X Reunião Sul-Brasileira
de Ciência do Solo
Fatos e Mitos em Ciência do Solo
Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014
Núcleo Regional Sul
Efeito do tráfego de trator nas propriedades físicas de um Latossolo Vermelho
com diferentes manejos
Carlos Augusto Bonini Pires(1); Vanderlei Rodrigues da Silva(2); Valéria Testa(3); Lucas
Roberto Perin(3); Patrícia Pretto Pessotto(4); Luciano Campos Cancian(4)
(1)Acadêmico
do Curso de Agronomia, Universidade Federal de Santa Maria, campus de Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul,
Linha 7 de Setembro, s/n - BR 386 Km 40, 98400-000, E-mail: [email protected]; (2)Professor Orientador,
Universidade Federal de Santa Maria, campus de Frederico Westphalen; (3)Acadêmico(a) do Curso de Agronomia, Universidade
Federal de Santa Maria, campus de Frederico Westphalen; 4Mestrando(a) do Programa de Pós-Graduação em Agronomia,
Agricultura e Ambiente, Universidade Federal de Santa Maria, campus de Frederico Westphalen.
RESUMO– Em algumas áreas, quando as condições de
condução do sistema plantio direto é inadequada, pode
haver incremento do estado de compactação. O objetivo
do trabalho é avaliar o efeito do tráfego do trator com
diferentes rodados, simples e duplo, nas propriedades
físicas de um Latossolo Vermelho Distrófico sob
diferentes tipos de uso e manejo. Os resultados mostraram
que o tráfego agrícola tanto com rodado simples como
com rodado duplo, reduziu a macroporosidade. A
utilização de rodado duplo preveniu a compactação de
solos agrícolas e a utilização de tratores com rodado
simples provoca maior redução de porosidade no solo.
Palavras-chave: Compactação, sistema plantio direto,
escarificação.
INTRODUÇÃO- O sistema plantio direto (SPD)
impulsionou as práticas de conservação do solo e da água
em lavouras cultivadas, baseando-se na manutenção do
material vegetal, na superfície e no mínimo revolvimento
do solo. O SPD reduz o escoamento superficial da água e
proporciona elevadas produtividades com menor impacto
ambiental (Silva & De Maria, 2011). Entretanto, neste
sistema de manejo, o trafego desregulado de máquinas
tem ocasionado zonas subsuperficiais mais compactadas
devido ao aumento da densidade do solo. Esta realidade
tem levado alguns produtores a adotarem o revolvimento
do solo como manejo para reduzir este processo
decorrente (Girardello et al. 2011).
O SPD proporciona um acúmulo de matéria orgânica
no solo. A matéria orgânica do solo altera de forma
indireta
o
índice
de
compressão,
variando,
principalmente, com a textura e a densidade do solo
(Braida et al. 2010). A partir disso, é possível inferir que o
manejo adotado no solo, é fundamental para assegurar as
melhores condições físicas possíveis para o
desenvolvimento de plantas.
Em algumas áreas, quando as condições de condução
do sistema plantio direto é inadequada, pode haver
incremento do estado de compactação, que é o resultado
do tempo e intensidade em que o solo é submetido a uma
carga. Isto está relacionado com o manejo do solo,
intensidade do tráfego e ao peso das máquinas e
implementos agrícolas, como não existe revolvimento do
solo, o acumulo destas cargas vai agravando a
compactação que pode estar distribuída em diferentes
pontos e profundidades.
Neste cenário, devido ao agravamento da
compactação, a intervenção mecânica vem sendo utilizada
como forma de combater o problema da compactação,
utilizando equipamentos que agem sobre as camadas
compactadas rompendo-as e assim aumentam a
porosidade do solo, porém, esta prática nem sempre tem
efeito duradouro, pois se o trafego continuar sendo
realizado em condições inadequadas o solo volta a
apresentar um estado de compactação elevado,
prejudicando o crescimento e desenvolvimento das
culturas.
A hipótese deste trabalho é que a utilização de rodado
duplo em tratores agrícolas são capazes de reduzir os
efeitos da compactação para níveis abaixo dos
considerados como críticos. Desta forma, o objetivo do
trabalho é avaliar o efeito do tráfego do trator com
diferentes rodados, simples e duplo, nas propriedades
físicas do solo e nos diferentes tipos de uso e manejo do
mesmo.
MATERIAL E MÉTODOS- O trabalho foi realizado no
município de Santo Antônio do Planalto – RS, no planalto
médio riograndense sob uma altitude de 516 m. O solo do
local é classificado como Latossolo Vermelho Distrófico
(SANTOS et al., 2013), com textura argilosa. O clima
dessa região, segundo a classificação de Koppen (1948), é
subtropical úmido, tipo Cfa.
O tráfego foi simulado com trator da marca Valtra
modelo BM 110 4x4, com massa de 5,31 Mg, equipado
com rodado duplo traseiro. Os pneus traseiros apresentam
a dimensão 13.6-38R e os dianteiros 12.4-24R e pressão
de inflação de 30 lbs pol-2. Os tratamentos consistiram em
passadas únicas com um trator agrícola, inicialmente com
rodado simples (RS) e posteriormente com rodado duplo
(RD) ao lado e manteve-se uma área sem tráfego (ST),
nos diferentes sistemas de manejo: i) sistema plantio
direto continuo (SPD); ii) sistema plantio direto
escarificado a um ano (SPD+E); iii) sistema plantio direto
escarificado recente (SPD+ER). Para a escarificação foi
utilizado um subsolador com 7 hastes espaçadas a 0,30 m
entre si, com ação média de 0,30 m de profundidade. Para
o SPD o rodado traseiro simples apresentou área de
X Reunião Sul-Brasileira
de Ciência do Solo
Fatos e Mitos em Ciência do Solo
Núcleo Regional Sul
Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014
contato com o solo de 1.450 cm2, e o duplo 2.787 cm2, no
SPD+E o rodado simples apresentou1.300 cm2 e o duplo
3.086 cm2, no SPD+ER o simples teve 1.438 cm2 e o
duplo 2.648 cm2 .
Foram coletadas amostras indeformadas, utilizando
anéis metálicos de 5 cm de altura e 5 cm de diâmetro,
coletados em 3 profundidades: 0,00-0,05 m; 0,05-0,10 m
e 0,10-0,15 m, sendo coletados no centro do rastro do
pneu e também onde não foi trafegado com o trator (ST).
Em laboratório as amostras foram preparadas e
saturadas por capilaridade e a umidade foi equilibrada em
mesa de tensão ao potencial mátrico de -6 kPa. Essas
amostras foram submetidas a ensaios de compressão
uniaxial, utilizando o sistema de consolidação
automatizado, sendo elas submetidas a nove pressões, 25,
50, 100, 200, 400, 800 e 1.600 kPa, até que 90% da
deformação máxima fosse alcançada (SILVA et al.,
2007). O índice de compressão (Cc) foi obtido por meio
do software Compress (Reinert et al., 2003). Ao término
dos ensaios de compressibilidade as amostras foram
levadas a estufa a 105°C até peso constante (EMBRAPA,
1997).
As médias foram submetidas à análise da variância
pelo teste F (p<0,05). Quando significativos as médias
foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade de erro.
RESULTADOS E DISCUSSÃOMacroporosidade
A tabela 1 apresenta os valores de macroporosidade
do solo (Macro). Como não houve interação tripla e nem
dupla entre sistemas de uso do solo, tráfego agrícola e
profundidade, são apresentados as diferenças de efeitos
simples, onde percebe-se que o tráfego agrícola foi capaz
de reduzir a macroporosidade do solo, sendo este
processo agravado quando realizado tráfego com RS ao
invés de RD. Severiano et al. (2010) ao estudarem a
compactação de solos, destacaram que a redução da
macroporosidade a valores inferiores a 0,10 m³ m-³ causa
condições desfavoráveis á obtenção de produtividades
satisfatórias, comprometendo a qualidade estrutural do
solo.
Quanto aos sistemas de uso percebe-se redução da
macroporosidade em função da escarificação, que pode
ser explicado pelo fato de o solo permanecer descoberto
por um certo período de tempo.
Foi observado também um decréscimo da Macro em
profundidade, corroborando com Mazurana et al. (2013),
que ao avaliar a porosidade do solo após o trafego
agrícola, encontrou tendência de redução da
macroporosidade em profundidade.
Índice de compressão
É possível verificar que na profundidade de 0,00-0,05
m o tráfego agrícola com RS foi capaz de reduzir o Cc
para os sistemas de escarificação do solo. Estes
resultados, porém, não são observados para o SPD.
Na profundidade de 0,05-0,10 m, observa-se no ST os
maiores Cc em todos os sistemas de uso do solo quando
comparado a RS e RD, com exceção para SPD+ER. Estes
resultados demostram que o tráfego agrícola é capaz de
reduzir o Cc em profundidade, sendo que seu efeito pode
ser modificado quando o solo for escarificado
recentemente como mostra a tabela 2. Estes resultados
corroboram com Assis & Lanças (2005) constatando que
os efeitos do revolvimento do solo, podem ser eliminados
em função do tráfego ou até mesmo devido a resiliência
do solo ele pode voltar a uma condição estrutural inicial.
A profundidade de 0,10 – 0,15 m, apresentou valores
semelhantes aos encontrados na profundidade de 0,05 –
0,10 m percebendo-se maior susceptibilidade a
compactação do solo quando não trafegado e quando
escarificado recentemente.
Quando avaliadas as profundidades tem-se uma
tendência de decréscimo do Cc em profundidades abaixo
de 0,00 – 0,05 m para SPD e sobre tráfego com RS. Estes
resultados foram pronunciados também para RD em SPD.
O tráfego agrícola com RD e RS para os sistemas de
escarificação do solo não apresentaram diferenças entre
profundidades. No SPD os menores Cc foram observados
nas profundidades abaixo de 0,00 – 0,05 m, corroborando
com dados encontrados por Debiasi et al. (2008), devendo
estes valores, a maior densidade nesta região do solo
causada por pressões externas, dado este que pode ser
comprovado pelo ST no SPD (tabela 2), onde não
percebe-se diferenças entre profundidades para o Cc.
CONCLUSÕES– O tráfego agrícola com rodado
simples, bem como, com rodado duplo, reduz a
macroporosidade.
A utilização de rodado duplo previne a compactação
de solos agrícolas.
A utilização de tratores com rodado simples provoca
maior redução de porosidade no solo.
REFERÊNCIAS
ASSIS, R. L. DE; LANÇAS, K. P. Avaliação dos atributos
físicos de um Nitossolo Vermelho distroférrico sob sistema
plantio direto, preparo convencional e mata nativa. Revista
Brasileira de Ciência do Solo, v. 29, p. 515-522, 2005.
BRAIDA, J. A.; REICHERT, J. M.; REINERT, D. &VEIGA,
M. DA. Teor de carbono orgânico e a susceptibilidade à
compactação de um Nitossolo e um Argissolo. Revista
Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental v.14, n.2, p.131–
139, 2010.
DEBIASI, H.; LEVIEN, R.; TREIN, C. R.; CONTE, O.;
MAZURANA, M. Capacidade de suporte e compressibilidade
de um argissolo, influenciadas pelo tráfego e por plantas de
cobertura de inverno. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.
32, p. 2629-2637, 2008.
EMBRAPA - EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA
AGROPECUÁRIA, Centro Nacional de Pesquisa de Solos.
Manual de Métodos de Análise de Solo. 2ª edição. Rio de
Janeiro: Embrapa solos, 1997.
2
X Reunião Sul-Brasileira
de Ciência do Solo
Fatos e Mitos em Ciência do Solo
Núcleo Regional Sul
Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014
GIRARDELLO, V. C.; AMADO, T. J. C.; NICOLOSO, R. DA
S.; HÖRBE,T. DE A. N.; FERREIRA, A. DE O.; TABALDI, F.
M. & LANZANOVA, M. E. Alterações nos atributos físicos de
um Latossolo Vermelho sob plantio direto induzidas por
diferentes tipos de escarificadores e o rendimento da soja.
Revista Brasileira de Ciência do Solo 35:2115-2126, 2011.
MAZURANA, M.; FINK, J. R.; SILVEIRA, V. H. da,;LEVIEN,
R.; ZULPO, L.; BREZOLIN, D. Propriedades físicas do solo e
crescimento de raízes de milho em um Argissolo Vermelho sob
tráfego controlado de máquinas. Revista Brasileira de Ciência
do Solo, v. 37, p. 1185-1195, 2013.
REINERT, D.J.; ROBAINA, A.; REICHERT, J. M. Compress –
software e proposta de modelo para descrever a
compressibilidade de solos e seus parâmetros. In: Congresso
Brasileiro De Ciência Do Solo, 29, 2003, Ribeirão Preto, SP.
Anais… Ribeirão Preto: SBCS, 2003. CD-ROOM.
SANTOS, H.G. Sistema brasileiro de classificação de solos. 3.
ed. Rio de Janeiro, Embrapa Solos, 2013. 353 p.
SEVERIANO, E. da C.; OLIVEIRA, G. C. de,; DIAS JÚNIOR,
M. de S.; CASTRO, M. B. de,; OLIVEIRA, L. F. C. de,;
COSTA, K. A. de P. Compactação de solos cultivados com
cana-de-açúcar: II quantificação das restrições às funções
edáficas do solo em decorrência da compactação prejudicial.
Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v. 30, n. 3, p. 414-423,
maio/jun. 2010.
SILVA, R. B.; LANÇAS, K. P.; MASQUETTO, R. J.
Consolidometro: Equipamento pneumático-eletronico para
avaliação do estado de consolidação do solo. Revista Brasileira
de Ciência do Solo, v. 31, p. 617-615, 2007.
SILVA, R. L. E & DE MARIA, I. C. Erosão em sistema plantio
direto: Influência do comprimento de rampa e da direção de
semeadura. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e
Ambiental v.15, n.6, p.554–561, 2011
Tabela 1. Valores médios de macroporosidade em função do sistema de uso do solo, trafego agrícola e profundidade.
Santo Antônio do Planalto, RS. 2013.
....................Macro (m³ m-³)...................
Sistema de uso do solo
¹SPD
SPD+E
SPD+ER
0,14 A
0,11 B
0,08 B
Trafego agrícola
RD
RS
ST
0,10 B
0,07 C
0,16 A
Profundidade (m)
0,0-0,5
0,5-0,10
0,10-0,15
0,14 A
0,11 B
0,09 B
Médias seguidas da mesma letra não diferem (1) SPD: sistema plantio direto; SPD+E: sistema plantio direto escarificado; SPD+ER: sistema plantio
direto escarificado recentemente; RD: tráfego com rodado duplo; RS: tráfego com rodado simples; ST: sem tráfego.
Tabela 2. Índice de compressão (Cc) do solo para os diferentes sistemas de uso em função do tráfego agrícola em três
profundidades. Santo Antônio do Planalto, RS. 2013.
ST
RD
RS
-------------------0,00-0,05------------------SPD
SPD+E
0,23Baα
0,21Baβ
0,25Aaα
0,18Baα
0,25Aaα
0,15Baα
SPD+ER
0,42Aaα
0,27Abα
-------------------0,05-0,10-------------------
0,20ABcα
SPD
SPD+E
0,21Aaα
0,24Aaαβ
0,12Bbβ
0,13Bbα
0,13Bbβ
0,14ABbα
SPD+ER
0,26Aaβ
0,24Aaα
0,20Aaα
SPD
0,19Baα
-------------------0,10-0,15------------------0,10Bbβ
0,14ABabβ
SPD+E
0,30Aaα
0,14Bbα
0,10Bbα
SPD+ER
0,21Baβ
0,26Aaα
0,19Abα
Médias seguidas de mesma letra maiúscula na coluna, minúscula na linha e grega entre profundidades não diferem entre
si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. SPD: sistema plantio direto; SPD+E: sistema plantio direto escarificado;
SPD+ER: sistema plantio direto escarificado recente. RD: tráfego com rodado duplo; RS: tráfego com rodado simples;
ST: sem tráfego.
3
Download

arquivo do resumo extendido