Revista de divulgação
técnico-científica do ICPG
Vol. 3 n. 11 - jul.-dez./2007
ISSN 1807-2836
101
DESENVOLVENDO O RITMO NAS AULAS DE
EDUCAÇÃO FÍSICA EM CRIANÇAS DE 3 A 6 ANOS
Raquel Zuchna Muller1
Elisabeth Penzlien Tafner2
Resumo
Este trabalho tem como objetivo conceituar ritmo e mostrar seus benefícios – ao longo das fases do desenvolvimento infantil –,
metodologias e materiais alternativos para realização de atividades que podem ser utilizadas na faixa etária de 3 a 6 anos, nas
aulas de Educação Física. É durante a infância que as atividades rítmicas precisam ser muito estimuladas, pois focalizam a
formação global da criança e contribuem com o desenvolvimento humano como um todo. Um bom trabalho exercita a coordenação, o equilíbrio e o freio inibitório; concentra a atenção; economiza esforços; dá segurança rítmica; leva à obtenção do
relaxamento muscular, postura e percepção auditiva e visual; desperta a criatividade e expressão do corpo; e promove a sociabilidade. O ritmo pode ser desenvolvido em várias atividades, porém é fundamental que o professor use a criatividade para trazer
novidades a cada aula.
Palavras-chave: Educação Física. Psicomotricidade. Ritmo.
1 INTRODUÇÃO
Não sabemos afirmar quando surgiu o ritmo, mas podemos
dizer que a música conquistou seu espaço com a fabricação das
armas na pré-história. As batidas nas pedras, nas madeiras e no
chão produziam som e, com isso, ritmo e música.
O ritmo faz parte do cotidiano, da vida e da natureza. Nenhum
elemento vivo existe sem sua presença. Podemos citar como exemplo os batimentos cardíacos, o crescimento das plantas, o caminhar dos animais, a respiração, a alimentação, o sono. Tudo se
faz por meio do ritmo.
Os primeiros contatos com o ritmo acontecem durante a gestação, no útero materno, por meio das pulsações do coração da
mãe. Quando queremos colocar uma criança para dormir, basta
colocá-la deitada no peito, perto do coração: o ritmo do coração
faz a criança adormecer, assim como as cantigas de ninar. Desde
pequenas, desde o primeiro contato com o ritmo e com o som, as
crianças são atraídas por objetos que produzem barulho ou instrumentos musicais. Ao escutar música, as crianças gostam de
acompanhar se movimentando, batendo palmas, mexendo o corpo, cantando.
Segundo Rosa (1990, p. 24), “A criança desenvolve os sentidos desde que nasce e um dos papéis da escola é proporcionar
situações em que ela possa explorar e desenvolver todos os sentidos harmonicamente.”
Para Moura, Boscardin e Zagonel (1989, p. 31), “O aspecto
rítmico é inerente ao ser humano, estando ligado a sua parte
fisiológica e ao movimento. Sua manifestação na criança acontece intuitiva e espontaneamente. É preciso, porém, conscientizála, pela vivência, da existência do ritmo como elemento musical
básico.”
O objetivo deste artigo é abordar a conceituação de ritmo e a
importância em desenvolvê-lo ao longo das fases do desenvolvimento infantil. Para tanto, encontramos amparo nas literaturas
de Educação Física e Música. O texto também apresenta metodologias e materiais alternativos para a realização de atividades que
podem ser utilizadas para crianças de 3 a 6 anos nas aulas de
Educação Física.
2 DESENVOLVENDO O RITMO EM CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL
2.1 CONCEITUAÇÕES DE RITMO
Existem vários conceitos sobre o ritmo, sendo que cada definição, em geral, está associada à área de estudo do autor. Ritmo,
do grego rythmós, significa, etimologicamente, movimento regular de ondas, movimento das vagas; designa aquilo que flui, que
se move, movimento regulado. Para D’udine (1963 apud SAUR,
1975, p. 5), “O ritmo é a resultante das relações entre fenômenos
de velocidade, duração, intensidade e coesão, relações essas
que são prodigiosamente variáveis”. Pallarés (1981, p.4), por sua
vez, afirma que “o ritmo é a essência do movimento livre e espontâneo, sua força expressiva, criadora e individual”.
Podemos notar que as citações apresentadas conceituam o
ritmo considerando noções como movimento, aproximando, assim, o conceito com a área estudada neste artigo: a Educação
Física. Mas, como já mencionado, existem vários conceitos de
outros autores, em outras áreas.
Segundo o músico Med (1986, p.11), “o ritmo é resultado da
organização sistemática da duração do som em suas múltiplas
possibilidades”. De acordo com Neves (1985 apud JEANDOT,
1
Especialista em Educação Física Escolar. E-mail: [email protected]
2
Mestre em Lingüística. E-mail: [email protected]
102
Vol. 3 n. 11 - jul.-dez./2007
ISSN 1807-2836
2001, p. 25), “Todo universo auditivo poderia se resumir a este
enunciado: entre o ruído e o silêncio nasce a música.”. Já para
Jeandot (2001, p. 25), “Poderíamos dizer ainda: entre o ruído e o
silêncio nasce o ritmo”. Conforme Weigel (1988, p. 10), “Ritmo é
o efeito que se origina da duração de diferentes sons, longos ou
curtos”. Bueno, em seu dicionário, apresenta a seguinte definição:
Essência da poesia em que se agrupam os valores de tempo
combinados por meio de acentos; volta periódica de tempos fortes e fracos, num verso ou numa frase musical;
movimento com sucessão regular de elementos fortes e
fracos; harmoniosa correlação das partes; cadência. (BUENO, 1996, p. 579).
Bueno (1996, p. 579) ainda afirma que rítmica é “a ciência do
ritmo, parte da teoria musical que estuda a expressão nas suas
relações com o tempo”.
Percebemos que, em todos os conceitos citados, existem
palavras-chave que podem ser usadas para conceituar o ritmo,
assim ajudando o leitor a se familiarizar mais com tema. Portanto,
podemos dizer que ritmo é: movimento regulado, essência do
movimento livre, duração do som, silêncio das pausas, estando
entre o ruído e o silêncio, som e tempo.
2.2 A IMPORTÂNCIA DE SE TRABALHAR O RITMO
O ser humano necessita desenvolver o ritmo, pois ele está
presente em grande parte do seu dia-a-dia, como, por exemplo,
lavar a louça ou a roupa, datilografar, cortar, ler, escrever, correr,
andar de bicicleta, andar, dirigir, falar, entre outras.
A importância de trabalhar o ritmo na faixa etária de 3 a 6 anos
está no fato de preparar a criança para melhor realizar as atividades escolares e as atividades do dia-a-dia. É a infância a fase mais
propícia para ensinar, pois a criança aprende e assimila os exercícios de forma muito rápida. É bom lembrar, porém, que cada criança tem o seu ritmo de aprendizagem. Por meio de atividades lúdicas e brincadeiras, o aprender torna-se divertido e prazeroso.
Segundo Cande (apud ARTAXO; MONTEIRO, 2000, p. 7), “o
ritmo nos é tão necessário, que o nosso espírito tende a ritmar
tudo o que é precisamente regular: os passos de um caminhante,
o barulho do comboio nos trilhos, os batimentos do coração”.
Revista de divulgação
técnico-científica do ICPG
tempo imediato.
·
Organização perceptiva que leva ao domínio progressivo
das relações espaciais.
·
Perceber a duração do tempo, se é longo ou curto, noções
de aceleração e freada, diferenciação entre corrida e o
andar.
·
Movimentar o próprio corpo, de forma integrada, em
volta de objetos no espaço – ambiente e passando por
eles.
As atividades rítmicas estimulam, nas crianças, a coordenação, o equilíbrio, a flexibilidade e o freio inibitório; concentram a
atenção; economizam esforços; dão segurança rítmica e educação sensorial; levam à obtenção do relaxamento muscular, da
postura e da percepção auditiva e visual; despertam a criatividade e a expressão do corpo.
Segundo Garcia e Haas (2003, p. 38), os objetivos do trabalho
rítmico são:
·
Promover a melhoria e o aperfeiçoamento das qualidades
físicas do ser humano, em especial, a coordenação motora, agilidade, equilíbrio, resistência e velocidade.
·
Promover o desenvolvimento e a melhoria da natureza
socioemocional e afetiva do ser humano, no sentido de
despertar potencialidades sociais (positivas), como cooperação, socialização, solidariedade, liderança, compreensão, laços de amizade/de apego, etc.
·
Promover o desenvolvimento e a melhoria da natureza
cognitiva de ser humano no sentido de despertar potencialidades reflexivas, como raciocínio, atenção, concentração, criatividade, senso estético.
Desenvolver o ritmo contribui, também, para a aquisição do
sentido rítmico, adaptação do ouvido a compassos e ritmos diferentes; conservação de um determinado ritmo com o corpo e a
voz; memorização e reprodução de um determinado som; identificação dos tempos fortes e fracos; verbalização do ritmo mediante palavras; e promoção do controle dos movimentos, regularizando o gesto impulsivo e coordenando-o.
Segundo Pallarés (1981, p. 9), um trabalho dirigido, ao dar
“[...] condições de exercitar o sentido rítmico natural, ativa o sistema neuromuscular, solicita movimentos respiratórios mais amplos, oportuniza situações de sociabilidade, permite aquisições
cognitivas, auxilia o crescimento, aprimorando os movimentos.”
3 FASES DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
O ritmo é um fenômeno de vida. Por ele nós tocamos
diretamente o centro do problema que nos ocupa: o comportamento psicomotor das crianças. Na aprendizagem
de um comportamento que deve mostrar-se idêntico ao
seguinte, é graças à facilidade do ritmo que a criança pode
representar essa sucessão de gestos, prevê-los, executálos com uma precisão cada vez melhor. Ao não ultrapassar
o limiar onde a imagem correria o risco de se afastar, cada
imagem pode alimentar a seguinte. (ROSSELL, 1967 apud
PALLARÉS, 1981, p. 16).
O ritmo é trabalhado na orientação temporal, que é um dos
elementos básicos da psicomotricidade. Segundo Meur e Staes
(1984, p. 40), a estruturação temporal é a capacidade de
·
Organização das relações no espaço e no tempo: noção de
Sobre o desenvolvimento infantil, Rodrigues (1985, p. 13) explica que “[...] é um processo, uma continuação. Cada momento
de vida é uma continuação do momento anterior, embora modificado.” É este processo que esta seção pretende apresentar por
meio dos aspectos motores, afetivos, cognitivos e sociais.
A segunda infância, que vai dos 3 aos 7 anos, conforme Rodrigues (1985, p.19-20), “[...] pode ser considerada como uma
fase de transição, onde a criança toma conhecimento do universo exterior. É a época em que o princípio da realidade toma corpo
e vem opor-se ao princípio do prazer, próprio da primeira infância”. Segundo o autor, é a época lúdica em que o brinquedo é o
que mais interessa; o campo de exploração sensorial e motora é
cada vez maior e a criança já se orienta para uma realização, res-
Revista de divulgação
técnico-científica do ICPG
peitando as regras; a curiosidade é muito grande; e a criança
demonstra grande imaginação e gosta de alimentar sonhos e histórias. (RODRIGUES, 1985).
Com aproximadamente 3 anos, a criança caminha ereta “ [...] e
se mostra segura e ágil sobre seus pés. Caminha mais que corre.
Consegue parar momentaneamente em um só pé. Lança uma bola
sem perder o equilíbrio. Galopa, salta, caminha e corre ao compasso da música”. (GESSEL 1975 apud ARRIBAS, 2002, p.10).
Segundo Machado (1985), a criança sente prazer em brincadeiras
de correr, pular e atividades com materiais diferentes. Já consegue subir e descer escadas, colocando um pé em cada degrau
segurando no corrimão.
Borges (2002) diz que a criança, aos 3 anos, fica mais independente dos pais, relacionando-se melhor com os outros; consegue se expressar melhor; é generosa e carinhosa com os amigos; tem sentimento de posse, principalmente com seus brinquedos; está descobrindo as diferenças entre os sexos, sendo, por
isso, que a menina, para reafirmar que é do sexo feminino, imita o
comportamento da mãe, enquanto o menino imita o pai; se distrai
com facilidade; gosta da companhia de crianças, mas joga e brinca sozinha, não existindo competição para ela; forma sentenças
longas; gosta de fazer perguntas e de inventar nomes, bem como
de dar nomes a bichos e brinquedos e criar histórias. No desenho, encontra-se na fase de rabiscos.
Jeandot (2001, p. 63) afirma que a criança, aos 3 anos,
consegue reproduzir canções inteiras, embora geralmente
fora do tom. Tem menos inibição para cantar em grupo.
Reconhece várias melodias. Começa a fazer coincidir os
tons simples de seu canto com as músicas ouvidas. Tenta
tocar instrumentos musicais. Gosta de participar de grupos rítmicos: marcha, pula, caminha, corre, seguindo o
compasso da música.
Com 4 anos, a criança é alegre, viva e dinâmica, gosta de
correr, saltar e brincar; sobe e desce as escadas com segurança;
consegue movimentar-se com mais facilidade e firmeza; joga bola
repetidamente; tem bom equilíbrio; gosta de aventuras; e demonstra prazer nas atividades lúdicas. (MACHADO, 1985). Segundo Rodrigues (1985), nesse período, a criança já é capaz de
guardar a própria roupa, arrumar a cama, escovar os dentes, lavar
o rosto e as mãos. A criança costuma comer e dormir bem e parece
que a sua “bateria” não acaba: está sempre disposta para mais
uma brincadeira, além de já mostrar preferências por roupas e
corte de cabelo. Dois assuntos a fascinam – Deus e morte –, e a
idade marca, também, a instabilidade emocional: ri e chora com a
mesma facilidade.
Igualmente podemos citar, na idade de 4 anos, o repertório
verbal que, geralmente, é amplo e rico: a criança conta o que faz
em casa e no colégio. Tem dificuldade em se concentrar; as brincadeiras são geralmente cooperativas; é expansiva; e pergunta
bastante. Machado (1985) diz que a criança reproduz tudo o que
ouve, por meio da expressão corporal; gosta de criar e produzir;
tem maior independência da musculatura das pernas; e a unilateralidade não é controlada.
Segundo Jeandot (2001, p. 63), a criança com 4 anos “progride no controle da voz. Participa com facilidade de jogos simples,
cantados. Interessa-se muito em dramatizar as canções. Cria pequenas músicas durante a brincadeira”.
Vol. 3 n. 11 - jul.-dez./2007
ISSN 1807-2836
103
Na idade de 4 anos, as crianças possuem uma grande autonomia motora. Para que dominem suas possibilidades
motoras, é preciso que desenvolvam, paralelamente, o
conhecimento da imagem do próprio corpo em diferentes
posições, o controle e domínio da situação e da relação
com o espaço cotidiano: limites, distâncias, proporções,
além do reconhecimento da própria expressividade e capacidade comunicativa. (GODALL; HOSPITAL, 2004, p.
139).
Mársico (1982, p. 37) explica que a criança,
[...] principalmente aos 5 e 6 anos, mostra-se ansiosa
para aprender e saber como fazer as coisas que estão dentro de suas possibilidades e se interessa por tudo o que a
rodeia. Aprende através da manipulação concreta de objetos e da vivência de situações reais. Interessa-lhe o ‘aqui’
e o ‘agora’ e as realizações com fins imediatos. Necessita
direção firme e demonstração clara e explícita do que
deve fazer.
Machado (1985) afirma que a coordenação motora, aos 5 anos,
deve estar bastante desenvolvida, podendo a criança já estar
andando de bicicleta e adorar brincadeiras que envolvam velocidade e desafios. Ademais, equilibra-se em um pé só; pula corda
com seqüência; segura o lápis com mais segurança e já desenha
uma figura humana reconhecível; evidencia economia de movimentos; senta-se corretamente; aprecia os movimentos naturais;
e demonstra habilidades, tanto na coordenação motora grossa
quanto na fina.
Borges (2002) afirma que a criança, nessa idade, consegue
usar a tesoura, lava e enxuga a louça. Realista e equilibrada, quer
entender como o universo funciona. O seu universo é constituído pela sua casa, seu pai, sua mãe, centro desse universo. Faz
muitas perguntas e já pode falar como um adulto. Os meninos
procuram se identificar mais com o pai, e a menina, com a mãe.
Confiança em si mesma e nos outros é a marca dessa idade. Evidencia aspectos da sua personalidade e gosta de assumir pequenas responsabilidades, como, por exemplo, ser ajudante da turma. “Uma criança de 5 anos tem ou deverá ter os primórdios de
uma consciência (certo e errado) e uma personalidade real para o
auto-controle. Os sentimentos podem ainda ser intensos, mas há
muitos modos pelos quais podem ser transmitidos, construtivamente.” (BORGES, 2002, p. 26).
Borges (2002) acrescenta que, nessa faixa etária, no meio social, a criança gosta de brincar em grupos, gosta de construções
de casas, garagens, cidades, de fantasiar-se e dramatizar, além de
possuir forte sentido de posse. É capaz de se concentrar sem
distrair-se; possui senso de vergonha; e linguagem e vocabulário apresentam-se desenvolvidos. Meninos e meninas aceitamse mutuamente.
A criança entoa mais facilmente e consegue cantar melodias inteiras. Reconhece e gosta de um extenso repertório
musical. Consegue sincronizar os movimentos da mão ou
do pé com a música. Reproduz os tons simples de ré até o
dó superior. Consegue pular em um só pé e dançar conforme o ritmo da música. Percebe a diferença dos diversos
timbres (vozes, objetos, instrumentos), dos sons graves e
agudos, além da variação de intensidade (forte e fraca). (
JEANDOT, 2001 p. 63).
104
Vol. 3 n. 11 - jul.-dez./2007
ISSN 1807-2836
Para Machado (1985), em torno de 6 anos, a normalização
gradativa do movimento rítmico preciso depende do domínio da
coordenação neuromuscular, rapidez, percepção do espaço temporal, equilíbrio e força muscular. A obtenção gradativa dessas
capacidades encontra no trabalho rítmico um auxiliar imprescindível, pois o ritmo disciplina a coordenação e o equilíbrio, economiza esforços e concentra a atenção. No jogo, há o senso de
reciprocidade do tipo “isto por aquilo”, tem tendência natural
para expressar-se corporalmente. Utiliza posturas corporais, palavras e gestos para expressar emoções e idéias.
Borges (2002) diz que é uma idade de transição, com mudanças fundamentais no aspecto somático e psicológico. A criança
possui um sentimento misto de orgulho, expectativa ansiosa e
vontade de poder e apresenta desenvolvida a capacidade de
espírito crítico em relação ao adulto (senso de justiça e injustiça,
certo e errado, capacidade de se autocriticar). Por sua linguagem
estar completa, impõe muito sua opinião. Gosta de brincar em
grupos, mas tem ciúmes dos amigos. Precisa de aceitação do
grupo, aprende que cada coisa tem seu horário e sabe da sua
rotina. Já é capaz de ouvir com atenção e esperar a sua vez de
falar.
Jeandot (2001, p.63) afirma que a criança, aos 6 anos, “percebe sons ascendentes e descendentes. Identifica as fórmulas rítmicas, os fraseados musicais, as variações de andamento e a
duração dos valores sonoros. Adapta palavras sobre ritmos ou
trecho musical já conhecido. Acompanha e repete uma seqüência rítmica”.
Cada criança é diferente uma da outra, assim como seu desenvolvimento. Mas para um bom aprendizado do aluno, o que
conta muito é o trabalho realizado. Em algumas escolas, o ritmo
não é só desenvolvido na Educação Física, mas também em aulas
de Música. Com atividades rítmicas bem orientadas, a criança
será capaz de realizar movimento rítmico normal.
4 METODOLOGIAS PARA DESENVOLVIMENTO DO RITMO
As atividades rítmicas são trabalhadas a partir dos seguintes
itens: “vivência de tempo, sons, percepção visual e auditiva,
domínio do movimento e do espaço”. (FERREIRA, 2005, p. 27).
Existem inúmeras atividades que podemos utilizar para desenvolver o ritmo, como, por exemplo: movimentos rítmicos formativos e naturais, música, instrumentos musicais, cantigas de
roda, canto, composições rítmicas criativas, dança e controle respiratório. Em cada uma dessas atividades, outros exercícios poderão ser criados e realizados.
A criança, por meio de imagens que lhe são familiares e lhe
serão apresentadas por gravuras, cartazes, histórias, palestras, filmes, ´slides´, passeios, observação do ambiente,
pátio da escola, movimento na rua, terá a motivação, o
interesse despertado para a exploração dos múltiplos movimentos com seus pés, mãos, dedos, braços, troncos,
pernas, e vai aprender de que é capaz, avaliando suas possibilidades. (PALLARÉS, 1981, p. 40).
Pallarés (1981) comenta que é função dos educadores proporcionar às crianças o maior número de experiências de movimentos com as diferentes partes do corpo, para que a criança
adquira a base para uma boa postura e favoreça seu desenvolvi-
Revista de divulgação
técnico-científica do ICPG
mento. Por meio dos movimentos rítmicos formativos, é possível
trabalhar diversos movimentos com as crianças. São inúmeras
atividades, e o ritmo será determinado pelo professor por meio de
música, contagem ou percussão. A criança executa atividades
simples, como o movimento de tesoura sentado, depois deitado,
com as pernas no chão ou com as pernas elevadas, circundação
dos pés, flexão e extensão, bicicleta, polichinelo, abrir e fechar as
mãos, flexão do tronco, abraçar as pernas sentado, deitar, engatinhar, encostar as mãos nos pés, rotação dos braços, “aviãozinho” e flexionar as pernas em diversas posições.
Os movimentos rítmicos naturais, como o nome diz, são os
movimentos básicos, como andar, correr, saltar, girar, saltitar, rolar e lançar. Segundo Pallarés (1981, p.71), “toda criança realiza
essas atividades por sua própria vontade, interesse e necessidade e as atividades rítmicas com seus exercícios específicos contribuem para a obtenção da firmeza, equilíbrio, postura, normalizando a precisão de movimentos pela experiência rítmica”.
Pallarés (1981) cita alguns movimentos rítmicos naturais, ou
seja, movimentos básicos do ser humano, como, por exemplo:
· Andar: de várias maneiras, como, por exemplo, em cima das
linhas, devagar, normal, rápido, para frente, para trás, para os
lados, andar agachado, andar na ponta do pé, imitando animais, em grupo, etc.;
· Correr: proporcionar ao aluno o maior número de atividades
com corrida; a repetição resulta em aquisição de ritmo na
corrida. Correr de mãos dadas, com passos largos, com “passinhos”, correr em círculo, correr sem embarrar no colega,
etc.;
· Saltar: nas atividades de salto, é sempre importante buscar
materiais alternativos e sugerir desafios para deixar a aula
mais prazerosa, divertida e também como uma forma de motivação. Saltar com um pé só, saltar com os dois pés, saltar
duas vezes com o pé direito e, depois, duas vezes com o pé
esquerdo, saltar como o sapo, saltar como o coelho, saltar
sobre o colega, saltar sobre objetos, como elástico e bastões.
Pallarés (1981) igualmente menciona que a criança adora girar. Então, nas atividades com giro, podemos sugerir: girar no
lugar, girar de mãos dadas com um colega, girar com vários colegas, correr em círculos, girar meia volta, lançar uma bola e girar
antes de pegá-la, em dupla girar o colega e girar os dois passando por baixo dos braços.
No lançamento, o objetivo principal, no sentido rítmico, é a
obtenção de movimentos firmes, rápidos e equilibrados. O interessante, nessas atividades, é utilizar o maior número de materiais possíveis, como bolinha de papel, bolinha de espuma, bolinha de meia, bolas de borracha, arcos, etc. Com esses materiais,
estimulamos as crianças a jogar para cima, para os lados, para o
chão, para trás, lançar e tentar pegar de novo, tentar acertar nos
alvos, entre outros.
Segundo Nicolau (1986, p. 237),
o canto sintetiza todos os elementos musicais que a criança deve conhecer e vivenciar. A canção, entoada com
prazer e entusiasmo, pode ser acompanhada por instrumental, movimentos ritmados e danças, além de ser um
prazeroso estímulo à imaginação e ao potencial criador.
Além de ser excelente meio de recreação, o canto propicia o desenvolvimento da percepção e da discriminação
auditiva, bem como o desenvolvimento da voz, da linguagem, da memória, da criatividade.
Revista de divulgação
técnico-científica do ICPG
Nicolau (1986) esclarece que as crianças adoram cantar e é
que interessante repetir e cantar várias vezes a mesma música,
pois elas gostam de repetir. Mas cada repetição pode ter um
diferencial, como, por exemplo, a canção pode ser acompanhada
de gestos ou movimentos conforme for a letra, e o professor
pode cantar uma vez, depois o professor e as crianças e, em
seguida, só as crianças. Podemos cantar tirando palavras da
música e colocando gestos. É interessante utilizar, para essas
atividades, músicas em que as batidas são sempre iguais. Essas
músicas são chamadas de pulso ou pulsação.
As crianças adoram cantar de mãos dadas com os colegas.
“Cantar de mãos dadas com os companheiros, movimentando-se
ao som da música, dá muito prazer à criança, talvez pelo sentido
de união. A roda é o princípio de grupo.” (NICOLAU, 1986, p.
247). Os educadores devem resgatar essas brincadeiras – Ciranda cirandinha, Caranguejo, A canoa virou, A linda rosa juvenil,
etc. – que, aos poucos, estão sendo esquecidas.
Segundo Pallarés (1981), a música atrai muito a criança e é
uma excelente atividade para desenvolver o ritmo. Para as crianças, as atividades de dança devem ser com movimentação simples. No início, deixamos as crianças livres, deslocando-se e dançando ao som da música; aos poucos, pedimos para acompanhar
uma marcha militar, acompanhar a música batendo palmas, batendo os pés, correr ao ritmo das palmas. Podem iniciar em pares, em
roda, em várias rodas pequenas ou em fileiras, começando com
passos simples, como deslocamentos, ao mais complexo. Algumas sugestões de atividade são: escrever em papéis alguns movimentos, sortear esses movimentos e montar a dança de acordo
com essas movimentações; dança da cadeira; e brincadeira da
estátua. O profissional pode ter uma coletânea de CDs variados,
com músicas infantis, músicas rápidas, lentas, com tema de filme,
com estilos diferentes, como rock, country, dance, pop e reagge.
Durante as danças, é freqüente a utilização de objetos para
deixar as atividades mais divertidas e diferentes, como, por exemplo, dançar com uma bola, com arco, fita de ginástica rítmica,
vassoura, corda, bastão, panos. Dependendo da criatividade do
profissional, muitas atividades podem surgir.
Nicolau (1986) afirma que os instrumentos musicais são ótimos materiais para diversificar e dinamizar a aula. O primeiro impulso da criança é pegar e mexer.
Trabalhando com instrumentos de percussão, estamos também desenvolvendo habilidades cognitivas, afetivo-sociais e psicomotoras. Cognitivas quando as atividades possibilitam a formação de conceitos, como os de sons fortes e
fracos, graves e agudos, etc.; afetivo-sociais quando levam a criança a comportamentos de independência, respeito mútuo e organização; psicomotoras sempre que a
atividade resulta na coordenação dos movimentos. (NICOLAU, 1986, p. 222).
Nicolau (1986) comenta que os instrumentos musicais, como
castanholas, clavas, tambor, flauta, ganzá, maracás, violão, pandeiro, entre outros, são utilizados para desenvolver o ritmo. Podemos utilizar instrumentos musicais confeccionados pelos alunos. Assim, cada criança confecciona o seu instrumento e, durante a atividade, o professor pode contar a história dos instrumentos ou cantar músicas que falam dos instrumentos musicais,
sem esquecer que o pé e a mão são excelentes instrumentos
musicais, como, por exemplo, palmas, marcação com pés, marca-
Vol. 3 n. 11 - jul.-dez./2007
ISSN 1807-2836
105
ção com os dedos das mãos, voz e palavras.
As atividades a seguir, além de desenvolver o ritmo, desenvolvem o controle respiratório e auxiliam a dicção. Durante esses
exercícios, é sempre importante enfatizar a boa postura, pois esta
influencia a respiração. São atividades que também servem como
volta à calma: cheirar uma flor e soprar uma vela, ou seja, inspirar
pelo nariz e expirar pela boca. Inspirar pelo nariz e expirar imitando o som de uma cobra (sssssss), imitando uma abelha (zzzzzzz),
emitindo grupos de vogais e/ou semivogais (ae, ai, ui, oi, au),
expirar chiando (chiiiiiiiiiiii). Podemos trabalhar a língua (lá, lá, lá;
lê, lê, lê; ló, ló, ló; lô, lô, lô) ou, também, colocar um objeto em
cima do abdômen, inspirar e deixar o objeto levantar e baixar.
O canto, a música, cantigas de roda, dança, controle respiratório, brincadeiras rítmicas e execução de instrumentos musicais
são atividades musicais que desenvolvem o ritmo, como também
o fazem jogar bola, desenhar, pintar, modelar e construir. As variações das atividades podem ser feitas, por exemplo, com música.
Em uma das aulas, podemos pedir que as crianças façam desenhos ou pintem algo, ao som de uma música clássica. O importante é usar a criatividade e trabalhar o ritmo com as crianças
sempre de uma forma diferente e divertida.
Em vista das atividades sugeridas, verificamos a importância
das idéias apontadas por Pallarés (1981), ao afirmar que há muitas atividades para desenvolver o ritmo. No início, elas devem
ser simples e partir gradativamente para os exercícios e movimentos mais complexos. Deve-se observar o ritmo de cada criança,
deixando-a descobrir o próprio corpo e suas possibilidades de
movimento.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Existem vários conceitos sobre o ritmo, relacionados tanto à
música como também ao movimento, e que, se bem trabalhado,
traz muitos benefícios às crianças, inclusive para sua vida adulta.
Ao final deste artigo, concluímos que, por meio do ritmo, a
criança terá sua expressão natural própria como resposta aos
estímulos que o meio externo lhe oferece, preparando seus movimentos para que se tornem coordenados, precisos, econômicos,
disciplinados, auxiliando-a, assim, em suas tarefas diárias. “Educar é, principalmente, atender às necessidades do desenvolvimento da criança, a fim de propiciar a plena realização da sua
personalidade.” (MACHADO, 1985, p.21).
As atividades devem ser escolhidas de acordo com cada faixa etária, lembrando que cada criança tem um ritmo de aprendizagem e que duas crianças podem desenvolver a mesma capacidade, só que em tempo diferente.
Existem várias atividades que podem desenvolver o ritmo.
Mas, além delas, o professor deve usar a criatividade e trazer
novidades a cada aula. O aluno gosta de surpresa, de brincadeira, de ludicidade, de desafios, de atividades diferenciadas e é
isso que deve ser proposto em uma aula. O desafio dos educadores é fazer um ótimo planejamento sem perder a essência das
brincadeiras, das músicas e resgatar brincadeiras que estão se
perdendo ao longo dos anos. O educador tem o poder de transformar uma simples brincadeira em um momento muito prazeroso
e divertido, com simples gestos, como brincar com as crianças,
ser atencioso, afetivo e, acima de tudo, amar o que faz.
106
Vol. 3 n. 11 - jul.-dez./2007
ISSN 1807-2836
6 REFERÊNCIAS
ARRIBAS, Tereza L. A educação física de 3 a 8 anos. Porto Alegre: Artmed, 2002.
ARTAXO, Ines; MONTEIRO, Gisele de Assis. Ritmo e movimento. Guarulhos: Phorte, 2000.
BORGES, Célio José. Educação física para o pré-escolar. Rio de
Janeiro: Sprint, 2002.
BUENO, Francisco da Silveira. Minidicionário da língua portuguesa. São Paulo: FTD: LISA, 1996.
FERREIRA, Vanja. Dança escolar: um novo ritmo para a educação física. Rio de Janeiro: Sprint, 2005.
GARCIA, Ângela; HAAS, Aline Nogueira. Ritmo e dança. Canoas: Ulbra, 2003.
GODALL, Teresa; HOSPITAL, Anna. 150 propostas de atividades motoras para a educação infantil (de 3 a 6 anos). Porto Alegre: Artmed, 2004.
JEANDOT, Nicole. Explorando o universo da música. 2. ed. São
Paulo: Scipione, 2001.
MACHADO, Nilce V. A Educação física e recreação para o préescolar. Brasília: a autora, 1985.
MÁRSICO, Leda Osório. A criança e a música: um estudo de
como se processa o desenvolvimento musical da criança. Rio de
Janeiro: Globo, 1982.
MED, Bohumil. Ritmo. 4. ed. Brasília: Musimed, 1986.
MEUR, A. de; STAES L. Psicomotricidade: educação e reeducação. São Paulo: Manole, 1984.
MOURA, Ieda Camargo; BOSCARDIN, Maria Tereza Trevisan;
ZAGONEL, Bernardete. Musicalizando crianças: teoria e prática
da educação musical. São Paulo: Ática, 1989.
NICOLAU, Marieta Lúcia Machado. A Educação artística da criança: plástica e música, fundamentos e atividades. São Paulo:
Ática, 1986.
PALLARÉS, Zaida. Atividades rítmicas para o pré-escolar. Porto
Alegre: Redacta, 1981.
RODRIGUES, Maria. Manual teórico-prático de educação física
infantil. São Paulo: Parma, 1985.
Revista de divulgação
técnico-científica do ICPG
ROSA, Nereide Schilaro Santa. Educação musical para a préescola. São Paulo: Ática, 1990.
SAUR, Erica. Ginástica rítmica escolar. Rio de Janeiro: Tecnoprint S.A., 1975.
WEIGEL, Ana Maria Gonçalvez. Brincando de música: experiências, com sons, ritmos, música e movimento na pré-escola. Porto
Alegre: Kuarup, 1988.
Download

desenvolvendo o ritmo nas aulas de educação física em crianças