Com a devida vénia transcrevemos artigo publicado na edição do Jornal de Negócios
Draghi abre torneira e patrões aplaudem
João Carlos Malta | [email protected]
Empresários elogiam a decisão, mas deixam algumas reticências. Há quem espere que as
análises de risco sejam desanuviadas, e outros que estão "escaldados". "Sempre que se
tomaram estas atitudes, pouco chegou às empresas".
Maior liquidez dos bancos, logo mais acesso a crédito com taxas de juro e "spreads" mais
acessíveis, e avaliações de risco mais adaptadas às reais capacidades das PME nacionais. Este ciclo
virtuoso é o que os empresários portugueses esperam da decisão do presidente do Banco Central
Europeu, Mário Draghi, em abrir uma linha de crédito 400 mil milhões para refinanciamentos de
longo prazo.
Esta iniciativa europeia para dar maior confiança ao sector bancário e no financiamento à
economia surge numa época em que o Governo finaliza o processo de operacionalização do Banco
de Fomento. Ainda não se sabe até que ponto é que os dois instrumentos se podem cruzar, na
medida em que visam o mesmo fim, ou seja, dar às PME maior capacidade de financiar
investimentos.
O maior sinal de confiança para esta decisão chega do empresário Henrique Neto, que pensa
que a "importância será grande". "Na base do historial recente do BCE, que tem sido a única
instituição europeia a compreender e a actuar com alguma competência no combate à crise",
sustenta.
Outro empresário, e a primeira reacção também é de optimismo. "Espero que venha criar
maior dinamismo na economia e maior investimento. Falta investimento público e não sabemos
se esse reforço vai chegar para investimentos públicos, que também é fundamental que o Estado
comece a investir para criar alguma dinâmica em termos económicos", revela o CEO da Frulact,
João Miranda. Este último aspecto, segundo se sabe, não está contemplado. A torneira de Draghi
está fechada para os projectos públicos.
Este empresário quer que as avaliações da banca mudem porque actualmente, argumenta,
são "muito castradoras". E finaliza, as expectativas com um freio. "Temos é de ver como chega, a
que preços chega e de que forma", remata.
Para quando e como?
Há quem esteja ainda mais desconfiado, ou escaldado com um passado recente. E o caso do CEO
da Colunex, Eugênio Santos. "Vou esperar para ver. Na generalidade sempre que se tomaram estas
atitudes, pouco chegou às empresas. Foram instrumentos muito bem usados para limpar passivos
[pela banca]", lembra o empresário do Norte.
Alexandre Relvas, por seu lado, diz que as expectativas de todos os empresários é que isto
"signifique maior capacidade de acesso e liquidez e diminuição dos níveis de 'spreads' no
mercado". Mas o líder da Logoplaste, assume aquela que tem sido a narrativa da banca. "Não
posso deixar de dizer que a minha experiência nestes anos, que tirando uma primeira fase de crise
nunca sentimos dificuldade de liquidez na banca, e essa capacidade tem vindo a aumentar".
Para o líder da empresa que nasceu de uma start-up universitária, a Science4You, esta é
sempre uma boa notícia. Mas, há que ver o "timming" em que é colocada à disposição dos
empresários. "O problema é que isto demora sempre algum tempo", denuncia Miguel Pina
Martins.
Numa perspectiva mais macroeconómica, Pina Martins afirma: "os mercados reagem sempre
muito bem a essas notícias o que alivia as taxas de juro" e ficamos "mais longe de precisar de um
programa cautelar. Por fim, espera que este dinheiro seja utilizado para capitalizar as empresas,
porque se assim não for "não haverá investimento".
11-Jun-14