LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS
1º ENSINO MÉDIO
Texto 1
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O Homo Semântico
Jarbinhas, poeta, passou a vida inteira escrevendo discursos. Redator aposentado, depois de
viúvo, conversava com os chinelos. Botava pijama e lia os livros que deixara para saborear na idade da
sabedoria. Porém, vez ou outra, baixava nele aquela saudade do passado rebordado de metrificadas
glórias.
(...)
Jarbinhas, poeta, era uma vaga e rara estrela na fractal Constelação da Redondilha Menor.
De modo que dessas requentadas recordações Jarbinhas se socorria quando a solidão apertava
por demais o gogó das noites mais velozes. Até que um dia o telefone tocou. E o Lemos (ex-colega de
repartição que nunca havia lido nada, a não ser o Livro de Ponto) convidou Jarbinhas para uma festa
qualquer, em homenagem a um jovem deputado que iria tomar posse em Brasília. Detalhe: o discurso
de saudação seria dele, Jarbas Augusto da Silva, o Tinhosão, o culto.
Glória das glórias! Nosso herói passou o resto da tarde lapidando as ideias, montando o
esqueleto que sustentaria seus melhores verbetes. Palavras têm vida própria, ele sabia. Por isso
caprichou na oficina, empinando substantivos, lustrando adjetivos, engraxando verbos, lixando artigos e
parafusando pronomes. De madrugada, já cansado, burilou pela última vez o texto, colocando algumas
borboletas sirigaitas nos advérbios de tempo, para que a memória dos ouvintes registrasse, lato
sensu, a eternidade daquele momento. E a solenidade bucólica do discurso.
Mesmo não conhecendo o jovem destinatário de sua peça oratória, não importava o lustro: ele,
Jarbinhas, sabia como não ser mendace nessas horas. E foi dormir com uma frase: “Os velhos tempos
voltaram...”
Dia seguinte, vestiu o terno azul-marinho, botou no pulso o Patek Philipe, beijou a medalhinha de
São Judas protetor e se mandou pro aeroporto da Pampulha, com o PTA na mão. Ali, ofegante, pegou
o primeiro avião de sua carreira e conseguiu chegar incólume, apesar dos vácuos na boca do
estômago.
No hotel, com um banho frio, se recompôs. E, na horinha marcada, nosso britânico herói já
adentrava o Salão Nobre do próprio hotel, lugar escolhido para a festa.
Como detestava postergações! Cheio de retóricas na alma, já foi logo procurando pelo Lemos no
abelhal zunzunzum de gente e outros bichos. (Aqui, diga-se de passagem: a maioria composta por
jovens mensageiros ambulantes da língua de Hamlet, o que já vinha estampado nas camisetas e no
boné virado.) Mas havia também barbicarecas de brincos, cabeloiros pintados, hunos
nasaltrespassados, visigodos tatuados e bárbaras moçoilas vestidas de nadaquase. Democraticamente,
todos dançavam o mesmo “ba-be-bi-bo-bu”, algo bem da moda. Bem off-road, all right?
Confuso, assustado, Jarbinhas foi salvo pelo Lemos, que apareceu com um “cabelos amarrados
na nuca” a tiracolo. E apresentou:
-Esse é o nosso novo e digníssimo deputado, Jarbas. Filho de Ronivon e Valdirene. Irmão de
Onaireves Filho, Jerry Wanderley e Cheroques Júnior...Neto de Alceni com Cameli. Todos na política,
mas cada um por seu partido. Não é uma beleza?
Ao que o guapo e amistoso mancebo deputado respondeu, perguntando (ou perguntou,
respondendo, tanto faz) e estendendo a mão:
-E aí, vovô? É o senhor então que veio detonar o lero? Muito prazer. Eu sou o Xobas Farias
Maltas. Qualquer azaração pro seu lado é só me bater um grambel, falô? Transo tudo numa boa. E a
galera é massa! Pega leve... Comigo num tem boné! Rá!
Salvo novamente pelo Lemos, que era o mestre de cerimônias da tribo, Jarbinhas se dirigiu ao
microfone para a saudação, mas já sem nenhum plural. Tirou do paletó as oito laudas de seu
impecável arrazoado linguístico e teve um súbito. Iluminado pelos emissários de Calíope, na hora
agá, analisou os códigos, os chips e os transístores daquela execrável prosódia à qual tantas vezes
condenara. Seu cérebro varreu as páginas pregressas de A Uma Deusa, de um possível Luís Lisboa,
maranhense d’antanho: algo que decorara apenas pela prodigalidade do extrato fônico. E lascou:
- “Senhor deputado! Tu és o quelso do pental ganírio saltando as rimpas do fermim calério,
carpindo as taipas do furor salírio nos rúbios calos do pijom sidério! És obartólio do bocal empírio que
ruge e passa no festim, em ticoteios de partano estírio, rompendo as gâmbias de hortomo-genério! Rá,
eu tô maluco! God save the King-Kong! Alea jacta est! E tenho dito!” - E encerrou o papo por aí.
Sem entender por quê, foi aplaudido, apupado, ovacionado e urrado. Minutos depois, convidado
oficialmente, Jarbinhas assumiu o posto de Redator dos Improvisos do nobre deputado.
1
Os novos tempos voltaram. E, naquela noite, Jarbinhas semancol.
BARRETO, Antônio. Transversais do Mundo. Belo Horizonte: Ed. Lê,1998 , pp 17 a 19
01. Na última hora Jarbinhas substituiu o discurso que havia preparado porque
(A) julgou que o seu discurso estava pouco glamouroso em relação à sofisticação da plateia;
(B) observou que o ambiente onde faria o discurso estava imerso num zunzunzum abelhal;
(C) constatou que os interlocutores não se apresentavam tradicionalmente vestidos;
(D) percebeu a inadequação da linguagem utilizada ao perfil dos interlocutores.
02. A partir da leitura do texto, constata-se que todas as alternativas a seguir estão
corretas, exceto:
(A) O domínio da linguagem de prestígio confere poder e status.
(B) O discurso de Jarbinhas chama a atenção pelo ritmo melodioso.
(C) A exploração das variações linguísticas chama a atenção do leitor.
(D) O texto representa uma situação fictícia, sem correspondência com a realidade.
Conotação - É a ampliação e modificação do sentido da palavra, a fim de obter um efeito
particular em um contexto específico de interlocução.
03. Todas as alternativas seguintes exemplificam o conceito anterior, exceto:
(A)
(B)
(C)
(D)
“Redator aposentado, depois de viúvo, conversava com os chinelos”.
“E na horinha marcada, nosso britânico herói adentrava o Salão Nobre”.
“...empinando substantivos, lustrando adjetivos, engraxando verbos...”
“...a solidão apertava por demais o gogó das noites mais velozes”.
04. “E aí, vovô? É o senhor então que veio detonar o lero? Muito prazer. Eu sou o Xobas
Farias Maltas. Qualquer azaração pro seu lado é só me bater um grambel, falô? Transo
tudo numa boa. E a galera é massa! Pega leve!...Comigo não tem boné! Rá!”
Em todas as alternativas esse trecho foi reescrito. Assinale aquela em que se usou apenas a
norma culta da linguagem:
(A) E aí, amigo? É o senhor então que veio fazer o discurso? Muito prazer. Eu sou o Xobas
Farias Maltas. Qualquer problema, é só me telefonar. Resolvo fácil. A turma é boa. Fique
tranquilo! Comigo não tem complicação!
(B) Como vai, doutor? É o senhor então que veio fazer o discurso? Muito prazer. Eu sou o
Xobas Farias Maltas. Qualquer problema, é só me telefonar. Resolvo fácil. A turma é boa.
Fique tranquilo! Comigo não tem complicação!
(C) E aí, vovô? É o senhor então que veio discursar? Muito prazer. Eu sou o Xobas Farias
Maltas. Qualquer complicação é só me telefonar, falou? Ajeito tudo numa boa. E as
pessoas são ótimas! Fique tranquilo!...Comigo tudo é fácil!
(D) Como vai, amigo? É o senhor então que vai falar para a galera? Muito prazer. Eu sou o
Xobas Farias Maltas. Qualquer problema, é só me telefonar, falou? Resolvo fácil. A turma é
boa. Pega leve!...Comigo não tem confusão!
05. Ao descrever a plateia e o local do evento, o locutor faz várias críticas. Marque a
alternativa que NÃO constitui exemplo disso:
(A)
(B)
(C)
(D)
O Salão Nobre do hotel estava repleto de convidados.
Pessoas que não assumem a própria idade, insistindo num visual descolado.
Moças com roupas chamativas por seu reduzido tamanho.
O “ba-be-bi-bo-bu” musical que, democraticamente, envolvia a todos.
06. “Off-road” é uma expressão em inglês que significa fora da estrada. No contexto,
podem-se inferir todos os significados seguintes, exceto:
2
(A) Alude ao traje e comportamento formal dos participantes.
(B) Refere-se ao modo nada tradicional dos convidados.
(C) Remete ao jeito informal das pessoas presentes.
(D) Faz alusão à maneira bastante descontraída do público.
07. Repleto de termos sonoros e melodiosos, o discurso de Jarbinhas, vazio de conteúdo,
foi amplamente aplaudido, ovacionado e urrado, apesar de várias palavras usadas nem
existirem nos dicionários. Marque a alternativa que melhor caracteriza o discurso de
Jarbinhas:
(A)
(B)
(C)
(D)
Próximo do padrão escrito da língua culta, portanto mais formal, ou dito culto.
Distante do padrão escrito, logo mais informal, ou dito “popular”.
Uma fusão de variantes linguísticas com características formais e informais.
Uma variante linguística representativa da língua padrão falada.
08. As expressões sublinhadas a seguir estão corretamente interpretadas, de acordo com o
contexto, exceto em:
(A) “.. lia os livros que deixara para saborear na idade da sabedoria.” ( linhas 2 -3)
Idade em que, já aposentado, acumulara vasta experiência e conhecimento.
(B) “E foi dormir com uma frase: “Os velhos tempos voltaram...” ( linhas 18-19)
Tempo em que Jarbinhas era um prestigiado redator de discursos.
(C) “Os novos tempos voltaram.” ( linha 54)
Tempo em que, apesar de bem remunerado, Jarbinhas não tinha o reconhecimento do
público.
(D) “Qualquer azaração pro seu lado é só me bater um grambel, falô?” ( linha 40)
Fazer uma ligação telefônica, referência a Alexander Graham Bell, inventor do telefone.
09. Marque a alternativa em que NÃO se usou a linguagem coloquial:
(A)
(B)
(C)
(D)
“...e se mandou pro aeroporto da Pampulha, com o PTA na mão.”(linha.21)
“E na horinha marcada, nosso britânico herói já adentrava o Salão Nobre...”(linhas.24 -25)
“E encerrou o papo por aí”. (linha.51)
“Ao que o guapo e amistoso mancebo deputado respondeu, perguntando...” (linha.37)
Texto 2
Camisinha de cérebro
Nos primeiros seis meses deste ano, na cidade de São Paulo, a cada dia, em média, duas
meninas de menos de 14 anos se tornaram mães. Na faixa dos 15 a 19 anos, a média diária sobe para
79 casos. Documentos oficiais revelam que a situação se mantém praticamente inalterada pelo menos
desde 2001.
5
Em apenas seis anos, nascerão pouco menos de 200 mil crianças filhas de mães adolescentes e
quase sempre pobres. A maioria dessas meninas terá, em média, três filhos.
Num fenômeno nacional, garotas tornadas mães tão jovens, ainda quase pré-adolescentes, são a
faceta mais evidente de uma tragédia cujo antídoto, oferecido na semana passada pelo prefeito do
Rio de Janeiro, César Maia, é a distribuição em massa de camisinhas - solução bem intencionada, mas
10 provavelmente inútil.
Numa perversa assimetria, é visível no mapa de São Paulo que as mulheres mais ricas e mais
velhas se limitam a ter um filho (isso para não atrapalhar os estudos e a profissão), enquanto, em
bairros da periferia, de cada 1.000 adolescentes de 15 a 19 anos, cerca de 70 têm um filho por ano.
Para comparar, tome-se uma região como Pinheiros, utilizando como referência a mesma idade de
15 adolescentes: a proporção cai de 70 para 10 a cada mil.
Mães com muitos filhos, exigência crescente de qualificação da mão-de-obra, escolas públicas
ruins, desemprego, baixos salários e falta de estrutura familiar - fatores que concorrem para perpetuar a
má distribuição de renda - são alguns dos ingredientes da criminalidade.
(...)
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O estrago da maternidade precoce pode ser avaliado com base nos resultados de uma pesquisa
(divulgada na quarta-feira) que aparentemente nada tem a ver com o assunto. A Prefeitura de São
Paulo lançou estudo mostrando que, de cada 10 empregos novos criados na cidade, quase 7 são
ocupados por mulheres de idade entre 18 e 24 anos que completaram, no mínimo, o ensino médio e, na
maior parte das vezes, uma faculdade. Dificilmente uma mulher consegue chegar a esse grau de
escolaridade tendo sido mãe muito jovem. Resultado: há batalhões de indivíduos que, mesmo num
ambiente de crescimento econômico, terão dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Estão
condenados a viver na marginalidade, dependendo de verbas oficiais ou engrossando as fileiras do
crime. Lembre-se de que, no Brasil, nasce anualmente 1 milhão de filhos de adolescentes.
Diante dessas devastadoras consequências, a solução mais fácil e tentadora é distribuir mais
camisinhas ou pílulas.
O acesso a métodos contraceptivos é indispensável, mas quem acompanha projetos que
trabalham com adolescentes sabe que a questão é mais complexa: a carência crônica faz com que as
jovens, apesar da falta de recursos, vejam no filho não um problema, mas uma solução.
Mais do que uma solução, uma perspectiva. Logo vão descobrir, porém, que nem sequer
encontraram um projeto de vida e muitas vezes terão jogado no mundo seres humanos que terão mais
dificuldade de ter perspectiva.
Educadores aprenderam que a base do planejamento familiar é o projeto de vida, é a capacidade
de detectar os próprios potenciais e de acreditar na possibilidade de transformá-los em habilidades. A
realização se dá em vários níveis, além da maternidade.
Quem tem projeto de vida acredita em si próprio porque se respeita. Isso significa tanto se
esforçar para estudar ou batalhar um emprego como preservar o próprio corpo.
Se quiser, de fato, enfrentar a pobreza, o prefeito da próxima gestão terá de transformar os
centros de saúde e as escolas em espaços não apenas de educação para a vida, mas de educação na
vida.
Evitar a gravidez precoce ou proteger-se contra doenças sexualmente transmissíveis é somente
uma consequência da atitude de quem se valoriza no presente e aposta no futuro e, assim, acaba
aprendendo que a melhor camisinha está no cérebro, e não na genitália.
DIMENSTEN, Gilberto. Cominha de Córebro. Folha de São Paulo, 17 de outubro de 2004, cod C15.
10. As palavras sublinhadas a seguir foram corretamente interpretadas, de acordo com o
seu significado no texto, exceto:
(A)
(B)
(C)
(D)
“...são a faceta mais evidente de uma tragédia cujo antídoto ...” (linhas 7 - 8 )
“O estrago da maternidade precoce pode ser avaliado....” (linha 20.)
“...terão dificuldade de inserção no mercado de trabalho.” (linha 26)
“...a melhor camisinha está no cérebro, e não na genitália.” (linha 47)
(solução)
(de risco)
(ingresso)
(sexo)
11. Em todas as alternativas, o enunciado expressa uma opinião do locutor do texto, exceto:
(A)
(B)
“O acesso a métodos contraceptivos é indispensável...”
“...é a distribuição em massa de camisinhas - solução bem-intencionada, mas
provavelmente inútil.”
(C) “Diante dessas devastadoras consequências, a solução mais fácil e tentadora é distribuir
mais camisinhas ou pílulas.”
(D) “Na faixa etária dos 15 a 19 anos, a média diária sobe para 79 casos.”
12. Marque a opção errada sobre a construção do texto:
(A) O autor usa dados estatísticos para sustentar seus argumentos.
(B) Os últimos parágrafos do texto apontam uma solução para o problema da gravidez na
adolescência.
(C) A linguagem coloquial é usada, em algumas partes do texto, aproximando-o do leitor.
(D) O último parágrafo, além de retomar o título, explica-o.
13. Todas as alternativas a seguir representam consequências da gravidez na
adolescência apontadas no texto, exceto:
4
(A)
(B)
(C)
(D)
Dificuldade de acesso a um nível de escolaridade melhor.
Alto índice de desemprego e submissão a baixos salários.
Dificuldade de inserção no mercado de trabalho.
Exigência crescente de qualificação de mão-de-obra.
14. Com base na leitura feita, é correto afirmar que o principal objetivo do texto é
(A)
(B)
(C)
(D)
propor a distribuição de mais camisinhas ou pílulas aos jovens.
constatar que mães com muitos filhos perpetuam a má distribuição de renda.
reconhecer que a jovem carente vê no filho uma solução de vida.
evidenciar a necessidade do indivíduo construir um projeto de vida.
15. De acordo com a leitura do texto, não é possível inferir que a
(A) elaboração de um projeto pessoal de vida significa a valorização do presente e uma porta
no futuro.
(B) iniciativa do prefeito César Maia é inoperante para a resolução do problema.
(C) maternidade precoce é o mais grave problema social do Brasil.
(D) maturidade e a condição socioeconômica privilegiada levam ao controle da natalidade.
16. Observe o poema-cartaz a seguir, do poeta Nei Leandro de Castro, pertencente à
geração da Poesia Marginal da década de 70 (séc. XX).
CAMPEDELLI, Samira Y.Poesia Marginal dos Anos 70, p.29.
Sabendo que todo signo pode ser carregado de significados, convencionais ou não,
dependendo do contexto e da intencionalidade do emissor, analise a data e os signos
representados no poema-cartaz e assinale a alternativa correta.
(A) A data expressa não é significativa, funciona apenas como um índice de algum fato.
(B)
A data poderia ser outra, pois o sentido é expresso através das marcas utilizadas.
(C)
As marcas expressas dentro da data questionam a independência de nosso país.
(D)
As marcas apenas ilustram a data, não sendo, assim, realmente significativas.
As questões 17 e 18 referem-se aos quadrinhos seguir.
Observe a tirinha de Laerte:
5
Folha de S. Paulo, 07/08/99.
17. Os quadrinhos são ricos em signos, em símbolos, já que exploram tanto a linguagem
verbal quanto a pictórica, imagética. Assinale a alternativa a seguir que não
corresponda corretamente com o sentido empregado dos símbolos utilizados.
(A) O cartunista, ao desenhar o skatista com um comprido rabo, dentes grandes e focinho, dá
toda a ênfase à imagem biológica de um rato.
(B) Os traços utilizados, pelo cartunista, logo após o desenho do skate, tanto indicam direção
quanto simbolizam velocidade.
(C) As falas do rato no último quadrinho representam a erudição, o saber que este possui,
indo além das habilidades no esporte.
(D) A atitude e feição dos outros personagens, no último quadrinho, representam admiração,
respeito.
18. Como cada posição assumida, defendida ou apenas insinuada a respeito de um
assunto constitui um enunciador ou ponto de vista ideológico, podemos perceber,
implícita ou explicitamente, através do locutor, a posição do autor em relação ao seu
próprio texto. Todas as alternativas interpretam adequadamente o ponto de vista
utilizado, exceto:
(A) A imagem do rato poderia simbolizar que o esporte, apesar de bonito, ainda é visto de
forma um pouco marginalizada.
(B) O locutor, ao utilizar as falas no último quadrinho, se mostra bastante hábil no esporte e se
considera, mais ainda, inteligente.
(C) A postura e a fala do rato corroboram o sentido de este personagem possuir uma
autoestima elevada.
(D) O autor aparenta ter uma visão positiva em relação ao esporte, mas negativa quanto aos
praticantes do mesmo.
As questões de 19 a 28 baseiam-se no texto a seguir. Leia atentamente todo o texto
antes de resolvê-las.
A história nos diz, com aquele ar enfarado das velhas professoras, que o Império
Romano terminou com a invasão dos bárbaros, e todos sabem quem eram os bárbaros: os
hunos, os godos etc. Poucos sabem que, além dos bárbaros mais conhecidos, muitas hordas
menores percorreram a Europa na mesma época, espalhando o medo e a destruição, só mais
discretamente. Por exemplo: além dos hunos, havia os úmidos, que atacavam a pé, pois
sempre que tentavam montar deslizavam do cavalo. Sua tática preferida era correr atrás das
pessoas e encostar nelas a palma da mão, sempre molhada e pegajosa, provocando gritos de
“lecht” e “lug” em todo o mundo civilizado. Até hoje existem descendentes dos úmidos e é fácil
identificá-los pelo aperto de mão, mole e oleoso, pelo hábito de só falar com a cara a
centímetros da nossa e de insinuar que são assim, ó, com o Maluf.
Além dos vândalos havia os sândalos, hordas perfumadas que corriam pela Europa
toda aos gritos, requebrando-se na frente dos legionários e atraindo-os para o mato, onde eram
sepultados sob guirlandas artisticamente arranjadas e arranhados até a submissão ou a morte,
que muitos preferiam. Os sândalos invadiam as cidades, esvaziavam seus depósitos e
despejavam os comerciantes de suas lojas, que redecoravam e reabriam como butiques. Eram
temidos pelos seus beliscões e pelos seus métodos de tortura que incluíam o corte da cutícula,
a depilação, banhos de lama e dieta natural.
Todos conhecem os burgúndios, mas e os burugunduns? Estes avançavam em massa,
arrasando tudo no seu caminho, e todos que estivessem sem crachá, seguindo uma comissão
de frente, ao som de uma poderosa bateria e entoando um “samba” ou flagelo-enredo,
primitivo. Aterrorizaram a Europa durante anos, mas foram derrotados pelo seu próprio
tamanho. As hordas não paravam de crescer, tornando difícil uma ação conjunta. Certa vez a
ala das baianas estava invadindo Roma, mas o final da horda atravessou e invadiu a Espanha.
Sabe-se também que houve uma dissidência na horda dos francos, formando-se então
a horda dos falsos, cuja importância na história militar do ocidente é inestimável, pois foram os
inventores do ataque à traição. Os falsos, ao contrário dos francos, entravam correndo nos
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lugares, fingindo que fugiam de um invasor, gritavam “Fechem os portões, rápido!” e só então
diziam “Arrá!” e atacavam a população. Antes de atacar mandavam um destacamento de
relações públicas na frente para anunciar que traziam confiança e construção, em vez de medo
e destruição, confundindo os defensores. Os falsos entravam nas casas, demoliam as pessoas
e os animais, estupravam os móveis, depois encurralavam o dono da casa e lhe vendiam cotas
de um clube de férias. Fictício, claro. Temia-se a aliança dos falsos com uma subdivisão dos
godos. Os godos, como se sabe, eram divididos em visigodos e ostrogodos, mas havia uma
terceira facção, que ora se fazia passar por visigoda, ora por ostrogoda – a dos engodos. Os
engodos converteram-se ao cristianismo, mas acabaram perseguidos na Europa pelas suas
práticas religiosas – como o “salário de Deus”, que eles instituíram e recolhiam dos fiéis para
manter Deus no cargo, mas nunca mandavam - e emigraram para o Novo Mundo, onde,
parece, associaram-se aos falsos no ramo da especulação imobiliária.
Outra facção pouco conhecida dos godos era a dos gordos, hordas de economistas
que invadiam os países dizendo piadas, dilapidavam o seu tesouro, acabavam com suas
reservas e os entregavam os anglos e aos saxões para terminar o serviço.
Havia também os avaros, que duraram pouco, pois disparavam suas flechas contra o
inimigo mas corriam atrás para pedir que devolvessem a flecha e eram massacrados. Além dos
alamãs havia os ademãs, hordas de colunistas sociais que... Mas a lista é enorme.
VERISSIMO, Luis Fernando. A velhinha de Taubaté. Porto Alegre. L&PM, 1983.p.115-117 – Texto adaptado.
19. O texto de Veríssimo, apesar de ser ficcional, baseia-se em fatos históricos reais e
situações cotidianas, porém caricaturizadas. A partir do seu conhecimento da História
da Língua Portuguesa e do texto lido, assinale a alternativa que apresenta somente
povos bárbaros citados, no texto, que são ficcionais.
(A)
(B)
(C)
(D)
Burugundus, avaros e falsos.
Godos, visigodos e ostrogodos.
Hunos, úmidos e sândalos.
Sândalos, vândalos e francos.
20. Considerando o conteúdo do texto lido, assinale a alternativa que apresenta o título
melhor apropriado a ele:
(A)
(B)
(C)
(D)
A barbárie dos povos primitivos.
Histórias que a História não contou.
Os povos bárbaros mais conhecidos.
Origem dos povos neolatinos.
21. Como o texto de Veríssimo é ficcional, assinale a alternativa que explica corretamente
de que bárbaros o texto trata.
(A)
(B)
(C)
(D)
Etnias estranhas ao Ocidente branco e civilizado.
Habitantes mal-educados da Europa, desde a queda do Império Romano.
Invasores do espaço alheio, que incomodam ou lesam as pessoas.
Pessoas espertas, que mostram sua criatividade na vida social.
22. Considerando o nome dado às ficcionais hordas criadas por Veríssimo, todas as
associações são admitidas pelo texto, exceto:
(A)
(B)
(C)
(D)
Falsos - estelionatários.
Gordos - bajuladores.
Sândalos - efeminados.
Úmidos - repulsivos.
23. Todas as afirmativas a seguir podem ser confirmadas pelo texto, exceto:
(A) A derrota dos burugunduns deve-se a seu crescimento incontrolável.
(B) A expansão dos bárbaros, no Ocidente, causa a queda dos romanos.
(C) A horda dos falsos é constituída por invasores de domicílios.
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(D) Os descendentes dos úmidos mantêm compromissos com Maluf.
24. Assim como vários cronistas brasileiros, Veríssimo faz uso de um fino humor em seus
textos. Todas as alternativas a seguir reproduzem passagens caracterizadas pelo
humor ou irreverência, exceto:
(A) “(...) além dos bárbaros mais conhecidos, muitas hordas menores percorreram a Europa
na mesma época,(...)”
(B) “Eram temidos pelos seus beliscões e pelos seus métodos de tortura, (...)”
(C) “(...) a ala das baianas estava invadindo Roma, mas o final da horda atravessou e invadiu
a Espanha.”
(D) “(...) como o ‘salário de Deus’, que eles instituíram e recolhiam dos fiéis para manter Deus
no cargo,(...)”
25. O humor quase sempre é utilizado com a finalidade de criticar algo, alguém ou algum
fato. Veríssimo, a partir de um dado histórico, as invasões bárbaras, em seu texto, faz
críticas variadas. As críticas estão bem identificadas nas alternativas a seguir, exceto
em:
(A)
“(...) a ala das baianas estava invadindo Roma, mas o final da horda atravessou e
invadiu a Espanha.” – crítica ao imenso tamanho das escolas de samba.
(B) “(...) como o “salário de Deus”, que eles instituíram e recolhiam dos fiéis para manter Deus
o cargo, mas nunca mandavam “ - crítica a práticas de certas instituições religiosas.
(C)
“Eram temidos pelos seus beliscões e pelos seus métodos de tortura, (...)” - crítica às
atitudes de determinados homossexuais.
(D) “Outra facção pouco conhecida dos godos era a dos gordos, hordas de economistas que
invadiam os países dizendo piadas, dilapidavam o seu tesouro, (...) e os entregavam os
anglos e aos saxões para terminar o serviço.” - crítica às pessoas obesas e gastadoras.
26. Em todas as alternativas, as expressões destacadas estão corretamente interpretadas,
exceto em:
(A) “(...) provocando gritos de lecht e lug (...)” - exclamações de asco
(B) “(...) entoando um samba, (...)” - pretenso samba
(C) “(...) gritavam Fechem os portões, rápido! (...)” - ordem dada
(D) “(...) , só então diziam Arrá! - saudação ao inimigo
27. Todas as afirmativas a seguir referem-se corretamente aos sândalos, exceto:
(A)
(B)
(C)
(D)
Atraiam, com seus requebros, os legionários romanos.
Exalavam perfume e eram temidos pelos seus métodos de torturas.
Eram sepultados no mato, sob artísticos arranjos florais.
Corriam, aos gritos, por toda a Europa.
28. Podemos depreender que a frase final do texto sugere que
(A)
(B)
(C)
(D)
a barbárie tem um sentido universal que não se restringe ao Ocidente.
as hordas já existentes dão origem a novas hordas bárbaras.
o escritor não esgotou as possíveis analogias entre bárbaros.
o escritor não tem acesso a todos os dados sobre bárbaros.
Para as questões 29 e 30, leia a charge a seguir, publicada na revista Galileu, de junho de
2004.
8
29. Sobre a charge em estudo, assinale a afirmativa incorreta:
(A) Apesar de apresentar personagens pertencentes à antiguidade, é feita uma crítica à nossa
carga tributária.
(B) Por apresentar personagens da antiguidade, sugere que há tempos nossa carga tributária
é muito grande.
(C) Como os personagens nos remetem a outra época e lugar, percebemos uma crítica aos
enormes tributos de todos os países ocidentais, desde a antiguidade.
(D) Mesmo apresentando personagens atípicos à nossa época e lugar, os tributos citados
restringem ao Brasil.
30. Considerando a intertextualidade e seus conhecimentos gerais, só não podemos
afirmar que
(A) as siglas CPMF, INSS, ISS, IR e IPTU parafraseiam os atuais tributos pagos por nós,
brasileiros.
(B) a expressão “o combinado foi 30 moedas!” e a imagem dos personagens referem-se à
época vivida por Cristo.
(C) a charge, considerada na sua totalidade, ao mesmo tempo que parodia a traição de Judas,
critica nossa carga tributária.
(D) o centurião refere-se ao poderio do Império Romano e, ao mesmo tempo, alude às
instituições governamentais brasileiras que recolhem impostos.
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LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 1º ENSINO MÉDIO