AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RESERVATÓRIO DA UHE LUIZ
EDUARDO MAGALHÃES, DETERMINANDO O GRAU DE INFLUENCIA DAS ETES
DE PALMAS NESTE MEIO.
VII – Naval – Brasil – 5
Liliana Pena Naval *
Doutorada pela Universidad Complutense de Madrid em Engenharia Química, Professora Titular do Curso de
Engenharia Ambiental da Fundação Universidade Federal do Tocantins – Palmas – TO.
Tatiane Gomes Brito
Acadêmico do curso de Engenharia Ambiental da Fundação Universidade Federal do Tocantins, bolsista
PIBIC/CNPq.
Endereço(*): 1006 Sul Al. 19, nº 43 Palmas – TO. CEP: 77.000-000 - Brasil - Tel: (63) 218-8018
E-mail: [email protected]
RESUMO
A presente pesquisa visa avaliar a qualidade da água do reservatório da UHE Luís Eduardo Magalhães,
Tocantins – Brasil, evidenciando a influência da descarga de efluentes das Estações de Tratamento de Esgotos
(ETEs) da cidade de Palmas em alguns de seus tributários, determinando parâmetros indicadores de poluição
ambiental, para averiguar se ha ocorrência ou não de alterações significativas da qualidade hídrica em conseqüência
dessas descargas. A metodologia empregada consistiu na determinação das concentrações de Nitrogênio Amoniacal,
Nitrito, Nitrato e Fosfato presentes na água do reservatório. Os resultados obtidos indicam altos valores nas
concentrações de Nitrogênio Amoniacal e Fosfato em todos os pontos analisados, apresentando-se sensivelmente
mais altas nos pontos relacionados aos tributários que são receptores dos efluentes das ETEs. Essa pequena diferença
demonstra que as ETES não são as principais contribuidoras de cargas poluidores para o reservatório, sendo que essa
condição e bastante influenciada pela liberação desses nutrientes no processo de decomposição da massa vegetal
inundada, pelo uso e ocupação do solo da microbacia do reservatório e pela contribuição do efluente principal.
PALAVRAS CHAVE: Reservatório, Monitoramento, Qualidade de Água e Efluentes domésticos.
INTRODUÇÃO
O reservatório da UHE Luis Eduardo Magalhães foi formado através do barramento do rio Tocantins, próximo ao
município de Lajeado, possuindo 176 km de extensão e uma profundidade em media de 3m. Abrange três cidades,
tendo juntas uma população media de aproximadamente 200.000 habitantes, além de chácaras e fazendas em sua
bacia hidrográfica. A barragem foi construída para a geração de energia elétrica, e foi concluída em 2002.
O aumento demográfico e o desenvolvimento econômico dessas cidades que margeiam o reservatório, tem gerado
uma pressão crescente nesse sistema, podendo ter como conseqüência impactos negativos ao corpo hídrico,
principalmente devido ao lançamento de efluentes das quatro (04) estações de tratamento de esgoto da cidade de
Palmas. Estas estações de tratamento não possuem a fase terciária do tratamento, na qual ocorre a remoção de
nitrogênio e fósforo. Sendo assim, há uma constante entrada desses nutrientes no reservatório podendo provocar e
acelerar os processos de eutrofização.
Além das ETES, existem outras fontes pontuais de poluição do reservatório, como os esgotos clandestinos lançados
in natura em seus tributários. Há ainda o carreamento do solo, sais nutrientes e outros insumos usados nas atividades
agro-pastoris de sua bacia hidrográfica, constituindo fontes difusas de poluição.
A eutrofização de lagos é geralmente associada ao enriquecimento da água em nutrientes favorecendo o
crescimento de algas macrófitas. A proliferação excessiva de algas pode ainda ser estimulada pelo calor, sendo o
fenômeno da eutrofização mais freqüente em lagos tropicais. Este fenômeno é responsável pela redução potencial da
qualidade da água para seus múltiplos usos.
Além da atividade principal que é geração de energia, o reservatório em questão tem sido utilizado também para
outras finalidades, como navegação, recreação, turismo, corpo receptor de dejetos domésticos, pesca e pequenas
irrigações. A proliferação excessiva de algas seria bastante negativa a qualquer uma dessas atividades, além de ser
potencialmente prejudicial a vida aquática e aos seres humanos devido as toxinas expelidas.
Neste sentido, quanto mais se intensificam os usos do reservatório e de sua bacia hidrográfica, mais importante se
torna à realização sistemática de monitoramento que permitam avaliar e caracterizar a qualidade das águas, de modo
a garantir um padrão aceitável para sua utilização, orientando o gerenciamento e manejo desse sistema.
Sendo assim, esse trabalho tem como objetivo avaliar a evolução da qualidade da água do reservatório da UHE Luiz
Eduardo Magalhães, bem como determinar o grau de influencia das ETES de Palmas neste meio.
METODOLOGIA
Para o desenvolvimento deste trabalho foram realizadas coletas mensais no reservatório da UHE Luis Eduardo
Magalhães no período de 01 (um) ano (Abril de 2002 a Março de 2003), abrangendo as estações seca (abril a
setembro) e chuvosa (outubro a março). Foram considerados 07 (sete) pontos de coleta: P1, P2, P3, P4, P5, P6, e
P7, sendo que os pontos P2, P3, P5 e P6 correspondem aos tributários receptores dos efluentes das ETEs, e os demais
pontos correspondem à montante do reservatório (P1), ponto próximo ao lançamento de águas pluviais (P4) e ponto
próximo à barragem da usina (P7), como é descrito na tabela 01.
TABELA 01 – Localizacao Geografica dos pontos de coleta
Ponto Área de Referência
Coordenadas Geográficas
P1
P2
P3
P4
P5
P6
P7
Longitude
Município de Ipueiras, sendo este o o inicio da -48 27' 41,16744''
área de influencia do reservatório.
Confluência Rib. Taquarussu, Cor. Machado e -48 19' 31,89357''
Reservatório
Desembocadura Córrego Prata
-48 22' 22,90041''
Aterro da Ponte/Praia Graciosa
-48 22' 02,42048''
Desembocadura Cór. Brejo Cumprido
-48 21' 46,33929''
Desembocadura Cór. Água Fria
-48 21' 40,98547''
A 10 km de Lajeado
-48 19' 30,74227''
Latitude
-11 14' 50,97328''
-10 17' 16,76596''
-10 13' 23,03805''
-10 10' 59,55597''
-10 10' 02,42806''
-10 09' 17,17420''
-09 52' 26,49683''
As analises físico-químicas realizadas foram executadas seguindo os padrões exibidos na Tabela 01, e os resultados
apresentados correspondem á média das diversas coletas.
TABELA 02: Parâmetros Físico-químicos analisados e técnicas adotadas.
PARAMETRO
TECNICA
Nitrogenio Amoniacal
Espectrof. Visível
Nitrito
Espectrof. Visível
Nitrato
Espectrof. Visível
Fosfato
Espectrof. Visível
REFERENCIA
APHA (1998)
APHA (1998)
APHA (1998)
APHA (1998)
RESULTADOS
As resultados relativos as concentrações de Nitrogênio Amoniacal, Nitrito, Nitrato e Fosfato encontram-se,
respectivamente, nas Figuras 1, 2, 3 e 4.
0,5
NH3
0,4
0,3
(mg/L)
0,2
0,1
0
1
2
3
4
5
Pontos de coleta
Chuvoso
6
7
Seco
FIGURA 01- Comportamento do N. Amoniacal (N-NH3)
0,03
Nitrito (m g/l)
0,025
0,02
0,015
0,01
0,005
0
1
2
3
4
5
Pontos de coleta
Chuvoso
Seco
FIGURA 02 - Comportamento do Nitrito (NO2)
6
7
1,2
Nitrato (m g/l)
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
1
2
3
4
5
Pontos de coleta
Chuvoso
6
7
6
7
Seco
Fosfato (m g/l)
FIGURA 03 - Comportamento do Nitrato (NO3).
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
1
2
3
4
5
Pontos de coleta
Chuvoso
Seco
FIGURA 4 Comportamento do Fosfato (PO4)
Observa-se que em todos os pontos analisados, com exceção dos valores de nitrito e nitrato, as concentrações dos
nutrientes se apresentam acima do que é preconizado pela Resolução CONAMA 020/86, que limita, para águas de
classe 2, os valores de 0.002 mg/l para Nitrogênio Amoniacal e 0,0025 para Fosfato.
Observa-se na Figura 01 que as concentrações de Nitrogênio Amoniacal se comportaram de forma semelhante nas
estações seca e chuvosa, não havendo diferenças significativas entre as duas estações. Nota-se um pico no ponto 6,
o que pode ser explicado pelo fato de que este ponto corresponde ao lançamento da ETE Vila União, que opera com
Reator Anaeróbico de Fluxo Ascendente (RAFA) seguido por lagoa facultativa. Esses sistema gera efluente apenas
na estação chuvosa, o que explica o aumento das concentrações desse elemento no referido ponto.
Observa-se na figura 4, que as concentrações de Fosfato dos diferentes pontos se comportaram de maneira
semelhante na estação seca, não ocorrendo grandes variações, sendo que os valores variam entre 0,2 e 0,48 mg/L. As
concentrações nos pontos que são influenciados pelo lançamento da ETEs (2,3,5 e 6) se mantiveram estáveis em sua
maioria. No entanto, o ponto 5 apresentou concentração mais elevada, o que pode ser explicado pelo fato de que
esse ponto corresponde a confluência entre o manancial receptor do efluente da ETE Brejo Cumprido e o
reservatório, que opera com sistema anaeróbio (Reator UASB), sendo classicamente não eficiente na remoção de
nutrientes. Quanto ao período chuvoso (novembro a fevereiro), houve maior variação das concentrações de Fosfato,
observando-se picos nos pontos relacionados as ETES. Isso pode ser explicado pelo aumento das vazões das
estações de tratamento, reduzindo a eficiência das mesmas, e pela interferência do escoamento superficial que
lixívia o fósforo da camada superior do solo para os cursos d’água.
A presença de Nitrogênio Amoniacal em excesso representa prejuízos à saúde humana e é tóxica aos peixes. Já as
elevadas concentrações de Fósforo aceleram o crescimento e multiplicação das algas em lagos tropicais, fenômeno
que é responsável pela eutrofização.
CONCLUSÃO
De acordo com os resultados obtidos, constatou-se que em todos os pontos, inclusive os que não possuem relação
direta com as ETEs, as concentrações de amônia e fosfato se encontraram acima dos limites aceitáveis, o que
significa dizer que as ETEs não são as maiores contribuidoras desses nutrientes para o reservatório. Possivelmente,
as altas concentrações são oriundas da massa vegetal afogada, que libera amônia e fósforo em sua decomposição
anaeróbia; do uso e ocupação inadequada do solo da bacia do reservatório e da contribuição de seu principal afluente,
o rio Tocantins, que chega ao reservatório trazendo uma grande carga de nutrientes, provavelmente pela influência
do reservatório de FURNAS, situado a montante, como pode ser observado no ponto 1.
Os altos valores de Fosfato indicam que possivelmente o reservatório esteja sofrendo processo de eutrofização,
principalmente nas regiões dos tributários receptores de efluentes que tiveram suas margens alagadas, formando
remansos que dificultam sua autodepuração.
Visto que a situação trófica do reservatório é preocupante, sugere-se que se aplique medidas preventivas para tentar
diminuir o aporte de nutrientes, principalmente o fósforo, visando o controle do processo de eutrofização. Propõe-se
o tratamento dos esgotos a nível terciário, controle do uso e ocupação do solo na bacia, aumento da capacidade de
tratamento das ETEs, além do gerenciamento adequado do reservatório em estudo e dos demais reservatórios que se
encontram a sua montante, sendo que essas medidas devem ser sempre associadas à programas de monitoramento e
programas de educação ambiental dos usuários dos recursos naturais envolvidos.
Em relação à variação sazonal apresentada, salienta-se que, além do fator temperatura, a pluviosidade é um fator
importante no comportamento dos elementos estudados.
BIBLIOGRAFIA
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APHA, 1998;
CETESB. Guia de Coleta e Preservação de Amostras de Água. 1 ed. São Paulo: CETESB, 1987.
ESTEVES, F. A. Fundamentos da Limnologia. Rio de Janeiro - PINEP, 1988.
IVESTICO S/A. (2001). Energia que vem das águas. Usina Hidrelétrica Luis Eduardo Magalhães –
Lajeado.TO. Boletim de divulgação.
SALAS, H.; MARTINO, P. Metodologías simplificadas para la evaluación de eutroficación de lagos cálidos
tropicales. Programa Regional CEPIS/HEP/OPS 1981-1990. Lima, CEPIS, Segunda edição 1996.
TUNDISI, J. G. Planejamento e Gerenciamento de Lagos e Reservatórios: Uma Aberdagem Itegrada ao
Problema da Eutrofização. São Carlos: UNEP-IET, 2001. p. 385.
TUNDISI, J., G STRASKRABA. M. Gerenciamento da qualidade da água de represas. v.9. 280p. In: TUNDISI,
J. G et al. Diretrizes para o gerenciamento de lagos. São Carlos: ILEC; IEE, 2000.
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