CONSIDERAÇÕES SOBRE A CASA FAMILIAR RURAL DE XAXIM E DE QUILOMBO PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA
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Luiz Paulo Monteiro.
Resumo:
O presente trabalho pretende buscar a compreensão do processo de formação dos jovens da CFR Xaxim e
Quilombo, como objeto de delimitação de estudo, fazendo uma retomada histórica de formação destas
instituições no mundo. Além disso, pretende-se também analisar a importância da Pedagogia da Alternância na
formação dos jovens e suas famílias e consequentemente a situação socioeconômica e ambiental destes sujeitos.
Será realizada um quadro comparativo entre a escola do ensino regular com a Casa Familiar Rural, desde a
questão metodológica até análise do currículo, numa relação dialética. Busca-se, entender como se caracterizam
os Instrumentos da Pedagogia da Alternância, onde os mesmos devem ser explicitados com grande clareza,
identificando sua importância para a formação dos jovens.
Palavras-chave: Casa Familiar Rural, Pedagogia da Alternância, jovens.
INTRODUÇÃO
Entende-se que atual conjuntura agrária do Oeste de santa Catarina se caracteriza pelas
pequenas propriedades rurais e, juntamente com elas, existem as grandes agroindústrias que
tentam impor seu poder sobre os camponeses, por meio do seu modelo de “integração e
parceria”. Porém o sistema impõe um modelo a ser seguido , a todos aqueles que tem um
envolvimento direto com este sistema, incorpora-se a modelo de exclusão social e econômica
que acabam por ter que seguir determinados esteriótipos, desvirtuando-se do seu lugar de
convivência.
Uma das armas que as grandes agroindústrias de suínos e aves, juntamente com a
força governamental utilizam para colocarem sua hegemonia é justamente não assegurar às
populações jovens uma educação do/no campo adequada aos seus anseios, ludibriando-os
ideologicamente para se criar um exército absoluto de mão de obra barata e doutrinada para os
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Mestrando em Geografia pela Unioeste - Campus de Francisco Beltrão (PR). Integrante do
Laboratório de Pesquisa LEG – Laboratório de Ensino de Geografia e Linha/Grupo de Pesquisa
ENGEO – Ensino e Práticas de Geografia, número de grupo 34953/2011, cadastrado junto à Unioeste
([email protected]).
² Doutora em Geografia, professora do curso de Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE - Campus de Marechal Cândido Rondon/PR. Integrante do Laboratório de Pesquisa LEG –
Laboratório de Ensino de Geografia e Linha/Grupo de Pesquisa ENGEO – Ensino e Práticas de Geografia,
número do grupo 34953/2011, cadastrado junto à Unioeste ([email protected]).
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serviços no interior de um frigorífico e/ou mesmo dentro da sua própria propriedade,
conduzindo-os para a ilusão de “parcerias e integração”.
Para ABRAMOVAY( 2001 p. 45),
a atual formação escolar dos jovens rurais
contribui decisivamente para sua inserção subalterna no mercado de trabalho urbano. No
entanto, conta-se hoje,
com algumas instituições escolares que procuram quebrar o
paradigma de desvalorização do jovem do meio rural, tanto social quanto econômica. A Casa
Familiar Rural é uma destas entidades que tentam quebrar com esta linha de pensamento,
valorizando o jovem em seu meio, na sua realidade.
Faltam escolas com ensino contextualizado de acordo com a realidade do campo,
faltam opções de formação técnica, emprego, condições dignas de saneamento, de saúde e
ambientes para lazer e cultura. Diante de tantas carências e do apelo tão frequente da mídia
mostrando os grandes centros urbanos tão repletos de possibilidades, a saída do campo parece
para muitos jovens, a melhor opção na melhoria de vida.
Como uma das alternativas para essa situação surgiu a Casa Familiar Rural (CFR),
uma instituição de ensino diferenciada, ou seja, uma escola para filhos de agricultores, que
tem o objetivo de oferecer aos jovens rurais uma formação integral, adequada à sua realidade,
que lhes permitam atuar, no futuro, como um profissional empreendedor no meio rural, além
de tornar-se homem e mulher em condições de fazer uma leitura crítica do mundo, utilizandose da Pedagogia da Alternância e dos seus Instrumentos para a construção de um
conhecimento diferenciado.
Para Arroyo(2009, p.12-13), existe a necessidade de entender os processos educativos
na diversidade de dimensões que os constituem como processos sociais, políticos e culturais;
formadores do ser humano e da própria sociedade.
A área de estudo compreende os municípios de Xaxim e Quilombo, no Oeste
Catarinense, sendo este último o espaço onde foi implantada a primeira Casa Familiar Rural
no estado de Santa Catarina, em meados do final dos anos 80, caracterizado a partir do
momento de grande crise do meio rural e expressivo êxodo rural principalmente entre as
populações mais jovens.
O presente artigo pretende, como objetivo geral, compreender o processo de formação
dos sujeitos inseridos nas Casas Familiares Rurais de Xaxim e de Quilombo a partir da
Pedagogia da Alternância.
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CONSIDERAÇÕES SOBRE A CASA FAMILIAR RURAL DE XAXIM E DE
QUILOMBO -PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA:
Os princípios da Pedagogia da Alternância estão baseados em assegurar o
funcionamento de forma desburocratizada, barata e eficiente da aprendizagem do jovem e sua
família, que vivem no seu meio socioprofissional. O jovem não deve ser afastado, durante a
sua permanência, das suas condições culturais e ambientais, do seu meio. O conhecimento
deve envolver necessariamente a família do jovem. Desenvolve-se, na integração social do
jovem com a comunidade e família, visando formar duas gerações, procurando a melhor
forma possível de aplicar atividades direcionadas ao desenvolvimento local sustentável e
solidário, vinculando a o trabalho como princípio educativo.
Desta forma, o objetivo central das Casas Familiares Rurais da Região Oeste de Santa
Catarina é justamente tentar frear o grande êxodo rural presente em boa parte dos municípios
do Oeste de santa Catarina, alavancado principalmente a partir dos anos 80, como se pode
observar no que se refere ao processo de integração a qual representou a solução para garantir
a matéria-prima às agroindústrias, ela também foi um fator de exclusão e êxodo de um grande
número de agricultores da Região Oeste. Segundo dados da EPAGRI (Testa, 1996), em 1980
havia 67 mil suinocultores, em 1996 esse número caiu para 20 mil.
Nesse sentido, os educadores passam a dar fundamental atenção à escolha das palavras
geradoras, bem como à redação de textos de leitura. Estes devem levar em conta homens e
mulheres em seu contexto de transformação, não podendo ser meras narrações de nova
realidade, nem tão pouco revestir-se de sentido paternalista. (Freire, 1981.p.25).
A Pedagogia da Alternância não se apresenta como uma panacéia milagrosa para
resolver todos os males da educação nacional. Entretanto, em virtude de priorizar o
desenvolvimento do processo de transmissão/assimilação de novos conhecimentos através de
um construtivismo crítico, contextualizando os temas a serem trabalhados na realidade do
jovem e buscar a articulação horizontal e vertical de tais assuntos dentro dos diferentes
conteúdos curriculares. A Pedagogia da Alternância, capacita-se a pelo menos, minimizar
alguns problemas educacionais existentes (Azevedo, p.121).
A Pedagogia da Alternância é mais do que uma simples modalidade de organização da
escolarização que alterna tempo e espaço para favorecer o ajuste do calendário escolar ao
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calendário agrícola no contexto da Educação do Campo. Trata-se, com efeito, de uma
pedagogia que se sustenta na concepção de que a formação resulta de um processo interativo
entre o sujeito e os seus contextos, familiar, profissional, político, cultural e escolar.
Desse modo, “busca-se romper com o ensino baseado na transmissão vertical dos
conhecimentos”, porque “o conhecimento deve ser construído na interação das pessoas entre
si e das pessoas com o meio onde estão inseridas.” (Begnami, 2006, p.32).
No que diz respeito ao processo de aprendizagem, as abordagens conceituais da
Pedagogia da Alternância se nutrem de referenciais que se aproximam dos fundamentos
enunciados por autores como Freinet, Decroly, Dewey, Cousinet, Montessori, Jean Piaget e
Paulo Freire (Gimonet, 1999; Begnami, 2006). Ou seja, autores identificados com o
movimento da Escola Nova e das chamadas pedagogias ativas, para as quais a aprendizagem
constitui-se muito mais como produção e construção de saberes do que como consumo de
conteúdos.
Por conseguinte, a concepção de aprendizagem da Pedagogia da Alternância, tal como
esta vem sendo apresentada por Gimonet (1999) e Begnami (2006), por exemplo, é muito
próxima, senão a mesma, da concepção construtivista, tal como esta foi enunciada por Jean
Piaget em várias de suas obras, especialmente em relatório elaborado por esse pesquisador a
pedido da UNESCO (Piaget, 1998). Piaget é muito claro nesse último texto quando diz que
sua concepção de aprendizagem:
“...é de natureza construtivista, isto é, sem pré-formação exógena (empirismo) ou
endógena (inatismo) por contínuas ultrapassagens das elaborações sucessivas, o que,
do ponto de vista pedagógico, leva incontestavelmente a dar toda ênfase às
atividades que favoreçam a espontaneidade da criança.” (Piaget, 1998, p. 11)
Por ser uma escola diferenciada também é importante relatar o fato das famílias não
perder a mão de obra na propriedade, pois os jovens ficam normalmente uma semana alojados
na Casa Familiar e duas em sua propriedade. Cabe salientar que esta é uma escola diferente
também porque além de assegurar o conhecimento técnico e científico sobre a agricultura,
proporciona aos educandos um conhecimento básico dos conteúdos da matriz curricular do
Ensino Fundamental e Médio, pois os jovens, grande maioria deles não tiveram a
oportunidade de continuar estudando em uma escola regular. Porém, são trabalhadores
atuantes na agricultura, estando a maioria na própria propriedade familiar.
Propõe-se neste estudo analisar as condições socioeconômicas de uma amostragem de
jovens egressos da Casa Familiar Rural de Xaxim e de Quilombo, possuindo as mesmas o
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mesmo título de formação “técnico em Agronegócio” , buscando analisar a conjuntura
socioeconômica e espacial destes sujeitos, formados nesta instituição, bem como a forma pela
qual nasceu esta instituição em escala local, regional, nacional e global.
Focaliza-se neste trabalho aspectos relacionados à metodologia aplicada na relação
ensino aprendizagem, no interior das Casas Familiares Rurais, principalmente no que se refere
à Pedagogia da Alternância e seus instrumentos pedagógicos. Desta maneira descreve-se que
se necessita de uma escola que atenda aos interesses da agricultura camponesa, que construa
conhecimentos e tecnologias na direção do desenvolvimento social e econômico dessa
população, na busca da autonomia e do respeito à identidade cultural, numa sociedade em que
a lei do mais forte fala mais alto.
Para entender a estrutura de funcionamento desta instituição, é preciso entender a
configuração histórica da construção da Casa Familiar Rural em escala mundial
A primeira Casa Familiar Rural teve sua criação em função de reflexões e discussões
de vários setores da sociedade e foi criada em 17 de novembro de 1937 em Lauzun, na
França. Mas essa abertura foi precedida de dois anos de experiência num pequeno povoado
vizinho de Sérignac Péboudou (Revista de Formação por Alternância, Vol. 2,p 73).
Na época, havia também uma implantação de algumas tecnologias em que a maioria
não tinha acesso, além de um cenário conjuntural da Segunda Guerra Mundial. Todo esse
cenário tornou-se propício a um êxodo do meio rural, além de problemas com o aumento da
população no meio urbano. No entanto, havia uma preocupação por parte da sociedade local
para tentar conter o êxodo, principalmente dos jovens, então, nessa época surgiram três
grandes lideranças, Jean Peyrat, Arsène Couvreur e o padre Granereau, que a partir de um
diálogo, buscaram uma formação que se identificasse criticamente com a realidade na qual os
jovens estavam inseridos e , assim nasceram as Maisons Familiales, inicialmente com quatro
jovens. Essa nova forma de aprender, foi denominada a principio com Instrumentos próprios
de formação, a chamada Pedagogia da Alternância (Revista de Formação por Alternância,
Vol. 2,p 73).
No fim da década de 60, surge então no Espírito Santo a primeira Casa Familiar Rural
no Brasil, em um local cujas dificuldades naturais e sociais eram constantes. Na região Sul, a
primeira Casa Familiar Rural nasceu em Barracão no Paraná,em 1986.
Em Santa Catarina, mais especificamente nasceu no Município de Quilombo praticamente
após a segunda metade dos anos 80. (Revista de Formação por Alternância, Vol. 2,p 73).
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O Plano de Formação organiza, planifica os temas levantados na Pesquisa
Participativa. As famílias com participação das entidades e com ajuda dos monitores
ordenam, e classificam os temas, representando assim o quadro pelo qual vão atuar os jovens,
monitores.
O Plano de Formação propõe para cada alternância um tema, que representa um
projeto de estudo no meio familiar, ou no meio profissional, que permita ao jovem levantar
os conhecimentos tradicionais e partir desses conhecimentos buscar o caráter científicos,
técnicos para explicar os fenômenos da vida. No Plano de Formação, elaborado pelas famílias
a partir da pesquisa participativa, estão inseridos outros importantes instrumentos da
Pedagogia da Alternância, tais como:

Plano de Estudo: é um instrumento que o jovem leva da Casa Familiar, para levantar os
elementos da vida do meio profissional durante a alternância na sua residência, permitindo o
diálogo com sua família. O Plano de Estudo permite que cada jovem a sua maneira informese, busque informações, através da pesquisa e da análise, também reflite e se expresse, pois
os temas são escolhidos pelos jovens, pais e as entidades envolvidas através da pesquisa
participativa. Juntos, os vários Planos de Estudo juntos formam o “Plano de Formação”, com
o objetivo de favorecer uma percepção global e curiosa dos problemas da vida, do dia a dia de
cada jovem e de sua família, sempre contando com a ajuda dos monitores para levantar,
como forma de expressar os fatos da vida e a vontade de refletir as soluções possíveis, para as
limitações existentes na sua realidade.

Colocação em Comum: É uma atividade chave no processo da formação, provoca e faz a
ligação entre o “Plano de Estudo” e a fase de aquisição de novos conhecimentos. A Colocação
em Comum consiste em agrupar todas as informações colhidas de cada jovem durante a
alternância com a ajuda do Plano de Estudo, onde provoca uma reflexão do grupo no primeiro
dia da semana, geralmente na segunda-feira, no início do encontro.

Visitas de Estudo: Durante a alternância, mais especificamente na quarta feira, é feita uma
Visita de Estudo em uma propriedade, empresa ou projeto da região e sempre ligado ao tema
abordado durante a semana. O objetivo consiste em realizar pesquisa conjunta sobre a
realidade de um produtor, projeto ou empresa, com relação ao Plano de Estudo que está sendo
vivenciado na semana de acordo com a realidade de sua propriedade.

Visitas às famílias: É feita justamente para constatar a realidade pela qual a família está
inserida e acompanhar o grau de evolução que o jovem e sua família alcançam ao longo da
700
trajetória na Casa Familiar Rural e também após o período que o mesmo deixa de estudar
nesta instituição educativa.

Atendimento personalizado: Normalmente ocorre logo que o jovem chega à Casa Familiar
Rural e consiste na primeira conversa individualizada, para sentir como foram as duas
semanas que o mesmo permaneceu na sua propriedade e também para conferir as tarefas
encaminhadas como tema, traçado pelo plano de estudo e o caderno da alternância.

Caderno da Realidade: Livro de vida do jovem, local onde registra suas pesquisas e todas as
atividades ligadas aos planos de estudo nos ciclos das alternâncias;

Cadernos Didáticos: É uma modalidade do livro didático elaborado para auxiliar
o
aprofundamento ao tema do plano de estudo;

Cadernos da Alternância: Um documento que registra o que é feito na Casa Familiar Rural e
no meio socioprofissional. É um instrumento de comunicação escrita e avaliação entre escolafamília e família-escola.

Projeto Profissional de vida do Jovem: É o momento em que o jovem apresenta seu projeto
profissional de vida, tanto na escrita, quanto na prática, com o apoio de monitores e
professores da Instituição, bem como de sua família;
Os princípios da Pedagogia da Alternância estão baseados em assegurar o
funcionamento de forma desburocratizada, barata e eficiente da aprendizagem do jovem e sua
família, que vivem no seu meio socioprofissional. O jovem não se afasta, durante a sua
permanência, das suas condições culturais e ambientais, do seu meio. O conhecimento
envolve necessariamente a família do jovem, desenvolvendo-se, sua integração social com a
comunidade e essa proposta visa formar duas gerações, procurando a melhor forma possível
de aplicar atividades direcionadas ao desenvolvimento local sustentável e solidário.
Muitas vezes, a lógica de formação da escola tradicional e/ou da modalidade regular,
amarrada pelo sistema, são desenvolvidos na lógica do sistema capitalista, ou seja uma
formação para um exército de mão de obra, para ser massa a ser manobrada, sem leitura de
mundo. Espaços e pessoas são incorporados ou excluídos na medida em que se fazem
necessários ou não ao capital, como é o caso da formação socioespacial e econômica dos
espaços pesquisados. Nesta perspectiva, necessita-se, portanto, de uma nova escola que
desenvolva no educando a formação para a vida, “produz conhecimento, cria habilidades e
forma sua consciência”. (CALDART, Roseli S. p. 101). Uma escola que “vincule a educação
às questões sociais inerentes à sua realidade”, do campo , e não a escola que reproduz as
701
atuais relações sociais de produção entre o capital e o trabalho e atende aos interesses
capitalistas. (FERNANDES, Bernardo Mançano. p. 53).
De certa forma, nestes espaços educativos, há uma resistência contra o sistema , para a
configuração dos territórios dos jovens e suas famílias e em suas comunidades, pautada em
relações não capitalistas. Para Saquet (2004, p.123), “o território” se constitui “como fruto do
processo e domínio de um espaço”, onde as “relações de poder econômico, político e cultural”
se articulam como num verdadeiro “campo de forças”. Desta maneira, as Casas Familiares
Rurais de Xaxim e Quilombo se tornam mecanismos de propagação tecnológica e ideológica
de resistência, visando os princípios do desenvolvimento sustentável.
Para Milton Santos (2003) o território apresenta-se cada vez mais rígido, isto é,
produzido para atender a uma determinada produção. Onde cada coisa tem o seu lugar: a
indústria, o rico, o pobre. Esse processo é fruto da composição técnica e orgânica do capital.
Para o autor toda a produção é técnica, mas ela é, sobretudo, socioeconômica. Porém para
Saquet (2004 p.123) os “territórios são produzidos espaço-temporalmente pelo exercício do
poder por determinado grupo ou classe social”.
Por isso, é importante fazer uma análise ampla em escala não somente local, mas
também buscar suporte na escala global e histórica para compreender o processo de formação
das Casas Familiares Rurais e consequentemente, as relações dialéticas daquele determinado
espaço.
A agricultura, no meio rural não é mais um espaço responsável exclusivamente pelo
fornecimento de produtos para a sobrevivência da humanidade, ela “é cada vez mais
transformada em simples ramo da indústria e é dominada completamente pelo capital” (Marx,
1936:18). Torna-se importante, portanto fazer uma análise ampla da forma pela qual a
educação no espaço rural vai se configurando, numa perspectiva de alienação ou libertação,
principalmente no que se refere às Casas Familiares Rurais.
A realização deste artigo, baseia-se no método dialético, afinal se trata de um espaço
de conflitos e transformações das realidades, como descreve SANTOS (2008 p. 98), “pela
tentativa de desvendar conflitos, a partir da análise histórica.
Dessa forma, a análise “e a incorporação dos dados contraditórios” [...] possibilitam o
uso [...] “de diferentes técnicas de investigação”, como a pesquisa de campo e as entrevistas
(Spósito, 2001 p. 102), na busca de compreender a história de vida , assim como a Pedagogia
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da Alternância, nas realidades de dois municípios do Oeste do estado de Santa CatarinaXaxim e Quilombo, os quais possuem Casa Familiar Rural.
Quando se inicia uma pesquisa, é traçada uma meta que vise atingir os
objetivos propostos, ou mesmo as hipóteses ou até mesmo as indagações que norteiam um
determinado tema.
Focaliza-se neste projeto de pesquisa aspectos relacionados à metodologia aplicada na
relação ensino aprendizagem, no interior das Casas Familiares Rurais, principalmente no que
se refere à Pedagogia da Alternância.
Entende-se que a educação atual , principalmente àquela que tem o objetivo de formar
grande quantidade de mão de obra para servir de massa de manobra, muitas vezes não é
libertadora, mas sim alienante, tornando o homem máquina do próprio homem.
Na busca de informações por meio dos questionários e conversas, com esta interação,
teremos a possibilidade de também debater ainda mais a realidade na qual os sujeitos estão
inseridos, com o objetivo de publicar o trabalho, oportunizando a expansão da pesquisa e o
debate sobre a Educação do/no Campo, para dar suporte de vivência, principalmente para
municípios de pequeno e médio porte.
Espera-se também que este trabalho possa estar sendo divulgado em diferentes meios
de comunicação, com o objetivo de divulgar esta pesquisa, servindo de base para debate em
diferentes esferas governamentais e instituições que pensam em educação do/no campo, para
garantir a permanência do jovem no meio rural, juntamente com sua família e acima de tudo
com qualidade de vida, numa perspectiva de desenvolvimento sustentável.
Outro aspecto relevante diz respeito a questão dos Instrumentos da Pedagogia da
Alternância, onde os mesmos devem ser explicitados com grande clareza, identificando sua
importância para a formação dos jovens, procurando melhorar as técnicas de aplicabilidade
destes instrumentos, principalmente os citados na pesquisa, com menor relevância na opinião
dos jovens egressos.
É muito interessante pensar num processo de formação continuada deste jovens e de
suas famílias, pois os mesmos sabem da sua potencialidade e gostariam de dar continuidade
aos seus estudos, no entanto, percebe-se que vão ficando mais velhos, essa vontade vai
diminuindo em virtude das responsabilidades que vão absorvendo, tanto no lado pessoal,
quanto no lado profissional.
703
A reflexão teórica permite conhecer um conjunto de contribuições que se destacaram
no campo da profissionalização e no desenvolvimento sustentável no meio rural, dos jovens
da Casa Familiar Rural de Xaxim e de Quilombo. A prática dessa pedagogia não fica restrita
ao espaço da escola, mas abrange o ambiente familiar, comunitário e institucional, de forma
integral.
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1 Luiz Paulo Monteiro. INTRODUÇÃO Entende