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SYLLABUS
Regulação Cardiovascular
Luiz F. Junqueira Jr.
Professor Titular, BSc/MSc/MD/PhD
Cardiologia - Fisiologia Cardiovascular
Área de Clínica Médica
Faculdade de Medicina, Universidade de Brasília
Organização morfo-funcional e objetivos dos processos de regulação da função cardiovascular.
Mecanismos reguladores remotos (neurais de ação direta e reflexa, humorais e neuro-humorais) e
locais.
Centros neurais de integração da regulação
cardiovascular: centros vasomotor, cardioinibidor e vasodilatador.
Regulação da estabilidade fisiológica das variáveis hemodinâmicas fundamentais;
manutenção da pressão arterial e do volume sanguíneo. Mecanismos neurais centrais
e periféricos. Influências das atividades autonômicas simpática e parassimpática sobre
o coração e vasos. Reflexos barorreceptor e quimiorreceptor. Efeitos de substâncias
circulantes. Sistema renina-angiotensina-aldosterona. Fator natriurético.
Hormônio anti-diurético. Mecanismos locais de regulação do fluxo tecidual.
Considerações fisiopatológicas que implicam os mecanismos de regulação cardiovascular.
A regulação do aparelho cardiovascular é a mais complexa existente no organismo.
Assim é, em decorrência de que a manutenção de adequada oferta de fluxo sanguíneo aos diversos
sistemas orgânicos, em função das suas variáveis necessidades metabólicas, exige constante e
frequentemente rápida adaptação funcional dos diversos componentes do aparelho cardiovascular.
O sistema nervoso, por meio de diferentes centros e núcleos neurais em interação com as divisões
autonômicas, desempenha papel fundamental nessa regulação, como influenciador determinante e
como integrador dos diversos mecanismos de ajustes fisiológicos, especialmente daqueles de ação
imediata e a curto prazo.
Diversos mecanismos reguladores cardiovasculares existem, os quais atuam
isoladamente ou combinadamente, com o objetivo final de garantir adequado volume sanguíneo
circulante e pressões arterial e venosa sistêmicas as mais estáveis possíveis, dentro dos limites
fisiológicos estabelecidos para a espécie, visando a manutenção do fluxo sanguíneo tecidual; assim,
pois, o volume sanguíneo e a pressão circulatória são as duas variáveis hemodinâmicas que se
constituem nos alvos finais da regulação cardiovascular.
Os mecanismos referidos podem ter
atuação remota, quando se processam distantemente das estruturas cardiovasculares sob regulação,
ou podem ser de natureza local, quando as influências reguladoras se processam na intimidade dos
órgãos e aparelhos para o ajuste do fluxo sanguíneo local por meio de substâncias ou metabolitos
produzidos localmante (e.g., cininas, prostaglandinas, angiotensina), as expensas da regulação do
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Os mecanismos de ação remota são de natureza neural, humoral e
neuro-humoral.
A influência neural sobre os componentes cardiovasculares se processa de duas
maneiras: 1) diretamente, a partir de estruturas situadas em todos os níveis do sistema nervoso
central, por meio das terminações autonômicas eferentes simpática e parassimpática;
2)
reflexamente, por meio de arcos reflexos de complexidade variada, interessando diferentes níveis do
sistema nervoso central, como o espinhal, o ponto-bulbar, o mesencefálico, o cerebelar e o cortical,
os quais recebem informações aferentes procedentes de receptores diversos e emitem influências
eferentes de retorno ao aparelho cardiovascular, via ramos nervosos simpáticos e parassimpáticos.
Dentre os mecanismos reguladores reflexos, destacam-se em importância o reflexo barorreceptor
(relacionado a estabilização de modificações agudas da pressão arterial), o reflexo quimiorreceptor
(regulador dos níveis sanguíneos de oxigênio e gas carbônico), e o reflexo de isquemia cerebral (que
contribui na regulação do fluxo sanguíneo cerebral).
Os centros neurais básicos de regulação cardiovascular, relacionados ao controle das
propriedades eletrofisiológicas e da contratilidade do coração, e da vasomotridade arterial e venosa,
promovendo em consequência modificações das variáveis hemodinâmicas fundamentais, situam-se
no bulbo e na ponte, junto ao tronco cerebral; estes centros são de natureza simpática noradrenérgica
estimuladora cardíaca e vascular sistêmica (centros cardioestimulador e vasomotor), e simpática
inibidora vascular regional (centro vasodilatador), e de natureza parassimpática colinérgica
depressora cardíaca (centro cardioinibidor).
Influências colinérgicas depressoras vasculares
regionais, que visam a vasodilatação direta, também existem a partir de outros centros de natureza
simpática e parassimpática.
A influência reguladora humoral diz respeito as diversas substâncias circulantes e
hormônios produzidos em diferentes locais, que vão modificar remotamente as variáveis
cardiovasculares; incluem-se entre estes humores, as catecolaminas, o fator natriurético, a
vasopressina, a angiotensina, etc.
Os mecanismos de natureza neuro-humoral são aqueles que
interligam influências humorais e neurais, como por exemplo, a influência simpática sobre a
secreção de renina e sobre a secreção adrenal de catecolaminas.
Particularizando, a pressão arterial é regulada por três tipos de mecanismos, que
visam amortecer modificações agudas da mesma em torno do seu nível basal, e determinar e manter
permanentemente este nível basal e sua estabilidade: 1) mecanismos de resposta imediata e curta
ação, de natureza neural geralmente reflexa, dependentes de influências autonômicas sobre a
frequência cardíaca, o volume sistólico e o débito cardíaco (por modificação da contratilidade do
coração), a resistência vascular periférica e o retorno venoso; estes mecanismos, dentre os quais
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destaca-se o reflexo barorreceptor, atuam em segundos, perdurando sua ação por até poucos dias,
mas comumente por minutos ou horas, e visam uma regulação a curto prazo, com o objetivo
principal de compensar desvios agudos e rápidos da pressão arterial sistêmica.
2) mecanismos de
resposta e ação intermediários, de natureza neuro-humoral, hemodinâmica ou humoral, que
influenciam diversas variáveis cardiovasculares e o volume sanguíneo; estes mecanismos, que
implicam, por exemplo, o sistema renina-angiotensina-aldosterona e o hormônio anti-diurético,
atuam de segundos a minutos, perdurando sua ação por alguns dias, e objetivam uma regulação a
médio prazo, para manutenção da estabilidade do nível basal da pressão arterial.
3) mecanismos
de resposta lenta e ação prolongada, de natureza humoral ou hemodinâmica (pressão de filtração
glomerular), que influenciam os processos relacionados ao controle do volume sanguíneo pelo rim;
estes mecanismos atuam prolongadamente, em dias, e visam uma regulação a longo prazo, também
com o objetivo de manutenção dos níveis fisiológicos basais da pressão arterial.
O volume sanguíneo circulante, por sua vez, é regulado principalmente por
mecanismos hemodinâmicos e humorais ligados ao rim. Dentre estes mecanismos destacam-se: 1)
a eliminação ou a conservação de água e sódio pelos túbulos renais, em função da pressão de
filtração glomerular e do volume renal plasmático;
2) a alça hormonal do sistema renina-
angiotensina-aldosterona, que influencia tanto a resistência vascular periférica, regulando a pressão
arterial, quanto a volemia; 3) a ação do hormônio anti-diurético (vasopressina), que regula a
osmolaridade e o volume circulante;
4) a ação do fator natriurético atrial, que infuencia
diretamente o nível do volume sanguíneo circulante, e indiretamente a pressão arterial.
Diversas alterações fisiopatológicas e suas expressões clínicas resultam, direta ou
indiretamente, de modificações dos padrões funcionais normais dos mecanismos implicados na
regulação
cardiovascular.
Por
outro
lado,
várias
condições
patológicas
secundariamente, alterações nos mecanismos reguladores cardiovasculares.
determinam,
Entre os múltiplos
exemplos de uma e outra situação, incluem-se, a hipertensão arterial, a aterosclerose, a insuficiência
coronariana, a insuficiência cardíaca, o acidente vascular cerebral, o diabetes melitus, a doença de
Chagas, a insuficiência renal, a insuficiência hepática, as doenças cerebrais e muitas outras
condições clínicas e funcionais.
Grande número de agentes farmacológicos, substâncias diversas e
agentes anestésicos, também influenciam sobremaneira os mecanismos de regulação cardiovascular,
principalmente por suas ações sobre o sistema nervoso central e o sobre os diferentes componentes
centrais e periféricos do sistema nervoso autônomo.
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