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O ZÉ DIAS VISTO PELOS AMIGOS
“Sei que quando parte um homem bom,
o mundo que deixa é um mundo melhor do que aquele que encontrou”
A notícia chegou-me no dia
15 ao fim da tarde. O José
Dias partiu. Com aquela
simplicidade e aquela grandeza de alma que sempre o
caracterizou, disse-nos silenciosamente adeus e deu
início a este novo momento
da sua viagem, com a serenidade da sua fé, a força da
sua esperança e o amparo
da sua caridade. Partiu um
homem bom, é o mínimo e o
máximo que se pode dizer
deste peregrino dos sonhos
por dentro da realidade.
Porque o José Dias era o
corpo e a alma da bondade. Nele a bondade tecia-se com muitos fios. Com o fio da humildade, que o fazia estar à
escuta de tudo e de todos como quem sabe que é através do tempo que o sagrado e o divino se fazem som e palavra
e habitam o coração do homem. Com o fio da tolerância com que respeitava o diferente, por sentir que um mundo
feito com muitas cores é mais rico que um quadro a preto e branco ou simplesmente cinzento. Com o fio da alegria,
feita de paciência e espanto, de dor e resistência, de coragem e otimismo, perante os mistérios da vida, da natureza
e do mundo. Com o fio do saber, um saber sempre feito de procura, sempre feito de devir e movimento, sempre feito
de abertura tanto às coisas dos homens na esfera da sociedade e da política, como às coisas da natureza, na sua
estrutura físico-química e biológica, como às coisas divinas a cuja reflexão e aprofundamento se dedicou com a persistência de um teólogo, a paixão de um místico e a emoção de um poeta. Com o fio da solidariedade, estendendo a
força das suas frágeis mãos à solidão dos excluídos, dos marginalizados, dos esquecidos, dos ignorados, de todos
que abriam os olhos cheios de todas as carências do corpo e da alma. Por tudo isso, ao ver partir o José Dias, sinto
no mais fundo de mim mesmo que partiu um homem bom. Poderia chorar, mas não choro. Não choro porque sei que
quando parte um homem bom, o mundo que deixa é um mundo melhor do que aquele que encontrou. O que significa
que um homem bom, como o José Dias, nunca parte: fica sempre no melhor que o mundo tem, nele se fazendo
semente do melhor que o mundo há-de ter. É essa a nossa fé, a nossa esperança e a nossa caridade.
João Maria André
Professor Universitário
Era profundamente humano, um dos nossos, simples, próximo, entregue, e nesse sentido digo que era um
santo. Empenhou-se, em concreto na ação que desenvolvia na Comissão Justiça e Paz, para que Coimbra e o país
pudessem criar organizações e instituições mais justas. Ainda recordo
aulas e conferência em que dele ouvi conhecimento e vida. É enorme a gratidão e os seus gestos são marcas
que falam, continuarão a falar, por si.
Padre Paulo Simões
Director do Instituto Universitário Justiça e Paz
www.igrejasaojose.com.pt
e-mail: [email protected]
aróquia de S. José
Coimbra
DÉCIMO SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM
“MARIA ESCOLHEU A MELHOR PARTE”
“O Senhor apareceu a Abraão junto do carvalho de Mambré. Abraão estava sentado à entrada da sua tenda, no
maior calor do dia. Ergueu os olhos e viu três homens de
pé diante dele. Logo que os viu, correu ao seu encontro…
«Meu Senhor, se agradei aos vossos olhos, não passeis
adiante sem parar em casa do vosso servo. Mandarei vir
água… Vou buscar um bocado de pão…Eles responderam: «Faz como disseste». Abraão apressou-se a ir a
Sara e disse-lhe: «Toma depressa três medidas de flor da
farinha e coze uns pães no borralho». Abraão escolheu
um vitelo tenro e bom e entregou-o a um servo que se
apressou a prepará-lo. Trouxe manteiga e leite e o vitelo
já pronto e colocou-o diante deles; e, enquanto comiam,
ficou de pé… Um deles disse: «Passarei novamente pela
tua casa daqui a um ano e então Sara tua esposa terá um
filho».”
Genesis 18,1-10a
REFRÃO:
ENSINAI-NOS, SENHOR:
QUEM HABITARÁ EM VOSSA CASA?
“Agora alegro-me com os sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta à paixão de Cristo, em
benefício do seu corpo que é a Igreja. Dela me tornei ministro, em virtude do cargo que Deus me confiou a vosso respeito.
Deus quis dar-lhes a conhecer as riquezas e a glória deste mistério entre os gentios: Cristo no meio de vós, esperança da
glória.”
Colossenses 1,24-28
“Jesus entrou em certa povoação e uma mulher chamada Marta recebeu-O em sua casa. Ela tinha uma irmã chamada Maria,
que, sentada aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Entretanto, Marta atarefava-se com muito serviço. Interveio então e
disse: «Senhor, não Te importas que minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe que venha ajudar-me». O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a
melhor parte, que não lhe será tirada».”
Evangelho de S. Lucas 10,38-42
Qual Abraão, somos convidados a estar atentos a quem passa, a sair ao encontro.
Como S. Paulo, somos convidados a «completar na nossa carne o que falta à paixão de Cristo,
No seu corpo, que é a Igreja»
Como Marta e Maria, somos ainda convidados a receber com todo o carinho e afecto…
Mas, mais ainda a parar aos pés do Mestre, a escutar a sua palavra.
Tudo isto foi a maneira de estar na vida do José Dias:
Sentado aos pés do Mestre, a escutar, a meditar a aprofundar a sua palavra de vida.
Coração aberto a todos, como Abraão, sempre atento aos mais pobres…
Não se limitando a dar pão, mas inquietado pela construção de uma sociedade mais justa.
Homem de fé, disponível para tomar como sua a vontade de Deus,
Como exprimiu no belo testemunho do «Acidente no percurso».
Seguindo o exemplo do José Dias, tornaremos o nosso mundo bem mais humano,
Porque bem mais cheio de Deus, Pai amoroso de todos os homens.
Folha Paroquial - n.º 15337
ANO XXXVII
21 de Julho de 2013
RECORDANDO
JOSÉ DIAS DA SILVA
Louvado seja Deus, que nos deu a graça de ter este homem
de fé e de princípios, como cristão consciente e activo nesta
comunidade paroquial. Queremos recordar a acção do José
Dias como colaborador activo e responsável na Paróquia
de S. José. No mandato de 85 a 88 foi Secretário do Conselho Pastoral. Foi depois membro do mesmo Conselho Pastoral e da sua Comissão Permanente nos mandatos de 88 a
91, 2003 a 2006 e ainda de 2006 a 2009. Levou muito a
sério a sua qualidade de leigo na Igreja, procurando corresponder ao papel dos leigos evidenciado no Concílio Vaticano II. Foi o grande impulsionador de iniciativas, como o
Encontros de formação dos fins de semana para responsáveis de organismos paroquiais, o Grupo de Apoio à solidão,
com uma equipa de voluntários que assumiram esse objectivo. Era exigente consigo mesmo e, por isso, podia também
sê-lo com os outros. Quanto se notava a sua arrelia, quando
as pessoas não traziam os temas estudados para as reuniões do Conselho! Mesmo já na doença, frequentemente o procurei para conversar sobre iniciativas a realizar na Paróquia, sobre temas e pessoas a convidar
para as Conferências Quaresmais…! A quando dos meus internamentos hospitalares, por várias vezes assumiu a redacção e feitura da nossa Folha.
Homem íntegro, homem de causas, lutador indefectível… Homem de fé e de acção…
Obrigado José, pela tua força, pela tua fé, pelo teu dinamismo, pela tua consciência de Igreja e de cidadão!
A MISSA DE ACÇÃO DE GRAÇAS
A missa que antecedeu o funeral foi emocionada.
D. Virgílio Antunes na homília comparou a vida de José Dias a “uma síntese harmoniosa entre a fé em
Deus, a dimensão sobrenatural e o empenho com a pessoa, o ser humano em sociedade”. Numa mesma
vida estiveram em união a fé e o agir. “Perspetiva de unidade que o José Dias da Silva nos soube dar, reconhecendo Deus Altíssimo numa atitude de
quem se quer voltar para os outros e trabalhar
para que a humanidade possa encontrar os
princípios da justiça, da paz e da realização
pessoal; princípios pelos quais tanto refletiu,
sugeriu e trabalhou.” Há uma frase bíblica,
citou D. Virgílio, que diz “ser na morte que se
pode compreender a totalidade da vida de uma
pessoa sobre a terra”; e na leitura do Livro do
Apocalipse também se escreve, felizes os que
morrem no Senhor, que descansem dos seus
trabalhos porque as suas obras os acompanham - olhamos para a vida do José Dias e
vemos isso mesmo”.
No final os testemunhos emocionados da família e as Baladas de Coimbra, homenagem
dos estudantes trajados, arrancaram lágrimas, certamente de um merecido e saudoso agradecimento
pela pessoa, a obra e o testemunho.
ACIDENTE DE PERCURSO
Nesta estrada que me conduz à plenitude do Reino de Deus, tive um acidente
que me obrigou a encostar às boxes.
Algum tempo depois de me ter sido tirado
um quisto de gordura, vieram as análises
dizer que era maligno. Tumor maligno é
uma palavra, tão banal como terrível pois
logo a associamos a cancro e, consequentemente, a morte muito próxima
antecedida de tratamentos muito agressivos.
Perante esta inesperada notícia ocorreram-me três palavras bíblicas.
A primeira é de Job: “Deus mo deu,
Deus mo tirou. Que o Senhor seja louvado!” (2,21). Ao repetir esta palavra, fiquei
feliz por não ter dito “Porque a mim? Que
mal fiz a Deus?”, como se eu merecesse
um tratamento especial da parte de Deus
ou como se estas coisas não acontecessem todos os dias a tanta gente...
A segunda palavra tirei-a de S. Paulo
(2Tim 4,7). Com uma
“pequena” diferença. S. Paulo fazia
uma afirmação; eu faço uma pergunta:
Será que “combati o bom combate, percorri (bem) o meu caminho, guardei a
fé”?...Será que a proximidade da morte
nos faz ver o tão pouco que fizemos em
louvor, e testemunho do nosso Deus?
Quando eu digo a Deus que quero ser
seu
instrumento,
mesmo
“enferrujado” (apesar de tantas vezes procurar fugir a este propósito: cf. a
“desconversa” de Moisés com Deus (Ex 3
-4) na qual tanta vez me revejo) estou a
traçar um programa de vida ou apenas a
fazer um discurso falado sem consistência
prática?
A terceira palavra vem do Jardim das
Oliveiras: ‘Meu Pai, se é possível afasta
de mim este cálice. Contudo, não se faça
como eu quero,mas como tu queres” (Mt
26,39). Estas palavras do Jesus colocaram-me sempre problemas existenciais
profundos. O que devia eu rezar a Deus:
“Cura-me!’ ou “Faça-se a tua vontade”?
No primeiro momento, a tentação foi
pedir a cura. Mas resisti e acabei por
pedir a Deus que me desse forças para
aceitar a sua vontade.
Li que a vontade de Deus podia não
ser a minha cura. E pedir a cura pode
gerar um “conflito de interesses”....
Por isso não pedi a Deus que me
curasse, mas que me desse forças para
aceitar sem revolta a sua vontade...
Tempos de dor, tempos de solidariedade, tempos de testar a seriedade da nossa fé.
Louvado seja Deus por tanta coisa
boa, que me deu ao longo da minha vida
e neste momento muito especial.
José Dias da Silva
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2013_07_21_FolhaSJosé