ENTREVISTA
Cristina Ministerio é jornalista (Belo
Horizonte – MG).
Consultora em etiqueta profissional e marketing pessoal fala
sobre a importância da prática de
boas maneiras no ambiente escolar, como fator de sucesso pessoal e profissional.
Tudo o que Maria Aparecida
Araújo ensina nos cursos que
ministra sobre etiqueta profissional
e marketing pessoal a empresários,
empreendedores, educadores e jovens
que iniciam sua vida profissional,
ela já viveu. “Comecei a carreira na
aviação, onde aprendi a tratar com
pessoas de todos os tipos e todas as
procedências. A aviação foi uma
grande escola!” Daí foi um passo para
uma grande empresa paulista, sempre
atendendo um público diferenciado.
Nascida
em
Belo
Horizonte,
formada em Letras, residindo no
Rio de Janeiro desde 1978, ela é
escritora, palestrante e consultora
de comportamento profissional,
social e internacional, de cerimonial
e protocolo e de marketing pessoal.
“Costumo dizer que o comportamento,
as atitudes das pessoas e o respeito
que se aprende a ter pelo próximo
interessam a todas as empresas, de
todos os tamanhos e segmentos da
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Maria Aparecida Araújo: 30 anos de experiência garantem que
precisamos saber regras de etiqueta
economia”, diz Maria Aparecida. À
revista AMAE Educando, ela falou
com exclusividade, quando esteve em
Belo Horizonte para ministrar mais
um curso, pela Etiqueta Empresarial
Executive Manners Consulting,
dizendo que é com alegria que ela se
dirige aos educadores, público que
conhece bem, porque também aos
estabelecimentos de ensino ela leva
seus conhecimentos, afinal, gentileza
faz diferença, inclusive nas escolas.
AMAE Educando – Qual é a
melhor definição para etiqueta profissional?
Maria Aparecida Araújo –
Etiqueta profissional é a maneira com
que devemos tratar as outras pessoas
no nosso ambiente de trabalho. É tratar bem, ser agradável, atuar de acordo com as regras que a nossa sociedade consagrou, sempre privilegiando o
bom-senso e o bom gosto nas atitudes,
com o único objetivo de sermos agradáveis aos outros.
AE – Com esse tipo de postura, é mais fácil alcançar o sucesso
profissional?
MA –Sim. As várias pesquisas
que vêm sendo feitas, nesse sentido,
Cláudio Pelizzari
CONSAGRAÇÃO DAS
BOAS MANEIRAS
AE – Então, não adianta o
professor fazer muitos cursos de capacitação e se esquecer da sua postura pessoal...
MA – Não adianta ter conteúdo, ter uma sapiência consolidada, se
ele não souber lidar com as pessoas.
Muitas vezes, deparo-me com jovens
alunos que estão prestes a entrar no
mundo empresarial. Eles fazem os
meus cursos e dizem que eu precisava ensinar essas regras também para
os seus professores, porque eles não
sabem. Então, o respeito pelo outro e
a escolha de atitudes corretas devem
começar lá, muito atrás, nos primeiros
anos escolares. Eu digo sempre que o
educador, o médico, o assistente social são profissões bastante empáticas.
Se eles não souberem lidar com gente,
serão um fracasso total.
AE – O que você considera
essencial que o professor saiba para
lidar bem com as pessoas?
MA – No caso das empresas,
sempre digo que, fundamentalmente,
nós temos quatro clientes a atender
com excelência: os clientes externos, os internos (que são os colegas
de trabalho), os clientes-vida (que são
os amigos, os parentes, aqueles com
quem convivemos intimamente) e o
cliente eu-mesmo, porque nós também temos de saber nos tratar, para
que possamos tratar os outros. No
caso do professor, ele não pode esquecer nunca que, quando chegar ao seu
ambiente de trabalho, estará lidando
com os clientes internos, que são os
seus colegas, em todos os níveis, horizontal e vertical, dele para cima e dele
para baixo. Ele deve encantar a todos
com seu comportamento. Nós ensinamos que o comportamento é uma
escolha, que uma pessoa pode fazer
a melhor escolha que puder para ser
agradável aos outros, em todos os momentos de interação, e que não existe
nenhum momento menos importante.
“Da mesma maneira
que os pais, os
professores podem
ser um modelo de
boas maneiras para
seus alunos, modelo
positivo ou negativo.
Maria Aparecida Araújo
“
de alguns anos para cá, concordam
num ponto: as pessoas fracassam e
perdem oportunidades não pela falta de competência técnica, mas, sim,
porque não sabem lidar com as pessoas. Então, a competência técnica acaba sendo inócua, ela de nada adianta,
se não soubermos lidar com as pessoas. Ninguém trabalha sozinho. Precisamos dos outros e, onde houver pessoas, elas vão querer ser respeitadas e
valorizadas.
AE – E o que você diz sobre
aquela pessoa que escolhe ser desagradável?
MA – Geralmente, é aquela
que não gosta do cliente eu-mesmo.
Pesquisas concluíram que os grandes
conflitos da humanidade, desde que o
mundo é mundo, foram provocados
por pessoas que, pela sua história,
demonstraram que não se gostavam.
Quando a pessoa não gosta de si mesma, também não gosta dos outros. Ela
é um poço de problemas, porque os
problemas começam nela e vão sendo
repassados às outras pessoas, por ela
mesma, que começa a implicar, a fazer críticas mal colocadas, etc. Essas
são atitudes que podem ser trabalhadas: como fazer uma crítica construtiva, como respeitar o tempo do outro.
São instâncias nas quais podemos escolher que atitudes queremos ter.
AE – O que precisamos saber
sobre marketing pessoal?
MA –Normalmente, nos sentimos atraídos pela embalagem de um
produto que está na vitrine. Um educador que vai se mostrar para uma
plateia também deverá cuidar da aparência, porque a imagem constitui-se
da aparência e do comportamento e
o marketing pessoal é a maneira com
que nos “vendemos” para o nosso público-alvo. O professor tem de buscar
uma imagem que seja sua aliada, que
tenha a ver com o seu universo, que
esteja de acordo com o seu público.
Se ele busca ter uma mensagem palatável àquele grupo, deve, portanto,
se aproximar dele, mesmo que, na sua
aparência, precise abrir mão de algum
gosto pessoal. Entretanto, não adianta ele estar vestido de acordo com o
grupo e ter um comportamento inadequado, com uma linguagem, por
exemplo, discriminatória ou um discurso que não tem nada a ver com seu
público-alvo. A aparência e o comportamento devem caminhar juntos,
passo a passo.
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AE – Para um ambiente tão
heterogêneo como o escolar, que
tipo de conduta é mais difícil de seguir?
MA – O professor deve sempre
se lembrar de quatro coisas importantíssimas, não importa se a turma é heterogênea ou não. Primeira: levantar a
autoestima das pessoas, fazer o outro
gostar de si mesmo, elogiar o que o
aluno fez de positivo. Em um trabalho escolar, antes que se apontem os
erros, é possível encontrar algum aspecto que mereça elogios. Segunda:
reconhecer sempre o que as pessoas
têm de valor, reconhecer a sua qualidade, porque todas querem se sentir
importantes, valorizadas, aprovadas.
Isso é possível por meio de ações
simples, como a maneira de conversar, de sorrir, de olhar, de responder
com uma entonação de voz mais carinhosa. Terceira: interessar-se pelos
alunos, porque as pessoas, hoje, estão mais interessadas em si mesmas
do que nas outras. É preciso sentar
com os alunos, bater papo, interessar-se pelas coisas deles, trazê-los para
mais perto. Quarta: aceitar as pessoas
como elas são, porque todas querem
ser aceitas. Aceitação tem a ver com
defeitos, então, uma pessoa que critica pouco e elogia muito tem grandes
chances de construir relações melhores, porque ninguém gosta de ver um
dedo apontado o tempo todo para si.
De todas essas coisas, o mais difícil
é pensar primeiro no outro antes de
pensar em si mesmo, porque temos
uma tendência de pensar primeiro nas
nossas conveniências, no nosso bemestar, na nossa maneira de colocar as
coisas.
AE – Então, uma conduta
desejável é a de pensar nos alunos...
MA – Sim, afinal o alvo dos
professores é a turma. Costumo dizer:
“O que você sabe você já sabe que
sabe, o que o outro sabe é que você
não sabe”. Então, é preciso ouvir mais
o outro, dialogar mais, porque dialogar é trazer a palavra do outro para si.
Os professores mais lembrados pelos
alunos são aqueles com quem foi possível ter mais trocas, inclusive fora da
sala de aula. O ato de educar é tirar de
dentro dos alunos o que eles têm de
melhor, mas se o professor não buscar, ele não vai tirar.
AE – Vamos pensar em algumas situações que acontecem
no ambiente escolar e saber o que
nos diz a etiqueta profissional. Por
exemplo, durante uma reunião com
o gestor e os professores, em que,
naturalmente, surgem ideias divergentes.
Nina Alexandrina
Professora usa boas maneiras e leva gentileza e alegria à sala de aula: alunos aprendem etiqueta social
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AE – E quando os colegas
de trabalho, alegando sinceridade,
chegam a ser agressivos?
MA – Existe uma máxima que
diz: “Em tudo, mostrai o equilíbrio”.
A sinceridade exige um equilíbrio
absoluto, porque só se pode ser sincero até o ponto em que não magoemos ninguém, que não geremos
constrangimentos, porque isso seria
um desrespeito. Temos de ficar atentos a duas situações: como falamos e
na frente de quem falamos. Algumas
vezes, o melhor é conversar com a
pessoa em particular. Em uma reunião, em público, se arremessamos a
nossa sinceridade, ela vira uma arma.
A faca tanto serve para passar manteiga no pão, quanto para ferir o outro.
Ter um jogo de facas em casa não faz
de mim uma assassina, se eu usá-las
para passar a manteiga ou cortar o
bolo. Com a sinceridade é a mesma
coisa, podemos escolher como usá-la. No meio diplomático usam-se as
“O comportamento é
como um espelho,
se você sorri, o
outro lado também
sorri; se você é
gentil, o outro lado
também é; se você
respeita, também é
respeitado.
Maria Aparecida Araújo
“
MA – A etiqueta diz que o
gestor que está liderando a reunião é
como um maestro de uma orquestra,
que fica atento à hora certa da entrada de cada instrumento. Ele deve
distribuir a palavra e capturá-la de
volta, deve amarrar as ideias e não
deixar que uma pessoa suplante a outra. Quando o líder é fraco, a reunião
é improdutiva. No que diz respeito
ao comportamento dos participantes,
cabe ao líder conduzir a palavra, determinando o tempo para que todos
possam expor suas ideias, sem deixar
que se fuja do assunto. Depois deve
ordená-las e encontrar a sinergia entre
as contribuições trazidas para a reunião.
mentiras benevolentes, porque nem
todas as verdades existem para serem
ditas. Se, com a nossa verdade, ferimos, desprestigiamos ou humilhamos
alguém, é melhor que não a usemos.
AE – E na situação em que
colegas passam por cima dos outros
para obter vantagens pessoais?
MA – Novamente, temos de
contar com a competência do gestor.
Ele deve chamar essas pessoas que
nós consideramos “os pontos fora da
curva”, que não se coadunam com o
grupo, e dizer que as atitudes que elas
estão tendo prejudicam sua carreira,
porque são vistas pelo grupo de uma
maneira negativa. O gestor não deve
dizer que é a escola que se prejudica
com atitudes assim, porque essas pessoas não se preocupam com a escola,
mas com elas mesmas. O líder deve
lhes mostrar que teriam muito mais a
ganhar, se pensassem um pouco mais
nos seus colegas. Elas podem precisar
da simpatia do grupo, em uma eleição
para diretores, por exemplo, portanto,
que tal reavaliar suas atitudes e começar a agir de outra maneira?
AE – E na situação, cada vez
mais comum, em que os professores
são desrespeitados pelos alunos?
MA –Trata-se de uma ausência de valores. Antigamente, aprendíamos a respeitar os professores,
desde o Maternal. Os professores
ensinavam boas maneiras e as famílias também. Nós ficávamos em pé,
quando um professor entrava na sala
de aula, porque ele era tratado com o
mesmo respeito com que tratávamos
os nossos pais. Até meados da década
de 60, isso ainda perdurou. Quando as
mulheres entraram no mercado de trabalho, delegaram a educação de seus
filhos às babás ou às creches, que não
têm o feeling, a percepção que uma
mãe tem. Depois, com a Lei 5.692, o
ensino foi centrando-se em conteúdos
e os valores ficaram para trás. A falta de respeito que hoje existe é fruto
dessas mudanças. Os jovens não respeitam os professores porque também
não respeitam os pais nem os avós.
O que acontece na escola é um prolongamento do que acontece em casa.
Então, a sociedade precisa se educar,
inclusive os educadores querem esse
respeito, mas não sei se estão dispostos a respeitar o outro. Na Alemanha,
os jovens que ingressam no mercado
de trabalho já perceberam que há uma
lacuna na sua educação, porque as
empresas cobram isso deles. No mundo empresarial, eles não podem fazer
com seu chefe o que faziam com seus
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professores. Eles querem se educar e
retomar valores como a pontualidade,
o respeito à hierarquia, o saber trabalhar em grupo, o dialogar e outros
mais.
AE – É possível, para os professores, repassar os conteúdos
cobrados pela escola e, ao mesmo
tempo, preocupar-se com a etiqueta?
MA – Claro, porque as boas
maneiras vão ser o “tubo” por onde
as informações vão passar. As boas
maneiras vão desobstruir o “tubo”.
Certamente, a aprendizagem vai ser
muito mais fácil.
A sociedade
“precisa
se educar,
inclusive os
educadores querem
esse respeito,
mas não sei se
estão dispostos a
respeitar o outro.
“
Maria Aparecida Araújo
AE – Ser educado, hoje, é regra ou é exceção?
MA – Ser educado deverá,
num momento muito próximo, ser
regra. As exceções terão de virar regra. Embora possa não parecer, hoje,
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Etiqueta e liderança
“O professor, em sala de aula, muitas vezes sente-se impotente e
isso deve-se ao que, hoje, a sociedade considera sucesso – o retorno financeiro. O professor que, muitas vezes, não tem esse retorno, sente-se
com a autoestima baixa e isso o impede de fazer o seu trabalho da melhor
forma possível, que ele exerça a sua liderança, que ele eduque através
dela. Quando falo em liderança, não me refiro apenas a presidentes ou
diretores de empresas. Liderança é uma coisa que pode ser exercida em
todos os níveis e lugares: empresa, escola, comunidade. Ser líder é ser
um exemplo de integridade, de caráter, de postura perante a vida e isso
todo mundo pode ter. Não precisa estar bem-sucedido economicamente,
mas quem tem isso é bem-sucedido. O professor pode desenvolver essa
liderança e repassar novos valores aos seus alunos. Existe o essencial, o
não tão essencial e o não essencial. Onde você está focando sua atenção?
Para atingir seus objetivos, ela deve estar focada no essencial e a etiqueta
é essencialmente uma etiqueta de liderança.”
Cláudio Pelizzari – economista e consultor de qualidade de vida
as pessoas se indignam com as barbáries. No passado, elas não tinham
acesso a muitas informações, mas,
agora, acontece uma coisa aqui e, pela
internet, ganha uma dimensão universal. O mundo está mudando e, com
isso, os seres humanos estão passando também a gostar de ser bem tratados, a viver isso e a ir atrás disso.
Nós caminhamos para uma necessidade – quanto mais gente bem-educada
melhor para todos.
AE – Podemos ver resultados, quando a família é omissa e só
a escola se preocupa com o repasse
das boas maneiras?
MA – Só se houver um esforço
do aluno, que visa o próprio interesse.
Se isso não acontece, a família assiste,
mais adiante, ao fracasso dessas pessoas, porque as mais bem preparadas
vão galgando as melhores posições.
AE – Então, a educação pode
ser aprendida ou vem do berço?
MA – Ela deve e pode ser
aprendida, mas se vier do berço vai
ser muito melhor. O ser humano está
sempre aparando uma aresta ou outra. O caráter, o comportamento são
reflexos de muitas coisas. Se o comportamento é escolha, à medida que
nós vamos crescendo, amadurecendo
e envelhecendo, as nossas escolhas
vão, em tese, ficando cada vez melhores, ou deveriam ficar. A educação é
um processo que só termina quando
morremos, porque, enquanto vida nós
tivermos, estaremos nos educando.
Mas, se ela começar do berço, será
maravilhoso.
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Maria Aparecida Araújo, escritora, palestrante e consultora de