XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.
EXPERIMENTAÇÃO NAS AULAS DE GASES: RECURSO
FACILITADOR NA COMPREENSÃO DE CONCEITOS ABSTRATOS
E NA FORMAÇÃO CRÍTICA DO DISCENTE
Priscila do Nascimento Silva1, Larissa Oliveira de Souza2, Flávia Cristiane Vieira da Silva3,
José Euzébio Simões Neto 4.

Introdução
A química é uma ciência experimental, e, sendo assim, é muito difícil aprendê-la sem a realização de atividades
práticas. Essas atividades podem incluir demonstrações feitas pelo professor, experimentos para confirmação de
informações já dadas, cuja interpretação leve à elaboração de conceitos, entre outros (MALDANER, 1999). Assim,
entendemos que a experimentação possui grande importância no ensino de química, por permitir relacionar teoria e
prática, evitando o reducionismo de observar a experimentação apenas como uma demonstração, onde a prática
comprova a teoria. Deve ser um instrumento de construção do conhecimento e da reflexão.
Segundo Dominguez (1975), a melhoria da qualidade do ensino de Química deve contemplar também a adoção de
metodologias de ensino que privilegie a experimentação como uma forma de aquisição de dados da realidade,
oportunizando ao aprendiz uma reflexão crítica do mundo e um desenvolvimento cognitivo, por meio de seu
envolvimento, de forma ativa, criadora e construtiva, com os conteúdos abordados em sala de aula. Saber explorar o
potencial do aluno na atividade prática é de fundamental importância para que cada vez mais se torne eficaz esse recurso
facilitador da aprendizagem, e não uma mera repetição, onde os alunos não conseguem fazer relações e aplicações do
conhecimento aprendido nos seus cotidianos.
Fica claro a importância e o papel do professor na mediação da atividade experimental. Segundo Hodson (1994), o
professor deverá assumir uma postura na intenção de auxiliar os alunos na exploração, desenvolvimento e modificação
das suas ‘concepções ingênuas’ acerca de determinado fenômeno para concepções científicas, sem desprezá-las. É o
professor que propõe problemas a serem resolvidos, que irão gerar idéias que, sendo discutidas, permitirão a ampliação
dos conhecimentos prévios; promove oportunidades para a reflexão, indo além das atividades puramente práticas;
estabelece métodos de trabalho colaborativo e um ambiente na sala de aula em que todas as idéias são respeitadas
(CARVALHO et al., 1998: 66).
A aula experimental é uma forma de ajudar na aprendizagem dos conteúdos e conceitos, e consequentemente
colaborar na aprendizagem, pois coloca o aluno diante de um problema e o proporciona um estímulo para pensar e
refletir sobre a prática experimental em evidência, que pode contribuir para a formação crítica do mesmo, fazendo com
que ele traga argumentos e opiniões que se somarão aos conceitos científicos na construção de uma aprendizagem mais
sólida. Mortimer et al. (2000) afirmam que de nada adiantaria realizar atividades práticas em sala de aula se esta aula não
propiciar o momento da discussão teórico-prática que transcende o conhecimento de nível fenomenológico e os saberes
cotidianos dos alunos.
Diante desses argumentos, propomos uma abordagem experimental sobre a difusão gasosa, com o objetivo de
auxiliar na compreensão de conceitos abstratos e estimular o pensamento crítico dos discentes, mediante a busca por uma
unidade entre teoria e prática.
Material e métodos
A. Material
Realizamos este trabalho na Escola de Referência em Ensino Médio Ginásio Pernambucano, localizada na cidade do
Recife-PE, em duas turmas, uma do segundo ano e a outra do terceiro ano. Por questões de segurança, o experimento
foi realizado ao ar livre. Utilizamos um tubo de vidro de tamanho médio, com abertura nas duas extremidades, algodão,
amônia (NH3) e ácido clorídrico (HCl) concentrado.
1
Priscila do Nascimento Silva é graduanda em Licenciatura Plena em Química, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de
Medeiros, s/n, Dois Irmãos - CEP: 52171-900 - Recife/PE. E-mail: [email protected]
2
Larissa Oliveira de Souza é graduanda em Licenciatura Plena em Química, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de
Medeiros, s/n, Dois Irmãos - CEP: 52171-900 - Recife/PE.
3
Flávia Cristiane Vieira da Silva é doutoranda em Ensino das Ciências, Programa de Pós-Graduação em Ensino das Ciências, Universidade Federal
Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos - CEP: 52171-900 - Recife/PE.
4
José Euzébio Simões Neto é Professor Assistente da Unidade Acadêmica de Serra Talhada, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Fazenda
Sacos, s/n, Caixa Postal 063 – Serra Talhada/PE.
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B. Métodos
Reunimos as duas turmas no pátio da escola e orientamos que se aglomerassem fazendo um círculo ao redor da mesa
onde estavam os materiais necessários à execussão da prática, facilitando a visualização de todos. Iniciamos a prática
embebedando um pedaço de algodão com amônia, e o outro algodão com o ácido clorídrico concentrado,.
Imediatamente, colocamos cada reagente nas extremidades do tubo de vidro, onde tampamos em seguida com uma rolha
para que os gases ficassem presos dentro do tubo, buscando facilitar a visualização do produto final da reação, ao
término da prática.
Resultados e Discussão
A. Resultados
A visualização da movimentação dos gases sobre o tubo deixaram os alunos bem curiosos. Eles puderam compreender
melhor esse conceito de difusão e efusão dos gases, podendo fazer relações com o dia a dia, como o do porque podemos
sentir a fragância dos perfumes e de outros gases à distância, pelo princípio da difusão.
Alguns questionamentos foram levantados, durante a execução da prática, instigando-os a pensar e a argumentar sobre
os conceitos científicos utilizados na experimentação.
Quadro 1. Questinamentos levantados aos alunos para colaborar numa formação mais crítica dos mesmos através da
experimentação sobre o conteúdo de gases.
Questionamentos
Justificativas
Porque a amônia (NH3) se move mais rapidamete que o Mostrar que os gases tem pesos moleculares diferentes.
Ácido clorídrico (HCl)? (Percebemos isso pelo fato da Que eles se difundem e efundem, ou seja, não estão
formação do cloreto de amônio, NH4Cl - precipitado parados, mas sim em movimento, por isso os odores são
branco, característico da reação entre a amônia e o ácido sentidos ao longe.
clorídrico, indicando o encontro dos gases.)
Com base na experimentação, por que os gases podem se Mostrar que os gases pela sua fácil efusão, são difíceis de
tornar danosos ao ambiente e ao homem?
controlar e que a poluição atmosférica causada pelo
homem gera grandes prejuízos ao meio ambiente, pois
gases perigosos ficam dispersos no ar, como o monóxido
de carbono (CO), óxidos de enxofre (SO2 e SO3), óxidos
de nitrogênio (NO e NO2), além das macromoléculas e
hidrocarbonetos, que causam grandes problemas à saúde,
com efeitos canceríginos, danos ao sistema respiratório e
cardiovasculares.
O que o fenômeno da inversão térmica tem a ver com os Mostrar que no fenômeno da inversão térmica, a cidade
gases?
fica encoberta por gases tóxicos aprisionados pelo smog.
O smog são combinações de fumaça (smok) e neblina
(fog).
Porque se fala tanto em efeito estufa, relacionando-o à Mostrar ao discente que parte da radiação solar que
poluição?
contém raios ultravioletas é absorvida pela superfície
terrestre, que após absorção emite radiação infravermelha.
Parte dessa radiação que sairia do planeta é absorvida
pelos gases do efeito estufa, retendo calor que mantém a
terra aquecida.
A prática nos proporcionou abranger o conteúdo de gases a situações do nosso cotidiano como o odor dos perfumes,
e plantas, através da prática com a amônia e o ácido clorídrico, pelo fato da amônia se mover mais rapidamente que o
ácido, trazendo grande interação entre os discentes, além de gerar discussões de problemas mundiais facilitando a
compreensão sobre esses fenômenos. Segundo Gonçalves e Marques (2006), a experimentação deve propiciar momentos
de re-elaboração dos conhecimentos, possibilitando o contato do aluno com fenômenos químicos, possibilitando ao aluno
criar modelos explicativos sobre as teorias, utilizando uma linguagem própria. Apesar de ser uma prática simples, nos
proporcionou momentos de grandes discussões, onde pudemos perceber que a experimentação é um instrumento muito
rico na formação crítica do discente se trabalhada de maneira correta.
B. Discussão
As aulas de gases são um tanto difíceis, pois falamos de partículas que não são sempre visíveis ao nível macroscópico. O
professor é o principal responsável por levar exemplos, e preparar experimentos que venham ajudar na compreensão dos
alunos sobre essa temática, que faz parte do nosso cotidiano, relacionar ao máximo teoria e cotidiano deve ser o objetivo
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do professor na construção do conhecimento. Este tipo de prática ajudará o aluno a desenvolver habilidades de
“observação” e “reflexão”.
A atividade experimental é de fundamental importância nas aulas de química, e deve ser baseada não somente na
observação, mas também na teoria, instigando a reflexão do indivíduo, abrangendo questões sociais e culturais com
objetivo de ilustrar o desenvolvimento pessoal do aluno mediante a problematização das observações experimentais e o
diálogo.
Outro fator que torna este trabalho relevante é a não necessidade de um laboratório na escola, com altos recursos e
materiais, para o professor realizar atividades experimentais. Com motivação, qualquer espaço na escola pode se
converter em um ambiente de aprendizagem, utilizando a criatividade e a experimentação.
Agradecimentos
A Deus, pelas inspirações, aos professores e alunos da Escola de Referência do Ensino Médio Ginásio pernambucano
e a todos que colaboraram para a elaboração deste trabalho.
Referências
CARVALHO, A. M. P.; VANNUCCHI, A. I. ; BARROS, M. A. ; GONÇALVES, M. E. R. ; REY, R. C. . Ciências no
Ensino Fundamental - O Conhecimento Físico. São Paulo: Editora Scipione, 1998. 200 p.
DOMINGUEZ, S. F.: As experiências em química. São Paulo, 1975.
GONÇALVES, F.P. e MARQUES, C.A . Contribuições Pedagógicas e Epistemológicas em Textos de Experimentação
no Ensino de Química. Investigação no Ensino de Ciências, vol.11(2), 219-238, 2006.
HODSON, D. Hacia um Enfoque más Crítico del Trabajo de Laboratório. Enseñanza de lãs Ciências, Barcelona, v. 12,
n.3, p. 299-313. 1994.
MALDANER, O. A.; Química. Nova 1999.
MORTIMER, E.F.; MACHADO, A.H.; ROMANELLI, L.I.A. Proposta Curricular de Química do Estado de Minas
Gerais: Fundamentos e Pressupostos. Química Nova, São Paulo, v. 23, n.2, p.273-283, mar./abr. 2000.
Figura 1. Experimento da Lei de Difusão e Efusão dos gases (Lei de Graham) executado com os alunos do Ensino
Médio.
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Trabalho