ENEIDA
Epopéia de Virgílio narra a história de Roma
A Eneida é uma epopéia em doze cantos, escrita em versos por Virgílio em seu retiro
na Campânia durante os últimos 12 anos de sua vida (30-19 a.C.), ou seja, após o
estabelecimento definitivo do principado de Augusto. O poema ficou inacabado.
Segundo a tradição, Virgílio teria ordenado sua destruição quando estava prestes a
morrer.
Trata-se de uma epopéia nacional para celebrar a origem e o crescimento do Império
romano. Seu fundamento é a lenda segundo a qual Enéas, após a queda de Tróia e
longas viagens erráticas, fundou uma colônia troiana no Lácio, a fonte da raça
romana. A característica marcante do poema é a concepção da Itália como uma única
nação, e da história romana como um todo contínuo desde a fundação da cidade até a
expansão completa do Império.
A grandeza do tema impressionou profundamente o povo romano; o tom elevado e
sua apresentação sublimada tornam-se mais salientes graças ao delicado espírito
contemplativo do autor, à sua simpatia em relação à humanidade sofredora e à sua
sensibilidade diante da natureza.
Ao compor a "Eneida", Virgílio inspirou-se em muitas fontes, primeiro na "Ilíada" e na
"Odisséia", combinando em seu poema as peripécias de uma viagem constante da
segunda com as proezas marciais da primeira, e modelando muitos episódios em
Homero. Segue-se o resumo do conteúdo da obra:
Canto 1
Enéas, que durante os sete anos seguintes à Guerra de Tróia esteve percorrendo o
caminho até o Lácio, acaba de partir da Sicília. Juno, ciente de que uma raça originária
de Tróia viria ameaçar a sua querida cidade de Cartago, incita Eolos a desencadear
uma tempestade sobre a frota troiana. Algumas de suas naus destroçam-se e a frota se
dispersa; Netuno, todavia, amaina o mar e Enéas atinge a costa líbia. As naus
remanescentes também chegam, e os troianos são recebidos amistosamente por
Dido, rainha da recém-fundada Cartago e viúva de Siqueu. Essa rainha havia fugido de
Tiro, onde seu marido tinha sido morto por Pigmaleão, rei daquela região e irmão de
Dido. Embora Júpiter lhe tivesse revelado o destino futuro de Enéas e de sua raça,
Vênus, temerosa do ódio de Juno e dos ardis dos tírios, tem a idéia de inspirar em Dido
um grande amor por Enéas.
Canto 2
Atendendo a uma solicitação de Dido, Enéas relata a queda de Tróia e os eventos
subseqüentes: a construção do Cavalo de Tróia, a insídia de Sínon, a morte de
Laocoonte, o incêndio da cidade, a resistência desesperada do próprio Enéas e de seus
companheiros, a morte de Príamo e sua própria fuga final por ordem de Vênus; Enéas
refere-se ainda à sua partida de Tróia carregando nos ombros seu pai Anquises e
levando seu filho Iulo (Ascânio) pela mão, e à perda de sua mulher Creusa, que vinha
com ele e cujo espectro lhe revela o destino que o espera.
Canto 3
Continuação da narrativa de Enéas: ele e seus companheiros constroem uma frota e
partem. Durante a viagem, as naus foram parar na Trácia (onde Enéas ouve a voz de
Polidoro, seu parente, vinda de sua tumba), e em Delos. O oráculo délio manda-o
procurar a terra de origem da raça troiana. Essa ordem é mal interpretada e os
fugitivos tomam o rumo de Creta, de onde são compelidos a afastar-se por causa de
uma pestilência. Enéas fica sabendo finalmente que o oráculo se referia à Itália. Enéas
segue a sua rota e visita o território dos Ciclopes, na Sicília; seu pai morre em
Drêpanon, de onde Enéas navega para a Líbia.
Canto 4
Embora presa por um voto de fidelidade perpétua a seu marido morto, Dido confessa a
Ana, sua irmã, a paixão que sente por Enéas. Uma tempestade interrompe uma
expedição de caça; Dido e Enéas refugiam-se numa gruta e se unem, consumando os
desígnios de Juno e Vênus. Os rumores relativos a seu amor chegam aos ouvidos de
Jarbas, rei da Mauritânia, cujo palácio ficava próximo; ele fora repelido por Dido e
agora dirige uma súplica a Júpiter. Este ordena a Enéas que deixe Cartago. Dido
descobre os preparativos de Enéas para a partida e lhe faz um apelo comovente. As
desculpas mesquinhas do amante por sua deserção provocam uma resposta
fulminante de Dido. Enéias, entretanto, permanece firme em sua decisão, e Dido,
aniquilada pela angústia e por visões terrificantes, dirige-lhe um último apelo para que
adie a partida. Vendo partir a frota troiana, Dido põe fim à vida, lançando, em seu
delírio, maldições sobre Enéas e sua raça.
Canto 5
Os troianos voltam à Sicília, desembarcando no território de seu companheiro Acestes.
Celebra-se o aniversário da morte de Anquises com sacrifícios e jogos: competições
náuticas, corridas a pé, pugilismo, arremesso de dardos e hipismo. Nesse ínterim as
mulheres troianas, incitadas por Juno e cansadas de suas longas viagens erráticas,
incendeiam as naus. Quatro delas são destruídas, mas uma chuva torrencial extingue o
fogo. Por ocasião da partida dos troianos, Palinuro, o piloto, dominado pelo sono, cai
ao mar e desaparece.
Canto 6
Enéas visita a Sibila de Cumas, que prediz suas guerras no Lácio. Após haver arrancado
o Ramo de Ouro, obedecendo a instruções da Sibila, Enéas desce com ela, passando
pela gruta de Averno, para o mundo subterrâneo. Ambos chegam ao rio Estige e em
sua margem, antes da travessia, vêem os espectros dos mortos privados dos ritos
fúnebres. O Ramo de Ouro proporciona a Enéas a permissão de Caronte para
atravessar o Estige: vêem-se vários grupos de mortos: crianças, os condenados
injustamente, os que morreram de amor (entre estes encontra-se Dido, que ouve em
silêncio as desculpas reiteradas de Enéias), e os mortos em guerra. Enéas e a Sibilia
aproximam-se da entrada do Tártaro, onde os piores criminosos sofrem tormentos,
mas mudam de rumo e dirigem-se ao Elísio, onde os bem-aventurados gozam de uma
vida sem cuidados. Lá Enéias encontra o pai e tenta inutilmente abraçá-lo. Anquises
mostra a seu filho os homens que no futuro serão ilustres na história romana, desde
Rômulo e os primeiros reis até os grandes generais de épocas posteriores, entre os
quais está o próprio Augusto. Enéias e a Sibila deixam então o mundo subterrâneo.
Esse livro contém os versos memoráveis sobre o destino de Roma, concepção central
de todo o poema.
Canto 7
Os troianos chegam à foz do Tibre. O nome do rei dessa terra, o Lácio, é Latino. Sua
filha chama-se Lavínia. O melhor de seus pretendentes é Turno, rei dos rutúlios, mas
seu pai foi alertado por uma divindade a dá-la em casamento a um estrangeiro que
chegaria fatalmente lá. A delegação mandada por Enéas é bem acolhida por Latino,
que lhe oferece aliança e a mão de sua filha. Juno chama à sua presença a Fúria Alecto,
que incita a hostilidade exacerbada de Amata (mãe de Lavínia) e de Turno contra os
troianos. O ferimento de um cervo dos rebanhos reais por Ascânio provoca uma
desavença; Latino é deposto e as tribos italianas unem-se para expulsar os troianos.
Canto 8
Enéas reluta em enfrentar a guerra, mas é encorajado pelo deus do rio Tibre, que lhe
manda tentar a aliança com o arcádio Evandro, fundador de uma cidade na colina
Palatina, parte da futura Roma. Evandro promete ajuda e insiste numa aliança com os
etruscos. Ele conduz Enéas através da cidade e explica a origem dos vários lugares de
Roma e seus nomes. A pedido de Vênus, Vulcano forja uma armadura para Enéas. Há
uma descrição do escudo, no qual estão gravados vários eventos da história futura de
Roma, até a batalha de Ácio.
Canto 9
Durante a ausência de Enéas, Turno cerca o acampamento troiano e ateia fogo às naus
troianas, mas Netuno as transforma em ninfas marinhas. Niso e Euríalo conseguem
atravessar as linhas do inimigo durante a noite para pôr Enéas a par da situação; eles
matam alguns inimigos que dormiam embriagados, mas vêem-se envolvidos por uma
coluna inimiga e são mortos, enquanto Niso tentava bravamente salvar o seu amigo.
Os rutúlios assaltam o acampamento; Ascânio pratica sua primeira proeza marcial;
Turno é envolvido na linha de defesa do acampamento, mas escapa mergulhando no
rio.
Canto 10
Os deuses debatem no Olimpo e Enéas consegue a aliança de Tárcon, rei dos etruscos,
e volta para o campo de batalha acompanhado por Palas (filho de Evandro) e Tárcon.
Turno enfrenta-os na margem do rio, para evitar a junção das forças troianas. Turno
mata Palas em combate, e persegue um fantasma de Enéas imaginado por Juno,
sendo levado para sua cidade. Enéas fere Mezêncio, e seu filho Lauso tenta salvá-lo;
Enéas mata relutantemente o jovem. Mezêncio conduz habilmente seu destemido
cavalo e enfrenta novamente Enéas, mas o cavalo e o cavaleiro são mortos.
Canto 11
Enéas celebra a vitória troiana e lamenta a morte de Palas. Acerta-se uma trégua com
os latinos. Os chefes italianos debatem. Dances propõe a decisão da luta mediante um
combate singular entre Turno e Enéas, e Turno aceita. O debate é interrompido pela
notícia de que Enéas e seu exército estão marchando contra a cidade. Segue-se um
combate de cavalaria no qual Camila toma a iniciativa. Tárcon desmonta Vênulo de
seu cavalo e o leva morto na sela de sua própria montaria. Camila é morta por Árruns, e
é vingada por Ópis, mensageiro de Diana.
Canto 12
Os latinos desencorajam-se e Turno resolve enfrentar Enéas sozinho. Latino e Amata
tentam dissuadi-lo, mas em vão. Faz-se um pacto para o combate singular, porém
Juturna, irmã de Turno, provoca os rutúlios e a batalha recomeça. Um combatente
desconhecido fere Enéas, mas Vênus cura-o. Vendo a cidade dos latinos
desguarnecida, os troianos atacam-na e a incendeiam. Amata suicida-se. Turno volta
de sua perseguição a troianos desgarrados e as forças opostas suspendem o combate
enquanto ele e Enéas lutam. Enéas fere Turno, e de início pensa em poupá-lo, mas vê
em seu corpo os despojos de Palas e inflamado pela cólera mergulha sua espada no
peito do inimigo.
Fonte:
"Dicionário Oxford de Literatura Clássica Grega e Latina", Paul Harvey, Jorge Zahar
Editor.
Sugestões de Leitura:
"Dicionário de Mitologia Grega e Romana", Mário de Gama Kury, Jorge Zahar Editor.
"Eneida", Vurgílio (tradução em prosa de David Jardim Júnior), Ediouro.
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