliassem a compor o atual cenário dos jogos modernos.
14
A hospedagem e o setor de A&B são de fato secundários se comparados ao
entretenimento. Autores como Ferraresi (apud BADARÓ, 2006) conceituam, e essa
diferenciação é o que separa os hotéis cassino da maioria dos empreendimentos
hoteleiros. Em suma, pode se dizer que os hotéis cassinos oferecem acolhimento,
alimentação e entretenimento (como os demais hotéis), porém tem o seu enfoque no
último. Esses estabelecimentos, que muitas vezes são atrações turísticas por si só,
ainda se diferenciam por oferecer experiências únicas para todos os seus
freqüentadores, sejam eles hospedes ou não.
1.2 Desenvolvimento
De modo geral, não existem dados que definam de maneira exata quando e
como surgiram os jogos de azar, os cassinos e, posteriormente, os hotéis cassinos.
Por outro lado, através de pedaços documentados da história do mundo e da
evolução das sociedades, é possível montar uma descrição lógica da seqüência de
acontecimentos. Existem evidências históricas e antropológicas que mostram a
presença de jogos de apostas desde tempos antigos, não só a presença como
também a aceitação dos mesmos de alguma forma (GAMBILING ORIGINS, 2009).
Em outras palavras, ele está presente desde os primórdios da História.
O ato de jogar com a sorte surge com rituais pagãos que tinham como
propósito a adivinhação do futuro através da interpretação do arranjo das astraglis
(ferramentas de jogo feitas de ossos que eram utilizadas quase como dados),
quando os mesmos eram jogados ao acaso. Com o passar do tempo, a utilização de
oferendas e sacrifícios, para aumentar as chances de um resultado mais positivo, se
tornaram uma prática cada vez mais usual, deixando de ser algo pessoal e
passando a ser alvo de apostas comuns entre grupos de pessoas. Eventualmente a
prática de jogos baseados em sorte se separou dos rituais religiosos e passou a ser
uma atividade separada que visava o ganho material.
Mesopotâmia, Pérsia, Egito, Índia e China são as civilizações mais antigas
que possuem artefatos concretos que comprovam a presença de jogos de dados e
tabuleiros, sendo que os achados mais antigos datam de 7000 anos antes de Cristo
(PROGRESS PUBLISHING, 2009). Os jogos tiveram uma presença marcante
15
durante todo o desenvolvimento da sociedade chinesa, tanto que muitos estudiosos
afirmam que a China foi à primeira sociedade a registrar oficialmente a prática de
jogos de azar (CLUB APOSTAR, 2009).
Durante o período Greco-Romano a jogatina, por assim dizer, já fazia parte do
cotidiano em todas as camadas da sociedade, sem grandes distinções, estando
presente até nas campanhas de guerra. Entre os preferidos estavam os tabuleiros e
os jogos que se utilizavam de dados. Nesse mesmo período surgiram leis que
regulamentavam a prática dos jogos, mesmo que elas não tenham sido muito
eficazes (PROGRESS PUBLISHING, 2009).
Na Europa Medieval, por volta do século XV a popularidade dos dados foi
substituída pelas cartas, vindas da Ásia e Arábia. Com isso, a variedade e a
complexidade dos jogos de azar aumentaram, e a sua popularidade também. Já no
final da Idade Média surge a loteria para completar a gama dos jogos de azar da
antiguidade (PROGRESS PUBLISHING, 2009). Os jogos com dados e cartas não
pararam de evoluir, se diversificar e se ramificar, dando origens a novos jeitos de
apostar com a sorte, culminando com a vasta opção de jogos de azar presentes na
atualidade.
Com a popularização dos jogos de azar e a sua disseminação através do
globo a criação de um ambiente propício para a prática dos mesmos era apenas um
passo natural no desenvolvimento.
No século XVIII, os cassinos surgiram como pequenas casas que ofereciam
um espaço para socialização, oferecendo bebida, música, dança e jogos para
entreter os seus freqüentadores. Com o passar do tempo, o foco desses
estabelecimentos passou a ser prática de jogos de azar/apostas, pois além de
representar o principal interesse dos clientes, ainda representava uma entrada de
receita significante. Por outro lado, outros segmentos consideram que os cassinos
são uma evolução dos saloons americanos, sendo que o nome “casino” seria uma
derivação do cash in – termo que designava a área do saloon aonde o jogador
trocava o dinheiro e as fichas para jogo.
Não demorou muito para que estabelecimentos hoteleiros começassem a se
instalar nas proximidades dos cassinos, e vice e versa. Os hotéis ofereciam uma
opção de acomodação para jogadores que ou não possuíam residência próxima, ou
não estavam em condições de ir para a mesma. Para os cassinos ter hotéis por
16
perto significava que os apostadores poderiam permanecer mais tempo dentro do
estabelecimento, conseqüentemente gerando cada vez mais receitas. As relações
entre esses dois tipos de empreendimentos foram se estreitando a medida que a
conexão entre eles se tornava mais evidente.
Assim como a origem dos jogos e dos cassinos não pode ser remontada com
exatidão, o mesmo ocorre com os hotéis cassino. De modo geral é aceito que o
nascimento desse novo tipo de empreendimento hoteleiro teve dois marcos
históricos, ambos ocorrendo na cidade que iria se tornar ícone no assunto hotéis
cassino.
A prática de jogos de azar, ao redor do mundo, passou por diversas
proibições, liberações e restrições no decorrer da toda a sua história. Em 1940, o
jogo estava liberado somente em algumas partes dos Estados Unidos e o estado de
Nevada era um deles. Na rua Freemont, Las Vegas, Tommy Hull e Jim Cashman
enquanto analisavam as oportunidades de negócios para aquela região, perceberam
que faltava um resort de verdade (HOPKINS, 1999).
Ao invés de instalar o seu hotel na Freemont, onde muitos afirmam ser o
berço de Vegas, Tommy Hull optou por construir na estrada que ligava Los Angeles
a Salt Lake City. Essa decisão deu início, tanto cronológica quanto geograficamente,
à famosa Las Vegas Strip (avenida na qual se localizam diversos hotéis
importantes), pois a construção do El Rancho marcou o ponto mais ao sul da
avenida (HOPKINS, 1999).
Uma das principais inovações do novo empreendimento foi estender os
serviços e o ambiente de luxo dos hotéis de alto padrão para motéis, feito que nunca
havia sido realizado antes. Essa mistura de motel de alto padrão com itens típicos
de resort, como uma piscina, fez com que o El Rancho começasse a fazer sucesso e
chamar atenção. Diferentemente dos outros motéis de Hull, devido a diversas
indagações do por que ele não abria um cassino, o El Rancho Vegas se torna o
primeiro hotel a ter um cassino na sua propriedade (HOPKINS, 1999)
Segundo
o
material disponível
na
página
virtual
do
memorial
do
empreendimento – fechado por um incêndio devastador – quando o El Rancho
Vegas (Imagem 1) foi inaugurado em 1941, não existiam hotéis cassinos de
verdade. Eles inovaram com a chamada idéia de cassino resort, um complexo que
integrava jogos, acomodações, alimentação, entretenimento e comércio (lojas)
17
(UNIVERSITY OF NEVADA, 2009). Com isso, ele se tornou o primeiro hotel cassino
reconhecido, dando início ao novo modelo de conceituação.
Imagem 1 – El Rancho Vegas
Fonte: http://gaming.unlv.edu/ElRanchoVegas/ERfront2.jpg
No ano seguinte o El Rancho já tinha nova concorrência, o hotel The Last
Frontier idealizado por R.E. Griffith e William J. Moore. Em muitas maneiras essa
concorrência ajudou a desenvolver cada vez mais o lado de entretenimento dos
cassinos como diferencial. Além do jogo, o freqüentador tinha para a sua diversão
shows de música, dança e comédia além de visita de artistas famosos, tudo para
entreter cada vez mais a clientela (HOPKINS, 1999).
Em 1946 o cenário mudou novamente, porém dessa vez o tamanho do
impacto foi ainda maior. Nesse ano chega a Las Vegas Benjamin “Bugsy” Siegel,
conhecido membro da organização mafiosa Meyer Lanksy, e começa o projeto do
Flamingo (LVOL, 2009). O conceito atual de hotéis cassino tem como modelo os
empreendimentos que começaram a ser projetados naquele ano sendo que, o
Flamingo foi na realidade o primeiro hotel cassino da história.
O El Rancho foi o antecessor do conceito, pois ele uniu com sucesso um
motel com um cassino. O Flamingo de “Bugsy” (Imagem 2), por sua vez, foi o
18
primeiro a apresentar o modelo de hotéis cassinos atual. Ele apresentada a estrutura
imponente, diversas opções de eventos e entretenimentos, lazer típico de um resort,
acomodações luxuosas de um hotel e um cassino embutido, em outras palavras, um
centro de entretenimento completo. Atualmente, a grande maioria dos hotéis
cassinos espalhados pelo mundo seguem o modelo originado em 1946, sendo que
as poucas exceções se encontram principalmente na Europa, onde alguns
estabelecimentos ainda mantêm o cassino separado.
Imagem 2 - Flamingo
Fonte: http://www.ratpackstlouis.com/Vegas/FlamingoOLD.jpg
1.3 Uma volta ao redor do mundo
Ao falar sobre cassinos no mundo, deve-se ter em mente os “dois modelos, o
europeu (cassinos adaptados) e o americano (hotéis cassinos)” (BNL NOT 83,
2001). De modo geral, o primeiro tem o seu enfoque no cassino em si, sendo que a
presença de um hotel nas imediações não é uma constante e, quando ocorre, é
principalmente por um motivo de comodidade para os freqüentadores.
19
O primeiro cassino, assim como a primeira lei restritiva ao jogo, surgiu
provavelmente na Itália. Entretanto, desde o seu nascimento na Europa, os
empreendimentos que possuíam jogos de azar passaram a ser regidos por
determinações severas que além de regulamentar os cassinos ainda desestimulava,
de certa forma, a proliferação dos mesmos. A Alemanha é reconhecida como um
exemplo de rigidez no mundo, pois taxa esses empreendimentos com impostos que
atingem até 95%, gerando assim uma receita fiscal elevada que torna os cassinos
aceitáveis perante a sociedade e restringem o número de novos negócios
(GÂNDARA E PAIXÃO, 1999).
Na Europa é difícil determinar qual é a vertente para os cassinos, visto que
mesmo sendo influenciada pelas pressões empresariais para o relaxamento de
certos decretos proibitivos, grande parte dos países europeus continuam a enrijecer
as suas normas. A Espanha, por exemplo, mesmo possuindo cassinos legalizados
continua trabalhando para aumentar os impostos e restringindo politicamente, cada
vez mais, os empreendimentos que já obtiveram a legalização (GÂNDARA E
PAIXÃO, 1999).
O modelo europeu, além de ser limitado no que se diz respeito à integração
dos cassinos com hospedagem, gastronomia e entretenimento, o que reduz o
potencial de atração turística, ainda possui dificuldades relativas a taxações
abusivas e ao desenvolvimento dos cassinos. De acordo com Batelli, “os cassinos
de Nevada pagam 6.35% do faturamento bruto. Só para efeito de comparação, na
França essa taxação é de 60%. Mas, cá entre nós, você nunca ouviu falar em um
cassino na França, ouviu?” (BNL NOT 85, 2001).
Partindo de uma vertente completamente diferente, existe o modelo
americano dos hotéis cassinos, como mega resorts que agem com destinações
turísticas onde o enfoque não é somente nos jogos de azar. Esse modelo, mesmo
sendo idealizado e implantado primeiramente nos Estados Unidos ocorre em outras
partes das Américas como também da Ásia.
20
Las Vegas e seus Cassinos
Após a descoberta de metais preciosos, e o início das minerações na região
já no final do século 19, o novo estado de Nevada começa a aparecer no mapa dos
Estados Unidos. Em 1905 nasce a cidade de Las Vegas na beira da estrada de ferro
que ligava a Califórnia do Sul e Salt Lake City. A disponibilidade de água nas
proximidades tornava aquele lugar propício para um ponto de parada no meio do
deserto, mas Las Vegas logo deixou de ser somente mais uma parada e passou a
ser uma destinação. Em março de 1931, durante a grande depressão, os jogos de
azar foram novamente liberados na região através de uma legislação estadual,
legitimando assim uma indústria pequena, porém altamente lucrativa (CITY OF LAS
VEGAS, 2007).
Na década de 40, o sucesso do hotel cassino El Rancho fez com que se
iniciasse um boom na construção de empreendimentos do tipo nas margens da
estrada. Em plena Segunda Guerra Mundial os resorts em Las Vegas continuavam
em pleno crescimento e pessoas como Hull e Moore estavam criando a Las Vegas
Strip. Porém o modelo estilo velho oeste/rancho com acomodações tipo motel, que
dominou os primeiros hotéis cassino, foi logo substituído por um modelo baseado
nos hotéis de Miami. O hotel Flamingo foi, de verdade, o primeiro hotel cassino e
iniciou a era do turismo e do entretenimento em Las Vegas, em conjunto com os
luxuosos resorts e cassinos (CITY OF LAS VEGAS, 2007).
Na década de 50 ficou claro tanto para a comunidade quanto para cidade
que, Las Vegas precisava de um centro de convenções, com o objetivo de criar uma
demanda para os hotéis da região mesmo nos meses de baixa do turismo de lazer.
Desde então as convenções e os eventos se tornaram altamente presentes no
cotidiano dos hotéis cassino, representando cada dia mais um crescimento na sua
participação no número de visitantes da cidade (LVOL, 2009). Desde o início de sua
concepção Las Vegas era aberta para todas as pessoas, não importando sua
classe; Tommy Hull já dizia “come as you are” (em português, venha como você é),
e com a abertura do Moulin Rouge no ano de 55, a acessibilidade de Las Vegas se
tornou completa para todos (CITY OF LAS VEGAS, 2007).
A união dos jogos com o entretenimento se tornou marca registrada de Las
Vegas, fazendo com que a cidade se tornasse um famoso refúgio ainda na metade
21
do século. Iniciado com o El Rancho Vegas, durante muito tempo os hotéis cassinos
contavam somente com o modelo de entretenimento através de “estrelas”, aonde um
indivíduo realizava um número de sua especialidade. O hotel Stardust foi o primeiro
a fugir do padrão e instituir o modelo de espetáculos. O show Lido fez tanto sucesso
que estimulou os demais hotéis cassino a seguir o formato de produção de shows
(LVOL, 2009).
Durante as décadas de 50 e 60, os hotéis cassinos começaram o hábito de
oferecer entretenimento contínuo tanto para hóspedes quanto visitantes, dia e noite
espetáculos praticamente gratuitos. Tanto a hospedagem como a alimentação e o
entretenimento não possuem custo elevado, na grande maioria, prática essa que
tornou Las Vegas uma destinação popular (LVOL, 2009).
Ainda na década de 60 a presença da máfia, que havia colaborado com a
criação do modelo de hotéis cassino atual, foi se intensificando e desviando cada
vez mais recursos dos cassinos de Las Vegas. Foi nesse período que o bilionário
Howard Hughes entrou na cidade e começou a comprar propriedades e cassinos; no
que muitos viriam chamar no futuro de missão para retirar a máfia de Vegas
(EVANS, 1999).
A década de 60 foi marcada pela construção e compra de hotéis cassinos por
corporações, em grande parte estimulada pelo interesse de Hughes em Vegas. O
renomado bilionário tornou a cidade mais atraente para negócios legítimos e mudou
para melhor a imagem que a mesma tinha. Nesse mesmo período, gambling se
torna gaming (em português, as apostas viram jogo) e começa a transição para um
negócio legitimo (CITY OF LAS VEGAS, 2007).
Já nas décadas de 70 e 80 a legislação que regulamentava os jogos passou a
ser rígida e instituições como a Las Vegas Gamming Commision se tornaram cada
vez mais presentes, regulando com pulso firme as práticas de jogos (LVOL, 2009).
Mesmo com a rigidez imposta os investimentos no segmento de hotéis cassino
continuaram em franco crescimento (CITY OF LAS VEGAS, 2007).
A legalização dos jogos em Atlantic City em Nova Jersey, fez com que a
cidade também se tornasse um pólo de hotéis cassino. Esse fato deveria ter abalado
a cidade de Las Vegas, pois a mesma havia perdido a exclusividade dos seus
cassinos, porém essa nova concorrência estimulou o início de uma nova era. A Las
22
Vegas Strip passou a ser sede dos megaresorts. O objetivo deles era simples: ser
uma destinação completa para qualquer tipo de público.
A era dos megaresorts trouxe investimentos no desenvolvimento de
tecnologias e ambientes cada vez mais complexos, completos e únicos; investindo
pesado desde arquitetura e ambientação, até em entretenimento em todas as
formas. O Caesar’s Palace (Imagem 3), idealizado por Jay Sarno - foi o primeiro
hotel cassino a possuir um tema específico – no caso a cultura romana – e ser
completamente integrado a ele. Diversos outros empreendimentos renomados
dentro de Las Vegas, como o Mirage, o Treasure Island, a pirâmide Luxor e o MGM
Grand também são frutos nos novos modelos de hotéis cassino (LVOL, 2009)
Imagem 3 – Caesar’s Palace
Fonte: http://www.physiology.wisc.edu/ravi/vegas2004/Oct200401_003b.JPG
Howard Hughes mudou a imagem de Las Vegas no que diz respeito a idoneidade
dos negócios, porém Steve Wynn foi quem mudou o produto hotéis cassinos. Até a
década de 90 Las Vegas era associada com excesso e não com elegância, mas
Wynn conseguiu trazer o segundo para os hotéis cassinos, desse modo
conseguindo transformar Las Vegas em uma destinação mundial de alta categoria.
(KILBY, FOX e LUCAS, 2005; HOPKINS, 1999).
23
O Mirage (Imagem 4) foi um dos primeiros hotéis cassinos a possuir uma
atração de entretenimento, gratuita e disponível para todos os visitantes, que age
como uma assinatura do empreendimento – no caso o vulcão que entra em erupção
todas as noites. Os grandes hotéis cassinos da atualidade apresentam esse modelo
de estrutura idealizada e introduzida no mercado pelo próprio Wynn (KILBY, FOX e
LUCAS, 2005).
Imagem 4 – Mirage Volcano
Fonte: http://www.citytours.com/uploadedgalleryimagefiles/Mirage%20Volcano%20-%20%20Night%20New1.jpg
Em menos de 100 anos a cidade de Las Vegas nasceu, se desenvolveu e
entrou para a história das destinações turísticas, tornando-se ícone no que diz
respeito à hotéis cassino. Foi peça chave em todos os estágios desse
empreendimento hoteleiro que saiu do deserto de Nevada para se espalhar pelo
globo.
24
Atlantic City
A cidade de Atlantic City está localizada em Absecon Island no Estado de
New Jersey. Em 1870, Jonathan Pitney e o engenheiro Richard Osborne enxergam
o potencial turístico da ilha e sabem que para atingí-lo, é necessário construir um
acesso definitivo entre a ilha e o continente, concebendo assim a estrada de ferro
Camden-Atlantic City Railroad, que liga o continente à ilha. E ainda com o intuito de
atrair turistas, o nome da ilha foi alterado, sendo batizada de Atlantic City,
enfatizando a sua privilegiada posição, em frente ao mar, da cidade.
Em 1945 com o final da Guerra a cidade entrou em decadência, por não ser
mais tão atraente para os turistas. Somente em 1976, com a legalização dos jogos
de azar em Atlantic City, a cidade começou a se desenvolver novamente. Grandes
hotéis, cassinos e restaurantes foram inaugurados, e graças a sua proximidade com
a Filadélfia e Nova York a cidade começou a atrair turistas novamente (VIAGENS &
IMAGENS, 2009).
Atualmente a cidade é considerada como local de apostas para o público
menos privilegiado, recebendo turistas da classe média, e que moram nas cidades
vizinhas como Nova York e Filadélfia. No entanto, as empresas ligadas a cassinos
começaram a apostar na cidade, afirmando que esta pode se transformar em um
centro de entretenimento capaz de atrair turistas do mundo inteiro.
De acordo com essa visão, Atlantic City ganharia sofisticação e se tornaria
uma espécie de Las Vegas da costa leste norte-americana, atraindo turistas mais
jovens e com mais dinheiro, dispostos a gastar tanto em comida, shows de artistas
famosos e quartos dispendiosos quanto em apostas (REDAÇÃO TERRA, 2007).
Reservas Indígenas
A partir da década de 80, o governo americano permitiu a abertura de
cassinos nas reservas indígenas. A revista Veja, em seu artigo sobre os cassinos,
escreve que o jogo foi à salvação dos nativos, já que as reservas eram os locais
mais pobres dos EUA, apresentando alto índice de desemprego e alcoolismo. A
25
suprema Corte americana decidiu que não poderia proibir os jogos nas reservas
indígenas uma vez, que esses foram liberados em todo o território.
Com a lei promulgada, e livres para a jogatina, os caciques transformaram os
pequenos bingos existentes nas reservas em pequenos cassinos. O negócio se
expandiu a tal ponto que atualmente as reservas abrigam 319 cassinos, entre eles o
Morongo Cassino Resort Spa e o maior complexo dos Estados Unidos, o Foxwoods
(Imagem 5) (DWECK, 2007).
Imagem 5 – Foxwood Casino
Fonte: http://www.bluecorncomics.com/pics/foxwoods.jpg
Esses cassinos mostram uma grande ascensão: só no ano de 2002 eles
registraram 13% de crescimento, número quatro vezes maior que de Las Vegas ou
nos barcos-cassino do rio Mississipi. Os cassinos “indígenas” faturaram US$14,5
bilhões no ano de 2002, de acordo com dados da “National Indian Gaming
Comission”, (NIGA - Comissão Nacional Indígena do Jogo) comparados com
US$12,8 bilhões em 2001. A NIGA ainda aponta que os cassinos das reservas
fecham todos os anos com 2 bilhões arrecados em apostas, mais que a soma do
que arrecadam os dez maiores cassinos de Atlantic City (BNL NOT 467, 2003).
26
Cassinos flutuantes
Em meio a discussões sobre as vantagens e desvantagens resultantes da
liberação dos jogos, uma prática utilizada principalmente nos Estados Unidos iria ter
seus efeitos, de forma indireta, em um meio de turismo que cresce cada ano mais.
Durante o processo de legalização, não era incomum ter a presença de barcos
cassinos simplesmente indo de lado ao outro do rio, ou subindo e descendo um
curto trecho do mesmo. Permitir a prática de jogos somente quando o barco não
estivesse atracado, foi uma das soluções encontradas para burlar, de certa forma,
as proibições impostas ao jogo em terra firme.
Esse novo método, por sua vez, não era atrativo nem para o jogador e nem
para os proprietários, pois representava um inconveniente e um aumento de custo
das operações. Em suma, “não existia virtualmente nenhum desejo de navegar,
tanto por parte dos freqüentadores quanto dos operadores dos barcos”
(EADINGTON, 2002 p. 160). Somente na década de 90, em cidades como
Mississippi nos Estados Unidos, é que as interpretações do que se referiam à barcos
ficaram menos rígidas assim, todas as instalações flutuantes poderiam ser
consideradas como barcos e seriam liberadas para a prática (Imagem 6).
Imagem 6 – Isle of Capri Casino Riverboat em Mississippi
Fonte: http://www.terragalleria.com/images/us-se/usms38052.jpeg
A solução de jogos dentro de barcos logo se mostrou paliativa nos Estados
Unidos, mas até hoje impacta de certa forma os cruzeiros que transitam na costa
27
brasileira. Os cruzeiros atuais, como apresentado por Ricardo Amaral, “pela
variedade de opções de lazer, pelo conforto e pela qualidade das acomodações que
oferece, um navio cruzeiro pode ser definido como um ‘resort flutuante’” (AMARAL,
2006 p. 6). Assim como os hotéis cassinos que figuram como megaresorts, os
cruzeiros
possuem
desde
opções
de
acomodações
e
gastronomia
até
entretenimento e lazer, sendo que a presença de cassinos dentro dos cruzeiros é
comum.
Nos 8.514.876,599 km2 que compõe o território brasileiro (IBGE, 2002) assim
como na faixa de 200 milhas náuticas que compõe a sua zona costeira (CIA, 2009),
o jogo de azar é proibido por lei. Porém, caso um navio cruzeiro saia dessa zona o
jogo se torna legalizado e os cassinos podem abrir as suas portas para os
tripulantes, como os barcos cassinos faziam. A possibilidade de jogar em um
cruzeiro não é só mais um dos diversos atrativos para os viajantes, mas para alguns
é o próprio motivo para a viagem. Segundo uma pesquisa realizada pela Associação
Brasileira de Representantes de Empresas Marítimas, acerca da caracterização da
demanda do mercado brasileiro, foi constatado que 1% dos viajantes colocaram os
cassinos como o principal motivo de viajarem em um cruzeiro (RABAHY e KADOTA,
2006).
Desenvolvimento dos cassinos no Brasil
Os cassinos chegaram ao Brasil, junto com o Império, e eram freqüentados
pela alta nobreza brasileira contando até com a presença do Imperador Dom Pedro
II. Pode-se citar o Parque Balneário Hotel, na cidade de Santos, em São Paulo, que
em 1914 era o ponto preferido da elite paulistana e de turistas internacionais, que
iam passar os finais de semana desfrutando das praias e mesas de apostas do
hotel.
No entanto quando a democracia foi consolidada em 1917, os cassinos
passaram a clandestinidade. Sendo que em 1920 o decreto n° 3.987, permitiu
temporariamente os jogos de azar em regiões balneárias termais e climáticas, ou
seja, instalações que fossem separadas da vida pública. Esse decreto ainda
28
estipulava que 15% dos lucros líquido das casas de jogos deveriam ser dedicados a
vida pública (PAIXÃO, 2005).
Para o funcionamento desses clubes era necessária a construção de um hotel
com bar, restaurante, piscina, salão, salas para conferências e festas beneficentes,
com o melhor material que havia na época. Os donos desses hotéis deveriam firmar
um contrato de dez anos com o governo, negociável ao término do mesmo. Depois
de firmado o contrato, precisavam ainda de alvará da prefeitura e deveriam pagar
um quantia ao governo estadual e local antes e depois da inauguração do cassino,
freqüentemente renegociado entre as partes.
Em 1933 o bairro da Urca e principalmente o Hotel Balneário, inaugurado em
1920 e transformado em cassino em 1933, tiveram grande acessão e se tornaram
famosos graças ao seu cassino. A proprietária do Hotel e sucessora da S.A.
Empresa da Urca, a Companhia Imobiliária e Construtora do Rio de Janeiro, foi
transferindo a maioria das ações ao empresário Joaquim Rolla. Este, associado a
Nicolas Ladamy, Abgar Renault, João Daher e outros, fizeram o Cassino da Urca
viver os "anos dourados" do jogo e da vida noturna no Rio de Janeiro.
No mesmo período, o Cassino Atlântico, no Posto 6 e o Hotel Copacabana
Palace (Imagem 7), atingiram o seu auge, com freqüentadores não só da elite
carioca e paulista, mas também inúmeros artistas nacionais e internacionais. Na
baixada santista a ascensão veio nos anos de 1936 e 1946, quando existiam nada
menos que 4 cassinos só em Santos: o Miramar ("Palácio Dourado do Boqueirão"); o
Monte Serrat, inaugurado em 1927; o Atlântico Hotel e o Parque Balneário, ponto
preferido da elite santista (URCA, 2009).
Imagem 7 – Copacabana Palace
Fonte: http://copacabana.com/copacabana-palace.shtml
29
No Centro funcionava o Coliseu Santista, no prédio onde funciona hoje o Cine
Coliseu, apresentando grandes shows e onde se apresentavam os nomes mais
importantes da noite, muitos deles consagrados em todo o País. No Guarujá existia
o cassino do Grande Hotel, ponto de encontro da alta sociedade e que, segundo o
historiador Francisco Martins dos Santos, hospedava "grandes figuras nacionais e
internacionais no comércio, na indústria e na política". Em São Vicente funcionava o
cassino de São Vicente, ou "Cassino da Ilha Encantada", ou "Paraíso do Atlântico",
que disputava com os de Santos a preferência dos turistas que vinham para a
cidade, dos mais diferentes pontos do Estado, do País e até do exterior.
Esses hotéis não eram atrativos somente pelas suas mesas de bacará,
campista, roleta e Black Jack, mas por todo o complexo de lazer que apresentavam,
com salões para bailes e apresentações de artista nacionais e internacionais,
teatros, fontes termais e luxuosos restaurantes (NOVO MILÊNIO, 2006).
No entanto os “anos dourados” dos cassinos chegaram ao fim no ano de 1946
quando o Presidente Eurico Gaspar Dutra, com base no art. 180 da Constituição
Federal outorgada em 1937, restabeleceu pelo Decreto Lei 9.215 a vigência do art.
50 e seus parágrafos da lei das contravenções penais (DL 3.688 de 2 de outubro de
1941). O decreto Lei-Presidencial trazia as seguintes considerações:
Considerando que a repressão aos jogos de azar é um imperativo da
consciência universal; Considerando que a legislação penal de todos
os povos cultos contém preceitos tendentes a esse fim; Considerando
que a tradição moral jurídica e religiosa do povo brasileiro e contrária à
prática e à exploração de jogos de azar; Considerando que, das
exceções abertas à lei geral, decorreram abusos nocivos à moral e
aos bons costumes; Considerando que as licenças e concessões para
a prática e exploração de jogos de azar na Capital Federal e nas
estâncias hidroterápicas, balneárias ou climáticas foram dadas a título
precário, podendo ser cassadas a qualquer momento. (PRESIDÊNCIA
DA REPÚBLICA, 1946)
Apesar de carência de provas documentais, autores colocam que o
Presidente Dutra, tinha o objetivo de apagar todas as imagens que remetessem a
ditadura Vargas. Ele também afirma que o antigo tropeiro Joaquim Rolla, dono dos
cassinos da Urca, Atlântico, Icaraí (Niterói) e Quitandinha (Petrópolis), era uma
espécie de “testa-de-ferro” de Benjamin, irmão de Vargas, e que os cassinos
funcionavam como espécie de “caixa dois” de Getúlio. Assim Eurico Gaspar Dutra
30
defendia sua atitude como cerco ao comércio clandestino de entorpecentes e crimes
contra a fé pública, atendendo interesse da Fazenda Nacional, e extinguindo os 70
cassinos do território nacional (PAIXÃO, 2006).
No dia 30 de abril de 1946, às onzes horas da noite, José Caribé da Rocha,
diretor do Cassino Copacabana Palace, entra no salão de jogos do hotel e anuncia:
“Senhoras e senhores, façam suas apostas para a última rodada de roleta no Brasil!
Gira o cilindro, solta a bolinha de marfim e com lágrimas e voz embargada pela
emoção, canta: preto, 31!”. E a partir desse momento o governo faz cerca de 50.000
pessoas desempregadas (BNL NOT 1232, 2006).
Além do desemprego de milhares de pessoas, a proibição dos cassinos levou
a falência hotéis como o Lambari, em Minas Gerais, o Quitandinha, no Rio de
Janeiro, O Ahú, em Curitiba, etc. O número de shows internacionais também caiu
drasticamente, cidades menores que não contavam com cinemas e teatros,
perderam grande parte de sua oferta de entretenimento, sem contar com regiões
como a baixada santista que até os dias atuais não recuperou a força econômica e
turística perdida com a proibição dos cassinos (PAIXÃO, 2005).
31
“A fantasia envolve e encanta de forma especial as mais diversas pessoas”
Luiz Trigo
CAPÍTULO 2
Desmembrando os hotéis cassinos
Segundo Eadington:
Os verdadeiros destinos de ‘serviço completo’ nos complexos de
entretenimento nos hotéis cassino [...] têm como padrão 3 mil ou
mais quartos de hotel; arquitetura singular, freqüentemente
espetacular, extensa oferta de entretenimento; opções de recreação
interna e externa; experiências extensas em culinária e comprar e, é
claro, oportunidades mais modernas e avançadas de jogos (2002 p.
59).
Quando se fala em hotéis cassinos atualmente, o conceito mais utilizado é o
de “gamming”, que mesmo tendo tradução apenas para jogos, na verdade concilia
os aspectos de jogo de azar, hospedagem, alimentação, eventos e entretenimento.
Mesmo sendo a origem do modelo, a atual evolução mostra que o cassino é
impactado pelo hotel, e vice e versa, e que ambos se completam. Do mesmo modo
que não é possível abordar o tema de hotéis cassino sem mencionar os jogos,
também é necessário ilustrar as demais esferas que caracterizam e diferenciam
esse ramo hoteleiro dos demais.
De modo a entender melhor como funcionam os hotéis cassinos, assim como
examinar as suas diversas peculiaridades, esse capítulo irá separar os diversos
elementos que compõe o mesmo.
2.1 Muito mais do que jogos: o lado hoteleiro dos hotéis cassinos
“Escolher um hotel em Las Vegas é o mesmo que soltar uma criança numa
loja de doces e pedir para ela escolher apenas um” (CIAFFONE, 1998 p 55).
Encontrar um lugar para jogar e fazer apostas não é o que torna tão difícil escolher
entre um ou outro hotel cassino. A diferença está no ambiente, sendo que esse é
32
formado por um imenso conjunto de diversos detalhes, desde grandes imposições
como a arquitetura, até pequenos atributos que sozinhos poderiam até passar
despercebidos, como a decoração, a iluminação e até a sonoridade do ambiente.
O conjunto da obra, a junção de todos os elementos de ambientação
presentes em todos os setores – como hospedagem, alimentação e lazer e
entretenimento – trabalham para criar a imagem final, que irá caracterizar o
empreendimento e firmar a percepção do mesmo na experiência final que o
indivíduo terá no término de sua viagem.
Dentro de um hotel cassino, com base nos dados de Las Vegas (2005), é
possível afirmar que o jogo, dentro da composição das receitas dentro de um hotel
cassino, mesmo sendo o principal gerador, representa somente 49% das receitas,
sendo que a hospedagem e a gastronomia estão em crescimento, gerando 20.3% e
13.7% respectivamente (HAUSSMAN, 2007). A relevância desse outro lado dos
hotéis cassino, por assim dizer, pode ser observada também através de uma
pesquisa realizada na mesma cidade, pesquisa essa que determinou o grau de
importância dos fatores que levam alguém a tomar a decisão de visitar a cidade. Em
uma escala de 0 à 5 – sendo 0 equivalente à nada importante, e 5 sendo muito
importante – foi evidenciado que tanto os aspectos de infra-estrutura da propriedade,
quanto os shows e entretenimento, as opções de gastronomia, ficaram no mesmo
patamar de importância que as instalações de jogo, sendo que todos atingiram grau
3 (GLS RESEARCH, 2008).
2.2 Acomodações que vão além de simples quartos
Os hotéis cassinos, com suas imponentes construções, na realidade
oferecem muito mais pelo mesmo, ou até por menos. O aspecto das acomodações,
diferentemente dos demais, tem a sua percepção somente pelo hóspede, já que os
visitantes têm acesso somente as demais facilidades do hotel. Em um
empreendimento aonde existem incontáveis opções de lazer e entretenimento, o
quarto do hotel normalmente é pouco utilizado. Entretanto, mesmo representando o
principal elemento secundário para a experiência do hóspede, os hotéis não deixam
de oferecer acomodações que correspondam à imagem que o empreendimento
33
deseja passar e, obviamente, também estimulem a permanência do hóspede por
períodos de tempo maiores.
Devido a sua estrutura física, decoração e o ambiente em geral (incluindo
facilidade, serviços e atrativos), os hotéis cassino deveriam ser enquadrados nas
categorias superiores da hotelaria. Porém, diferentemente dos seus companheiros
de classificação, esses hotéis têm a possibilidade de atrair e hospedar indivíduos
com poder aquisitivo menor do que os demais. Com isso, conseguem atrair
hóspedes desde classe média até multimilionários, é claro que com distinções no
produto ofertado.
Hotéis cassinos, ao contrário do que muitos pensam, são uma destinação
mais barata, se levado em conta tudo o que oferecem. Os cassinos e todo o aporte
de entretenimento são responsáveis pelo financiamento de parte dos custos de
hospedagem, portanto o hotel consegue oferecer preços reduzidos e ainda contar
com acomodações de alto padrão.
Para fins de comparação foram elaboradas as tabelas abaixo, cada qual com
exemplos de hospedagem em Las Vegas, na América Latina e no Brasil, salvo os
hotéis apresentados no último, todos são empreendimento hoteleiros de alto padrão
com cassinos. No caso do Brasil, como não existem tais empreendimentos, foram
selecionados alguns hotéis de categoria superior para que fosse possível mostrar
uma relação custo / benefício.
Os dados apresentados nas tabelas foram obtidos através de simulações de
reservas online com cada hotel. O período utilizado foi de 12 de abril de 2010 até o
dia 19 do mesmo mês (estada de 7 noites) e com acomodações para 2 pessoas,
sendo que as tarifas utilizadas para a comparação foram sempre as menores
oferecidas e as fotos apresentadas correspondem ao quarto em questão. O motivo
para a seleção de tal período, mesmo sendo mais comum entre 3-5 dias de
permanência (GLS RESEARCH, 2008), foi a possibilidade de incluir a variação dos
preços entre semana e fim de semana na média do quarto, tornando o custo
aproximado o mais real possível.
O quadro 1 apresenta seis exemplos de hotéis cassino, incluindo alguns dos
mais importantes para a história da cidade, opções temáticas e também algumas
das opções mais caras de hospedagem.
34
Quadro 1 – Exemplo de Hospedagem em Las Vegas
Fonte: as autoras
Após a entrada do conceito de elegância dentro dos hotéis cassinos, os
mesmos passaram a oferecer acomodações suntuosas sem grandes mudanças no
orçamento do viajante. As cores, a decoração e o ambiente em si sempre remetem à
imagem que o hotel cassino deseja passar, mesmo que ele não seja temático. O
Bellagio, por exemplo, remete muito ao luxo e a sobriedade enquanto o Wynn tem
um ar mais tropical e quente.
Por outro lado, como mostra o quadro 2, os empreendimentos hoteleiros da
América que possuem cassinos apresentam acomodações mais simples, de modo
geral. O Conrad está no topo das listas de hotéis cassinos da América do Sul e se
preza como sendo um dos poucos que realmente segue o modelo americano, porém
pratica diárias correspondentes à quase o dobro dos hotéis de Las Vegas. A
35
hospedagem pode até ser classificada como de categoria superior, porém se esse
for o caso, comparando os hotéis da América latina com os hotéis ícones do modelo
americano, seria necessário criar outra categoria para eles.
Quadro 2 – Exemplo de Hospedagem na América Latina
Fonte: as autoras
No caso do Brasil, não existem hotéis que possam ser comparados
diretamente, pois o público, ao qual os hotéis superiores realmente atendem, é
formado por indivíduos com alto poder aquisitivo que buscam se diferenciar dos
demais. Para o quadro 3, foram selecionados hotéis que possuem ligações com o
mundo dos cassinos – como é o caso de Jequitimar, projetado para se tornar um
hotel cassino no futuro – ou hotéis que se enquadrem no quesito padrão elevado de
infra-estrutura, decoração e ambiente.
36
Quadro 3 – Exemplos de Hospedagem no Brasil
Fonte: as autoras
Os valores das diárias, quando convertidos, tendem a ser mais elevados do
que os apresentados até então. Deve ser lembrado que, para o público desses
hotéis, uma tarifa mais baixa seria um fator negativo para os hóspedes, já que a
distinção financeira representa uma imagem de qualidade e superioridade que,
somente aqueles com poder aquisitivo suficiente poderão usufruir.
Para a comparação, o fato mais importante é ressaltar a possibilidade de um
indivíduo sem grandes impactos financeiros, conseguir se hospedar em um hotel
cassino gastando em média entre U$ 50 – 200 em diária (GLS RESEARCH, 2008) e
usufruir de um produto de alta qualidade, fato esse que não pode observado nos
demais meios de hospedagem, pelo menos não na grande maioria dos casos.
De modo geral, os quartos são primariamente para o descanso dos hóspedes,
porém não significa que os mesmos não possam contribuir para a criação de um
ambiente completo e de uma experiência única. Do mesmo modo, a hospedagem
mesmo sendo secundária, por assim dizer, também pode ser lucrativa. Muitos hotéis
cassinos estão se utilizando de ferramentas de administração e de precificação para
37
transformar o setor de hospedagem em um gerador de renda. Atualmente, hotéis
cassinos são grandes resorts que atingem facilmente o número de mais de 2.500
quartos e se levado em conta que virtualmente todos os visitantes que vão à
destinações turísticas como Las Vegas passam a noite em um hotel (GLS
RESEARCH, 2008), o setor de hospedagem e o seu potencial de receita não podem
ser renegados pela administração à segundo plano.
O revenue management (gestão de receita), ou yeld management, é um
processo utilizado para se alcançar o máximo de receita possível de um produto fixo
ou perecível – exemplo, aquilo que não pode ser colocado no estoque – como um
quarto de hotel (REVENUE MANAGEMENT SOCIETY, 2009). Uma, entre as
diversas maneiras, é saber adequar o preço do seu produto de acordo com a
demanda. Variando os preços das diárias de acordo com cada período – e com
outras ferramentas de gestão também – os hotéis cassinos conseguiram maximizar
as receitas de hospedagem, tornando um setor, antes secundário, em mais um
gerador de renda para financiar outras áreas que atraem visitantes, mas que não
são realmente rentáveis.
2.3 Gastronomia diferenciada para todas as ocasiões
A alimentação dentro de hotéis cassinos não representa mais uma
característica básica, ou renegada completamente à segundo plano. Mesmo cada
empreendimento oferecendo inúmeras opções de alimentos e bebidas, o hóspede
não está limitado às mesmas. A experiência se encontra nos concorrentes também,
sendo comum que hóspedes registrados em um hotel, sejam consumidores dos
restaurantes de diversos outros. Cada empreendimento cria as suas opções de
alimentação de modo que as mesmas se relacionem com a temática do lugar, e os
visitantes têm total liberdade na escolha do que gostariam de comer, e aonde.
Cada hotel cassino cria as opções de alimentação que mais se adaptam às
suas necessidades e objetivos, não havendo uma formula de quantos ou quais
estilos de alimentação correspondem ao ideal. De modo geral, a área de
alimentação além de ser destinada a reposição de energia (motivo básico para que
alguém busque se alimentar), ainda age como ferramenta para prolongar a
38
permanência do hóspede dentro do hotel – desse modo estimulando que ele usufrua
as demais dependências – e como mais uma opção de entretenimento, sempre
contribuindo para uma experiência completa. As opções de gastronomia abordadas
a seguir não precisam, necessariamente, estarem presentes em todos os hotéis
cassinos; porém pesquisando o que diversos empreendimentos têm a oferecer,
estas opções são presença comum.
Mesmo possuindo características diferenciadas, no geral todos os buffets
oferecem refeições de baixo custo, rápidas e com o serviço self-service, onde o
próprio cliente se serve. Por ser um serviço que requer menos mão de obra e por
oferecer preparações mais simples e em grande quantidade, o custo do hotel para
manter os mesmos é reduzido. As palavras chave para o consumidor que busca
esse modelo, são quantidade à preço baixo, aliadas à praticidade e rapidez.
Ainda nessa linha, existem os bares e lounges (sem tradução correspondente
no português), que são focados nas atividades noturnas dentro dos hotéis cassinos,
oferecendo principalmente petiscos e bebidas. O foco está na reposição das
energias daqueles que estão dançando nos clubs (no Brasil o termo mais utilizado
na sociedade seria “baladas”) ou apenas socializando nos bares. Novamente são
preparações pouco elaboradas, pois o mais importante é atender ao pedido do
cliente com rapidez.
As opções citadas até esse momento contribuem para que o hóspede possa
usufruir as demais atrações, em outras palavras, agindo principalmente de forma
indireta para o aproveitamento do ambiente. As demais opções, abordadas a seguir,
possuem um papel mais ativo na experiência dos clientes, pois representam um algo
a mais do que simplesmente se alimentar.
A fim de aproveitar uma refeição mais tranqüila e refinada, tanto os hóspedes
como os visitantes dos hotéis cassinos podem contar com diversos restaurantes,
sendo raro encontrar um hotel cassino que ofereça menos do que duas opções.
Como o público desses empreendimentos em questão tende a ser diversificado
tanto em nacionalidades como em preferências, os hotéis cassinos normalmente
oferecem restaurantes de cozinha internacional e de especialidades – exemplo:
enfoque em pizzas, frutos do mar, carne vermelha, etc; ou mais abrangente como
comida italiana, asiática, entre outras.
39
Podendo ser um ambiente mais casual ou formal, as opções de cardápio dos
restaurantes são mais elaboradas, e o serviço passa a ter mais valor percebido para
o cliente. As palavras chave deixam de ser focada em preço e rapidez e passam a
ser em cardápio, serviço e ambiente, sendo que a qualidade percebida em todos
esses quesitos deve ser elevada, pois impactam na experiência (Imagem 8).
Imagem 8 – Restaurante Mix dentro do Mandalay Bay
Fonte: http://www.mandalaybay.com/dining/mix.aspx
O nível das opções de alimentação em hotéis cassinos, antes sem grandes
créditos, se desenvolveram e atualmente é comum que grandes chefes de cozinha,
como também restaurantes renomados, se estabeleçam nos hotéis. Atualmente a
alimentação tem destaque dentro do hotel, e o nível de qualidade apresentado pode
ser equiparado e, em alguns casos até superior, àqueles apresentados em demais
categorias de empreendimentos hoteleiros.
Os hotéis cassinos, amplamente focados em entretenimento, ainda oferecem
opções de alimentação completamente focadas em experiência. É raro encontrar um
empreendimento que não possua um restaurante temático ou um restaurante que
ofereça atrações artísticas junto com a comida. Na base eles são como os demais
restaurantes, porém possuem alguns atrativos a mais.
Os restaurantes temáticos normalmente estão em consenso total com o tema
do próprio hotel, não só em questão de cardápio, mas principalmente no quesito
ambientação. Por sua vez, opções de alimentação com entretenimento podem
ocorrer dentro de qualquer outro tipo de restaurante, mas na sua maioria são
separadas, pois o enfoque realmente se encontra nas atrações artísticas
40
apresentadas. Diferentemente das inúmeras pessoas que realizam a sua refeição na
presença de uma televisão ligada ou de música do rádio, os freqüentadores dos
hotéis cassinos assistem a apresentações de música ao vivo, números de comédia e
mágica, chegando até à grandes espetáculos.
Por fim, os hotéis cassino ainda oferecem um serviço típico de
empreendimentos hoteleiros de médio e alto padrão, o serviço de quarto. O hóspede
pode solicitar desde preparações simples até jantares elaborados, sendo
essencialmente um serviço oferecido para aqueles que realmente estão no hotel, ou
seja, não é oferecido à visitantes diferentemente dos demais. Após solicitar o que
deseja, as preparações são entregues na comodidade do quarto do hóspede.
Os hotéis cassinos oferecem uma junção das opções de alimentação de
hotéis, centros de entretenimento e de grandes cidades, tudo em um só lugar. Tanto
os hóspedes como os visitantes tem diversas opções, a qualquer hora do dia ou da
noite, para realizar a sua escolha em alimentação. De modo resumido, os hotéis
cassinos – como ilustrado na página do MGM Grand - apresentam opções de fine
dining, casual dining e quick eat; ou seja, opções casuais, formais e rápidas de se
alimentar, cada qual com diferentes estilos para agradar a qualquer tipo de desejos
ou necessidades. Porém, no final das contas, sempre visando contribuir para a
permanência e experiência do hóspede ou visitante.
2.4 Além de simplesmente hotéis: entretenimento, lazer e eventos
Em 1997 a reportagem de capa da revista Viagem, tratava da quebra de
estereótipos colocados nos hotéis cassino e principalmente na cidade de Las Vegas.
O autor da reportagem, Ronery Hein, colocava que a cidade vivia sim do jogo, mas
que só isso não tinha mais o apelo necessário para atrair turista o ano inteiro. E por
esse motivo, os grandes investidores começaram a apostar em um novo design para
a cidade, os resorts e cassinos deram lugar aos mega resorts e aos resorts
temáticos, como por exemplo, o Luxor, com sua forma de pirâmide, o Venetian, que
recria os canais de Veneza, o Paris, com uma replica da Torre Eiffel, e muitos
outros.
41
Ainda nessa reportagem o autor coloca que “Quem quiser descobrir a alma de
Las Vegas precisa sair das ruas e entrar nos hotéis. E não em um, mas sim, em
vários” Pois como ele mesmo explica as mega produções e construções são os
maiores atrativos da cidade, não só mais o jogo (HEIN, 1997).
Mas essa tendência, do cassino usar o entretenimento como forma de atrair o
seu publico é muito mais antiga que a reportagem citada. Nos anos de 1940, quando
o jogo de azar era permitido no Brasil o Grande Hotel Águas de São Pedro, já se
utilizava de atrações de lazer, cultura e esporte para atrair hóspedes. Atividades
como passeios a cavalo e de charrete, caminhadas no parque reflorestado,
equipamentos esportivos, piscinas, quadras, além de shows musicais e teatrais,
eram pensadas exclusivamente para atrair hóspedes e fazer com que esses
passassem mais tempo nas dependências dos hotéis. É importante ressaltar que
essas atividades não eram pensadas exclusivamente para os apostadores, elas se
dirigiam as famílias também, havia atividades para as esposas e crianças, pois
assim a estada seria mais longa e atrativa para os jogadores (ÁGUAS DE SÃO
PEDRO, 2009).
E não só com atividades esportivas os apostadores brasileiros eram
presenteados, mas com uma gama completa de atividades culturais digna de países
estrangeiros. Os hotéis do Rio de Janeiro e Santos possuíam uma variedade de
artistas renomados nacional e internacionalmente, como Gonzaguinha, Grande
Otelo, Ângela Maria, Cauby Peixoto, Orlando Silva e internacionais como a
Orquestra Carlito de Paris, que trazia da Europa a novidade do swing, além de
artistas como Carlos Galhardo e John Boles, interprete da música Son cosas de la
Vida (NOVO MILÊNIO, 2006).
A mesma atitude foi tomada pelos grandes donos de hotéis em Las Vegas,
que além dos já citados resorts temáticos, passaram a investir em shows e eventos
culturais, consolidando carreiras de artistas como Elvis Presley e a brasileira
Carmem Miranda.
E mesmo com estes incentivos datando de 1940 ainda é possível afirmar que
o entretenimento é uma tendência nos hotéis cassino em todo o mundo, uma vez
que eles não param no tempo, mas sim evoluíram junto com os desejos do público.
Com isso a diferença percebida das estruturas da década de 40 para os dias atuais
está justamente no tamanho. Se antes os hóspedes queriam piscinas, hoje querem
42
Spas completos. Os shows musicais realizados nos salões dos hotéis foram
substituídos por mega produções, em espaços que podem acomodar mais de 1.600
pessoas.
Quando se fala no entretenimento, é preciso lembrar que na maioria das
vezes ele não tem custo para os visitantes, como por exemplo, o espetáculo Sirens
of TI® (Imagem 9),que acontece no hotel Treasure Island Hotel and Casino, em Las
Vegas onde uma banda totalmente caracterizada de piratas se apresenta dentro de
um galeão espanhol de tamanho original na porta de entrada do hotel e travam uma
batalha épica com os britânicos. No Excalibur, ainda em Las Vegas, os hóspedes
podem assistir ao Tournament of Kings, que reproduzem as justas medievais,
enquanto apreciam um grandioso banquete, ainda dentro dos costumes medievais
os espectadores são convidados a comer com as mãos.
Imagem 9 – Batalha de Galeões no Treasure Island
Fonte: http://z.about.com/d/hotels/1/0/3/q/2/sirens_of_ti.jpg
43
Partindo para outras áreas do entretenimento os hotéis Mandalay Bay e
THEhotel, oferecem a seus hóspedes a oportunidade única de mergulhar com mais
de 30 tubarões, entre eles o tubarão-tigre-da-areia, o tubarão-de-pontas-negras-derecife e o tubarão-corre-costa, em um aquário de 4.920 milhões de litros.
Sem contar com exposições como a do Las Vegas Art Museum, que faz um
rodízio de trabalhos de artistas internacionais assim como dos trabalhos de Martin
Mull e do gênio da indústria vidreira, Michael Chihuly. O Guggenheim Hermitage que
oferece exposições de arte mais finas e especiais do mundo como coleções do
renomado Solomon R. Guggenheim Museum de New York, do State Hermitage
Museum de St. Petersburg, Russia, até do Kunsthistorisches Museum de Vienna.
Não se pode esquecer também dos Parques temáticos, montanhas-russas, jardins e
animais exóticos.
Tudo isso falando especificamente das atrações de cada hotel, a cidade de
Las Vegas ainda conta com 7 espetáculos fixos do Cirque de Solei (o sétimo, sobre
o Elvis, estréia no final de 2009) (Imagem 10), apresentações de mágica,
apresentações de Stand Up e música. Sem contar com mega produções de shows
de artistas famosos como Britney Spears, Justin Timberlake, Madonna, Wayne
Newton, Celine Dion, Toni Braxton, Liza Minnelli, Elton John, entre outros. A revista
Business Travel coloca que "as superproduções são inegavelmente a cara de Las
Vegas" (CIAFFONE, 1998).
Imagem 10 - Espetáculo “O” no Bellagio
Fonte: http://www.cirquedusoleil.com/en/shows/o/show/acts.aspx
44
E com todas essas atrações o relatório Las Vegas Visitor Profile de 2008
apresenta um comparativo dos gastos dos visitantes de Las Vegas onde U$ 51,64
foram gastos em shows e U$ 273,00 foram gastos em alimentação, fato esse que
revela que mesmo sendo atraídos pelo entretenimento, os visitantes não precisam
pagar por grande parte deles. O estudo ainda revela que 74% dos visitantes foram a
shows durante a sua estada; sendo que 21% dessas pessoas foram em lounge acts;
18% em performances com artistas renomados; 14% em shows Stand Up e 21%
foram a outras atrações, que por sua vez, eram pagas (GLS RESEARCH, 2008).
Mas não é só Las Vegas que vive das superproduções e do grande incentivo
ao entretenimento. Os hotéis cassinos, principalmente os que seguem o modelo
americano, se preocupam em oferecer algo a mais para o seu público. O hotel La
Hacienda no Peru se aproveita da riqueza cultural do país para atrair turistas, este
oferece gratuitamente guias turísticos para mostrarem ao hóspede os pontos mais
atrativos da cidade. Essa atitude não é exclusiva do hotel La Hacienda, a maioria se
utiliza dos atrativos, tanto culturais como ecológicos, presentes na própria cidade em
que estão inseridos para atrair o público e se diferenciar dos demais concorrentes.
Mas esses atrativos não são o suficiente para reduzir as sazonalidades, por
isso os hotéis cassinos apostam nas convenções para manter a taxa de ocupação
alta o ano inteiro. E assim como o público desses hotéis as convenções são as mais
variadas, indo de convenções de HQ’S e mangás à convenções sobre ciência e
tecnologia. Incluindo também campeonatos mundias de video game, monopólio, e
os mais tradicionais como de Poker e Black Jack.
Em consulta a Las Vegas Convention & Visitors Authority (LVCVA) mostra
que o principal motivo para as visitas atuais são: 36% férias e lazer; 15% para jogar;
12% para convenções. Esse indicador por si só já revela a importância do
entretenimento e das convenções para a motivação daqueles que procuram o
turismo oferecido pelos hotéis cassinos. Entretanto, o dado que mais impressiona é
a comparação entre os motivos de viagem para quem visita a cidade pela primeira
vez e quem está retornando. Dos entrevistados que foram em 2008 para fazer sua
primeira visita a cidade, cerca de 57% o fizeram por motivos de lazer e diversão;
10% para convenções e somente 2% foram motivados primariamente pelo jogo de
azar (GLS RESEARCH, 2008).
45
Esse número expressivo mostra como o público de cassinos sofreu alteração,
não sendo unicamente de jogadores. Atualmente o principal motivo para viagens à
hotéis cassinos, como elucidado pela pesquisa em Las Vegas – principal referência
no tema, se encontra na busca por atrações e experiências diversificadas.
2.5 Hotéis cassino como turismo de experiência
Mesmo estando em discussão, a experiência ainda não é discutida da forma
acadêmica por muitos autores. Turismo de experiência e economia da experiência
ainda são temas muito recentes e pouco explorados, porém representam um imenso
potencial para aqueles que consigam entender a importância das experiências no
futuro do consumo. Portanto, a fim de entender como a mesma está relacionada
com os hotéis cassinos, primeiro é necessário abordar o assunto das experiências
como um ramo de negócios.
Desde a década de 70 o tema já aparece de certa forma na discussão do que
faz a diferença para um consumidor na hora da compra de um produto ou serviço;
grandes estrategistas de marketing já falaram sobre a necessidade de criar uma
experiência como forma de agregar valor percebido ao cliente. Até os próprios
consumidores já têm dentro de si mesmos essa busca, mesmo que ainda muito
subconsciente, por experiências únicas formadas pelo conjunto de sentimentos
gerados pelas ações e o ambiente envolvidos no processo de aquisição.
Por outro lado, muitos ainda não se deram conta do quão impactante a
experiência será para o turismo e, conseqüentemente, para a economia do novo
século. Em um primeiro momento a sociedade estava focada no produto, mas com o
aumento da competição não importava mais se o seu produto era inovador, já que
em pouco tempo ele não seria mais o único no mercado. Logo, tanto para as
empresas quanto para os consumidores, era necessário uma nova solução em
diferenciação, no caso o início da sociedade de serviços na qual estamos
atualmente. Porém, lentamente serviços como diferencial ou como o próprio core
business (foco real da empresa), estão se tornando obsoletos, como foi o caso dos
produtos.
46
Para Molina, “a revolução do serviço ficou para trás, agora trata-se da
revolução da experiência, para responder aos gostos e preferências dos clientes que
concebem o consumo como uma experiência, ou seja, como algo muito mais
complexo do que um simples intercâmbio comercial” (2003 p. 65). Outrossim, essa
nova revolução é um reflexo de “uma ampla gama de mudanças sociais e culturais,
materializadas em novos estilos de vida e de viagem, que terminam, por sua vez, em
padrões emergentes de consumo” (MOLINA, 2003 p. 47). Ele ainda define o futuro
do consumo como sendo uma “alteração nos gostos e preferências da demanda,
caracterizada pela busca de novas experiências, em vez de somente novos
produtos/serviços” (MOLINA, 2003 p. 32).
Mas o que realmente justifica essa evolução é o fato de que “commodities são
fungíveis, produtos são tangíveis, serviços são intangíveis e experiências são
memoráveis” (BENI, 2004 p.13). Assim como os demais, as experiências não devem
ser só um reflexo do produto/serviço adquirido; de modo que atinjam o seu
verdadeiro potencial de rentabilidade e promoção dentro do mercado, “as empresas
terão que deliberadamente planejar experiências atrativas que exijam um
pagamento” (BENI, 2004 p. 12). Ao invés de ser um reflexo, a experiência deve ser o
fator causador que gera a demanda para o produto ou serviço; sendo que o serviço
pode ser comparado com um palco, os produtos como suporte, tudo para atrair os
consumidores para uma experiência memorável. Em outras palavras, deve se
vender a experiência, pois os serviços e os produtos serão consumidos em
decorrência da mesma.
O sucesso da economia da experiência está no seu elevado potencial de
penetração e diferenciação dentro do mercado, sendo isso em virtude ao seu
impacto no caráter pessoal (BENI, 2004). Não existem duas pessoas exatamente
iguais, com desejos, necessidades e anseios completamente semelhantes, como
também cada um se encontra em um momento ou humor diferente daquele ao seu
lado; desse modo também não é possível que duas pessoas percebam a mesma
experiência da mesma forma; ela sempre será única. Ainda assim, mesmo se
repetida pelo mesmo indivíduo, a experiência não será exatamente igual, pois as
situações, os momentos, o ambiente e a bagagem (intelectual e emocional) do
indivíduo já não são mais os mesmos. A experiência é mutável e, com isso, sempre
manterá o seu caráter único e diferenciado.
47
Um dos melhores ramos para se aplicar rapidamente o conceito de
experiência está no setor de turismo, seja através da criação de novas destinações e
atividades ou simplesmente remodelando o produto atual para criar um ambiente
mais completo. O ato de viajar, por si só, já traz consigo preceitos da experiência.
Beni afirma que:
a viagem é um movimento externo e interno ao turismo. Externo
porque ele desloca-se no espaço físico e no tempo. Interno porque
seu imaginário segue na frente, instigando a intelectualidade e o
emocional, preparando-o para viver o inusitado em experiências
únicas na revelação do desconhecido e do diferente (2004 p. 01).
Nesse contexto entram os hotéis cassinos, exemplos de como o turismo de
experiência pode ser aplicado com sucesso na hotelaria, criando um diferencial e
uma destinação turística. Para criar uma experiência é necessário que a junção dos
elementos perceptíveis (paladar, odor, visão, tato e audição), como também o lado
emocional e sensorial, sejam estimulados pelo ambiente criado (BENI, 2004).
Através de elementos como a infra-estrutura de instalações, a decoração, o
produto/serviço oferecido nas imediações, a hospedagem, a gastronomia, o lazer e
entretenimento e a tematização focada na imagem da empresa; os hotéis cassinos
conseguem criar ambientes completos e integrados que vão ao imaginário dos
visitantes e dos hóspedes e criam experiências únicas.
“A fantasia e a possibilidade de experimentá-la são componentes básicos de
seu posicionamento bem-sucedido na mente dos turistas” (BENI, 2004 p. 9). É com
isso que os hotéis cassinos trabalham, pois oferecem ambientes e atividades que
mexem com a fantasia dos hóspedes. Beni (2004) continua ao dizer que um forte
fator motivador é a autenticidade da experiência, sendo que muitos poderiam
apontar que os hotéis cassinos não são inteiramente autênticos, pois apresentam
ambientes reproduzidos, deslocados da sua origem (exemplo The Venetian em Las
Vegas com os canais de Veneza da Itália – Imagem 11) e de forma
caracterizada/exagerada. Porém, em contrapartida à esses argumentos, tem-se
Tzevan Todorov que diz que “ ‘cheguei quase a acreditar’ é a fórmula que resume o
espírito fantástico. Nem a fé absoluta e nem a incredulidade total” (TODOROV apud
TRIGO, 2003 p. 95).
48
Imagem 11 – Canais de Veneza versus Canais do The Venetian
Fontes: http://photos.igougo.com/images/p114372-Venice-gondola_ride.jpg
http://z.about.com/d/govegas/1/0/T/P/grandcanalshop0002.JPG
Os hotéis cassino ainda apresentam vantagens contra algumas das maiores
problemáticas do turismo atual aonde a demanda: possui acesso a informação do
mundo inteiro, o que a torna mais exigente, complexa e mutante; está cada vez mais
interessada em turismo participativo; possui opções de escolha múltiplas de
produtos/serviços e também de diversificação experiencial (BENI, 2004). Em suma,
é uma “uma demanda consciente da importância da relação preço-qualidade e,
portanto, do valor das férias” (MOLINA, 2003 p. 33). Os hotéis cassinos, em parte
financiados pela lucratividade do entretenimento proporcionado pelos cassinos,
conseguem atender aos quesitos de participação, diferenciação e diversificação,
experiência, ambiente completo e qualidade, tudo isso sem grandes impactos no
bolso do consumidor.
A implementação dos hotéis cassino dentro do Brasil poderia unir dois
potenciais turísticos de forma vantajosa; utilizando o turismo endógeno e o turismo
de experiência. Para Beni (2004 p. 3), acerca do papel do turismo endógeno, ele
afirma que o mesmo é uma “tendência de crescimento destacado do turismo interno
e de viagens internacionais com predomínio de motivação de reencontro com a
natureza”. O Brasil já é renomado internacionalmente pela exuberância e a
diversidade de sua fauna e flora, das diversas destinações turísticas de belezas
naturais, portanto poderia utilizar os seus recursos naturais dentro do turismo de
experiência.
49
A política nacional de turismo, apresentada pela EMBRATUR em 1995, já
constatava a importância da “diversificação qualitativa dos produtos e serviços
produzidos e da infra-estrutura do turismo receptivo internacional” (apud GÂNDARA
E PAIXÃO, 1999). Mas então por que o Brasil não alia essas duas potencialidades
no turismo, reestudando a aplicabilidade dos hotéis cassinos como facilitadores para
o turismo de experiência? “O grande problema do turismo brasileiro na verdade é a
falta de posicionamento no mercado e de uma visão estratégica” (BENI, 2004 p. 4),
sendo que o pensamento estratégico seria saber filtrar o que é bom e viável nos
exemplos globais. O potencial existe, só resta saber se ele será percebido e
aproveitado à tempo.
50
“Se você vai jogar, decida antes três coisas: as regras do jogo, os riscos e a hora de parar.”
Provérbio Chinês
CAPÍTULO 3
O ELEMENTO JOGO E A LADY LUCK
Seria hipocrisia afirmar que os jogos não são um fator determinante para o
sucesso de um hotel cassino, afinal de contas eles contribuem financeiramente com
o desenvolvimento de todas as demais áreas. Portanto, após analisar os aspectos
hoteleiros é necessário entender a questão do jogo de azar, pois ambos se
completam para criar os hotéis cassino.
A importância de abordar o mundo dos jogos está no fato de que o mesmo
tem grande importância para a liberação dos hotéis dentro de uma localidade. Como
os cassinos estão proibidos no Brasil há mais de 60 anos, o enfoque principal deste
capítulo será nos bingos, nas loterias e nos cassinos virtuais. As loterias são a única
forma de “jogo de sorte” liberados no país, os cassinos virtuais representam riscos
sem ganhos e os bingos são a forma de “jogo de azar” com que a sociedade
brasileira está mais acostumada.
Não é do escopo desse trabalho abordar os principais jogos dentro de um
hotel cassino, seu funcionamento, suas probabilidades ou demais aspectos, mas sim
abordar o tema de que os jogos de azar fazem parte do cotidiano brasileiro, mesmo
estando proibidos no país.
3.1 Cassinos e jogos
Quando se pensa em hotel cassino a primeira imagem que vem a cabeça é a
do gigantesco salão com fileiras e mais fileiras de mesas de jogos de cartas, dados
e roletas, e todas elas rodeadas por caça-níqueis. O som dos caça-níqueis
anunciando uma vitória começa a preencher o pensamento e o brilho incessante das
luzes do salão completa a visão daquilo que preconcebeu como cassino. E todos os
jogos que habitam essa visão são conhecidos como jogos de azar.
51
Não se pode negar que segundo a lei de contravenções penais brasileiras,
que define jogo de azar todo o jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva
ou principalmente da sorte, os jogos citados acima se enquadram nessa categoria.
Mas o que se esquece de mencionar é que jogos como os bingos e loterias também
se enquadram nessa categoria. E muitas vezes podem ser encontrados dentro dos
cassinos. No entanto não sofrem tanto preconceito como o Poker, Black Jack ou
Bacará.
O tópico a seguir tem como objetivo apontar o desenvolvimento histórico
desses jogos, que também se enquadram na categoria de jogos de azar, e que se
ampliam paralelamente aos cassinos. Tem o intuito de apresentar a importância
histórica desses jogos que sofrem muito menos preconceito, mas que ainda assim
levantam dúvidas e preocupações sociológicas no meio onde estão inseridos. Trata
ainda dos jogos online, uma modalidade de jogos considerada recente e que está
em franco crescimento. Apresentando também os pontos positivos e negativos
dessa modalidade e o que os hotéis cassinos fizeram para garantir uma fatia do
mercado online.
3.2 O desenvolvimento dos jogos de azar: Loterias, Bingos e Jogos Online
A loteria do formato atual levou alguns séculos para se desenvolver, iniciando
esse processo na Europa durante a Idade Média, com as chamadas "Urnas da
Fortuna", que eram caixas de madeira colocadas em estabelecimentos comerciais,
cheias de bilhetes que continham escritos os nomes de produtos comercializados no
local. O cliente retirava um bilhete e recebia seu prêmio (BNL NOT 224, 2004).
Paralelamente ao desenvolvimento das loterias surgiram as raízes do bingo
moderno. Desenvolvido a partir de uma loteria italiana chamada “Lo Gioco del Lotto
d´Italia" em 1530, que usava uma cartela com nove colunas e três linhas, com quatro
espaços livres por linha e o cantador usava um saco onde retirava dele pedaços de
madeira marcados de 1 a 90 (1 a 10 para a primeira coluna, 11 a 20 para a segunda,
e assim por diante). O primeiro jogador a preencher uma linha inteira era o vencedor
(BOWSER, 2009).
52
Esse jogo passou a ser brindado com prêmios a partir de 1539, com
Francisco I. Onde a renda deste jogo era revertida ao Tesouro, assim como as
loterias tradicionais passaram a fazer um ano antes na França. Exemplo seguido
também pelos principados alemães, pelos Países Baixos, pela Áustria e até pelos
estados pontífices, ao tempo de Clemente XII. Durante todo o século XIX este tipo
de loteria se propagou rapidamente por toda a Europa e muitos desdobramentos do
jogo foram criados e no ano de 1763, na Espanha todas loterias passaram a ter um
cunho social (VILAS BOAS CONSULTORIA, 2009 e MONTEIRO, 2009).
Durante todo o século XIX o bingo, foi tratado como uma forma de loteria. Ele
só se popularizou e tomou a forma atual em 1930 quando Edwin S. Lowe, um
vendedor de brinquedos e grande empreendedor de Nova York conheceu um jogo
chamado "Beano" num carnaval em Atlanta, Geórgia. O jogo tinha esse nome
porque os jogadores usavam feijões secos (traduzindo para o inglês bean) para
marcar suas cartelas à medida que os números eram "cantados". Quando um
jogador completava uma linha de números, ele parava o jogo gritando "Beano!" e
esse jogador ganhava um pequeno prêmio.
Lowe ficou encantado com o novo jogo o levou para sua cidade e o
apresentou a seus amigos. Durante um jogo, uma senhora ficou tão entusiasmada
com sua vitória que ela soltou a palavra "Bingo!" em vez do grito tradicional. E foi
assim que o bingo atual nasceu. O "Bingo do Lowe" se tornou um grande sucesso e,
já na metade da década de 30, os jogos de bingo aconteciam por todo o canto, em
parte porque as igrejas e clubes sociais rapidamente perceberam seu potencial de
arrecadação de fundos (BOWSER, 2009).
Luxuosos cassinos, como os de Monte Carlo viram no Bingo uma promissora
indústria de entretenimento e lazer para pessoas no mundo todo. Em 1966, foi
criada a primeira legislação relacionada ao Bingo, na Inglaterra. Essa iniciativa
despertou o interesse de muitos empresários em toda a Europa, fazendo com que a
década de 70, ficasse marcada pela Febre do Bingo Moderno o precursor do atual
que se utiliza de máquinas high-tech e salões sofisticados.
Atualmente os jogos tanto de loteria como de bingo só se justificam se tiverem
uma destinação social para seus recursos e, é obrigação do Estado, o ordenamento
e a fiscalização dos concursos, bem como a definição da arrecadação com este
serviço. Cabe ao parlamento de cada país a definição das áreas sociais onde os
53
recursos serão aplicados, como por exemplo, o México que reverte para a educação
e saúde, a Irlanda para a cultura e o esporte, a Finlândia para o esporte, ciências e
artes, o Canadá para hospitais e ações sociais, Inglaterra para artes, esporte, ações
sociais e saúde, Estados Unidos para a educação e saúde, entre outros (BNL NOT
1254, 2007).
No Brasil o primeiro sorteio da loteria foi realizado no ano de 1784, em Vila
Rica, cidade que é a atual Ouro Preto, capital de Minas Gerais. Em 27 de Abril de
1844, o Imperador Dom Pedro II regulamentou o funcionamento das loterias, por
meio do decreto lei nº 357. Já em 1899, nos primeiros anos da República, parte da
arrecadação foi incluída como receita no Orçamento Federal. E no século XX, foram
introduzidas várias novidades importantes, as loterias se aperfeiçoaram no sentido
de dar mais credibilidade e transparência ao processo, e com mais normas rígidas
visando melhorar a sua credibilidade.
Nesta época a administração das loterias era feita por particulares, que
recebiam a concessão de cinco anos de exploração do jogo. Em 1961, o então
presidente do Brasil determinou a União como única competente para legislar sobre
o sistema de sorteios e a Caixa como exploradora exclusiva das loterias
(APARECIDA, 2007 e MONTEIRO, 2009).
Em seguida em 1967 é promulgado o decreto Lei nº 204 onde se estabelece
que a renda líquida obtida com a exploração do serviço de loteria seria
obrigatoriamente destinada a aplicações de caráter social e de assistência médica,
empreendimentos do interesse público. E que Loteria Federal (Imagem 12), de
circulação, em todo o território nacional, constituía um serviço da União, executado
pelo Conselho Superior das Caixas Econômicas Federais, através da Administração
do Serviço de Loteria Federal, com a colaboração das Caixas Econômicas Federais.
54
Imagem 12 - Loterias Caixa Econômica Federal
Fonte: http://ivanazevedo.files.wordpress.com/2009/01/loterias-brasil1.jpg
Uma vez que o governo não podia criar leis de incentivos fiscais, que no final
diminuiriam a receita, e com a necessidade de obter recursos financeiros para o
desenvolvimento do Desporto, em 1990, os bingos são liberados no país para se
que revertesse parte da arrecadação diretamente para o esporte.
Assim foi apresentado um projeto que acabou transformando-se na Lei
Federal nº 8.672 de 06 de julho de 1993, que ficou conhecida como a Lei Zico, e
nela ficava estabelecido no capítulo X, que:
Art. 57. As entidades de direção e de prática desportiva filiadas a
entidades de administração em, no mínimo, três modalidades
olímpicas, e que comprovem, na forma da regulamentação desta lei,
atividade e a participação em competições oficiais organizadas pela
mesma, credenciar-se-ão na Secretaria da Fazenda da respectiva
Unidade da Federação para promover reuniões destinadas a
angariar recursos para o fomento do desporto, mediante sorteios de
modalidade denominada Bingo, ou similar.
(PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA 1993)
No ano de 1995, o presidente, sentiu a necessidade de dar mais importância
ao esporte, criando o Ministério de Estado Extraordinário do Esporte, (BOWSER,
2009). O novo Ministro apresentou um projeto de legislação para tratar unicamente
do esporte, que se transformou na Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998, mais
conhecida com “Lei Pelé” onde ficou estabelecido que:
55
Art. 59. A exploração de jogos de bingo, serviço público de
competência da União, será executada, direta ou indiretamente, pela
Caixa Econômica Federal em todo o território nacional, nos termos
desta Lei e do respectivo regulamento
Art. 60. As entidades de administração e de prática desportiva
poderão credenciar-se junto à União para explorar o jogo de bingo
permanente ou eventual com a finalidade de angariar recursos para o
fomento do desporto.
Art. 64. O Poder Público negará a autorização se não provados
quaisquer dos requisitos dos artigos anteriores ou houver indícios de
inidoneidade da entidade desportiva, da empresa comercial ou de
seus dirigentes, podendo ainda cassar a autorização se verificar
terem deixado de ser preenchidos os mesmos requisitos.
Art. 65. A autorização concedida somente será válida para local
determinado e endereço certo, sendo proibida a venda de cartelas
fora da sala de bingo.
Art. 70. A entidade desportiva receberá percentual mínimo de sete
por cento da receita bruta da sala de bingo ou do bingo eventual.
Parágrafo único. As entidades desportivas prestarão contas
semestralmente ao poder público da aplicação dos recursos havidos
dos bingos.
Art. 72. As salas de bingo destinar-se-ão exclusivamente a esse tipo
de jogo.
Parágrafo único. A única atividade admissível concomitantemente ao
bingo na sala é o serviço de bar ou restaurante.
(Disponível em: PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 1998)
Em 16 de julho de 2001 através da Lei nº 10.264 (Lei Piva), o bingo além dos
7%, passa a reverter mais 2% de sua arrecadação para o fomento do desporto
olímpico. E em janeiro de 2003, na Mensagem de Posse ao Congresso Nacional, o
atual presidente deixou clara a sua intenção de contar com o Bingo como fonte de
desenvolvimento do esporte voltado para a área social. Em 01 de outubro de 2003 o
então presidente, edita um decreto formando um Grupo de Trabalho Interministerial
– GTI, para estudar uma nova proposta para a regulamentação dos bingos.
Na abertura dos trabalhos do Congresso Nacional em 2004 em uma 2ª
Mensagem ao Congresso, mais uma vez o Presidente da República, volta a deixar
claro que pretende criar nova regulamentação para o setor, no sentido de organizar
a atividade para passar a reverter verbas para o Desporto Social do Governo. Esta
segunda mensagem foi encaminhada e lida no Congresso Nacional pelo Ministro
Chefe da Casa Civil da Presidência da República, em 17 de fevereiro de 2004
(VILAS BOAS CONSULTORIA, 2009).
No decorrer da popularização das loterias e dos bingos, e durante todas as
polêmicas que surgiram ao redor desses jogos, de uma forma bem mais discreta,
56
mas não menos lucrativa e promissora surgiram em meados dos anos 1980 durante
a popularização dos computadores pessoais, os jogos online. Com o crescimento do
número de pessoas com livre acesso a computadores e subseqüentemente a
internet, os cassinos online surgiram oferecendo jogos como roleta, Black Jack,
bacará, poker e dados. Eles se tornaram muito populares, afinal os jogadores
podiam jogar em suas casas e escritórios sem precisarem, gastar dinheiro
apostando ou infringir as leis sobre jogos de azar.
Com o crescimento dos jogos online, os grandes cassinos enxergaram uma
oportunidade de aumentar suas arrecadações, oferecendo a experiência real sem
que o apostador deixasse o conforto de sua casa. Estes podiam apostar com seus
cartões de crédito e receber os ganhos pelos mesmos meios. Tudo isso dentro da
lei, uma vez que os sites hospedeiros estão localizados em países estrangeiros,
como Costa Rica, República Tcheca, Panamá e Canadá, que permitem os jogos de
azar em qualquer parte do seu território (CARVALHO, 2009).
Enquanto os jogos online cresciam de maneira astronômica na internet
mundial (Imagem 13) a questão dos Bingos no Brasil se tornou cada vez mais tensa
com o “escândalo dos bingos” (A NOTÍCIA, 2004). No lugar de uma atitude mais
objetiva, o presidente determinou o encerramento das atividades dos bingos, através
de uma medida provisória (SILVA, 2004).
Imagem 13 – Poker Online, jogo de azar mais comum na Internet
Fonte: http://www.miniclip.com/games/governor-of-poker/en/
57
A atitude precipitada de fechar todas as casas de bingo no país, como meio
de evitar o crime e a corrupção, causou mais de 320 mil demissões em todo País,
um número expressivo, ainda mais considerando o baixo número de oportunidades
no atual mercado de trabalho brasileiro.
E em 30 de maio de 2006 o Supremo Tribunal Federal (STF) redige a Súmula
Vinculante Nº 2, que julgou em definitivo a inconstitucionalidade de leis de loterias e
bingos que não tenham sido editadas pela União. Sendo assim, de todas as loterias
existentes no país somente 15 ainda podem operar. Todas estas ainda legais, pois
foram criadas antes do Decreto-Lei 204/1967 (LAMBRANHO, 2007). As loterias são:
•
Rio Grande do Sul (criada em 1843),
•
Pará (1856),
•
São Paulo (1939),
•
Rio de Janeiro (1940),
•
Minas Gerais (1944),
•
Ceará (1947),
•
Pernambuco (1947),
•
Goiás (1951),
•
Mato Grosso (1953).
•
Mato Grosso do Sul (1953)
•
Paraíba (1955),
•
Paraná (1956),
•
Piauí (1959)
•
Espírito Santo (1964),
•
Santa Catarina (1966),
E ainda assim no ano de 2006 foi registrado pelo site BNL (Boletim de
Novidades Lotéricas), que o Brasil movimenta anualmente cerca de R$ 16 bilhões
em apostas e, deste total, R$ 10 bilhões estão com regulamentação precária ou sem
regulamentação. Por isso cabe ao Governo instituir um novo decreto que regularize
e facilite o funcionamento das loterias em todo o país (BNL NOT 1254, 2007).
Em 2006, começou a se discutir também a questão dos jogos online, e este
virou a polêmica da vez. Isso porque o setor apontava o crescimento de 22%, o que
gerava uma renda de US$ 16 bilhões, e ainda destacava que o rendimento estimado
em 2005 de US$ 12 bilhões representava apenas 3% do valor total mundial do
58
mercado de apostas. E mesmo com um valor pequeno se comparado aos valores
arrecadados pelos bingos, que no Brasil, em 2004, arrecadavam sozinhos US$ 4
bilhões, o segmento continuava a se expandir e prometia gerar ate US$ 20 bilhões
ao ano (TECNOLOGIA TERRA, 2006).
Com esse crescimento acelerado dos jogos online veio a preocupação dos
governos de vários países, em relação à lavagem de dinheiro, formação de
quadrilha e sonegação fiscal. Por esse motivo o governo americano assinou em
2006 a Bill 4411, onde fica proibida qualquer transferência de fundos de uma
instituição financeira para um site de apostas, com exceção apenas para loterias
online e corridas de cavalo, e que serão punidos todos aqueles que permitirem que
esses sites sejam disponibilizados para acesso a partir do território norte-americano.
Esta lei já causou o fechamento de rentáveis sites no país, e o prejuízo de US$ 471
milhões à empresa Sportingbet PLC, uma das principais companhias de apostas
britânicas (TECNOLOGIA TERRA, 2006).
No Brasil o assunto é ainda mais polêmico, uma vez que é proibida por lei a
realização de qualquer jogo de apostas em todo o território nacional, com exceção
das Loterias aplicadas pelo governo. Sendo assim qualquer jogo virtual de apostas
pode ser considerado como delito previsto na chamada Lei de Contravenções
Penais (LCP), enquadrado no artigo 50, podendo levar a pena de um a três anos de
prisão mais multa.
Só que o caso apresenta dois grandes problemas: o primeiro é a dificuldade
de combate, pois “o cancelamento dos domínios por ações na Justiça pode ser
apenas uma medida paliativa, pois novos sites serão registrados antes mesmo que a
polícia tenha tempo de investigar cada uma dessas empresas e suas conexões no
exterior” (apud LAMBRANHO, 2007). O segundo problema é a brecha na Lei
Brasileira, uma vez que essa tipifica como contravenção penal apenas a exploração
do jogo em lugar público ou acessível ao público. E mesmo nos 17 projetos de lei
sobre crimes na internet, não há em nenhum deles punição ou regulamentação para
apostas em jogos de azar no mundo virtual.
Enquanto se tem discussão sobre a proibição dos jogos online, a legalização
dos bingos volta a ser assunto em destaque. Cinco anos após o escândalo e o
fechamento das casas, um novo projeto para a legalização dos bingos tramita pelo
59
Congresso Nacional. Esse projeto visa à criação de até 200 mil postos de trabalho e
a possibilidade de arrecadar cerca de R$ 9 bilhões em tributos por ano.
E ainda a criação de um Cadastro Nacional de Ludopatas (pessoas que
sofrem de vicio em jogo), que seriam proibidos de jogar, mas não explica de que
maneira isso seria mantido. A pasta mais beneficiada, porém, seria o Ministério da
Saúde, já que o texto prevê que 15% da receita das casas de jogo serão destinadas
ao pagamento de royalties à União e aos estados para aplicação em gastos nessa
área. A porcentagem representaria cerca de R$ 2 bilhões anuais (JORNAL
VICENTINO, 2007).
Vale ressaltar que mesmo com a notícia da liberação dos bingos no Brasil, a
lei a respeito dos jogos de azar e, sobre tudo, a da liberação dos cassinos no país
está muito longe de receber a devida importância. E mais ainda, ser aprovada,
privando o Brasil não só de uma fonte geradora de renda, como também de milhares
de postos de trabalho e atrativos turísticos. Sendo que o último fator é o mais
prejudicado, já que sofre com a falta de atrativos diversificados e ainda exporta
turistas no lugar de atraí-los.
3.3 Jogos de Azar: Por que não?
Como as áreas de hospedagem, alimentos e bebidas, entretenimento e
eventos estão presentes em diversos outros tipos de empreendimento hoteleiros, o
impasse se torna focado na liberação, ou não, dos jogos. A proibição, durante todo o
curso da história, não era baseada unicamente no risco da perda, em pouco tempo,
de grandes quantias de capital; mesmo essa característica sendo prerrogativa para
qualificar um jogo como sendo de azar. O impasse, além existir por conta das
probabilidades de ganho/perda, também foi marcado por fatores morais, políticos e
econômicos e ainda por riscos a segurança e a saúde.
Não está no escopo desse trabalho discutir as probabilidades de ganhos ou
perdas dentro do jogo, pois como Batelli afirma “se a idéia é sair com uma pequena
fortuna, basta entrar lá [Cassino] com uma grande fortuna” (DAMIANI, 2005). O
intuito está na discussão dos demais argumentos contra a legalização dos cassinos,
como apresentado por Eadington: “ligações existentes entre os jogos e as
60
influências criminais; as reclamações sobre a imoralidade do jogo; e as
conseqüências sociais do problema de jogo e do jogo patológico”. (2002 p. 165).
Como não existem cassinos legalizados no território brasileiro há mais de 60
anos, as informações e dados apresentados aqui são, em suma, de cidades e
países que possuem hotéis cassinos e estudos sobre os impactos da presença dos
mesmos. A sociedade brasileira está defasada no quesito conhecimento e,
atualmente ainda toma suas decisões baseadas em pré-conceitos concebidos no
passado. Portanto é necessário que tais argumentos sejam revistos e discutidos
novamente.
Jogos e ligações criminosas:
Até o final da Segunda Guerra Mundial, a máfia não tinha focado a sua
atenção no potencial dos jogos, mas não demorou muito para que Meyer Lanksy
convocasse Benjamin ‘Bugsy’ Siegel (Imagem 14) para tomar a frente dos negócios
de Las Vegas. O capital da máfia, em especial aquele obtido com os negócios em
Cuba, financiou o início da história dos hotéis cassinos (CARDINALE, 2007).
Imagem 14 – “Bugsy”: a imagem da máfia
Fonte: http://paranormalknowledge.com/articles/wp-content/uploads/2008/10/bugsy.jpg
61
A abertura do Flamingo foi adiantada e, decorrente disso, grande parte do
público esperado ainda não havia tomado conhecimento e interesse pelo
empreendimento. Mesmo tendo um início decepcionante, o hotel prosperou sob o
comando de Lanksy. Em questão de poucos anos, Las Vegas presenciou a criação
de inúmeros hotéis cassinos, todos financiados pela máfia e motivados pelo novo
modo eficiente e lucrativo de fazer e lavar dinheiro. Nomes famosos como o Desert
Inn, o Ceaser’s Palace e o Sands são exemplos dos novos empreendimentos
hoteleiros financiados pela máfia durante o período (CARDINALE, 2007 e LVOL,
2009).
Os laços entre os hotéis cassinos e a máfia continuaram a se intensificar
desde o seu início em meados da década de 40, atingindo o seu ápice na década de
60. Não demorou para que os investimentos realizados durante o processo de
implantação dos hotéis fossem quitados com o capital proveniente da operação dos
cassinos. Com a intensificação da presença da máfia, os desvios de dinheiro do
caixa para os chefes das organizações mafiosas, se tornaram cada vez mais
freqüentes, chegando ao ponto de prejudicar a operação e incomodar os gestores
do hotel. As somas retiradas dos caixas dos cassinos, ou melhor, o excesso das
mesmas foi o principal estopim para o começo da limpeza de Las Vegas.
A compra das propriedades provou ser o método mais eficiente de eliminar as
raízes da máfia de dentro dos cassinos. O bilionário Hughes foi quem iniciou esse
processo. O aparecimento de Hughes também impactou na imagem de Las Vegas,
tornando-a mais atrativa para novos investidores, antes reprimidos devido à forte
presença da máfia (CARDINALE, 2007 e EVANS, 1999).
No mesmo período, o governo de Nevada, consciente dos problemas
decorrentes da associação dos hotéis da cidade com organizações criminosas,
tomou atitudes para regulamentar e fiscalizar as práticas de jogo, com o intuito de
reprimir, de forma cada vez mais severa, a presença da máfia na cidade de Las
Vegas. Em 1959 a cidade já contava com os serviços da Nevada Gamming
Comission (comissão regulamentadora de jogos de Nevada) (CITY OF LAS VEGAS,
2007).
Após a saída de Hughes do ramos dos hotéis cassinos, por motivos ligados à
rentabilidade dos mesmos, a máfia ensaiou um breve retorno ao cenário de Las
Vegas, porém o mesmo não foi longo. Na década de 80, os resquícios finais da
62
máfia foram eliminados em ações da agência do Federal Bureau of Investigation
(FBI), e os hotéis cassinos revendidos à investidores idôneos (CARDINALE, 2007).
Os laços entre os hotéis cassinos e a máfia durante mais de duas décadas
deixaram uma marca profunda e enraizada na sociedade. Associações entre hotéis
cassinos e prostituição, lavagem de dinheiro e criminalidade, em conjunto com a
idéia de que esse tipo de empreendimento hoteleiro continua sendo referência de
crimes organizados e mafiosos, se tornaram um fator contra a legalização dos jogos
em inúmeros países. Fora a relação comprovada de hotéis cassinos com a máfia,
não existem indicativos que comprovem as demais associações, porém isso não
muda o fato de que elas estavam presentes na mentalidade da população.
Um estudo realizado pelo FBI em 1997, a pedidos da American Gamming
Association (AGA), analisou as evidências da relação entre cassinos e crime. O
estudo ‘Casinos and Crime: An Analysis of the Evidence’ apresentou informações
que vão de encontro com os principais pré-conceitos citados anteriormente, como o
trecho traduzido a seguir:
A combinação de ações regulamentadoras estaduais severas e o
envolvimento de companhias públicas da indústria de jogos
[gamming], no final da década de 70, expulsaram os últimos vestígios
da influência direta do crime organizado na indústria, e hoje – o crime
organizado simplesmente não é um fator. Todavia a percepção
pública continua associando qualquer forma de jogo com o espectro
do crime organizado. Entretanto, a indústria atual de cassinosentretenimento é protegida por camadas múltiplas de defesa (sem
comparação com nenhuma outra indústria) contra quaisquer tentativas
de controle da indústria por elementos do crime organizado. (FBI,
1997 p. 43) – Tradução: as autoras.
A grande preocupação da sociedade brasileira acerca dos crimes de colarinho
branco, como a lavagem de dinheiro são fundamentadas quando não existem
regulamentações e fiscalizações severas. A falta das mesmas possibilita ações
criminosas dentro dos hotéis cassinos por agentes tanto internos como externos. Por
trabalhar com largas quantias de dinheiro, os hotéis devem investir em transparência
e controle para que sejam bem vistos pela a sociedade e por investidores.
O estudo ainda aborda a teoria de Tim Ryan sobre o Fator Cassino (Casino
Factor Theory), que julgava poder calcular matematicamente a equação do crime e
prever de forma precisa o impacto dos cassinos na criminalidade. Entre muitas
outras previsões, a teoria afirmava que “a mera presença dos jogos de cassino em
63
qualquer jurisdição causaria um aumento de 132 crimes por cada 1.000 (mil)
habitantes” (FBI, 1997 p. 53). Investimentos em policiamento e programas de
correção dos detentos são julgados insignificantes para a fórmula que leva em conta
itens como, por exemplo, renda e a variável do jogador (“gambling dummy variable”).
A teoria de Ryan para prever o acréscimo de crimes com a mera presença de
um cassino na cidade contribui para fornecer um embasamento para decisões
contra a legalização do jogo. Durante as discussões sobre os hotéis cassinos em
diversos lugares, dados obtidos com essa teoria foram utilizados na tomada de
decisão por meio de governantes e formadores de opinião, porém os mesmos não
passavam de uma teoria empírica. Quando confrontado com os dados de cidades
que haviam optado pela liberação, a teoria do fator cassino foi desmentida, pois a
realidade constatada nos estudos foi o inverso daquela prevista por Ryan.
Outra citação comum, também presente no estudo realizado a pedidos da
AGA, foi posta a prova. The American Insurance Institute (AII), citado inúmeras
vezes durante debates contra a legalização dos jogos de azar, estimou “que 40%
dos crimes de colarinho branco são relacionados com o jogo” (FBI, 1997 p. 55),
porém suas estatísticas não podem ser comprovadas, pois até o ano de 1997, não
existiam indícios da existência de tal instituto.
De modo geral, o estudo concluiu através de pesquisas e dados reais que não
existe aumento na criminalidade (envolvendo as diversas categorias de crimes)
quando se compara os períodos, anterior e posterior, a abertura de cassinos. Nos
casos em que os índices criminais aumentaram, a mudança acompanhou o aumento
do número de residentes, ao invés de ser um reflexo da presença do jogo como
afirmado anteriormente. Em alguns casos os índices de criminalidade até sofreram
redução após a entrada dos cassinos, entretanto o mais usual é que a legalização
dos jogos não é um fator impactante no crime (FBI, 1997).
Jogos e a sociedade
A liberação da prática dos jogos de azar tem como principal entrave o préconceito disseminado na sociedade sobre os mesmos. Associações como as
abordadas anteriormente, em conjunto com discussões sobre a imoralidade do jogo
64
no âmbito religioso, se difundiram ao redor do globo e se enraizaram na sociedade.
Mesmo aquelas que vivem em localidades aonde a prática é proibida, como também
indivíduos não religiosos, passaram a enxergar o jogo como uma prática imoral. Por
muito tempo no Brasil, o ditado popular de “o jogo corrompe” agia como justificativa
contra a liberação.
A influência dos cassinos de Las Vegas, através do potencial de ganhos em
receita e turismo atingido na cidade, estimulou a discussão sobre a moralidade dos
jogos em diversos países. A crescente presença dos jogos no cotidiano, em conjunto
com o enfraquecimento da religião em muitas sociedades, podem ser motivos da
diminuição do impacto dos argumentos moralistas na atualidade (EADINGTON,
2002). Entretanto, a problemática do jogo patológico e os seus efeitos na sociedade
ainda representam os principais desafios e temas de discussão.
Em muitos aspectos, os argumentos iniciados com a religião, passaram de
uma forma ou de outra a embasar os motivos daqueles que, em geral, são contra a
legalização dos jogos de azar. O trabalho publicado por Pratte (2002) e seus
congregados da The Gospel Way, analisando a moralidade ou imoralidade do jogo
no âmbito religioso, apresenta uma compilação dos principais itens que figuram
dentro e fora da religião e constituem os pré-conceitos mais comuns enraizados na
sociedade.
Para Pratte (2002), para ser classificado como um jogo de azar, quatro
elementos devem estar presentes na prática: ser um jogo de chance ou habilidade
aonde o resultado é incerto; possuir risco; possuir um acordo em forma de aposta e;
falta de compensação justa. Nessa visão, mesmo que pequenas somas de dinheiro
estejam envolvidas, tal atividade continua violando os princípios da Bíblia. Não é
possível colocar uma linha dizendo em que ponto a quantidade de dinheiro arriscado
na operação passa a ser imoral. Com esse aspecto, a religião coloca tanto os
cassinos como as loterias em uma mesma categoria de imoralidade, o que vai
contra a distinção feita pelo governo brasileiro entre as loterias federais e os demais
jogos de azar.
De modo geral, o jogo é colocado como uma prática não ética, pois ao invés
realizar um trabalho produtivo que beneficiam os outros, o jogador busca ganhar
algo sem esforço, tirando o que outros trabalharam para produzir sem compensá-los
(PRATTE, 2002). Esse argumento aparece fora da religião também, como no artigo
65
de Viotti (1998) que afirma: “O jogo de azar não produz. Mata o tempo. Desvia do
trabalho. Estimula o desgaste, em atividade socialmente inútil. [...] Os jogos de
cassino dissolvem o estímulo para o trabalho. E a ociosidade é a mãe de todos os
vícios”. O vício como pecado e a expressão, o “jogo corrompe”, também estão
ilustrados por Pratte (2002) quando ele diz que os “jogadores não somente pecam e
tentam a si próprios a pecar, eles também tentam outros a pecar”.
Os mais diversos dizeres de cunho moral, podem ser identificados no
discurso de Duarte em seus comentários à Lei das Contravenções penais, quando
ele afirma que:
Há no jogo atividades louváveis e atividades viciosas, prejudiciais à
sociedade [...]. Como vício desorganiza o trabalho; exalta a
imaginação; favorece os maus desígnios; aguça a cupidez; avilta o
caráter; entretém a ociosidade; gera a ruína; motiva os crimes mais
graves, sobretudo contra o patrimônio, as falsidades, as chantagens,
os peculatos e; por fim, insensibiliza; corrompe; degrada. (1944 p. 490
apud SILVA JÚNIOR, 2007).
Os efeitos do jogo no indivíduo, na família e na sociedade - comumente
citados como argumentos contra a liberação, são em sua maioria (PRATTE, 2002):
•
Pobreza, negligência da família, brigas e divórcio: pois o jogador normalmente
aposta com o dinheiro que deveria ser utilizado no sustento de si próprio e de
sua família;
•
Raiva, ódio: normalmente direcionado pelo perdedor para com o ganhador
(podendo chegar a assassinato), mas também contra si mesmo e demais
pessoas em caso de grandes perdas;
•
Bebidas e narcóticos, alcoolismo e demais vícios: presentes aonde ocorre o jogo.
Jogadores que perdem tendem a afogar sua tristeza e culpa na bebida, ou fugir
da realidade com as drogas;
•
Crimes e Prostituição: como formas de se obter dinheiro para as apostas. O
ambiente do jogo propicia atos ilícitos;
•
Suicídio: como resultado de jogo compulsivo ou de grandes perdas e;
•
Mentira: jogadores buscam esconder os seus hábitos e suas perdas.
De modo geral, os argumentos sobre a moralidade dos jogos de azar, não
somente aqueles de cunho religioso são taxativos na condenação da prática de jogo
como nocivo em qualquer situação ou modalidade, mesmo que não existam dados
66
que comprovem e sustentem tais efeitos (LOBÃO, 1996). Problemas causados em
conseqüência do jogo patológico (vício) existem, são reais e preocupantes, porém
não é possível generalizar e assumir que todo o país iria sucumbir caso seja
legalizado o jogo.
Segundo a Classificação de Doenças da ONU (CID 10), o Jogo Patológico é
um comportamento de jogo mal adaptativo, recorrente e persistente, que perturba os
empreendimentos pessoais, familiares e/ou ocupacionais. A pessoa com esse
transtorno pode manter uma preocupação com o jogo, tais como, planejar a próxima
jogada ou pensar em modos de obter dinheiro para jogar (BALLONE, 2005).
O jogo patológico está associado a impulsividade, um traço de personalidade
que existe em todo e qualquer indivíduo, de forma mais ou menos presente e de
modo mais positivo ou negativo. Até o início da década de 90 os transtornos do
controle do impulso não obtiveram grandes avanços e destaque na psiquiatria. Tais
impulsos são marcados pelo “fracasso em resistir a um impulso perigoso para a
própria pessoa ou para outros, pela tensão crescente ou excitação antes de cometer
o ato impulsivo e pelo alívio após sua realização” (TAVARES, 2009).
O sentimento de culpa, mencionado pela religião, o arrependimento e a autorecriminação são comuns em jogadores patológicos. O jogo para eles, ao invés de
ser uma forma de entretenimento, passa a ser um vício incontrolável que acaba por
impactar a vida do jogador, principalmente nos quesitos família e finanças. Primeiro
ele joga pela emoção, se ele ganha aposta quantias cada vez mais altas porque
acredita que ele é diferente dos demais; logo ele deixa de ganhar – é a banca
retomando os ganhos e o dinheiro daqueles que não souberam parar no auge – e o
desespero aparece; ele passa a jogar na tentativa de recuperar o prejuízo das vezes
anteriores. A diversão passa a ser um tormento, motivo de mentiras para aqueles
que estão perto do jogador, o sentimento de culpa se torna muito presente, mas ele
não consegue mais controlar; está viciado (TAVARES, 2009 e SATYRO e PAIXÃO,
2005).
Segundo a Associação Nacional do Jogo Patológico e Outros Transtornos do
Impulso (ANJOTI), a “droga” do jogo, o elemento que vicia, é a aposta. “O jogador
tornou-se um dependente da excitação causada pelo ato de arriscar dinheiro ou
outra forma de valor. Somente esta sensação já basta para envolvê-lo” (TAVARES,
2009). Foram realizados estudos com indivíduos, submetendo-os a estímulos aonde
67
o mesmo observa pessoas jogando, identificou-se que as áreas do cérebro
estimuladas no processo eram as mesmas do que durante o consumo de drogas por
um usuário freqüente (TAVARES, 2009 e SATYRO e PAIXÃO, 2005).
Ainda segundo a ANJOTI, acerca dos estudos sobre as causas da doença,
“acredita-se que seja um fator de vulnerabilidade que pode se manifestar, ou não,
dependendo da história do sujeito” (TAVARES, 2009). Jogo patológico não é uma
doença transmissível, como também não atinge à todos, porém caso o jogador seja
vulnerável à patologia ele poderá desenvolver dependências à outras substâncias
também.
Não existem dados comparativos, de um mesmo período, acerca dos diversos
tipos de drogas e da sua presença na sociedade. Portanto, a fim de oferecer alguns
parâmetros comparativos, o quadro a seguir foi elaborado levando em conta dados
obtidos em quatro diferentes publicações.
Quadro 4 – Comparativo das drogas mais comuns
Fonte: as autoras
O jogo como foi abordado anteriormente, tem o seu efeito nocivo na
sociedade devido às experiências negativas de jogadores patológicos; pessoas que
68
já possuíam a pré-disposição para tal transtorno de impulso. Até o momento da
elaboração desse projeto não foram encontrados dados que comprovem que o jogo
“corrompa” aqueles que já não tivessem um histórico de outros problemas sociais e
de comportamento. A dependência do jogo é mais um risco psicológico do que físico
e mais impactante no próprio indivíduo, e pessoas próximas à ele, do que na
sociedade em geral.
Segundo material apresentado no artigo dos impactos sociais positivos e
negativos da reimplantação do jogo no Brasil, “na Espanha e Estados Unidos, dois
dos países onde mais se joga, 1,5% a 2,0% da população representam jogadores
patológicos” (SATYRO e PAIXÃO, 2005 p. 7). No mesmo trabalho ainda é
apresentado um índice de 6% no caso dos adolescentes, o que pode ser reflexo dos
cassinos virtuais. A entrada de menores na área dos cassinos dentro do hotel não é
liberada, mas o mesmo não é controlado tão sumariamente nos jogos online. A
internet tornou acessível à crianças e adolescentes práticas de jogos que antes não
estavam ao seu alcance.
A falta de controle, o fácil acesso e a falta de educação da sociedade sobre o
assunto, tudo isso em conjunto com o índice de 6%, indica o fator mais preocupante
com relação aos jogos de azar. Mesmo proibindo os cassinos, o país não consegue
bloquear as páginas da internet que oferecem o mesmo serviço, em outras palavras,
na situação atual, “o Brasil só tem ônus e não tem receita”, como afirmou o
presidente da Associação Brasileira de Bingos (ABRABIN) (PARIZ, 2009).
Os efeitos apresentados pelos moralistas – não religiosos – não são todos
sem fundamentos, alguns são reflexo do problema causados pelos jogadores
patológicos. Mesmo sendo essa uma doença abordada mais afundo recentemente,
ela esteve presente desde os primórdios do jogo de azar. É possível relacionar os
efeitos presenciados no indivíduo que sofre dessa patologia e em sua família,
amigos e trabalho, com os preceitos moralistas da religião, por isso essa
similaridade. A sociedade envolvida com esse jogador pode vivenciar efeitos nocivos
do jogo e, ao expor a sua experiência para os outros, criar um pré-conceito sobre o
tema.
O problema do jogo patológico existe e é preocupante, principalmente na
juventude que desde cedo está tendo contato com jogos e apostas. Providências
devem ser tomadas tanto em âmbito governamental, empresarial e social a fim de
69
aumentar as pesquisas sobre a doença e investimentos nos tratamento daqueles
que precisam de ajuda para parar de jogar. Por ser uma doença impulsiva e
compulsiva, o tratamento psicoterápico é empreendido, pois o jogo patológico é,
principalmente, uma dependência comportamental.
Ações preventivas também devem ser elaboradas e aplicadas, em especial
em localidades onde o jogo está em vias de liberação; a sociedade deve ser
educada sobre as conseqüências benéficas e nocivas do jogo, sobre como
identificar o jogador patológico e buscar tratamento no início da doença além de
aprender como conviver com os jogos de azar o mais pacificamente possível
(SATYRO e PAIXÃO, 2005).
Os argumentos moralistas, além de se referirem aos problemas criados e
vivenciados por uma pequena parcela da sociedade, ainda incorrem em uma
problemática maior. O parecer sobre a liberação dos jogos, apresentado por Lobão
ao senado acerca da proposta de 1996, cita o princípio da liberdade que diz:
Ele [membro de uma sociedade organizada] não pode ser compelido a
fazer ou deixar de fazer porque isso será melhor para ele, porque isso
o fará feliz, porque, na opinião de outros, fazê-lo será sábio, ou
mesmo certo. Essas são boas razões para argumentar com ele, ou
persuadi-lo, ou censurá-lo, mas não para compeli-lo, ou para causarlhe dano se ele agir de outra forma. (LOBÃO, 1996)
O parecer encerra afirmando que não cabe ao Estado tutelar o cuidado que
qualquer pessoa tenha ou deixe de ter consigo própria. Os argumentos de ordem
moralista contradizem o preceito da liberdade (LOBÃO, 1996). Cabe ao Estado
conscientizar e educar a sociedade em relação aos benefícios e malefícios do jogo
de azar; cabe ao Estado investir em pesquisas e tratamentos para aqueles que
precisem de ajuda; cabe ao Estado regulamentar e fiscalizar – ou ter um órgão
próprio ou privado que o faça – de forma séria e honesta; mas não cabe ao Estado
se utilizar de argumentos morais infundados para proibir uma atividade que pode
trazer muitos benefícios para a sociedade, o turismo e a economia, se bem
introduzida.
70
“O público possui uma curiosidade insaciável de saber tudo, exceto aquilo que vale a pena.”
Oscar Wilde”
CAPÍTULO 4
“EXPLORE O TURISMO E NÃO O TURISTA”
Após apresentação dos demais fatores que compõem os empreendimentos
de hotel cassino, e a tendência assumida por estes, fica claro que o jogo de azar,
que antes era considerado o principal caracterizador desse segmento hoteleiro, já
não atua sozinho nesses ambientes, ele assim como as áreas de eventos e
alimentos e bebidas assume o papel de atrativo.
Agora resta mostrar quais são os benefícios, do ponto de vista da economia
do turismo, que tornam a indústria de hotéis cassino atraente. Em seguida, expor os
primeiros passos para a implementação, através de uma abordagem legislativa, já
que esse tipo de empreendimento necessita da liberação dos jogos de azar para
poder operar. Somente com essas informações, aliada com os demais temas
abordados até o momento, é que será possível montar o melhor modelo para Brasil,
em especial para o cenário brasileiro no curto prazo.
4.1 A importância do Turismo
A organização mundial do turismo (OMT) define o turismo como sendo o
“fenômeno que ocorre quando um ou mais indivíduos se transladam a uma ou mais
localidades diferentes de sua residência habitual por um período maior que 24 horas
e menor que 180 dias, sem participar dos mercados de trabalho nos locais visitados”
(apud ARENDIT, 2002 p.21). Porém essa definição, assim como diversas outras,
exclui o turismo de negócios que entra como motivação de viagem muito comum.
Normalmente, de modo amplo, os três principais motivos são lazer, negócios ou
visita a amigos/familiares.
Portanto, é necessária uma definição mais ampla, como a da Ansett Airlines
da Austrália em 1997 que afirma: “turismo refere-se à provisão de transportes,
alojamento, recreação, alimentação e serviços relacionados para viajantes
71
domésticos e do exterior; compreende a viagem para todos os propósitos, desde
recreação até negócios” (apud ARENDIT, 2002 p.36).
A OMT coloca a sua definição levando em conta as viagens de negócios e
não o turismo de negócios. A diferença está no fato que o viajante de negócios não
interage com a região visitada, não contribuindo social ou economicamente. Por sua
vez, o turista de negócios, mesmo não tendo como prioridade o turismo, acaba por
agir como um turista no seu tempo livre; permanecendo mais tempo que o
necessário na destinação e contribuindo para o desenvolvimento local.
Dentro do tema, Lage e Milone (2001 p. 45), colocam, de modo geral, que a
economia é baseada em como o ser humano e a sociedade decidem alocar os seus
recursos e distribuí-los para consumo. O turista de negócios, mesmo exercendo um
trabalho remunerado na região, ainda gera uma “produção de recursos econômicos
que poderiam ter aplicações alternativas e que são distribuídos para o consumo de
toda a sociedade”, desse modo se enquadrando na economia do turismo.
Com a revolução industrial, ou melhor, na pós-revolução as questões do
salário e do tempo ocioso de férias trouxeram ao turismo uma mudança significativa.
Lage e Milone (2001 p. 39) pontuam esse período afirmando que “com a renda
destinada a seu lazer, cresce no ser humano a necessidade de conhecer outras
partes do mundo”, sendo que Lohmann e Netto (2008 p. 145) completam dizendo
que “o homem passou a buscar mais experiências sensoriais, valorizando o lazer, o
entretenimento e o turismo”, forçando uma reestruturação das cidades e dos
destinos turísticos.
Com o decorrer da história, o turismo se tornou cada vez mais importante
devido a sua característica mais marcante; mesmo sendo em tese um único
segmento de mercado, consegue impactar de modo direto e indireto diversas ramos
da economia. De acordo com Lage e Milone, importância do turismo pode ser
observada quando afirmam que “atualmente as viagens turísticas ocupam lugar de
destaque nas relações econômicas, sociais e políticas das sociedades” (2001, p.40)
e que “diversos países passam a interpretar o turismo como forma de captação de
divisas, muitas vezes superiores ao valor de suas exportações” (2001, p.39).
Os principais efeitos econômicos do turismo (LAGE e MILONE, 2001), como
também os demais tipos de efeitos (LOHMANN e NETTO, 2008) podem ser
observados no quadro a seguir.
72
Quadro 5 – Os impactos positivos e negativos do turismo
Fonte: as autoras
Se bem administrado e planejado, o turismo pode representar um facilitador
do desenvolvimento de uma localidade, ainda mais em um país com um elevado
potencial turístico. O Brasil é uma das dez maiores economias do mundo, porém o
índice de desenvolvimento humano coloca o país na 70ª posição no ranking mundial
em 2008 e o Gini (índice que mede a concentração de riquezas) coloca o país entre
os mais desiguais do mundo. O país ainda conta com problemas de violência e infraestrutura que, conseqüentemente, acarretam em um fluxo de turistas estrangeiros
inferior ao real potencial do país (NETTO e TRIGO, 2009).
4.2 Uma breve análise comparativa: Brasil e Las Vegas
A fim de fornecer uma visão resumida que englobassem os principais dados
do turismo e da hotelaria no Brasil, foi elaborado o quadro 6. Como a maioria dos
dados não é divulgada anualmente, o quadro teve que ser compilando levando em
73
conta material de diversas fontes e de períodos distintos, porém sempre buscando
as informações mais atualizadas.
Quadro 6 – Dados básicos do Brasil
Fonte: as autoras
Os resultados apresentados, se analisados sozinhos mostram valores
significativos, que já começam a indiciar a importância do turismo na economia. um
bom exemplo disso são os mais de 5 milhões de turistas, gerando mais de 24
bilhões de reais (ver tabela 6). Além disso, o próprio Ministério do Turismo mostra a
74
multiplicidade do turismo quando afirma que cada emprego formal no setor gera dois
empregos informais (apud BRASILTURISMO, 2009).
Para motivos de comparação, foi elaborado um quadro com informações
similares sobre a cidade de Las Vegas, uma destinação turística criada quase que
inteiramente com base nos hotéis cassino. Vale ressaltar que os dados brasileiros
apresentados são referentes a um país de 8.547.403 km2 segundo o IBGE,
enquanto os de Las Vegas são de uma cidade de aproximadamente 294 km2. O
quadro 7, a seguir, representa uma compilação de dados obtidos de fontes distintas
acerca do turismo e da hotelaria da destinação.
Quadro 7 – Dados básicos de Las Vegas
Fonte: as autoras
75
Analisando ambos os quadros, é possível notar a grande diferença entre a
exploração do potencial turístico de ambas as destinações. Destacando apenas
algumas das principais discrepâncias é possível observar que:
•
Mesmo os turistas permanecendo no Brasil uma média superior à 15 dias no
caso dos turistas estrangeiros e 9 no caso dos domésticos, o percentual de
utilização de empreendimentos hoteleiros é de 58%(ver quadro 6). No caso de
Las Vegas, o período médio de pernoites é de menos de 4 dias, porém quase a
totalidade de visitantes permanecem nos hotéis da região. Um reflexo deste dado
é a ocupação média de 86% (ver quadro 7), índice esse alcançado no Brasil
principalmente nos períodos de alta ocupação.
•
Las Vegas conta com cerca de 140 mil apartamentos, enquanto o Brasil oferece
mais de 1 milhão de quartos. Esses quartos geram para a hotelaria uma receita
bruta de cerca de R$ 9 bilhões, porém o mesmo valor é praticamente alcançado
pelo setor de eventos/convenções de Las Vegas, um setor entre os diversos que
compões a hotelaria.
•
A cidade de Las Vegas quebra o paradigma de que o seu principal motivador de
turismo é o jogo de azar, uma vez que é a motivação mais forte dos visitantes da
cidade é o lazer, com mais de 50% (ver quadro 7). No Brasil, por sua vez o índice
é de 43,9% (ver quadro 6).
•
Os turistas estrangeiros no Brasil gastaram no país 1.3 bilhão de dólares, porém
no mesmo período os brasileiros gastaram no exterior 1.6 bilhão. O brasileiro
gastou 300 milhões a mais do que os turistas estrangeiros geraram de receitas
no país. Por sua vez, os turistas em Las Vegas geraram uma receita de quase 43
bilhões de dólares.
•
No quesito volume de turistas, o Brasil recebeu no ano de 2008 cerca de 5
milhões de turistas enquanto a cidade de Las Vegas, no mesmo período,
recebeu mais de 37 milhões, ou seja, quase sete vezes e meia o volume do
Brasil.
Em suma, é possível concluir que o Brasil ainda tem que crescer no turismo
em geral de modo a poder se colocar como uma grande destinação turística e quem
sabe um dia conseguir atingir o seu real potencial. Por sua vez, os hotéis cassinos
de Las Vegas além de oferecer um potencial de receita que engloba ganhos com
hotelaria, gastronomia, eventos, entretenimento e jogo para os seus investidores,
76
ainda oferece ganhos para o governo através de taxações nos apartamentos, em
todas as vendas feitas e também sob o faturamento bruto com o jogo de azar. Os
valores
arrecadados
com
as
taxas
são
normalmente
utilizados
para
o
desenvolvimento da própria localidade, seja em educação, saúde, infra-estrutura,
ações sociais ou em qualquer outra necessidade.
No ponto de vista do jogo de azar, os impactos econômicos não são os
únicos que se destacam. A Caixa Econômica Federal reverte pouco mais de 50% de
sua verba para programas sociais, justificando assim a existência das loterias.
Porém é admissível imaginar que, para a sociedade, a distribuição de renda
oferecida pelo modelo de hotéis cassinos seja, de certo modo, melhor do que aquela
aplicada atualmente pela Caixa. Alves aborda o assunto dizendo:
O jogo [loterias da Caixa] tem a mesma natureza. O azar é o
mesmo. Com o agravante, talvez, de fazer uma inversa distribuição
de renda: tira de muitos miseráveis para fazer um milionário. Os
cassinos, data vênia, parecem ter uma lógica melhor: tiram dos ricos
e distribuem, imediatamente, àqueles que vivem do trabalho, do
faxineiro ao garçom. O adjetivo imediatamente é importante. Uma
coisa é um programa social difuso; outra coisa é o dinheiro na mão,
para atender a feira e os compromissos do mês. (ALVES, 2006)
O imediatismo ainda não é o único diferencial que une benefícios sociais com
econômicos; os empregados dos hotéis cassino ainda são favorecidos com o
contato com os usuários dos cassinos. Sobre o assunto, Batelli afirma que “as
gorjetas que os funcionários recebem dos jogadores chegam a melhorar seus
salários em até 300 por cento” (DAMIANI, 2005).
4.3 Primeiro passo: Legislar
A fim de permitir a entrada de hotéis cassinos, a destinação deve inicialmente
desenvolver uma legislação que autorize o jogo de azar. O primeiro passo para se
consolidar uma indústria de jogo confiável tanto no ponto de vista do empreendedor,
mas também dos clientes e da comunidade local, é instituir uma legislação sólida e
coerente com a situação do país em que esta será instituída.
Esta legislação deve priorizar a transparência em todos os pontos ligados aos
jogos de azar, começando na fiscalização e no prestamento de contas dos
77
empreendimentos, passando pela regulamentação e fiscalização de máquinas de
apostas, até a admissão de pessoas no ramo de jogos, independentemente se ela
será o garçom ou o presidente do estabelecimento.
A seguir serão apresentados alguns exemplos de leis de jogos existentes,
discorrendo um pouco da lei regente nos Estados Unidos, o modelo de mais
sucesso até hoje, e traçando um paralelo de leis existentes na America do Sul e um
panorama geral dos principais problemas existentes nos países que a compõem. E
por fim apresenta alguns pontos no novo projeto de lei de jogos de azar no Brasil.
Nos Estados Unidos, as legislações liberando ou proibindo os cassinos são
diferentes em cada Estado, cabendo a este a normatização, regulamentação dos
estabelecimentos, e a liberação ou não de cada tipo de jogo. Somente as tribos
indígenas não se enquadram as leis dos Estados, uma vez que a Suprema Corte
America permitiu a exploração dos jogos nos territórios nativos independente do
Estado em que estejam inseridas.
No Estado de Nevada, onde está localizada a Cidade de Las Vegas, a
legislação data de 1931, traz uma série de definições e exigências para a abertura e
funcionamento de máquinas e estabelecimentos de jogos assim como restrições e
requerimentos para se trabalhar nos cassinos. E essas cobranças estão justificadas
na lei, que afirma que:
A confiança pública só pode ser mantida se houver regulamentação
rigorosa de todas as pessoas, lugares, práticas, associações e
atividades relacionadas com o funcionamento de estabelecimentos
de jogo licenciados, e a fabricação, venda ou distribuição de
dispositivos de jogos e equipamentos associados e do
funcionamento dos cassinos.” (HUMPHREY, 2007)
Mas o principal ponto da lei é a criação do Gaming Commission (Comissão de
jogos), que é responsável por inspecionar todos os funcionários e estabelecimentos
ligados aos jogos da cidade em que está inserida. A Gaming Commission é formada
por cinco membros indicados pelo Governador do Estado, esses membros não
podem ter qualquer ligação com jogo ou pessoas que trabalham em locais de jogos,
e devem agir em concordância com o State Gaming Control Board (Conselho de
controle de jogo Estadual). A comissão tem a autoridade final no que se refere a
assuntos de licenciamento, tendo a autoridade de aprovar, restringir, limitar,
78
condicionar, negar, revogar ou suspender licenças de pessoas ou estabelecimentos
(NEVADA GAMING REGULATION, 2009).
Nas Reservas indígenas e no Estado de Nova Jersey, onde se encontra
Atlantic City, o mesmo princípio de lei em vigor no Estado de Nevada, é aplicado,
existe uma Gaming Commission para cada localidade e as cobranças no que diz
respeito as instalações e as pessoas ligados aos jogos são tão rigorosas quanto as
do Estado de Nevada (HUMPHREY, 2007).
Dos treze países que compõem a America do Sul, somente a Bolívia e o
Brasil não possuem uma lei regulamentadora de jogos de azar, cassinos e casas de
jogos. Embora somente dois países ainda não tenham liberados os jogos em seu
território, as leis existentes no restante da America do Sul estão longe do ideal como
colocado pelo especialista internacional em jogos e advogado peruano Carlos
Fonseca Sarmiento, que afirmou no 3º Congresso Americano de Reguladores de
Jogo que:
O jogo é uma entidade, e precisa ser analisado pelos governos do
ponto de vista constitucional, civil, penal, administrativo e tributário,
de modo a garantir uma legislação que dê segurança jurídica aos
investidores, impostos adequados à atividade e transparência quanto
à forma de tributação e fiscalização. É importante muito critério e um
estudo pormenorizado sobre cada modalidade de jogo e suas
peculiaridades.
As leis de jogos são relativamente novas. Algumas leis, como por exemplo, a
do Chile, tem apenas quatro anos de aprovação, um dos motivos para que
especialistas no assunto à critiquem. Os projetos procuram liberar os jogos de
maneira imediatista, deixando passar detalhes que podem ser importantes no futuro.
Um ponto destacado no congresso foi o caso da Venezuela que possui uma
legislação rígida do ponto de vista da tributação e ao mesmo tempo em que o ente
regulador não oferece a contrapartida da atenção às necessidades da indústria
(GAMES MAGAZINE, 2009).
Por mais que as leis se adeqüem ao país em que se inserem, sejam elas
taxativas ou não, todas possuem certas similaridades, pode se citar as de criação de
comissões de fiscalização dos cassinos, bingos e casas de jogo em geral, e
respondem diretamente ao governo. O Paraguai estipula na lei regulamentadora de
jogos nº 1.016, que a formação da comissão fiscalizadora, deve conter um
79
representante do Ministério da Fazenda, um do Governo, um do município e um do
Ministério do Interior. Outro ponto comum é que o Estado deixa a cargo do município
a instalação ou não desses estabelecimentos, a taxação a ser aplicada e como será
feito o repasse desses impostos.
Na Argentina, país que possui mais hotéis cassino na America do Sul, cada
cidade apresenta sua própria regulamentação, apresentando diferenças não só nos
impostos pagos, mas também nos jogos liberados em cada município. Outra
diferença apresentada pelo país é que este é o único que se utiliza do modelo
americano
de
fiscalização,
instaurando
em
cada
cidade
uma
comissão
regulamentadora de jogos responsável por fiscalização, liberação e penalização de
estabelecimentos e pessoas ligadas aos jogos.
As diferenças também são perceptíveis nas legislações, enquanto o Chile, a
Colômbia e o Peru acreditam que os cassinos e hotéis cassinos devem ser
administrados exclusivamente pelo Estado, a Argentina, e o Paraguai preferem
deixar a administração para empresas privadas, no entanto o monopólio desses
estabelecimentos é proibido. O Uruguai apresenta características próprias, uma vez
que o jogo é uma operação estatal, com exceção do Conrad, de Punta del Este, cuja
permissão levou em consideração o desenvolvimento turístico do balneário e um
melhor aproveitamento da região, o país apresenta também experiências que têm
funcionado muito bem, onde a operação da sala de jogo, feita pelo Estado, se une
com a manutenção de complexos hoteleiros de luxo, como é o caso do Mantra, em
Maldonado, e o Four Seasons, em Carmelo.
Como citado acima os dois únicos países que não possuem leis de jogos são
a Bolívia e o Brasil, mas isso não quer dizer que o assunto não fomente nesses
locais. Em 2008 as discussões sobre o assunto voltaram à tona em ambas as
regiões. Na Bolívia a única norma que existe para jogos é a Lei de Loterias n° 586
de 1928. Assim, há necessidade de uma regra clara sobre jogos que acerte os
pormenores e regule a operação das empresas, obrigando-as a ter licitação pública
e limitando os locais em que essas empresas poderão se estabelecer.
Já no Brasil, somente a Lei de Contravenção penal proíbe os jogos de azar no
território nacional. Entre todas as discussões a respeito do assunto o fato de maior
questionamento é a lei tratar jogos de azar como qualquer jogo em que o ganho e a
80
perda dependem exclusiva ou principalmente da sorte. O país demonstra a
necessidade de uma lei especifica, que regulamente e caracterize os jogos de azar.
Existem mais de 34 projetos de lei sobre a liberação dos jogos de azar no
território nacional, sendo que os primeiros foram criados em 1960 e seguem até o
ano de 1995, quando há uma pausa de oito anos na discussão do assunto e
somente em 2003 um novo projeto é lançado dessa, vez para a proibição dos jogos.
Mas nenhum projeto recebeu a quantidade de votos necessária para ser aprovado,
sendo assim, todos eles, sem exceção, foram arquivados.
No entanto existem dois novos projetos em andamento na Câmara dos
Deputados sobre o assunto. O mais novo é o projeto de lei (PL) número 6020 criado
em 2009, que dispõe sobre a prática e exploração de jogos de azar e dá outras
providências. Este projeto propõe que se permita a prática e a exploração de jogos
de azar, que esses devem ser explorados por pessoas jurídicas constituídas sob a
forma de sociedade anônima em hotéis, hotéis cassinos e cassinos. E que cabe a
Assembléia Distrital, autorizar a prática na sua jurisdição e definir as condições de
operação desses locais.
O deputado autor do projeto apresenta como justificativa para o mesmo, que
a opinião dos vereadores será influenciada por seus munícipes, e com cinco mil e
quinhentos municípios no país, as opiniões sobre o funcionamento de um cassino ou
não, serão divergentes. E por isso cabe a cada município decidir o que lhe parecer
mais apropriado. Sem contar as inúmeras cidades que utilizariam esses
estabelecimentos como meios para valorizar e desenvolver o turismo da região.
Por último, o criador do projeto justifica o porquê de escolher as sociedades
anônimas como forma jurídica de exploração desses estabelecimentos. Ele justifica
mostrando que essas sociedades têm a obrigação legal de publicar balanços e
demonstrações de resultados regularmente, em veículos de grande circulação.
Possibilitando, que todos os cidadãos sejam informados a cada ano dos resultados
auferidos pela empresa que explora a atividade. E cientes do nível de lucratividade,
será possível, que os munícipes e seus representantes, ajustem as contribuições da
empresa ao município, de forma a manter a proporcionalidade entre os ganhos
desta e sua contribuição à sociedade (CÉSAR, 2009).
O segundo projeto em tramite é o PL 2826 de 2008 que traz uma série de
regras a serem cumpridas pelos governos e pelas empresas responsáveis por
81
cassinos no país. O projeto limita as regiões em que podem ser abertos
empreendimentos de jogos, permitindo-os somente em locais com vocação turística
e deixando a cargo dos Estados a definição e aprovação dessas áreas. Estipula um
credenciamento para as empresas interessadas na exploração dos jogos, e para
receber a autorização a empresa deve preencher requisitos como, ser constituída
sob as leis brasileiras, com sede e administração no país; ter qualificação técnica e
econômica compatível com o empreendimento; ser capaz de gerar incremento
turístico e novos empregos.
O projeto ainda proíbe que qualquer pessoa física ou jurídica detenha o
controle acionário de mais de três hotéis cassinos ou cassinos, veda os dirigentes e
os funcionários dessas empresas de participar nos jogos de azar que exploram; ter
sua remuneração, ou qualquer parcela de sua remuneração, calculada sobre o
movimento das apostas, e veda também, qualquer tipo de empréstimo ou
financiamento, seja em moeda nacional ou estrangeira, realizados por essas
empresas aos seus usuários. Esses empreendimentos não poderão ter acesso a
benefícios fiscais federais; receber empréstimos ou financiamentos de instituições
financeiras oficiais. Devem manter um fundo de reserva para atender pagamento
decorrente do movimento estimado do jogo.
O PL coloca que os hotéis cassinos ou cassinos, devem ainda colaborar com
iniciativas oficiais que fomentem o turismo da área ou região onde estiverem
localizados, promovendo e/ou patrocinando exposições, espetáculos ou provas
esportivas segundo calendários a serem estabelecidos com o IBT-EMBRATUR e
órgãos oficiais de turismo (LESSA, 2008). O presidente da Sociedade Nacional de
Jogos de Azar do Peru, Fredy Gamarra coloca que:
Mais do que discutir se as leis são suficientes ou insuficientes, é
importante que elas sejam eficientes. Enquanto operadores deste
mercado, somos uma atividade séria e precisamos de regras claras,
que permitam que façamos investimentos de longo prazo”. (apud
GAMES MAGAZINE, 2009)
Mesmo que todas as leis possuam detalhes a serem trabalhados o importante
é que sejam aplicáveis ao ambiente social e econômico de cada localidade.
82
4.4 Como seria o modelo ideal para o Brasil
Não é possível afirmar com exatidão qual é o melhor modelo de hotel cassino
para o Brasil, pois esse tipo de informação só pode ser obtida através de uma
análise comparativa do histórico. Como no país não existem empreendimentos
dessa categoria, o modelo apresentado a seguir é uma compilação de
características observadas em casos de sucesso, em conjunto com algumas
tendências de mercado.
Assim como colocado por Batelli, “o primeiro passo é instituir uma comissão
nacional de jogo, com representantes da sociedade, nos moldes da que existe nos
Estados Unidos” (DAMIANI, 2005). A regulamentação do jogo talvez seja mais
importante do que a própria legalização, pois é através dela que a prática do jogo de
azar poderá realmente conter as três esferas do poder (legislativo, executivo,
judiciário) no decorrer do dia a dia. Sem um órgão regulamentador transparente a
indústria de hotéis cassino corre o risco de ser desacreditada pelos investidores e
pela sociedade. Desse modo, como afirmado por Batelli, o modelo a ser adotado
deveria ser o americano.
Nos Estados Unidos, em 1951 o Congresso deu um parecer acerca da
regulamentação do jogo no estado de Nevada, dizendo que “o sistema de licenças
que está em efeito no estado não resultou na exclusão de indesejáveis do estado,
mas simplesmente serviu para dar a suas atividades um aparente manto de
respeitabilidade” (KILBY, FOX e LUCAS, 2005 p.14). Com essa constatação, o
legislativo de Nevada percebeu que para a indústria de hotéis cassino continuar a
existir e crescer, seria necessário adotar uma regulamentação rígida e séria, a fim
de tornar esse segmento transparente e idôneo.
O Nevada Gaming Control (Controle de jogos de Nevada), constituído pela
Gaming Comission e Gaming Control Board (Conselho de controle de jogo), tem três
objetivos:
1) Garantir que o jogo seja conduzido honestamente. Isso é alcançado
através da prevenção de trapaças e fraudes tanto pelos usuários quanto
pela administração dos cassinos.
2) Garantir que a indústria seja livre de corrupção e de envolvimento com o
crime organizado. Isso é alcançado prevenindo pessoas indesejáveis ou
inadequadas de ter qualquer envolvimento direto ou indireto com o jogo.
83
3) Garantir que todos os tributos devidos sejam pagos adequadamente. Isso
é alcançado mantendo um controle rígido sobre as práticas financeiras
dos licenciados (KILBY, FOX e LUCAS, 2005 p. 14).
A comissão de jogo em Nevada tem como responsabilidade atuar em todas
as regulamentações da prática do jogo e servir como autoridade final nos assuntos
de licenças e ações disciplinares, sendo que nenhum dos membros da comissão
deve ser engajado ativamente ou ter interesse direto com a prática de jogo. O
conselho de controle, por sua vez, tem a responsabilidade de proteger e policiar os
cassinos e todos os membros constituintes têm proficiência em algumas áreas de
atuação (administração, contabilidade, investigação e legislação) pertinentes à
realização do trabalho. Cabe ao conselho fiscalizar a execução das normas
estabelecidas; realizar a auditoria dos cassinos; e investigar (20 anos pregressos)
todos aqueles que solicitarem uma licença, seja ela para trabalhar na faxina ou ser
dono de um hotel cassino.
Esse modelo de regulamentação tem autonomia para criar normas, colocá-las
em prática, fiscalizar de diversos modos a atuação dos cassinos e punir
severamente os mesmos em casos de quebra de procedimentos. Não importando o
tamanho da infração, todos os erros são passíveis de punição pesada. Tanto a
autonomia quanto a seriedade e rigidez desse modelo conferem a indústria de hotéis
cassino de Las Vegas credibilidade necessária para o bom funcionamento da prática
(KILBY, FOX e LUCAS, 2005).
A credibilidade – através da transparência e idoneidade nos negócios –
impacta favoravelmente tanto os investidores como também na imagem que os
usuários têm dos cassinos, reduzindo possíveis anseios com relação à interações
com atos ilícitos ou adulteração das probabilidades de ganho, nos casos de jogos
com máquinas. Os hotéis cassino, assim como qualquer outra empresa, têm o intuito
final de serem lucrativos, portanto estimulam os seus freqüentadores a apostarem
na sua sorte, porém tem a consciência de que se não apresentar chances de ganho
ao seu cliente, o mesmo provavelmente não irá retornar.
As máquinas de caça níquel são consideradas as grandes vilãs do jogo de
azar no Brasil, pois eram facilmente encontradas em qualquer esquina e acabavam
com as economias e o tempo daqueles que não paravam de apostar, esperando que
a sorte viesse e liberasse o grande prêmio acumulado. Entretanto isso não ocorria já
que as máquinas, em posse de pequenos estabelecimentos, eram em grande parte
84
adulteradas para não liberar o dinheiro retido, de modo que ganhar era virtualmente
impossível. Diferentemente da prática brasileira, nos Estados Unidos as máquinas
de caça níquel são fiscalizadas e regulamentadas acerca da retenção máxima.
Batelli pontua o assunto dizendo que “elas têm de distribuir, no mínimo, pelo menos
85% de tudo o que coletam. Em Las Vegas, o índice de retenção é de apenas 6%”
(DAMIANI, 2005).
Definido o tipo de regulamentação, deve ser debatido o melhor lugar para se
instalar um empreendimento desse tipo no país. Em entrevista, Batelli diz: “Sou
contra limitações de região aos hotéis-cassino. Quem é um funcionário público de 2
mil reais por mês para dizer onde um empreendimento de 20 milhões de dólares
deve se localizar? É alguém que quer ser corrompido. Por isso, o mapeamento de
onde pode e onde não pode tem de ser deixado de lado” (DAMIANI, 2005). Os
argumentos apresentados por ele têm veracidade, porém existem regiões aonde a
inserção de hotéis cassinos poderia ter seus ganhos potencializados e seus
prejuízos sociais minimizados.
A resposta se encontra na associação de destinações turísticas, com o devido
aporte de infra-estrutura (aeroporto, transporte, infra básica, saneamento, etc), com
os hotéis cassino. Inserir um empreendimento desse tipo dentro de uma grande
cidade como São Paulo acarretaria, provavelmente, em menos receitas e mais ônus
do que se o mesmo empreendimento fosse instalado em um balneário, por exemplo.
A destinação ideal seria aquela que aliasse infra-estrutura e atrativos turísticos, mas
que ainda levasse em conta o parecer da comunidade local acerca da instalação ou
não de hotéis cassino na região.
Eadington (2002 p. 166) afirma que “a fim de que ocorra o estímulo
econômico, uma grande parte do consumo deve vir de fora da região onde os
cassinos se localizam”. A resposta está no turismo e não no consumo local, sendo
que o hotel cassino em conjunto com o entretenimento oferecido age como um
prolongador de estada mais do que um gerador de hóspede. O turismo tem o
potencial de desenvolver a destinação turística, gerando empregos, trazendo divisas
para a economia e arrecadando impostos para investimentos na própria região. A
comunidade local, trabalhando no empreendimento ao invés de consumindo no
mesmo, também tem os efeitos nocivos do jogo reduzidos. Não tendo o foco de
85
público alvo na região, os riscos de que os moradores percam as suas economias
no jogo é altamente minimizado.
O jogo de azar não deve ser considerado como uma forma de se ganhar
dinheiro rapidamente; as pessoas que se enganam nesse quesito têm grandes
chances de perderem grandes somas dentro de um cassino. A população local deve
ver os hotéis cassinos como uma maneira de trabalhar no ramo do turismo, direta ou
indiretamente, mas não de trabalhar jogando. O turista em geral, por sua vez, tende
a ver o jogo como uma forma de se entreter e não como uma fonte de receita.
A inserção de um cassino objetivada a atender o público local, oferece uma
maneira rápida e cotidiana do trabalhador, que busque um ganho exacerbado de
capital, arriscar a sua sorte em busca de um enriquecimento instantâneo. Entretanto,
o resultado mais provável será uma perda das reservas de capital desses indivíduos
e um aumento das chances de impactos sociais negativos na região. Os hotéis
cassino devem estar em conjunto com destinações turísticas de modo a atrair
turistas, sendo que o jogo pode tanto ser um motivador como um simples diferencial
a mais.
O quesito diferencial remete ao tipo de hotel cassino mais adequado para o
desenvolvimento turístico do Brasil. Novamente o modelo a ser adotado deveria ser
o americano dos mega resorts. “Ali [hotéis cassino] há shows artísticos, há
restaurantes, há hotelaria de alto padrão e inclusive há, sim, o jogo, um elemento a
mais,
porém
importantíssimo”
(DAMIANI,
2005).
Todos
esses
elementos
compreendem o universo dos hotéis cassino e compõem o ambiente completo que
irá proporcionar o turismo de experiência mencionado anteriormente.
O valor do turismo no desenvolvimento econômico e social, por si só, já é
importante para um país como o Brasil, rico em fauna, flora e diversos atrativos
naturais (sem contar as demais facetas turísticas que o país pode desenvolver). O
modelo de hotéis cassino para o país poderia agregar facilmente a tendência do
turismo focado na natureza com uma destinação que vise atrair o turista – como
abordado anteriormente.
Em adição, deve-se ainda explorar o turismo de experiência, aplicável dentro
dos hotéis cassino, já que o mesmo potencializa as receitas ao passo em que
oferece um nível de diferencial que não têm comparação. A experiência é o auge da
86
diferenciação e o ambiente completo dos hotéis cassino contribui diretamente para a
percepção e vivência da mesma.
Entretanto, para que o ambiente seja realmente completo, não basta somente
uma
consonância
entre
elementos
de
infra-estrutura
e
produtos
(desde
hospedagem, gastronomia, até entretenimento). É ainda necessária a forte presença
do fator humano, indo além de uma simples prestação de serviço. O atendimento ao
consumidor, muito importante dentro do setor de hotelaria e turismo além de
contribuir para a percepção de um ambiente completo ainda tem um lado de
estímulo pessoal, ao passo que transmite valores de conforto, atenção, bem-estar e
muitos outros para os visitantes. O fator humano além de ser uma necessidade e
uma expectativa dos consumidores turísticos, ainda é um diferencial na hora da
escolha de uma destinação.
O aspecto serviço, além de estar presente nas áreas comuns aos diversos
empreendimentos hoteleiros, incluindo eventos e entretenimento também, ainda é
notado dentro da prática do jogo. Diferentemente das loterias, nos cassinos o cliente
interage socialmente, com os demais jogadores e também com a equipe do cassino,
como também com o ambiente ao seu entorno. Não é simplesmente jogar, mas sim
um estímulo de todos os sentidos.
No que diz respeito ao atendimento e o turismo, o risco ocorre, no “momento
em que todos os turistas são vistos apenas como consumidores pelas empresas de
turismo, e os residentes locais, como meros prestadores de serviços” (LOHMANN e
NETTO, 2008, p. 146), por isso que um empreendedor consciente e sábio, não pode
perder o fator humano dentro de seu planejamento em busca de lucratividade.
Em suma, foram identificadas três palavras que compõem as principais
características que devem estar presentes em um hotel cassino, seja ele um
empreendimento brasileiro ou não (quadro 8). Outros elementos podem e devem ser
acrescentados, porém a presença dos três itens deve ser obrigatória para que essa
oportunidade de mercado turístico seja explorada com sucesso.
87
Quadro 8 – O básico em hotéis cassino
Fonte: as autoras
A pergunta agora é: existe possibilidade de entrada de hotéis cassino no
Brasil em um curto período? Infelizmente a resposta é não. Mesmo que o jogo de
azar seja legalizado e liberado e mesmo tendo em vista o modelo para maximizar
benefícios e minimizar ônus, a entrada de hotéis cassino no país não seria favorável,
pelo menos não nas condições atuais e do horizonte brasileiro.
As oportunidades oferecidas pela indústria de hotéis cassino e de destinações
turística aos moldes de Las Vegas são, sem sombra de dúvida, interessantes para o
país. Entretanto, o governo não possui as ferramentas básicas que auferem a
credibilidade à indústria, pois não existem projetos de um órgão regulamentador
autônomo. Um país com os problemas de corrupção que o Brasil enfrenta
atualmente não possui a credibilidade necessária para a abertura do modelo de
hotel cassino.
Em entrevista concedida no dia 16 de outubro de 2009, Batelli pontua o
assunto afirmando que “a seriedade administrativa no Brasil hoje não é para
cassinos. A falta de confiança no poder público é muito grande. Muda-se a regra do
jogo no meio do jogo, no Brasil não tem respeito”. Quando questionado quanto à
existência de esperanças para o país, Batelli (2009) aponta que “hotel cassino é um
88
estabelecimento como outro qualquer, bem administrado dá lucro, mal administrado
ele vai à falência. Agora tem que ser transparente. Por isso que no Brasil eu acho
difícil”.
Em decorrência dos argumentos apresentados, para que os hotéis cassino
sejam inseridos dentro do país, primeiramente deve ocorrer uma mudança tanto no
governo quanto na sociedade. Porém, até que isso aconteça, a entrada desse
segmento hoteleiro no país não têm um futuro promissor. Resta saber se o Brasil
terá o azar de não aproveitar, de modo correto, essa oportunidade de
desenvolvimento turístico.
89
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após o término do trabalho, três grandes itens foram levantados como os
principais, pois tanto norteiam as indagações feitas pelo grupo antes do processo de
pesquisa, quanto representam os pontos mais relevantes abordados no decorrer da
discussão dos hotéis cassino.
Primeiramente tem-se a constatação de que o segmento desses mega resorts
que aliam elementos de todas as principais indústrias hoteleiras, além de
acrescentar o seu próprio fator a mais (os jogos de azar), sofreu grandes mudanças
nas últimas décadas. As mudanças foram tanto internas quanto externas, passando
desde o público e suas motivações, até o próprio formato hoteleiro utilizado. Desde a
época da proibição dos cassinos no Brasil, a indústria continuou a evoluir na
experiência total ofertada aos visitantes e a quebrar paradigmas conceituais e
sociais, através da apresentação de uma credibilidade inexistente na época da
proibição.
O segundo aspecto a ser destacado foram os dados apresentados no
decorrer da pesquisa que corroboram a máxima de que hotéis cassino são
atualmente muito mais do que jogo. Sem dúvida a prática de jogos de azar é
imprescindível para o bom funcionamento desse tipo de empreendimento, pois
contribui com os demais setores, atrai e satisfaz os investidores, além de prolongar a
estada dos clientes dentro da localidade. Entretanto, cada vez mais os demais
elementos que compõe o mundo dos cassinos, ganham importância tanto para o
próprio empreendimento como para o público, agindo como fatores determinantes e
motivacionais.
As mudanças na indústria e a nova percepção da relevância das demais
facetas dentro dos hotéis cassino contribuíram para justificar a necessidade de se
re-estudar o assunto, com uma nova abordagem. A ausência desses tipos de
empreendimentos gerou uma defasagem tanto de material como da própria
mentalidade, sendo que a sociedade brasileira ainda tende a discutir o tema
baseando-se em preceitos desenvolvidos há seis décadas. O mundo mudou, assim
como a indústria dos hotéis cassino, portanto é necessário re-introduzir o assuntos
90
abordando o que sofreu alterações, para que assim seja possível discutir baseandose em dados atuais ao invés de se manter estagnado no passado.
O terceiro ponto, talvez o mais relevante, relaciona-se com o melhor modelo
de hotéis cassino para o país e a possibilidade de implantação do segmento em um
período próximo. Através do desenvolvimento do trabalho, o sentimento causado foi
a percepção de que o problema, na realidade, não se encontra na indústria de jogos
em si.
Nas atuais condições brasileiras, identificou-se que não existe possibilidade
de implantar esse ramo hoteleiro no país, pelo menos não da maneira considerada
correta. Seria necessária, primeiramente, uma mudança extrema dentro do país, nas
prioridades do governo e na mentalidade da sociedade. Mas até que isso ocorra, o
país perde uma oportunidade de mercado que agregaria a utilização de diversas
tendências para o setor de turismo que, como foi apresentado, tem o poder de
impactar o desenvolvimento do Brasil.
Os dois primeiros elementos destacados contribuem para fortalecer a
importância de um novo olhar acerca do tema hotéis cassino, de um modo crítico e à
fundo, porém sem as pré-concepções de uma mentalidade ultrapassada. O terceiro
elemento, por sua vez, corrobora a necessidade de se fomentar novas discussões
sobre o tema, como apontado nos objetivos dessa pesquisa. Tanto esses novos
estudos, como as discussões decorrentes deles devem levar em conta um
pensamento: será que não atribuímos a culpa à indústria de hotéis cassino, de modo
a mascarar a nossa incompetência governamental, no quesito transparência e
credibilidade, e a nossa falta de informação sobre o tema?
Não se deve ter vergonha de ser ignorante sobre um tema, pois a vergonha
maior está em fingir ser conhecedor de um assunto. Seguindo os preceitos de
Aristóteles que diz “o ignorante afirma, o sábio duvida e o sensato reflete”,
convidamos a todos que leram esse trabalho a refletir sobre o mundo dos hotéis
cassino, para então formarem as suas opiniões.
Façam as suas apostas!
91
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HOTEIS CASSINO: MAIS DO QUE HOTELARIA