"O Governo curdo abriu as
fronteiras aos Cristãos"
D. Bashar Matti Warda, o Arcebispo Caldeu de Erbil, no Curdistão
Iraquiano, está a preparar-se para uma nova vaga de refugiados
Entrevista conduzida por Oliver Maksan, correspondente da Fundação AIS no Médio
Oriente. (06.07.2014)
Vossa Excelência, quantos refugiados procuraram abrigo na sua diocese?
Neste momento estamos a dar assistência a cerca de 400 famílias cristãs que
chegaram até nós desde o início de Junho provenientes da região de Mossul. Estas
incluem Caldeus, Ortodoxos Sírios e Católicos Sírios. O Governo curdo abriu as
fronteiras aos Cristãos, enquanto que para os Muçulmanos das áreas afectadas pelo
ISIS foram apenas concedidas autorizações de residência temporária.
Por que razão os curdos distinguem os Muçulmanos dos Cristãos?
Quando falámos com o Governo Curdo deixámos claro que as famílias cristãs não têm
intenção de voltar. Por outro lado, os Muçulmanos têm essa intenção. Assim, os
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Curdos disseram que naturalmente preferem que os Cristãos permaneçam na sua terra
natal, onde têm os seus bens. Mas, nesta situação, facilitaram a imigração.
Os refugiados estão a ser apoiados pelo Governo Curdo?
Na crise mais recente, no fim de Junho, quando vinte mil cristãos fugiram de Karakosh
devido às hostilidades entre o ISIS e os curdos desta área, o governador da província
de Erbil veio receber os refugiados. Para além disso, representantes de várias
autoridades governamentais também estiveram presentes. Deram-nos conselhos, mas
não recebemos qualquer apoio material.
Como Bispo não está sobrecarregado com o apoio aos refugiados?
Sim. Não podemos lidar sozinhos com esta situação. Nem sequer temos uma equipa
para lidar com este afluxo de refugiados de forma qualificada. Graças a Deus, o povo
de Karakosh foi capaz de retornar à sua cidade após alguns dias, uma vez que a
situação acalmou.
No entanto, os refugiados de Mossul ainda estão aqui. O que vai acontecer, a longo
prazo?
Bem, eles não vão voltar. Ou ficam aqui, no Curdistão, ou vão para outro país, como a
Turquia ou o Líbano. Muitos já começaram a fazer isso, infelizmente.
Que possibilidades tem para manter os Cristãos no Curdistão?
Teríamos de ser capazes de os ajudar a encontrar casas e empregos. Mas isso é difícil.
Nós, como diocese, não podemos oferecer isso. Teríamos de trabalhar em conjunto
com o Governo e as organizações de ajuda externa aqui presentes.
Acha que o Cristianismo tem futuro no que ainda é actualmente o Curdistão
Iraquiano?
Olhando para o que vivemos durante anos, eu diria que sim. Não só há segurança,
como o Governo está preparado para ouvir as nossas preocupações. Isto tornou-se
evidente na presente crise de refugiados. Mas há também aspectos críticos. Por
exemplo, existem disputas de terras entre cristãos e aldeias curdas. O Governo
prometeu encontrar uma solução. No entanto, ainda estamos a aguardar. Mas as
coisas estão a avançar rapidamente noutras áreas.
Os partidos do Governo do Curdistão tendem a funcionar numa tradição secular. Isso
traz condições pluralistas?
Sim. Sempre que temos contactos com o Governo sentimo-lo. Claro, também há
pessoas com uma visão diferente e não pluralista. Mas essa não é a atitude do
Governo.
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Muitos cristãos queixam-se de que também existem partidos islâmicos aqui. Há
relativamente pouco tempo, em algumas cidades Curdas no Norte do país, lojas
cristãs de bebidas foram atacadas por fanáticos. Isso preocupa-o relativamente ao
futuro?
Sim, essas coisas acontecem. Temos de ser realistas. Esses movimentos estão a
aumentar em toda a região e também hão-de chegar ao Curdistão. É o mais provável.
Mas, pelo menos, o Governo está atento ao problema.
Mas isso perturba muitos cristãos. Eles dizem: hoje está tudo bem, mas como vão
estar as coisas amanhã?
Eu compreendo. Mas creio que o Governo irá intervir antecipadamente.
O que pode a Fundação AIS fazer pelos Cristãos no Iraque nesta situação difícil?
Nós pedimos sempre as vossas orações. E, por favor, continuem a ajudar-nos a dar a
conhecer a nossa situação aos políticos e ao público em geral. Também agradecemos
por apoiarem os nossos programas de ajuda de emergência. Estamos a prever tempos
difíceis para cidades como Karakosh e outras.
Então, está com receio de que novas hostilidades possam chegar a essas cidades
cristãs e desencadear novas vagas de refugiados?
Quem poderá dizer? De qualquer modo, temos de estar preparados.
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