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DIRECTOR Pe. José Mario O. Mandía | ANO 68 | Nº 17 | 11 de SETEMBRO de 2015 | SEXTA-FEIRA
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EDIÇÃO TRILINGUE | TRILINGUAL EDITION | SEMANÁRIO CATÓLICO DE MACAU | PREÇO 12.00 Mop
www.oclarim.com.mo
DESTAQUE PÁGs. 2
Jogo: concessões
inalteráveis
LOCAL PÁG. 5
E
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PROFESSOR JAVIER CUERVO
DÁ RECEITA PARA O IMPACTO ECONÓMICO DA CHINA EM MACAU
Integração a par da diversificação
Fé Católica
na “Macau 5.0”
LOCAL PÁG. 5
Crise
democrata
OPINIÃO PÁG. 8
ENTREVISTA PÁG. 4
D E S TAQ U E
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 11 de Setembro de 2015
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REGRESSO ÀS AULAS
CRIANÇAS
Valores, Tolerância
e Assertividade
RITA BRUNO
A transmissão de valores é uma
das missões parentais. A partilha,
o respeito para com o outro,
a honestidade, a verdade são
alguns dos valores que muitos
pais procuram passar aos seus
filhos com o objectivo de os verem
tornar-se boas pessoas. E como
se faz essa passagem? Como se
ensina as crianças a serem boas
para os outros e a exigir o mesmo
para si?
A ideia de os pais transmitirem valores
aos filhos parece tão consensual que
não se pensa neste acto educativo como
passível de dúvidas e necessidade de
estarmos conscientes. Até nos vermos
confrontados com uma tensão entre os
nossos valores e os de terceiros.
Muito embora haja uma tendência
para encarar os valores como universais, cada família tem a sua dinâmica
e os pais não valorizam todos a mesma
coisa da mesma maneira. Por vezes
até há valores partilhados, mas que
são passados de maneiras diferentes
em cada família.
Por isso, é provável que em algum
momento nos vejamos perante uma situação de confronto de valores entre
os nossos filhos e os filhos dos outros.
Entre um “empresta o brinquedo” e
um “o brinquedo é do menino”, entre
um “não se bate” e um “ele bateu-me”
é preciso tolerância, discernimento,
coerência e assertividade.
Uma atitude de rejeição imediata
dos outros, por exemplo, não transmitirá respeito e tolerância. Uma atitude de alteração do procedimento que
ensinamos trará confusão.
Como manter o nosso ensinamento
S E M A N Á R I O C C AT Ó L I C O D D E D M A C AU
sem desrespeitar o dos outros?
Como obedecer aos nossos valores
fazendo valer os nossos direitos?
Mais do que uma cartilha de frases
bonitas e feitas que se vão debitando ao
jeito de um ditado para decorar, os valores transmitem-se por observação do
modelo.
Inês Afonso Marques, psicóloga
coordenadora da área infanto-juvenil
da Oficina de Psicologia, explica via
correio electrónico que «o modo como
os pais se relacionam com as outras pessoas, como ajudam, manifestam desagrado, toleram, aceitam os outros e a realidade
serve de exemplo à forma como a criança
integrará os valores» e essa passagem de
valores dependerá dos valores que os
pais conheçam.
Luís Félix Marques, também psicólogo e que exerce parte da sua actividade em contexto de creche e jardim
de infância acrescenta que, para além
de a «passagem dessa formação dever ser
antes de mais pela própria postura e pela
forma que pai e mãe têm de estar no mundo», os valores não podem ser passados
DIRECTOR: Pe. José Mario O. Mandía I ADMINISTRADOR: Alberto Santos | ASSISTENTE DA ADMINISTRAÇÃO: Wong Sao Ieng I EDITOR: José Miguel Encarnação I EDITOR-ADJUNTO:Benedict Keith Ip | REDACÇÃO: Pedro
Daniel Oliveira, Joaquim Magalhães de Castro (Grande Repórter) I SECRETARIADO DA REDACÇÃO E FOTOGRAFIA: Ana Marques I TRADUÇÃO: May Shiu-Ling Ho | COLABORAÇÃO: João Santos Gomes, Pe. João Eleutério,
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D E S TAQ U E
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 11 de Setembro de 2015
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PT
TEXTOS: FAMÍLIA CRISTÃ
por um modelo de “aula” ou cartilha,
não só porque não surte efeito se não
for acompanhada pelo exemplo, mas
também porque os valores não são totalmente estanques e, entrando em
confronto uns com os outros, poderá
ser necessário fazer adaptações. «Isto do
comunicar valores não é uma grelha, penso
que é mais uma continuidade» e um avaliar das situações, defende Luís Félix
Marques. «Os valores não se passam como
uma aula. Os valores [passam-se] perante
as situações. Se seguirmos uma cartilha, vamos errar, porque esta não tem a maleabilidade da realidade».
A multiplicidade das situações do
dia-a-dia exige dos pais coerência e
tolerância.
A primeira é importante para que as
crianças se sintam seguras. A segunda
ensina para o respeito pelos outros.
Como se equilibra então esta coerência de valores com tolerância? A
tolerância é um valor que as crianças
poderão aprender sem que os pais sejam incoerentes. É possível aos pais
fazer a criança entender que os valores transmitidos são os que eles consideram importantes, mas que existem
diferenças entre as pessoas. «Desde
que devidamente enquadrada a situação,
estamos a contribuir para o treino da tolerância. Este tipo de “cedência” não é
“conivência” ou acordo. Os meus valores
mantêm-se, são é diferentes dos da outra
pessoa...», exemplifica a psicóloga.
Utilizando um exemplo prático,
não é incoerente que um pai incite o
seu filho a partilhar e que respeite um
terceiro menino que não o quer fazer.
Inês Afonso Marques defende que
«assinalar que o brinquedo é de outra
criança nada tem de negativo, desde que
não haja uma proibição associada. Ou
seja, um pai salientar que o brinquedo é de
outro menino e que isso implica um pedido,
para emprestar ou para brincar, é positivo
e constitui uma forma de passagem de valores». Perante a situação descrita haveria incoerência se «a postura [fosse]
do tipo “tu deves emprestar as tuas coisas,
mas não podes brincar com as dos outros”»,
clarifica.
Também Luís Félix Marques – que
realçou a maleabilidade da realidade,
em que por vezes até podemos ter de
adaptar a “intensidade” de um valor
mediante situações diferentes – considera que os pais podem manter a
coerência e até reforçar o valor quando ensinam, por exemplo, os filhos a
partilhar e depois, ao serem cobrados
porque um terceiro menino não faz o
mesmo, lhes explicam que mesmo tendo de respeitar a vontade do menino
em não emprestar o brinquedo, os pais
consideram que a partilha que lhe ensinaram continua a ser o que eles lhe
querem transmitir.
Diferente será se por existirem terceiros envolvidos os pais não mantiverem o seu ensinamento ou se os
fizerem adoptar um comportamento
contrário por se sentirem intimidados
por esses mesmos terceiros. «Porque
está ali o pai de outro menino anulo o que
estou a explicar?», questiona Luís Félix
Marques. Se fizer isso, «estou a ser inseguro, incoerente, medroso e estou a transmitir uma coisa que ele não me perdoa, a
insegurança», afiança.
E como ensinar à criança que ser
boa não significa ser passiva?
Luís Félix Marques explica que, no
caso de crianças mais pequenas, ajuda-se a criança a perceber que os seus valores implicam respeito por si e pelos
seus direitos, observando, sinalizando as
situações e explicando que “isto não se
faz”. Quando as situações vão sendo sinalizadas, as crianças, mesmo pequenas,
vão tendo noção dos limites dos seus direitos e dos outros. «Os meninos, antes dos
dois anos, vê-se na sala de um ano para os
dois, têm a sua ética e a sua moral. Veem a
educadora repreender um [deles] e têm noção de que há uma barreira que o amiguinho
transgrediu», ilustra o psicólogo.
Outros dois aspectos, interligados,
são o desenvolvimento emocional e a
assertividade, descrevem os dois psicólogos, apontando como exemplo prático a capacidade de as crianças entenderem e gerirem as suas frustrações e
de as exprimirem. «Ajudar a criança no
seu desenvolvimento emocional, explorando
como se sente com a situação e ajudando-a
a encontrar formas de gerir as emoções que
surgem (por exemplo, a zanga ou tristeza
porque o outro se recusa a emprestar um
brinquedo)», explica a psicóloga, é uma
maneira de as ajudar na aprendizagem
de valores e na sua gestão.
E com esses ensinamentos, os pais
estão a contribuir para a assertividade,
isto é, «ajudando a criança a perceber que
é importante defender os seus direitos e expressar os seus pensamentos e sentimentos
de forma clara, respeitando o ponto de vista
do outro. É diferente quando uma criança
a quem batem não faz nada, de uma criança a quem batem que consegue dizer “Pára.
Não gosto quando me fazes isso”», exemplifica Inês Afonso Marques.
Neste campo, Luís Félix Marques
acrescenta ainda dois ensinamentos
que considera serem úteis na interiorização de valores e direitos. O primeiro é a capacidade de dizer não.
«É das primeiras palavras que as crianças
aprendem», afirma, e os pais podem
ajuda-las a utilizá-lo correctamente.
Esta capacidade de dizer não será útil
para que as crianças saibam respeitar
não só o espaço e os valores dos outros,
mas também respeitem os seus, impondo limites aos outros. «As crianças têm de
ter essa aprendizagem de impor limites aos
outros».
Também neste aspecto, continua
o psicólogo, ajudará se a postura dos
pais servir de modelo. E também aqui
o estar atento, o ver se a criança se consegue exprimir e ser equilibrada no
que diz respeito à tolerância para com
os outros e dos outros para consigo.
Porque tal como os valores, entre
os quais se encontram a tolerância e
o respeito, a assertividade também se
aprende.
MUDAR DE ESCOLA
Medo
ou Oportunidade?
ISABEL FIGUEIRAS (*)
O seu filho vai mudar de escola.
Escolheu uma área de estudos
que só existe numa escola e os
seus amigos vão todos para outra
escola. Está a ser difícil? Saiba
como o pode ajudar.
Nos últimos tempos o seu filho
tem andado mais irritado ou mais
isolado, com um comportamento
estranho. Tem evitado os amigos ou
só quer estar com eles como se não
houvesse amanhã.
Gostaria de o ajudar, mas não
sabe como. Em primeiro lugar, é útil
reflectir sobre a sua forma de encarar
a mudança. Fica com medo? Promove
a mudança na sua vida? Evita-a o mais
possível? Quando ela acontece sem
ser decisão sua, como reage?
Numa mudança, seja ela de
que tipo for, deixamos para trás
alguns hábitos, pessoas ou objectos
e adquirimos novos hábitos,
conhecemos novas pessoas ou
obtemos novos objectos.
A questão é que as nossas
diferenças como seres humanos,
as situações em questão ou a fase
da vida em que nos encontramos
podem proporcionar diferentes
atitudes perante a mudança. Nestes
momentos podem surgir muitas
dúvidas e as incertezas fazem-nos
hesitar. E chega o medo. Então, o
nosso cérebro vai buscar todos os
benefícios de manter as coisas como
estão. Muitas vezes são só benefícios
secundários.
Esta mudança na vida do seu filho
tem duas vertentes, duas áreas da vida
que são muito importantes: os amigos
(que acaba por ser uma realidade
mais imediata) e o seu futuro
profissional (que ainda está longe).
Talvez não adiante dizer que a sua
vida dá muitas voltas e que é natural
o afastamento entre os amigos devido
às opções de vida de cada um.
Ajudemo-lo a pensar. Pode pedirlhe que descreva os dois cenários:
um na escola com os amigos e no
curso que não escolheu e outro
na escola nova com novos colegas,
vindos também de outras escolas, no
curso de que gosta.
Peça que ele seja o mais
pormenorizado que consiga.
Que benefícios ou malefícios
poderão trazer ambos os cenários? O
que de pior podia acontecer em cada
um dos cenários? E de melhor? O que
gostaria que acontecesse?
Se alguém que o seu filho tem em
grande consideração estivesse na
situação dele, o que acha que essa
pessoa faria?
De que é que realmente tem medo?
De ser rejeitado? De se sentir sozinho?
Que oportunidades de mudança
positiva se apresentam aos seus olhos?
Se queremos mudar o que sentimos
em relação a alguma coisa que
estamos a vivenciar, temos de mudar o
nosso foco. Em que está a focar? Nos
medos ou nas oportunidades?
Há sempre várias perspectivas
perante a mesma situação. José
Maria Fonseca, coach, no seu Curso
Crescer para Ser Feliz, apresenta
uma pequena história que considero
interessante para reflectir sobre o
medo.
Havia dois cantores que antes
de entrarem no palco sentiam um
frenesim interno muito grande. Eles
tinham reacções completamente
diferentes e ninguém percebia muito
bem porquê.
Os dois cantores tinham o mesmo
agente e este estava intrigado com
a situação. Um dia resolveu tentar
perceber melhor o que se passava, foi
ter com um deles e perguntou:
«– O que é que sentes imediatamente
antes de entrar no palco?»
Ele respondeu:
«– Sinto-me tenso, sinto o coração a
começar a acelerar, sinto a respiração a
acelerar, começo a entrar em stresse, as
minhas mãos começam a suar...»
«– E depois? O que fazes?», perguntou
o agente.
«– Nessa altura eu sei que estou com
a adrenalina no máximo e que estou no
ponto certo para entrar no palco e dar o
melhor de mim a todas as pessoas que lá
estão à minha espera!»
No outro dia, o agente foi falar com
o outro cantor e fez exactamente as
mesmas perguntas.
«– O que é que sentes imediatamente
antes de entrar no palco?»
Ele respondeu:
«– Sinto-me tenso, sinto o coração a
começar a acelerar, sinto a respiração a
acelerar, começo a entrar em stresse, as
minhas mãos começam a suar...»
«– E depois? O que fazes?», perguntou
o agente.
«– Nessa altura eu sei que estou a ter
um ataque de pânico e vou-me embora!»
(*) ex-professora do Ensino Secundário
E N T R E V I S TA
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 11 de Setembro de 2015
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PT
PROFESSOR JAVIER CUERVO DÁ RECEITA PARA O IMPACTO ECONÓMICO DA CHINA EM MACAU
Integração a par da diversificação
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
[email protected]
Apesar da crise bolsita na China,
Javier Cuervo está confiante num
bom desempenho económico
do gigante asiático. Ao invés dos
Estados Unidos, os países que
mais sofrem com a instabilidade
são o Brasil, a Rússia, a Austrália
e a Alemanha. Quanto a Macau, o
professor-assistente de Gestão de
Empresas na UMAC salienta que
há o duplo desafio das operadoras
de Jogo não dependerem de quem
chega do outro lado das Portas do
Cerco e de captarem turistas do
Sul e do Sudeste Asiático. Sobre o
Governo da RAEM, tem de criar
condições e incentivos para fazer
face à nova realidade, sendo «a
diversificação» económica «e a
integração» no continente chinês
«duas respostas para a queda de
receitas».
O CLARIM – O mundo ocidental e os
países asiáticos estão em alerta máximo
por causa da crise do mercado bolsita na
China. Há razão para as economias mais
poderosas estarem preocupadas?
JAVIER CUERVO – Havendo volatilidade, há incerteza. E onde há incerteza
há adiamento de decisões que são tomadas por homens de negócios, investidores e multinacionais estrangeiras, sem
esquecer os empresários do continente
chinês. Não tomam decisões e preferem
que o mercado estabilize, pois não conseguem medir o risco das suas decisões.
É algo significativo ao nível do emprego
e dos investimentos.
CL – Que previsão para a economia
chinesa?
J.C. – A previsão do PIB para o corrente ano está num bom nível, a rondar o
crescimento de 7%. Trata-se de um bom
desempenho se compararmos com outras economias mundiais. O mais importante são as estatísticas das exportações
chinesas, que decaíram. Os países mais
afectados são os que mais dependem
do crescimento económico da China,
tais como o Brasil (exporta soja e outros
bens alimentares), a Rússia (petróleo),
a Austrália (minerais) e a Alemanha
(equipamento especializado, sendo o
país da União Europeia que mais investe
na China).
CL – E os Estados Unidos?
J.C. – A economia americana é mais
Ana Cecília Marques
resiliente no sentido de estar mais diversificada e interligada com outros países
à volta do mundo. Além disso, tem um
grande apoio do sector empresarial no
próprio país. Já algumas nações do Sudeste Asiático estão mais ligadas ao comércio e ao investimento com a RPC.
Não tem sido, por exemplo, o caso das
Filipinas, que é muito dependente de
dois sectores não muito relacionados
com a China: os “call centers” e as remessas dos filipinos no estrangeiro.
CL – Que diferenças entre esta crise e
a que resultou com a falência da instituição financeira norte-americana Lehman
Brothers, em 2008?
J.C. – A crise na China é mais um problema interno que se deve ao facto das
exportações liderarem o crescimento
económico. O “crash” bolsita norte-americano de 2008 esteve relacionado com
o que considero ter sido a atribuição de
créditos excessivos e de empréstimos imprudentes. Também havia a falta de regulação de alguns produtos financeiros
de alto risco. Nos Estados Unidos há o
espírito empresarial e uma economia de
mercado. Ambas ajudam sempre à recu-
peração económica quando o País está
em crise, sendo esta uma forte característica dos Estados Unidos. Na China, a
retoma económica tem um forte pendor
governamental. Julgo que o Poder Central terá agora, mais do que nunca, que
investir nos sectores dos transportes e
tecnologia, entre outros.
CL – O decréscimo de receitas brutas
nos casinos de Macau é benéfica para a
economia local?
J.C. – Antes desta queda de receitas
havia o problema da capacidade de Macau em acolher tantas pessoas, dos preços excessivamente altos no mercado
imobiliário, da falta de infra-estruturas
para servir tantos turistas, etc. Face à actual situação a economia de Macau é forçada a diversificar-se e integrar-se cada
vez mais na China. São disso exemplo
os projectos na Ilha da Montanha, entre
outros lugares do continente chinês. Haverá cada vez mais empresários de Macau que terão necessidade de investir e
fazer negócios noutras partes da China.
A diversificação e a integração são duas
respostas importantes para a queda de
receitas. A situação deverá melhorar
para as PME, em termos do mercado
laboral. Espero que as rendas baixem
porque nada justifica que os preços continuem altos. É algo crucial para as PME.
CL – Quais os desafios?
J.C. – Para quem opera na indústria
do Jogo tem definitivamente pela frente o grande desafio de atrair potenciais
clientes fora do mercado VIP. Não é
ainda um problema, mas é certamente
um desafio à gestão das operadoras, que
não devem estar muito dependentes dos
turistas do continente chinês porque há
que encontrar formas de atrair cidadãos
de outros países do Sul e do Sudeste
Asiático.
CL – A diversificação não foi ainda
materializada na sua plenitude pelo Governo de Macau. Nem tudo pode depender do sector privado...
J.C. – O Governo pode criar condições e incentivos. Julgo que agora se está
a esforçar ainda mais porque a situação
criou oportunidades para as pessoas serem criativas. Estou esperançado que
Macau encontre soluções para a diversificação e seja solidária com os que mais
sofrem com a crise.
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 11 de Setembro de 2015
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PT
LOCAL
REJEITADA NÃO REATRIBUIÇÃO DE LICENÇAS DO JOGO ÀS ACTUAIS OPERADORAS
Especulação teórica
O advogado Óscar Alberto Madureira
e o assessor jurídico Fernando Vitória
afirmaram a’O CLARIM que a hipotética
não atribuição de uma licença a alguma
operadora em actividade na indústria do
Jogo não terá efeitos catastróficos para o
Governo da RAEM.
«Em última análise, nos termos da lei e dos
contratos de concessão e subconcessão, as
áreas e os equipamentos de Jogo revertem
para o Governo de Macau. Em termos teóricos, a RAEM estará na disponibilidade de
operar essas áreas de Jogo e respectivos equipamentos no dia imediatamente a seguir ao
termo da concessão. Até ver, para além da
própria operadora, que poderá ter um grande
prejuízo se não lhe for atribuída uma nova
licença, não vejo grandes problemas em termos práticos», disse Óscar Madureira.
A ideia foi secundada por Fernando Vitória. «Em termos estritamente legais, o que
se passa é como se nada tivesse acontecido,
porque no dia seguinte ao termo da concessão
estará tudo preparado para a nova operadora “pegar” no equipamento e espaço de Jogo e
começar a explorar o casino. A ideia é que a
Região não pode ficar sem as receitas do Jogo,
porque são essenciais», referiu o assessor jurídico da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), descrevendo a
situação «apenas como especulação teórica».
Por enquanto, ainda reina muita indefinição quanto ao futuro. «Não sabemos o
que poderá acontecer quando as licenças expirarem [entre 2020 e 2022]. Presentemente,
a lei prevê uma prorrogação anual dos termos
dos contratos até ao limite máximo de cinco
anos. É esse o cenário próximo e expectável até
essas datas. Se não houver alguma alteração
da legislação, terá que haver um novo concurso público internacional para a atribuição
das novas licenças de Jogo», frisou Óscar
Madureira.
As declarações de ambos foram proferidas a propósito do lançamento do livro
em co-autoria, intitulado “Direito do
Jogo em Macau. Evolução, História e
Legislação”, que decorrerá na próxima
terça-feira na Fundação Rui Cunha.
A obra, com a chancela do CRED-DM,
inclui um conjunto organizado de legislação e regulamentos sobre o Jogo em
Macau, a sua História no território e
um glossário com a principal terminologia usada no sector.
«Não se trata de um manual eminentemente
académico. A mais valia deste livro é permitir
que um profissional possa levá-lo para uma
reunião ou consultá-lo como instrumento útil de
trabalho no seu escritório ou no dia-a-dia, pois
além da legislação e de regulamentos, também
inclui os contratos de concessão e as instruções
da DICJ», explicou Óscar Madureira.
«A obra também tem grande utilidade para o
senhores juízes e advogados que não tenham
formação de base no Direito do Jogo. Por força da especificidade desta actividade podem
encontrar no glossário o significado de certos
conceitos, palavras ou expressões, cuja terminologia tem muitas vezes um significado
muito próprio», anotou ainda.
«Neste âmbito, tentámos dar uma perspectiva do que há para além do que está legislado, havendo no glossário referência aos
termos usados e como surgiram», concluiu
Fernando Vitória.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
ORIENTE E OCIDENTE NO LIVRO FOTOGRÁFICO
DE GONÇALO LOBO PINHEIRO
Fé Católica na “Macau 5.0”
A obra de Gonçalo Lobo Pinheiro intitulada “Macau 5.0”
traça o percurso de cinco anos
de vivências do fotojornalista
no território, onde chegou a 9
de Setembro de 2010. A efeméride foi ontem assinalada com o
lançamento do livro e inauguração da exposição de fotografia
da sua autoria, na Chancelaria
do Consulado Geral de Macau
e Hong Kong.
Entre as 314 fotografias a
preto e branco que compõem a
obra trilingue (Português, Chi-
nês tradicional e Inglês), com
edição limitada a mil exemplares, estão vários registos ligados a manifestações católicas
tiradas pela objectiva de Lobo
Pinheiro.
«O fio condutor deste livro é Macau. Portanto, as fotos abrangem a
cultura, as tradições, as pessoas, o
património, a gastronomia e o desporto. Tenho festas chinesas e de cariz ocidental, incluindo no último
caso alguns momentos de celebrações católicas, como as procissões de
Nosso Senhor dos Passos e do 13 de
Maio, além das igrejas de São Lázaro, de São Lourenço, da Penha, de
São Domingos...», explicou.
«A minha passagem por Macau
não me deixa indiferente. Não quero que seja uma passagem efémera,
porque gostaria de deixar um documento sobre a minha visão do território. Obviamente, estando cá há cinco
anos, e sem saber quantos mais ficarei, seria de todo justo que pudesse
oferecer a Macau este meu trabalho»,
esclareceu ainda o autor.
P.D.O.
ALENTO PARA QUEM MAIS PRECISA – As Missionárias da Caridade festejam o Dia da Madre Teresa
de Calcutá da melhor forma que sabem fazer: junto dos mais desfavorecidos. Palavras de reconforto e
esperança na celebração eucarística, e convívio à mesa para quem pouco tem nesta vida, marcaram a
acção que decorreu nas instalações da congregação na Ilha Verde.
LOCAL
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 11 de Setembro de 2015
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PT
CONHECER AS LEIS DE MACAU
Alteração ao regime de reparação de danos emergentes
de acidentes de trabalho e doenças profissionais (Primeira parte)
A época de tufões em Macau começa
todos os anos em Maio e acaba em Outubro. No entanto, quando é hasteado
o sinal de tempestade tropical igual ou
superior ao n.º 8, muitos trabalhadores
em Macau ainda têm que se deslocar
para o local de trabalho, para prestar
serviço. Para oferecer maior protecção
aos trabalhadores e aperfeiçoar e clarificar o mecanismo e procedimentos
de reparação de danos emergentes
de acidentes de trabalho e doenças
profissionais, foi publicada em 29 de
Agosto no Boletim Oficial da Região
Administrativa Especial de Macau a
Lei n.º 6/2015 (Alteração ao regime
de reparação de danos emergentes de
acidentes de trabalho e doenças profissionais), que entrará em vigor em
29 de Agosto. Nesta lei, foram aditadas algumas situações que podiam ser
enquadradas no conceito de “acidentes de trabalho”, incluindo acidentes
ocorridos com os trabalhadores no
percurso de ida para ou regresso do local de trabalho durante o período em
que está hasteado o sinal de tempestade tropical igual ou superior ao n.º
8, com vista a providenciar uma maior
protecção aos trabalhadores.
GARANTIAS
NO PERÍODO DE TUFÕES
Nos termos da lei vigente, caso for exigido ao trabalhador apresentar-se ao emprego durante o período em que está hasteado o sinal de tempestade tropical igual
ou superior ao n.º 8 e ocorrer acidente no
percurso de ida e volta entre a sua residência e o local de trabalho, o trabalhador
não é coberto pelo regime de reparação
de danos emergentes de acidentes de trabalho e doenças profissionais, a não ser
que esteja a viajar em meio de transporte providenciado pela entidade patronal.
Atendendo que o trabalhador se desloca
para o local de trabalho a solicitação da
entidade patronal, correndo um risco especial em tempo de tufões e considerando
que muitos sectores de actividades em Macau precisam de assegurar a prestação de
serviço sem interrupção 24 horas seguidas
(por exemplo, casinos, hotéis e hospitais),
e os trabalhadores são obrigados a prestar
serviço quando está hasteado o sinal igual
ou superior ao n.º 8, há que oferecer a estes profissionais maior protecção.
Assim, nos termos da nova lei, no percurso directo de ida e volta entre a residência do trabalhador e o local de trabalho, quando ocorrer acidente durante o
período em que estiver hasteado um sinal
de tempestade tropical igual ou superior
ao n.º 8, dentro de três horas antes do início ou depois do termo do seu tempo de
trabalho, é também considerado “aciden-
te de trabalho”. A norma que determina
“dentro de três horas antes do início ou
depois do termo do seu tempo de trabalho” tem em especial consideração que na
véspera ou logo depois de hastear o sinal
n.º 8, é possível ocorrer situações caóticas
no trânsito (por exemplo, abrandamento
na circulação de veículos, chuva forte ou
encerramento das pontes, entre outras).
A expressão “no percurso directo de ida
e volta” significa que o trabalhador não se
desviou do caminho no meio da viagem
(por exemplo, decidiu interromper a viagem para frequentar uma loja) e se deslocou directamente entre a residência e o
local do trabalho.
Caso a entidade patronal precisar que
o trabalhador preste serviço durante o período em que estiver hasteado um sinal de
tempestade igual ou superior ao n.º 8, nos
termos da Lei n.º 6/2015 (Alteração ao regime de reparação de danos emergentes
de acidentes de trabalho e doenças profissionais), é obrigada a adquirir seguro por
acidente de trabalho para o trabalhador.
Iremos na próxima semana continuar
a divulgar nesta coluna o conteúdo da
Lei n.º 6/2015 (Alteração do regime
de reparação de danos emergentes de
acidentes de trabalho e doenças profissionais).
Obs. Na elaboração do presente artigo teve-se
como referência principal o disposto na Lei n.º
6/2015 (Alteração ao regime de reparação por danos emergentes de acidentes de trabalho e doenças
profissionais).
Texto fornecido pela Direcção dos
Serviços de Assuntos de Justiça
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 11 de Setembro de 2015
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PT
ÁSIA
500 ANOS DA CHEGADA DOS PORTUGUESES A TIMOR
O corte do cordão
umbilical com Macau
JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO
[email protected]
Prosseguimos esta semana
com a passagem em revista da
história de Timor e a sua relação com Macau no último meio
milénio.
Em 1769 os holandeses ocuparam a metade ocidental de
Timor e pressionaram os portugueses aquartelados em Lifau,
no enclave de Ocussi, forçando
o governador António José Teles
de Meneses a transferir a capital
para Díli. A situação de conflito
permanente perdurou em Timor até 1912, embora o avanço
dos holandeses tenha estancado
em Atapupu, ocupada em 1818,
hoje parte de Timor Oeste.
Com o declínio do comércio
de sândalo, a agricultura passou novamente a ser o suporte
base da economia do território.
O governador Alcoforado de
Azevedo e Sousa (1815-1819)
incentivou o cultivo do café, da
cana-de-açúcar e do algodão.
Duas décadas e meia depois, a
partir de 1834, um outro governador, José Maria Marques, põe
em marcha um bem delineado
plano de urbanização e reorganização administrativa de Díli.
Macau e Timor desvincularam-se definitivamente do
Governo de Goa em 1844, passando Timor a constituir uma
espécie de distrito de Macau.
Situação que, à excepção do período compreendido entre 1865
e 1878, iria continuar até 1894,
altura em que a ilha passou a ser
considerada distrito autónomo.
No que se refere ao período
compreendido entre 1833 e
1911 abundam no Arquivo Histórico Ultramarino referências
a Timor nos documentos produzidos pelas várias instituições
governamentais que superintenderam a gestão do Império Colonial Português. Foi o caso do
Conselho da Fazenda, do Conselho da Índia, e, em particular,
do Conselho Ultramarino e do
Secretaria de Estado da Marinha
que produziram as mais diversas
correspondências, cartas ao rei,
consultas, pedidos e cartas ao
Joaquim Magalhães de Castro
secretário de Estado. Por essa
razão contamos com um vasta
manancial informativo que nos
elucida sobre o estado da colónia quanto a uma imensidade de
matérias: agricultura, assuntos
aduaneiros, observações meteorológicas, nomeação de governadores, movimento das portos, direitos de importação de
produtos como o óleo de coco,
informações sobre os diversos
reinos – Balibo Batugade, Bibiluto, Boibau, Cotubabá, Faturo,
Liquiça, Lolotoi, Ocusse, Aileu,
etc – a actividade dos artesãos
chineses em Timor, a questão
da autonomia da ilha, as nomeações de Francisco Rodrigues Batalha e Afonso de Castro, entre
outros, como deputados para
as cortes de Timor, o fabrico de
peças de artilharia e preenchimento de vagas no Batalhão de
Artilharia, a reorganização do
Batalhão dos Defensores Leais
de Díli, a construção da cadeia
e do Cais Alfândega, também
em Díli, a situação do ensino
primário, a chegada de colonos
chineses, o comércio de sândalo, o desenvolvimento do comér-
cio e navegação, a construção
de edifícios e estradas, o envio
de condenados para Timor, os
custos de estudantes, a criação
de distritos, a eleição dos reis,
a diáspora indiana, a abolição
da escravatura, a construção de
uma fábrica de tijolos e de várias
igrejas, actividade dos missionários, a indemnização do Governo holandês a Timor, a circulação de moedas de cobre e as
irregularidades em torno dessa
actividade, a mortalidade indígena, as viagens do navio a vapor
“Díli”, o observatório magnético
de Díli, a ocupação de Atapupo,
a cultura da pimenta, os contratos de venda, a regulamentação
policial, a inauguração da ponte
Hintze Ribeiro, as rebeliões, a
vacinação contra a varíola, a lealdade dos chefes, e muitos, muitos outros diferentes assuntos.
É de notar, no início da segunda metade do século XIX, o
papel do governador Afonso de
Castro (1859-1863), responsável
pelo primeiro estudo histórico
de Timor e do desenvolvimento
da agricultura, do artesanato e
das actividades comerciais em
geral. Deve-se a ele a fundação
de uma escola para os filhos dos
chefes locais, os liurais.
Em 1894 é o ano do definitivo corte do cordão umbilical
que ligava Timor a Macau. Inicia funções governativas na pro-
víncia agora independente José
Celestino da Silva (1894-1908).
A esta carismática figura – talvez a mais notável na história de
Timor – se deve as campanhas
de pacificação e a instalação de
sistema governativo próprio.
Podemos considerar que, desde meados do século XVII até
à administração de Celestino
da Silva, Timor era mais um
protectorado português do que
propriamente uma colónia.
Aproveitando-se da instabilidade causada pela proclamação
da República em 1910, os holandeses estimularam o último
e maior levantamento contra a
presença portuguesa na história de Timor, a denominada revolta de Manufahi (1911-1913),
que, com pulso e determinação, foi debelada pelo governador da época, Filomeno da
Câmara de Melo Cabral, que
exerceria funções no território
até 1934. A sua violenta, e por
vezes cruel, actuação durante as
campanhas de pacificação ficou
manchada para sempre pelo
massacre ocorrido nas montanhas de Leolaco, no qual perderam a vida cerca de três mil
timorenses, grande parte dos
quais não combatentes. O facto
causou inclusive, na época, polémica e horror em Portugal.
OPINIÃO
O L H A N D O
E M
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 11 de Setembro de 2015
8
PT
R E D O R
Crise democrata
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
Mesmo que chegue à praça
e comece a tecer palavras de
ordem, temo que num ápice
sejam completamente abafadas
pela intervenção dos militares
que zelosamente guardam o local, não passando o momentâneo ruído de um pingo de
água a cair no imenso oceano.
O senhor Cheang tem
depois de perceber que a
gravidade dos actos a que se
propõe cometer só irá dificultar um entendimento entre as partes. Se já é bastante
difícil face à natureza do
problema, com esta atitude
ficará irremediavelmente sem
qualquer solução à vista.
[email protected]
O
assunto não é novo e
vem à baila de tempos
a tempos. O campo
pró-democrata de Macau está
dividido e as clivagens são
difíceis de esconder. A fractura
é evidente entre os históricos
da Associação Novo Macau
(ANM), Ng Kuok Cheong e
Au Kam San, e a nova geração
conduzida por Jason Chao e
quejandos.
O episódio mais recente tem
a ver com a adesão dos deputados Ng e Au ao grupo cívico
“Iniciativa para o Desenvolvimento Comunitário de Macau”, fundado recentemente
por Tong Ka Io, que chegou
a ser presidente da ANM,
tendo saído em Setembro de
2014 após um conflito com o
então presidente Sou Ka Hou
(demitiu-se no mês passado
para continuar os estudos em
Taiwan).
Quem tem acompanhado
a vida política da RAEM sabe
perfeitamente que o modus
operandi de Ng Kuok Cheong
e de Au Kam San é diferente
de Jason Chao (vice-presidente
da ANM), de Sou Ka Hou
(quando integrava a Novo Macau) e de Scott Chiang (actual
presidente).
Por exemplo, o radicalismo
de algumas posições tomadas
por Jason Chao, seja na ANM,
seja na “Macau Consciência”
ou na “Juventude Dinâmica”,
não só tem deixado constrangidos os dois históricos, como
estes foram incapazes de travar
a inconveniente bola de neve
que cresceu na associação por
eles fundada.
A contribuir para o distan-
O MAIOR CULPADO
ciamento entre a velha guarda
e a nova geração está também
o resultado aquém do esperado nas legislativas de 2013,
porque a divisão em três listas
não obteve o resultado esperado, ao falhar a reeleição de
Paul Chan Wai Chi e a não ser
eleito o quarto elemento dos
pró-democratas (Jason Chao
entraria nas contas).
Os erros de “casting” sucedem-se em catadupa, assim
como a incerteza quanto às
intenções dos mais jovens que
integram a ANM, porque a sua
actuação está por vezes desfasada da realidade chinesa de
Macau, restando saber qual a
sua verdadeira fonte de inspiração.
O divórcio é inevitável, mas
falta saber quando irá acontecer. É ponto assente que
a facção de Jason Chao terá
depois grande dificuldade
em reunir um apoio maciço
junto do eleitorado, porque
os votantes mais tradicionais,
tendo em conta os dois estilos,
serão fieis ao conservadorismo
de Ng Kuok Cheong e de Au
Kam San.
Para recuperarem do
descalabro que se afigura nos
índices de popularidade, Jason
Chao e Scott Chiang poderão
agitar ainda mais as águas em
vários sectores da sociedade,
por forma a cativarem alguma
franja do eleitorado jovem
ainda a descobrir essa “coisa”
tão em voga no mundo ocidental chamada democracia.
Seria útil que Jason Chao e
Scott Chiang não deturpassem
os valores democratas, com
algo que lhes permita dizer e
fazer o que bem lhes apetece,
ao confundirem activismo com
radicalismo e esquecerem que
a liberdade de uma pessoa
acaba quando começa a liberdade de outra.
SEM IMPACTO
A Associação para a Reunião
Familiar pediu esta semana
ao Governo de Macau para
ESCOLHA SARDINHAS
PORTUGUESAS
atribuir o direito de residência
aos filhos maiores de idade que
vivem do outro lado das Portas
do Cerco, ameaçando protestar
na Praça de Tiananmen se as
autoridades locais não aceitarem as suas exigências.
«Temos à volta de 60 anos e
não temos medo de ser detidos e
de estar presos», assegurava o
presidente daquela associação,
Cheang Mao Fong, por altura
da entrega de uma carta na
sede do Governo local a solicitar uma reunião com o Chefe
do Executivo. Segundo o Ponto
Final, outra carta foi entregue
no Gabinete de Ligação do
Governo Central em Macau.
Por muito que compreenda
o sofrimento destas famílias,
há um pormenor que deve ser
explicado ao senhor Cheang: a
intenção de protestar na Praça
de Tiananmen será tarefa
quase impossível, pois o grupo
terá primeiramente que passar
por um controlo de acessos,
onde quaisquer artigos suspeitos serão apreendidos.
ESCOLHA
PORTHOS
A crise dos refugiados na
Europa é um assunto bastante
delicado face a tudo o que está
em jogo. Por um lado, são vidas
humanas que merecem a nossa
atenção. Por outro, é o dever
dos Estados de se protegerem
contra a ameaça dos infiltrados
islamitas radicalizados.
A senhora Merkel está
aproveitar a situação para
dotar a sua Alemanha de mãode-obra barata de que o País
necessita para os trabalhos que
o grosso dos alemães dispensa,
sendo certo que a triagem serlhe-á sempre favorável. Daí a
sua sensibilidade para o problema dos refugiados.
Este será uma entre muitas
conclusões a tirar, mas o
cerne da questão ainda está
por aflorar: por que razão
os Estados Unidos, afinal, os
principais causadores de toda
esta vaga de refugiados, não
se chegam à frente e acolhem
a maior parte dos que fogem
para a Europa em perigosas
travessias pelo mar?
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 11 de Setembro de 2015
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PT
OPINIÃO
A indiferença e o medo também matam
LUIS BARREIRA
A
s imagens televisivas do drama
dos refugiados não ilustram
todo o sofrimento de milhares
e milhares de homens, mulheres e crianças, vindas de um inferno de guerras e miséria, arriscando tudo pelo futuro das suas famílias. Ninguém pode
agora ficar indiferente quando esses
desgraçados apelam directamente à
nossa solidariedade.
Durante anos assistimos passivamente
ao massacre de populações, provocados
aparentemente por ódios religiosos,
sede de poder, violência de regimes
ditatoriais ou pela directa interferência
dos países ocidentais, numa região do
mundo a viver permanentemente em
equilíbrios instáveis, que não sabemos
ou (supostamente) não queremos
resolver. E digo que não queremos
porque duvido que os cenários de guerra que afectam a Síria, o Afeganistão,
o Iraque, a Somália, a Líbia, o Sudão
e o Sudão do Sul, origem da quase
totalidade dos refugiados que hoje nos
batem à porta, não façam parte de uma
estratégia geopolítica para manter a
instabilidade naquela área do globo, assegurando a presença de tropas ocidentais no terreno, como precaução contra
um eventual conflito com o Irão ou
para teste e treino de novas técnicas de
guerra, comércio de armas com todas
as partes em oposição e outras vantagens económicas.
Todos os horrores destas guerras nos
entraram pela porta do nosso televisor mas, porque era longe e era “outra
gente” que morria, a nossa indiferença
acomodava-se no “sofá da nossa indiferença” e ninguém pedia responsabilidades aos nossos governantes
ocidentais, antes tão motivados com o
incremento da “Primavera Árabe”.
Mas nem todos os “indiferentes” se
têm situado no “cantão” desta (des)
União Europeia. Bem mais perto da
origem dos refugiados que hoje nos
procuram estão países riquíssimos, como
a Arábia Saudita, os Emiratos Árabes
Unidos, o Qatar, o Kuwait, Omã ou o
Bahrein, com culturas e religiões semelhantes às do refugiados, o que permitiria
que a integração social destas populações se fizesse com mais facilidade, mas
que, no entanto, resistem a recebê-los.
Porque já ninguém consegue fechar os
olhos a este drama social, começam agora
a surgir sinais de uma certa fobia social en-
tre os europeus, com receios de vária natureza para com a entrada dos refugiados
nos seus respectivos países. Ou porque são
islâmicos, na sua maior parte e esse facto
leva alguns europeus a classificá-los como
prováveis terroristas, esquecendo-se que
os atentados na Europa foram cometidos
por gente criada e educada na Europa.
Ou porque (estranhamente até alguns
portugueses) têm medo que estes novos
imigrantes lhes “roubem” o trabalho ou
lhes condicionem o acesso ao emprego,
esquecendo-se que nesta Europa de livre
circulação quantos milhões de pessoas
beneficiaram da solidariedade dos países
de acolhimento onde se encontram.
Apesar de algumas boas vontades de
alguns países europeus, a Europa não
vai conseguir absorver os milhões de
deslocados que, por razões humanitárias,
solicitam a nossa solidariedade. Seremos
capazes de atenuar o sofrimento dessas
populações, que atravessam o Mediterrâneo sem se afogar ou que calcorreiam
milhares de quilómetros em condições de
enorme sofrimento, mas não conseguiremos ultrapassar a dimensão do problema
sem colocar à escala global a sua resolução. O que passará, inevitavelmente, por
uma efectiva pacificação dos seus países e
por um investimento sério no seu desenvolvimento económico, beneficiando as
suas populações. Só assim poderemos
ver regressar todos estes expoliados às
suas terras de origem, garantindo a paz
e um futuro para toda esta gente e para
nós próprios. Deixá-los no mar ou erguer
muros à volta dos nossos países é matá-los!
E isso não pode fazer parte da solução.
A Europa e todos os países do mundo
ditos civilizados, apesar dos egoísmos
nacionais que tendem a aumentar nestas
actuais circunstâncias, não podem pre-
scindir dos valores cívicos e morais que
nos devem caracterizar e distinguir.
O nosso humanismo não deve ser
visto como um sinal de fraqueza, mas
como uma arma e uma referência no
combate por um mundo melhor.
C U LT U R A
O CLARIM | Semanário Católico de Macau
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PT
MEMÓRIAS E FORTALEZAS NO LESTE DE ÁFRICA – PARTE
O ouro de Monomotapa e o sonho
JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO
[email protected]
Foi a busca dos metais preciosos
– não a prata de Cambebe da
costa angolana, mas sim o ouro de
Monomotapa – a razão pela qual
nos estabelecemos nestas paragens.
Havia, portanto, que ocupar os
portos. E foi o que fizemos, fixando
feitoria em Sofala, em 1505,
seguida de um forte, pois era aí que
os árabes traficavam o ouro.
UM ano depois era construída a fortaleza
de Quiloa, mil quilómetros a norte, numa
metrópole já próspera, que abandonaríamos em 1512. Entre esse espaço temporal foi construída, em 1508, na Ilha de
Moçambique, a primeira das fortalezas, a
meio caminho da rota entre o cabo da Boa
Esperança e a Índia. Muitas das embarcações enveredavam a partir daí em linha
recta em direcção à Índia, passando acima
das actuais Seychelles. A curiosidade dos
lusos levou-os a contornar a grande ilha
de Madagáscar (ainda estabelecemos, em
1515, feitoria em Matatana, mas os locais
repeliram-nos) e a chegar às Maurícias e a
uma infinidade de ilhas nas proximidades.
De resto existem ainda topónimos que
comprovam esse pioneirismo. O arquipélago das Mascarenhas, que compreende
as ilhas Rodrigues e Reunião (hoje ainda
colónia francesa), e o arquipélago dos
Chagos, cuja ilha principal tem o nome do
navegador luso Diego Garcia, são apenas
dois exemplos.
EXPEDICIONÁRIOS PIONEIROS
Passo o último serão na ilha, após jantar
um excelente arroz com feijão de soja verde num botequim local junto ao hospital,
exactamente na fronteira entre a cidade de
pedra e cal e a cidade de macuti, em frente a
uma cerveja Manica, lendo acerca das terras
de Manica, informação que me disponibiliza
o mestre Jaime Cortesão.
Em 1570 Francisco Barreto, recentemente nomeado governador de Moçambique, chega ao Índico, com três naus e mil
homens. Um ano depois partiria em busca
das minas Monomotapa, missão que lhe
fora incumbido pela Coroa, socorrendo-se das bases que os portugueses já tinham
em Tete e Sena. Barreto ostentava até o título de Conquistador das Minas de Ouro
de Monomotapa, mas as doenças e a falta de alimentação apropriada fizeram os
seus estragos, dizimando a expedição. De
Sena, Barreto enviou um presente ao soba
que detinha o título de Imperador de Mo-
FOTOS | Joaquim Magalhães de Castro
nomotapa, pedindo-lhe autorização para
entrar nos seus domínios. O pedido seria
concedido, só que as hostilidades encontradas pelo caminho e as muitas doenças
fizeram-no desistir da ideia. Como resultado dessa expedição, os portugueses ficariam doravante autorizados a negociarem
livremente na terra do poderoso soba e a
obtenção do ouro das terras de Manica,
embora a sua quantidade não justificasse
tamanha despesa. Vasco Fernandes Homem ficaria para história como primeiro
europeu a chegar às minas de Manica. Monomotapa, porém, continuava inacessível.
Muitas seriam as peripécias em torno da
procura destas minas. Figura incontornável ligada e esta região foi o conde da Feira
D. Nuno Álvares Pereira (homónimo do
de Aljubarrota), governador de Moçambique e vice-rei da Índia.
Durante este processo de penetração –
no decorrer do qual foram dadas a conhecer ao mundo maravilhas da natureza como
as nascentes do Zambeze, séculos antes de
aí terem chegado Livingstone e quejandos,
que ficaram com os louros e deixaram o
seu nome para a posteridade nas enciclopédias – houve sempre a intenção de ligar
os dois territórios de costa a costa, como
o viriam a fazer Serpa Pinto, Silva Porto e
tantos outros de que nunca ninguém ouviu
falar. Esse imenso império ultramarino, que
incluía os actuais territórios da Namíbia,
Zâmbia, Zimbabué e África do Sul, só não
foi uma realidade devido às maquiavélicas,
mas eficientes, movimentações de um fanático chamado Cecil Rhodes, que resultariam nas tristemente célebres questões do
Ultimato Inglês e do Mapa Cor-de-Rosa,
que tanto humilharam Portugal.
DE COSTA A COSTA
Data de 1798 uma das mais ousadas tentativas de ligar a costa oriental de Moçambique
à contra costa de Angola, um sonho que tinha já sido alimentado, em 1592, por Abreu
de Brito, um homem ao serviço de Paulo
Dias Novais, um dos pioneiros em terras dos
Ngola. Abreu de Brito apresentara um plano
para conquista e alargamento do território
angolano e tinha até efectuado algumas visitas de reconhecimento ao interior. Assegurava que não só «poderia terminar a conquista
de Angola em quatro meses» como estender o
domínio lusitano «às serras de Monomotapa,
tão famosas pelas suas minas de ouro». Segundo
ele, a distância que iria de Luanda à contra
costa era de aproximadamente 405 léguas,
assegurando que «os negros soassos» faziam
repetidamente essa viagem «ao serviço dos
brancos». Abreu não era o primeiro a pensar
assim. Quatro anos antes, um tal Diogo Ferreira, homem que conhecia bem a região,
propusera ao rei um plano de conquista
que seguia exactamente o mesmo padrão
e sustentava-se nas mesmas prerrogativas. O
objectivo de unir os dois territórios seria o
de reduzir para metade o tempo dispendido
nas comunicações com a Índia.
Dois séculos depois, partindo do Tete,
Francisco José de Lacerda e Almeida percorre território inóspito durante três meses, e com grandes dificuldades, atinge o
reino de Camzebe, visitado por negros de
ambas as costas, acabando, porém, por sucumbir de febre, mas sem antes incumbir a
continuidade da tarefa ao seu capelão, que
nada pode fazer, já que aos régulos locais
não interessava que os homens brancos
concluíssem tal empreendimento. Ora,
olhando no mapa, e tendo como ponto
de partida o Tete, bem no interior do País,
uma viagem de três meses, por mais lenta
que fosse, implicaria percorrer uma parte
considerável dos território do Zimbabué e
da Zâmbia, que faz fronteira com Angola.
Anos depois, em 1806, os pombeiros
Pedro João Baptista e Amaro José falharam inicialmente o seu objectivo de ligar
Angola a Moçambique, porque o rei de
Cambeze prometeu-lhes guias para os conduzir a Tete e em vez disso reteve-os durante vários anos, impedindo-os de cumprir a tarefa na data que previam. Viriam a
consegui-lo com a chegada, já em 1810, de
compatriotas seus que residiam nos Rios
de Sena, e que os levariam dali. Regressariam, ainda esse ano, pelo mesmo caminho, e mais uma vez ficariam retidos no
Cazembe, mas já nada os impediria de chegar a Angola e fazer um feito nunca antes
alcançado: o de ter ligado a costa de Angola à de Moçambique e regressado pelo
mesmo caminho, tendo sobrevivido para
u | SEXTA-FEIRA | 11 de Setembro de 2015
11
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o dos pombeiros
relatar a façanha. Infelizmente os nomes
destes pombeiros, como tantos outros exploradores, continuam arredados do grande público, sendo conhecidos apenas por
um determinado número de historiadores
e curiosos. Pombeiros em África, tropeiros
no Brasil, quanto deles não cometeram façanhas muito antes daqueles que agora a
História lembra e honra.
DECADÊNCIA À PORTUGUESA
Aquando a Restauração, o domínio português estendia-se por toda costa, de Lourenço Marques a Melinde, e era relevante a
ocupação interior feita através do rio Zambeze. Para isso concorria a agricultura e o
comércio com os indígenas, o ouro e o marfim, que chegava às vilas de Tete e de Sena
graças a um leque de feiras e pequenas feitorias fortificadas que tínhamos espalhado
pelo interior.
A instalação era tal que já nesse século
XVII padecíamos do mal que atingiria Goa,
Malaca e no Brasil e, mais tarde, outros locais, sendo o último Macau. Ou seja, a já
velha e repugnante boçal opulência à portuguesa. O governador dos Rios de Sena,
citado por Francisco Maria Bordalo, escreve
nos “Ensaios sobre as Estatísticas de Possessões Portuguesas no Ultramar” que os portugueses da região de Sena «não saíam fora de
casa sem ser na sua cadeirinha, e com dois grandes
chapéus-de-sol de veludo com grandes maçanetas
de prata de uma e de outra parte, para que os raios
do sol perto do seu ocaso, os não molestassem; que
viviam envolvidos em sedas e panos brancos finíssimos; que adoeciam de indigestão ou mordaxim,
por causa da sua esplêndida e profusa mesa; e que,
fielmente, gastavam o seu tempo a espalhar fato, e
arrecadar ouro e marfim». Mais mordaz ainda,
em 1806, falava de o «senhor indolente e inerte, que nem ao menos precisa de fazer a mínima
combinação de ideias para o seu comércio, passa os
dias ora dormindo ora fumando e tomando chá; e
se alguma vez sai de casa, já quando o Sol entra
no ocaso, é para dar ao público e fastidiosos espectáculo da sua indolente estupidez e grandeza quimérica, aparecendo deitado nu na machila e conduzido por quatro miseráveis escravos». Mas os
sinais da nossa decadência tinham surgido
muito antes. Já em 1670, quando os árabes
de Mascate, depois de nos terem expulsado
de Golfo Pérsico, tencionavam desalojar-nos
de Moçambique também, eram já deste calibre os colonos que por lá andavam.
C U LT U R A
PT
OPINIÃO
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 11 de Setembro de 2015
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PT
Para quem ainda não percebeu
no que está metido
JOSÉ PACHECO PEREIRA
H
á uma parte da oposição
a este Governo e à
coligação que ainda não
percebeu no que está metida.
Nessa parte avulta o Partido
Socialista, que acha que isto é um
filme para 6 anos, ou, vá lá, 12 e
está num filme para adultos, ou
como se dizia antes, “para adultos
com sérias reservas”. Não, não é o
Bambi, é o Exorcista ou o Saw.
Tenho um bom lugar de
observação da linha da frente no
combate político com a actual
“situação”. Sei disso porque há
muito tempo que conheço o
vale-tudo, de artigos caluniosos
a comentários encomendados
em massa, até ao célebre cartaz
anónimo, que não se sabe
quem fez, nem quem pagou.
Mas a mensagem é clara: não
o ouçam porque é um radical
violento. Tenho um processo
instaurado pela “massa falida
da Tecnoforma”. Não digo
CARTOON
“tenho sido vítima”, porque
não sou vítima coisa nenhuma,
estou onde quero e faço o que
entendo dever fazer. Se chovem
paus e pedras, são para mim
como elogios.
Mas vejo as coisas porque
percebo do que, do lado
da coligação, se é capaz de
fazer quando se lhes toca nos
interesses vitais, e estas eleições
tocam em demasiadas coisas vitais
para não serem travadas com
todas as armas, e algumas são
bem feias de se ver. Agressivos de
um lado, frouxos do outro.
E vejo os exércitos juntaremse, com armas e bagagens,
muito ódio social, porque é um
combate social e político que se
vai travar e o ódio mobiliza as
hostes, e muita agressividade.
Do outro lado, salamaleques,
um medo pânico de falar
de “mudança”, a quase total
ausência de críticas ao Governo,
o emaranhar-se em explicações e
desculpas. Sempre na defensiva,
sempre ao lado, sempre a perder.
Uma parte da oposição
prefere objectivamente que tudo
continue na mesma para manter
o bastião da identidade, outra
passa o tempo em actividades
burocráticas e escolásticas,
para o interior das suas
contínuas divisões, enquanto
o “maior partido da oposição”
se entretém a mendigar
“confiança” certamente porque
não consegue lidar com os rabos
de palha que vieram de 2011.
A propaganda da coligação,
assente num castelo de cartas
que ruirá ao mais pequeno
vento, como aliás o ex-amigo
próximo, o FMI, diz, não
é desmontada com clareza
e frontalidade, porque os
compromissos nacionais e
europeus do PS são demasiados.
A maioria muito expressiva
dos portugueses que recusam
este Governo, um dado sempre
constante nas sondagens, não
encontra no sistema político
uma resposta. E, mesmo que
existissem novos partidos
que dessem corpo a esse
descontentamento, a maioria
dos partidos representados
no Parlamento não quer
competição e encarrega-se
de os calar na Comunicação
Social, com a colaboração da
Comunicação Social.
Por seu lado, os portugueses
que sofreram, sofrem e sofrerão
a crise estão cada vez mais
invisíveis. Não desapareceram, o
seu sofrimento social aumenta
com a passagem do tempo, mas
não conseguem ultrapassar
o ecrã do “sucesso” que dez
mil ministros e secretários de
Estado fazem todos os dias.
Num dia são as mulheres,
noutro dia são as crianças, no
terceiro dia são os velhinhos. É
só caridade e bondade a rodos.
Com a cumplicidade acrítica de
muitos que na Comunicação
Social andaram a louvar as
virtudes do “ajustamento” e
por isso selam o seu destino
também com o destino da
coligação. O PS, por sua vez,
como andou estes anos todos
a fugir da contestação social,
continua a preferir os salões.
In Abrupto (editado)
OPINIÃO
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 11 de Setembro de 2015
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PT
O negócio dos refugiados
JOSÉ PINTO COELHO
O
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa anunciou
que a autarquia vai criar um
fundo de dois milhões de euros, que
será gerido em articulação com outras
instituições, para apoiar os refugiados
que venham para a cidade.
«Criaremos um fundo de cerca de dois
milhões de euros, que utilizaremos em
articulação com instituições como a Santa
Casa da Misericórdia, que é linha avançada
na resposta a este problema, como o Conselho Português para os Refugiados e como
a Cruz Vermelha, para que possamos dar
as respostas básicas e fundamentais à crise
humana», informou Fernando Medina.
O autarca socialista, que falava no
seu novo espaço de opinião na TVI24,
no programa “21ª hora”, precisou que
este apoio se centra na criação de «alojamentos temporários, alimentação, cuidados de saúde e cuidados de educação».
Para além da Câmara Municipal de
Lisboa, outras autarquias e instituições
de solidariedade também já manifestaram a sua disponibilidade para recolher
“refugiados”.
Numa altura em que muito português
passa fome, em que muito português
vive na rua, sobretudo nas grandes
cidades, em que Lisboa é o caso mais
gritante (900), quem dirige a autarquia
pretende ajudar quem vem de fora, continuando a esquecer os portugueses.
Para cada “refugiado” o sistema pretende gastar cerca de mil e 200 euros
por mês. Das duas, uma! Ou vamos ser
todos nós a pagar esta despesa, esta
soma que ultrapassa e muito o salário
médio de um português e que é um
insulto para quem ganha o miserável
salário mínimo, ou vão ser os fundos comunitários a pagar a factura.
Percebem, agora, a bondade destes
“benfeitores”? Arrecadam mil e 200
euros por cabeça e depois vão gerir o
orçamento de forma a tirarem daí o
máximo lucro.
Importa, também, informar que a
esmagadora maioria dos refugiados
(alguns números apontam para os
70%) até nem são oriundos de zonas
em conflito e são quase todos homens,
jovens e em perfeita saúde para lutar
pelo seu país.
Por outro lado, são cada vez mais
os episódios de violência ligados a
estes “refugiados”. Instalações saqueadas, agressões a forças de segurança,
agressões a europeus, perturbação de
missas e procissões católicas, reivindicações absurdas como telemóveis ou
acesso à Internet, recusa de alimentação e insultos a quem faz as entregas.
A Europa e Portugal não estão preparados para esta entrada anormal de pessoas,
sobretudo de culturas muito diferentes da
nossa, para as quais não temos resposta
no mercado de trabalho. Não negamos a
ajuda imediata a quem está em perigo de
vida, mas defendemos que, uma vez alimentados e tratados, devem ser devolvidos
aos países de origem. Em última análise,
quem os deve acolher são os países ricos
das suas regiões de origem, muitos dos
quais colaboram com quem fomenta as
guerras que assolam este continente.
Numa altura em que os portugueses
vão ser chamados a escolher os seus
representantes no Parlamento, é bom
que meditem sobre estes casos e que
verifiquem quem está do lado dos portugueses e quem está do lado do negócio, que é a imigração descontrolada e,
pelo visto, também os “refugiados”.
OS “BENEFÍCIOS”
DA IMIGRAÇÃO
É a mundialização no seu melhor.
Apesar dos graves indicadores de retrocesso económico, Portugal continua
sendo um país civilizado. Nunca, em
nenhum momento da nossa História,
ocorreram neste país práticas sociais
infames como a mutilação genital feminina. Pois bem, na Guiné-Bissau essa
prática é recorrente entre as etnias que
professam o Islamismo. Ora, graças em
grande parte à comunidade guineense
muçulmana cá instalada, Portugal passa
a constar da vergonhosa lista de países
onde se realiza esta prática. São situ-
ações inadmissíveis em pleno século
XXI, aqui ou em qualquer outro lugar.
Soubemos também que Portugal é o país da União Europeia com
maior número de congregações parareligiosas, vulgo seitas, por número de
habitantes (a grande maioria oriunda
do Brasil). São dois sinais alarmantes
de obscurantismo, pior ainda, porque
importado. A propósito da questão da
mutilação genital feminina (e não só)
lembramos que Portugal já não tem
qualquer obrigação nem moral nem
histórica para continuar de fronteiras
abertas a imigrantes dos PALOP. Essa
responsabilidade desapareceu com a
independência desses países.
Não podemos viver de costas voltadas, é certo, mas a relação com as
ex-províncias ultramarinas, em muitos
aspectos, transformou-se num fardo.
Não podemos, por outro lado, continuar a permitir que gerações sucessivas de portugueses sejam forçadas a
emigrar. Não esquecemos, por último,
que em 2011, na véspera do resgate,
com a dívida pública portuguesa
cotada como “lixo”, Dilma Roussef
foi a primeira a dizer que o Brasil só
investia em dívida triplo A. É preciso
pois haver mais ponderação, equilíbrio e respeito mútuo nestas relações
bilaterais com o mundo lusófono.
GARROTE FINANCEIRO
O Centro de Estudos Sociais da
Universidade de Coimbra revela de
forma clara a situação precária em que
vive um número crescente de famílias.
Um estudo publicado por estes dias
dá conta de famílias fragilizadas, sem
margem para despesas extras, muitas
delas dependentes dos parcos rendimentos de avós. A geração com mais
formação académica de sempre vive na
precariedade, explorada ou refugiada
no estrangeiro.
A cada eleição, a situação complicase: os gastos parlamentares da Assembleia da República e dos Ministérios
aumentam a cada ano. Portugal é um
dos países com mais baixos salários e
onde se paga mais pela energia, pelos
combustíveis, pelos bens essenciais,
pela habitação, pelo crédito. O número de desempregados tem aumentado
sempre, além de que se atingiu, em
2015, o valor mais baixo em termos
de população activa. A Administração
Pública, por seu turno, não respeita a
própria Lei de Recrutamento, a qual
impõe uma quota de 5% para cidadãos
portadores de deficiência. Em 2000, a
dívida pública correspondia a 50,5%
do PIB; em 2015, esse valor ascende
a 130%! Quase triplicou em apenas
quinze anos! O poder de compra,
entretanto, diminuiu drasticamente,
sobretudo a partir de 2002 com a
entrada em circulação da “moeda
falsa”, o euro, imposta pela Alemanha,
especialista nestes esquemas desde
o tempo da Operação Bernhard em
que pretendeu destruir a economia
inglesa e norte-americana através da
falsificação em larga escala de libras e
dólares falsos.
LITURGIA
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 11 de Setembro de 2015
14
PT
24° DOMINGO COMUM – Ano B – 13 de Setembro
HORÁRIO DAS MISSAS
(DOMINGOS E DIAS SANTOS)
7:00 horas
7:30 horas
7:30 horas
8:15 horas
8:30 horas
9:00 horas
9:30 horas
—
—
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10:00 horas —
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10:30 horas —
11:00 horas —
11:00 horas —
—
11:00 horas —
11:15 horas —
12:00 horas —
16:30 horas —
17:30 horas —
18:00 horas —
20:30 horas —
Fátima (C).
Sé, S. Lourenço e St.º António (C).
S. Lázaro (C).
S. Francisco Xavier
Mong-Há (C).
St.º António.
Sé, S. Lourenço, N.ª Sr.ª do Carmo
Taipa (C); Fátima (C).
S. Lázaro, S. Francisco Xavier (Mong-Há),
S. José Operário (C).
St.º António (P); S. Francisco Xavier
Coloane (I, C); N.ª Srª do Carmo
Taipa (I).
Sto. Agostinho (Tagalog).
Sé (P), Hospital de S. Januário (P);
N.ª Srª do Carmo
Taipa (P).
S. Lázaro (I).
Instituto Salesiano (I).
Fátima (I).
S. Agostinho (I); Fátima (vietnamita)
S. José Operário (I).
Sé (I); S. Fr. Xavier Mong-Há (C).
S. Lázaro (P).
S. José Operário (M).
MISSAS ANTECIPADAS
17:00 horas
17:30 horas
18:00 horas
18:30 horas
—
—
—
—
—
19:00 horas —
20:00 horas —
S. Domingos (P).
S. Fr. Xavier Mong-Há (I).
Sé (P).
N.ª S.ª do Carmo
Taipa (I).
S. Lázaro (C).
Fátima (C).
ABREVIATURAS
C - Em Cantonense I - Em Inglês
M - Em Mandarim P - Em Português
Seguir Jesus, Servo e Messias
INTRODUÇÃO ÀS LEITURAS
Ouvimos hoje o apóstolo S. Pedro professar a sua fé
e queixar-se, logo a seguir, do facto de o seu Senhor
lhe falar da Sua próxima paixão e morte (EVANGELHO: Mc., 8, 27-35). A verdade, porém, é que Jesus é
o «Servo do Senhor» e, por isso, torna-se necessário
que Ele sofra, sem qualquer outra consolação que não
seja a Sua confiança em Deus, tal como no-lo recorda
o profeta Isaías (PRIMEIRA LEITURA: Is., 50, 5-9).
O apóstolo S. Tiago recorda-nos que a fé do cristão se
exprime com obras e, especialmente, no serviço prestado aos irmãos mais desfavorecidos (SEGUNDA LEITURA: Tg., 2, 14-18).
Que aproveita a alguém...
... dizer que ama a Deus,
se não pode ver “nem pintado” aquele tal sujeito,
ou aquela tal fulana, que
são, afinal, também filhos
de Deus?
... dizer todos os dias “Perdoai-nos as nossas ofensas”, se não somos capazes
de perdoar a alguém que
nos ofendeu?
... receber a Cristo na eucaristia, se depois fechamos as portas a Cristo na
pessoa do pobre, do explorado, do órfão, do desempregado?
... acreditar na outra vida,
se nos preocuparmos apenas por gozar o mais possível nesta vida?
... trazer ao pescoço um
fio com um crucifixo
ou uma medalha com
a imagem de Cristo, se
tratamos mal o próprio
cônjuge, os filhos, os
empregados, que são
também imagem de
Deus?
... servir e honrar a Deus
aos Domingos, se ao longo dos dias da semana andarmos sempre a injuriar
o nosso próximo?
... dizer que é cristão, se
afinal vive como se não
fosse?
PODERÁ ESSA FÉ,
PORVENTURA,
SALVÁ-LO?,
pergunta
o apóstolo S. Tiago
na segunda leitura
de hoje.
PERSEGUIÇÃO AOS CRISTÃOS
Papa acusa potências mundiais
O Papa Francisco acusou, na passada
segunda-feira, as potências mundiais
de ignorarem as perseguições contra os
cristãos em vários locais do mundo.
«Hoje, diante deste facto que acontece no
mundo, com o silêncio cúmplice de tantas
potências que o poderiam travar, estamos
perante este destino cristão: seguir o mesmo
caminho de Jesus», disse, na homilia da
missa a que presidiu na capela da Casa
de Santa Marta.
A celebração contou com a presença
do novo Patriarca dos Arménios, Gregório Pedro XX Ghabroyan, a quem
o Papa tinha concedido a comunhão
eclesiástica com uma carta datada de
25 de Julho.
Francisco sublinhou que as perseguições contra os cristãos são hoje «mais
do que nos primeiros tempos», com muitos
crentes «perseguidos, mortos, escorraçados,
despojados, apenas por serem cristãos».
Nesse sentido, o Papa pediu que os
fiéis sintam «amor» pelos mártires e pela
«vocação» ao martírio.
«Nós não sabemos o que pode acontecer
aqui, não sabemos! Mas que o Senhor nos dê
a graça, se um dia acontecessem aqui essas
perseguições, da coragem e do testemunho»,
pediu.
Francisco sustentou que «não há Cristianismo sem perseguição», recordando o
que aconteceu com o povo arménio, «a
primeira nação que se converteu», que acabou «perseguido, expulso da sua pátria, sem
ajuda, no deserto».
«Nós hoje, nos jornais, sentimos horror
pelo que fizeram alguns grupos terroristas,
que degolam as pessoas só porque são cristãos.
Pensemos nos mártires egípcios, na costa líbia, que foram degolados enquanto pronunciavam o nome de Jesus», observou.
In ECCLESIA
ECLESIAL
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 11 de Setembro de 2015
PT
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LENDO A CARTA QUE DEUS NOS ENVIOU – II
Os sentidos para o entendimento da Bíblia
PE. JOSÉ MARIO MANDÍA
[email protected]
Na semana passada falámos dos três
princípios a ter em conta quando lemos
a Bíblia. Para além disso a Sagrada Tradição e o Magistério da Igreja ensinam-nos que há dois níveis de significados na
Bíblia: O Sentido Literal e o Sentido Espiritual. O Sentido Espiritual está ainda
dividido em Sentido Alegórico, Sentido
Moral e Sentido Anagógico. E o que são
esses sentidos? Deixem-me referir o Catecismo da Igreja Católica.
N. 116. O Sentido Literal: É o expresso pelas palavras da Escritura e descoberto pela exegese segundo as regras da
interpretação correcta. “Omnes sensus
(sc. Sacrae Scripturae) fundentur super
litteralem” – “Todos os sentidos (da Sagrada Escritura) se fundamentam no literal” (90).
N. 117. O Sentido Espiritual: Graças à
unidade do desígnio de Deus, não só o
texto da Escritura, mas também as realidades e acontecimentos de que fala, podem ser sinais.
1. O Sentido Alegórico. Podemos adquirir uma compreensão mais profunda
dos acontecimentos, reconhecendo o
seu significado em Cristo: por exemplo,
a travessia do Mar Vermelho é um sinal
da vitória de Cristo e, assim, do Baptismo.
2. O Sentido Moral. Os acontecimentos referidos na Escritura podem conduzir-nos a um comportamento justo.
Foram escritos “para nossa instrução” (1
Cor 10, 11).
3. O Sentido Anagógico. Podemos ver
realidades e acontecimentos no seu significado eterno, o qual nos conduz (em
grego: anagoge) em direcção à nossa verdadeira Pátria. Assim, a Igreja terrestre é
um sinal da Jerusalém celeste.
No primeiro significado devemos procurar o seu sentido LITERAL. Sabemos
que foi o Espírito Santo que inspirou a
composição da Bíblia, mas Ele usou homens como seus instrumentos. No entanto, esses homens pertenciam a uma
época e cultura específicos, com as suas
línguas e tradições próprias.
O trabalho dos estudiosos necessitou
do conhecimento das línguas originais
e do enquadramento cultural dos escritores/autores, mas a Sagrada Tradição
ensina-nos como devemos interpretar o
significado literal
Por exemplo, a Tradição não nos diz
que devemos considerar literalmente
os seis dias da Criação, da forma como
normalmente consideramos os nossos
“dias”. Deus poderá ter gasto milhares
de anos a finalizar a sua Criação.
Ou ver a passagem (dos Evangelhos)
em que Jesus diz que não devemos chamar ninguém de “mestre” ou “pai”(S.
Mateus 23:8-9). Se considerarmos isto li-
teralmente, então como deveríamos chamar aos nossos educadores? E como é que
deveríamos chamar aos nossos pais?
Por outro lado, quando a Bíblia nos diz
que o Povo Escolhido atravessou o Mar
Vermelho precisamos aceitar essa informação como facto consumado.
Um dia um professor tentou desmistificar a “história” da Travessia do Mar Vermelho. Ele contou aos seus alunos que, na
realidade, os israelitas teriam atravessado
um pântano e nunca o Mar (Vermelho).
Assim ele assumia que as águas na realidade não seriam tão profundas como afirmado, e que a Travessia não seria, afinal um
milagre tão espectacular. Mas um dos seus
estudantes levantou a mão e perguntou:
«Se a passagem não era assim tão profunda...
então como é que os Egípcios se afogaram?»
Alguns outros exemplos de passagens
(dos Evangelhos) em que a interpretação
literal tem que ser levada em consideração incluem: Pedro (ou Chephas) como
sendo a Rocha sobre a qual Cristo construíra a Sua Igreja (cf S. Mateus 16:18);
As palavras de Jesus no Evangelho de S.
João, 6, em que Ele falava em oferecer a
Sua carne como alimento e o Seu sangue
como bebida, e na Ressurreição de Jesus.
Para nos facilitar a tarefa de determinarmos como devemos interpretar algumas das passagens da Bíblia, as versões
católicas da Bíblia incluem notas de rodapé em muitas das páginas, que explicam
as passagens mais difíceis de entender. A
Bíblia nasceu da Igreja Católica, e a Igreja conhece a Bíblia suficientemente bem.
Por isso, quando quiserem adquirir uma
Bíblia, certifiquem-se de que é católica.
Na próxima semana falaremos do Sentido Espiritual da Sagrada Escritura.
ECLESIAL
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 11 de Setembro de 2015
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PT
NA FORMAÇÃO DAS SAGRADAS ESCRITURAS
A Vulgata Latina
VÍTOR TEIXEIRA (*)
[email protected]
Hoje vamos até às origens da Bíblia
enquanto livro. Muito se fala da Bíblia,
nem sempre de Sagradas Escrituras,
menos ainda da origem desta autêntica
biblioteca que é aquele livro dos livros.
Por Vulgata entenda-se a forma latina
abreviada de vulgata editio (“edição”),
ou vulgata versio (“versão”), senão até
vulgata lectio (“leitura”). O termo em si
significa “no vulgar”, na língua do vulgo,
ou seja, do povo, popular. Língua essa
que era o Latim. Daí designar-se como
Vulgata, termo do Latim medieval.
A Vulgata é a versão da Bíblia em Latim, a partir do Grego e do Hebraico
(e Aramaico) composta por São Jerónimo de Estridão a partir de finais do
séc. IV (c. 382) até aos inícios do séc. V,
em cumprimento do encargo que lhe
fora feito pelo Papa Dâmaso I em 382.
A intenção era a de substituir a Vetus
Latina (“Latim Antigo”, ou “Velho”), a
Bíblia anterior, portanto, à Vulgata, um
conjunto de textos bíblicos traduzidos
para o Latim, obra desigual que não
fora traduzida por uma única pessoa
ou instituição, sem uma edição uniforme. Com uma qualidade variável, tal
como o estilo heterogéneo dos livros,
a Vetus Latina apresentava traduções
do Antigo Testamento quase sempre
a partir da Bíblia grega dos Setenta
(ou “Septuaginta”), como os textos do
Novo testamento provinham de traduções gregas.
É importante referir que a Vetus Latina é uma designação colectiva dada aos
textos bíblicos em Latim, traduzidos a
partir do século II, a partir do Grego.
Saliente-se também que não existe uma
única Bíblia da “Vetus Latina”, mas sim
uma grande colecção de textos bíblicos
em forma de manuscritos que contêm
testemunhos de traduções latinas de
passagens bíblicas anteriores à Vulgata
de São Jerónimo. Por exemplo, um estudioso da Vetus Latina, com base no
evangelho de São Lucas, focando-se no
excerto de Lc 24,4-5 em manuscritos da
Vetus Latina, encontrou “pelo menos
de 27 redacções diferentes”.
Por isso, era imperativa uma compilação uniforme, com critério e com
base numa tradução homogénea e coerente. Na rápida difusão do Cristianismo a partir do séc. IV, impunha-se uma
Bíblia igual e clara, mais exacta que as
anteriores, legível e de entendimento
fácil por todos, ou por mais pessoas.
Por isso foi escrita em Latim corrente, ou “vulgar” (daí vulgata), não em
Latim clássico, “de Cícero”, como dizia
São Jerónimo. O Antigo Testamento foi
todo traduzido directamente do Hebraico (e Aramaico, língua proto-hebraica,
falada por Jesus Cristo, por exemplo),
enquanto o Novo não se sabe com segurança se foi directamente a partir dessas
línguas semíticas ou, também, com base
em revisões de antigas traduções latinas.
Refira-se que as traduções de São Jerónimo não foram servis e literais, mas, para
além de o fazer com elegância de estilo,
esforçou-se por salientar a autenticidade
e valor do pensamento expresso em Hebraico pelos autores sagrados. Muitas vezes apenas se retocou por uma questão
de estilo, porém.
Não existe nenhum manuscrito do
original de São Jerónimo, apenas cerca
de oito mil cópias, mais ou menos alteradas (St. Gallen, Fulda, Amiens...). A Vulgata foi sendo sujeita a alterações com
o decurso dos tempos (substituição de
vocábulos difíceis por fáceis, correcções,
etc.), aumentando o número de versões,
ou recensões, do pretenso texto original. No Concílio de Trento (1545-63) as
versões eram em grande número, todas
elas reivindicando a autenticidade e genuinidade do texto original, que já não
existia claro, mais de mil anos depois.
O Concílio declarou a Vulgata como
“autêntica”, o que significava que o seu
texto podia ser usado como referência,
preferentemente a outras versões latinas, mas sem exclusão de recurso aos
textos originais. Promoveu-se ainda
uma edição oficial da Vulgata para uso
comum. Mas que Vulgata? Para isso,
foram nomeadas sucessivas comissões
para a sua revisão, a partir da comparação, exegese, estudos, até se conseguir
uma edição revista em 1590, iniciada
com Sisto V, mas concluída apenas
por Clemente VIII em 1592 (Vulgata
Clementina). Esta Vulgata Sisto-Clementina, diríamos, passou a ser o texto oficial da Bíblia Católica, no século
das Reformas e das traduções da Bíblia
para línguas vulgares, a partir de Lutero. Mas era necessária uma versão totalmente correcta, ou o mais próximo
possível da tradução de São Jerónimo.
As diferenças continuavam, em estilo e
sentido, as polémicas logo apareciam e
suscitavam mais dúvidas e diferenças.
Por isso em 1907 Pio X confiou aos Beneditinos a preparação de uma edição
crítica, a ser apurada a partir de revisões, estudos, comparações, um trabalho ciclópico, a exigir uma “paciência
beneditina”. O texto daí resultante
(Biblia Sacra iuxta latinam vulgatam
versionem) viria a ser a base oficial da
Bíblia Católica e substituir a Vulgata
Clementina, então ainda em uso.
Após o Concílio Vaticano II, por determinação de Paulo VI, foi impulsionada a revisão da Vulgata, sobretudo para
uso litúrgico, criando-se uma comissão
pontifícia para o efeito, que continua,
no fundo, o trabalho, iniciado em 1907,
de acordo com os mais apurados preceitos e metodologias de crítica textual,
tradução e revisão, a partir dos textos
aramaicos, hebraicos e gregos, além
de estudos comparativos das edições
latinas, com apoio e intervenção de
académicos e peritos. A revisão desta
Comissão, iniciada em 1965, terminou
em 1975, tendo sido promulgada pelo
Papa João Paulo II, em 25 de Abril de
1979, denominando-se Nova Vulgata,
ficando estabelecido que seria a nova
Bíblia oficial da Igreja Católica, com
um renovado aparato crítico e hermenêutico. A Nova Vulgata é a referência,
desde a instrução pontifícia Liturgiam
Authenticam, de 2001, para todas as
traduções de textos e ofícios litúrgicos
para as línguas vernaculares.
(*) Universidade Católica Portuguesa
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 11 de Setembro de 2015
PT
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R OTA D O S 5 0 0 A N O S
Um problema atrás do outro
JOÃO SANTOS GOMES
[email protected]
E
sta foi a semana do desespero
com o frigorífico e com o novo
bote. Dias depois de termos
regressado de Carriacou e de nos
termos instalado em St. George, o nosso
frigorífico deixou de funcionar.
A princípio pensava que fosse a caixa
controladora que tivesse queimado, à
semelhança do que já tinha acontecido
no início desta aventura, na República
Dominicana, e que se resolveu trocando
por uma nova que custou algumas
centenas de patacas. Depois de chamar
um técnico a bordo, descobrimos que
o problema era o compressor que tinha
deixado de funcionar.
Contas feitas, preferimos comprar o
conjunto completo do compressor, caixa
controladora e unidade de frio, pois o
preço do compressor, só por si, é mais
de metade do preço de um conjunto
completo. Sendo que tínhamos uma
máquina já com uns anitos, foi mais
sensato adquirir uma nova, mantendo a
antiga para peças ou para, mais tarde, a
instalar com um novo compressor e um
novo evaporador dentro da nossa arca
frigorífica. Esta tem uma capacidade de
320 litros e precisa de muito frio. Equipála com duas unidades de frio será o ideal
especialmente em climas quentes.
Foram-nos colocadas várias opções,
mas a contenção de custos fez-nos
optar, inicialmente, por uma unidade
mais barata e com a mesma potência.
Acontece que devido a um problema
técnico com o novo conjunto (estava a
verter óleo) fomos obrigados a adquirir
um modelo um pouco mais forte, por
um preço também mais elevado.
O ideal seria o problema ficar
resolvido mas, como tem sido apanágio
nesta viagem, um problema nunca
vem só! Quando chegou o momento
de instalar a unidade deparámos
que as válvulas de ligação não eram
compatíveis, sendo diferentes das
originais. Como decidimos manter
o evaporador (o mecanismo de frio)
tivemos de cortar os tubos de cobre
e proceder à sua soldadura. As novas
válvulas iriam demorar mais de duas
semanas a chegar, havendo sempre a
necessidade de proceder a trabalhos
de soldadura. Como o frigorífico é de
extrema importância – ainda para mais
quando há crianças a bordo – optámos
por ligar directamente os tubos de
cobre por onde circula o gás.
Correu tudo bem até que surgiu um
novo problema: a ligação do tubo de
gás ao evaporador (no nosso caso é uma
caixa de aço inox com capacidade para
quatro litros de líquido refrigerante)
quebrou. Foi tudo desmontado, soldado
e colocado no local, rezando para que
estivesse a funcionar. Após dois dias
de intenso trabalho, o sistema ficou a
trabalhar, aparentemente sem fugas
ou outro tipo de problemas. Depois
de vários dias sem frio e a funcionar
sob calor abrasador de dia e de noite,
a caixa frigorífica está com uma
temperatura elevadíssima. Levá-la a
valores de refrigeração e de congelação
vai demorar alguns dias, ou mesmo
semanas. O sistema no barco é, na
essência, igual ao de uma casa, mas com
ligeiras diferenças, a começar pelo facto
de funcionar a 12 volts, o que o torna
mais lento e mais susceptível a variações.
Como já aqui tínhamos referido num
artigo anterior, antes de termos rumado
a Carriacou para retirar o veleiro da
água, procedemos à encomenda de
um pequeno bote rígido. Fizemos o
pagamento de metade do montante,
para que a encomenda fosse feita,
ficando acordado que pagaríamos
o remanescente assim que o bote
chegasse, em finais de Agosto. Para
minha surpresa, fui informado que o
bote não tinha chegado no contentor
de Agosto (recebem mensalmente da
casa-mãe em St. Martin). Para agravar o
desespero nem se dignaram a oferecer
qualquer solução. «– Não veio, não veio,
assunto arrumado!», foi esta a resposta.
Dado que a pessoa que recebeu a
encomenda, a gerente-assistente, se
encontrava de férias, decidi não insistir
mais e regressar quando ela voltasse ao
serviço. Espero que se resolva mais este
problema porque precisamos realmente
do bote. O nosso insuflável está em muito
mau estado e não me apetece gastar
mais dinheiro a remendá-lo. Para terem
uma ideia da gravidade do problema,
o ar não se mantém por mais de duas
horas. Temos de estar constantemente a
bombeá-lo sempre que o colocamos na
água. Este é nosso meio de transporte
para nos deslocarmos de um lado para
o outro. Com um bote rígido acabam
os problemas com a perda de ar, para
além de que oferece a vantagem de ser
utilizado a remos e à vela. Aliás, irá servir
como escola de vela para a Maria.
Nos próximos dias, se não surgir mais
algum imprevisto, iremos proceder à
preparação do Dee. Não há muito a
fazer mas queremos estar prontos para
sair a qualquer momento.
Uma pequena reparação que tinha
de ser feita na vela do enrolador já
foi executada por mim. Agora quero
substituir um dos cabos que temos no
mastro, que utilizamos, principalmente,
para ajudar a içar o bote para o convés,
mas que pode ser usado para levantar
outra vela ou para substituir o cabo que
segura a vela do enrolador. Depois disso
e de colocarmos tudo o que se encontra
no poço e no convés no seu devido local,
estaremos prontos para levantar âncora.
ENTREGUE ESTE CUPÃO NAS BILHETEIRAS DO CINETEATRO DE MACAU
DATA DO SORTEIO: 17 DE SETEMBRO DE 2015
CADERNO DIÁRIO
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 11 de Setembro de 2015
18
Segunda 7
Terça 8
Caos 1
Genética
É provável que nenhum dirigente da
União Europeia ou dos Estados membros tenha alguma vez ouvido falar da
“teoria do caos”, lançada e burilada no
pós-guerra pelo filósofo Leo Strauss, da
elite política judia e do “establishment”
dos Estados Unidos, continuada até hoje
pelos seus discípulos – e financiada pelo
Pentágono. Raros são também os jornalistas que a integram nas suas investigações
e análises, sujeitando-se a ser imediatamente rotulados como seguidores lunáticos das chamadas teorias da conspiração.
Em poucas palavras, a “teoria do caos” de
Strauss estabelece que a melhor maneira
de os Estados Unidos da América impedirem a criação de países ou blocos rivais
e beneficiarem de matérias primas baratas e com acesso desregulado é através da
instauração de situações de caos governamental e social em diferentes países e regiões, de maneira a que Washington delas
possa tirar proveito praticamente exclusivo. Para ele, a criação de situações de caos
favoráveis aos Estados Unidos deveria ser
um fim, nunca um meio.
O livro “O Património Genético Português: A História Humana preservada
nos genes”, de Luísa Pereira e Filipa
Ribeiro, fala da nossa história preservada nos genes. Quem somos, afinal?
Combinando contributos de áreas tão
diferentes como a genética, a arqueologia, a antropologia, a história e até a climatologia, este livro oferece uma visão
multifacetada de uma memória que deixamos impressa neste mundo: seja pelos genes, pelas viagens, pelas relações
interpessoais ou por um pouco de tudo
isto. Cada homem, na sua especificidade genética, tem um significado evolutivo. E não se pode compreender a evolução sem compreender a variação. Fruto
de um trabalho de investigação científica, a presente obra inova pela sua interdisciplinaridade, acessibilidade, complementaridade e pelo seu conteúdo de
referência para quem trabalha em evolução humana. O leitor é acompanhado
ao longo de uma aventura de múltiplas
facetas, explorando muitas perspectivas
dos recentes avanços no conhecimento
quanto às origens e migrações humanas
PT
no passado, focando uma temática que
nunca havia sido tratada em livro: o património genético português.
Quarta 9
Magnetismo
Caos 2
A “teoria do caos” de Leo Strauss teve
desenvolvimentos no início dos anos
noventa do século passado, quando Washington tratou de fazer vingar a unipolaridade disfarçada de multi-polaridade
a seguir ao desmembramento da União
Soviética. Por iniciativa de George Bush
pai nasceu então a “teoria Wolfowitz”,
que deve o nome a Paul Wolfowitz, discípulo de Strauss, igualmente membro da
elite judia norte-americana, arquitecto
da política externa de George Bush filho
e da invasão do Iraque. Também foi presidente do Banco Mundial. Regressou à
sombra depois de conhecidos os escândalos através dos quais rateava cargos
públicos entre os amigos neo-conservadores, familiares e namoradas. Em poucas palavras, a teoria Wolfowitz – ainda
secreta mas parcialmente revelada pelo
New York Times e pelo Washington Post, em
Março de 1992 – estabelece que a supremacia global norte-americana exige o
controlo militar, político e económico
sobre a União Europeia, para que esta
não se torne uma potência capaz de rivalizar com os Estados Unidos. Aliada sim,
mas nunca em plano igualitário.
Leia O CLARIM na net
A intensidade das linhas magnéticas
que cruzam o planeta de Norte a Sul
diminui, provocando a desorientação
dos animais migratórios que se orientam pelos veios magnéticos da Terra. Por sua vez, os pólos magnéticos
tornam-se instáveis, com repercussões
nos instrumentos electrónicos de navegação aérea e marítima. Essa alteração
do fluxo magnético planetário também tem uma influência notória sobre
o comportamento humano. Quando
submetido a forças magnéticas de menor intensidade, o homem tende a sintonizar-se com o inconsciente colectivo, abrindo caminho para a depressão,
a insanidade, a intolerância e a incompreensão. Para sobreviver aos períodos
de pulsos cósmicos, o homem deve
sobrepor-se ao inconsciente colectivo
através da meditação e da espiritualização, procurando um rumo para a sua
vida que contemple acções comunitárias e filantrópicas e uma interiorização que o leve a ser dono e senhor dos
seus pensamentos e actos e não arrastado pelas circunstâncias. Desta forma
tornar-se-á um importante obreiro do
Bem no combate à ignorância colecti-
www.oclarim.com.mo
va e às paixões inferiores da multidão.
E, assim, contribuirá para inviabilizar
o plano dos Senhores das Trevas de
instaurarem a escravatura global num
mundo de ateísmo e miséria.
ENTRETENIMENTO
O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 11 de Setembro de 2015
19
PT
TDM Canal 1
23:00
23:30
01:20
01:50
Sexta-feira
TDM News (Repetição)
Telejornal RTPi (Diferido)
RTPi (Directo)
Telenovela: Amor à Vida
(Rastros de Mentiras – Repetição)
TDM Talkshow (Repetição)
Telenovela: Paixões Proibidas
Telejornal
Macau 360°
Mudar de Vida
Telenovela: Amor à Vida
(Rastros de Mentiras)
TDM News
Cinema: Ribatejo
Telejornal (Repetição)
RTPi (Directo)
10:45
11:40
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23:00
23:30
00:30
01:00
Sábado
Os Ursos Boonie
Espera Ki
À Mesa com Capote
Cozinha em Forma
TDM News (Repetição)
Telejornal RTPi (Diferido)
Telenovela: Paixões Proibidas (Compacto)
Sabia Que?
Quem Quer Ser Milionário
What’s Up: Olhar a Moda
Macau 360° (Repetição)
Telejornal
Conta-me como foi
Macau: As Duas Faces de Cláudia
TDM News
Pop Lusa
Telejornal (Repetição)
RTPi (Directo)
13:00
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Domingo
10:30 Jardim da Celeste
23:00
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Cinema: Ribatejo. Hoje, às 23:30 horas.
11:00
12:00
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13:00
13:30
14:30
17:40
Missa Dominical
A Hora de Baco
Especial Saúde
TDM News (Repetição)
Telejornal RTPi (Diferido)
Zig Zag
Super Miúdos
Photo Madeira
AB Ciência
Corpo Clínico
Decisão Final
Bem-Vindos a Beirais
Telejornal
Contraponto
Caraíbas com Simon Reeve
A PARTIR DE 11/9/2015
18:30
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C
TDM News
Reportagem
Magazine Liga Europa 2015/2016
Telejornal (Repetição)
RTPi (Directo)
Segunda-feira
TDM News (Repetição)
Telejornal RTPi (Diferido)
RTPi (Directo)
Telenovela: Amor à Vida
(Rastros de Mentiras – Repetição)
Contraponto (Repetição)
Telenovela: Paixões Proibidas
Telejornal
TDM Desporto
Telenovela: Amor à Vida
(Rastros de Mentiras)
TDM News
Magazine Liga dos Campeões 2015/2016
Telejornal (Repetição)
RTPi (Directo)
Terça-feira
TDM News (Repetição)
Telejornal RTPi (Diferido)
RTPi (Directo)
Telenovela: Amor à Vida
(Rastros de Mentiras – Repetição)
TDM Desporto (Repetição)
Telenovela: Paixões Proibidas
Telejornal
TDM Entrevista
City Folk: Gente da Cidade
Telenovela: Amor à Vida
(Rastros de Mentiras)
TDM News
Portugal Aqui tão Perto
Telejornal (Repetição)
01:00 RTPi (Directo)
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23:45
00:20
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Quarta-feira
TDM News (Repetição)
Telejornal RTPi (Diferido)
RTPi (Directo)
Telenovela: Amor à Vida
(Rastros de Mentiras – Repetição)
TDM Entrevista (Repetição)
Telenovela: Paixões Proibidas
Telejornal
Montra do Lilau
Literatura Agora
Telenovela: Amor à Vida
(Rastros de Mentiras)
TDM News
Resumo Liga dos Campeões
A Minha Geração
Telejornal (Repetição)
RTPi (Directo)
Quinta-feira
TDM News (Repetição)
Telejornal RTPi (Diferido)
RTPi (Directo)
Telenovela: Amor à Vida
(Rastros de Mentiras – Repetição)
Montra do Lilau (Repetição)
Telenovela: Paixões Proibidas
Telejornal
TDM Talk Show
Endereço Desconhecido
Telenovela: Amor à Vida
(Rastros de Mentiras)
TDM News
Resumo Liga dos Campeões
Onda Curta
Telejornal (Repetição)
RTPi (Directo)
A PARTIR DE 11/9/2015
SALA 1
SALA 2
MAZE RUNNER
NO ESCAPE
14:30 | 16:45 | 19:15 | 21:30
14:30 | 16:30 | 19:30 | 21:30
THE SCORCH TRIALS
Um filme de: Wes Ball
Com: Dylan O’Brien, Ki Hong Lee, Kaya Scodelario
A PARTIR DE 11/9/2015
C
Um filme de: John Erick Dowdle
Com: Owen Wilson, Pierce Brosnan, Lake Bell
C
A PARTIR DE 11/9/2015
SALA 3
SALA 3
LOVE DETECTIVE
ALL YOU NEED IS
16:30 | 19:30
Um filme de: Wong Pak-Kei
Língua: Falado em Cantonês, com legendas em Chinês e Inglês
B
LOVE
14:30 | 21:30
Um filme de: Richie Ren
Com: Richie Ren, Shu Qi, Ti Lung
Língua: Falado em Cantonês, com legendas em Chinês e Inglês
TEMPO
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COM ABERTAS
26º Min. - 32º Máx.
20 | ÚLTIMA | SEXTA - FEIRA | 11 - 09 - 2015
Rua do Campo, Edf. Ngan Fai, Nº 151, 1º G, MACAU
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Céu pouco nublado intervalado de períodos
de muito nublado. Vento na escala Beaufort 2
a 3 de Leste a Sueste. Humidade relativa entre
65% e 90%. O índice UV máximo previsto é de
9, classificado de Muito Alto.
TAXAS DE CÂMBIO
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EUR
1
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GBP
JPY
AUD
NZD
RMB
HKD
1
100
1
1
100
1
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7.9728
8.9167
12.2555
6.59
6.0309
5.0165
80.68
103.00
COSTA DA MEMÓRIA
Rota para Tombuctu
JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO
[email protected]
Toda essa área, sobretudo a dita “rota
dos cashbás”, de Errachidia a Ourzazate
e daí até Marraquexe, tem sido utilizada
como cenário de diversos filmes, alguns
deles êxitos de cartaz. Ouviria Isabel dizer que existiriam em Ourzazate uns estúdios da Castello Lopes, possibilidade
que ficou por confirmar. No que me diz
respeito, e já que estamos no universo
do cinema, posso afirmar que tive o privilégio de utilizar a casa de banho do luxuoso Muxuca, «o hotel onde ficou alojado
Tom Cruise», como diziam as brochuras
turísticas.
Em Erfoud deparámos com mais expedições de veículos todo-o-terreno,
alguns com matrícula portuguesa. Ali,
pese toda essa modernidade transitando nas ruas bem asfaltadas, era ainda a
hospitalidade dos nómadas que ditava
as regras. Frente a uma pequena loja
vi uma caixa de madeira repleta de tâmaras destinadas ao viandante que por
ali passasse.
«– É uma tradição antiga dos berberes do
deserto. Só se tiram as tâmaras que se deseja
comer», apressou-se a esclarecer Hassan.
Er Rissani, mais a sul, é ainda mais
pequena do que Erfoud. Nas suas proximidades repousam as ruínas de Sijilmassa, cidade lendária, capital de um
principado islâmico, transformado posteriormente numa das mais importantes
cidades da rota transariana. Tombuctu
fica para o Sul, como indicava uma estranha placa. Da glória de outrora restavam
dois portões e umas pedras amontoadas.
Não consta que tenham andado por
ali portugueses, pelo menos a nível oficial, no entanto havia quem atribuísse
origem lusa a partes do complexo arqueológico. É assim um pouco por todo
Marrocos, interior ou costeiro. Para o
comum dos marroquinos Portugal esteve em todos os cantos e recantos do País.
Em Er Rissani visitámos Ahmed, irmão
de Hassan. Estivera casado com uma rapariga bastante mais nova escolhida pela
família, mas o arranjo não funcionara e
o divórcio foi uma inevitabilidade ao fim
de um ano de união.
«– As mulheres marroquinas não me interessam», confessava Ahmed, destacando
logo de seguida os benefícios da Internet que lhe permitira conhecer Debora,
Joaquim Magalhães de Castro
uma carioca, também divorciada, «vizinha do Ronaldinho». Visitara-o no ano anterior e agora era a vez de Ahmed ir ao
Rio de Janeiro. Não necessitava de visto.
O problema era o custo e a morosidade da viagem, obrigando-o a umas horas
em trânsito na Europa comunitária. Mas
isso seria «só para o ano», quando conseguisse juntar alguns milhares de euros.
No deserto, caso ignorássemos a
passagem das expedições europeias,
poderíamos dizer que a vida seguia ao
ritmo dos dromedários, lentamente desfilando, em cáfilas, quebrando o efeito
produzido pelas fatas morganas. Ultrapassadas as palmeiras do oásis, eis-nos
em pleno deserto aberto rumo ao erg
de Merzouga, as famosas e gigantescas
dunas de areia amarela e por vezes cor
de laranja que chegam a ter centenas de
metros de altura. São a versão minúscula do que podemos encontrar no Sara
argelino numa dimensão incomparavelmente maior.
Passámos quatro noites e três dias em
Merzouga, alojados no Nomad Palace,
um desses hotéis cashbás, a uns bons
quilómetros da povoação. Estavam ali
hospedados uma excêntrica professora
norte-americana de meia-idade e um
numeroso grupo de espanhóis aficionados do motocrosse e da moto-a-quatro
nas dunas do deserto, prova de que há
gostos para tudo. Enfim, o local não fazia nada o meu género, mas ali fiquei
por respeito aos meus companheiros de
viagem, e, porque não, para viver outro
tipo de experiência. Quanto mais não
fosse para me certificar de que aquilo
de que gosto mesmo é de me alojar no
centro das povoações, onde existem possibilidades de escolha mesmo que nessa
escolha haja muito pouco por onde escolher, como era o caso de Merzouga.
Chegariam, entretanto, ao Nomad
Palace um australiano descendente de
chineses de Cantão, um casal inglês atípico e uma japonesa que deixou em alvoroço alguns dos rapazes que trabalhavam para o Ali, o dono do local. Todos
estes novos hóspedes tinham agendado
no seu programa de férias o ritual da
marcha em dromedário até a um oásis
situado na base das dunas, com dormida
em tenda berbere e direito a assistir ao
nascer do Sol, tudo pela módica quantia
de trinta euros.
O pessoal do Nomad Palace, talvez
para criar alguma adrenalina, fazia questão de nos lembrar a proximidade da
fronteira com a Argélia. Pelos vistos, minuciosamente patrulhada.
«– Se te encontram fora do caminho não
hesitam em arrumar contigo», avisara Hassan, passando com lentidão os dedos
pelo pescoço, elucidativo sinal que tirava a vontade a quem pretendesse ir espiolhar para aquelas bandas.
Do programa turístico constava também uma visita à aldeia dos “berberes
negros”, antepassados dos nómadas vindos do Sudão, que na sociedade local
continuavam a ter uma posição subalterna. Para sobreviver, tocavam música para
os visitantes, mas não eram interesseiros
como esses “nómadas” de turbante, túnica e sandálias só para turista ver, que nos
falavam com frases feitas e adoravam estourar o dinheiro nos copos, noite após
noite. Cerveja, vinho, uísque, todas as
bebidas eram bem-vindas.
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Edição 11-09-15