ANÁLISE DE VIBRAÇÕES TORCIONAIS EM PERFURAÇÃO DE POÇOS DE PETRÓLEO Jorel Lopes Rodrigues dos Anjos Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica. Orientador: Marcelo Amorim Savi Rio de Janeiro Novembro de 2013 ANÁLISE DE VIBRAÇÕES TORCIONAIS EM PERFURAÇÃO DE POÇOS DE PETRÓLEO Jorel Lopes Rodrigues dos Anjos DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA MECÂNICA. Examinada por: ________________________________________________ Prof. Marcelo Amorim Savi, D.Sc. ________________________________________________ Prof. Arthur Martins Barbosa Braga, Ph.D. ________________________________________________ Prof. Anna Carla Monteiro de Araujo, D.Sc. ________________________________________________ Dr. João Carlos Ribeiro Plácido, Ph.D. RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL NOVEMBRO DE 2013 Anjos, Jorel Lopes Rodrigues dos Análise de vibrações torcionais em perfuração de poços de petróleo/Jorel Lopes Rodrigues dos Anjos. – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2013. XIX, 92 p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Marcelo Amorim Savi Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de Engenharia Mecânica, 2013. Referências Bibliográficas: p. 88-92. 1. Vibrações Mecânicas. 2. Dinâmica Não-Linear. 3. Interação Broca-Rocha. I. Savi, Marcelo Amorim. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia Mecânica. III. Título. iii AGRADECIMENTOS À PETROBRAS por permitir o aprimoramento da minha capacitação profissional através deste programa de pós-graduação. A toda minha família pelo apoio e incentivo incondicional frente aos diversos desafios da vida. Em especial agradeço à Lygia De Biase por entender e aceitar minha ausência durante tanto tempo ao longo desenvolvimento deste trabalho. Ao professor Marcelo Amorim Savi por todos os ensinamentos e incentivos passados ao longo dos últimos anos, sendo estes fundamentais para minha formação acadêmica e profissional. Aos pesquisadores Romulo Aguiar e Slim Hbaieb pelas diversas colaborações ao longo do desenvolvimento deste trabalho. Aos professores Marian Wiercigroch e Emmanuel Detournay pelos momentos de inspiração e colaboração. À gerência de Perfuração e Completação de Poços do CENPES, pois fiz deste lugar uma extensão de minha casa e das pessoas uma extensão de minha família. iv Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.) ANÁLISE DE VIBRAÇÕES TORCIONAIS EM PERFURAÇÃO DE POÇOS DE PETRÓLEO Jorel Lopes Rodrigues dos Anjos Novembro/2013 Orientador: Marcelo Amorim Savi Programa: Engenharia Mecânica Neste trabalho, investiga-se a vibração de colunas de perfuração para poços de petróleo, que por serem estruturas extremamente esbeltas apresentam carregamentos dinâmicos bastante amplificados. A descrição do processo de corte de rocha desempenha um papel dominante na modelagem de uma coluna de perfuração e usualmente advêm da generalização do processo de interação através de leis de atrito equivalente. Tal abordagem é contestada por alguns autores e modelos específicos para corte de rocha encontram-se disponíveis na literatura. Neste trabalho será avaliada a influência de dois modelos de interação broca-rocha nos modos de vibração axial e torcional de uma coluna de perfuração: (1) modelo de corte para broca PDC; (2) modelo de atrito equivalente. Atenção especial é dada ao primeiro modelo, pois este resulta em um sistema de equações diferenciais com atraso temporal dependente das variáveis de estado, o que torna a solução do problema uma tarefa complexa. Investigações numéricas são realizadas no intuito de desenvolver uma análise crítica entre os modelos, proporcionando uma maior compreensão de diversas características associadas ao comportamento dinâmico destes sistemas. v Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.) TORSIONAL VIBRATION ANALYSIS OF OIL WELLS DRILL STRINGS Jorel Lopes Rodrigues dos Anjos November/2013 Advisor: Marcelo Amorim Savi Department: Mechanical Engineering In this work, we investigate drill string vibrations, which can have their dynamic loads very amplified due to the extreme slenderness of those structures. The description of the rock cutting process plays a dominant role when modelling a drill string as it represents the major source of excitation to the system. Usually such relations arise from the generalization of the bit-rock interaction through equivalent friction laws. Some authors confront this approach and specific models for rock cutting are available on literature. In this work, we analyse the influence of two bit-rock interaction model on the torsional and axial vibration of a drill string: (1) model for rock cutting by PDC bits; (2) model of equivalent friction. It has been dedicated a special attention to the first model as its combination with the drill string model results in a system of state dependent delay differential equations, increasing considerably the complexity of system and solution techniques. Numerical investigations are carried out in order to develop a comparative analysis between the models providing a better understanding of various features associated with the dynamic behaviour of these systems. vi SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 1 1.1. 1.2. 1.3. 1.4. 1.5. 2. VIBRAÇÕES EM COLUNAS DE PERFURAÇÃO .................................................................... 2 REVISÃO DE LITERATURA........................................................................................... 3 1.2.1. Observações experimentais .................................................................... 3 1.2.2. Modelagem clássica (Lei de atrito equivalente) ..................................... 8 1.2.3. Modelos de corte .................................................................................. 10 MOTIVAÇÃO ........................................................................................................ 15 OBJETIVO ............................................................................................................ 16 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO.................................................................................. 17 PERFURAÇÃO ROTATIVA .............................................................................. 19 2.1. 2.2. 2.3. 2.4. 3. BROCAS COM PARTES MÓVEIS .................................................................................. 21 BROCAS SEM PARTES MÓVEIS................................................................................... 21 COLUNA DE PERFURAÇÃO........................................................................................ 24 PARÂMETROS DE PERFURAÇÃO ................................................................................ 25 INTERAÇÃO BROCA-ROCHA .......................................................................... 28 3.1. 3.2. 4. MODELO DE CORTE PARA BROCAS PDC ..................................................................... 28 3.1.1. Modelo de único cortador ..................................................................... 28 3.1.2. Generalização do modelo para broca PDC ........................................... 31 LEI DE ATRITO EQUIVALENTE .................................................................................... 36 EQUAÇÕES DE GOVERNO ............................................................................. 38 4.1. 4.2. MODELAGEM DA COLUNA DE PERFURAÇÃO ................................................................ 38 EQUAÇÕES DE MOVIMENTO .................................................................................... 40 4.2.1. 4.3. 4.4. 5. Conservação da quantidade de movimento ......................................... 41 MODELO DE CORTE PARA BROCA PDC....................................................................... 42 4.3.1. Adimensionalização do sistema ............................................................ 45 4.3.2. Critérios de stick-slip e rotação reversa ................................................ 47 4.3.3. Condições iniciais .................................................................................. 48 4.3.4. Procedimento de solução ...................................................................... 50 MODELO DE ATRITO EQUIVALENTE ............................................................................ 51 RESULTADOS ................................................................................................ 53 5.1. MODELO DE CORTE PARA BROCA PDC....................................................................... 53 vii 5.2. 6. 5.1.1. Validação do modelo ............................................................................ 53 5.1.2. Análise paramétrica do modelo ............................................................ 56 MODELO DE ATRITO EQUIVALENTE ............................................................................ 79 CONCLUSÃO ................................................................................................. 84 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 88 viii LISTA DE FIGURAS Figura 1.1 – Layout de produção simplificado. ................................................................ 1 Figura 1.2 – Diagrama esquemático típico de um poço de petróleo. .............................. 2 Figura 1.3 – Tipos de vibração de uma coluna de perfuração. Adaptado de FRANCA (2004)................................................................................................................................ 3 Figura 1.4 – Torque x rotação em função do peso sobre broca. Adaptado de BRETT (1992)................................................................................................................................ 5 Figura 1.5 – Stick-slip causado por aumento de peso sobre broca. Adaptado de RICHARD (2001)................................................................................................................................ 5 Figura 1.6 – Redução do stick-slip com aumento das rotações de superfície de 100 para 130 rpm. Adaptado de RICHARD (2001)........................................................................... 6 Figura 1.7 – Eliminação do stick-slip e incremento nas acelerações laterais com redução do peso. Adaptado de RICHARD (2001). .......................................................................... 6 Figura 1.8 – Espectro de amplitude para velocidade angular Ω e o torque durante stickslip. (RICHARD, 2001). ...................................................................................................... 7 Figura 1.9 – Mapa de estabilidade da solução em função do peso e rotação do sistema (FRANCA, 2004). ............................................................................................................... 9 Figura 1.10 – Ensaio de um cortador não confinado (SCHEI et al., 2000)...................... 11 Figura 1.11 – Aparato esquemático de um ensaio de único cortador. Adaptado de RAJABOV (2010).............................................................................................................. 12 Figura 1.12 – Principais modos de falha observados durante ensaios de único cortador, identificados em diferente níveis de profundidade de corte. Adaptado de RICHARD et al. (1998).............................................................................................................................. 13 Figura 1.13 – Modo de falha dúctil e frágil em rocha durante scratch test (SCHEI et al., 2000). .............................................................................................................................. 13 Figura 1.14 – Modelo de corte para usinagem. Adaptado de INSPERGER et al. (2006). 14 Figura 1.15 – (a) Vista de topo com duas lâminas consecutivas. (b) Vista radial da lâmina 2, no momento em que esta atinge a posição angular ocupada pela lâmina 1. Adaptado de RICHARD (2001). ........................................................................................................ 14 Figura 2.1 – Diagrama esquemático de um sistema de perfuração rotativa. Adaptado de ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA ONLINE. ......................................................................... 19 ix Figura 2.2 – Esquema geral de uma coluna de perfuração. Adaptado de RICHARD (2001). ........................................................................................................................................ 20 Figura 2.3 – Broca tricônica (SCHLUMBERGER, 2012). ................................................... 21 Figura 2.4 – Broca PDC. Adaptado de NORTHBASIN (2012)........................................... 22 Figura 2.5 – Exposição e ângulo de ataque do cortador. Adaptado de BESSON et al. (2000).............................................................................................................................. 23 Figura 2.6 – Ângulo de saída lateral do cortador. Adaptado de BESSON et al. (2000). . 23 Figura 2.7 – Influência da exposição do cortador na geração de cascalho. Adaptado de HUANG e IVERSEN (1981). .............................................................................................. 24 Figura 2.8 – Ilustração dos tubos de perfuração e dos comandos. Adaptado de DIRECTIONAL DRILLING TECHNOLOGY. .......................................................................... 25 Figura 2.9 – Parâmetros de perfuração observados em campo. ................................... 27 Figura 3.1 – Forças agindo em um cortador: (a) afiado e (b) cego (HOFFMANN, 2006). ........................................................................................................................................ 29 Figura 3.2 – Espado das respostas admissíveis para modelo de interação cortador-rocha (ADACHI et al., 1996). ..................................................................................................... 30 Figura 3.3 – Diagrama ℰ– para modelo de único cortador (ADACHI et al., 1996). .... 31 Figura 3.4 – Representação da aresta e área de corte. Adaptado de BESSON et al. (2000) e GERMAY (2002). .......................................................................................................... 32 Figura 3.5 – Distribuição das forças de atrito ao longo do perfil da broca. ................... 33 Figura 3.6 – Esquema de broca simétrica de 4 lâminas. Adaptado de RICHARD (2001). ........................................................................................................................................ 34 Figura 3.7 – Diagrama ℰ − teórico para modelo de broca equivalente (RICHARD, 2001). ........................................................................................................................................ 35 Figura 3.8 – Lei de decaimento exponencial para o conjunto de parâmetros: = 1, = 0,2 e Ω = 2. ......................................................................................................... 36 Figura 3.9 – Representação da formação como uma base elástica. Adaptado de RICHARD (2001) e GERMAY (2002). ............................................................................................... 37 Figura 4.1 – Modelo discreto da coluna de perfuração. Adaptado de NANDAKUMAR e WIERCIGROCH (2013). .................................................................................................... 40 x Figura 4.2 – Representação de duas lâminas sucessivas. A intersecção entre a rocha e a face de corte na lâmina 2, equivale a área escura na figura e sua espessura representa a profundidade de corte (RICHARD, 2001). ................................................................. 43 Figura 4.3 – Ilustração da perda de contato entre a base do cortador e a rocha (RICHARD, 2001). .............................................................................................................................. 44 Figura 4.4 – Regiões temporais de solução. ................................................................... 48 Figura 4.5 - Estratégia de solução do problema. ............................................................ 50 Figura 4.6 – Algoritmo de solução do modelo. .............................................................. 51 Figura 5.1 – Modelo discreto da coluna (RICHARD, 2001). ............................................ 53 Figura 5.2 – Velocidade angular: (Azul) Modelo presente e (Preto) (RICHARD, 2001). . 54 Figura 5.3 – Profundidade de corte e velocidade angular: (a) Modelo presente e (b) (RICHARD, 2001). ............................................................................................................ 54 Figura 5.4 – Evolução da resposta média da profundidade de corte com a velocidade angular : (a) Modelo presente e (b) (RICHARD, 2001). ............................................. 55 Figura 5.5 – Diagrama ℰ – da resposta média do sistema: (a) Modelo presente e (b) (RICHARD, 2001). ............................................................................................................ 56 Figura 5.6 – Rotação e velocidade axial x tempo adimensional. ................................... 58 Figura 5.7 – Espaço de fase torcional e axial. ................................................................. 58 Figura 5.8 – Redução do índice de vibrações torcionais em função do número de ciclos m. .................................................................................................................................... 59 Figura 5.9 – Índice de perda de contato Γ...................................................................... 59 Figura 5.10 – Profundidade de corte e delay ao longo do tempo. ........................ 59 Figura 5.11 – Torque e peso sobre broca ao longo do tempo. ...................................... 60 Figura 5.12 – Rotação e velocidade axial x tempo adimensional ( = Figura 5.13 – Espaço de fase torcional e axial ( = = = = 0). ..... 60 = 0). ................................... 61 Figura 5.14 – Aumento do índice de vibrações torcionais com o número de ciclos m ( = = = 0). .................................................................................................................... 61 Figura 5.15 – Índice de perda de contato Γ ( = = = 0). ...................................... 61 Figura 5.16 – Comportamento da defasagem em regiões de stick-slip. ........................ 62 xi Figura 5.17 – Rotação e velocidade axial x tempo adimensional ( = = 0). ............. 62 Figura 5.18 – Influência da velocidade angular no índice de vibrações torcionais. ....... 63 = 22). ............................................. 63 Figura 5.19 – Espaço de fase torcional e axial ( Figura 5.20 – Mapa de severidade torcional. ................................................................. 64 Figura 5.21 – Superfície de severidade torcional. .......................................................... 65 Figura 5.22 – Índice de perda de contato....................................................................... 65 Figura 5.23 – Evolução do torque médio com as rotações ( = 0,36). ........................ 66 Figura 5.24 – Comparação entre a solução de NANDAKUMAR e WIERCIGROCH (2013) e mapa de severidade à vibrações torcionais ( = 0,745). .............................................. 67 Figura 5.25 – Ocorrência de stick-slip na fase axial ( = 0,745, = 2,5 e = 1,373). ........................................................................................................................................ 68 Figura 5.26 – Ocorrência de stick-slip na fase axial e torcional simultaneamente ( = 0,745, = 2,5 e = 1,373). ......................................................................... 68 Figura 5.27 – Mapa de estabilidade torcional ( = 3,04). ............................................. 69 Figura 5.28 – Índice de perda de contato ( = 3,04). ................................................... 69 =5e Figura 5.29 – Índice de vibrações torcionais ( Figura 5.30 – Evolução do torque médio pelas rotações ( Figura 5.31 – Evolução do torque médio pelas rotações ( = 3,04). ............................. 70 =5e = 11 e = 3,04). .......... 70 = 3,04). ........ 71 Figura 5.32 – Mapa de estabilidade torcional para um range estendido de parâmetros ( = 3,04). ...................................................................................................................... 72 Figura 5.33 – Transição entre stick-slip e bit-bounce ( = 3,04, = 18 e = 24). ........................................................................................................................................ 72 Figura 5.34 – Variação do espaço de fase ao longo da profundidade. .......................... 74 Figura 5.35 – Variação do espaço de fase em função da resistência da rocha. ............. 75 Figura 5.36 – Influência de " na estabilidade do sistema ( = 3,04, Figura 5.37 – Diagrama de bifurcação axial ( # = 8). ........... 76 ). .................................................. 77 Figura 5.38 – Diagrama de bifurcação torcional ( # )............................................ 77 = 7,6)............................................ 78 Figura 5.39 – Espaço de fase torcional e axial ( xii Figura 5.40 – Espaço de fase #$ ( =7,6). ............................................................... 78 Figura 5.41 – Amortecimento retratado pela história no tempo da rotação e velocidade axial. ................................................................................................................................ 79 Figura 5.42 – Espaço de fase torcional e axial: (Topo) Modelo de atrito equivalente. (Base) Modelo de corte para brocas PDC....................................................................... 80 Figura 5.43 – Índice de vibrações torcionais x número de ciclos m. .............................. 80 Figura 5.44 – Influência da velocidade angular no sls. ................................................... 81 = 4). ............................................... 81 Figura 5.45 – Espaço de fase torcional e axial ( Figura 5.46 – Mapa de severidade torcional ( = 0,021).............................................. 82 Figura 5.47 – Superfície de severidade torcional. .......................................................... 82 Figura 5.48 – Mapa de severidade torcional ( = 3,04). ............................................... 83 Figura 5.49 – Superfície de severidade torcional. .......................................................... 83 xiii LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 – Dimensões típicas de campo (RICHARD, 2001). ........................................ 20 Tabela 4.1 – Dimensões típicas, módulo de cisalhamento/elasticidade e densidade dos tubos de perfuração e BHA. ........................................................................................... 40 Tabela 4.2 – Resumo dos modos de interação. Adaptado de HOFFMANN (2006)........ 44 Tabela 4.3 – Parâmetros do sistema dimensional. ........................................................ 45 Tabela 4.4 – Parâmetros do sistema adimensional........................................................ 46 Tabela 5.1 – Parâmetros utilizados do modelo. ............................................................. 54 Tabela 5.2 – Parâmetros utilizados para obtenção da resposta média do modelo....... 55 Tabela 5.3 – Parâmetros base do modelo. ..................................................................... 57 Tabela 5.4 – Parâmetros do modelo variando o comprimento dos tubos de perfuração %&. ................................................................................................................................... 73 Tabela 5.5 – Parâmetros do modelo variando a resistência da rocha '. ....................... 75 Tabela 5.6 – Parâmetros base do modelo. ..................................................................... 76 Tabela 5.7 – Parâmetros base do modelo. ..................................................................... 79 Tabela 5.8 – Parâmetros extras para definição dos forçamentos ( e xiv . ..................... 79 LISTA DE SÍMBOLOS ) * *+ , Raio dimensional da broca Projeção da área de corte na direção vertical Área da seção transversal dos tubos de perfuração Ângulo que caracteriza o perfil geométrico da broca Parâmetro adimensional influenciado pela geometria da broca -* ./ .0 Relação entre as frequências naturais axial e torcional Conjunto de fundo de poço (Bottom Hole Assembly) Amortecimento estrutural axial dos tubos de perfuração Amortecimento estrutural torcional dos tubos de perfuração Profundidade de corte equivalente para toda a broca 1 2 334 5 5 4 ' ℰ 6 78 79 7: 71 Profundidade de corte para cada aleta da broca Profundidade de corte em condições de ausência de vibrações Equações diferenciais com atraso temporal (Delay Differential Equations) Deslocamento devido ao peso próprio Profundidade de corte adimensional Passo de integração Módulo de elasticidade do material que compõe os tubos de perfuração Energia intrínseca específica Energia específica de perfuração Indicativo da eficiência da broca Forças de corte atuando no cortador (vetorial) Forças de atrito atuando no cortador (vetorial) Somatório das corças de corte na direção perpendicular ao corte Somatório das corças de corte na direção normal ao corte xv 2 9 ; < = > - -? @ A AB A+ CB C+ D/ DE D0 F %∗ %B %+ H HB Constante de atrito para o modelo de atrito equivalente Constante de atrito para o modelo de atrito equivalente Aceleração da gravidade Módulo de cisalhamento do material que compõe os tubos de perfuração Parâmetro adimensional que engloba a influência da geometria da broca nos esforços Índice de perda de contato entre a área de desgaste dos cortadores e a rocha Força de sustentação axial da coluna de perfuração Função degrau Inércia do sistema Inércia do BHA Inércia dos tubos de perfuração Momento polar de inércia do BHA Momento polar de inércia dos tubos de perfuração Rigidez axial dos tubos de perfuração Rigidez da base elástica Rigidez torcional dos tubos de perfuração Parâmetro adimensional proporcional ao amortecimento torcional da coluna Comprimento de desgaste de cada cortador Comprimento de referência para adimensionalização Comprimento do BHA Comprimento da coluna de tubos de perfuração Parâmetro adimensional influenciado pelo desgaste dos cortadores Massa do sistema Massa do BHA xvi H+ I J J8 J2 Massa dos tubos de perfuração Coeficiente de atrito Número de aletas da broca Velocidade angular Velocidade angular característica do decaimento para o modelo de atrito equivalente Velocidade angular na condição de ausência de vibrações Velocidade angular adimensional 8 2 K3. L M M2 M: " NBO NBO NB2 NB2 P PB Q2 R2 Velocidade angular adimensional característica do decaimento para o modelo de atrito equivalente Velocidade angular adimensional na condição de ausência de vibrações Compacto de diamante policristalino (Polycrystalline Diamond Compact) Perturbação adimensional da posição angular em relação à condição de ausência de vibrações Posição angular da broca Posição angular da broca na ausência de vibrações Diferença entre a posição angular de superfície e da broca em condições de ausência de vibrações Parâmetro adimensional que relaciona características da broca, rocha e da coluna de perfuração Raio interno do BHA Raio interno dos tubos de perfuração Raio externo do BHA Raio externo dos tubos de perfuração Coordenada radial adimensional Densidade do material que compõe o BHA Amplitude adimensional das irregularidades de fundo de poço Amplitude das irregularidades de fundo de poço xvii QFQ Q; ? @ S T T8 T9 T2 TU Índice de severidade à vibrações torcionais Função sinal Tensão normal na base dos cortadores no momento do corte Resistência à perfuração Torque na broca Parcela de corte do torque na broca Parcela de atrito do torque na broca Torque na broca em condições de ausência de vibrações Torque na broca no momento de stick Tempo dimensional ∗ 1 12 ( (8 (9 (2 (U Tempo de referência para adimensionalização Defasagem temporal do sistema Defasagem do sistema em condições de ausência de vibrações Torque adimensional na broca Parcela adimensional de corte do torque na broca Parcela adimensional de atrito do torque na broca Torque na broca adimensional em condições de ausência de vibrações Torque na broca adimensional no momento de stick Tempo adimensional 1 U V U W U X Y YZ Defasagem temporal adimensional do sistema Tempo adimensional no momento de stick Tempo adimensional imediatamente antes a broca entrar na fase de stick Tempo adimensional imediatamente após a broca sair da fase de stick Ângulo de ataque do cortador Posição axial em relação à configuração deformada pelo peso próprio Posição axial da coluna em relação à configuração indeformada da coluna xviii Y2 $ $2 [2 \ ] ]8 ]9 ]2 Posição axial na condição de ausência de vibrações Velocidade linear adimensional Velocidade linear adimensional na condição de ausência de vibrações Velocidade linear de superfície Largura dos cortadores Peso sobre broca Parcela de corte do peso sobre broca Parcela de atrito do peso sobre broca Peso sobre broca em condição de ausência de vibrações Peso sobre broca adimensional 8 9 2 # ^ ^ _ Parcela adimensional de corte do peso sobre broca Parcela adimensional de atrito do peso sobre broca Peso sobre broca adimensional em condição de ausência de vibrações Perturbação adimensional do deslocamento axial em relação à condição de ausência de vibrações Perturbação do deslocamento axial em relação à condição de ausência de vibrações Perturbação inicial da velocidade angular Relação entre a componente horizontal e vertical da força de corte Parâmetro adimensional proporcional ao amortecimento axial da coluna xix 1. INTRODUÇÃO O desenvolvimento de um campo de petróleo, desde sua descoberta à produção, é um processo extremamente multidisciplinar que envolve as mais diversas engenharias e geociências. Para tal, é possível destacar os seguintes macroprocessos: • Estudo sísmico para identificação das estruturas geológicas; • Definição das locações onde serão perfurados os poços; • Perfuração de poços exploratórios/desenvolvimento; • Definição de um layout de produção; • Produção dos poços. A Figura 1.1 apresenta um desenho esquemático de produção de um campo de petróleo offshore, onde é observado o traçado dos diversos poços acessando as rochas reservatório. Figura 1.1 – Layout de produção simplificado. Neste trabalho, investiga-se a vibração de colunas de perfuração. Esse tema é pertinente à área de construção de poços pois para atingir os objetivos do prospecto é necessária a perfuração de rochas que compõem o subsolo. Tal processo ocorre em fases, onde a perfuração é iniciada com um determinado diâmetro e a cada fase este diâmetro é reduzido, gerando um perfil telescópico do poço (Figura 1.2). O tamanho de cada uma das fases segue a critérios específicos, conforme pode ser visto nas seguintes referências: ADAMS (1985), BOURGOYNE et al. (1986), ECONOMIDES et al. (1998) e ROCHA et al. (2007). 1 Figura 1.2 – Diagrama esquemático típico de um poço de petróleo. 1.1. VIBRAÇÕES EM COLUNAS DE PERFURAÇÃO Uma coluna de perfuração é constituída pela conexão de diversos elementos tubulares a uma ferramenta de corte em sua extremidade final. Para construção de poços profundos, tal coluna possui diversos quilômetros de profundidade por apenas algumas polegadas de diâmetro, sendo assim estruturas extremamente esbeltas. Um sistema de perfuração rotativo naturalmente tende a apresentar comportamento oscilatório, entretanto, devido à grande esbeltez da coluna, os carregamentos dinâmicos associados às vibrações podem ser muito amplificados. Tais cenários podem ser bem comportados, com o sistema convergindo para respostas periódicas ou até mesmo apresentando resposta caótica (FRANCA, 2004; DIVENYI et al., 2006; DIVENYI, 2009; LIU et al., 2012). As vibrações em colunas de perfuração podem ser divididas em três modos principais, que podem ocorrer inclusive de forma acoplada: vibrações axiais, torcionais e laterais. A depender dos parâmetros do sistema, essas oscilações podem degenerar e atingir sua forma mais severa, onde um padrão complexo de vibrações se desenvolve, resultando em grandes amplitudes de deslocamento e forças de contato. Estas vibrações, em sua forma severa, são conhecidas como bit-bounce, stick-slip e whirl e são descritas pela Figura 1.3. 2 Figura 1.3 – Tipos de vibração de uma coluna de perfuração. Adaptado de FRANCA (2004). Nesses cenários, grande parte da energia disponível na broca é dissipada pelas vibrações, ocasionando dano à coluna de perfuração, desgaste prematuro da estrutura de corte da broca e decréscimo na eficiência da perfuração. Como o processo de perfuração representa um sistema físico extremamente não linear, a existência de um tipo de vibração pode desencadear o aparecimento de outras formas de vibração, e a abordagem do problema acoplado se faz necessária para avaliação e controle de uma operação de perfuração. 1.2. REVISÃO DE LITERATURA O desenvolvimento de pesquisas em vibração de colunas de perfuração remete ao início dos anos 60, onde foram feitas as primeiras análises modais da estrutura como um sistema contínuo (BAILEY et al., 1960). A avaliação da vibração era feita através dos sensores de superfície, capazes de medir as forças e deslocamentos do topo da coluna. Entretanto, devido à grande elasticidade da coluna, as oscilações eram bastante atenuadas, impossibilitando muitas vezes a correta avaliação das vibrações junto à broca (DYKSTRA et al., 1994; PAVONE e DESPLANS, 1994). 1.2.1. Observações experimentais Após o advento dos sensores de fundo, tornou-se possível uma boa caracterização das forças de excitação envolvidas no processo de perfuração, inclusive a identificação das formas severas de vibrações em colunas, como conhecemos hoje: bit-bounce, stick-slip e whirl. 3 DEILY et al. (apud LEINE, 1997) apresentou resultados de uma ferramenta de medição de forças e acelerações em condições de fundo de poço. Através da interpretação destes dados foram identificadas grandes variações no peso sobre broca indicando, para alguns trechos, a perda de contato da broca com a formação. Este fenômeno foi então definido como bit-bounce. CUNNINGHAM (apud LEINE, 1997) utilizando a ferramenta de medição desenvolvida pela Esso Research Company (DEILY et al., 1968apudLEINE 1997), analisou dados de fundo para poços verticais. Neste trabalho foi definido um “fenômeno de batimento angular” como a alternância entre trechos de alta rotação da broca seguidos por trechos de rotação praticamente nula. Tais constatações representam as primeiras observações do fenômeno de stick-slip em colunas de perfuração (LEINE, 1997). Também foi destacado que este fenômeno era mais provável de ocorrer para baixas rotações. Nos anos 80 foi possível verificar que oscilações do tipo stick-slip eram responsáveis pela grande variação nas rotações da broca a partir do entendimento das vibrações torcionais auto-excitadas (DAWSON et al., 1987apudLIN e WANG, 1990). Diversos autores observaram experimentalmente a existência de uma relação decrescente entre o torque e a velocidade angular (CHEATHANM e LOEB, 1985; BRETT, 1992; DYKSTRA et al., 1994; PAVONE e DESPLANS, 1994). Tal relação foi assumida como propriedade intrínseca da interação broca-rocha, e sua aplicação na modelagem do problema fundamentou o conceito de vibrações torcionais auto-excitadas em colunas de perfuração (BELOKOBYL'SKII e PROKOPOV, 1982; DAWSON et al., 1987; KYLLINGSTAD e HALSEY, 1988; LIN e WANG, 1990). BRETT (1992) avaliou experimentalmente o comportamento de interação broca-rocha através de testes em escala real realizados sob controle de peso sobre broca (servo controlled). A relação de decaimento entre torque e velocidade angular foi observada com boa definição, como apresentado na Figura 1.4. 4 Carbonato Bedford ] = 10aFb 350 gpm @ 1100 psi ] = 9aFb ] = 6aFb ] = 3aFb Velocidade angular (rpm) Velocidade angular (rpm) Figura 1.4 – Torque x rotação em função do peso sobre broca. Adaptado de BRETT (1992). As ocorrências de vibrações do tipo stick-slip são usualmente reportadas em condições de alto peso sobre broca (]), baixas rotações (Ω) e perfurando rochas duras (DEILY et al., 1968apudLEINE, 1997; CUNNINGHAM, 1968apudLEINE, 1997; DUFEYTE et al., 1991; BRETT, 1992; PAVONE e DESPLANS , 1994), de forma que, tanto a redução do peso sobre broca como o aumento das rotações, são estratégias comuns para a mitigação destas oscilações. RICHARD (2001) publicou resultados de fundo de poço, cedidos pela empresa SecurityDBS, onde é possível observar a influência do peso sobre broca e da rotação no desenvolvimento/amortecimento das oscilações do tipo stick-slip. Na Figura 1.5 é verificado que o aumento do peso sobre broca induziu a amplificação das vibrações até a ocorrência de stick-slip. Além disso, observa-se a resposta característica desta vibração, onde por um tempo finito a broca encontra-se parada e em sequência gira com velocidade de duas a três vezes a rotação imposta em superfície (CUNNINGHAM, 1968apudLEINE 1997). Pela Figura 1.6, observa-se a saída do regime de vibrações severas com um aumento das rotações de superfície. Figura 1.5 – Stick-slip causado por aumento de peso sobre broca. Adaptado de RICHARD (2001). 5 Figura 1.6 – Redução do stick-slip com aumento das rotações de superfície de 100 para 130 rpm. Adaptado de RICHARD (2001). Embora o controle destes parâmetros possa amenizar as vibrações torcionais, seu incremento/decremento de forma indiscriminada pode desencadear outras formas de vibrações da coluna (DYKSTRA et al., 1994). Como visto na Figura 1.7, a redução do peso sobre broca anula a ocorrência de stick-slip, no entanto, o nível de aceleração lateral aumenta bastante, podendo evoluir e degenerar em um padrão de vibrações laterais severas. Aceleração lateral (g) Figura 1.7 – Eliminação do stick-slip e incremento nas acelerações laterais com redução do peso. Adaptado de RICHARD (2001). Pela interpretação das medições de fundo (acelerações de pontos específicos da coluna de perfuração) é observado que a frequência de vibração torcional, durante eventos de stick-slip, é ligeiramente menor que a primeira frequência natural da coluna em torção (BRETT, 1992; PAVONE e DESPLANS, 1994; RICHARD, 2001). Além disso, análises dos espectros de amplitudes das variáveis de fundo revelam a predominância de apenas uma frequência para o sinal das rotações, enquanto que para as forças um espectro bem mais distribuído é observado. A Figura 1.8 mostra essa relação para as rotações e o torque de fundo. 6 Figura 1.8 – Espectro de amplitude para velocidade angular Ω e o torque durante stick-slip. (RICHARD, 2001). Resumindo as observações experimentais é possível listar as principais características das vibrações torcionais do tipo stick-slip: 1. Grande variação da rotação de fundo, onde por um tempo finito a broca encontra-se parada e em sequência gira com velocidade de duas a três vezes a rotação imposta em superfície; 2. O aumento do peso sobre broca e/ou redução das rotações pode induzir o desenvolvimento de vibrações torcionais severas. Assim como o inverso tende a eliminar tais oscilações. 3. Vibrações do tipo stick-slip estão mais associadas às brocas PDC, com desgastes na estrutura de corte e durante a perfuração de rochas duras; 4. Brocas caracterizadas com relação decrescente entre torque e velocidade angular estão mais susceptíveis a stick-slip; 5. Existência de uma velocidade limite da qual, para rotações superiores, oscilações torcionais severas não são mais observadas; 6. A frequência de vibração durante o stick-slip é ligeiramente menor que o primeiro modo natural de vibração da coluna em torção; 7 7. O espectro de amplitude das forças apresenta um sinal bastante rico e não se limita às frequências de vibrações da coluna; 8. Vibrações do tipo stick-slip são inversamente relacionadas às vibrações laterais. Desta forma, qualquer modelagem proposta para vibrações torcionais deve ser capaz de reproduzir as características listadas acima. 1.2.2. Modelagem clássica (Lei de atrito equivalente) Para a grande maioria dos autores, a coluna de perfuração é representada por um sistema oscilatório discreto, do tipo massa-mola, e utilizando uma relação de decaimento do torque pelas rotações como condição de contorno junto à broca (Figura 1.4) (BELOKOBYL'SKII e PROKOPV, 1982; DAWSON et al., 1987apudLIN e WANG, 1990; KYLLINGSTAD e HALSEY, 1988; LIN e WANG, 1990; BRETT, 1992; PAVONE e DESPLANS, 1994; FRANCA, 2004). Tal relação corresponde à lei de interação broca-rocha e possui papel de extrema importância, pois resume a contribuição das forças de interação de cada cortador a uma equação média para toda a broca, representando assim, as chamadas leis de atrito equivalente. O tipo de função escolhida para representar estas leis advém de observações experimentais da relação entre os esforços na broca com a rotação aplicada. A forma destas funções possui papel essencial no desenvolvimento das vibrações tipo stick-slip, sendo reportada por diversos autores como uma relação de decaimento exponencial, onde sua caracterização depende de ajuste de dados experimentais (DEILY et al., 1968apudLEINE, 1997; BELOKOBYL'SKII e PROKOPOV, 1982; LIN e WANG, 1990; PAVONE e DESPLANS, 1994). Esta característica de decaimento atua como um amortecimento negativo, sendo responsável pelo aumento nas oscilações de fundo que por fim degeneram a resposta do sistema a um padrão de vibrações do tipo stick-slip (DAWSON et al., 1987apudLIN e WANG, 1990; LIN e WANG, 1990; PAVONE e DESPLANS, 1994; RICHARD, 2001; RICHARD et al., 2007). Definindo I como o coeficiente de atrito e $ a velocidade relativa entre duas superfícies em contato, a relação c[I]/c[$] < 0 é uma condição essencial para o desenvolvimento de instabilidades em torno da solução trivial do sistema (RICHARD et al., 2007; SINGIRESU, 2009, cap. 3). A influência dos diversos parâmetros do modelo é usualmente avaliada através de diagramas de estabilidade computados a partir dos autovalores do sistema linearizado 8 em torno da solução em regime permanente (PAVONE e DESPLANS, 1994; FRANCA, 2004). A Figura 1.9 apresenta um mapa de estabilidade para os parâmetros de controle ][ah] e é avaliada a influência do amortecimento torcional (gama) na resposta do sistema. Figura 1.9 – Mapa de estabilidade da solução em função do peso e rotação do sistema (FRANCA, 2004). A utilização de leis de atrito equivalente possibilita a simplificação do sistema, permitindo que fenômenos complexos, como por exemplo, o bit-bounce, possam mais facilmente ser avaliados. Diversos autores analisaram sistemas não-suaves através da suavização das equações dinâmicas, idealizando regiões de transição para as equações específicas, permitindo que o sistema seja tratado como contínuo em todo seu domínio (LEINE, 2000; WIERCIGROCH, 2000; SAVI et al., 2007; DIVENYI et al., 2007). Sistemas deste tipo podem apresentar bifurcações do tipo grazing, características do fenômeno de bit-bounce, e uma dinâmica bastante complexa pode se desenvolver, inclusive de forma caótica (DIVENYI, 2009; DIVENYI et al., 2012). Hipóteses simplificadoras do modelo de atrito equivalente: A principal hipótese simplificadora para a modelagem de vibração de colunas de perfuração recai sobre a relação que governa o problema de vibrações torcionais: a interação broca-rocha. Nesta abordagem a relação de decaimento do torque pelas rotações é assumida como uma propriedade constitutiva do sistema broca-rocha. Entretanto, esse efeito não é observado durante testes realizados na escala de apenas um cortador (single cutter test), onde a velocidade interfacial entre o cortador e a rocha aparentemente não afeta as forças de reação no mesmo, sendo estes considerados insensíveis à velocidade de corte (DETOURNAY e DEFOURNY, 1992; ADACHI et al., 1996; RICHARD et al., 1998). Além 9 disso, sob mesmas condições de perfuração, a relação de decaimento do torque com as rotações varia de acordo com a geometria da broca, com algumas brocas consideradas insensíveis à rotação. RICHARD (2001) ao comentar as hipóteses simplificadoras desses modelos escreveu: “Se a relação de decaimento é, na verdade, uma propriedade constitutiva da interface broca-rocha, esta não pode ser afetada pela geometria da broca, já que a única dimensão que caracteriza as propriedades geométricas da broca (perfil, raio, densidade de cortadores, comprimento do chanfro) é a dimensão de comprimento” (RICHARD, 2001, tradução nossa). Desta forma, a modelagem clássica assume que a resposta dinâmica oriunda da interação entre duas estruturas complexas, envolvendo processos dissipativos referentes ao corte da rocha e atrito dos cortadores, pode ser reduzida a um uma lei de atrito equivalente considerada uma propriedade constitutiva do sistema. 1.2.3. Modelos de corte No intuito de superar as limitações oriundas das leis de atrito equivalente, a modelagem da interação broca-rocha necessita descrever o processo de corte de maneira mais realista. Como um ponto de partida, diversos autores fundamentaram os modelos no comportamento de interação entre um único cortador e rocha, e posteriormente generalizaram o conceito à broca (GLOWKA, 1987; DETOURNAY e DEFOURNY, 1992; RICHARD, 2001; GERMAY, 2002; GERBAUD et al., 2006; DETOURNAY et al., 2008). A descrição das forças em um cortador são classicamente reportadas em trabalhos da área de usinagem (GRABEC, 1986; WANG et al., 2006; INSPERGER et al., 2006; LITAK et al., 2009), de forma que a modelagem da interação cortador rocha pode ser interpretada como uma adaptação destes estudos. A Figura 1.10 apresenta um equipamento projetado para avaliar algumas propriedades da rocha através da quantificação das forças atuantes nos cortadores. Esta técnica usualmente é conhecida como scratch test (ADACHI et al., 1996; RICHARD et al., 1998; SCHEI et al., 2000; RICHARD, et al., 2012), e tecnologia muito similar balizou os primeiros estudos de interação dos cortadores e rocha (GLOWKA, 1987). 10 Figura 1.10 – Ensaio de um cortador não confinado (SCHEI et al., 2000). GLOWKA (1987) identificou os principais parâmetros que influenciam nas forças nos cortadores: tipo de rocha, orientação do cortador, desgaste do cortador, posição na broca, estado de tensões da rocha e tipo de fluido de perfuração. Além disso, destacouse que a área da seção transversal de rocha removida por cada cortador é o parâmetro mais relevante na caracterização das forças de interação, como é feito também nas operações de usinagem. Observa-se que grande parte dessas condições podem ser reproduzidas em laboratório utilizando uma ferramenta de usinagem adaptada e amostras de rocha. Neste sentido, diversos trabalhos experimentais foram realizados com intuito de caracterizar as forças de reação envolvidas em ensaios de cortador único (GLOWKA, 1987; ADACHI et al., 1996; RICHARD, et al., 1998; SCHEI, 2000; GERBAUD et al., 2006; RAJABOV, 2010). Tais ensaios consistem em utilizar um cortador PDC para “riscar” uma amostra de rocha a uma profundidade de corte e velocidade de corte constantes. Através da medição das forças normais e tangenciais aplicadas no cortador, para várias profundidades de corte, é possível caracterizar sua interação com a rocha. Estes ensaios podem ser feitos com amostras confinadas e não confinadas. Entretanto, esta escolha impacta drasticamente na especificação do equipamento para o teste já que o ensaio confinado envolve o acoplamento de um vaso de pressão capaz de aplicar elevadas pressões hidrostáticas na rocha. A Figura 1.11 apresenta um aparato de teste com confinamento, onde é observado o cortador agido em uma amostra circular de rocha confinada. De maneira semelhante ao ensaio desconfinado, as forças de reação no cortador são medidas e relacionadas às profundidades de corte, no entanto, é possível avaliar a influência da pressão de confinamento no processo de corte. 11 Conexão do cortador Vaso de pressão Único cortador Força na direção vertical Perfil do corte Força na direção tangencial Força na direção radial Direção do corte Amostra de rocha Sistema rotativo Figura 1.11 – Aparato esquemático de um ensaio de único cortador. Adaptado de RAJABOV (2010). DETOURNAY e DEFOURNY (1992) abordaram o problema de interação broca-rocha sob a hipótese de que as forças de reação nos cortadores eram caracterizadas pela coexistência de dois processos desacoplados: corte da rocha e o atrito abaixo dos cortadores. Baseado em observações experimentais, um modelo fenomenológico para o processo de interação cortador-rocha foi proposto. Definiram-se as forças de corte diretamente proporcionais à área da seção transversal do corte e as forças de contato como sendo do tipo atrito seco. Avaliando a teoria proposta com os resultados experimentais publicados por GLOWKA (1987), observou-se a existência de um ponto de máxima eficiência de corte e a presença das forças atrito abaixo do cortador. Seguindo o desenvolvimento de DETOURNAY e DEFOURNY (1992), vários autores avaliaram a influência dos desgastes nos cortadores, profundidade de corte, ângulos do cortador e tipos de rocha nas relações de interação e na caracterização mecânica das rochas (DETOURNAY e DEFOURNY, 1992; ADACHI et al., 1996; RICHARD et al., 1998; DETOURNAY et al., 2008). A Figura 1.12 e Figura 1.13 mostram a influência da profundidade de corte no modo de falha da rocha. Para baixas profundidades de corte, no entanto maiores que os grãos da formação, a rocha tende a falhar de maneira dúctil onde é observado um fluxo de material cortado à frente do cortador. Um comportamento de falha frágil, com o desenvolvimento e propagação de fraturas é observado a partir de uma profundidade de corte limite (RICHARD et al., 1998). Este modo (frágil) é caracterizado pela geração de lascas da rocha (chipping) e pela relação não linear entre forças no cortador e profundidade de corte. Para profundidades de corte menores que o tamanho dos grãos é observado o esmagamento e o rolamento de 12 grãos. Este modo é caracterizado por ter uma energia específica (energia necessária para o corte de uma unidade de volume de rocha) uma ordem de grandeza acima da energia específica no modo dúctil (RICHARD et al., 1998). Dúctil Frágil Figura 1.12 – Principais modos de falha observados durante ensaios de único cortador, identificados em diferente níveis de profundidade de corte. Adaptado de RICHARD et al. (1998). Figura 1.13 – Modo de falha dúctil e frágil em rocha durante scratch test (SCHEI et al., 2000). Para quantificar a resposta da broca é necessário realizar uma generalização do modelo de único cortador, onde o peso sobre broca e o torque são divididos em parcelas de corte e de atrito, e a contribuição de cada cortador é integrada ao longo do perfil da broca. A metodologia proposta já foi comparada a diversos resultados experimentais, o que torna a utilização do modelo bastante confiável (DETOURNAY e DEFOURNY, 1992; RICHARD, 2001; HOFFMANN, 2006; DETOURNAY et al., 2008). As leis de interação são formuladas em termos da profundidade de corte de cada lâmina da broca, uma variável que traz para o equacionamento a posição da broca para um tempo desconhecido a priori. A Figura 1.14 apresenta uma analogia com o problema de usinagem, onde a profundidade de corte da ferramenta depende da usinagem na revolução anterior. Fazendo a mesma associação para a estrutura de corte de uma broca 13 PDC, observa-se que essa dependência do histórico da solução ocorre para quando uma lâmina percorre a posição ocupada pela lâmina imediatamente posterior, como visto na Figura 1.15. Desta forma as equações diferenciais que governam o problema possuem uma característica de defasagem temporal (Delay Differential Equations - DDEs). As características acopladas e defasadas do sistema são responsáveis pela ocorrência de vibrações auto-excitadas, que sob certas condições, resultam em oscilações do tipo stick-slip e bit-bounce. Esta linha de pesquisa mostrou-se bastante promissora, resultando na publicação de diversos trabalhos aprofundando o tema (RICHARD, 2001; GERMAY, 2002; RICHARD et al., 2007; GERMAY, 2009; BESSELINK et al., 2011; LIU et al., 2012; NANDAKUMAR e WIERCIGROCH, 2013). Avanço Superfície gerada pelo corte anterior Superfície de corte atual Material de trabalho Figura 1.14 – Modelo de corte para usinagem. Adaptado de INSPERGER et al. (2006). Figura 1.15 – (a) Vista de topo com duas lâminas consecutivas. (b) Vista radial da lâmina 2, no momento em que esta atinge a posição angular ocupada pela lâmina 1. Adaptado de RICHARD (2001). Este tipo de modelo é focado na análise das vibrações torcionais e axiais acopladas, entretanto a modelagem do sistema durante fenômenos de bit-bounce, mesmo podendo ser identificados, não são abordados. Para tal, seria necessário avaliar o problema de impacto entre a broca e o fundo do poço, considerando o padrão geométrico descrito anteriormente. NANDAKUMAR e WIERCIGROCH (2013) avaliaram a estabilidade do sistema dinâmico totalmente acoplado apresentado por RICHARD et al. (2007). Novas características 14 foram incluídas ao modelo, permitindo a identificação de regiões bem definidas de estabilidade, algo que mostrou não ser possível com a abordagem original. É importante destacar que a avaliação da estabilidade do sistema utilizado indica que o aumento das rotações não necessariamente garante a mitigação de vibrações, podendo ser um agente indutor. 1.3. MOTIVAÇÃO Historicamente, diversos problemas de perfuração relacionados à falha de componentes eletrônicos, desgaste de broca e perda na eficiência da perfuração eram atribuídos à vibração. Entretanto, devido à grande não linearidade do sistema e aos diversos acoplamentos existentes, uma interpretação precisa dos resultados de campo pode ser uma tarefa bastante complexa, o que dificulta a quantificação da influência da vibração na falha de um determinado equipamento. Desta forma, uma maneira de melhorar o desempenho da perfuração vem da compreensão dos mecanismos causadores destas vibrações severas, permitindo um melhor planejamento das operações de perfuração e interpretação de resultados. DUFEYTE e HENNEUSE (1991) analisaram dados reais, de fundo e superfície, medidos ao longo da perfuração de 4 poços, resultando em torno de 3500 horas de perfuração (55 brocas tricônicas e 15 PDCs) e foi concluído que em torno de 50% do tempo, a perfuração era afetada pelo stick-slip. Devido ao mecanismo de corte das brocas de arrasto induzir um alto torque reativo, o fenômeno de stick-slip é muito mais pronunciado (BRETT, 1992). Para uma caracterização precisa do fenômeno de stick-slip e bit-bounce, faz-se necessário a utilização de leis de interação broca-rocha para estimativa dos esforços mecânicos oriundos do processo de corte. No entanto, acredita-se que o processo de identificação e caracterização destas leis seja uma das grandes fontes de incerteza da modelagem. Desta forma, a interação broca-rocha representa um dos aspectos mais importantes para a modelagem dinâmica de uma coluna de perfuração, sendo uma linha de pesquisa extremamente ativa dentro da indústria e universidades. A modelagem de vibrações em colunas de perfuração é classicamente desenvolvida utilizando relações de interação broca-rocha do tipo atrito equivalente, onde funções 15 preestabelecidas descrevem os forçamentos de fundo. No entanto, a particularização destas leis à escala do cortador gera inconsistências com observações experimentais em ensaios de único cortador. Desta forma, o desenvolvimento deste trabalho abordará o problema de vibrações em colunas de perfuração partindo de uma lei de interação broca-rocha, para brocas PDC, consistente com ensaios de único cortador e considerando leis do tipo atrito equivalente. Um estudo comparativo entre os modelos é desenvolvido. 1.4. OBJETIVO Este trabalho tem por objetivo avaliar a influência de modelos de interação broca-rocha no comportamento dinâmico de sistemas de perfuração, assim como avaliar estratégias para mitigação de vibrações. São considerados dois modelos, um representando a modelagem clássica, através de uma lei de atrito equivalente (DEILY et al., 1968; BELOKOBYL'SKII e PROKOPOV, 1982; LIN e WANG, 1990; PAVONE e DESPLANS, 1994; FRANCA, 2004) e outro utilizando um modelo de corte seguindo a abordagem iniciada por RICHARD (2001) e continuada por GERMAY (2002), RICHARD et al. (2007), GERMAY (2009), BESSELINK et al., (2011), LIU et al. (2012) e NANDAKUMAR e WIERCIGROCH (2013). Uma análise crítica entre os modelos é fundamentada e apresentada ao longo do desenvolvimento deste trabalho. Curvas de torque médio em função das rotações são calculadas a partir dos modelos de corte e apresentam características bem mais complexas que as assumidas pelos modelos de atrito equivalente. Uma investigação sobre as possíveis condições que controlam o formato destas curvas é desenvolvida. Partindo do trabalho de NANDAKUMAR e WIERCIGROCH (2013), diversas análises paramétricas são realizadas com o intuito de avaliar o comportamento do sistema e identificar as variáveis de maior relevância do problema. Mapas de severidade à vibração torcional são geradas e comparadas com diagramas de estabilidade reportados por NANDAKUMAR e WIERCIGROCH (2013) obtendo uma boa correspondênia entre as soluções. Além disso, as fronteiras entre bit-bounce, stick-slip tocional e stick-slip axial são identificadas no domínio dos parâmetros de perfuração. Padrões de reposta não usuais, relacionados às vibrações do tipo stick-slip, foram identificados e reportados: 16 • Ocorrênca de eventos de stick-slip associados à relações crescentes de torque médio; • Regiões onde há indução de sitck-slip com o aumento da velocidade angular; • Constatação que a característica crescente da curva de torque médio não é decorrente apenas de parâmetros geométricos da broca, como associado por alguns autores. 1.5. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO Esta dissertação é composta por seis capítulos, sendo este dedicado à introdução, revisão bibliográfica, motivação, objetivo e organização do trabalho. O capítulo 2 é dedicado a uma discussão sobre o processo de perfuração rotativa, descrevendo os equipamentos envolvidos e os parâmetros de controle do sistema. Isso permite uma contextualização na área de perfuração de poços, proporcionando ao leitor uma familiarização com os termos técnicos utilizados durante o desenvolvimento deste trabalho. O capítulo 3 apresenta a fundamentação teórica para os modelos de interação brocarocha: (1) modelo de corte para brocas PDC; (2) lei de atrito equivalente. Em relação ao modelo de corte, a formulação de interação broca-rocha é expressa pela generalização da resposta cortador-rocha, não resultando diretamente em expressões fechadas para os forçamentos na broca e sim em relações de restrições entre os esforços. Para o modelo de atrito equivalente, o comportamento do torque é assumido atender a uma lei de decaimento exponencial em função das rotações de fundo, enquanto que o peso sobre broca é calculado através da interação da broca com uma base elástica. O capítulo 4 apresenta a estratégia de modelagem matemática para o problema de vibrações axiais e torcionais associadas à perfuração de poços com brocas PDC. Uma formulação adimensional é desenvolvida para as equações de movimento, e o acoplamento entre o modo axial e o torcional é realizado através das leis de interação broca-rocha. Devido à formulação do modelo de corte recair em um sistema de equações diferenciais com atraso temporal, dependentes das variáveis de estado, estratégias de solução do sistema são apresentadas. A formulação para a lei de atrito 17 equivalente é adaptada de forma a atender às condições de restrição impostas pelo modelo de corte, permitindo assim uma melhor correspondência entre os modelos. O capítulo 5 apresenta os resultados dos modelos para diversos cenários de estudo. É apresentada uma validação do modelo de corte comparando resultados publicados por RICHARD (2001) e NANDAKUMAR e WIERCIGROCH (2013). Mapas de severidade à vibração torcional e índices de perda de contato são gerados no intuito de avaliar o comportamento do sistema e identificar as variáveis de maior relevância do problema. Além disso, uma análise comparativa entre os modelos é realizada visando destacar a influência dos modelos broca-rocha no padrão de resposta do sistema. Finalmente o capítulo 6 apresenta as principais conclusões do trabalho e sugestões para futuros aprimoramentos. 18 2. PERFURAÇÃO ROTATIVA Dado que os poços constituem a interface direta entre as formações produtoras e a superfície, sua construção é uma etapa essencial para a exploração e produção de hidrocarbonetos. Existem diversos sistemas de perfuração de poços, entretanto o sistema mais utilizado pela indústria do petróleo é a perfuração rotativa (ADAMS, 1985). Este sistema baseia-se em prover um movimento circular contínuo a uma ferramenta de corte, denominada broca, através de um conjunto de tubos conectados uns aos outros, formando a coluna de perfuração. O movimento circular é transmitido à coluna através da mesa rotativa ou do top drive, que constituem sistemas que se acoplam ao final da coluna de perfuração provendo a rotação. O deslocamento vertical da coluna no poço se dá através de um sistema de içamento, composto por um simples mecanismo de roldanas e cabos controlados por um guincho. A Figura 2.1 representa de uma maneira simplificada um sistema de perfuração rotativa. Bloco de coroamento Comandos Catarina Mesa rotativa Broca Separador gás-fluido Planta de geração energia Tanques de fluido Diques Revestimento Tubos de perfuração Raque de tubos de perfuração Cimento Broca Bombas de fluido Acumuladores de pressão Figura 2.1 – Diagrama esquemático de um sistema de perfuração rotativa. Adaptado de ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA ONLINE. Um sistema de perfuração rotativa envolve a utilização de dezenas de equipamentos com funcionalidades bem específicas. O desenvolvimento e documentação desses equipamentos remetem ao início do século 19 até os dias atuais, possuindo extensa bibliografia (BOURGOYNE et al., 1986; ECONOMIDES et al., 1998; THOMAS, et al., 2001). 19 A Figura 2.2 mostra um modelo simplificado da coluna de perfuração em um poço vertical, destacando seus principais elementos e forças externas envolvidas no processo de perfuração. A Tabela 2.1 apresenta dimensões usuais para sistemas de perfuração de poços profundos e seus parâmetros de controle. Observa-se que uma coluna de perfuração pode atingir diversos quilômetros de comprimento, por apenas alguns centímetros de raio, resultando em estruturas extremamente esbeltas. Fluido de perfuração Tubos de perfuração Broca Figura 2.2 – Esquema geral de uma coluna de perfuração. Adaptado de RICHARD (2001). %B [i] 200 – 400 Tabela 2.1 – Dimensões típicas de campo (RICHARD, 2001). %+ [i] 100 – 5.000 )[ i] 8 – 15 ]2 [ah] 20 – 100 Ω2 [jKH] 60 – 240 onde: %B representa o comprimento do BHA; %+ o comprimento da coluna de perfuração; ) o raio da broca; ]2 o peso sobre broca na ausência de vibrações; Ω2 rotação em superfície. Todo material de rocha cortado pela broca, denominado de cascalho, é transportado até a superfície pelo fluido de perfuração. Este fluido é bombeado continuamente por dentro da coluna de perfuração, passando pela broca e retornando pelo espaço anular entre a coluna e o poço. Desta forma, é possível remover os cascalhos gerados pela perfuração e expor formações novas aos cortadores da broca. Existem diversos tipos de brocas disponíveis para aplicação na indústria do petróleo (BOURGOYNE et al., 1986; PLÁCIDO e PINHO, 2010), entretanto destacam-se duas principais: brocas com partes móveis (roller cone) e brocas sem partes móveis (drag bit). 20 2.1. BROCAS COM PARTES MÓVEIS As brocas tricônicas são as mais comuns entre as brocas com partes móveis e tem como característica possuírem três cones móveis, repletos de cortadores (dentes). Assim que a coluna de perfuração gira, ocorre o rolamento dos cones e os dentes da broca são identados na rocha. Este processo é cíclico e a cada rotação novos cortadores vão sendo expostos. Maiores detalhes podem ser obtidos em (BOURGOYNE et al., 1986; PLÁCIDO e PINHO, 2010). Figura 2.3 – Broca tricônica (SCHLUMBERGER, 2012). 2.2. BROCAS SEM PARTES MÓVEIS As brocas sem partes móveis são compostas por lâminas fixas ao corpo da broca e atuam solidárias à coluna de perfuração, de forma que a rotação da coluna é transmitida integralmente à broca. O uso deste tipo de ferramenta é observado desde à introdução da perfuração rotativa no início do século 19 (BOURGOYNE et al., 1986), podendo ser dividido em três grupos: borcas com cortadores de aço, borcas de diamante e brocas PDC (Figura 2.4). Como o foco deste trabalho está em brocas PDC, apenas estas serão detalhadas abaixo. Após o surgimento dos cortadores PDC (polycrystalline diamond compact) em meados dos anos 70, uma nova família de brocas foi desenvolvida. A aplicação dessa nova tecnologia se mostrou extremamente vantajosa, de forma que no início dos anos 80 cerca de 900 quilômetros de poços já haviam sido perfurados utilizando brocas PDC (CERKOVNIK, 1982). As brocas PDC possuem diversos cortadores de diamantes sintéticos fixados em uma sequência de lâminas que compõem o corpo da broca (Figura 2.4). Diferentemente das brocas de cones, que o mecanismo de corte é o esmagamento e fratura da rocha no 21 entorno dos dentes, a broca PDC atua cisalhando a formação. Como a quantidade de energia necessária para falhar uma rocha por cisalhamento é significativamente menor que por compressão, a utilização desta tecnologia permite uma perfuração com maior eficiência, resultando em menor peso sobre broca (CERKOVNIK, 1982). Este tipo de broca é muito eficiente para perfuração de rochas de dureza média à alta (BOURGOYNE et al., 1986). Figura 2.4 – Broca PDC. Adaptado de NORTHBASIN (2012). O projeto de uma broca PDC apresenta elementos bem diferenciados quando comparados a outras brocas, pois a definição da estrutura de corte influencia na estabilidade e agressividade da broca. A completa caracterização da estrutura de corte necessita da definição das seguintes variáveis (BOURGOYNE et al., 1986): • Tamanho e forma do cortador; • Número de cortadores; • Exposição do cortador (exposure ou chip clerance); • Ângulo de ataque (backrake); • Ângulo de saída lateral (siderake). A orientação dos cortadores deve ser compatível com a dureza e abrasividade da rocha de forma a obter um balanço entre agressividade e máxima taxa de desgaste da broca durante a perfuração. A Figura 2.5 e a Figura 2.6 exemplificam os parâmetros envolvidos na orientação do cortador. 22 Exposição Ângulo de ataque Figura 2.5 – Exposição e ângulo de ataque do cortador. Adaptado de BESSON et al. (2000). Ângulo de saída Figura 2.6 – Ângulo de saída lateral do cortador. Adaptado de BESSON et al. (2000). A seguir apresentam-se algumas definições para os parâmetros de orientação dos cortadores (HUANG e IVERSEN, 1981; CERKOVNIK, 1982; CALLIN, 1988; FERNÁNDEZ et al., 2009): Exposição do cortador (exposure ou chip clerance): Distância entre o topo do cortador PDC e o corpo da broca. Tal parâmetro influência drasticamente na formação do cascalho. Para pequena exposição do cortador, em formações moles ou plásticas o cascalho tenderá a ficar preso entre o corpo da broca e a formação, sendo compactado frente ao cortador (Figura 2.7). Este cenário demandará elevada potência hidráulica para uma eficiente limpeza da broca. Desta forma a exposição do cortador deve ser dimensionada para permitir uma geração de cascalhos suave e contínua (HUANG e IVERSEN, 1981). 23 Interferência Corpo da broca PDC Folga para cascalho Área para fluido Rocha Cascalho Corpo da broca Folga para cascalho PDC Área para fluido Baixa velocidade de fluido Cascalho Figura 2.7 – Influência da exposição do cortador na geração de cascalho. Adaptado de HUANG e IVERSEN (1981). Ângulo de ataque (backrake): Ângulo definido entre um determinado cortador de uma broca PDC e a superfície de rocha exposta. À medida que este ângulo é reduzido, o processo de perfuração se torna mais eficiente, proporcionando uma maior profundidade de corte para o mesmo peso sobre broca, o que em geral representa aumento no tamanho dos cascalhos e na taxa de penetração (Rate of Penetration – ROP). Entretanto um baixo ângulo de ataque torna o cortador mais susceptível à falhas por impacto durante a perfuração de rochas duras. Por outro lado, um alto ângulo de ataque produzirá menores cascalhos e menor ROP, entretanto prologará a vida útil da broca frente a formações duras. Ângulo de saída lateral (siderake): Ângulo, orientado pelo centro do cortador, formado entre a face do cortador a direção radial (Figura 2.6). Este ângulo afeta a remoção dos cascalhos frente aos cortadores, direcionando-os para a periferia da broca e facilitando sua remoção pelo fluido de perfuração. A otimização do ângulo de saída permite o desenho de uma estrutura de corte com menor exposição (Figura 2.5) aumentando a velocidade do fluido frente aos cortadores e visando uma melhor limpeza da broca. 2.3. COLUNA DE PERFURAÇÃO No intuito de prover o sistema com a energia mecânica necessária ao corte das formações, a coluna de perfuração (Figura 2.2) é responsável por aplicar peso sobre a 24 broca, transmitir a rotação, circular o fluido pelo poço, manter o calibre do poço e garantir controle direcional (FERNÁNDEZ et al., 2009). A coluna de perfuração é composta basicamente por dois grandes elementos, os tubos de perfuração (drill pipes) e o Bottom Hole Assembly (BHA) (Figura 2.8). Figura 2.8 – Ilustração dos tubos de perfuração e dos comandos. Adaptado de DIRECTIONAL DRILLING TECHNOLOGY. Tubos de perfuração (drill pipes): Elementos tubulares de baixa rigidez que conectam o BHA aos equipamentos de superfície. Possui função de manipular axialmente a coluna, transmitir rotação ao sistema e permitir a circulação de fluido pelo poço. A conexão de cada tubo de perfuração é feito através de perfis roscados, denominados tool joints. Bottom Hole Assembly (BHA): Parte inferior da coluna de perfuração, sendo composto pela broca e por diversos elementos tubulares de alta rigidez. Tais elementos variam desde simples tubos de aço até ferramentas de alta tecnologia capazes de medir propriedades das rochas durante sua perfuração. O BHA deve ser dimensionado de forma a prover suficiente peso sobre broca durante a operação de perfuração. Neste sentido, são adicionados elementos tubulares de grande espessura de parede, denominados comandos (drill collars). Maiores informações podem ser encontradas em (ROCHA et al., 2006; AADNOY et al., 2009). 2.4. PARÂMETROS DE PERFURAÇÃO O acompanhamento do processo de perfuração envolve a análise indireta de diversos parâmetros, pois na grande maioria das operações não se dispõe de sensores de fundo (próximos à broca) e toda instrumentação é feita em superfície (Figura 2.9). Os principais parâmetros utilizados para acompanhamento e controle da perfuração estão listados a seguir: Peso sobre broca: Peso aplicado diretamente sobre a broca através dos comandos. Este é necessário para identação dos cortadores da broca na rocha, provendo assim, parte 25 da energia mecânica necessária à perfuração. O peso sobre broca é uma grandeza indiretamente avaliada através da diferença entre a carga no gancho (weight on hook) com a broca fora do fundo e com a broca no fundo (durante a perfuração). Como esta metodologia é muito suscetível à propagação de erros, diversas calibrações são feitas durante a perfuração. Rotação: Embora a rotação da coluna seja um parâmetro de entrada do sistema (controlado de superfície), este apresenta flutuações em torno de seu valor médio, decorrentes das vibrações torcionais inevitáveis em qualquer sistema de perfuração rotativa. Torque na coluna: Torque necessário para rotacionar a coluna de perfuração com uma determinada velocidade angular. A análise desta medida auxilia na identificação de diversos fenômenos relacionados à interação coluna/poço e broca/rocha. Para avaliar o nível de torque associado à perfuração é usual sua comparação em dois momentos: torque no fundo e torque fora do fundo. Vazão de bombeio: Prover potência hidráulica suficiente para limpar os cortadores da broca e garantir o transporte dos cascalhos do fundo do poço à superfície. Possibilitando assim a limpeza do poço. Pressão de bombeio: Reação direta à vazão utilizada, reproduzindo as perdas de carga do sistema. Variações na pressão de bombeio trazem informações relevantes quanto à hidráulica do poço e integridade de formações. Taxa de penetração: Principal parâmetro utilizado para avaliação da perfuração, sendo função de todas as variáveis até então descritas. Através de sua análise é possível identificação desde mudanças de litologia até desgastes de brocas. Todo o foco da otimização da perfuração consiste no balanço entre ROP e durabilidade da broca. A Figura 2.9 apresenta um cenário real de perfuração de poço, onde os parâmetros de perfuração estão em função do tempo. Devido à grande oscilação do ROP é comum avaliarmos essa grandeza através da posição do gancho ao longo do tempo, onde é possível avaliar uma ROP média. 26 Figura 2.9 – Parâmetros de perfuração observados em campo. Dos parâmetros descritos, só é possível controlar o peso sobre broca, rotações e vazão. As demais variáveis descritas são utilizadas para monitoração do sistema e não para controle. 27 3. INTERAÇÃO BROCA-ROCHA Neste capítulo apresenta-se a formulação para dois tipos de modelos de interação broca-rocha: (1) modelo de corte para brocas PDC; (2) lei de atrito equivalente. 3.1. MODELO DE CORTE PARA BROCAS PDC Para a consideração do processo de corte da rocha nas relações de interação brocarocha, utiliza-se um modelo compatível com ensaios de um único cortador (Figura 1.10). Essa consideração é fundamental para a definição da estratégia de simulação das vibrações auto-excitadas, pois a compatibilidade com estes ensaios exclui os efeitos de decaimento do torque com a velocidade angular. Esse efeito é uma condição necessária ao desenvolvimento das oscilações sob o ponto de vista da modelagem clássica, utilizando leis de atrito equivalente. Desta forma, as relações de interação broca-rocha são consideradas de acordo com a metodologia proposta por DETOURNAY e DEFOURNY (1992) e DETOURNAY et al. (2008). Nesta seção apresentamos um resumo das principais conclusões desses trabalhos. 3.1.1. Modelo de único cortador O modelo fenomenológico de interação cortador-rocha, proposto por DETOURNAY e DEFOURNY (1992), é deduzido para um cortador em movimento, cinematicamente controlado. Desta forma, a velocidade de avanço da ferramenta é constante, resultando em uma profundidade de corte constante durante o experimento. Devido à existência de uma área desgastada na base do cortador, decorrentes do próprio processo de perfuração, os cortadores podem ser divididos em duas categorias: cortadores afiados (sharp) e cegos (blunt) (Figura 3.1). Embora a existência de uma estrutura de corte perfeitamente afiada não seja factível, essa consideração é fundamental para o desenvolvimento da teoria, pois desacopla as parcelas dissipativas das forças de reação, permitindo a determinação de parâmetros do modelo através de ensaios com cortadores afiados e cegos. A Figura 3.1b ilustra a idealização do processo de destruição da rocha pela ação do cortador, sendo caracterizado pela coexistência de dois processos desacoplados: corte puro da rocha e atrito abaixo do cortador junto à área desgastada. 28 (a) (b) Figura 3.1 – Forças agindo em um cortador: (a) afiado e (b) cego (HOFFMANN, 2006). As forças atuantes no cortador podem ser decompostas entre as parcelas de corte e de atrito, k8 e k9 , respectivamente. A força de corte é assumida proporcional à projeção da área de corte na direção vertical * = \, onde é a profundidade de corte e \ é a largura do cortador, enquanto que a parcela de atrito é definida pelo coeficiente de atrito I existente entre a área desgastada do cortador e a rocha (DETOURNAY e DEFOURNY, 1992; ADACHI et al., 1996; RICHARD et al., 1998; SCHEI et al., 2000). Essas forças podem ser projetadas em relação à direção de corte ?Q@, 78: e 79: , e em relação à direção normal ? @ à superfície desgastada, 781 e 791 , sendo descritas por: 78: = '*,781 = _'* 79: = I791 (3.1) (3.2) onde ' é definido como a energia específica intrínseca (intrinsic specific energy), representando a quantidade de energia necessária para cortar uma unidade de volume de rocha, não envolvendo efeitos dissipativos de atrito. Por conveniência ' é expresso em unidades de tensão ([HK)] e [C/ il ] que são numericamente equivalentes). O parâmetro _ representa a relação entre as forças horizontal e vertical atuando na face do cortador. Experimentos mostram que essa variável apresenta baixa dependência do tipo da rocha, variando de 0,7 a 0,9 para cortadores PDC com ângulo de ataque X variando de 15° a 20° (RICHARD et al., 1998). Trabalhos realizados para a caracterização de rochas indicam uma boa correlação entre os parâmetros I e ' com ângulo de atrito interno e a resistência compressiva da rocha (ADACHI et al., 1996; RICHARD et al., 1998; SCHEI et al., 2000). Tomando o somatório das forças em relação às direções horizontal (s) e vertical (n) (7 : = 78: + 79: e 7 1 = 781 + 791 ), e utilizando as equações (3.1) e (3.2) temos: 29 7 : = ?1 − I_@'* + I7 1 (3.3) A equação (3.3) representa uma restrição na resposta do cortador, de forma que as grandezas ?7 : , 7 1 , @ não são independentes e devem satisfazer tal restrição. Pela equação (3.3) define-se o plano no espaço ?7 : , 7 1 , @ que representa o estado de respostas admissíveis para um determinado cortador e rocha, independente do nível de desgaste (Figura 3.2). Figura 3.2 – Espado das respostas admissíveis para modelo de interação cortador-rocha (ADACHI et al., 1996). No entanto esta restrição pode assumir uma representação geométrica ainda mais simples, sendo caracterizada por uma equação de reta, compondo o chamado diagrama ℰ– (Figura 3.3). ℰ = ℰ2 + I (3.4) Tal relação é obtida pela divisão da equação (3.3) pela área de corte *, onde ℰ = 7 : /* representa a energia específica, definido por: = 7 1 /* representa a resistência à perfuração e ℰ2 é ℰ2 = ?1 − I_@' (3.5) É importante destacar que a energia específica ℰ é a energia necessária para cortar um volume unitário de rocha, independente da dissipação por atrito. Enquanto que ' está relacionado exclusivamente ao processo de corte. Para cortadores afiados temos que ℰ='e = _'. 30 ℰ Linha de corte Linha de atrito ℰ2 Ponto de corte Figura 3.3 – Diagrama ℰ– No diagrama ℰ– para modelo de único cortador (ADACHI et al., 1996). apresentado na Figura 3.3, toda a resposta decorrente de um cortador afiado colapsa para o chamado ponto de corte (cutting point), enquanto que para cortadores cegos esta resposta é distribuída ao longo da chamada linha de atrito (friction line). Desta forma a região delimitada entre o ponto de corte e a linha de atrito representa a gama de respostas admissíveis do problema. Define-se também a magnitude da tensão normal S atuante na área desgastada do cortador através da expressão: 791 S= *9 (3.6) onde *9 = F\ representa área desgastada abaixo do cortado. Evidências experimentais apontam que, mantido o contato entre a área de desgaste e a rocha, a tensão normal S é aproximadamente constante e sua magnitude é da mesma ordem de ' (ADACHI et al., 1996). 3.1.2. Generalização do modelo para broca PDC As relações de interação broca-rocha são obtidas através de uma generalização do modelo de único cortador, onde o peso sobre broca ] e o torque T são divididos em duas parcelas desacopladas de corte e de atrito. ] = ]8 + ]9 (3.7) T = T8 + T9 (3.8) As componentes de corte ]8 , T8 correspondem ao balanço de forças e momentos transmitidos pela face de cada cortador, enquanto que o par ]9 , T9 representam as 31 componentes de dissipação por atrito devido ao contato entre a área desgastada dos cortadores e a rocha. Para o cálculo dessas componentes, a estrutura de corte da broca é abstraída a uma sequência equivalente de arestas de corte (Figura 3.4) e as forças de reação são calculadas pela integração das componentes de tensão agindo ao longo do perfil de cada lâmina. Para isto, consideram-se as hipóteses de que as parcelas de corte são proporcionais à área de corte e que a face de corte é ortogonal à área de desgaste (chanfro). Figura 3.4 – Representação da aresta e área de corte. Adaptado de BESSON et al. (2000) e GERMAY (2002). Desta forma, as parcelas T8 e ]8 podem ser deduzidas para um elemento infinitesimal *, situado a uma distância N do centro da broca de raio ) e espessura F1 , como segue: T8 = N 78: = N' * ]8 = 781 = _' * (3.9) (3.10) Parametrizando as equações (3.9) e (3.10) em função da coordenada radial adimensional P = N/), temos: T8 = )n P' onde 1 ?P@ ]8 = )_' 1 ?P@ 1 ?P@ P P (3.11) (3.12) é a profundidade de corte pontual ao longo da face de corte. É importante destacar que a dependência geométrica das expressões é apenas na área de corte, não sendo influenciadas pela geometria da broca (DETOURNAY e DEFOURNY, 1992; GERMAY, 2002; HOFFMANN, 2006; RICHARD et al., 2007). 32 As parcelas de atrito T9 e ]9 são funções da área de contato entre a rocha e a aresta de corte, similar à área de desgaste dos cortadores. Desta forma é mais conveniente expressarmos estas relações em termos do elemento infinitesimal Q, situado a uma distância N do centro da broca de raio ). Desta forma, temos: Figura 3.5 – Distribuição das forças de atrito ao longo do perfil da broca. T9 = N 79: = NISF1 Q (3.13) ]9 = 791 cos?,@ = SF1 cos?,@ Q (3.14) Parametrizando as equações (3.13) e (3.14) em função da coordenada radial adimensional P = N/) temos: T9 = )n P IF1 S P cos?,@ (3.15) ]9 = )F1 S P (3.16) Para uma broca genérica, possuindo uma disposição de cortadores quaisquer, as expressões dos esforços T e ] são dadas pela integração das equações (3.11), (3.12), (3.15) e (3.16), para cada lâmina r da broca. Z 1?v@ T = ) 's t P n z uwZ Z 1u 1?v@ ] = )' s t _ z uwZ Z 1?v@ ?P@ P + ) S s t P n 1u z uwZ Z IF1u ?P@ cos x,u ?P@y 1?v@ P ?P@ P + )S s t F1u ?P@ P z uwZ (3.17) (3.18) No intuito de desenvolvermos expressões analíticas para as leis de interação brocarocha, as equações (3.17) e (3.18) são particularizadas para uma broca de perfil genérico, composta por lâminas simétricas e igualmente espaçadas. Desta forma as parcelas de corte e de atrito dos esforços T, ] podem ser escritas como: 33 Aresta de corte Chanfro Figura 3.6 – Esquema de broca simétrica de 4 lâminas. Adaptado de RICHARD (2001). )n ' 1 ,]8 = )_' 1 2 )n T9 = =I F1 S,]9 = ) F1 S 2 Resultando na condição: T8 = (3.19) (3.20) 2T9 = I)=]9 (3.21) O parâmetro adimensional = é definido como uma constante da broca que caracteriza a orientação das superfícies de atrito. Essa variável engloba a influência da geometria da broca na resposta global do torque e peso sobre broca, sendo oriunda do balanço de forças e momentos. DETOURNAY e DEFOURNY (1992) demonstrou que este parâmetro é tipicamente limitado ao intervalo 1 ≤ = ≤ 4/3. A profundidade de corte combinada é definida como = 1, e a espessura de desgaste equivalente como F = F1 . Em condições de perfuração na ausência de vibrações ([ e Ω constantes), representa a profundidade de corte por revolução. Para uma condição real de perfuração, as expressões acima também se aplicam ao avaliar a média das grandezas ao longo de várias revoluções, por exemplo: 〈 〉, 〈T〉 e 〈]〉. De maneira semelhante ao desenvolvido para um único cortador, uma restrição na resposta da broca PDC é determinada pela combinação das equações (3.7), (3.8), (3.19) e (3.21). onde 2T ] = ?1 − @' + I= n ) ) 34 (3.22) = I=_ (3.23) A divisão da equação (3.22) pela profundidade de corte permite a representação geométrica desta restrição através da equação de uma reta. Da mesma forma como feito para o cortador, é possível representar as respostas admissíveis através de um diagrama ℰ − (Figura 3.7). ℰ = ℰ2 + I= (3.24) onde ℰ e são definidos como energia específica de perfuração (drilling specific energy) e resistência à perfuração (drilling strength), respectivamente. ℰ= onde 2T ] , = n ) ) (3.25) ℰ2 = ?1 − @' (3.26) Linha de atrito ℰ ℰ2 Figura 3.7 – Diagrama ℰ − Ponto de corte teórico para modelo de broca equivalente (RICHARD, 2001). Assim como no caso do cortador, ℰ representa a energia necessária para perfurar uma unidade de volume de rocha. Note que para o caso de uma broca composta por cortadores afiados, ℰ = ' e = _', caracterizando o ponto de corte no diagrama ℰ − . Na proporção em que o atrito vai se desenvolvendo (desgaste ou problemas de limpeza), mantido ] constante, os pontos que compõem a resposta da broca se deslocam para cima junto à linha de atrito. A posição relativa à linha de atrito é um indicativo da eficiência da broca 6, sendo definida como: 6= ' ℰ (3.27) 35 Entretanto, a resposta deste modelo não caracteriza totalmente a interação brocarocha, não sendo capaz de predizer os valores de torque e taxa de penetração em função do peso e rotação aplicados. No entanto, o equacionamento proporciona uma restrição às variáveis do problema (T, ], j~K, Ω), definindo um estado de respostas admissíveis. 3.2. LEI DE ATRITO EQUIVALENTE No intuito de reproduzir a modelagem clássica do problema de vibrações torcionais, o processo de destruição de rocha é simplificado à leis de atrito equivalente entre a broca e a rocha. Seguindo o desenvolvimento de trabalhos anteriores, uma lei de decaimento exponencial é utilizada para descrever o torque reativo em função das rotações da broca (DEILY et al., 1968; BELOKOBYL'SKII e PROKOPOV, 1982; LIN e WANG, 1990; PAVONE e DESPLANS, 1994; FRANCA, 2004). Com isso, escreve-se a seguinte relação: T? @ = ]? @[ 2 + 0 exp?−|J/Ω8 |@] onde ]? @ equivale ao peso sobre broca, 2 e 0 (3.28) correspondem a constantes de atrito e Ω8 é o parâmetro de decaimento. A Figura 3.8 representa a forma da curva descrita pela equação (3.28) para um conjunto particular de parâmetros. Figura 3.8 – Lei de decaimento exponencial para o conjunto de parâmetros: 2 = 1, 0 = 0,2 e Ω8 = 2. No que diz respeito ao forçamento axial do sistema, faz-se a idealização do contato broca/rocha se dar através de uma base elástica de rigidez DE (Figura 3.9). Devido ao processo natural de perfuração produzir irregularidades no perfil de fundo de poço, o 36 movimento rotacional da broca acarreta excitações axiais do sistema. A equação que se segue representa o peso sobre broca ]? @ (DIVENYI, 2009). ]? @ = ]2 + DE [Y − R2 Qƒ ? Φ@] (3.29) onde ]2 é o peso sobre broca em condições de ausência de vibrações; Y equivale ao deslocamento axial da broca;R2 é a amplitude das irregularidades de fundo de poço; é o número de aletas ou lâminas da broca;Φ é a posição angular da broca. Figura 3.9 – Representação da formação como uma base elástica. Adaptado de RICHARD (2001) e GERMAY (2002). 37 4. EQUAÇÕES DE GOVERNO Neste capítulo é apresentada a estratégia de modelagem matemática do problema de vibrações, axiais e torcionais associadas à perfuração de poços com brocas PDC. Para tal, a coluna é considerada por seus elementos mecânicos essenciais e o acoplamento entre o modo axial e o torcional é feito através das leis de interação broca-rocha. Neste sentido, será avaliada a influência dos modelos apresentados no capítulo 3: (1) modelo de corte para broca PDC (DETOURNAY e DEFOURNY, 1992; DETOURNAY et al., 2008); (2) modelo de atrito equivalente (BRETT, 1992; PAVONE e DESPLANS, 1994). 4.1. MODELAGEM DA COLUNA DE PERFURAÇÃO A descrição da coluna de perfuração é feita através de um modelo de parâmetros concentrados, considerando dois graus de liberdade (axial e torcional). Essa escolha é baseada em observações experimentais de que as vibrações do tipo stick-slip acontecem em uma frequência ligeiramente inferior ao primeiro modo natural em torção (BRETT, 1992; PAVONE e DESPLANS, 1994; RICHARD, 2001). No intuito de descrever a física do fenômeno de stick-slip de maneira realista, e utilizando o mínimo de variáveis possível, são consideradas as seguintes simplificações: • O poço e a coluna de perfuração são considerados verticais e retos; • Não existe movimento lateral da broca, que permanece centrada no eixo do poço; • O BHA é considerado como rígido em relação aos tubos de perfuração devido à sua grande rigidez; • • Desconsidera-se toda forma de atrito ao longo da coluna de perfuração; A velocidade linear [2 e a velocidade angular Ω2 são constantes e representam as condições de contorno de superfície. A Figura 4.1 representa o modelo de parâmetros concentrados, equivalente à coluna de perfuração. Um elemento rígido de massa H e momento de inércia A representa o BHA, enquanto que os tubos de perfuração são considerados flexíveis, descritos pelos coeficientes de rigidez axial e torcional D/ , D0 e pelos respectivos amortecimentos ./ e .0 . 38 A completa definição da dinâmica da broca no espaço é feita pelas quantidades ?Y, Φ@, que correspondem a seu deslocamento vertical e posição angular, sendo definidas como: 0 0 Y = s [ ,Φ = s Ω z z (4.1) onde [ e Ω representam a velocidade axial e angular da broca, respectivamente. Os forçamentos associados ao sistema são o peso sobre broca ] e o torque na broca T. Expressões para H, A, D0 , D/ podem ser facilmente deduzidas ao aproximarmos a coluna de perfuração por dois elementos tubulares ocos de seção transversal constante e densidade PB . … † n † n ]%B ,A = PB CB %B ,CB = [NB2 ] H = P…[NB2 − NBO − NBO 2 D0 = <C+ 4*+ ,D/ = %+ %+ onde: H/A: Massa/inércia do BHA; NBO /NB2 : Raio interno/externo do BHA; N+O /N+2 : Raio interno/externo dos tubos de perfuração; %B /%+ : Comprimento do BHA/tubos de perfuração; </4: Módulo de cisalhamento/elasticidade; CB /C+ : Momento polar de inércia do BHA/tubos de perfuração. *+ : Área de seção transversal dos tubos de perfuração. 39 (4.2) (4.3) H, A Figura 4.1 – Modelo discreto da coluna de perfuração. Adaptado de NANDAKUMAR e WIERCIGROCH (2013). A Tabela 4.1 apresenta valores típicos para os raios, massa específica, módulo de elasticidade e módulo de cisalhamento. Tabela 4.1 – Dimensões típicas, módulo de cisalhamento/elasticidade e densidade dos tubos de perfuração e BHA. N+O [ i] 2,5 – 7,5 N+2 [ i] 6,4 – 8,4 NBO [ i] 1,9 – 3,8 NB2 [ i] 4,3 – 12,7 <[<K)] 77 4[<K)] 200 PB [a;/il ] 8000 4.2. EQUAÇÕES DE MOVIMENTO As deduções das equações de movimento apresentada nesta seção são baseadas nos trabalhos de RICHARD (2001), GERMAY (2002), RICHARD et al. (2007) e NANDAKUMAR e WIERCIGROCH (2013). Partindo do modelo discreto de coluna apresentado na Figura 4.1, os graus de liberdade axial e torcional são avaliados e seu acoplamento é realizado através da interação broca-rocha. As condições de contorno em superfície são equivalentes à velocidade angular Ω2 e linear [2 , ambas constantes. Para o final da coluna (broca), estas condições de contorno representam as equações de peso sobre broca ] e torque na broca T, que são funções dos modos de interação com rocha. 40 No intuito de aglutinar as variáveis relevantes à modelagem das vibrações na broca, o conjunto ℛ? @ = ˆ]? @, T? @, [? @, Ω? @‰ é definido como resposta da broca. 4.2.1. Conservação da quantidade de movimento Para descrição da equação de governo do problema axial, é realizado o balanço da quantidade de movimento linear da estrutura. Para tal, utiliza-se o sistema de referência em relação a estrutura indeformada pela ação do peso próprio. HYZŠ + ./ YZ‹ + D/ ?YZ − [2 @ = H; − ] (4.4) Em um cenário sob ausência de vibrações é possível escrever YZ = [2 + Δ. Nestas condições, o deslocamento devido a ação do peso próprio e forças dissipativas, pode ser escrito como: Δ = ?H; − ]2 − ./ [2 @/D/ (4.5) Dado que a adição de um termo constante à solução do problema não é de muita consequência para a dinâmica do sistema e que este parâmetro surge dada uma escolha particupar de referência, avalia-se a equação (4.4) em relação a variável Y = YZ − Δ, definindo-se a equação de movimento axial do problema. HYŠ + ./ Y‹ + D/ ?Y − [2 @ = ?]2 + ./ [2 @ − ] (4.6) No caso da equação de governo do problema torcional, faz-se a conservação da quantidade de movimento angular da estrutura, resultado na seguinte equação de movimento: AΦŠ + .0 Φ‹ + D0 ?Φ − Ω2 @ = −T (4.7) Solução de referência: Visando a escrita das equações de movimento em uma forma perturbada, adota-se o cenário onde não existem vibrações no sistema como solução de referência, de forma que o conjunto de solução é expresso pela resposta trivial ℛ2 = ˆ]2 , T2 , [2 , Ω• ‰. Nestas condições os deslocamentos Y e Φ são descritos por: Y2 = [2 (4.8) Φ • = Ω• + Φ : (4.9) onde Φ: representa o ângulo de equilíbrio, gerado pelo torque de fundo T2 , entre a broca e o topo da coluna. Impondo tais condições às equações de movimento (4.6) e (4.7), temos: 41 Φ: = −?T2 + .0 Ω2 @/D0 (4.10) Para a condição de referência, a profundidade de corte instantânea é equivalente à profundidade de corte por revolução, sendo relacionado à taxa de penetração pela seguinte equação: 2 = 2π[2 /Ω2 (4.11) As expressões para T2 e ]2 devem ser avaliadas mediante o modelo de interação broca rocha utilizado, particularizando as expressões de T e ] de acordo com as restrições impostas pelo conjunto solução ℛ2 . Forma perturbada das equações de movimento: Uma forma conveniente para reescrever as equações de movimento é perturbando-as em torno da solução trivial ℛ2 . Y? @ = Y2 ? @ + ^? @ Φ?t@ = Φ2 ? @ + L? @ (4.12) (4.13) Desta forma, utilizando as definições acima nas equações (4.6) e (4.7), obtém-se a forma perturbada das equações de movimento. H^Š + ./ ^‹ + D/ ^ = ]2 − ] ALŠ + .0 L‹ + D0 L = T2 − T (4.14) (4.15) Para a continuidade do desenvolvimento da formulação, faz-se necessário a explicitação de um modelo de interação broca-rocha. Desta forma, é apresentado nas seções que se seguem a particularização das equações e a estratégia de solução para os modelos de interação descritos nas seções 3.1 e 3.2. 4.3. MODELO DE CORTE PARA BROCA PDC Para o modelo de broca equivalente considerado neste trabalho, a estrutura de corte é idealizada por um sistema composto por lâminas, igualmente espaçadas e de raio ) (Figura 4.2). Cada lâmina é caracterizada por uma superfície de corte e um chanfro (área de desgaste) de espessura F1 constante, ortogonal à face da lâmina. 42 Figura 4.2 – Representação de duas lâminas sucessivas. A intersecção entre a rocha e a face de corte na lâmina 2, equivale a área escura na figura e sua espessura representa a profundidade de corte 1 (RICHARD, 2001). Partindo da hipótese de que durante a perfuração a broca está restrita de qualquer dinâmica lateral, a profundidade de corte instantânea 1 é igual para cada lâmina e constante ao longo da mesma (RICHARD, 2001; GERMAY, 2002; RICHARD et al., 2007; NANDAKUMAR e WIERCIGROCH, 2013). Desta forma onde 1? 1? @ = Y? @ − Y? − 1@ 1 pode ser escrito como: (4.16) @ é o tempo necessário para a broca girar um ângulo de 2…/ até atingir sua posição no tempo . O tempo 1? sendo solução da seguinte equação: @ é definido como defasagem do sistema (delay), Φ? @ − Φ? − 1@ = 2…/ (4.17) A profundidade de corte por revolução é escrita como: ? @ = [Y? @ − Y? − 1 @] (4.18) Na ausência de vibrações torcionais, a broca gira com velocidade angular Ω2 , de forma que a solução da equação (4.17) equivale a 12 = 2…/ Ω2 . No entanto, na presença de vibrações torcionais, o cálculo da defasagem depende da evolução da dinâmica do sistema, sendo função do histórico da solução nos últimos 2…/ radianos. Esta característica da defasagem (dependente do histórico) torna a análise do sistema um tanto complexa. Quando as equações diferenciais de um determinado problema apresentam uma dependência na solução para um tempo anterior, elas são denominadas equações 43 diferencias com atraso temporal, representando uma área de intensa pesquisa em matemática e engenharia (STÉPAN, 1989; ERNEUX, 2009). Para o problema em questão, o atraso temporal não é constante e varia ao longo do tempo, de forma que o sistema é classificado como equações diferencias com atraso temporal dependentes do estado. Outro fator complicador na solução deste problema advém do fato de que os forçamentos T e ] possuem características descontínuas. A Tabela 4.2 resume os forçamentos em função dos modos de interação entre broca e rocha. Tabela 4.2 – Resumo dos modos de interação. Adaptado de HOFFMANN (2006). Perfurando J > 0, >0 Rotação reversa Ω < 0, >0 Sticking Bit-bouncing Ω = 0, >0 <0 [>0 [≤0 [=0 ] = ]8 + ]9 T = T8 + T9 ] = ]8 T = T8 ] = ]9 T = −T9 ] = ]U T = TU T=]=0 Tais descontinuidades ocorrem em função da existênca de atrito seco abaixo dos cortadores e pelo desacoplamento dos esforços em uma parcela de corte e outra de atrito. As parcelas ? @U representam os esforços no momento em que a broca para, atingindo a condição de stick. Neste cenário, assume-se o pleno contato entre a base dos cortadores e a rocha. A Figura 4.3 ilustra o processo de perda de contato abaixo do cortador, o que resulta na não contabilização das parcelas de atrito nos esforços. Figura 4.3 – Ilustração da perda de contato entre a base do cortador e a rocha (RICHARD, 2001). 44 De uma maneira geral, os esforços T e ] podem ser expressos por uma única equação, fazendo uso das funções degrau -?#@ e sinal Q; ?#@ (NANDAKUMAR e WIERCIGROCH, 2013). onde: ] = ]8 -? @-?Ω@ + ]9 -? @-?[@ (4.19) T = T8 -? @-?Ω@ + Q; ?Ω@T9 -? @-?[@ (4.20) 1,# > 0 1,# ≥ 0 -?#@ = ‘ Q; ?#@ = “ 0,# = 0 0,# < 0 −1,# < 0 (4.21) As expressões para as parcelas de corte e de atrito dos esforços, apresentadas na seção 3.1.2, são reescritas a seguir considerando a profundidade instantânea de corte por revolução ? @ e o comprimento total de desgaste da broca F. )n T8 = ' ,]8 = )_' 2 )n T9 = =ISF,]9 = )SF 2 (4.22) (4.23) Para a completa caracterização do sistema dinâmico composto pelas equações (4.14), (4.15), (4.17) e (4.18), faz-se necessário a definição de 14 parâmetros independentes relembrados na Tabela 4.3. Tabela 4.3 – Parâmetros do sistema dimensional. Parâmetro Massa Inércia Rigidez axial Rigidez torcional Amortecimento axial Amortecimento torcional Número de lâminas Variável H A D/ D0 ./ .0 Parâmetro Variável Raio da broca ) Geometria da broca = Comprimento desgastado F Energia intrínseca específica ' Resistência de contato S Coeficiente de atrito I Coeficiente do cortador _ 4.3.1. Adimensionalização do sistema O número de parâmetros utilizado no modelo pode ser reduzido ao mínimo pela formulação do problema de maneira adimensional. Para tal, são definidas as variáveis de referência temporal e axial (RICHARD, 2001): ∗ = ”A/D0 ,%∗ = 2D0 /')n 45 (4.24) onde a frequência natural em torção do sistema equivale a 1/2… ∗ , enquanto que %∗ corresponde à profundidade de corte resultante do giro de 1 radiano, em condições de ausência de vibrações e utilizando uma broca afiada (F = 0). A forma adimensional das equações de movimento é escrita a seguir: # •• + 2 #• + n # = "? − 2 L •• + 2 L • + L = (2 − ( @ (4.25) (4.26) Com as seguintes definições: #=—, =—, – ˜ ∗ ∗ =0, $= 0 ∗ ™0∗ —∗ , = Ω ∗, = /›œ— , š ∗ (=ž • Ÿ (4.27) Em relação às variáveis # e L, as velocidades angulares e lineares podem ser expressas por = 2 + L • e $ = $2 + # • . Onde o operador ? @′ equivale à derivada em relação ao tempo adimensional = / ∗ . Além disso, os 14 parâmetros do sistema dimensional são reduzidos a 6 parâmetros adimensionais (Tabela 4.3) (GERMAY, 2002; NANDAKUMAR e WIERCIGROCH, 2013). "= ›/œ£ ¤žŸ , = = I=_, ¥¦ n”ž¦ ¤ , = ›œ— ¡¢ ∗ (4.28) = § ¦ ¨§ Ÿ , ž ¤ ž £ = ¥Ÿ n”žŸ £ (4.29) Tabela 4.4 – Parâmetros do sistema adimensional. Parâmetro Variável Influência da geometria da broca Influência do desgaste dos cortadores Influência da rocha e da coluna " Relação entre frequências naturais Influência do amortecimento axial Influência do amortecimento torcional As parcelas de corte e de atrito dos forçamentos 9 8 = (8 = δ = , e ( são apresentados a seguir. (4.30) (9 = (4.31) Enquanto que as equações para o cálculo da profundidade de corte e da defasagem são descritas como: 46 ? @ = [$2 2 1 1 + #? @ − #? − + L? @ − L? − 1@ 1 @] (4.32) = 2…/ (4.33) Desta forma o sistema é completamente caracterizado pela solução das equações (4.25), (4.26), (4.32) e (4.33). 4.3.2. Critérios de stick-slip e rotação reversa Nesta seção são estabelecidos os critérios que caracterizam o stick-slip e a rotação reversa. O fenômeno de stick está associado à momentânea parada da broca no fundo do poço, ω? U @ = 0. Assume-se que durante estes eventos existe contato entre a área de desgaste dos cortadores e a rocha. O fenômeno de stick-slip pode ocorrer em duas situações: (a) broca está girando no sentido positivo e cortando rocha; (b) broca girando no sentido negativo e dissipando energia por atrito apenas. Para identificar a condição de stick, a equação diferencial do problema é avaliada para a broca desacelerando e posteriormente acelerando no sentido reverso, sendo possível relacionar L? @ com os forçamentos de fundo na condição de parada. • ω? < U@ > 0: Avaliando a equação de movimento imediatamente antes e depois que a velocidade angular da broca é nula ( a rotação do sistema é no sentido reverso temos: L •• + 2 L • + L = (2 − (8 − (9 , = L •• + 2 L • + L = (2 + (9 , = W V W U , U ) e assumindo que em U V U (4.34) W U (4.35) Nos dois cenários descritos L •• < 0 e para o que sistema continue a acelerar no sentido reverso, é necessário que: 2 L • + L ≥ (2 + (9 (4.36) Caso contrário a broca para, caracterizando o stick. Neste caso, o topo da coluna continua girando a uma velocidade ω2 e energia de deformação elástica é armazenada na coluna até que esta possa superar o torque reativo de fundo. Desta forma a broca entra na fase de slip no tempo L« + ¬ ≤ (2 − (U + 2 47 2 + quando: (4.37) • ω? < U@ < 0: De maneira semelhante é avaliado o critério de stick quando a broca gira em sentido reverso. Desta forma, a condição necessária para a broca parar e o tempo de slip equivalem a: 2 L • + L ≥ (2 − (9 L« + ¬ ≤ (2 − (U + 2 (4.38) 2 (4.39) Observa-se a mesma condição de slip para os dois casos apresentados, no entato o valor de (U depende do sentido em que a broca está girando. onde V (U = ? U @ + Q; ? equivale a ω? = V U @. V@ (4.40) Para maiores detalhes na dedução apresentada nesta seção consutlar GERMAY (2002). 4.3.3. Condições iniciais Devido ao problema ser representado por um sistema de equações diferenciais com atraso temporal, a caracterização das condições iniciais do problema é um tanto diferente da realizada para de sistemas de equações ordinárias. Em função das equações serem escritas em relação à defasagem 1, a solução no tempo, de um sistema de DDEs não é unicamente determinada por uma condição inicial (instante específico), fazendose necessário a definição de uma função de solução inicial escrita num intervalo com comprimento igual a defasagem (ERNEUX, 2009). Em decorrência desta definição, é possível definir três regiões temporais com características peculiaridades conforme apresentado na Figura 4.4. 43~ 334 Figura 4.4 – Regiões temporais de solução. 48 A primeira região é definida pela solução inicial do problema, para o trabalho em questão esta é considerada a solução trivial do sistema (RICHARD, 2001). Devido a essa condição resultar na ausência de vibrações, a defasagem do sistema é constante e igual a 12 = 2…/ intervalo entre 2. Por conveniência a prescrição da solução inicial é adotada para o =− 12 = 0. A segunda região é em decorrência do histórico das e soluções # e L, para um tempo < 0, serem nulas. Tal condição simplifica bastante as equações (4.32) e (4.33), referentes ao cálculo da profundidade de corte e defasagem, respectivamente. ? @= 1 2 = + -#? @ − $2 2 L? @® 1 2… - − L? @® 2 Esta região é definida pelo intervalo entre = 0 e = (4.41) (4.42) ∗ , onde ∗ representa o tempo referente a um giro de 2…/ radianos da broca. Note que nesta região o sistema perde a dependência da defasagem e passa a se comportar como um sistema de EDOs, além disso, a equação para o cálculo da defasagem pode ser diretamente explicitada. A transição entre a primeira e a segundo região é decorrente da perturbação da solução inicial. Para tal, será seguida a abordagem apresentada por NANDAKUMAR e WIERCIGROCH (2013), onde é utilizado o parâmetro ¯ para perturbação da velocidade angular, tal que: Y?0W @ = 0,Y‹?0W @ = [2 (4.43) Φ?0W @ = Φ• ,Φ‹?0W @ = ¯Ω2 (4.44) Em coordenadas adimensionais tais condições resultam em: #?0W @ = 0,#‹ ?0W @ = 0 L?0W @ = 0,L‹?0W @ = ?¯ − 1@ (4.45) 2 (4.46) A terceira região resulta do procedimento completo de solução do sistema de DDEs e é referente ao intervalo entre = ∗ e o tempo total da análise. Tal procedimento será apresentado em detalhes na seção seguinte. 49 4.3.4. Procedimento de solução Adota-se por estratégia a divisão do problema em três etapas (Figura 4.5): (1) Descrição das condições de contorno de superfície, referentes à mesa rotativa e a posição do guincho; (2) Vetorização do modelo de dois graus de liberdade e solução do sistema de equações; (3) Cálculo dos forçamentos na broca segundo as leis de interação brocarocha. 2? (U ? @, U? @, $2 ? @ @ #UVZ ? @, LUVZ ? @ Figura 4.5 - Estratégia de solução do problema. A princípio, o conjunto solução do sistema ℛ pode ser determinado através das equações diferenciais (4.25) e (4.26), associadas às relações de interação broca-rocha (4.30) e (4.31). No entanto, para caracterizar os forçamentos ( e é necessário determinar a profundidade de corte ? @. Essa variável é um grande complicador para a solução do problema, pois como definida pela equação (4.32), é função do histórico da solução para um tempo − 1? 1? @, a priori desconhecido. A estimativa da defasagem @ é feita de maneira iterativa até que a equação (4.33) seja satisfeita. Desta forma, no intuito de determinar ? @ e 1? @, é necessário conhecer o histórico da posição angular e axial da broca nos últimos 2…/ radianos anteriores ao tempo . Além disso, é necessário avaliar a velocidade axial no tempo − Δ para identificar possíveis perdas de contato, onde Δ é o incremento de tempo. Determinada as variáveis ?#, # • , L, L • @ para um tempo , a solução é calculada para o próximo tempo + Δ , utilizando o algoritmo de Runge Kutta de 4ª ordem ou algoritmo de Euler de 1ª ordem. A Figura 4.6 apresenta o algoritmo da solução. 50 Figura 4.6 – Algoritmo de solução do modelo. 4.4. MODELO DE ATRITO EQUIVALENTE De maneira análoga ao apresentado na seção anterior, são utilizadas as relações interação broca-rocha propostas por DETOURNAY e DEFOURNY (1992) e DETOURNAY et al. (2008). No entanto, o modelo é adaptado de forma a incorporar o forçamento axial e a lei de decaimento exponencial descritos na seção 3.2. Para o caso referente à ], temos: ] = ]2 + DE [^ − R2 Qƒ ? Φ@] ] = ]8 + ]9 ] = )_' + )SF (4.47) Utilizando os parâmetros de referência definidos na seção 4.3.1, = e assumindo DE = ,D/ , = = 2 + DE ^ R2 - − Qƒ ? Φ@® )_' %∗ %∗ , n [# − Q2 Qƒ ? Φ@] 2+ " + é possível determinar a profundidade de corte ? @. 51 (4.48) (4.49) = 2+ , n [# − Q2 Qƒ ? Φ@] " (4.50) Utilizando a mesma metodologia, o torque na broca pode ser escrito como: ( = -? @ + Q; ? @ -?$@ (4.51) Para o desenvolvimento de vibrações do tipo stick-slip, faz-se necessário a introdução de um termo de decaimento em função da velocidade angular. Desta forma, idealizando um atrito equivalente, a equação (4.51) é reescrita como se segue: ( = ?-? @ + Q; ? @-?$@ 0, 2 onde @[ 2 + 0 exp?−| / são parâmetros adimensionais de atrito e 8 8 |@] (4.52) representa uma velocidade característica de decaimento. O torque em condições de ausência de vibrações é expresso por: (2 = ? + @[ #• + n 2 2 + 0 2 / 8 |@] (4.53) − Q2 sen? Φ@] (4.54) exp?−| Resumindo, o modelo é governado pelas seguintes equações diferenciais: # •• + 2 # = −, n [# L •• + 2 L • + L = (2 − (?L • , $@ (4.55) Note que a equação (4.55) apresenta características não suaves em seu lado direto, decorentes da definição de ( pela equação (4.52), podendo ser escrita da seguinte forma. L + 2 L + L − (2 = •• • ²́−? + -?$@ ³ ²-?$@ ± µ 2 @µ + 0¶ 2 V· + 0¶ V· ¸ · ¸¹ º , ¸ · ¸¹ º , >0 <0 (4.56) A dinâmica de colunas de perfuração descritas a partir do modelo de atrito equivalente é governada por equações diferenciais ordinárias, não lineares. O procedimento de solução utilizado é baseado no algoritmo de Runge Kutta de 4ª ordem. 52 5. RESULTADOS Neste capítulo são apresentados os resultados dos modelos para diversos cenários de estudo. Uma análise comparativa entre os modelos é realizada no intuito de identificar a influência dos modelos broca-rocha no comportamento dinâmico do sistema. 5.1. MODELO DE CORTE PARA BROCA PDC Nesta seção apresenta-se uma análise paramétrica do modelo proposto por NANDAKUMAR e WIERCIGROCH (2013). A validação dos resultados é feita através de uma comparação com a formulação proposta por RICHARD (2001) e RICHARD et al. (2007). 5.1.1. Validação do modelo A validação da formulação foi realizada através da comparação de resultados numéricos obtidos por RICHARD (2001) e RICHARD et al. (2007). Por brevidade, serão mostrados apenas os resultados referentes ao trabalho de RICHARD (2001). Devidos aos trabalhos citados não levarem em consideração a rigidez axial da coluna, nem os amortecimentos do sistema, para tornar as simulações equivalentes, os parâmetros , e são assumidos iguais a zero. Figura 5.1 – Modelo discreto da coluna (RICHARD, 2001). A Tabela 5.1 apresenta os parâmetros utilizados nas simulações. Admite-se um caso onde um padrão de vibrações torcionais do tipo stick-slip se desenvolve. 53 2 4,064 2 7,336 Tabela 5.1 – Parâmetros utilizados do modelo. ¯ 1,3 a 0 0 0 " 63,3 0,276 0,9 6 Todos os resultados apresentados são obtidos utilizando o método de solução de Euler de primeira ordem, idêntico ao utilizado pelo autor de referência e com passo de integração 1E-4. Pela análise da velocidade angular ? @, observa-se a evolução das vibrações torcionais até o desenvolvimento de um padrão de vibrações do tipo stick-slip (Figura 5.2). Além disso, é obtida uma boa correspondência entre os resultados simulados (azul) e os obtidos por RICHARD (2001) (preto). Figura 5.2 – Velocidade angular: (Azul) Modelo presente e (Preto) (RICHARD, 2001). A Figura 5.3 compara a profundidade de corte ? @ e a velocidade angular ? @ em uma região de stick-slip. Figura 5.3 – Profundidade de corte e velocidade angular: (a) Modelo presente e (b) (RICHARD, 2001). 54 Resposta média do sistema: Um dos resultados mais importantes publicados por RICHARD (2001) está na avaliação do comportamento médio do sistema, avaliado ao longo de alguns ciclos limites em torção. Desta forma, importantes características são observadas. Uma média ponderada no tempo, das variáveis de resposta do sistema é calculada de acordo com a equação abaixo: 1 〈$)N〉 = »1˜ − ¾VZ $)NO + $)NOWZ t¼ ½? 2 Z OwZ OWZ − O@ (5.1) Para o exemplo em questão, são utilizados os parâmetros definidos na Tabela 5.2 e é avaliada a média das variáveis para 8 rotações de fundo ?ΔΦ = 16…@. A velocidade angular é incrementada em cada análise. As simulações são feitas de forma independente, onde o resultado de uma etapa anterior não influencia a seguinte. 2 8 Tabela 5.2 – Parâmetros utilizados para obtenção da resposta média do modelo. 2 8 − 12 ¯ 1,3 a 0 0 0 " 100 0,276 0,9 6 Pela análise da Figura 5.4, observa-se o decaimento da curva média da profundidade de corte 〈 〉 à medida que a velocidade angular 2 é incrementada. Esta redução apresenta um limitante inferior equivalente à solução na ausência de vibrações. Destaca-se a relevância deste comportamento, pois são observadas características dependentes da velocidade angular a partir de um modelo broca-rocha que desconsidera tais efeitos em sua formulação. 〈 〉 ω• Figura 5.4 – Evolução da resposta média da profundidade de corte 〈 〉 com a velocidade angular (a) Modelo presente e (b) (RICHARD, 2001). 55 2: Avaliando os termos médios dos esforços 〈 〉, 〈(〉 e da profundidade de corte 〈 〉, calcula-se o diagrama ℰ − . Para o cenário apresentado, observa-se que o aumento da eficiência da perfuração está associado à redução das rotações. ℰ = 0,276 Figura 5.5 – Diagrama ℰ – da resposta média do sistema: (a) Modelo presente e (b) (RICHARD, 2001). 5.1.2. Análise paramétrica do modelo Em situações práticas da perfuração, a vibração torcional é quantificada em termos de um índice de severidade, chamado stick-slip severity (sls), sendo um indicativo do nível de tais oscilações. Para este trabalho, o índice de severidade é definido pela equação a seguir: QFQ = 2 ¿ (5.2) 2 onde ¿ representa a máxima velocidade angular na broca ao longo de um ciclo no espaço de fase torcional e 2 representa a velocidade angular de superfície. A ocorrência do padrão de vibrações do tipo stick-slip, com a real parada da broca, é inferido indiretamente para valores de QFQ ≥ 1 (RICHARD, 2001). Em relação às vibrações axiais, é definido um índice de perda de contato entre a área abaixo do cortador e a rocha (GERMAY, 2002). onde 〈 9〉 Γ=1− 〈 9〉 (5.3) é avaliado de acordo com a equação (5.1). O intervalo de validade deste índice é de Γ = [0, 1]. O valor Γ = 0representa o pleno contato entre a base dos cortadores e a rocha. A condição crítica de Γ = 1 equivale a broca fora do fundo ao longo 56 de um ciclo em torção. Portanto, o fenômeno de bit-bounce ocorre para um valor de ΓÀ < 1, de forma que o modelo não é mais aplicado para valores acima de ΓU . Cenário de análise: Neste momento, considera-se um cenário proposto por (GERMAY et al., 2009) que consiste de um poço vertical de 1200 m de profundidade perfurado utilizando uma broca PDC. A coluna é composta por 1000 m de tubos de perfuração e por 200 m de BHA, caracterizados por: ~3+ = 5"?0,127i@, ~3B = 6"?0,152m@, A3+ = 41/4"?0,108i@ IDb =21/4"?0,057i@ (5.4) (5.5) A massa e inércia do sistema são calculadas considerando a influência dos tubos de perfuração, através das relações: H = HB + H+ , Z l A = AB + A+ Z l (5.6) Utiliza-se uma broca de 8 ½” (0,2159 m) de diâmetro, com 4 lâminas simetricamente espaçadas, possuindo um comprimento total de desgaste F = 0,034ii, representando uma broca de baixo desgaste e com parâmetro geométrico = = 1. Os parâmetros de interação broca rocha são listados a seguir: ' = 60HK), S = 60HK),_ = 0,6,μ = 0,6, = 0,36 (5.7) A Tabela 5.3 apresenta a correspondência adimensional do sistema descrito, incluindo o amortecimento torcional e axial que foi extraído de NANDAKUMAR e WIERCIGROCH (2013). 2 2 4,064 7,336 ¯ 1,3 Tabela 5.3 – Parâmetros base do modelo. a 0,01 0,01 1,58 " 13,9 Inicialmente são considerados parâmetros de controle ( 2, 0,36 2) 0,021 4 que resultem numa perfuração estável, com o nível de vibrações reduzindo ao longo do tempo. Partindo dessa condição, uma análise paramétrica é realizada para os parâmetros de controle/sistema. As demais simulações deste capítulo, a menos que mencionado o contrário, são realizadas utilizando o método de Runge Kutta de 4ª ordem para solução do sistema de 57 equações diferenciais. Um estudo de convergência foi realizado e o passo de integração de 1E-3 foi identificado como representativo do problema. Condição estável: Utilizando os parâmetros apresentados na Tabela 5.3 é avaliada a solução no tempo e os respectivos espaços de fase. Observa-se que o sistema evolui amortecendo as vibrações torcionais e axiais para um aparente regime quasi-periódico (Figura 5.6 e Figura 5.7). Pra uma situação limite, as demais variáveis aparentemente oscilam em torno da solução de referência, equivalente à ausência de vibrações. Figura 5.6 – Rotação e velocidade axial x tempo adimensional. Início E. fase Fim Início E. fase Fim Figura 5.7 – Espaço de fase torcional e axial. Nestas condições, há expectativa de que o comportamento do índice de vibrações torcionais QFQ seja decrescente (Figura 5.8). Além disso, como o sistema está progressivamente amortecendo as oscilações, a solução do problema tende à solução de referência, com QFQ aproximando-se de 0,5 e o índice de perda de contato Γ mantendo-se nulo (Figura 5.9). 58 Figura 5.8 – Redução do índice de vibrações torcionais em função do número de ciclos m. Γ Pleno contato Figura 5.9 – Índice de perda de contato Γ. Devido ao sistema estar oscilando em torno de sua solução de referência, as variáveis de resposta apresentam um comportamento aparentemente harmônico. Isto é observado na Figura 5.10 para a profundidade de corte e (. 5.11 com a história temporal dos forçamentos Figura 5.10 – Profundidade de corte e delay 59 1 e a defasagem ao longo do tempo. 1 e na Figura Figura 5.11 – Torque e peso sobre broca ao longo do tempo. Amortecimentos e rigidez axial: No intuito de comparar o padrão de resposta do modelo publicado por RICHARD (2001) e RICHARD et al., os amortecimentos e a rigidez axial são retirados do sistema. Pela análise da Figura 5.12, observa-se o comportamento oposto ao sistema original, com o crescimento das vibrações torcionais/axiais levando o sistema a um padrão do tipo stick-slip. Figura 5.12 – Rotação e velocidade axial x tempo adimensional ( = = = 0). Pela Figura 5.13 a dinâmica torcional atinge um ciclo limite, caracterizado por uma pequena fase de stick-slip. Esta constatação é verificada pela Figura 5.14, onde se obtém um valor ligeiramente maior que 1 para o sls. Pela Figura 5.12 a velocidade axial parece atingir um patamar de vibrações, no entanto pela Figura 5.13b, aparentemente está se deslocando no eixo dos deslocamentos #. Diferentemente do ocorrido no caso anterior, onde o índice de perda de contato manteve-se nulo durante toda a simulação, observa- se que ao iniciar a fase de stick-slip este atinge um patamar em torno de 0,06, indicando a perda intermitente de contato entre a base dos cortadores e a rocha. 60 Início E. fase Fim Figura 5.13 – Espaço de fase torcional e axial ( = = = 0). Stick-slip Figura 5.14 – Aumento do índice de vibrações torcionais com o número de ciclos m ( = = = 0). Stick-slip Γ Pleno contato Figura 5.15 – Índice de perda de contato Γ ( = = = 0). A Figura 5.16 apresenta o comportamento da defasagem ao longo do tempo. Como o 1 representa o tempo que uma lâmina da broca demorou a percorrer os últimos 2…/ radianos, o comportamento em regiões de stick-slip é muito característico, apresentando um grande crescimento a medida em que a broca vai parando e uma redução brusca no momento em que a broca começa a acelerar novamente. 61 1 Figura 5.16 – Comportamento da defasagem em regiões de stick-slip. Avaliando agora a influência do amortecimento torcional na resposta do modelo, é reestabelecido o valor inicial = 0,01, mantendo os demais nulos. Observa-se uma grande influência no comportamento do sistema, eliminando um padrão de vibrações do tipo stick-slip. Devido ao acoplamento do sistema, a resposta axial também é amortecida. Figura 5.17 – Rotação e velocidade axial x tempo adimensional ( = Influência da velocidade angular de superfície: A velocidade angular = 0). 2 é variada e o comportamento do sistema é monitorado pelo índice de vibrações torcionais (sls). Observa-se que para os parâmetros escolhidos do sistema, o nível de vibração torcional aumenta com as rotações 2 (Figura 5.18). Este fato é particularmente interessante, pois vai de encontro com diversos resultados da literatura, onde o aumento das rotações de superfície é reportado como ação mitigadora para as vibrações torcionais (PAVONE e DESPLANS, 1994; RICHARD, 2001; GERMAY, 2002; FRANCA, 2004). 62 Figura 5.18 – Influência da velocidade angular no índice de vibrações torcionais. Esta comparação é um indício interessante de que o aumento da velocidade angular não necessariamente garante a diminuição das vibrações torcionais, e que a análise dos demais parâmetros do sistema deve guiar a estratégia de mitigação de vibrações. Ainda será apresentado nas próximas seções, mas pode-se adiantar que este tipo de resposta não seria possível com a utilização de uma lei de interação broca-rocha do tipo “decaimento exponencial”. A Figura 5.18 representa os espaços de fase do sistema para 2 = 22, verifica-se o desenvolvimento do padrão de vibrações do tipo stick-slip para QFQ ≥ 1,0. Figura 5.19 – Espaço de fase torcional e axial ( 2 = 22). Mapa de estabilidade: Para o cenário apresentado na Tabela 5.3, são realizadas diversas simulações variando os parâmetros de controle e o índice de severidade às vibrações torcionais é calculado para cada combinação gerada entre 2 e 2. Na eventual ocorrência de bit-bounce, o índice é assumido zero e encerra-se a análise. A Figura 5.20 apresenta o mapa de severidade calculado considerando um tempo total de análise de 63 200 unidades de tempo. Deve-se observar que cada ponto do mapa representa uma simulação distinta. As regiões em vermelho representam os pontos onde QFQ ≥ 1,0, caracterizando o stick- slip. A região em azul corresponde à ocorrência de bit-bounce. Observa-se a existência de uma região bem delimitada onde a perfuração ocorre em condições estáveis. Além disso, para uma mesma condição de 2, o aumento das rotações 2 implica no aumento das vibrações torcionais, complementando os resultados apresentados na seção anterior. A Figura 5.21 é apenas uma representação tridimensional da Figura 5.20, representando a superfície de severidade às vibrações torcionais. stick-slip 2 Bit-bounce estável 2 Figura 5.20 – Mapa de severidade torcional. 64 2 2 Figura 5.21 – Superfície de severidade torcional. A Figura 5.22 apresenta um mapa do índice de perda de contato Γ. Observa-se que para as regiões onde não há ocorrência de bit-bounce e stick-slip existe o pleno contato entre os cortadores e a rocha. stick-slip 2 Bit-bounce estável 2 Figura 5.22 – Índice de perda de contato. Avaliando as curvas de torque médio 〈(〉, na intersecção do mapa de estabilidade com plano 2 = 7 (Figura 5.23), observa-se um comportamento ascendente, o que é bem distinto do esperado sob a ótica da modelagem clássica (lei de atrito equivalente), onde a característica de decaimento é condição essencial para o desenvolvimento de 65 vibrações do tipo stick-slip. Pela modelagem apresentada, mostra-se que esta característica não é essencial. 〈(〉 2 Figura 5.23 – Evolução do torque médio com as rotações ( = 0,36). Além disso, observa-se que o perfil ascendente da curva de torque médio ocorre para uma broca com < 1. Esta constatação vai de encontro com o exposto em trabalhos anteriores (RICHARD, 2001; GERMAY, 2002; RICHARD et al., 2007), onde tal condição era diretamente associada a um decaimento do torque médio e o inverso para uma broca com > 1. Em NANDAKUMAR e WIERCIGROCH (2013), a estabilidade do sistema dinâmico é quantificada através dos autovalores do sistema linearizado em torno da solução de referência. Nesse trabalho foi considerado um caso muito semelhante ao apresentado pela Tabela 5.3, diferindo apenas do parâmetro de desgaste = 0,745. A Figura 5.24 compara a solução apresentada por NANDAKUMAR e WIERCIGROCH (2013) com os mapas de severidade à vibração torcional calculados pela equação (5.2). 66 Figura 5.24 – Comparação entre a solução de NANDAKUMAR e WIERCIGROCH (2013) e mapa de severidade à vibrações torcionais ( = 0,745). Observa-se que as constatações em relação à indução de vibrações torcionais pelo aumento das rotações são contempladas pelo trabalho em questão. Além disso, é obtida uma boa correspondência entre os resultados simulados. Para as regiões imediatamente acima da curva que define a estabilidade do sistema, em preto, o índice de estabilidade não apresenta condição de stick-slip devido ao tempo total de análise estar limitado a 200 unidades de tempo. Para um tempo de simulação superior a região em vermelho tende a se aproximar da curva em preto. Na região inferior e à esquerda do gráfico, observa-se a ocorrência de uma fase de stick-slip axial (Figura 5.25 e Figura 5.26). Para facilitar a identificação, os valores de QFQ foram assumidos iguais a -1 e atribuídos à cor cinza. É importante destacar que pela metodologia apresentada por NANDAKUMAR e WIERCIGROCH (2013) é apenas possível identificar as regiões de estabilidade e instabilidade, não sendo possível aferir o tipo de vibração que desencadeia o processo de instabilidade. Avaliando a resposta do sistema apresentado na Figura 5.24 em um ponto pertencente à região em stick-slip axial ( 2 = 2,5 e ? 2 − @/2… = 0,2), observa-se o desenvolvimento de uma fase de stick-slip na velocidade axial, enquanto que às rotações de fundo mantêm um padrão uniforme de vibrações (Figura 5.25). Com o decorrer da simulação as vibrações torcionais aumentam de amplitude até que um padrão de stick-slip torcional se desenvolva simultaneamente ao axial (Figura 5.26). 67 Figura 5.25 – Ocorrência de stick-slip na fase axial ( = 0,745, 2 = 2,5 e 2 = 1,373). Figura 5.26 – Ocorrência de stick-slip na fase axial e torcional simultaneamente ( = 0,745, 2 = 2,5 e 2 = 1,373). Influência das forças de atrito: Durante a evolução da dinâmica do sistema, as parcelas de atrito 9 e (9 apresentam um papel fundamental, pois a medida que o sistema é submetido a um determinado nível de vibrações, ocorre a perda de contato de fundo do cortador (Figura 4.3), tornando os esforços e ( descontínuos. À medida que se perde contato, a energia que estava sendo dissipada por atrito é transferida ao processo de corte, aumentando a eficiência da perfuração. Pela definição utilizada para as parcelas de atrito (4.31), estas são funções da área de desgaste dos cortadores, de forma que tais efeitos são mais pronunciados em brocas com desgaste. A Figura 5.27 apresenta um mapa de estabilidade torcional do sistema, considerando um desgaste acumulado F = 4,9ii ( = 3,04). Observa-se uma considerável alteração na forma do diagrama quando comparado à Figura 5.20. A coexistência entre duas regiões de stick-slip é um interessante indício de que a estratégia de mitigação de vibrações deve depender das características do sistema, não existindo solução padrão (ex. aumento das rotações e/ou redução do peso). 68 stick-slip bit-bounce 2 estável stick-slip bit-bounce 2 Figura 5.27 – Mapa de estabilidade torcional ( = 3,04). No intuito de avaliar a influência da perda de contato, entre os cortadores e a rocha, na estabilidade torcional do sistema, a Figura 5.28 apresenta o mapa do índice Γ. Observa- se que na parte central do diagrama existe o pleno contato entre cortador e rocha, similar ao observado na Figura 5.22. Para as regiões onde ocorre o stick-slip, observa-se o crescimento de Γ. stick-slip bit-bounce 2 estável stick-slip bit-bounce 2 Figura 5.28 – Índice de perda de contato ( = 3,04). A Figura 5.29 apresenta o índice de estabilidade para a condição de 2 2 =5 e = [3, 6]. Nesta região é observado o comportamento clássico do sistema, onde o 69 aumento das rotações mitiga as vibrações torcionais. Tal resultado também é verificando pelo mapa de estabilidade torcional apresentado na Figura 5.27. Figura 5.29 – Índice de vibrações torcionais ( Avaliando a curva de torque médio 〈(〉 para a região 2 =5e 2 = 3,04). =5e 2 = [1,5, 6] (Figura 5.30), observa-se a existência de dois padrões de comportamento. À medida que a velocidade angular é incrementada, a curva de torque é ascendente até um valor crítico ∗ 2 = 2,5, onde a partir daí apresenta um comportamento clássico de decréscimo com as rotações. Ao passo que o sistema perfura em condições estáveis, onde é observado o amortecimento das vibrações, o comportamento do torque médio se mantém praticamente constante, indicando que este é dependente do nível de vibrações do sistema. 〈(〉 2 Figura 5.30 – Evolução do torque médio pelas rotações ( Avaliando o mesmo resultado na região 2 = 11 e 2 2 =5e = 3,04). = [8, 16], observa-se o mesmo comportamento descrito no cenário anterior (Figura 5.31), onde em situações de stickslip o comportamento do torque médio apresenta característica crescente. 70 〈(〉 ω• Figura 5.31 – Evolução do torque médio pelas rotações ( 2 = 11 e = 3,04). A Figura 5.32 considera o mesmo cenário, mas agora para um intervalo maior dos parâmetros de controle. Observa-se a ocorrência de eventos de bit-bounce para valores de 2 > 21. Este é um fato particularmente interessante, pois o sistema anteriormente apresentava um padrão de vibrações do tipo stick-slip que posteriormente degenerou a um evento de bit-bounce (Figura 5.33). Devido a essa transição ocorrer para um tempo longo de simulação, este evento não pode ser detectado por uma análise de estabilidade convencional (NANDAKUMAR e WIERCIGROCH, 2013). A Figura 5.33 apresenta os resultados para a profundidade de corte e a velocidade angular, considerando os parâmetros de controle 2 = 18 e 2 = 24. 71 2 ω• Figura 5.32 – Mapa de estabilidade torcional para um range estendido de parâmetros ( = 3,04). Figura 5.33 – Transição entre stick-slip e bit-bounce ( = 3,04, 2 = 18 e 2 = 24). No entanto, é importante destacar que o modelo de interação broca-rocha implementado não apresenta resultados realistas para altos pesos sobre broca. Como pode ser observado na Figura 5.33, a profundidade de corte atinge valores em torno de 80, correspondendo à parcela de corte do peso sobre broca parcela de atrito 9 8, e através do cálculo da = , observa-se que esta corresponde a apenas 3,7% da parcela de corte. De fato, esta é uma consequência do modelo broca-rocha, pois este assume 72 forças de dissipação constantes e proporcionais à resistência da rocha e ao desgaste dos cortadores apenas, não sendo influenciadas pelo peso aplicado. Influência do comprimento dos tubos de perfuração: Para avaliar a influência dos tubos de perfuração é necessária certa cautela, pois a adimensionalização realizada é função dos parâmetros %∗ e ∗, que por sua vez dependem do comprimento dos tubos de perfuração. Desta forma, a resposta adimensional do sistema fica atrelada à profundidade, dificultando bastante a comparação de resultados para diferentes comprimentos de coluna. Para evitar esse inconveniente, é necessário definir parâmetros de referência únicos %∗ e ∗, que realizam a adimensionalização do sistema para todas as profundidades. Neste caso consideraremos 1000i como profundidade de referência. O cenário avaliado é semelhante ao apresentado na seção anterior para a broca desgastada (F = 4,9ii), no entanto são avaliadas novas condições de contorno de superfície. A Tabela 5.4 apresenta o resumo dos parâmetros utilizados nas simulações. Os termos em branco da tabela indicam que não há alteração deste valor em relação à primeira linha. Tabela 5.4 – Parâmetros do modelo variando o comprimento dos tubos de perfuração %+ . %+ [i] 500 1000 1500 2000 2500 3000 ]2 Ω2 2 [aFb ] [N&i] 15 100 6,39 2 3,67 a 0,008 0,010 0,011 0,012 0,013 0,014 0,008 0,010 0,011 0,012 0,013 0,014 " 1,580 1,584 1,587 1,590 1,592 1,594 6,90 13,90 20,90 27,95 35,03 42,13 3,04 0,36 4 A Figura 5.34 apresenta a evolução do espaço de fase torcional em função do comprimento dos tubos de perfuração. 73 Figura 5.34 – Variação do espaço de fase ao longo da profundidade. Observa-se que para baixas profundidades, o sistema apresenta resposta periódica de período 1. À medida que o comprimento da coluna aumenta, a amplitude da resposta cresce até que a resposta degenere à um padrão do tipo stick-slip. Para o valor de 3000i o sistema apresenta bit-bounce, e por limitação do modelo implementado o espaço de fase é computado apenas até o momento onde a broca perde pleno contato com rocha ( < 0). Este padrão de resposta é condizente com o observado em campo, onde o fenômeno de stick-slip é mais pronunciado em grandes profundidades. Influência da resistência compressiva da rocha: Utilizando metodologia empregada para avaliar a influência do comprimento dos tubos de perfuração na dinâmica do sistema, define-se uma resistência de referência para a rocha, ' ∗ = 60HK). Desta forma são calculados os parâmetros de referência únicos do sistema, %∗ e ∗. Para as simulações o cenário de referência corresponde à condição de broca desgastada (F = 4,9ii). 74 Tabela 5.5 – Parâmetros do modelo variando a resistência da rocha '. ' ]2 [HK)] [aFb ] 60 15 80 100 Ω2 [N&i] 100 2 2 6,39 3,67 a 0,010 0,010 " 1,584 13,90 18,50 23,12 3,04 0,36 4 A Figura 5.34 apresenta a evolução do espaço de fase torcional em função da resistência compressiva da rocha. Figura 5.35 – Variação do espaço de fase em função da resistência da rocha. Baseado na Figura 5.35, observa-se que para as condições simuladas, o nível de vibrações torcionais aumenta com a resistência da rocha, sendo condizente com relatos experimentais. Influência de Ç: Partindo do caso equivalente à broca desgastada e considerando um peso 2 = 8, avalia-se a influência do parâmetro " na estabilidade do sistema. Ao analisar o comportamento do índice de severidade na Figura 5.27, para 2 = 8, este deve ser reproduzido na Figura 5.36, para a condição de " = 13,9. A interpretação da Figura 5.36 indica que para o cenário avaliado, tanto o aumento das rotações quanto a diminuição de " podem mitigar vibrações torcionais. No entanto esta constatação vale para pequenas regiões do mapa apresentado, sendo que em sua maior parte a estratégia seria contrária. É importante destacar que esta conclusão é para uma variação de " independente dos demais parâmetros do sistema. O caso apresentado anteriormente para a variação do comprimento dos tubos de perfuração é um exemplo de que a variação direta de " não representa o aumento do comprimento da coluna apenas, pois as demais variáveis do sistema necessitariam ser alteradas. 75 " ω• Figura 5.36 – Influência de " na estabilidade do sistema ( = 3,04, 2 = 8). Diagrama de bifurcação: Para um conjunto específico de parâmetros apresentados na Tabela 5.6 avalia-se o comportamento global do sistema a partir do diagrama de bifurcação em relação ao parâmetro 2. Os diagramas de bifurcação relacionam uma dada variável do sistema com um de seus parâmetros. Tais parâmetros são incrementados de forma quasi-estática e a variável avaliada é extraída da respectiva seção de Poincaré. Devido ao sistema ser auto-excitado, as seções de Poincaré torcionais e axiais foram construídas considerando a interseção do sistema com plano L = 0 e # • = 0, respectivamente. Devido à grande quantidade de simulações envolvidas para computar os diagramas de bifurcação, foi realizada uma análise de sensibilidade do método de integração e decidiu-se pela utilização do método de Euler de 1ª ordem com passo de integração de 1E-3. ]2 7 − 8,2 2 6 ^ 1,3 Tabela 5.6 – Parâmetros base do modelo. a 0,01 0,01 1,58 " 4,5 0,36 0,021 4 A Figura 5.37 e a Figura 5.38 representam os diagramas de bifurcação axial e torcional. Para o intervalo analisado, observa-se um comportamento periódico do sistema até um determinado valor crítico 2 = 8,07, onde a profundidade de corte é menor que zero, caracterizando o fenômeno de bit-bounce. O modelo apresentado neste trabalho descreve o processo de corte de rocha, não sendo capaz de avaliar o fenômeno de 76 impacto entre a broca e a formação. Desta forma a região de bit-bounce é marcada por uma tarja cinza. Bit-bounce 2 Figura 5.37 – Diagrama de bifurcação axial ( # 2 ). ω Bit-bounce 2 Figura 5.38 – Diagrama de bifurcação torcional ( # 2 ). A Figura 5.39 destaca os espaços de fase e seções de Poincaré para 2 = 7,6. Nesta condição observa-se que a dinâmica torcional apresenta uma resposta de período 2, com a ocorrência de rotação reversa da broca e fase bem definida de stick. Para o caso axial, verifica-se pela Figura 5.39b uma resposta de período 2. A Figura 5.40 apresenta o espaço de fase em relação à profundidade de corte . 77 Figura 5.39 – Espaço de fase torcional e axial ( Figura 5.40 – Espaço de fase #$ ( 78 2 = 7,6). 2 =7,6). 5.2. MODELO DE ATRITO EQUIVALENTE Este item investiga a dinâmica da coluna de perfuração considerando o modelo de atrito equivalente. Considera-se o mesmo cenário base utilizado na seção 5.1 (Tabela 5.7), no entanto, alguns parâmetros novos necessitam ser definidos em função do modelo broca-rocha escolhido (Tabela 5.8). É importante destacar que a definição destes parâmetros adicionais não advém de nenhuma equivalência matemática. Desta forma não há garantia de que as respostas comparadas entre os modelos convirjam de uma forma quantitativa. Portanto, tem-se interesse em uma análise qualitativa da resposta do sistema. 2 4,064 2 7,336 ¯ 1,3 Tabela 5.7 – Parâmetros base do modelo. a 0,01 0,01 1,58 " 13,9 0,36 Tabela 5.8 – Parâmetros extras para definição dos forçamentos ( e 2 1,0 0 0,2 8 2,0 Q2 0,01 , 3 0,021 . 4 Utilizando os parâmetros inicialmente propostos na seção 5.1, obtém-se uma reposta estável do sistema, ver Figura 5.41. A Pela análise dos espaços de fase do sistema na Figura 5.42, observa-se uma aparente correspondência entre as respostas dos modelos, com resultados na mesma ordem de grandeza. Figura 5.41 – Amortecimento retratado pela história no tempo da rotação e velocidade axial. 79 Figura 5.42 – Espaço de fase torcional e axial: (Topo) Modelo de atrito equivalente. (Base) Modelo de corte para brocas PDC. A Figura 5.43 apresenta a evolução do índice de vibrações torcionais ao longo dos i ciclos. De maneira similar ao modelo de corte, obtém-se uma resposta em regime quasiperiódico. Figura 5.43 – Índice de vibrações torcionais x número de ciclos m. Influência da velocidade angular de superfície: Como é de se esperar para um modelo de interação do tipo decaimento exponencial, o aumento das rotações sempre gera uma 80 redução nas vibrações torcionais. Pela comparação entre a Figura 5.44 e a Figura 5.18, observa-se que para um mesmo sistema, ocorre uma inversão no padrão de resposta mediante a escolha do modelo broca-rocha. Figura 5.44 – Influência da velocidade angular no sls. A Figura 5.45 representa os espaços de fase do sistema para 2 = 4. Verifica-se o desenvolvimento do padrão de vibrações do tipo stick-slip para QFQ ≥ 1,0. Figura 5.45 – Espaço de fase torcional e axial ( 2 = 4). Mapa de estabilidade: Utilizando a mesma estratégia adotada na seção 5.1.2, o mapa de estabilidade é gerado para o cenário apresentado na Tabela 5.7. A Figura 5.46 mostra a existência de apenas uma tendência para mitigação de vibrações, mediante a redução de peso e aumento de rotações. A Figura 5.47 é uma representação tridimensional da Figura 5.46. FRANCA (2004) realizou um estudo acerca da estabilidade de um sistema semelhante ao implementado neste trabalho (atrito equivalente) e os resultados apresentam o mesmo tipo de comportamento (Figura 1.9). 81 stick-slip estável 2 2 Figura 5.46 – Mapa de severidade torcional ( = 0,021). 2 2 Figura 5.47 – Superfície de severidade torcional. Influência das forças de atrito: Realizando a mesma análise da seção anterior, mas considerando o cenário de uma broca desgastada, avalia-se a influência das parcelas de atrito 9 e (9 na dinâmica do sistema. A Figura 5.48 apresenta um mapa de estabilidade torcional do sistema, considerando um desgaste acumulado F = 4,9ii ( = 3,04). Observa-se que de maneira semelhante à Figura 5.27, ocorre a existência de bit-bounce para baixos pesos sobre broca. No entanto, apenas um padrão de resposta é observado 82 durante os eventos de stick-slip (alto peso e baixa rotação). A Figura 5.49 é uma representação tridimensional da Figura 5.48. stick-slip estável 2 Bit-bounce 2 Figura 5.48 – Mapa de severidade torcional ( = 3,04). 2 2 Figura 5.49 – Superfície de severidade torcional. 83 6. CONCLUSÃO O desenvolvimento deste trabalho está contextualizado no problema de vibrações de colunas de perfuração e na influência que modelos de interação broca-rocha representam no comportamento dinâmico do sistema. Especificamente são analisadas as vibrações axiais e torcionais de uma coluna de perfuração, composta por dois graus de liberdade acoplados por leis de interação broca rocha. Leis estas que apresentam papel fundamental nos padrões de respostas produzidos pelo modelo. Desta forma, ao avaliar estratégias de mitigação de vibrações, é fundamental ter um modelo broca-rocha representativo e bem caracterizado, pois uma definição imprecisa destas leis pode levar à tomada de decisões equivocadas. Neste trabalho foram implementados dois modelos de interação broca-rocha: (1) modelo de corte compatível com ensaios de único cortador onde “efeitos de velocidade” não são observados; (2) lei de atrito equivalente, representando a modelagem clássica do problema através de uma relação de decaimento exponencial. Para ambos os modelos é possível caracterizar as fases de stick-slip, onde grande variação na rotação de fundo é observada, resultando na completa parada da broca por um tempo finito, seguindo de uma fase de grande aceleração, aonde a velocidade de fundo chega de duas a três vezes a rotação imposta em superfície. Eventos de bit-bounce são observados para ambos os modelos, no entanto estes não são simulados, apenas detectados. O modelo de corte implementado neste trabalho foi validado comparativamente com resultados previamente publicados por RICHARD (2001), GERMAY (2002) e RICHARD et al. (2007), obtendo boa correspondência para os casos simulados. Para avaliação do nível médio de vibrações foram utilizados índices de severidade à vibrações torcionais e de perda de contato, propostos por RICHARD (2001) e GERMAY (2002). Neste sentido, foi observada uma clara relação entre a perda de contato intermitente da base dos cortadores com a rocha e os fenômenos de stick-slip. Uma característica importante dos trabalhos citados é a não consideração dos amortecimentos e rigidez axial do problema. Para avaliar esta influência no comportamento do sistema, foram simulados alguns cenários comparativos, sendo observado que tais considerações impactam 84 drasticamente o padrão de resposta do sistema, podendo alternar entre um cenário de ausência de vibrações a um padrão de oscilações do tipo stick-slip. No intuito de simplificar a entrada de dados do modelo e verificar a influência paramétrica das variáveis, uma formulação adimensional do problema foi desenvolvida. Atenção especial deve ser dada ao avaliar a influência de alguns parâmetros no comportamento do sistema. Por exemplo, ao variar o comprimento da coluna de perfuração, praticamente todas as variáveis adimensionais precisam ser recalculadas, inclusive os forçamentos. Para evitar este inconveniente, definiu-se uma condição fixa para o cálculo dos parâmetros de referência, sendo possível a comparação de resultados para diversas propriedades. Desta forma foi verificado que as vibrações do tipo stick-slip estão mais associadas à brocas com desgastes na estrutura de corte, durante a perfuração de rochas duras e para poços profundos. A relação entre as parcelas de atrito e as parcelas totais dos esforços possui um papel dominante no comportamento do sistema, podendo alterar completamente os padrões de resposta do modelo. Para baixas parcelas de atrito, o sistema apresenta comportamento não usual, onde o aumento das rotações pode induzir o aparecimento de stick-slip. No entanto ao alteramos a relação entre as forças dissipativas e as forças de corte (aumento da área de desgaste da broca), o diagrama de estabilidade tem sua forma alterada, apresentando duas tendências quanto à mitigação de vibrações. A depender das condições do sistema, o aumento da velocidade angular pode induzir ou mitigar as vibrações do tipo stick-slip. Desta forma, pela metodologia apresentada, não se pode garantir que o aumento das rotações sempre será um agente mitigador de vibrações torcionais. Esta já era uma conclusão do trabalho de NANDAKUMAR e WIERCIGROCH (2013), no entanto neste não era possível identificar eventos longe da condição em regime permanente, ou seja, não apresente uma distinção entre stick-slip e bit-bounce. Pelos diagramas de estabilidade apresentados neste trabalho é possível avaliar a fronteira entre tais modos de vibração. Outro resultado não usual encontrado para o modelo de corte, diz respeito ao comportamento do torque médio em função das rotações, onde este possui características bem mais complexas que as assumidas no modelo de decaimento exponencial. Utilizando o modelo de corte, é possível identificar regiões de stick-slip 85 associadas a curvas ascendentes de torque médio pelas rotações. Do ponto de vista da modelagem clássica, este cenário não seria possível. Portanto pela metodologia apresentada neste trabalho, mostra-se que uma lei de decaimento não é condição essencial ao desenvolvimento de vibrações do tipo stick-slip. Além disso, o comportamento do torque médio pelas rotações é bastante influenciado pelas vibrações do modelo, evoluindo ao longo das diversas condições externas do modelo. Desta forma a consideração de leis de atrito equivalente constantes como uma propriedade constitutiva do modelo broca rocha, não é capaz de retratar toda a gama de fenômenos observados pelos modelos de corte. Alguns autores associaram o comportamento ascendente do torque médio a uma característica exclusivamente dependente da broca, através do parâmetro >1 (RICHARD, 2001; GERMAY, 2002; RICHARD et al., 2007). No entanto as simulações realizadas indicam que mesmo para brocas com < 1, relações de torque médio ascendente e descendente podem ser calculadas, sendo estas funções do nível de vibrações do sistema. Diagramas de bifurcação foram avaliados para o modelo proposto, no entanto para o intervalo de parâmetros simulados, um comportamento aperiódico não foi observado. Acredita-se que uma dinâmica mais rica do problema ocorre nas regiões onde a broca perde contato com a formação. Essas regiões não podem ser avaliadas por limitação do modelo implementado. Sugestões para trabalhos futuros: No intuito de realizar um estudo dinâmico mais completo do fenômeno de vibrações de colunas de perfuração, sugere-se o aprimoramento do modelo para consideração da vibração lateral. Desta forma, um envelope de estabilidade considerando às três formas severas de tais oscilações seria gerado e estratégias de mitigação seriam desenvolvidas com um maior grau de confiança. Além disso, enxerga-se como necessária a expansão do modelo à graus de liberdade, permitindo a avaliação dos principais modos de vibração da coluna, incluindo a aplicação de condições de contorno de superfície quaisquer, o que permitirá a avaliação das perturbações geradas em superfície no comportamento do sistema. 86 Para investigação de uma dinâmica aperiódica do sistema, acredita-se que a integração do modelo de corte apresentado neste trabalho, com o problema de impacto entre a broca e a rocha seja uma evolução natural. No entanto a correta modelagem do problema de bit-bounce, utilizando o modelo de corte apresentado neste trabalho, é um tanto complexa, pois é necessária a correta caracterização das profundidades de corte e defasagem do sistema durante os eventos de bit-bounce. Para tal, é necessária a avaliação da evolução do perfil de fundo de poço, juntamente com o mapeamento da posição dos cortadores ao longo da análise. Como já explicitado neste capítulo, os efeitos dissipativos do atrito de fundo são bastante relevantes no comportamento dinâmico do sistema. No entanto, a formulação como está implementada (DETOURNAY e DEFOURNY, 1992; RICHARD, 2001; RICHARD et al., 2007; NANDAKUMAR e WIERCIGROCH, 2013), não permite o incremento das forças de atrito em função do peso sobre broca. Desta forma, o incremento de força é transmitido às parcelas de corte de maneira irrestrita, refletindo em uma maior profundidade de corte . No entanto este comportamento não é observado experimentalmente, onde o incremento de peso, a partir de um determinado valor crítico, resulta também em um incremento das forças de atrito. Desta forma, a inclusão deste fenômeno no modelo deve produzir novas características aos diagramas de estabilidade, podendo levar à identificação de adicionais particularidades do sistema. Além disso, para obtenção de maior confiança nos resultados teóricos do modelo, fazse necessário sua validação com os resultados experimentais disponíveis. 87 BIBLIOGRAFIA AADNOY, B. S. et al. Advanced Drilling and Well Technology. 1a. ed. Richardson: Society of Petroleum Engineers, 2009. ADACHI, J. I.; DETOURNAY, E.; DRESCHER, A. "Determination of rock strength parameters from cutting tests". North American Symposium of Rock Mechanics, 1996. pp. 1517-1523. ADAMS, N. J. Drilling Engineering - A complete Well Planning Approach. 1a. ed. Tulsa: PennWell, 1985. BAILEY, J. J.; FINNIE, I. "An Analytical Study of Drillstring Vibrations". Jounal of Engineering for Industry, 1960. pp. 122-128. BAKER HUGHES. CoPilot Real-time drilling optimization service. Schlumberger. Houston. 2010. BELOKOBYL'SKII, S. V.; PROKOPOV, V. K. "Friction-Induced Self Excited Vibrations of Drill Rig with Exponential Drag law". Soviet Applied Mechanics, 1982. pp. 1134-1138. 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