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seguros
sexta-feira, 4 de julho 2014
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sexta-feira, 4 de julho 2014
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Conferência APROSE debateu desafios da mediação de seguros
Mediação profissional une-se pela valorização
da atividade
Ampliar o reconhecimento
público do valor da mediação
profissional de seguros e
melhorar a comunicação digital
de dados entre mediadores e
seguradores são alguns dos
temas que mobilizaram, esta
terça-feira, os associados
da APROSE e da ANACS
na conferência de debateu
os desafios da mediação. A
revisão da Lei da Mediação,
cujo projeto está ainda em
formulação, mereceu também
grande destaque no encontro de
distribuidores profissionais de
seguros
ANA SANTOS GOMES
[email protected]
“
Existimos enquanto existirem clientes, riscos e coberturas. E a sociedade
portuguesa tem de reconhecer a relevância da atividade da mediação profissional”, anunciou Luís Cervantes,
presidente da Associação Portuguesa da Mediação Profissional de Seguros (APROSE), no início da conferência “Os Desafios da Mediação de
Seguros”, que juntou perto de 500 profissionais
em Lisboa. Luís Cervantes explicou a todos que
“para fortalecer a notoriedade da mediação será
necessário apostar decisivamente na qualidade
do serviço ao cliente, no momento da venda e
no pós-venda”, pelo que a APROSE está empenhada na criação de padrões para esses momentos decisivos na relação que se estabelece com
os clientes.
Anunciando uma concertação de esforços
com a direção da Associação Nacional de Agentes e Corretores de Seguros (ANACS), Luís
Cervantes quis debater uma questão de possível
concorrência desleal, que se prende com a dificuldade sentida por muitos clientes em mudar a
mediação dos seus seguros a qualquer momento, como a lei permite, quando em causa está
um contrato celebrado através de um banco. “A
legislação permite que o cliente possa sempre
mudar a mediação do seu contrato, mas na banca é habitualmente confrontado com inúmeras
barreiras e potenciais retaliações”, constatou
Luís Cervantes.
A questão ganha relevo quando a banca
constitui o principal canal de distribuição de
produtos do Ramo Vida em Portugal, detendo
mais de 70% desse mercado. Já no Ramo Não
Vida, a primazia é dada aos agentes, provando
que a esmagadora maioria dos consumidores
prefere o aconselhamento de um mediador profissional na hora de subscrever seguros de proteção dos seus bens e da sua família.
“Cada vez mais a mediação profissional deve
ser orientada para o cliente, preocupada com a
qualidade de serviço, deve ser conhecedora do
mercado e das suas tendências e deve ter capacidade de inovação e diferenciação”, alegou Luís
Cervantes, acrescentando que é imprescindível
a uma mediação que se quer profissional uma
“maior abertura ao mundo digital e às novas
tecnologias e uma elevada capacidade de desenvolvimento de projetos perenes, com sucessão
assegurada”.
É neste contexto que o presidente da APROSE defendeu, perante a plateia de mediadores
de seguros, a afirmação da mediação profissional
através de um padrão de atendimento distintivo,
que se pretende estabelecer através da credenciação APROSE. Um projeto a associação pretende
levar a cabo nos próximos meses e que deverá
discriminar negativamente os mediadores que
não forem possuidores desta credenciação que
atesta a capacidade de prestar um serviço competente, esclarecedor e transparente de mediação de seguros.
Regulador destaca profissionalização crescente
da mediação
“Os desafios devem, antes de mais,
ser encarados como oportunidades para
melhorarmos as nossas competências e os
nossos resultados”, disse José Figueiredo
Almaça, presidente do Instituto de Seguros,
aos mediadores presentes no auditório da
FIL. “A distribuição dos produtos da atividade
seguradora é uma atividade exigente,
que obriga a uma atualização constante
de conhecimentos técnicos, de forma a
acompanhar a complexidade dos produtos e,
claro está, o também cada vez maior grau de
exigência dos clientes”, constatou o presidente
da autoridade de supervisão do setor segurador.
Reconhecendo que nem todos os
portugueses se apercebem das mudanças
vividas na atividade de mediação de seguros
nos últimos anos, José Almaça considerou
“inquestionável que o setor está hoje melhor
preparado para enfrentar os desafios futuros,
tanto ao nível das competências académicas,
como profissionais”. A comprovar esta afirmação,
o presidente do ISP realçou o facto de mais
de 87% dos profissionais de mediação terem
atualmente formação dos níveis secundário
ou superior. “O grau de conhecimento que os
mediadores têm dos seus clientes, que lhes
advém da proximidade, é um fator importante
para se conseguir perceber qual o produto
mais adequado para cada um dos clientes”,
referiu o presidente do ISP, lembrando que “esta
proximidade revela-se crucial no momento da
venda, mas também e sobretudo na fase do
pós-venda”.
“A nova diretiva
da mediação
vai influenciar
decisivamente
o futuro
da mediação
em Portugal”
Pedro Seixas Vale
Pedro Penalva, administrador-delegado da
AON, defendeu mesmo que “a mediação, enquanto setor de serviços profissionais, terá dificuldade
em crescer se não conseguir passar para o cliente
um conjunto de garantias sobre a sua capacidade
de prestar esses serviços. E assim dificilmente haverá perceção do seu real valor”. Para Pedro Penalva, “este processo é fundamental face à evolução
do consumidor perante o processo de compra”,
alegando mesmo que “este grau de credenciação é
do interesse da globalidade da indústria, onde se
incluem, naturalmente, as seguradoras”.
Pedro Seixas Vale, presidente da Associação
Portuguesa de Seguradores (APS), lembra, no
entanto, que a eventual credenciação de mediadores será certo uma valorização adicional, porque “já não é qualquer pessoa que faz mediação
de seguros”, referindo-se à necessária admissão
junto do Instituto de Seguros de Portugal.
Inevitabilidade do mundo digital
Estabelecer um código de conduta entre a
APROSE e as companhias de seguros para uma
boa autorregulação das suas relações e estabelecer um protocolo bidirecional para a comunicação digital de dados entre os mediadores e as
companhias de seguros são dois projetos que a
APROSE quer também levar a bom porto nos
tempos que se avizinham. As virtudes, garante,
são relevantes: a redução do risco operacional e
o aumento da produtividade. “Esta ainda é uma
indústria com muito papel e isso não é positivo”,
reconhece Luís Cervantes. David Pereira, presidente da ANACS, confirma. “Ainda há muito
papel. É certo que já houve mais. Mas não trabalhamos sozinhos e há seguradoras que ainda nos
obrigam a trabalhar com muito papel”.
António Belo, administrador-delegado da
MAPFRE em Portugal, acredita que “os protocolos bidirecionais são fundamentais, pois é
certo que temos tecnologias, mas temos agora
de a alinhar e nessa matéria é necessário haver
convergência”. António Belo disse também que
“ao nível da comunicação tudo pode ser melhorado” e sublinha que “as seguradoras têm todo
o interesse em estabelecer mecanismos de cooperação com um canal tão importante como a
mediação”. O administrador-delegado da MAPFRE lembra que “a gestão de clientes, a estratégia e a sustentabilidade dos projetos são desafios
importantes da atualidade numa altura em que
há grupos financeiros a sair do setor e isso vai
implicar necessariamente mudanças na atividade de mediação de seguros nos próximos anos”.
Pedro Penalva, da AON, não tem dúvidas de
que “se houvesse um modelo comum de interligação entre as companhias e mediadores, conseguir-se-ia gerar mais valor e chegar melhor ao
cliente”. Mas lembra Pedro Penalva que “se boa
parte dos recursos é ocupada com ‘backoffice’
não há tanta capacidade para gerar valor”.
À espera de uma nova diretiva
Prevista para 2015, a revisão da Lei da Mediação é um tema que preocupa severamente a
classe de mediadores profissionais, que contam
com o assento da APROSE na Federação Europeia de Mediadores de Seguros (BIPAR) para
acompanhar a par e passo o desenvolvimento
dos trabalhos preparatórios da revisão da diretiva europeia de mediação, que será mais tarde
transposta para a legislação nacional.
“A lei tem de evoluir. Há muito a fazer na
defesa da mediação profissional”, alega Luís
Cervantes. “Há que rever a figura do mediador
ligado individual, que não faz sentido, podendo
originar a saída de milhares de pessoas que atualmente estão habilitadas para exercer mediação
de seguros. E há que rever a figura do mediador
ligado coletivo, pois há necessidade de implementar regras de formação compatíveis com o
facto de este representar várias companhias de
seguros”, reivindicou o presidente da APROSE.
Luís Cervantes salientou ainda a necessidade de
aumentar a proteção do consumidor através da
possibilidade de implementar uma efetiva transferência de mediação, sem pressões.
E a revisão da diretiva da mediação é mesmo o principal problema identificado por Pedro
Seixas Vale no que ao futuro dos mediadores
diz respeito. “Por favor leiam bem a proposta
de revisão da diretiva, pois deixa de haver uma
diretiva de mediação e passa a haver uma direti-
“Cada vez mais
a mediação
profissional deve
ser orientada
para o cliente,
preocupada
com a qualidade
de serviço, deve
ser conhecedora
do mercado
e das suas
tendências e deve
ter capacidade
de inovação
e diferenciação”
Luís Cervantes
va de distribuição de seguros, o que inclui todos
os trabalhadores das seguradoras que vendem
seguros e todos os agregadores”, destacou o presidente da APS.
Seixas Vale não tem qualquer dúvida de que
“a nova legislação vai influenciar decisivamente
o futuro da mediação em Portugal” e aconselhou os mediadores a beneficiarem da sua antiguidade enquanto canal de distribuição de
seguros. Exemplificando algumas mudanças
relevantes previstas, Seixas Vale lembrou os mediadores que a proposta de revisão da diretiva
prevê, entre outras medidas, que os mediadores
expliquem aos seus clientes o cálculo das suas
remunerações em cada seguro que vendem e que
justifiquem os conselhos que dão em matéria de
subscrição. “Acredito que os mediadores vão ter
mais conflitos de interesses para gerir e que as
remunerações vindas das seguradoras vão fazer-vos sentir menos independentes”, antecipou
Pedro Seixas Vale•
ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DO DIÁRIO ECONÓMICO N.º 5964 DE 15 DE JULHO DE 2014 E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE
Quem é Quem nos
CORRETORES de SEGUROS
Índice
02 José Almaça, Instituto de Seguros
de Portugal: “Nova directiva quer reforçar
protecção dos consumidores”
06 Opinião: Pedro Seixas Vale,
presidente da Associação Portuguesa
de Seguradores
08 Saiba como a MDS aumentou
04 Entrevista a Luís Cervantes
número de clientes através da integração
de agentes em todo o país.
e José David Nunes: “A afronta da banca
à mediação é total”
11 Quem é quem entre os corretores
Mediação de seguros
vale mais que
mediação imobiliária
Em 2012, comissões passaram os 447 milhões de euros.
IRINA MARCELINO
Chris Ratcliffe / Bloomberg
[email protected]
Associações do sector da mediação de seguros
querem criar um selo que ateste
a qualidade do trabalho.
PUB
Os temas mais actuais para a mediação
de seguros estiveram em discussão a 1 de
Julho em Lisboa, numa iniciativa da Associação Portuguesa da Mediação Profissional de Seguros (APROSE).
Com um peso de 447 milhões de euros
na economia portuguesa (valor de comissões do ano 2012, segundo estudo do
regulador Instituto de Seguros de Portugal), a mediação de seguros profissional
vale hoje mais que a mediação imobiliária ou do que a distribuição automóvel,
lembrou Luís Cervantes, presidente da
APROSE. Ainda assim, a sua imagem na
sociedade não é marcante como a destes
outros segmentos que se dedicam à mediação.
Aumentar o impacto que a mediação profissional de seguros tem na sociedade é,
por isso, um dos vários desafios apresentados pela associação, que anunciou, na
conferência decorrida na FIL, em Lisboa,
a convergência com a outra associação
que representa agentes e mediadores, a
Associação Nacional de Agentes e Corretores de Seguros (ANACS). “A ANACS e a
APROSE têm definido convergências em
comum. A mediação está unida e convergente”, afirmou Luís Cervantes.
É com essa união de forças que os mediadores de seguros, onde se incluem agentes colectivos e individuais e ainda corretores de seguros e resseguros, querem
enfrentar vários dos seus desafios.
Uma das formas escolhidas para aumentar esse reconhecimento é, além da
maior aposta em formas de comunicação, a criação de uma credenciação, um
selo de qualidade que ateste a qualidade
do trabalho de venda e pós venda dos
mediadores, selo este que seria registado
na própria APROSE. A “credenciação” >>
II Diário Económico Terça-feira 15 Julho 2014
QUEM É QUEM NOS CORRETORES DE SEGUROS
Conferência na FIL, em Lisboa
Foi a uma sala cheia de mediadores e seguradores que foi
anunciada a convergência entre APROSE e ANACS.
Fotos: Paulo Alexandre Coelho
“ “ “ “
Portugal tem
particularidades que
o distingue do resto
da Europa. Comparase muito o sector
segurador com o
bancário pela excessiva
presença da banca
no sector segurador.
(…) Há uma série de
grupos financeiros
portugueses a sair do
sector e isto vai ser
uma transformação
na actividade.
ANTÓNIO BELO,
O número de
reclamações do sector
segurador é mínimo
para um sector que tem
milhões de contratos.
A litigiosidade do
sector segurador não é
muito elevada. O nível
de litigiosidade é de
1%. Passou de um dos
maiores utilizadores
de tribunal para
um dos menores.
PEDRO SEIXAS VALE,
Na mediação
profissional somos
poucos, produzimos
muito, mas não
faz sentido duas
associações. É verdade
que não somos
iguais, que temos
associados diferentes,
mas também é
verdade que em tão
poucos mediadores
profissionais não
faz sentido duas
associações.
Presidente da Associação
Portuguesa de Seguradores
JOSÉ DAVID NUNES,
Administrador Delegado
da Mapfre
Enquanto sector de
serviços profissionais,
se não consegue
articular valor com
os seus clientes terá
nos próximos tempos
grande dificuldade
em ser sustentável
e em ser capaz de
crescer. A questão
da credenciação
é um factor
preponderante
e determinante”.
PEDRO PENALVA,
Presidente da ANACS
Administrador Delegado
da AON Portugal
Três associações juntas
para futura memória:
Luís Cervantes,
da APROSE,
José David Nunes,
da ANACS,
Pedro Seixas Vale,
da APS.
“
A proposta de
revisão da directiva
tem como principais
objectivos reforçar
a protecção dos
consumidores
de seguros,
assegurar condições
equitativas
de concorrência
entre todos
os participantes
envolvidos na
comercialização de
produtos de seguros
e aumentar o grau
de integração
dos mercados.
JOSÉ ALMAÇA,
Presidente do Instituto
de Seguros de Portugal
Peso dos prémios
por canal de distribuição
>>
APROSE levaria a dar um outro passo, o
do aperfeiçoamento de código de conduta que incentive a auto-regulação.
Os mediadores e corretores querem assim
provar a sua qualidade e capacidade face
às outras opções disponíveis no mercado,
como é o caso dos mediadores ligados individuais e colectivos, que habitualmente não são mediadores a tempo inteiro.
“Há 22 mil pessoas estão habilitadas a
prestar serviços de mediação. Mas não
existem 22 mil mediadores profissionais.
Os que são profissionais têm de se poder
distinguir. Os mediadores ligados individuais são irrelevantes em termos de
peso de volume de negócios mas ajudam
a confundir os consumidores”, considera
Luís Cervantes. Sobre este tema, António
Côrrea, CEO da Luso Atlântica, líder de
mercado entre os corretores, defenderia posteriormente em entrevista a este
“Quem é Quem” a existência no mercado
de apenas 2.500 mediadores e corretores
face aos mais de 20 mil actuais. No final
da conferência da APROSE, José Almaça,
o presidente do Instituto Português de
Seguros, lembraria também que na última década o número de mediadores passou de 40 mil para cerca de 25 mil.
Quem não se mostrou de acordo com o
argumento da necessidade de redução de
mediadores ligados foi o presidente da
Associação Portuguesa de Seguradores
(APS), Pedro Seixas Vale, lembrando a
baixa representatividade dos mediadores
ligados (ver tabelas).
A sala, onde estavam presentes várias
centenas de profissionais, quer os presidentes das associações, lembraram ainda
outra questão de suma importância para
estes profissionais: a concorrência feita
no ramo vida pela banca.
“Habituámo-nos, nos últimos 20 anos, a
ter o banco como vendedor de seguros de
vida quando se subscreve algum dos seus
produtos. Hoje, 74% dos produtos vida
são comercializados ao balcão do banco”, disse o presidente da APROSE, que
assume querer trazer o tema “para cima
da mesa”. Apesar de não “bastar uma lei
que proíba os bancos de vender seguros”.
Mas uma nova lei da mediação deve ser
aplicada de igual forma a todos os mediadores, o que faria com que as pessoas
pudessem ter escolher”.
Para as seguradoras, no entanto, esta
concorrência assumida como “afronta”
por mediadores e corretoras não é clara,
já que os vendedores de seguros nos bancos “regras e formação específica e que
lhes dá capacidade para vender. As seguradoras são gestoras multicanais e vão
continuar a ser”, afirmou ainda.
Outro dos temas em destaque foi o da directiva europeia que vai regular o sector
da mediação de seguros. Várias perguntas
e dúvidas surgiram tanto na plateia como
na mesa – Seixas Vale afirmou mesmo
que este é um tema a que todos os mediadores devem estar atentos -, mas Luís
Cervantes garantiu que a discussão da
directiva ainda está no seu início e que os
países do Sul da Europa estão unidos em
relação a uma série de questões. Uma das
novidades da directiva é o facto de deixar de dizer apenas respeito à mediação
de seguros, passando a abranger todas as
formas de distribuição de seguros. I
NO RAMO
NÃO VIDA
NO RAMO
VIDA
Agentes
54%
17,10%
17,10%
1,30%
Corretores
Mediadores ligados individuais
2,30%
0,6%
Banca
15,30% 74,10%
Venda directa seguradoras
8,30% 6,60%
Venda directa telefone
2,10%
Venda directa internet
0,30%
Outros
0,60%
Fonte: APS, Outubro de 2013
0,30%
IV Diário Económico Terça-feira 15 Julho 2014
QUEM É QUEM NOS CORRETORES DE SEGUROS
ENTREVISTA LUÍS CERVANTES, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO
PORTUGUESA DA MEDIAÇÃO PROFISSIONAL DE SEGUROS
E DAVID PEREIRA, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL
DE AGENTES E CORRETORES DE SEGUROS
“A afronta da
banca à mediação
é total e em todas
as frentes”
Associações de mediadores querem unir-se
e lutar contra a concorrência dos bancos.
IRINA MARCELINO
No final da conferência realizada pela Associação Portuguesa da Mediação Profissional
de Seguros (APROSE), Luís Cervantes,o seu
presidente, e o presidente da ANACS, falaram
ao Diário Económico sobre os temas que mais
os preocupam.
Sobre a directiva europeia que deve ser
transposta, notou-se um grande burburinho
na sala. Mas as opiniões dos oradores eram
divergentes. Afinal, o que é que vai acontecer? As empresas devem estar assustadas?
David Pereira (DP): A directiva ainda está
numa fase prematura, ainda é um embrião e
ainda pertence ao futuro.
Mas vai começar a ser discutida em 2015, que
é dentro de cinco meses…
DP: Sim, esperemos. Mas ainda estamos em
2014. E os temas que aqui trouxemos, como a
união das associações, a relação com a banca,
a evolução digital, estes temas são actuais, são
mais importantes para a credibilização destes
profissionais. Um dos temas sobre os quais
se falou pouco e os nossos parceiros de mesa
evitaram o tema, mas notou-se o incómodo
na plateia, tem a ver com a relação dos mediadores com a banca. Há uma afronta permanente à mediação profissional. Ela existe e
não se pode escamotear.
E o que é que a associação, ou as associações,
pretendem fazer para melhorar essa relação
com a banca?
Luís Cervantes (LC): Existe mal-estar, mas
um mal-estar que não é do mediador mas
sim da parte do próprio consumidor. Quando
alguém quer mudar o seu seguro, que fez no
banco, tem dificuldade. E nós temos de pôr
o dedo na ferida. Se uma pessoa quiser mudar o seguro que fez junto de um mediador,
“
Se uma pessoa
quiser mudar
o seguro que
fez junto de um
mediador, pode
fazê-lo com toda
a liberdade, com
uma carta em
que assina a
transferência.
Então porque
é que quando
alguém tem os
seus produtos
no banco sofre
retaliações
quando quer
mudar.
Paulo Alexandre Coelho
[email protected]
pode fazê-lo com toda a liberdade e com bastante facilidade, com uma carta em que assina
a transferência de mediação. Então porque é
que quando a pessoa tem os seus produtos no
banco sofre retaliações quando quer mudar?
Queremos por isso ter uma abordagem conjunta, pô-la à discussão e levá-la ao limite a
uma transposição do ponto de vista legal para
maior protecção dos clientes. No patamar actual, os clientes desistem dessa abordagem, o
cliente está resignado a essa barreira. E o que
nós queremos é que essa barreira não seja uma
limitação. Mas claro que muita coisa tem de
alterar. Nós sabemos que são discussões fortes
e que precisam de ir para cima da mesa. E sabemos que quanto mais fortes e unidos forem
os representantes associativos, maior pressão
podemos exercer junto da tutela.
DP: Normalmente, quando se fala dos clientes
referimo-nos aos individuais. Mas acontece
que neste momento a banca saiu do foro dos
clientes individuais e passou a sua atenção
para os clientes empresariais.
Ou seja, quando financiam as empresas, passam também a fazer-lhes seguros.
DP: Sim. E exigem às empresas coisas que não
têm nada que ver com os empréstimos. Uma
empresa precisa de dinheiro para a sua activi-
dade, para o seu investimento, a curto prazo.
E a banca exige seguros de acidentes de trabalho, de multirriscos… que nada têm que ver
com a banca! A afronta à mediação profissional
é total e em todas as frentes, não só no campo
individual como nas empresas e sociedades.
Eles também são mediadores. Mas não usam
as mesmas regras desta plateia, que tem regras
democrática interpares. Os clientes dos mediadores têm liberdade total, porque a mediação
de seguros é uma actividade democrática, livre.
Quando se fala na mediação bancária, a pessoa
vai numa situação diminuída porque precisa de
crédito, precisa de alguma coisa. E é “trucidado” pela máquina bancária, que o obriga a abrir
contas, a comprar cartões. E agora descobriram que o mundo dos seguros é o paradigma.
E obrigam a fazer seguros, entrando em confronto directo. E ainda há um pormenor que
ninguém referiu: quando se faz um seguro de
crédito à habitação, adere-se a um seguro colectivo e nunca mais se consegue sair.
Como assim?
DP: O banco é que é cliente da seguradora. Ou
seja, o credor, que manda em tudo. E se o mediador quiser fazer a alteração daquele seguro,
não pode, porque o credor é que é cliente do
seguro.
Terça-feira 15 Julho 2014 Diário Económico
José David Nunes e Luís Cervantes acusam
a banca de prender os clientes aos seus seguros,
ameaçando com o aumento de ‘spreads’
se os clientes quiserem mudar. Os reguladores
Banco de Portugal e Instituto de Seguros,
no entanto, não consideram a prática abusiva.
“Profissionais devem unir-se
numa única e forte associação”
O alinhamento de opiniões das associações
sobre os desafios da mediação uniu os representantes.
Como vai funcionar a convergência entre a
APROSE e a ANACS?
DP: É uma viragem, onde o que importa é partir, é começar. Como vai acontecer, iremos os
dois convergir no sentido de uma unificação
das duas associações, a contento dos associados da ANACS e a contento dos associados da
APROSE. Mas é necessário que a nossa actividade e que os profissionais estejam unidos
numa única e forte associação.
LC: A convergência foi fácil quando começamos a trocar impressões. Há um alinhamento
completo do que são os desafios da mediação. Nesta primeira fase estamos a trabalhar
em conjunto, mas o objectivo é ir mais longe.
Claro que há alguns detalhes que vamos ter de
ultrapassar, mas a caminhada é feita e estou
convencido que num curto espaço de tempo
vamos ter uma só voz. Vimos hoje [terça-feira
dia 1 de Julho] que as preocupações são convergentes, e não vão ser os processos formais e
PUB
Pode explicar melhor?
DP: Quando as apólices de multirriscos e de
vida crédito imobiliário são tituladas pelo próprio banco, o cliente passa a ser um mero aderente dessas apólices. Quer isto dizer que se o
cliente, um dia, pretender transferir a mediação dos seus seguros efectuados no banco para
um mediador profissional, ocorrência normal
entre mediadores e permitida pela Lei, nunca
o conseguirá porque, para a seguradora, o titular da apólice é o banco e não o cliente do
banco. Dito de outra maneira, o cliente bancário deixou de ser um indivíduo livre num país
livre, antes um escravo do sistema bancário
e, pior de tudo, com a complacência da tutela e das seguradoras. Mas mesmo assim, se o
cliente insistir em retirar os seguros do banco
porque facilmente consegue melhores preços
na mediação profissional, logo surge o banco a
ameaçar com o aumento de taxas, o aumento
do ‘spread’ e outras acções semelhantes.
Moral da história: perante este quadro o cliente acaba por desistir resignado.
Por isso defendo que a actividade de mediação
é uma actividade perfeitamente democrática,
em que os clientes são livres de exercerem
os seus direitos de cidadania e de liberdade,
por oposição à atitude ditatorial da mediação
bancária. Números
ANACS
103
A ANACS tem 103
associados, representando
um volume de negócios
de cerca de 370 milhões
de euros.
APROSE
1.200
A APROSE tem 1.200
associados, entre corretores
e agentes de seguros,
representando 22%
do mercado de mediação
não vida.
V
os processos jurídicos que nos vão impedir de
ter uma voz só no mercado. Complicado é trazer mais vezes estas plateias a discutir o sector
de actividade e ganhar notoriedade junto da
sociedade.
O que é que separava mediadores e corretores?
LC: Na verdade, ambas as associações tinham
mediadores e corretores. Mas houve um processo de cisão há 20 anos, em que associados
da APROSE fundaram a ANACS. Mas tal como
existiu um processo de cisão, há uma convergência no presente e um futuro comum.
Mas há diferenças em relação ao que preocupa mediadores e corretores?
LC: Há diferenças, mas têm de ser percepcionadas pelo consumidor. O consumidor deve saber
que, quando quer comprar os seus seguros, se
optar por uma marca, existe um mediador que
a representa; e que se escolher por uma solução
mais lata tem outros correctores que têm uma
panóplia de oferta muito mais vasta. Com esta
união, queremos também passar a ideia para a
sociedade sobre o que é exactamente a mediação profissional. I.M.
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