COLEÇÃO
Faces do
Empreendedorismo
Inovador
VOLUME III
VOLUME II
FIEP- Federação das Indústrias do Estado do Paraná
Rodrigo Costa da Rocha Loures
Presidente
Ovaldir Nardin
Superintendente Corporativo do Sistema Fiep
Diretor Financeiro
SENAI – Departamento Regional do Paraná
João Barreto Lopes
Diretor Regional
Antonio Bento Rodrigues Pontes
Diretor de Administração de Controle
José Antonio Fares
Diretor de Recursos Humanos
Pedro Carlos Carmona Gallego
Diretor de Tecnologia de Gestão de Informação
Hans Gerhard Schörer
Diretor de Inovação
Marcelo Passi Mafra
Diretor de Marketing
Luiz Virgilio Zaina de Macedo
Diretor de Captação e Fomento
Milton Bueno
Diretor de Relações com os Sindicatos e Coordenadorias Regionais
Marco Antônio Areias Secco
Diretor de Operações
Gerente de Orientação Profissional e Aprendizagem Industrial
Tadeu Pabis Junior
Gerente de Capacitação Técnica e Pós-graduação Tecnológica Industrial
José Ayrton Vidal Junior
Gerente de Qualificação e Aperfeiçoamento Profissional
Reinaldo Victor Tockus
Gerente de Serviços Técnicos e Tecnológicos
Sonia Regina Hierro Parolin
Gerente do Programa Inova SENAI / SESI/ IEL
Amilcar Badotti Garcia
Gerente de Alianças Estratégicas e Projetos Especiais
Osvaldo Pimentel
Gerente de Planejamento, Orçamento e Gestão
Marilia de Souza
Gerente do Observatório SENAI de Prospecção e Difusão de Tecnologia COLEÇÃO
Faces do
Empreendedorismo
Inovador
Sonia Regina Hierro Parolin
Maricilia Volpato
Organizadoras
Curitiba PR
2008
Ater Cristófoli
Claudio Moura Castro
Eduardo Akira Azuma
Elisangela de Souza Paiva
Guilherme Ary Plonski
Hildegarde Schlupp
José Alberto Sampaio Aranha
Joana Paula Machado
João Geraldo de Oliveira Lima
Josealdo Tonholo
Leila Gasparindo
Leonardo Augusto de Vasconcelos Gomes
Luiz Carlos Duclós
Marcos Mueller Schlemm
Mario Sérgio Salerno
Natalino Uggioni
Paulo Alberto Bastos Júnior
Reynaldo Rubem Ferreira Junior
Rodrigo Gomes Marques Silvestre
Rosa Maria Fischer
Sergio Wigberto Risola
Simara Maria de Souza Silveira Greco
2008, FIEP – Federação das Indústrias do Estado do Paraná
Qualquer parte desta obra poderá ser reproduzida, desde que citada a fonte.
Os volumes da Coleção Inova estão disponíveis para download no site: www.fiepr.org.br/colecaoinova
Conselho Editorial do Volume III
Daniele Farfus
Francis Kanashiro Meneghetti - convidado da Universidade Positivo
Lúcia Fortuna Padilha Nehrer
Maricilia Volpato
Maria Cristhina de Souza Rocha
Sonia Regina Hierro Parolin - Coordenação
Faces do empreendedorismo inovador. / Sonia Regina Hierro
Parolin (org.), Maricilia Volpato (org.) . – Curitiba :
SENAI/SESI/IEL, 2008.
364 p. : il. ; 21 cm. – (Coleção Inova; v. 3).
1. Empreendedorismo. 2. Inovação tecnológica. 3. Incubadoras de empresas.
I. Parolin, Sonia Regina Hierro (org.). II. Volpato, Maricilia (org.). III. Título.
CDU 330.341.1
ISBN 978-85-88980-24-2
Programa Inova SENAI / SESI / IEL/PR
Av. Cândido de Abreu, 200
Centro Cívico – Curitiba – PR
Tel (41) 3271- 9353 / 3271- 9354
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e-mail: [email protected]
COLEÇÃO
Sobre a Coleção Inova
A inovação é elemento fundamental para o desenvolvimento
econômico e é no setor produtivo que ela encontra o espaço
ideal para se manifestar.
A indústria brasileira aprendeu na prática que precisa enfrentar
diversos desafios nessa área: aumentar os investimentos no
desenvolvimento de produtos, renovar processos e ainda
tornar-se mais ágil para responder com rapidez às novas
demandas do mercado.
Remar em outra direção traz como resultado a perda da
competitividade. Por isso, cada vez mais, as empresas buscam
profissionais com capacidade de criar, iniciativa para formular
soluções e facilidade para trabalhar em equipe.
As instituições de educação têm de estar preparadas para formar
profissionais com esse perfil.
Uma forte contribuição nesse sentido está sendo oferecida pela
Coleção Inova. Editada pelo Sistema Federação das Indústrias
do Estado do Paraná, pelo Senai, Sesi, Iel e Unindus Pr, irá
tratar de um tema diferente a cada volume, apresentando à
comunidade acadêmica e científica, empresários e ao público
em geral informações que ampliam a compreensão do papel de
cada um no esforço direcionado à inovação.
COLEÇÃO
Serão discutidos assuntos relacionados à criatividade,
inovação, empreendedorismo e propriedade intelectual,
de forma a contribuir para o aprimoramento da educação
profissional e para a competitividade sustentável da
indústria.
A Coleção Inova também atende ao objetivo estratégico do
Sistema Fiep de desenvolver a cultura empreendedora e
ambiente propício à inovação.
Rodrigo Costa da Rocha Loures
Presidente do Sistema Federação
das Indústrias do Estado do Paraná
COLEÇÃO
Sumário
APRESENTANDO O VOLUME III...............................................................................................11
João Barreto Lopes
PARTE 1
1. EMPREENDEDORISMO INOVADOR: perfil atual do empreendedorismo brasileiro
segundo o Global Entrepreneurship Monitor............................................................13
Rodrigo Gomes Marques Silvestre, Marcos Mueller Schlemm, Simara Maria de Souza Silveira Greco,
Joana Paula Machado e Paulo Alberto Bastos Junior
1. Introdução...........................................................................................................................................13
2. Características do atual cenário do empreendedorismo no Brasil.......................................................16
3. Principais dificuldades do empreendedorismo inovador no Brasil........................................................22
3.1 Cooperação Universidade/Empresa.............................................................................................25
3.2 Incubadora de Empresas.............................................................................................................27
4. Inserção internacional como canal de conhecimento inovador............................................................29
5. Considerações finais...........................................................................................................................32
Referências.............................................................................................................................................34
2. INCUBADORAS...................................................................................................................37
José Alberto Sampaio Aranha
1. Histórico.............................................................................................................................................37
2. Mas, o que é uma incubadora?...........................................................................................................41
3. Processo.............................................................................................................................................43
4. Objetivos: incubadoras para quem?....................................................................................................46
5. Países, cidades e comunidades..........................................................................................................46
6. Empresas e fundos de capital de risco................................................................................................49
7. Universidades, agências de transferência de tecnologia e programas de formação de empreendedores.....50
8. Incubadora como laboratório de testes e de inovação........................................................................51
9. Incubadora como local de estudos e pesquisas..................................................................................52
10. Incubadora como estágio orientado..................................................................................................52
11. Tripla Hélice – Universidade, Governo e Empresa..............................................................................53
12. Metodologia – passo a passo...........................................................................................................55
13. Pré-incubação...................................................................................................................................56
14. Seleção . .........................................................................................................................................57
15. Incubação.........................................................................................................................................58
16. Graduação........................................................................................................................................59
17. Pós-incubação..................................................................................................................................61
18. Ambientes – Habitat.........................................................................................................................62
19. Conclusões.......................................................................................................................................64
Referências.............................................................................................................................................65
COLEÇÃO
3. DO FAZER TRADICIONAL AOS HABITAT DE INOVAÇÃO: PONTE ENTRE A ESTAGNAÇÃO E O
DESENVOLVIMENTO LOCAL....................................................................................................69
Reynaldo Rubem Ferreira Junior, João Geraldo de Oliveira Lima e Josealdo Tonholo
1. Introdução...........................................................................................................................................69
2. Esferas da inovação............................................................................................................................71
2.1 Esfera da cultura do empreendedorismo inovador .....................................................................73
2.2 Esfera da promoção de negócios de alto potencial de crescimento (base tecnológica) . ............74
2.3 Esfera da promoção de negócios inovadores de base tradicional (não tecnológicos)...................76
2.4 Esfera dos habitat de inovação ..................................................................................................77
3. Modelo taxonômico de Linsu Kim: uma interpretação esquemática...................................................82
3.1 Interpretação gráfica do MTK......................................................................................................83
3.2 Parques: ponte entre o fazer convencional e a cultura da inovação.............................................88
4. Considerações finais...........................................................................................................................92
Referências.............................................................................................................................................92
4. EMPRESAS NASCENTES E GESTÃO DO CONHECIMENTO..................................................95
Marcos Muller Schlemm e Luiz Carlos Duclós
Resumo..................................................................................................................................................95
1. Introdução...........................................................................................................................................96
2. Organização e a ação de organizar......................................................................................................99
3. Empresas nascentes e o processo empreendedor............................................................................102
4. Gestão estratégica do conhecimento................................................................................................105
5. Curva da sobrevivência.....................................................................................................................108
6. Considerações finais.........................................................................................................................114
Referências...........................................................................................................................................115
5. PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DE SPIN-OFFS ACADÊMICOS............................119
Leonardo Augusto de Vasconcelos Gomes, Guilherme Ary Plonski e Mario Sérgio Salerno
1. Introdução.........................................................................................................................................119
2. Literatura relevante...........................................................................................................................121
2.1 Nascimento de spin-offs: criação e desenvolvimento................................................................121
2.2 Desenvolvimento de produtos...................................................................................................124
2.3 Planejamento sob incerteza.......................................................................................................125
2.4 Technology Roadmap.................................................................................................................128
3. Metodologia de Pesquisa..................................................................................................................129
4. Estudo de Casos...............................................................................................................................131
4.1 Caso I: Base Tecnológica em Elétrica.........................................................................................131
4.2 Caso II: Base Tecnológica em Biotecnologia..............................................................................131
4.3. Desenvolvimento do negócio nos dois casos............................................................................132
5. Proposição da arquitetura.................................................................................................................133
5.1 Desenvolvimento do negócio.....................................................................................................135
a. Desenvolvimento da Tecnologia e do Produto..............................................................................135
b. Desenvolvimento do Mercado.....................................................................................................136
c. Desenvolvimento da Organização................................................................................................137
5.2. Tool kit para o planejamento inicial de spin-offs........................................................................138
5.3. Integração dos dois modelos....................................................................................................140
6. Conclusão.........................................................................................................................................141
Referências...........................................................................................................................................142
Leila Gasparindo e Sérgio Wigberto Risola
1. Introdução.........................................................................................................................................145
1.1 Cenário mundial: era do empreendedorismo e da inovação.......................................................146
1.2. Brasil na rota mundial da inovação...........................................................................................147
2. Dez anos de uma das maiores incubadoras do mundo......................................................................148
3. Empreendedor em uma incubadora – vantagens do condomínio......................................................150
4. Novas ferramentas da inovação: comunicação, marketing e patentes..............................................152
5. Inteligência coletiva no cotidiano das incubadoras............................................................................154
6. Indústria farmacêutica nacional: confiança no ambiente da incubadora – Case Biolab/
Eurofarma............................................................................................................................................................156
7. Importância da comunicação na inovação ........................................................................................157
8. Comunicação e relacionamento com público estratégico para o empreendedor...............................159
9. Aposta em uma parceria de sucesso...............................................................................................160
10. Chave para o relacionamento com a imprensa................................................................................166
11. Planejamento da comunicação e os próximos dez anos..................................................................170
12. CIETEC na mídia..............................................................................................................................172
13. Empreendedores de sucesso: visibilidade da inovação...................................................................173
14. Conclusão.......................................................................................................................................184
Referências...........................................................................................................................................186
2. FUNDAÇÃO EDUCERE DE CAMPO MOURÃO/PR...............................................................189
Ater Cristófoli e Eduardo Akira Azuma
Resumo................................................................................................................................................189
1. Introdução………………………………………………………………....................... ……190
2. Setores de atuação e a dinâmica de novos colaboradores……………….....................................192
2.1 Escola técnica gratuita..............................................................................................................193
2.1.1 Cursos ofertados e suas etapas…………………………………….................................196
2.1.2 Resultados..............................................................................................................................198
2.2 Centro de Pesquisa e Desenvolvimento……………………………….................................199
2.3 Incubadora de Empresas……………………………………………….............................201
2.3.1 Resultados..............................................................................................................................205
2.4 Apoio à Cultura – Ateliê de Escultura Clássica………………................................................206
3. Conclusão: vale a pena investir em Educação?.................................................................................208
Referências...........................................................................................................................................209
4. HOTEL DE PROJETOS INOVADORES - SENAI/ PR DESENVOLVIMENTO DO COMPORTAMENTO
EMPREENDEDOR NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL.................................................................211
Maricilia Volpato e Sonia Regina Hierro Parolin
1. Introdução.........................................................................................................................................211
2. Faces do Empreendedorismo............................................................................................................213
3. Competências Empreendedoras.......................................................................................................218
4. Educação Profissional e Empreendedorismo Inovador.......................................................................219
5. Contextualização do HPI....................................................................................................................221
6. Experiência: Hotel de Projetos Inovadores (pré-incubadora)..............................................................227
7. Considerações finais.........................................................................................................................234
Referências...........................................................................................................................................238
COLEÇÃO
PARTE II
1. DESAFIO DE COMUNICAR A INOVAÇÃO...........................................................................145
COLEÇÃO
5. SENAI/SC E AS INCUBADORAS DE EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA: MODELO DE
GESTÃO................................................................................................................................241
Hildegarde Schlupp, Natalino Uggioni e Elisangela de Souza Paiva
Resumo................................................................................................................................................241
1. Introdução.........................................................................................................................................242
2. Desenvolvimento das Incubadoras do SENAI/SC..............................................................................247
2.1 Incubadora de Base Tecnológica de Joinville – MIDIVILLE………............................................261
2.2 Incubadora de Base Tecnológica de Criciúma – MIDISUL..........................................................265
2.3 Incubadora de Base Tecnológica de Chapecó – MIDIOESTE......................................................267
3. Conclusões……………………………………………………………….........................…..269
Referências…………………………………………………………………….........................270
6. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E EMPREENDIMENTOS SOCIAIS..............................................273
Rosa Maria Fischer
Resumo................................................................................................................................................273
1. Introduzindo o tema..........................................................................................................................274
2. Estudos sobre empreendedorismo social..........................................................................................283
3. Empresas estimulando Empreendimentos Sociais............................................................................285
4. Organizações da Sociedade Civil estimulando Empreendimentos Sociais.........................................297
Referências...........................................................................................................................................305
PARTE III
1. NOVOS MATERIAIS, VELHOS HIPPIES E MUITO P&D: CASO DO VÔO LIVRE......................309
Claudio Moura Castro
1. Introdução.........................................................................................................................................309
2. Pitoresca história do vôo livre...........................................................................................................311
3. Onde Santos Dumont e os irmãos Wright se separam: o vôo pelo prazer de voar.............................317
4. Asa-delta encontra um rival à altura: o parapente............................................................................330
5 Vôo livre: Onde está a ciência? E os engenheiros?.............................................................................333
6. Caso da Sol Paragliders.....................................................................................................................346
7. Conclusão.........................................................................................................................................349
Minicurrículo dos autores...........................................................................................351
Créditos..............................................................................................................................363
COLEÇÃO
Apresentando o Volume III
O conjunto de dados e informações, aliado à demonstração
efetiva de boas práticas, faz com que este trabalho seja
contemplado por uma magnitude especial.
O esforço da equipe que o produziu trouxe um resultado
digno de apreciação mais detida. Os participantes desta
obra são executores de um obstinado projeto de crescimento
pessoal coadjuvado com o desenvolvimento institucional e
do seu habitat.
A primeira parte apresenta o estado da arte sobre o
empreendedorismo inovador. Traça-se o perfil atual
do empreendedorismo brasileiro, segundo o Global
Entrepreneurship Monitor, suas características e principais
dificuldades. O artigo sobre as Incubadoras mostra o
passo a passo para a estruturação desse importante
suporte aos empreendimentos inovadores, como locus
da pesquisa, do estudo, das redes colaborativas entre
universidade-governo-empresa e da formação dos novos
empreendedores. Encontra-se um artigo que evidencia os
parques tecnológicos como habitat para a ponte entre o
fazer convencional e a cultura da inovação. As empresas
nascentes e as curvas de sobrevivência são enfocadas no
artigo seguinte, tendo como base o perfil empreendedor
11
brasileiro no processo de organização de seus negócios.
Para finalizar a primeira parte, efetiva-se a discussão sobre
criação e desenvolvimento de spin-offs acadêmicos em
panorama de incertezas, com a proposição de uma arquitetura
de planejamento inicial com maior sustentabilidade.
A parte seguinte apresenta casos que sugerem práticas bemsucedidas com empreendedorismo inovador no panorama
brasileiro. A experiência do CIETEC aborda aspectos de
gestão, como as novas ferramentas da inovação (comunicação,
marketing e patentes) e oferece especial reflexão ao dia
seguinte das empresas: o desafio de comunicar a inovação
sem a chancela da incubadora. O caso da Fundação
EDUCERE demonstra como desenvolver e manter uma
incubadora de base tecnológica em pequena cidade (situada
numa região com certas adversidades), ao investir em
educação profissional. Os dois casos seguintes abordam as
experiências com pré-incubadoras e incubadoras do SENAI
do Paraná e de Santa Catarina, cujos empreendedores
são preferencialmente alunos dos cursos ofertados por
essas instituições. Essa segunda parte é encerrada com os
estudos sobre empreendedorismo social, realizados pelo
Centro de Empreendedorismo Social e Administração em
Terceiro Setor/CEATS/USP, com perspectiva de geração de
conhecimento sobre a dinâmica de transformação social que
pode haver entre empreendedorismo social e desenvolvimento
socioambiental sustentável.
Na última parte, demonstra-se a reflexão sobre como a curiosa
combinação de novos materiais, muito P&D e fabricantes
sem currículos técnicos fazem do vôo livre (das asas- deltas e
dos parapentes) um caso de empreendedorismo e inovação.
Enfim, este trabalho reveste-se de muita informação essencial
ao desdobramento de ações que dão sustentabilidade às
organizações e, por conseqüência, à própria vida.
12
João Barreto Lopes
Diretor Regional SENAI/ PR
COLEÇÃO
Parte I
EMPREENDEDORISMO INOVADOR:
PERFIL ATUAL DO EMPREENDEDORISMO
BRASILEIRO SEGUNDO O GLOBAL
ENTREPRENEURSHIP MONITOR
Rodrigo Gomes Marques Silvestre, Marcos Mueller Schlemm,
Simara Maria de Souza Silveira Greco,
Joana Paula Machado e Paulo Alberto Bastos Junior
1. INTRODUÇÃO
O processo de aprendizagem das organizações em geral foca
na inovação de produtos e serviços. Todavia, no processo
de educação continuada, a necessidade de reinvenção dos
processos é condição fundamental para a competitividade
em nível global. Das inovações de processo e de produto
introduzidas nas organizações produtivas surge também
uma demanda por alterações no modelo de gestão que irá
gerenciar esses novos produtos e processos.
Dessa maneira, torna-se basilar conhecer a realidade brasileira
atual e as características do empreendedor nacional para
planejar o resultado gerado por esse processo de mudança.
13
Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior
A presente argumentação utiliza o panorama fornecido pelo
Global Entrepreneurship Monitor, realizado anualmente pelo
Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP),
para compreender essas características e apresentar o ponto
inicial da caminhada, a fim de tornar os empreendimentos
no Brasil inovadores de fato.
A imagem da situação atual dos empreendimentos brasileiros
demonstra que a economia nacional se encontra ainda
em estágio inicial de desenvolvimento no que concerne à
sua capacidade de gerar empreendimentos inovadores.
As condições socioeconômicas, nas quais os indivíduos
exercem seu potencial empreendedor, ainda representam
fator limitante para o pleno exercício de sua capacidade
inovadora. Portanto, o aprendizado como valor central no
desempenho produtivo encontra-se modestamente difundido
pela população empreendedora.
Atualmente, pode-se observar que os vencedores no
mercado global têm sido empreendedores que conseguem
demonstrar respostas precisas e rápidas e flexível
inovação de produtos unidas com capacidades gerenciais
para efetivamente coordenar e redefinir as competências
internas e externas. A essa característica se dá o nome de
capacidade dinâmica que, segundo Teece, Pisano e Shuen
(2002), gera para as firmas vantagens competitivas. Essa
é definitivamente a característica que os planejadores de
políticas públicas apreciariam encontrar difundida pela
população empreendedora nacional. A realidade brasileira,
entretanto, ainda demonstra indícios de que a maioria de
seus empreendedores não se encontra nesse estágio de
desenvolvimento da atividade econômica.
14
Nas empresas modernas, que obtêm resultados satisfatórios
de rentabilidade, a característica comum é sua capacidade
de aprender. Nesse contexto, aprendizado é o processo pelo
qual a repetição e a experimentação permitem às tarefas
serem feitas mais bem e mais rapidamente e, às novas
oportunidades produtivas, serem identificadas. Esse processo
é intrinsecamente social e coletivo e ocorre não somente pela
COLEÇÃO
imitação e emulação de novos indivíduos, mas também pela
contribuição conjunta para entender problemas complexos
e propor mecanismos que garantam a solução dos mesmos.
O conhecimento organizacional gerado por tais atividades
reside em novos padrões de atividade, em rotinas, ou em
novas lógicas organizacionais (Teece et al, 2002).
Esta argumentação procurará indícios dos novos princípios
de eficiência na atividade empreendedora brasileira
com base nas informações contidas na pesquisa GEM.
Principalmente, quando os empreendedores incorporam os
princípios da melhoria contínua e do aprendizado constante,
pois, conforme dito anteriormente, a característica
principal do novo modelo é a capacidade de assimilar e
de gerar mudanças, implicando a participação de todos os
envolvidos e valorizando a base de capital humano.
Flexibilidade e adaptabilidade são outros dois princípios
desse novo paradigma produtivo, cujas vantagens provenientes
da produção flexível para mercados segmentados são
denominadas economias de cobertura. Com base neles, as
empresas competitivas se voltam para a exploração de nichos
de mercado mediante a especialização. Ambas as tendências
supõem capacidade de adaptar-se às características da
demanda. Assim, a adaptabilidade da oferta às variações
cotidianas na demanda são características medulares no
novo paradigma.
A capacidade de atuar em redes interorganizacionais para
competitividade é outro ponto importante que caracteriza
os empreendimentos inovadores. Em suma, as mudanças
das velhas noções não devem se restringir às fronteiras da
empresa e sim devem permear as relações com o mundo
externo (Perez, 1992).
A presente exposição inicia-se pela descrição das características
dos empreendimentos brasileiros em relação ao grau de
inovação dos produtos ofertados. Nessa seção, é feita uma
breve comparação com alguns países selecionados para
situar a realidade brasileira no contexto internacional.
15
Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior
Em seguida, são apresentadas as principais limitações ao
empreendedorismo inovador, observadas no período de
2002 a 2006, para os dados coletados pela pesquisa GEM.
Por fim, são discutidas algumas características da inserção
internacional dos empreendimentos brasileiros e seu reflexo
sobre o grau de inovatividade.
2. CARACTERÍSTICAS DO ATUAL CENÁRIO DO
EMPREENDEDORISMO NO BRASIL
A distinção feita na metodologia da pesquisa GEM entre
os empreendimentos iniciados por oportunidade e aqueles
iniciados por necessidade presta-se aqui como indicativo
da natureza inovadora da atividade econômica brasileira.
O primeiro tipo, ou seja, aqueles empreendedores que
vislumbram oportunidade de iniciar um negócio são
potencialmente os que exercem a função de inovadores. Esses
empreendedores são motivados a explorar novos mercados,
a fornecer novos produtos e a realizar novos processos de
produção.
Dessa maneira, o primeiro indício para formar a imagem
atual do cenário brasileiro é observar a participação
desses empreendedores ao longo do recente período de
evolução da economia nacional. O Gráfico 1 demonstra que,
paralelamente ao período atual de crescimento econômico e
relativa estabilidade do contexto político e social, esse tipo
de empreendedores tem ganhado espaço na participação
total da atividade empreendedora brasileira.
16
COLEÇÃO
Gráfico 1 - Criação de Empreendimentos no Brasil de 2002 a 2007
Fonte: Pesquisa GEM, 2007
Esse indício positivo, entretanto, precisa ser considerado
de maneira mais abrangente, pois, o contexto geral
demonstra grande caminho a ser percorrido para que
o potencial empreendedor da população brasileira
reflita verdadeiramente aquele esperado pela atividade
empreendedora inovadora. Para isso, três elementos serão
destacados em relação a essa atividade no Brasil. O primeiro
é a percepção do empreendedor em relação ao conhecimento
de seus potenciais consumidores sobre o produto que irá
ofertar. O segundo elemento é o grau de concorrência do
17
Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior
mercado em que irá atuar. Por fim, a idade da tecnologia
utilizada no empreendimento é destacada para compreender
a realidade tecnológica preponderante atualmente no país.
Ao se considerar essas três dimensões, que caracterizam
o grau de inovação da atividade empreendedora total da
sociedade brasileira, pode-se notar que o país se encontra
muito aquém de seu potencial. O Brasil é um dos países mais
empreendedores do mundo, colocando-se sistematicamente
entre os dez principais nesse quesito. Mas, qual o
resultado efetivo dessa capacidade empreendedora para o
desenvolvimento econômico e social?
A investigação contida neste estudo considera os empreendimentos
inovadores responsáveis pela ruptura com o fluxo circular
apresentado por Schumpeter, pois “o impulso fundamental que
inicia e mantém o movimento da máquina capitalista decorre
de novos bens de consumo, dos novos métodos de produção
ou transporte, dos novos mercados, das novas formas de
organização industrial que a empresa capitalista cria”
(Schumpeter, 1996).
Entretanto, as sistemáticas pesquisas GEM, realizadas entre
2002 e 2006, demonstram que mesmo os empreendedores
brasileiros, que vislumbram oportunidades de negócio
e enveredam por esse caminho, ainda apresentam perfil
conservador em relação à inovação.
18
Os dados apresentados a seguir referem-se ao conjunto
de empreendedores brasileiros, tanto por oportunidade,
quanto por necessidade. Essa escolha de corte analítico se
baseia no fato de que o comportamento inovador de ambos
os tipos é bastante semelhante no período de referência. O
surpreendente é que os empreendedores por oportunidade
não se diferenciam significativamente daqueles que
empreendem por necessidade. Esse fato, portanto, reflete
uma característica da população brasileira, que ainda se
apresenta de maneira conservadora e tradicional diante
da atividade econômica inovadora. O Gráfico 2 apresenta
os indícios desse comportamento conservador.
dos
COLEÇÃO
Gráfico 2 - As três dimensões do grau de inovação da atividade empreendedora
brasileira.
100
%
Empreendedores Iniciais
Conhecimento dos Produtos
80
80
60
60
40
40
20
20
0
Países de renda Países de renda
per capita média per capita alta
Produtos novos ou desconhecidos
100
%
Empreendedores Iniciais
Conhecimento dos Produtos
100
%
100
%
Brasil
0
Países de renda Países de renda
per capita média per capita alta
Alta concorrência
Produtos conhecidos
Empreendedores Iniciais
Grau de Concorrência
%
80
80
80
60
60
60
40
40
40
20
20
20
0
Países de renda Países de renda
per capita média per capita alta
Produtos novos ou desconhecidos
100
%
Brasil
0
Países de renda Países de renda
per capita média per capita alta
Alta concorrência
Produtos conhecidos
Empreendedores Iniciais
Grau de Concorrência
%
80
80
60
60
40
40
20
20
0
Países de renda Países de renda
per capita média per capita alta
Alta concorrência
Brasil
0
Baixa concorrência
Fonte: Pesquisa GEM, 2006.
Brasil
Baixa concorrência
Empreendedores Iniciais
Grau de Concorrência
0
Brasil
Baixa concorrência
Empreendedores Iniciais
Idade de Tecnologia
Países de renda Países de renda
per capita média per capita alta
Tecnologia Nova
Brasil
Tecnologia Conhecida
Empreendedores Iniciais
Idade de Tecnologia
Países de renda Países de renda
per capita média per capita alta
Tecnologia Nova
Brasil
Tecnologia Conhecida
19
Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior
Aqui o grau de concorrência encarado pelos empreendedores
é um indício da capacidade dos empreendedores de observar
oportunidades novas para obter lucros extraordinários da
produção e comercialização de seus produtos. O que se evidencia
é a maior parte dos empreendedores nacionais atuando em
mercados de alta concorrência. Isto significa que, de maneira
geral, os empreendedores brasileiros têm pouco incorporado o
princípio da flexibilidade e adaptabilidade na produção.
Os empreendedores, que iniciam um negócio, têm optado por
atuar em mercados mais amplos, em geral, já sendo explorados
por outras empresas. Essa forma de concorrência leva os
integrantes desse mercado a concorrer com base no preço dos
produtos, que não são diferenciados e adequados às demandas
específicas dos diferentes tipos de consumidores. O resultado
agregado dessa concorrência é a redução do lucro total, nesse
segmento, e o aumento da mortalidade das empresas.
Esse argumento é reforçado pelo grau de novidade do
produto, como percebido pelos consumidores finais. O
Brasil novamente fica muito aquém na comparação com os
grupos de países internacionais, ou seja, os empreendedores
brasileiros têm optado por ofertar produtos já conhecidos por
seus consumidores. Esse é classicamente um indicador do
grau de inovatividade dos empreendimentos brasileiros. Essa
informação, somada à tecnologia incorporada na produção,
demonstra que os empreendimentos brasileiros têm baixo grau
de capacitação tecnológica e inovatividade. O resultado do
comportamento apresentado é o Brasil se encontrar ainda em
estágio inicial de capacitação tecnológica.
Segundo a tipologia de Kim (apud Figueiredo, 2004), a
trajetória de capacitação tecnológica dos negócios segue três
estágios: a) aquisição de tecnologias conhecidas no mercado;
b) assimilação das tecnologias existentes e c) aprimoramento
tecnológico. Nos empreendimentos em fases iniciais de
20
COLEÇÃO
desenvolvimento, a ênfase técnica recai sobre a aquisição
de tecnologias conhecidas, direcionando a produção para
produtos e serviços já conhecidos no mercado. Somente
diminuta parcela do total dos empreendedores brasileiros
ativos lança produtos novos e desconhecidos no mercado e,
desse total, mais de 90% dos empreendimentos são realizados
por meio de tecnologias e processos de produção conhecidos
e disponíveis no mercado.
Em breve comparação com seus principais concorrentes
na América Latina, o Brasil também se encontra em
posição desfavorável. A Tabela 1 traz a distribuição da
atividade empreendedora para uma seleção de países com
os quais o Brasil tem de competir no mercado mundial. Os
empreendimentos estão distribuídos em Potencial Máximo de
Inovação, Intermediários e de Mínimo Potencial de Inovação,
de acordo com o número de dimensões apresentadas, que
estão presentes.
Tabela 1 - Potencial de Inovação nos Países Latino-Americanos – 2006.
Intermediário
2 fatores
1 fator
Nenhum
fator
Mínimo
Potencial
Média dos
países
8,1
8,5
6,7
5,0
42,2
32,9
29,7
30,7
12,9
26,3
30,6
32,3
32,6
41,5
42,0
35,7
19,1
26,3
31,0
22,8
43,8
32,5
Brasil
México
3 fatores
Colômbia
Máximo
Potencial
Chile
(Fatores: Nova Tecnologia,
Baixa concorrência e Produto
novo ou desconhecido)
Empreendedores Iniciais (%)
Argentina
Potencial de inovação
do empreendimento
1,3
5,5
FONTE: Pesquisa GEM, 2006
21
Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior
O Brasil, portanto, encontra-se na pior situação em relação à
amostra de países latino-americanos, apresentando apenas um
quarto do número de empreendimentos com máximo potencial
inovador do que o México, o segundo com pior desempenho
entre os selecionados. Outro ponto relevante é que quase
metade dos empreendimentos brasileiros (43,8%) apresenta
mínimo potencial inovador, o que significa estar enorme
contingente de empreendedores apenas reproduzindo o atual
estágio de desenvolvimento econômico, social e tecnológico.
Conhecida a atual situação dos empreendimentos no Brasil é
preciso conhecer quais fatores limitam a plena realização do
potencial inovador contido intrinsecamente nessa atividade.
Para isso, serão utilizadas na próxima seção as percepções
dos especialistas brasileiros em empreendedorismo.
3. PRINCIPAIS DIFICULDADES DO
EMPREENDEDORISMO INOVADOR NO BRASIL
Para um país desenvolver-se, não basta um ajuste
macroeconômico, quando falta também mudança estrutural.
Dois fenômenos são os principais obstáculos para o
crescimento: as restrições nos recursos financeiros e as
mudanças tecnológicas que ameaçam eliminar as vantagens
comparativas tradicionais dos países em desenvolvimento.
Dentre os dois, a mudança tecnológica é o mais poderoso
instrumento disponível para atingir uma reestruturação
bem-sucedida nesses países, pois, proporciona meios
para aumentar a competitividade e critérios para guiar os
processos de mudança institucional na direção de maior
eficiência (Perez, 1992).
Segundo as informações da pesquisa GEM feita com
especialistas, os limitantes da atividade empreendedora
inovadora no Brasil, que se enquadram na definição
citada, são listados a seguir (Entrevistas com especialistas,
2002/2006).
22
os empreendedores iniciais não têm condições financeiras
e de crédito para adquirir novas tecnologias;

as políticas de estímulo e subsídios não são adequadas
ao tamanho e suporte financeiro dos negócios;

os custos das atividades inovadoras são em grande parte
fixos e, portanto, quanto menor o volume de vendas,
maior o custo fixo unitário;

o custo da atividade inovadora é incorrido imediatamente
e o seu retorno é diferido no tempo e incerto;

os negócios menores têm menor poder de mercado e o risco
enfrentado pelos investimentos em inovação é maior;

os negócios menores têm mais dificuldade de desenvolver
atividades inovadoras em cooperação com grandes empresas
ou universidades;

em muitas atividades inovadoras, há limite mínimo de
inversão. A escala do negócio não é compatível com a
escala do investimento em inovação.
COLEÇÃO

Por essas razões, para a maioria das empresas pequenas e
médias, que iniciam suas atividades, a forma mais freqüente
de inovação é feita por meio da aquisição da tecnologia
incorporada obtida de fornecedores de equipamentos e de
materiais e por meio de algumas inovações de processos.
Os negócios iniciais adotam inovações, quando percebem
oportunidades de negócio ou quando estão sob pressão de
clientes e fornecedores.
Além disso, o fato de os empreendedores estabelecidos
no mercado terem baixo coeficiente de uso de tecnologias
novas é típico do padrão de industrialização das economias
emergentes, cujos investimentos se sustentam na importação
de máquinas e equipamentos já disponíveis no mercado
internacional ou em tecnologias difundidas em nível
nacional. Mesmo entre os empreendedores estabelecidos,
23
Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior
são raros os que dispõem de laboratórios de P&D ou que
desenvolvem ações de cooperação com instituições de
pesquisa e universidades para o desenvolvimento de novos
produtos e processos.
Figueiredo (2004) apresenta um modelo descritivo da
trajetória das capacidades tecnológicas dos empreendimentos
em economias emergentes muito próximo das características
do empreendedor brasileiro.
Esse modelo apresenta uma trajetória dos empreendimentos
classificada em três níveis de competências: básico,
intermediário e avançado. Os empreendimentos iniciais (nível
básico) desenvolvem capacidades rotineiras, isto é, de usar ou
operar novos processos de produção, sistemas organizacionais,
produtos, equipamentos e projetos de engenharia.
No estágio intermediário, os empreendimentos estabelecidos
desenvolvem capacidades de monitoramento, controle e
execução de estudos de viabilidade, seleção de tecnologias
e de fornecedores, provisão e assistência técnica. Somente
no estágio avançado é que desenvolvem capacidade para
gerir projetos de classe mundial e desenvolvimento de novos
sistemas de produção por meio de P&D.
Os empreendedores brasileiros parecem dar pouca importância à
transferência de tecnologia como fator de desenvolvimento e
crescimento empresarial. Esse fator é mencionado por menos
de 1% dos empreendedores identificados pela pesquisa GEM,
seja como barreira, seja como aspecto favorável. Esse dado
reforça o argumento de que os empreendimentos no Brasil são
pouco inovadores, utilizando tecnologias conhecidas, tanto
para produtos, quanto para processos.
Nos países de maior desenvolvimento econômico, a capacidade
inovadora dos novos negócios e a sua competitividade no
mercado dependem fortemente de fatores ligados ao acúmulo
de capacidades tecnológicas, à estrutura de mercado, à
organização do setor em que atua e às características do
sistema de inovação no qual estão inseridas.
24
COLEÇÃO
No atual estágio da economia do conhecimento, a inovação
é um processo de múltiplas fontes derivadas de complexo
fluxo de interação de indivíduos, empresas e outras
organizações voltadas para a busca do conhecimento e para
a difusão de tecnologia. O desenvolvimento e a divulgação
das inovações vinculam-se a mecanismos de interação do
negócio com seu ambiente e com o aprendizado tecnológico
baseando-se no intercâmbio contínuo de informações entre
produtores e usuários de inovações. O desenvolvimento
tecnológico avança e consolida-se por meio do intercâmbio
de informações tácitas e codificadas.
Nesse sentido, as práticas cooperativas apresentam-se como
boa alternativa para os negócios novos e em desenvolvimento,
viabilizando competências complementares ao conhecimento
interno, aumentando, assim, a eficiência produtiva e o
potencial inovativo. Contribuem, também, para facilitar
a identificação e a exploração de novas oportunidades
tecnológicas, reduzindo os riscos impostos pela incerteza
dos investimentos em P&D e pelas turbulências do mercado.
Entre os diversos mecanismos de apoio à inovação, cabe
destacar as diversas formas de interação e de cooperação
entre empresas e universidades e as incubadoras de empresas,
especialmente, no caso de novos empreendimentos.
3.1 Cooperação Universidade/Empresa
Nas últimas décadas, a universidade tem desempenhado
fundamental papel na agregação de novos conhecimentos e
tecnologias ao setor produtivo. A política nacional de ciência
e tecnologia, por meio de seus instrumentos indutores,
historicamente, privilegiava a produção científica em
detrimento do desenvolvimento tecnológico. No Brasil, cujo
desenvolvimento tecnológico sustentou-se na importação
de tecnologias, a universidade dedicou-se principalmente à
formação de recursos humanos.
25
Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior
Com a abertura do mercado e o acirramento da concorrência
internacional, a indústria brasileira desperta para a necessidade
de aproximação com as universidades e diversos centros
de pesquisa surgem como alternativa de posicionamento
competitivo no mercado nacional e internacional.
Atualmente, esforços vêm sendo realizados para criar
instrumentos a fim de fortalecer a cooperação entre
universidades, centros de pesquisa e empresas para contribuir
na formação de empreendedores inovadores e no estímulo
ao desenvolvimento tecnológico. Essas políticas são muito
recentes e seus efeitos iniciais ainda são tímidos, uma vez
que se defrontam com valores tradicionais (de ordem cultural,
ideológica e ética) vinculados à relação entre o mundo
empresarial e o mundo acadêmico, principalmente, no que
se refere à transferência e comercialização dos resultados da
pesquisa científica.
Apesar da timidez, algumas universidades e centros de
pesquisa têm buscado a interação com as empresas,
desenvolvendo ações voltadas para a transferência de
conhecimento e projetos cooperativos de desenvolvimento de
novas tecnologias. Percebe-se mudança de atitude no padrão
de interação universidade/empresa. Hoje, ambos os setores
buscam maior aproximação, visando atingir benefícios
recíprocos. A academia já não vê com maus olhos o professor
que desenvolve projetos em parceria com as empresas.
A parceria universidade/empresa no Brasil é processo em
formação. É preciso ter em mente estratégia ofensiva para
criar a cultura da inovação nas empresas e incentivar o
empreendedorismo, o que implica captar idéias potenciais,
financiar invenções e testes necessários, proteger e lançar
no mercado produtos e serviços.
26
Além disso, é necessário que o sistema de avaliação de
pesquisadores considere que o reconhecimento não seja apenas
pela geração e transferência tradicional do conhecimento (via
publicações), mas inclua itens como pedidos de registros de
patentes e parcerias que visem ao empreendedorismo inovador
e o consolidem.
COLEÇÃO
Os incrementos tecnológicos devem ser compartilhados
entre os parceiros e todos devem ganhar com as melhorias
proporcionadas pela inovação. Para as pequenas e médias
empresas e negócios iniciais, pode ser inviável montar
departamentos de P&D. Por isso, a parceria com universidades
e centros de pesquisa torna as atividades inovadoras factíveis
e menos onerosas.
3.2 Incubadora de Empresas
Para estimular novos negócios e empreendedores a
desenvolverem novas tecnologias é necessário também criar
mecanismos de desenvolvimento e de geração de novos
empreendimentos. O apoio a esses projetos pode colocar no
mercado produtos de conteúdo tecnológico desenvolvidos
(ou já em fase final) pelos centros de pesquisa do país.
O surgimento das incubadoras de empresas configurou um
grande avanço nos programas voltados para o desenvolvimento
do empreendedorismo inovador. Na medida em que oferecem
estrutura física, acesso a informações, formação de redes de
contato e outros benefícios, elas contribuem imensamente
para o desenvolvimento de novos negócios.
As incubadoras representam, de certa forma, uma extensão
da Empresa Júnior, onde o estudante já pode vislumbrar
a realidade empresarial, oferecendo suporte necessário
à constituição da empresa e seu ingresso no mercado.
Essa vivência propiciada pelas empresas juniores e pelas
incubadoras forma interessante modelo de preparação de
novos empreendedores.
No Brasil, experiências, como as citadas, aparecem nos
últimos vinte anos especialmente com as incubadoras
tecnológicas, estruturas ligadas a universidades e centros
de pesquisa com potencial de identificar negócios altamente
promissores e aglutinar recursos técnicos e institucionais
para auxiliá-los. O movimento de incubadoras da última
década proporcionou espaço físico e proximidade com os
centros de pesquisa. Com isso, permitiu acesso privilegiado
27
Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior
às informações e à rede de investidores, transformando as
incubadoras em vitrines para novos investidores.
Hoje, as incubadoras não se restringem às empresas de
base tecnológica. No Brasil, já se encontram incubadoras de
cooperativas, culturais, sociais e de serviços. Elas incentivam as
pessoas a desenvolverem seus empreendimentos e constituem fator
impulsionador do esperado empreendedorismo. A Associação
Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos
Inovadores (ANPROTEC) tem desempenhado o papel
de criar mecanismos de apoio às incubadoras e parques
tecnológicos. Destacam-se, nesse sentido, ações realizadas
em conjunto com o SEBRAE, com o Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
com a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e com
o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), as quais têm estimulado a
criação de políticas públicas benéficas ao desenvolvimento
do empreendedorismo.
Outro exemplo é o Fórum Permanente das Microempresas e
Empresas de Pequeno Porte que, com a função de acompanhar
e avaliar a implementação da política nacional de apoio a
esse setor empresarial, oferece um comitê temático específico
sobre Tecnologia e Inovação, entre outros. A estrutura
de apoio ao empreendedorismo no Brasil está calcada,
principalmente, nas incubadoras de empresas e no apoio de
organizações ligadas ao sistema da Confederação Nacional
da Indústria (CNI), em particular o Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (SENAI), o IEL e o SEBRAE.
Essas instituições estão em todo o território nacional e podem
tornar-se agentes difusores e capacitadores de pessoas
para iniciarem novos negócios. No caso das incubadoras,
os esforços no sentido de seu fortalecimento devem estar
sintonizados com a criação de oportunidades para que
cientistas e tecnólogos possam dar início aos próprios
empreendimentos. Há na academia teses de mestrado e
doutorado que podem e devem sair das prateleiras em
28
COLEÇÃO
forma de produtos e serviços. No entanto, observa-se
baixo interesse nos integrantes da comunidade científica
de tornarem-se empreendedores, sendo quase nula sua
habilidade e formação empreendedora.
4. INSERÇÃO INTERNACIONAL COMO CANAL DE
CONHECIMENTO INOVADOR
Esta seção adota um caráter provocativo sobre a natureza
inovadora dos empreendimentos brasileiros, ao discorrer
sobre uma característica aparente dos cidadãos nacionais,
quanto à sua postura conservadora em relação às inovações de
classe mundial. Tenta-se saber, por exemplo, por que não
foram empreendedores brasileiros a inventar uma forma
inovadora de fazer cafés especiais em vez dos italianos? Ou
estádios de futebol absolutamente inovadores e funcionais
e não a Alemanha? Ou uma receita inovadora utilizando o
pinhão antes que um francês o faça?
Como visto na seção anterior, há claramente um problema
estrutural na sociedade brasileira, que limita o desenvolvimento
econômico. Porém, não haverá também um componente
psicológico e cultural a induzir esse comportamento conservador
em relação à inovação? A resposta a essa questão não será
esgotada no âmbito do presente estudo, em que serão apenas
apresentados alguns pontos para reflexão dos leitores. Mesmo
tendo o país elevado grau de empreendedorismo em geral,
observaram-se, contudo, ao longo da argumentação, indícios do
baixo grau de inovação dos empreendimentos brasileiros.
Ao se considerar a abordagem institucionalista da atividade
econômica, pode-se constatar a presença de regras sociais
surgidas da ação coletiva influenciando o que as pessoas
podem e devem fazer ou não. Essas construções sociais são
chamadas instituições. Os dados da pesquisa GEM apontam
que as instituições brasileiras foram configuradas, ao longo
de seu processo histórico, de tal maneira que limitam
uma postura inovativa dos empreendedores brasileiros.
29
Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior
Mesmo aqueles que vislumbram oportunidades de iniciar
um negócio, em sua maioria, não o fazem com base em um
produto, processo ou forma organizacional inovadora.
Certamente, encontram-se exemplos honrosos de empresas
e empresários nacionais que se colocaram na fronteira
do desenvolvimento capitalista. Há exemplos no setor
aeroespacial, em alguns ramos das ciências exatas e mesmo
na organização de empresas com modelos de gestão alinhada
com o novo paradigma econômico. O caso brasileiro,
entretanto, é aquele em que esse comportamento ainda não
está difundido pela maioria do tecido econômico.
Uma possibilidade para explicar tal comportamento é
a aparente falta de inserção internacional da economia
brasileira, que limita a troca de informação inovadora de
classe mundial. Ao se considerar o Gráfico 3, pode-se notar
que o Brasil se coloca entre os três países com menor grau de
expectativa de ter consumidores dos empreendimentos fora
do país de origem. Essa baixa inserção constitui forte indício
de que os empreendimentos brasileiros não se propõem a
atuar com produtos, serviços e processos de classe mundial.
30
Fonte: Global Entrepreneurship Monitor, 2007, Executive Report.
COLEÇÃO
Gráfico 3 - Prevalência Relativa de Orientação para o Mercado Externo dos
Empreendimentos em Estágio Inicial – 2002 a 2007
31
Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior
As informações contidas nesse gráfico demonstram uma
diferença na característica dos empreendimentos brasileiros
com relação aos demais países participantes da pesquisa
GEM. Essa diferença é mais um elemento que reforça a baixa
utilização do mercado externo como potencial estimulador da
inovação nos empreendimentos nacionais. Isso significa que,
com menor grau de contato com as demandas internacionais, os
empreendedores brasileiros deixam de assimilar importantes
informações para o desenvolvimento de processos e produtos
novos para os consumidores no nível internacional. Nesse
aspecto, podem-se observar regiões, como Hong Kong, que
apresentam elevados níveis de empreendedorismo inovador,
sendo também onde a orientação dos negócios para o mercado
externo é mais marcante.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As exposições sobre empreendedorismo no Brasil, obtidas
com base nos estudos do IBQP, demonstraram que o país
se encontra ainda em estágio inicial de desenvolvimento de
empreendimentos inovadores, entretanto, apresenta grande
potencial para esse tipo de atividade econômica, haja vista
a grande participação da população nacional na abertura de
novos negócios, seja por oportunidade ou por necessidade.
Podem-se destacar três principais fatores que contribuem para
a baixa capacidade inovadora dos empreendimentos criados no
Brasil: o contexto socioeconômico, a estrutura do mercado e o
sistema nacional de inovação. O primeiro fator é característico
dos negócios nascentes em um contexto econômico e social de
alta taxa de desemprego e de baixo nível de renda, próprio das
economias emergentes. A quase totalidade dos empreendedores
inicia suas atividades sem preocupação com o aprendizado
tecnológico e com o processo de inovação. Esses negócios
seguem uma trajetória investimento – produção – inovação,
sendo que a inovação nesse estágio refere-se basicamente à
32
COLEÇÃO
montagem de um sistema técnico-físico, ou seja, à aquisição
de máquinas e equipamentos, bem como a definição do
ambiente de operação.
Em um negócio em estágio inicial, o conhecimento tácito
e o acúmulo de capacidade tecnológica do empreendedor
e sua equipe encontram-se também em fase inicial de
aprendizagem, além de os gerentes e administradores terem
pouca experiência adquirida. As rotinas organizacionais e
gerenciais, os procedimentos, os processos e os fluxos de
produção igualmente se encontram em fase de implementação
e desenvolvimento.
Portanto, quando se fala em inovação de negócios iniciais, fala-se
na capacidade de esses negócios operarem novos processos
de produção, de implementarem sistemas organizacionais e
desenvolverem projetos de engenharia. No Brasil, são raras
e recentes as experiências de negócios que nascem seguindo
a seqüência inovação – investimento – produção. Esses
empreendimentos são gerados, normalmente, por incubadoras
tecnológicas ou por redes de cooperação entre universidades
e negócios estabelecidos.
Toda a constatação apresentada anteriormente é confirmada
pelos dados apresentados no GEM, que mostram já ser conhecida
pelo mercado grande parte dos negócios desenvolvidos.
Esses negócios utilizam tecnologias disponíveis e produzem
produtos e serviços conhecidos e com muitos concorrentes no
mercado.
No Brasil, a grande maioria dos empreendimentos produz para
o mercado local, ou regional, e o produto compete por meio
de preço e não pela diferenciação e qualidade. Portanto, os
negócios iniciais, também pela via da estrutura de mercado,
são pouco inovadores. Por fim, outro fator apontado por este
estudo é o incipiente sistema nacional de inovação, que não
cria ambiente propício ao acúmulo de competências e ao
aprendizado tecnológico interativo.
33
Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior
Inegavelmente, o sistema de inovação brasileiro encontra-se
em estágio inicial de desenvolvimento, no qual não são
predominantes as relações de cooperação entre empresas na
busca de novos mercados, de desenvolvimento tecnológico,
do desenvolvimento de fornecedores e da resolução de
problemas organizacionais. Os empreendimentos iniciais
não apresentam economias de escala, escopo, nem poder de
negociação para enfrentar as turbulências do mercado e as
exigências impostas pela competição internacional.
Contudo, ações cooperativas entre pequenos empreendedores
podem superar a fragilidade do pequeno capital e criar
condições para o enfrentamento conjunto no mercado. Recente
e tortuoso, também, se faz o caminho da cooperação entre
universidades e empresas.
Atualmente, verifica-se uma aproximação entre esses
dois agentes. Apesar do esforço no sentido de estruturar
um sistema de inovação criador de ambiente propício ao
desenvolvimento tecnológico e ao desenvolvimento de
capacidade de aprendizado das empresas, a eficácia desses
instrumentos tem sido muito pequena, principalmente, no
que se refere ao desenvolvimento do empreendedorismo
inovador no Brasil.
REFERÊNCIAS
EMPREENDEDORISMO NO BRASIL: 2006. Curitiba:
IBQP, 2007.
EMPREENDEDORISMO NO BRASIL: 2007. Curitiba:
IBQP, 2008.
PEREZ, C. Cámbio técnico, restrutración competitiva y
reforma institucional en los países en desarrollo. V. 61, El
trimestre Econômico, 1992, p. 23-64.
34
COLEÇÃO
SCHUMPETER, J. O processo de destruição criadora. In:
Capitalismo, Socialismo y Democracia. Barcelona: Folio, 1996.
TEECE, D.; PISANO, G.; SHUEN, A. Dynamic capabilities
and strategic management. In: (DOSI, G. et al. Orgs.) The
nature and dynamics of organizational capabilities. Oxford:
UP, 2002, P. 334-362.
35
36
COLEÇÃO
INCUBADORAS
José Alberto Sampaio Aranha
1. HISTÓRICO
Os programas de incubação de empresas nasceram nos
Estados Unidos da expansão de três diferentes movimentos
desenvolvidos simultaneamente: condomínios de empresas,
investimentos em novas empresas de tecnologia e programas
de empreendedorismo.
Segundo a National Business Incubation Association (NBIA),
a primeira incubadora surgiu na cidade de Batavia, New
York, em 1959. Segundo Dias, a expressão incubadora de
empresas nasceu quando uma das maiores indústrias desse
estado, a Massey Ferguson, fechou as
portas, deixando um galpão de quase 80
mil m² e uma taxa de 20% de desemprego
na região.
O empresário americano Joseph Mancuso
comprou as instalações para arrendá-la a
uma empresa que pudesse empregar a
população e reacender o mercado regional.
Entretanto, a família desistiu da idéia de
37
José Alberto Sampaio Aranha
arrendar o galpão para uma grande empresa e subdividiu-o
em áreas menores sublocando-as para novos empreendedores
iniciarem atividades de pequenas empresas. Mancuso
disponibilizou, além de espaço físico individualizado, uma
série de áreas e serviços compartilhados, tais como: serviços
de limpeza, contabilidade, vendas, marketing, dentre
outros. Com isto, conseguiu reduzir os custos operacionais
das empresas ali instaladas, aumentando, portanto, sua
competitividade.
Esse mecanismo de apoio ao empreendedorismo denominavase Batavia Industrial Center (Centro Industrial de Batávia) e,
como dentre as primeiras empresas hospedadas por Mancuso
estava um aviário, acabou conferindo ao prédio o apelido de
incubadora.
O fato gerador da concepção das incubadoras de empresas
sob o ponto de vista das novas empresas de tecnologia foi o
êxito obtido pela região hoje conhecida como Vale do Silício,
na Califórnia. Iniciativas de jovens estudantes e da própria
Universidade de Stanford, na década de 1950, criaram um
Parque Industrial e, posteriormente, um Parque Tecnológico
(Stanford Research Park), a fim de promover a transferência
da tecnologia desenvolvida na universidade para empresas
e a criação de novas empresas intensivas em tecnologia,
sobretudo do setor eletrônico.
A história das garagens inicia-se com Frederik Terman, reitor
do Departamento de Engenharia Eletrotécnica da Universidade
de Stanford, que emprestou pouco mais de 500 dólares (um
business angel antes do tempo) a dois jovens licenciados
da universidade que, em janeiro de 1939, iniciaram, numa
garagem, uma microempresa de «engenhocas» eletrotécnicas
denominada com o sobrenome dos dois, a mundialmente
conhecida Hewlett & Packard (HP).
Essa história continuou na região e dois Steve, um Jobs e
outro Wozniac, em 1975, juntaram 1300 dólares (Wozniac
38
COLEÇÃO
vendeu sua calculadora científica HP e Steve Jobs, uma
pequena perua Volkswagen). Começaram, então, a montar o
primeiro protótipo do Apple I na garagem da casa dos pais
de Jobs.
Os dois tinham se conhecido em um clube de aficionados
por computador chamado Homebrew Computer Club, em
Palo Alto, na Califórnia, o que mostra a importância de um
ambiente de inovação.
Em virtude de condições favoráveis, tais como: infraestrutura, serviços de apoio, disponibilidade de investidores
para aplicar capital de risco, proximidade de universidades
e centros tecnológicos (MIT, Harvard), mais uma experiência
norte-americana deve ser citada: a Route 128, na região de
Boston, onde surgiu um complexo de desenvolvimento de
empresas semelhante a uma incubadora.
Paralelamente, por iniciativa da National Science Foundation1
dos Estados Unidos, as maiores universidades do país iniciaram
programas de empreendedorismo e de geração de inovação em
centros de pesquisa, direcionando alunos e professores para a
transferência de conhecimentos e tecnologias produzidos na
esfera acadêmica para a sociedade.
Somando-se aos condomínios de empresas e aos programas
de empreendedorismo, alguns investidores começaram a
demonstrar interesse (atualmente, cada vez maior) de investir
tempo e dinheiro em novos empreendimentos surgidos nesses
ambientes de inovação.
Na Europa, as incubadoras surgiram na Inglaterra, com o
fechamento de uma subsidiária da British Steel Corporation
(que estimulou a criação de pequenas empresas em
áreas relacionadas à produção do aço, preconizando uma
terceirização) e, também, em decorrência do reaproveitamento
de prédios subutilizados.
1
http://www.nsf.gov/
39
José Alberto Sampaio Aranha
No Brasil, com o objetivo de ser um instrumento de
transferência de tecnologia das universidades para o setor
produtivo, em 1984, o presidente do CNPq, professor
Lynaldo Cavalcanti, criou cinco fundações tecnológicas em
cinco estados brasileiros: em Campina Grande (PB), São
Carlos (SP), Porto Alegre (RS), Manaus (AM) e Florianópolis
(SC). Surgiu assim a primeira incubadora de empresas do
Brasil e da América Latina, em dezembro de 1984, quando
foram instaladas quatro empresas no ParqTec de São Carlos.
Seguiram-na, ainda na década de 1980, outras incubadoras
em Campina Grande (PB), Florianópolis (SC) e Rio de
Janeiro (RJ).
Em 1987, foi criada a Associação Nacional de Entidades
Promotoras de Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC)2,
que iniciou a articulação do movimento de criação de
incubadoras de empresas no país, afiliando incubadoras ou
suas instituições gestoras. O movimento no Brasil, além de
pujante, utiliza o conceito de incubadora para além dos três
movimentos originais.
Em 1991, com a adesão da Federação da Indústria do
Estado de São Paulo (FIESP), o movimento constitui-se num
marco para a história das incubadoras de empresas do setor
tradicional. Por meio de uma parceria entre a FIESP e a
Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), é inaugurada
a primeira incubadora de empresas do setor tradicional do
país, na cidade de Itu.
A proposta da ITCP/COPPE foi apresentada originalmente
durante uma reunião da Ação da Cidadania contra a Fome, a
Miséria e pela Vida, em 5 de janeiro de 1995, no Fórum de
Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). Tinha por enfoque a implementação da proposta
de conjugar a experiência bem-sucedida de incubação de
empresas de tecnologias com uma alternativa viável de inclusão
socioeconômica. Dessa iniciativa, nascem as incubadoras de
tecnologias sociais para o desenvolvimento, no Brasil.
40
2
http://www.anprotec.org.br/
COLEÇÃO
Em 1998, o Governo Federal, para fomentar o surgimento de
micro e pequenas empresas inovadoras, por meio do Ministério
de Ciência e Tecnologia (MCT) e suas agências CNPq e FINEP;
do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
(MIDC); do Serviço Brasileiro de Apoio às micro e pequenas
empresas (SEBRAE) e de outros parceiros, lança o Programa
Nacional de Apoio às Incubadoras de Empresas (PNI ).
Em 1999, foi criado, dentro da incubadora tecnológica
de Campina Grande, o programa de incubação de micro e
pequenas unidades agroindustriais em comunidades rurais
no semi-árido paraibano, aglutinadas, para a comercialização
de seus produtos à Cooperativa de Agroindústria Ltda/
COOAGRILL, uma empresa incubada da ITCG3.
Em 2002, o Instituto Gênesis, a fim de consolidar o
planejamento inicial de associar a produção artístico-cultural
ao desenvolvimento tecnológico, aproveitando a experiência e
o sucesso conseguidos na sua incubadora tecnológica, lança a
primeira incubadora cultural da América Latina.
2. MAS, O QUE É UMA INCUBADORA?
Segundo a NBIA, uma incubadora de negócios é um catalisador
do processo para se iniciar e fazer crescer empreendimentos
nascentes. Para a ANPROTEC4, na sua publicação Glossário
dinâmico de termos, a incubadora é um agente facilitador do
processo de empresariamento e inovação tecnológica para
micro e pequenas empresas.
O nome incubadora, que, a princípio, não representaria a
verdadeira intenção do movimento, vem a cada dia sendo
mais representativo. O significado dessa palavra evoca
maternidade (nascimento) e indica aparelho controlável
(condições de apoio individualizado) destinado a manter
recém-nascidos prematuros ou muito fracos (idéias, projetos
3
4
Incubadora Tecnológica de Campina Grande
ANPROTEC – Rede Incubar - http://www.redeincubar.org.br/
41
José Alberto Sampaio Aranha
e empreendimentos nascentes). Esse ambiente controlado
aumenta muito o nível de sobrevivência dos bebês (novas idéias
ou empreendimentos), pois, deixa-os mais bem preparados
para enfrentar as condições adversas do ambiente.
Cada modelo de incubadora é adequado a uma determinada
circunstância, a uma necessidade em particular, com o fim de
permitir opção pelo modelo mais apropriado no momento de
se utilizar esse mecanismo, demandando estudos referentes
mais detalhados (ver tipos de incubadoras, Aranha).
Pode-se ter incubadoras por tipo de empreendimento
(incubadora de empresas de software e de internet), pelo
espaço ocupado para incubação (incubadora física, virtual)
ou por comunidades (empresas ou cidades que funcionam
como incubadoras).
O importante para o presente artigo é destacar que uma
incubadora consiste num processo, num mecanismo (e não
numa organização ou localidade) dos mais eficientes para a
criação de empresas e de transformação de conhecimento
em processos, produtos e serviços.
O grande desafio do movimento, conforme Fiates5, é qualificar
as incubadoras como ambientes capazes de disponibilizar
soluções e serviços que façam a diferença para o crescimento
e a competitividade de empreendimentos, promovendo
a potencialização, padronização e inovação de sua
‘plataforma de soluções’ de infra-estrutura, de equipe, de
serviços, networking e marca.
5
42
José Eduardo Fiates, diretor do CELTA de Santa Catarina e presidente da ANPROTEC.
COLEÇÃO
3. PROCESSO
William Bolton (Pereira, 2002, p. 39) realizou um estudo,
buscando identificar os motivos pelos quais as empresas
surgiam com base em ações de universidades ou centros
de pesquisa. Como resultado desse estudo, ele “criou um
modelo visando reproduzir o fenômeno em outras localidades
com outros agentes”. Esses motivos podem ser considerados
pré-requisitos para a existência de uma incubadora.
No processo, foram identificados quatro fatores responsáveis
pelo surgimento de novas empresas, aos quais ele denominou
grupos viabilizadores: Grupo Fonte: elementos com potencial
de idéias de negócios viáveis; Grupo Mercado: clientes,
parceiros e concorrentes; Grupo Ambiente: elementos e
condições ambientais influentes na vida da empresa e Grupo
Suporte: elementos apoiadores do desenvolvimento e da
consolidação do empreendimento.
A incubadora atua como grupo suporte na ligação do grupo
fonte ao grupo mercado e, para tanto, faz uma seleção dos
empreendimentos potenciais, apóia a empresa durante certo
período (tempo de residência (tr)) até ela se tornar autosuficiente. A partir desse ponto, o empreendimento pode se
graduar, passando a vivenciar um período de pós-incubação.
À relação entre o número de empresas, que entram na
incubadora e que permanecem operando por cinco anos após
a graduação, chama-se taxa de sobrevivência (ts).
43
José Alberto Sampaio Aranha
Fatores viabilizadores de novos empreendimentos (Bolton).
MATURAÇÃO
FORMAÇÃO
GRUPO
FONTE
CONCEPÇÃO
IDEALIZAÇÃO
GRUPO
AMBIENTE
GRUPO
MERCADO
GRUPO
SUPORTE
O objetivo da incubadora é produzir empresas de qualidade
no final, para tanto, recomenda-se ter candidatos de
qualidade desde o início do processo.
Eficiência do Processo = -tr +ts (Aranha)
-
-
44
COLEÇÃO
Um processo de seleção criterioso para entrada no
empreendimento da incubadora e o apoio consistente
durante o período de residência melhoram a qualidade dos
empreendimentos gerados e a eficiência do processo (grupo
fonte ao grupo mercado) responsáveis pela taxa de sucesso
ou sobrevida (ts). Aliás, uma das premissas básicas dos
processos de incubação é exatamente a de tornar essa taxa
mais elevada que as constatadas nas empresas nascidas em
ambientes desprotegidos.
Menor tempo de incubação representa de maneira geral menor
custo para a formação da empresa. Pode-se, portanto, definir
que o máximo de eficiência a ser alcançado pelo processo
da incubadora está no menor tempo de incubação (tr) com o
maior percentual de sobrevida ou taxa de sobrevivência das
empresas (ts).
A diminuição do tempo de residência (tr) pode ocorrer pela
melhoria do candidato / produto (desenvolvimento e testes do
produto ou serviço e elaboração do plano de negócios) antes
de o empreendimento se candidatar ao processo de seleção da
incubadora. Isto pode ser conseguido por meio de parcerias
e de apoio dos núcleos de pesquisa ou centros geradores de
conhecimento. O processo de pré-incubação configura-se
período crítico na eficiência de uma incubadora.
A Rede de Incubadoras do Rio de Janeiro (ReINC) vem se
esforçando para desenvolver um Modelo de Gestão único
para ser usado por todas, de forma que seja possível analisar
a operação das incubadoras e, em seguida, implementar
técnicas de gestão para as mesmas, baseadas em três eixos:
mapeamento de processos, acompanhamento de indicadores
de desempenho e gestão de projetos (Santos, Seldin e
Caulliraux, 2005).
45
José Alberto Sampaio Aranha
4. OBJETIVOS – INCUBADORAS PARA QUEM?
As incubadoras de empresas, conforme Aranha , em sua grande
maioria, estão vinculadas às instituições mantenedoras, como:
universidades, comunidades, institutos de pesquisa, empresas,
consórcios, organizações governamentais (prefeituras), ou
não-governamentais (ONGs).
Em suas relações com as instituições líderes, as incubadoras
geralmente funcionam como programas desenvolvidos
por uma unidade da instituição, como um departamento,
um núcleo de pesquisa ou como parte de uma empresa
mantenedora.
Em geral, as incubadoras estão inseridas em uma estrutura
hierárquica, cujo poder decisório se desdobra verticalmente.
Nesse contexto, elas se apresentam como parte de um todo,
braços de um processo maior e mais abrangente do que onde
naturalmente operam.
Os patrocinadores estão subdivididos em: Universidade/
Academia, Comunidade, Indústria, Governo, Investimento
(venture capital), Consórcio, Corporação, Franquia, ONG,
Cooperativa e Sindicatos.
5. PAÍSES, CIDADES E COMUNIDADES
De acordo com Liu, os governos com a intenção de promover
investimentos em alta tecnologia estabelecem incubadoras
como agentes catalisadores de desenvolvimento tecnológico
para o país. Israel e China são exemplos típicos de governos
que gastam milhões para instalar incubadoras em todo o país
com o objetivo de estimular a formação de novas empresas.
46
Basicamente, nas cidades de sucesso, encontram-se dois
tipos de empreendedor: um visionário que dá origem à
cultura local; e outro político que propicia as condições de
implementação de um plano de desenvolvimento econômico
COLEÇÃO
baseado na geração de novos empreendimentos. O resultado
dessa combinação vai se refletir diretamente na qualidade
de vida da população. Em alguns casos, pode-se dizer que a
cidade passa a ser uma cidade incubadora, como no caso de
Santa Rita de Sapucaí 6.
O aumento de produtividade/competitividade das cidades e
das localidades está, cada vez mais, dependente das políticas
públicas estabelecidas pelo governo local (lideranças).
Conforme Kotler, o potencial de um local não depende mais
tanto de sua situação, clima ou recursos naturais, mas de
sua vontade, habilidade, energia, valores e organização
humana.
A competitividade na era do conhecimento está na velocidade
em que se gera inovação, sendo essa relação um dos fatores
críticos de sucesso para a qualidade de vida da população.
Quanto mais se gera inovação, mais se tem desenvolvimento
econômico e, conseqüentemente, mais recurso para
investimento na qualidade de vida da população. Esta
agrega mais conhecimento ao processo que pode gerar
mais mudanças tecnológicas que pode gerar mais inovação,
formando um círculo de virtudes, conforme o relatório de
desenvolvimento humano do UNDP 7.
Conforme o projeto Talentópolis8, a habilidade humana é
capaz de criar valor (capital humano) para a sociedade. A
concentração de talentos torna-se ativo social das cidades
e comunidades, cuja interação propicia a formação de uma
rede de talentos.
As cidades podem ter tanto mais (ou menos) competitividade
na produção de empreendimentos locais inovadores, quanto
maior for sua concentração de talentos. Essa competitividade
está associada ao grau de aproveitamento que cada
comunidade faz dos seus talentos, ou seja, à chamada
competitividade comunitária.
http://www.pmsrs.mg.gov.br/
Human Development Report 2001 – United Nations Development Program - http://www.undp.org/hdr2001/
8
Talentópolis é o nome que se dá à cidade, quando olhada sob o ponto de vista de seus talentos, segundo trabalho publicado
pela AVIA Internacional.
6
7
47
José Alberto Sampaio Aranha
O que se pode notar nas cidades desenvolvidas é que
empreendedores cívicos visionários e políticos empreendedores
são fatores críticos de sucesso na história dessas cidades.
Nesse caso, incluem-se os prefeitos empreendedores, os líderes
políticos e os líderes comunitários que trabalham de forma
integrada em benefício do todo.
Em alguns locais, as agências do governo e organizações sem
fins lucrativos patrocinam “as incubadoras sem fins lucrativos
que são voltadas principalmente para o desenvolvimento
econômico através do aumento de empregos, diversificação da
base econômica, desenvolvimento imobiliário e aumento na
base tributária.”
Outras vezes, essas incubadoras estão ligadas à responsabilidade
social das empresas, como: Incubadora de Projetos Produtivos:
Social, Econômico e Cultural, apoiada pelo Instituto Telemar
– Oi Futuro9, programa de ação que visa apoiar a criação de
empreendimentos inovadores de jovens nos setores social,
cultural e econômico nos municípios do território, nas
seguintes áreas da economia de base: informática, prestação
de serviços tecnológicos, agroempreendimentos, artesanato
e turismo.
A Incubadora Afro-Brasileira10, iniciativa patrocinada pela
Petrobras e Fundação Interamericana (IAF), tem o objetivo
de desenvolver o protagonismo econômico de profissionais
e empreendedores afro-brasileiros. Sua meta é incubar 450
micro-empreendimentos e pequenos, formais e informais, a
cada três anos.
O programa de incubação de talentos artísticos individuais e
projetos culturais inovadores no segmento das Artes Plásticas
de Furnas11 Centrais Elétricas S.A. pretende contribuir para
a criação, desenvolvimento e aperfeiçoamento de novos
9
10
11
48
http://www.formacao.org.br/projetos2.php?id=20
http://www.ia.org.br/portal/modules/myarticle/myarticle.php?article_id=47
http://www.furnas.com.br/incubadora.asp
COLEÇÃO
talentos artísticos e projetos nesse campo. Essa pretensão
abrange tanto os aspectos de criatividade, inovação,
qualidade artística e valor social, como os aspectos
tecnológicos, gerenciais, mercadológicos e de recursos
humanos abrangidos pelo processo de incubação.
6. EMPRESAS E FUNDOS DE CAPITAL DE RISCO
A incubadora de corporação surge como um meio de estimular
o desenvolvimento de empreendimentos que fazem parte
da cadeia produtiva da instituição líder para ser centro de
inovação, ou terceirização do seu P&D, ou ainda com fins
lucrativos.
O Programa Petrobras de Incubadoras Tecnológicas visa
promover a formação de empresas tecnológicas, tornando os
setores industrial e de serviços mais competitivos12.
A Autovision, na Alemanha13, tem a intenção de, com as
incubadoras, estimular inovações e novos mercados de
trabalho voltados para o sucesso. As idéias geradas ficam
somente aguardando uma oportunidade para serem
implantadas. A pré-condição é de que a idéia tenha
despertado o interesse da Volkswagen e de que seja
identificada como futuro potencial para a empresa.
A partir de meados da década de 1980, conforme Vedovello,
surgem no Brasil as incubadoras nascidas dentro de uma
corporação, que se tornam independentes e se transformam
em uma incubadora de inovação, como no caso do Instituto
Genius da Gradiente14.
12
13
14
Petrobras – BR - http://www2.petrobras.com.br/negocios/portugues/downstream/incubadoras.htm
Incubator Business Development der Autovision GmbH. http://www.autovision-gmbh.com/
http://www.genius.org.br/
49
José Alberto Sampaio Aranha
No exterior, já ocorriam alguns exemplos de incubadoras
para terceirização de P&D, como, por exemplo, na Siemens
Gründet Mobilen Incubator15 e na Nokia Incubator da
Chesapeake Innovation Center (CIC)16 , ambas com o objetivo
de explorar uma dificuldade ou oportunidade no processo
produtivo da empresa para atuar em novo nicho de mercado,
ou para aumentar o próprio mercado.
No caso das incubadoras de desenvolvimento de negócios com
fins lucrativos e com financiamento privado, o Portal Venture
Ahead17 faz os seguintes comentários: essas incubadoras,
normalmente, são gerenciadas por grupos de investidores,
angels investors ou empresas privadas. O foco principal delas
é a recompensa econômica pelos investimentos nas empresas
residentes, novos aplicativos de tecnologia, transferência
de tecnologia e valor agregado mediante financiamento,
serviços e recursos.
7. UNIVERSIDADES, AGÊNCIAS DE TRANSFERÊNCIA
DE TECNOLOGIA E PROGRAMAS DE FORMAÇÃO DE
EMPREENDEDORES
A NBIA18 considera que “O propósito de se conectar uma
incubadora a uma universidade é ajudar no desenvolvimento
e na transferência de novas tecnologias”. Segundo
Mian, “...incubadora de empresas nas universidades
tem sido como uma estratégia adotada para a promoção
do desenvolvimento de novas pesquisas / empresas de
base tecnológica (Research Technology-Based Firms –
RTBFs).”
Siemens - http://www.ecin.de/news/2001/02/09/01534/
CIC - Chesapeake Innovation Center - http://www.cic-tech.org/
17
http://ventureahead.com/online_guides/Incubation_Guide/incu5-_Types_of_Incu/body_incu5-_types_of_incu.htm
18
NBIA – National Business Incubator, Principles & Best Practices. www.nbia.org/resource_center/best_practices/index.php
15
16
50
COLEÇÃO
Um mecanismo utilizado com esse propósito é o
estabelecimento de incubadoras tecnológicas dentro
ou nos arredores dos campi universitários. O interesse
em incubadoras de base tecnológica patrocinadas por
universidades resulta do significante potencial do conceito.
Este mantém a possibilidade de agrupar talentos,
tecnologia, capital e conhecimento com a finalidade de
alavancar o empreendedorismo, acelerar o desenvolvimento
de novos negócios de base tecnológica e apressar a
comercialização de tecnologia (Smilor e Gill, 1986).”
Outra visão das incubadoras ligadas a centros de
conhecimento é a de que elas podem ser utilizadas como
laboratórios universitários.
8. INCUBADORA COMO LABORATÓRIO DE TESTES E DE
INOVAÇÃO
Com uma incubadora segmentada, cria-se um ambiente de
convívio que possibilita troca informal do conhecimento
entre as empresas residentes, gerando ambiente de rede
sinérgica propício à inovação. Dessa forma, podem ser
criados novos produtos pelas parcerias formadas entre as
empresas incubadas.
Esse tipo de incubadora pode também propiciar a professores
a oportunidade de orientarem estagiários trabalhando
na própria incubadora ou nas empresas incubadas, isto
é, dentro da própria universidade. Da mesma forma,
propiciam desenvolver novos produtos e serviços utilizando
o conhecimento da pesquisa, além de possibilitarem o
início de novas empresas com os resultados advindos do
conhecimento acadêmico.
A incubadora pode também transformar-se em um showroom dos produtos desenvolvidos, utilizando os produtos
gerados pelas próprias empresas incubadas e pelos
laboratórios de pesquisa da universidade. Assim, conforme
51
José Alberto Sampaio Aranha
Aranha, a incubadora transforma-se em laboratório
para testes de novos produtos gerados pelas empresas e
pesquisas da universidade. Para tanto, é necessário que a
gestão da incubadora incorpore essas oportunidades em seu
planejamento.
9. INCUBADORA COMO LOCAL DE ESTUDOS E PESQUISAS
A incubadora é um ambiente propício para estudos de
empreendedorismo nas diversas áreas do conhecimento,
congregando, promovendo e difundindo pesquisas sobre a
temática da inovação e empreendedorismo.
Com respeito às atividades de ensino de empreendedorismo,
os resultados das atividades de pesquisa acerca da avaliação
de impacto curricular devem alimentar ajustes curriculares
finos. Esses estudos sobre currículos e as experiências
em outras instituições no Brasil e no mundo justificam
reformas na estrutura do currículo e a introdução de novas
disciplinas.
Cabe ressaltar, também, as atividades de pesquisa e ensino
em inovação e em capital de risco que guardam íntimo vínculo
com as atividades de empreendedorismo. A inovação, de que
se trata, vai se constituir, portanto, no principal asset do
empreendedor de base tecnológica tornando-se o capital de
risco no principal instrumento financeiro de alavancagem
desse asset em um negócio com crescimento rápido.
10. INCUBADORA COMO ESTÁGIO ORIENTADO
52
A incubadora também pode ser considerada centro de
formação para os novos profissionais e estágio orientado
para a geração de trabalhadores da inovação. Os tipos de
estágio atualmente realizados dentro desses programas estão
focados a seguir.
COLEÇÃO
A empresa júnior está voltada para consultoria, análise,
elaboração e gerenciamento de projetos. Sua orientação
é feita por professores, formada e gerida por alunos de
graduação. Uma disciplina específica de estágio orientado
para alunos da empresa júnior pode originar trabalhos com a
geração de empreendimentos.
Os estagiários (bolsistas de iniciação tecnológica) de uma
pré-incubadora, ou hotel de empreendimentos, devem ter
projetos possíveis de resultarem em produtos ou serviços
com viabilidade técnica e econômica.
Estão contemplados também os trabalhos de final de curso
ou iniciação científica/inovação solicitados pelos professores
e de realização possível na incubadora.
Além desses, contemplam, ainda, os estágios proporcionados
pelas empresas residentes, que integram um ambiente
também estimulante a novas formas de estágio complementar
dos conhecimentos empreendedores para a iniciação de
negócios, como o apoio jurídico a empresas nascentes, o
projeto Shadow (sombra de um profissional) e outros.
11. TRIPLA HÉLICE – UNIVERSIDADE, GOVERNO E EMPRESA
A tese da hélice tríplice é a de que a interação universidade –
empresa – governo seja a chave para melhorar as condições de
inovação na sociedade baseada no conhecimento (Etzkowitz
e Leydesdorff, 2000).
A incubadora é um exemplo do modelo de hélice tríplice
de relações universidade–empresa–governo, considerada
organização híbrida, que internaliza o relacionamento
entre as três esferas, estimulando e criando um espaço de
interação. A premissa das incubadoras é de que a formação
de empresas pode ser melhorada ao se organizar como um
processo educacional (Etzkowitz, 2002).
53
José Alberto Sampaio Aranha
A convergência entre empresas nascentes e as incubadoras
presentes, segundo Almeida, tanto nas abordagens do
modelo linear, quanto nas do modelo linear reverso, facilita
a transformação da incubadora num elo do relacionamento
universidade – empresa, interativo, não linear e que evolui
de uma entidade isolada para uma entidade em rede.
Várias redes, segundo ela, surgem das interações nas
empresas incubadas. As incubadoras e as esferas
institucionais são vistas como capazes de aumentar a taxa
de inovação e de criatividade, tanto em nível organizacional,
quanto no tecnológico. Nessas, surge a construção das redes
constituintes do movimento articulado das incubadoras, ou
seja, as interações das incubadoras com o surgimento das
entidades que as representam.
As incubadoras de empresas do tipo tecnológicas criadas
nas universidades enquadram-se no padrão previsto pelo
modelo da hélice tríplice em que a universidade é a fonte de
conhecimento. Ela assume o papel previsto na sua terceira
missão, qual seja o de se colocar como dinamizador do
desenvolvimento econômico com base no conhecimento
produzido no seu interior. Guaranys diz que a universidade
empreendedora tem por objetivo, além do ensino, da
pesquisa e da extensão, também o desenvolvimento
econômico.
Do ponto de vista da abordagem da hélice tríplice, as
próprias incubadoras são resultado de mudança no papel da
universidade que, além da tradicional vocação de ensino e
pesquisa, passa inclusive a contribuir para o desenvolvimento
econômico.
54
A análise desse processo no país permite dizer que o
surgimento das incubadoras amplia a discussão sobre as
repercussões das ações das universidades no seu ambiente
interno e externo. Isto provoca mudança na visão de
como o conhecimento científico e tecnológico produzido
no seu interior pode vir a contribuir com o processo de
desenvolvimento social e econômico do país.

COLEÇÃO
Um bom exemplo dessa parceria empresa–governo–
universidade é a incubadora Univap / Revap19, que tem
como objetivos:
 colaborar no desenvolvimento econômico e social da
cidade de São José dos Campos, regiões do Vale do
Paraíba, do estado de São Paulo incentivando a ampliação
do capital humano favorecido pela universidade em
atividades geradoras de trabalho e renda;
valorizar e fortalecer a cultura de integração universidade
– empresa, com base na formação de nova geração de
empresários vinculados à universidade desde a origem
de seus negócios.
12. METODOLOGIA – PASSO A PASSO
Segundo o Glossário da ANPROTEC, o gerente é responsável
pelo funcionamento da incubadora e pela utilização do
conhecimento científico, profissional e prático para o
desenvolvimento de empresas inovadoras e a criação da
cultura empreendedora.
De forma oficiosa, pode-se dizer que o gerente da incubadora
é o seu empreendedor. Afinal, considerando-se a incubadora
uma iniciativa para alavancagem de outros empreendimentos,
o seu gerente deve agir como dono do negócio e, portanto,
deve se responsabilizar por todo esse processo, desde a préincubação até a pós-incubação. Como referências, citam-se
as boas práticas do livro do professor Tonholo.
19
http://www.incubadorarevap.com.br/
55
José Alberto Sampaio Aranha
13. PRÉ-INCUBAÇÃO
Essa fase do processo engloba as duas anteriores na geração
de um empreendimento: a idealização e a concepção.
Na idealização, o empreendedor procura identificar a idéia
e seu maior trabalho é encontrar outros empreendedores que
compartilhem sua idéia para a realização de um empreendimento
conjunto. Ainda nessa fase, o empreendedor busca a viabilidade
técnica do empreendimento e subsídios financeiros para a
realização dos testes e comprovação do protótipo.
Na fase de concepção, o empreendedor vai processar o
amadurecimento da idéia pela busca de informações que
possam justificar a elaboração de um Plano de Negócios com
pesquisas mercadológicas, custos de produção e estratégias
de comercialização.
Nessa fase, encontra-se o laboratório de idéias, ou hotel
de empreendimentos, que abriga projetos submetidos a
um processo de seleção para serem apoiados desde a fase
de prospecção tecnológica até a elaboração dos planos de
negócios do futuro produto ou empreendimento nascente.
O processo de seleção para a fase de pré-incubação é realizado
por um consórcio que avalia se o projeto em questão deve ou
não ser apoiado pela incubadora. Ele pode vir de projetos
desenvolvidos nos núcleos de pesquisa ou estimulados por
meio de prêmios ou concursos.
A pré-incubação pode ser realizada num período de seis a
doze meses, em cinco etapas: Prospecção da Tecnologia;
Negociação de Direitos e de Usos; Pesquisa de Mercado;
Plano de Marketing; Plano de Negócios. Após a elaboração
do Plano de Negócios e constatada a sua viabilidade, ele
deve ser encaminhado para a seleção de uma incubadora.
56
COLEÇÃO
14. SELEÇÃO
Pode se considerar a seleção de um empreendimento o mais
importante passo de uma incubadora. Conforme (Wiggins e
Gibson, 2003), ela deve ser racional, ser bem comunicada e
estar de acordo com a missão (seguindo critérios definidos
e conformes aos objetivos dos investidores) e o contexto da
incubadora. Cada passo do processo, como sensibilização,
orientação, recrutamento, apoio, acompanhamento e seleção,
deve requerer extrema atenção e detalhe.
Esses critérios podem abranger: geração de tecnologia e
inovação; geração de trabalho; arrecadação de impostos;
diminuição da desigualdade; desenvolvimento local ou da
APL; responsabilidade social. Porém, independentemente
do objetivo específico, devem ser verificadas as chances de
sustentabilidade do empreendimento candidato.
No caso do Instituto Gênesis da PUC-Rio20, como exemplo,
esse processo ocorre semestralmente, por edital,
constituindo-se de três etapas: análise dos planos de
negócios (financeira, mercadológica e inovação); análise
dos empreendedores (perfil apropriado); apresentação
ao consórcio. Os projetos aprovados nessa última fase
passam a integrar o conjunto de empresas apoiadas pela
incubadora.
O processo de avaliação das empresas baseia-se nos
seguintes critérios:
 viabilidade técnica e econômica do empreendimento
com potencial de crescimento;
20

grau de inovação e competitividade dentro do foco da
incubadora;

grau de importância da empresa no apoio às outras
empresas residentes;
http://www.genesis.puc-rio.br/genesis/ Instituto Gênesis – Seleção de Empresas
57
José Alberto Sampaio Aranha

conectividade com a universidade (Centros Geradores
de Conhecimento);

qualificação dos proponentes e da equipe, quanto a
aspectos técnicos e empreendedorismo.
Como normalmente é exigido, o Plano de Negócios é
documento fundamental para admissão nas incubadoras,
pois, por se dirigir para a captação de recursos, constitui-se
no melhor instrumento de controle e avaliação. Para maiores
informações de como elaborar um plano de negócios,
consultar Dolabela, Pavani e Salim.
Portanto, ao se recomendar que a própria incubadora seja
tratada como empreendimento, ela também deve apresentar
um plano de negócios. Para maiores informações de como
elaborar esse plano para incubadoras, consultar Dornelas.
15. INCUBAÇÃO
As empresas incubadas precisam ser orientadas na
implantação e na revisão constante de seu plano de
negócios. Essa orientação abrange aspectos ligados à forma
de organização; à tecnologia a ser empregada em suas
soluções; à realização de contatos comerciais; à forma
de divulgação das suas atividades, sua existência, seus
produtos e serviços; à forma de atuação com clientes,
enfim, às diversas atividades de seu dia-a-dia.
58
Novamente, no caso do Instituto Gênesis, as empresas são
acompanhadas mediante metodologia baseada na análise
do Ciclo de Vida das empresas com foco em nove curvas
prioritárias: pessoa; infra-estrutura; construção da empresa;
tecnologia do produto; marketing do produto; marketing
de relacionamento; faturamento; captação de recursos e
gestão. No entanto, deve-se ressaltar que é, justamente, o
cruzamento das curvas que fornecerá o diagnóstico sobre a
situação da empresa.
COLEÇÃO
O Sistema Acompanhamento de Pequenas Organizações
(SAPO) cruza informações do desenvolvimento dessas
curvas, utilizando como parâmetro a curva de referência. Esta
pode ser a curva ideal projetada pela equipe da incubadora,
a média das curvas de acordo com o ramo de atividade e
mercado no qual se insere a empresa ou a curva do plano de
negócios da própria empresa.
O SAPO tem como objetivos:
 identificar necessidades das empresas em termos de
gestão;

identificar necessidades de melhoria e evolução dos
produtos e serviços oferecidos;

agrupar as empresas de acordo com suas áreas de
atuação.
Agindo dessa forma, permite o desenvolvimento de programas
de apoio em comercialização, organização de eventos e feiras,
missões empresariais, captação de recursos, participação em
editais das agências de fomento e entidades multilaterais e
rodadas de negócios, dentre outros.
Durante toda a fase de incubação, a incubadora acompanha o
crescimento e o desenvolvimento das empresas participantes
do processo, visando à geração de empreendimentos autosustentáveis e de sucesso.
16. GRADUAÇÃO
Segundo o Glossário dinâmico de termos, na área de
tecnópolis, parques tecnológicos e incubadoras de empresas,
editado pela ANPROTEC, “empresa graduada é toda
organização que passa pelo processo de incubação e que
alcança desenvolvimento suficiente para ser habilitada a
sair da incubadora”.
59
José Alberto Sampaio Aranha
Assim, a graduação de uma empresa incubada corresponde
ao momento em que ela se desliga da incubadora, deixando
de receber os serviços pertinentes e, quando residente,
desocupar seu espaço físico. A empresa graduada poderá
continuar mantendo contato com a incubadora e a usufruir
dos seus serviços na categoria de empresa associada, desde
que isso não conflite com os objetivos da entidade gestora ou
dos parceiros.
Ao se verificar quais empresas atendem aos critérios de
graduação, a equipe gerencial da incubadora realiza uma
análise da situação das mesmas, posteriormente apresentada
a elas por meio de relatório, iniciando-se, assim, o processo
de graduação.
Considerando as diferenças entre as empresas, esse processo
pode-se iniciar de várias maneiras:
 Ao se aproximar do tempo máximo de incubação
(normalmente, de até dois anos prorrogáveis por mais
um), a empresa inicia o processo de preparação para
alçar vôo, observando a necessidade de se firmar no
mercado sem o apoio direto da incubadora.

Antes mesmo de atingir o tempo máximo de incubação, a
empresa sente a necessidade de se graduar, geralmente,
por necessidade de mais espaço.

Em qualquer época, a empresa, ao receber investimentos,
sente a necessidade de se graduar.
É muito importante que a gerência da incubadora faça um
plano de graduação com a empresa. Essa passagem para o
mercado é difícil e um novo plano de negócios, prevendo os
gastos com a mudança; com obras; com a infra-estrutura; com
pessoal e outros, deve ser elaborado, iniciando-se o processo
de graduação com pelo menos seis meses de antecedência.
A empresa se gradua por recomendação da gerência da
incubadora e deve ser feito um evento de graduação como
rito de passagem.
60
COLEÇÃO
17. PÓS-INCUBAÇÃO
O objetivo da pós-incubadora é dar continuidade ao apoio
às empresas graduadas, por meio da sua inserção nas redes
e consórcios integrantes dos relacionamentos estabelecidos,
contribuindo para seu crescimento e consolidação.
Por intermédio da rede de pós-graduação, as empresas recebem
auxílio para estabelecer parcerias de comercialização;
promoção comercial; novos canais de distribuição;
parcerias internacionais mediante missões e encontros e,
principalmente, capacitação gerencial para viabilizar todas as
ações anteriormente ditas.
Dentro da metodologia, alguns Fatores Críticos de Sucesso
demandam especial atenção do gerente:
 Ações de incentivo ao empreendedorismo na localidade.

Bons consultores e facilitadores.

Programas de transferência de tecnologia e gestão adequados à
realidade da micro e pequena empresa.

Presença eficiente na mídia.

Infra-estrutura adequada aos primeiros anos de existência
da micro e da pequena empresa.

Apoio na Comercialização e captação de recursos das
empresas incubadas.

Parcerias fortes e participativas.
Destacam-se alguns fatores, como declarado pelo
empreendedor da MHW, Franklin Madruga, quando
conseguiu o reconhecimento internacional de sua empresa.
Você tem de saber vender o produto e, para isso, você tem
de ser conhecido. Assim, um bom programa de assessoria
de imprensa e boa ajuda de consultores experientes em
61
José Alberto Sampaio Aranha
comercialização constituem o apoio mais importante a ser
fornecido pela incubadora para alavancar uma pequena
empresa incubada.
A estratégia de comercialização de pequenas empresas
inovadoras deve ser feita por nichos e, para tanto, conforme
Netto, as redes de contatos e negócios, além de participação em
eventos, são importante instrumento para o desenvolvimento
das negociações, na medida em que atividades e despesas
inviáveis para uma pequena empresa possam ser assumidas
por um grupo de empresas, viabilizando a sua execução.
Além disso, Netto coloca, como grande desafio para a
maioria dos empreendedores, a captação de recursos
financeiros para iniciar o desenvolvimento dos primeiros
projetos e protótipos dos produtos (período de viabilização);
e, posteriormente, para manter a pesquisa e desenvolver
novos produtos inovadores (período de maturação). Isto
exige a realização de possíveis parcerias e capital de risco,
casos em que a presença de bons consultores e parcerias é
fundamental.
A presença na mídia e o programa de comunicação geram a
imagem corporativa da empresa e da incubadora. A imagem,
ao contrário da identidade que define a empresa, representa
como a empresa é vista pelas pessoas. Cabe, portanto, ao
interessado transmitir essa identidade de forma que ela
seja bem entendida. Um bom plano de marketing é muito
importante para a incubadora e para a empresa.
18. AMBIENTES – HABITAT
Para que todo esse processo possa efetivamente apresentar
bons resultados é necessário ambiente fértil e criativo, que
propicie a inovação em local físico ou virtual e que agregue
pessoas em um grupo atuando como unidade social.
62
COLEÇÃO
Sherif diz que um grupo consiste de indivíduos em posição
interdependente mais ou menos definida em dado momento,
relacionados segundo seus papéis sociais e detentores,
implícita ou explicitamente, de valores ou normas que
regulem seu comportamento individual, ao menos para
assuntos importantes para o grupo.
Para se conseguir esse capital social é necessário haver
confiança entre seus membros e liderança de propósitos
que estimulem a inovação e saibam conviver com
mudanças utilizando os riscos de fracasso como formas de
aprendizado.
Os centros de geração de conhecimento e pesquisa,
universidades, escolas, empresas e outras organizações
devem possibilitar a troca de informação e a implementação
de idéias criativas.
Ecossistema de inovação é terminologia possível para
designar um sistema local de inovação como esse, quando
o mesmo propicia um círculo de virtudes de inovação. Sua
estrutura baseia-se no princípio da Tríplice Hélice21 em
um sistema aberto (não só do próprio local), que interage
com o ambiente recebendo e fornecendo subsídios
impulsionadores no processo de inovação.
O conceito de ecossistema de inovação foi aqui utilizado
para demonstrar que essa inovação ocorre em um ambiente
vivo, mutante (caso ele não mude, não pode ser novo), como
apresentado por Formica. Ele é formado por agentes ou
sistemas relacionados e intimamente unidos, inclusive, com
a comunidade e o seu capital intelectual (CI), o ambiente
espacial construído e o natural (CE) e as relações entre as
pessoas e as condições ambientais (CS).
Termo cunhado por Etzkowitz Erro! Indicador não definido. A Triple Helix denota um modelo espiral de inovação que incorpora
a evolução das ligações múltiplas que emergem nos diversos estágios do processo de inovação resultante das interações das
esferas institucionais Universidade – Indústria –Governo.
21
63
José Alberto Sampaio Aranha
19. CONCLUSÕES
A organização de um ambiente propício à inovação é cada vez
mais a saída para os negócios intensivos em conhecimento.
Quando aplicado ao desenvolvimento de uma região, esse
ambiente é chamado de ecossistema e seu projeto baseia-se
na mudança cultural do sistema produtivo local.
A incubadora é o melhor processo para gerar inovação e deve
ser utilizada para a criação desses ambientes, que podem
estar nas empresas, universidades e cidades e devem ter e
manter capital intelectual e capital social.
A incubadora deve ter seus objetivos bem definidos e
harmonizados com seus parceiros investidores e com
um modelo de governança transparente e eficiente. O
gerente da incubadora é peça chave para o sucesso dos
empreendimentos e o processo de seleção é sua fase mais
crítica, por possibilitar a entrada de candidatos de qualidade
para se obter empreendimentos de qualidade.
A forma de se avaliar o gerente do futuro é medir a sua
capacidade de administrar as pessoas na estruturação do
conhecimento. O grande desafio imposto aos programas de
geração de empreendimentos é desenvolver nos gerentes
novas habilidades e conhecimentos (algumas ainda não
suficientemente testadas ou desenvolvidas), como a gestão
de relacionamentos e a estruturação de ambientes que
permitam o compartilhamento de informações e a troca de
experiências.
64
COLEÇÃO
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COLEÇÃO
DO FAZER TRADICIONAL AOS HABITAT DE
INOVAÇÃO: PONTE ENTRE A ESTAGNAÇÃO
E O DESENVOLVIMENTO LOCAL
Reynaldo Rubem Ferreira Junior, João Geraldo de Oliveira Lima e
Josealdo Tonholo
1. INTRODUÇÃO
A baixa capacidade de desenvolvimento endógeno de regiões
periféricas está diretamente relacionada à carência de instituições
que favoreçam a cultura do empreendedorismo e da inovação,
deixando essas regiões em estagnação social e econômica.
O fortalecimento da competitividade em territórios, com
base na cooperação entre instituições do conhecimento e
estruturas produtivas com elevado contingente de micro e
pequenas empresas (MPEs), tem sido o caminho seguido por
países e regiões. Esse parece ter sido o caso do nordeste da
Itália, para alavancar os níveis de eficiência (produtividade)
e distribuição de renda em regiões periféricas. Nesse sentido,
69
Reynaldo Rubem Ferreira Junior | João Geraldo de Oliveira Lima | Josealdo Tonholo
inocular formas de organização da produção em estruturas
produtivas tradicionais, que fomentem o aprendizado
cooperativo por meio dos habitat de inovação pode significar,
no tempo, a pavimentação da estrada do desenvolvimento.
Põe-se, então, como questão fundamental: Como romper o fluxo
circular22 da estagnação econômica e social, à Schumpeter,
característico de regiões com baixo desenvolvimento institucional
e organizacional?
A resposta passa necessariamente pela estruturação de
sistemas criativos e altamente engajados com preceitos
da inovação, não apenas da tecnológica, mas também dos
procedimentos de gestão, financiamento, apropriação de
tecnologias e outros.
Torna-se crucial a identificação dos principais entraves
para a transformação de MPEs com estruturas produtivas
tradicionais de baixo dinamismo inovativo em empresas
com elevada capacidade inovadora em regiões periféricas
e propor algumas estratégias de políticas que poderiam
favorecer tal transição.
Dessa forma, a proposta deste item passa pelo uso do
modelo taxonômico de Linsu Kim (2005), adaptado como
instrumento de análise para o caso de regiões periféricas
com potencial de desenvolvimento endógeno, bem como
o estímulo à criação de equipamentos articuladores
apropriados, como é o caso do Parque de Inovação.
Na primeira sessão, discorrer-se-á sobre as “esferas de
inovação” como estratégias ou equipamentos de indução e
articulação de empreendimentos inovadores. Na segunda,
proceder-se-á uma livre interpretação dos modelos de
empreendimentos do grau de dinamismo empresarial à sua
No approach schumpeteriano “..o fluxo circular da vida econômica é fechado....as famílias e as empresas tomadas
individualmente agem, então, de acordo com os elementos empiricamente dados e de uma maneira também empiricamente
determinada. Obviamente, isso não significa que não possa haver alguma mudança em sua atividade econômica. Os dados podem
mudar e todos agirão de acordo com essa mudança, logo que for percebida. Mas todos se apegarão o mais firmemente possível
aos métodos econômicos habituais e somente se submeterão à pressão das circunstâncias se for necessário. Assim, o sistema
econômico não se modificará arbitrariamente por iniciativa própria, mas estará sempre vinculado ao estado precedente dos
negócios.” (Schumpeter, 1982, pp. 12 e 13).
22
70
COLEÇÃO
escala, baseada nos ditames de Linsu Kim. Na terceira, será
feita a imersão do modelo de esferas da inovação ante a
proposta classificatória de Kim, que permitirá a consolidação,
na quarta sessão, da proposta do novo modelo de habitat de
inovação particularmente útil ao desenvolvimento local.
2. ESFERAS DA INOVAÇÃO
Neste tópico, pretende-se discorrer acerca do estado da
arte do modus faciendi de empreendimentos inovadores
e de sucesso, tomando como base o modelo das esferas
da inovação, coletivamente desenvolvido com base na
experiência brasileira de incubação de negócios. Aqui se tem,
como fonte primaz, os documentos e assertivas da Associação
Nacional de Entidades Promotoras de Empreendedorismo
Inovador (ANPROTEC), que se dedica, entre outros itens,
ao adensamento dos procedimentos adequados e de boas
práticas em propostas metodológicas de menor índice de
incerteza para geração de negócios inovadores.
Em adiantamento, propõe-se um novo elemento agregador
das competências de empreendimentos suficientemente
inovadores, gerados de equipamentos estruturados, que
comporão um ambiente chamado de Parque de Inovação
– objeto preferencial desta abordagem conceitual,
particularmente em regiões periféricas.
O modelo das Esferas da Inovação foi proposto e
desenvolvido pela ANPROTEC. Esse modelo foi apoiado,
desde sua origem, pelo SEBRAE e demais instituições do
PNI23. Em particular, serão apresentados os contrapontos
O Programa Nacional de Apoio a Incubadoras de Empresas (PNI) é gerido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e tem por missão
congregar, articular, aprimorar e divulgar os esforços institucionais e financeiros de suporte a esse tipo de empreendimento. Tem
a finalidade de ampliar e otimizar a maior parte dos recursos a serem canalizados para apoiar a geração e consolidação de maior
número de micro e pequenas empresas inovadoras em regime de incubação. O PNI aponta a incubadora como agente nucleador
do processo de geração e consolidação de micro e pequenas empresas e os Parques Tecnológicos e de Inovação/Modernização
como ambientes favoráveis à recepção e expansão desses negócios inovadores. São componentes do PNI: Ministério da Ciência e
Tecnologia (MCT), pela Secretaria de Política Tecnológica Empresarial (SEPTE); o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq); a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP); o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(MDIC), por meio da Secretaria de Desenvolvimento da Produção (SDP); o Banco do Nordeste; o Serviço Brasileiro de Apoio
às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE); o Serviço de Aprendizagem Industrial (SENAI); a Associação Nacional de Entidades
Promotoras de Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC), que faz o papel de Secretaria Executiva e a que cabe adensar o
conhecimento em torno do tema e o Instituto Euvaldo Lodi (IEL).
23
71
Reynaldo Rubem Ferreira Junior | João Geraldo de Oliveira Lima | Josealdo Tonholo
dos empreendimentos inovadores de base tecnológica e os
de base não-tecnológica, bem como a diferença fundamental
de seus destinos preferenciais na esfera dos habitat de
inovação, seja em direção aos parques tecnológicos ou aos
parques de inovação, respectivamente.
O movimento brasileiro de incubadoras de empresas e
parques tecnológicos já conta mais de duas décadas. O
primeiro Programa de Parques Tecnológicos do Brasil foi
resultante da Resolução Executiva (RE 084/84), assinada
em 02 de fevereiro de 1984, pelo Prof. Lynaldo Cavalcanti,
então presidente do CNPq. Essa resolução criava o
Programa de Implantação de Parques de Tecnologia. Em
dezembro de 1984, foi implantada a Fundação Parque
de Alta Tecnologia de São Carlos (ParqTec), seguida da
constituição de mais três incubadoras nas cidades de
Campina Grande (PB), Florianópolis (SC) e Rio de Janeiro.
Iniciava-se, então, no Brasil, a história do Movimento Nacional
de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas, cujo
número alcançou um patamar que coloca o país em posição
de destaque no cenário internacional. Num crescimento
exponencial, atualmente, a ANPROTEC já tem registros
de mais de 400 incubadoras em operação e 56 parques
em projeto/implantação/operação. Esse crescimento do
número de incubadoras e parques no país só foi possível
pelo apoio de importantes instituições de suporte e fomento
à atividade de promoção de empreendimentos inovadores,
como o SEBRAE, FINEP e CNPq24.
Considerando o potencial econômico desses ambientes,
apenas nas incubadoras, esses números refletem um
faturamento anual da ordem de R$ 2.8 bilhões, compreendendo
mais de 6000 empresas e 26 mil empregos diretos, o que já
confere importância econômica em termos de PIB de regiões
desenvolvidas e mesmo de periféricas.
ANPROTEC/SEBRAE – Estabelecendo um Novo Modelo de Apoio a Novos Empreendimentos, Plano de Ação 2006/2008, Brasília:
2006.
24
72
COLEÇÃO
A tendência atual de crescimento do sistema de
empreendedorismo inovador passa pela definição de “esferas
de competências e atuação”, altamente concatenadas. O
modelo adotado pela ANPROTEC e PNI está descrito na
figura 1, a seguir.
Figura 1 - Modelo de Sistemas de Promoção de Empreendedorismo Inovador adotado
para o Brasil pelo PNI
Fonte: ANPROTEC
2.1 Esfera da Cultura do Empreendedorismo Inovador
A Cultura do Empreendedorismo Inovador é colocada como
transversal e condição sine qua non para alavancar as outras
esferas. Nessa esfera, estão contidas as ações voltadas para
elevar a competitividade, estimular as atividades produtivas
e a inovação, dentro de patamares mais agressivos, mas
imbuídos de toda ética inclusiva. Aqui são descritas
atividades como ensino de empreendedorismo em todos
73
Reynaldo Rubem Ferreira Junior | João Geraldo de Oliveira Lima | Josealdo Tonholo
os níveis de educação (da pré-escola aos cursos de pósgraduação), divulgação da cultura empreendedora e da
inovação por meio da mass media, organização de concursos
de planos de negócios e outros25. Os loci de execução dessas
ações variam desde os bancos escolares convencionais até a
criação de escolas de disseminadores. A palavra-chave para
definir o grau de desempenho desta esfera, que também
acaba sendo refletida num gargalo para as regiões menos
desenvolvidas, é: Educação.
2.2 Esfera da Promoção de Negócios de Alto Potencial de Crescimento/
Base Tecnológica
A esfera da promoção de empreendimentos orientados
para produtos e serviços intensivos em tecnologia (também
chamados de empreendimentos de alto potencial de
investimento e crescimento) engloba negócios egressos de
dois ambientes peculiares: (i) do conhecimento acadêmico
de alto nível ou, mais raramente no Brasil, (ii) gerados
por braços de negócios já consolidados, mas que precisam
maturar seus conceitos de mercado ou tecnologia e utilizam
equipamentos como incubadoras de empresas de base
tecnológica. Essa opção é ancorada em dois aspectos
estratégicos para desenvolver os negócios: (i) a incubadora
permite ao empreendedor um lastro de conhecimento
extratecnologia, fundamental para o posicionamento do
produto/serviço; e (ii) módico custo de implantação de
novo negócio incubado, dada a facilidade de compartilhar
despesas/custos com outros empreendedores. Não se pode deixar de citar que o ambiente de negócios
tecnológicos incubados é extremamente fértil e articulado,
permitindo acesso às linhas de crédito disponíveis e até
mesmo articulação para geração de novas oportunidades de
investimento. Não é raro, para esse tipo de empreendimento
nascente, o financiamento não reembolsável ou aporte
Deve-se ressaltar que o empreendedorismo aqui difundido é aquele qualificado, intimamente atrelado ao quesito de inovação,
que, em hipótese alguma, deve ser confundido com ações de empreendedorismo de subsistência ou por desespero de causa,
freqüentemente estimuladas por políticas públicas ou assistencialismo de ocasião.
25
74
COLEÇÃO
por intermédio de investidores anjos ou de risco. O
empreendedor classificado nessa esfera apresenta avançado
grau de iniciativa e competência para buscar investimentos,
diferentemente do empreendedor não tecnológico, mesmo
que altamente inovador.
Os mecanismos de alavancagem de empreendimentos
inovadores de base tecnológica tiveram intensivo crescimento,
na década de 1990, com os investimentos privados nas
empresas ponto.com, mas que se volatilizou por completo
após o estouro da bolha, na virada do milênio (Price, 2004).
A nova e efetiva retomada do crescimento desses setores
começa a ocorrer com o investimento público com base nos
fundos setoriais. Considerando o aporte de cerca de R$ 3
bilhões de reais desde sua criação, na gestão do embaixador
Sardenberg no MCT, em 2000, houve propício movimento
para estruturação de novos negócios de base tecnológica
oriundos da academia, pelas próprias pernas, ou estimulados
e induzidos com a academia, por grandes empresas de setores
tecnológicos demandantes, como fez a Petrobras.
O Portal Inovação26, que deveria ser a vitrine de ofertas e
demandas tecnológicas de empresas inovadoras, apresenta
claramente a importância desses novos negócios no panorama
econômico nacional, em grande parte estruturados a partir
do ano 2000. Porém, das quase 3000 empresas ávidas por
inovar, lá registradas, apenas cerca de 340 estão situadas
na região Nordeste, o que reflete abertamente as diferenças
regionais brasileiras no componente tecnologia e inovação.
Mesmo assim, das parcas empresas cadastradas nessa
região, a maioria absoluta, mais de 60%, está instalada ou
é egressa de incubadoras de empresas de base tecnológica
da região. Cerca de 10% podem ser consideradas de base
não tecnológica, mas inovadoras, por estarem alojadas em
equipamentos incubadores. Pelo anteriormente citado, esses
índices refletem a dificuldade de acesso ao financiamento
na região, reforçando as desigualdades já apontadas.
O Portal Inovação (http://www.portalinovacao.info ) foi criado pela FINEP, por demanda do MCT, com intento de catalogar ofertas e
demandas de produtos/serviços tecnológicos. Está em operação desde 2005, mas apenas mediante um convênio FINEP/ANPROTEC,
de meados de 2007, pôde ganhar escala com a inclusão das empresas nascentes e egressas de incubadoras de empresas.
26
75
Reynaldo Rubem Ferreira Junior | João Geraldo de Oliveira Lima | Josealdo Tonholo
Na esfera da promoção dos negócios de alto potencial
de crescimento, pode-se apresentar como palavra-chave
representativa dos equipamentos promotores e das iniciativas
empreendidas: ciência & tecnologia.
2.3 Esfera da Promoção de Negócios Inovadores de Base Tradicional
(Não Tecnológicos)
O modelo brasileiro de incubação de empresas perpassa pelo
diferencial da diversidade. Com mais de 400 incubadoras
operando, há registros de incubadoras exclusivas para
negócios de base tecnológica, por sinal nos moldes das
primeiras incubadoras criadas há mais de 20 anos,
mas que hoje não passam de 70. As 330 restantes são
classificadas como mistas apoiando negócios setoriais, ou
não, independente da base tecnológica, ou representam um
modelo inovador de equipamento de promoção de negócios
culturais, sociais e outros.
Destaque-se que essas incubadoras têm como condição
restritiva o apoio aos negócios caracterizados como
efetivamente inovadores, seja pelo aspecto gerencial, na
eleição do público alvo/mercado, no serviço ou no produto
oferecido. Sendo empresas de base não tecnológica, as
beneficiadas por essas incubadoras são colocadas no mesmo
patamar de exclusão ao financiamento que qualquer outra
empresa da sua região, mesmo sendo caracterizadas como
inovadoras.
76
No entanto, as competências acumuladas no processo de
incubação desses negócios tradicionais são as mesmas
dos empreendimentos de caráter tecnológico, a saber:
microambiente favorável à cultura empreendedora;
conceitos de operação em rede; referência física do que
é empreendedorismo; familiaridade com programas e
entidades de apoio e experiência na utilização de soluções
de parceiros (MCT/CNPq/ FINEP, SEBRAE, FAPs e
outros); disponibilidade de rede de relacionamentos
(network); experiência no uso de solução Web/TI; sintonia
COLEÇÃO
e convergência com as oportunidades dos APLs, entre
outros. Esses são atributos que indiscutivelmente conferirão
diferencial competitivo a essas empresas nascentes.
A palavra-chave para a promoção de empreendimentos
inovadores contidos nessa esfera é: desenvolvimento
regional e periférico.
2.4 Esfera dos Habitat de Inovação
As incubadoras de empresas têm expressado sua efetividade
na geração de negócios inovadores e de sucesso, mas
apresentam claro limite de escala de atendimento. A
ampliação da capacidade de atendimento é situação desejada
e passível de impactos significativos nas economias em
que estão inseridas, seja em regiões centrais no caso das
incubadoras de base tecnológica, seja em regiões periféricas
para o caso das incubadoras apoiadoras de negócios
inovadores de conteúdo não tecnológico. Porém, como se
pode aumentar a capacidade de atendimento?
Nas regiões desenvolvidas, o ambiente já é suficientemente
contaminado pelo preceito da inovação e da competitividade,
independente de equipamentos, podendo abrigar empresas
egressas de incubadoras tecnológicas, sem propiciar grandes
“traumas” de mudança de ambiente. Porém, a tendência
natural de empresas graduadas nessas incubadoras é a
migração para Parques Tecnológicos, suficientemente bem
descritos por Lahorgue (2005) e também por Zuain e Plonski
(2006), conforme figura 2 (seta à direita).
77
Reynaldo Rubem Ferreira Junior | João Geraldo de Oliveira Lima | Josealdo Tonholo
Figura 2 - Equipamentos de Recepção de Empresas Egressas de Incubadoras, Inseridos
em Habitat de Inovação.
A criação de parques tecnológicos e a forma de atuação
das empresas neles residentes fundamentam-se por nova
ordem mundial concatenada com os mecanismos arrojados
e já estabelecidos de financiamento, como, por exemplo,
os recursos semente, investimentos de anjos, capital de
risco (ou capital empreendedor), investimentos em capital
aberto e outros (ANPROTEC, 2008). Considerando o
perfil agressivo das empresas ali instaladas, a captação de
financiamento constitui um gargalo plenamente superável,
sem ruptura dos modelos existentes de acesso a crédito.
78
O contraponto a essa realidade é sofrido pelas empresas
de base não tecnológica, particularmente em regiões
periféricas, mesmo quando detentoras de perfil inovador
e egressas de incubadoras de empresas. A inexistência de
modelo de habitat favorável à aglutinação e à manutenção
daqueles procedimentos de cooperação (já apreendidos pelo
empreendedor), que favorecem diferenciais inovadores e
competitividade, é muito mais que um problema de alocação
em espaço físico adequado.
COLEÇÃO
Do ponto de vista dos autores, a superação desses problemas
passa pela estruturação de equipamentos concatenados
com as realidades da periferia do desenvolvimento, mas
que atendam, em regime de escala, aos mesmos preceitos
de excelência da gestão dos negócios e do comportamento
proativo imputados pelas incubadoras aos empreendedores.
Enquanto a dinâmica das regiões centrais permite contínuo
processo de inovação e competitividade, que naturalmente
favorecem o surgimento de parques (tecnológicos), nas
regiões periféricas, por razões estruturais já apontadas,
esses equipamentos têm de ser induzidos por políticas de
desenvolvimento regional sob risco de estagnação completa
da atividade empreendedora.
O novo modelo de equipamento, aqui proposto, denominado
Parque de Inovação (seta à esquerda, na figura 2), por
analogia à definição de Parque Tecnológico, teria a função
de hospedar física e institucionalmente negócios inovadores
egressos de incubadoras não tecnológicas e/ou concatenadas
com APLs. Caracteriza-se pela disponibilidade de todos os
serviços ofertados pelas incubadoras tradicionais, por atuar
em escala e de forma corporativa e cooperativa de oferecer
condição imobiliária favorável ao desenvolvimento dos
negócios inovadores, além de permitir a contabilização de
indicadores impactantes nas economias regionais.
A existência de um parque com essas características passa pela
criação de uma entidade gestora, criada com base em arranjo
institucional amplo e representativo, com foco na inclusão
socioeconômica regional gerada por empreendimentos
inovadores (não se abre mão desse quesito!). O crescimento
da consciência crítica socioambiental, com o surgimento
de movimentos, entidades e organismos orientados
formalmente para a defesa do meio ambiente e a redução
das desigualdades (inclusive regionais), tem ganhado
espaço e vem em apoio à constituição desses parques.
79
Reynaldo Rubem Ferreira Junior | João Geraldo de Oliveira Lima | Josealdo Tonholo
A diferença fundamental entre os parques tecnológicos e os de
inovação refere-se ao core business do equipamento: o primeiro,
é focado no sucesso dos negócios tecnológicos inovadores e com
alta capacidade de crescimento, considerando como efeitos
secundários (mas efetivos) os ganhos no desenvolvimento
local/regional; já, o segundo, oferece, como primazia, a
geração de negócios inovadores que sejam alavancadores de
um mínimo de desenvolvimento regional.
Note-se aqui que ambos os modelos permeiam a existência
de uma cultura empreendedora mínima (traduzida pela
esfera superior das figuras), mas é importante salientar que,
nas regiões periféricas, o potencial empreendedor ainda se
mostra latente e a criação de um Parque de Inovação pode
ajudar na reversão dessa debilidade.
As regiões periféricas, dado o menor contingente de
tecnologias em seus negócios inovadores, acabarão por ser
preferencialmente adesivas aos parques de inovação. A maior
força na formação de negócios inovadores e não tecnológicos
nessas regiões vem da criação de quase duas centenas de
incubadoras voltadas para negócios tradicionais, culturais
e sociais, particularmente, a partir do ano 2000, com a
implantação do Programa SEBRAE de Incubadoras. Essas
incubadoras são excelentes geradoras de negócios inovadores,
que, a princípio, não atenderiam ao perfil necessário para
se instalarem num parque tecnológico. Daí a pertinência do
surgimento de parques de inovação nessas regiões.
80
Como caso típico de ambiente propício para a criação de
um parque de inovação, toma-se a liberdade de citar o caso de
Campina Grande e seu Parque Tecnológico. Inicialmente
constituído com uma incubadora tecnológica, na última
década o Parque Tecnológico da Paraíba dedicou-se
a patrocinar o desenvolvimento regional por via da
estruturação de negócios tecnológicos e não tecnológicos,
incluindo aqui a incubação de incubadoras, hoje instaladas
em todo raio de influência econômica de Campina Grande.
O transbordamento dos negócios tradicionais graduados
e a indução de uma miríade de novos negócios com essas
COLEÇÃO
características, externos ao Parque Tecnológico da Paraíba,
é evidente e altamente impactante no desenvolvimento da
região. Apesar de inovadores, esses negócios tradicionais
não dispõem de ambientes propícios para serem instalados
após sua graduação, tais quais seus congêneres de base
tecnológica, ficando assim mais susceptíveis às desventuras
conjunturais (Araújo et al, 2006).
O diferencial tempo vem em favor das regiões periféricas
que não têm como criar negócios tecnológicos,
comparativamente à experiência de Campina Grande,
visto que toda a metodologia de criação de incubadoras
de base tradicional, cultural ou social já é de domínio
público 27. Assim, a estruturação de um parque de
inovação, independente da experiência de criação e gestão
de negócios tecnológicos, somada à potencialidade de
novas ferramentas para indução de negócios tradicionais,
pode propiciar diferencial competitivo pleno à região
periférica, potencializando o seu desenvolvimento.
Uma vez que o parque de inovação é caracterizado por
ambiente constituído do conjunto de planos de negócios
inovadores e complementares e também de instituições de
apoio plenamente sintonizadas (todos atuando conjuntamente
num sistema de governança fértil), ele passa a catalisador
da atividade empreendedora estimulando-a em todos os
sentidos, inclusive sob forma de facilitação de acesso ou
oferta de crédito. Nesse sentido, a agenda aqui defendida é
a da lógica de financiamento público e privado aos negócios
inovadores nos ambientes caracterizados pela existência de
um corpo síncrono.
Os diferenciais do parque de inovação, com relação ao
financiamento, já foram suficientemente descritos por estes
autores (Ferreira Junior e Tonholo, 2007):
 Possibilidade de utilização formal da personalidade
jurídica da entidade gestora na partilha de um sistema
coletivo de garantia de crédito.
27
Ver em http://www.idisctoolkit.net
81
Reynaldo Rubem Ferreira Junior | João Geraldo de Oliveira Lima | Josealdo Tonholo

Facilitação da análise de risco do conjunto de empresas
candidatas ao financiamento por parte das instituições
financeiras, dada à participação dos vários atores
institucionais na governança e acompanhamento da
implementação desses planos de negócios/empresas
nascentes.

Aumento de oferta qualificada de crédito pelas agências de
fomento, em nível estadual, dada a coadunância do ideário
dos programas estratégicos de desenvolvimento local com
a missão dos Parques de Inovação e APLs, consonantes
com a política de desenvolvimento dos estados.
O bom entendimento dessa nova lógica indicada é crucial para
a proposição de transição econômica em regiões periféricas,
pautada pela estruturação de negócios saudáveis, passíveis
de crescimento. Assim, o modelo das esferas de inovação
torna-se passível de ser sobreposto ao modelo taxonômico
de empresas proposto por Linsu Kim (2005), que será visto
adiante. Os parques tecnológicos e os de inovação podem
ser equipamentos de suporte que farão o diferencial no
crescimento sustentado dos negócios particularmente nas
regiões periféricas.
3. MODELO TAXONÔMICO DE LINSU KIM: UMA
INTERPRETAÇÃO ESQUEMÁTICA
O modelo taxonômico de Kim (de agora em diante, MTK)
correlaciona o dinamismo empresarial com o tamanho/escala
do empreendimento, como se pode deduzir da seguinte
passagem:
82
“...as empresas podem ser classificadas em quatro grupos
de acordo com duas variáveis: o tamanho e o dinamismo.
Empresas grandes com baixo grau de dinamismo podem ser
chamadas de grandes empresas estáticas; as grandes com
alto grau de dinamismo são grandes empresas dinâmicas;
COLEÇÃO
as pequenas com baixo grau de dinamismo, pequenas
empresas tradicionais. E, por último, as pequenas empresas
com alto poder de dinamismo podem ser subdivididas em
dois grupos: pequenas empresas tradicionais dinâmicas e
pequenas empresas de base tecnológica. As primeiras são
dinâmicas em ramos de tecnologia madura, e as segundas
em áreas de alta tecnologia”. (Kim, 2005, p. 257)
3.1 Interpretação Gráfica do MTK
A livre interpretação da citação no item anterior permite
configurar um sistema de quatro quadrantes (Figura 3), no
qual os empreendimentos seriam classificados da seguinte
forma:
 1.º. Quadrante (Q1): negócios ou pequenas empresas
com baixo conteúdo de inovação e reduzido grau de
dinamismo, característicos de negócios lastreados no
(saber) fazer convencional e de domínio público. No
contexto do empreendedorismo, destaca-se a figura do
empreendedor por necessidade, que busca abrir uma
empresa não por oportunidade observada no meio, mas
por imposição de momento. As vantagens competitivas
são estáticas assentadas no aproveitamento de recursos
naturais abundantes com limitada capacidade de
agregação de valor. Aqui se enquadra a maioria das
empresas de subsistência, que têm seu atendimento
focado em mercados locais.

2 º. Quadrante (Q2): constituído por empreendimento de
tamanho reduzido, cujo dinamismo é intrínseco à
capacidade de empreender nos moldes schumpeterianos28,
caracterizando a empresa como inovadora, com potencial
para agregar valor e de se diferenciar por meio da construção
de vantagens competitivas dinâmicas29. Aqui podem ser
encontradas empresas tradicionais de pequeno porte com
Na concepção de Schumpeter (1984, p. 112) a capacidade de empreender se traduz em inovações, que são “o impulso
fundamental que inicia e mantém o movimento da máquina capitalista [e decorre] dos novos bens de consumo, dos novos métodos
de produção ou transporte, dos novos mercados, das novas formas de organização industrial que a empresa capitalista cria”.
28
A idéia é que o sucesso competitivo passa a depender da criação e renovação das vantagens competitivas dinâmicas por parte da
empresa, num processo em que cada produtor se esforça por obter peculiaridades que o distingam favoravelmente dos demais, como,
por exemplo, custos e/ou preços baixos, melhor qualidade, menor lead-time, maior habilidade de servir à clientela e outros.
29
83
Reynaldo Rubem Ferreira Junior | João Geraldo de Oliveira Lima | Josealdo Tonholo
dinamismo arrojado em função da inovação em processos
de gestão como também pequenas empresas de base
tecnológica, que têm na inovação seu core business. Via
de regra, neste quadrante, estão empresas estruturadas
por um ambiente que favorece a inovação.

3.o Quadrante (Q3): aqui são encontradas empresas com
vantagens competitivas estáticas, ancoradas em ganhos
de escala, mas com baixo dinamismo inovador. Em geral,
são empresas de base, produtoras de commodities e
que se utilizam de recursos naturais abundantes, como
cimenteiras e siderúrgicas. São grande empregadoras,
mas não agregam valor a seus produtos e serviços.

4.o Quadrante (Q4): aqui estão posicionadas as grandes
empresas de alta capacidade inovativa, sejam elas de
base tecnológica stricto sensu ou de base tradicional,
que utilizam como estratégia competitiva no mercado,
além das vantagens de custos decorrentes dos ganhos de
escala, a diferenciação de produtos e técnicas inovadoras
de marketing (p.ex. indústria automobilística).
Figura 3 - Adaptação gráfica do Modelo Taxonômico de Linsu Kim
84
COLEÇÃO
A adaptação do MTK para um esquema de quatro quadrantes
permite identificar, todavia, o caminho (estratégia) de
maior probabilidade de sucesso (e sustentabilidade de longo
prazo) a ser implementado (a) em regiões caracterizadas por
estruturas produtivas em sua grande maioria constituídas
por empresas pequenas de baixo dinamismo inovador, como
as situadas no Q1.
A premissa sustentada neste item é a de que para romper com
o fluxo circular engendrado pelo fazer convencional (típico
de regiões estagnadas), cuja crítica está na base da Teoria
do Desenvolvimento Econômico de Schumpeter, é crucial
promover mudanças institucionais no ambiente capazes de
induzir, em nível local, o surgimento dos sistemas de inovação
e de financiamento e integrá-los ao sistema produtivo.
Essas transformações, mesmo nos setores tradicionais,
alavancariam a capacidade (potencial) do empreendedor de
explorar novas oportunidades de negócios e de se diferenciar
por meio de inovações incrementais de produtos, processos
e gestão. Além disso, tais mudanças exigiriam a inoculação
de equipamentos de inovação nesses territórios, como
incubadoras de empresas e parques de inovação.
À primeira vista, hipoteticamente, com base no esquema
adaptado do MTK, é possível vislumbrarem-se três
possibilidades (caminhos) na transição de uma região
estagnada (caracterizada por empresas de pequeno porte e
baixo dinamismo inovador) para uma desenvolvida, com uma
estrutura de mercado oligopólica e de elevado dinamismo
inovador: Q1→Q3→Q4; Q1→Q4 e Q1→Q2→Q4, que
serão a seguir discutidas em detalhes.
No caso da trajetória: Q1 → Q3 → Q4 (Figura 4), acredita-se
ser hipótese pouco factível por duas razões: i) o salto do Q1
para o Q3 implicaria enorme esforço de inversão em escala
de produção só possível com significativa alavancagem
financeira (relação dívida/patrimônio), totalmente fora
da capacidade de endividamento da pequena empresa;
ii) a transição do Q3 para o Q4 exigiria investimentos
concentrados em P&D, basicamente inovações de produtos,
85
Reynaldo Rubem Ferreira Junior | João Geraldo de Oliveira Lima | Josealdo Tonholo
o que não configura as estratégias competitivas dos setores
produtores de commodities.
A segunda possibilidade Q1→Q4, no entender dos autores, é
impensável em termos de escala de produção e de capacidade
inovativa das empresas, pois, supondo-se um contínuo,
seria o mesmo que saltar de um pólo, onde praticamente
só há pequenas empresas reproduzindo um fazer (saber)
convencional (Q1), na medida que estão inseridas em ambiente
no qual inexiste cultura da inovação, para o pólo oposto da
fronteira tecnológica (Q4), onde há arranjo institucional
indutor de inovações consolidado.
Figura 4 - Caminhos Q1→Q3→Q4 e Q1→Q4: considerados de difícil realização
86
COLEÇÃO
Figura 5 - Caminho Q1 → Q2 → Q4: uma via possível de crescimento empresarial
Por fim, o terceiro caminho Q1→Q2→Q4 (figura 5), que parece
o mais exeqüível em termos de possibilidade de sucesso, pois
possibilita construir bases para maior dinamismo empresarial
em regiões periféricas por meio de política de desenvolvimento
local que estruture ambiente institucionalmente inovativo.
Em outras palavras, no esquema aqui esboçado, a superação
da estagnação econômica (ou ruptura do fluxo circular, à
Schumpeter) coloca como imperativo a transição do Q1 para
o Q2, o que só se concretiza em um ambiente onde e quando
o surgimento da pequena empresa tradicional dinâmica30
é estimulado e as condições para a sustentabilidade
competitiva da mesma são criadas. O Q4 passa a ser uma
possibilidade concreta, principalmente, para as empresas
de base tecnológica, à medida que o arranjo institucional
inovativo vai se consolidando. Todavia, a implementação
dessas transformações não é nada trivial dada à dificuldade
de superação do baixo dinamismo inovativo, sobretudo, em
razão de resistência às mudanças (quebra de paradigmas e
de modelos mentais) em regiões institucionalmente pouco
desenvolvidas.
O empreendedorismo por vocação é o que caracteriza essas empresas, ou seja, estão sempre buscando transformar
oportunidades em negócios. No caso dessas empresas, o cociente de vocação empreendedora no conceito schumpeteriano
tende a aumentar.
30
87
Reynaldo Rubem Ferreira Junior | João Geraldo de Oliveira Lima | Josealdo Tonholo
3.2 Parques: Ponte entre o Fazer Convencional e a Cultura da Inovação
Conforme demonstrado nos estudos do GEM (2006), a
maior parte dos empreendedores brasileiros, quando
se aventura abrir uma empresa, faz com que ela nasça
pequena, tradicional e com baixo uso de tecnologia.
Essa característica não é privilégio do Brasil, mas é uma
característica de regiões periféricas na América Latina, onde
o percentual de empresas oriundas de indução é restrito.
Ainda segundo levantamentos (SEBRAE, 2007), em 2002,
micro e pequenas empresas representavam 99,2 % do total
de empresas formais no Brasil, não havendo separação entre
empresas tradicionais e empresas de base tecnológica. Esses
números não diferem muito das estatísticas do cadastro
central de empresas do IBGE, de 2005, em que o porte da
empresa é classificado pelo número de funcionários e em que
empresas de 0 / 19 funcionários correspondem a 96,8% do
total.
Percebe-se que os investimentos em educação, ciência e
tecnologia e infra-estrutura são fundamentais para a criação
de ambiente propício para a migração empresarial, como
observado em outros países, a exemplo da citada e recitada
Coréia do Sul. Contudo, a existência de sinergia (práticas de
governança) entre as instituições fomentadoras, criadoras e
apoiadoras de negócios configura-se essencial para que um
ambiente propício surja e possibilite a criação de empresas
com elevado grau de dinamismo, bem como a atração de
grandes empresas já consolidadas, que utilizem tecnologia
e inovação em seus processos.
Um ferramental vasto e diversificado é encontrado em
atuação ou em implantação em todo o Brasil e em grande
parte do mundo, por exemplo: adensamento de cadeias
produtivas, clusters, APL, parques tecnológicos e o agora
proposto parque de inovação.
88
No Brasil, na década de 1990, iniciou-se um processo de análises
e estudos dos aglomerados empresariais, tomando-se como
base o sucesso dos distritos industriais italianos e estudos
COLEÇÃO
desenvolvidos pela REDESIST. Tentou-se, então, criar
um modelo de referência para o Brasil. O Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior criou um
Grupo de Trabalho permanente sobre Arranjos Produtivos
Locais, que, em suas primeiras reuniões, criou um termo de
referência para caracterizar um APL. Este consistia em (i)
ter significativo número de empreendimentos no território e
de indivíduos atuando em torno de uma atividade produtiva
predominante e (ii) compartilhar formas percebidas de
cooperação e algum mecanismo de governança. Podem-se
incluir pequenas, médias e grandes empresas (Lastres &
Cassiolato, 2003).
O APL é importante instrumento de agregação, organização
e desenvolvimento empresarial para micro e pequenas
empresas delimitadas em determinado território. Esse
instrumento, quando bem utilizado, pode servir de base
para o desenvolvimento e/ou surgimento de novas empresas
com o viés inovativo servindo de alimentador para parques
de inovação criados no APL. O empreendedor é o grande
catalisador do processo de mudança e inovação, mas os
processos só ocorrem se houver ambientes propícios,
incubadoras e parques de inovação.
Assim, os parques de inovação poderiam ser os grandes
indutores ou pontes para transição de Q1 → Q2. Ou
seja, poderiam constituir um ambiente favorável para a
transformação de empresas tradicionais não inovadoras em
empresas inovadoras.
O macroambiente contribui decisivamente para o processo
de migração das empresas. Como Porter demonstra (1999),
cinco forças atuam diretamente no processo de competição
e definição de estratégias das empresas: rivalidade entre os
concorrentes; poder de negociação dos clientes; poder de
negociação dos fornecedores; ameaças de novas entradas e
ameaça de produtos substitutos. Todas essas forças e mais um
cenário externo de estabilidade política e econômica (redução
de carga tributária) favorecem micro e pequenas empresas.
89
Reynaldo Rubem Ferreira Junior | João Geraldo de Oliveira Lima | Josealdo Tonholo
Para avançar na agenda do desenvolvimento é preciso pensar
formas de organização das empresas em um território, pelas
quais as inovações passem a ancorar as estratégias competitivas
de micro e pequenos negócios (MPE), principalmente, por
serem fundamentais nas políticas de distribuição de renda. Só
que o esforço inovativo, nesse caso, não poderia ser individual,
mas coletivo, por meio da constituição de redes institucionais
de cooperação empresarial.
A estruturação dos parques, sejam os tecnológicos, sejam
os de inovação (aqui propostos) consiste no instrumento de
ápice das relações propositivas dos vários atores, que fazem
o sistema local de inovação.
Assim, na tentativa de sincronizar as idéias taxonômicas
de Kim com o modelo brasileiro das esferas da inovação,
necessariamente chegar-se-á à delimitação de ambientes
potencialmente atendidos por equipamento.
Na figura 6, tem-se uma estimativa de delimitação taxonômica
do perfil da empresa atendida pelos Parques de Inovação e
pelos Parques Tecnológicos.
Figura 6 - Delimitação taxonômica das empresas que seriam atendidas pelos Parques
Tecnológicos e Parques de Inovação
90
COLEÇÃO
Considerando o tamanho restrito das empresas, que tentam
a migração Q1 → Q2, mas propondo, como ganho dessa
transição, o aumento dos dividendos inovativos, certamente,
o Parque de Inovações poderá atender a contento. O
aumento da competitividade da empresa será dado pela
apropriação da potencialidade de conhecimento do trinômio
Ciência/Tecnologia/Inovação inerente aos atores do SLI que
empreenderam esse tipo de parque. Deve-se considerar,
também, o fato de que as empresas que almejam crescimento
de seus atributos de inovação, não os tendo de origem, jamais
seriam abrigadas por uma incubadora de base tecnológica e,
menos ainda, num parque tecnológico.
Por outro lado, essas empresas podem ser abrigadas nas
incubadoras de base tradicional e daí migrarem para o
Parque de Inovação. Realizariam assim sua transição para
estirpe mais competitiva e ousada, cujos dividendos trariam,
necessariamente, impacto econômico muito mais significativo
(independente de seu tamanho ao final desse ciclo), que
outrora implicava com a posição da empresa em Q1.
Ao se considerar as empresas portadoras de significativo
conteúdo tecnológico e inovador, sejam essas nascentes
no Q2, ou para aí migradas com base no Q1 pelas
mãos de um Parque de Inovação, resta apostar no seu
crescimento planejado e sustentado pelas premissas da
inovação e competitividade características das empresas
que vislumbram a passagem Q2 → Q4. Aqui, o parque
tecnológico configura-se o ambiente adequado para a
transição de tamanho e aumento de escala da empresa.
91
Reynaldo Rubem Ferreira Junior | João Geraldo de Oliveira Lima | Josealdo Tonholo
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Brasil vive um momento de revigoração de conceitos e
idéias, tanto quanto de reposicionamento econômico global
rumo ao grau de investimento.
A existência de empresas saudáveis e competitivas, inseridas
no novo contexto global, é condição sine qua non para
ascensão aos novos patamares vindouros e tão almejados.
Para tal, os ambientes devem favorecer a geração e o
crescimento de empresas competitivas e fortes, pautadas na
inovação inerente à Sociedade do Conhecimento.
Ao se considerar a habilidade já demonstrada pelo Movimento
Brasileiro do Empreendedorismo Inovador, os equipamentos
de promoção de empreendimentos inovadores (incubadoras,
APLs, parques) demonstram-se extremamente úteis ao
reposicionamento empresarial e, por conseguinte, para a
elevação de padrões econômicos regionais.
Acredita-se que novos modelos de apoio empresarial (a
exemplo do parque de inovações aqui apresentado) devam
ser permanentemente propostos, discutidos e testados como
forma de dar respostas condizentes com as expectativas e
a criatividade da população, particularmente, para aquela
posicionada na periferia dos grandes centros.
REFERÊNCIAS
ANPROTEC. Os novos endereços da inovação. Locus, 52,
(2008)26-32.
92
CASSIOLATO, J.; LASTRES, H. M. O foco em arranjos
produtivos e inovativos locais de micro e pequenas empresas.
In: LASTRES, H. M. M. et al. (Ed.). Pequena empresa:
cooperação e desenvolvimento local. Rio de Janeiro: Relume
Dumará, 2003.
COLEÇÃO
FERREIRA JUNIOR, R.R. e TONHOLO, J. Inovações
financeiras e parques de inovação em regiões periféricas
X Seminário Modernização Tecnológica Periférica. Recife:
FUNDAJ, 2007.
GEM Brasil – Global Entrepreneurship Monitor – 2006 (www.
gembrasil.org.br) Acessado em 02 de janeiro de 2008.
KIM, L. Da Imitação à Inovação – a Dinâmica do Aprendizado.
Campinas: EdUnicamp, 2005.
LAHORGUE, M. A. Pólos, Parques e Incubadoras –
Instrumentos de Desenvolvimento do Século XX. Brasília:
ANPROTEC, 2005.
PORTER, M. E. Competição: estratégias competitivas
essenciais. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1999.
PRICE, R.W. Roadmap for entrepreneurial success.
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SCHUMPETER, J. A. A Teoria do Desenvolvimento
Econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
SEBRAE – Boletim Estatístico de Micro e Pequenas
Empresas,
2005
(http://201.2.114.147/bds/BDS.nsf/
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ZOUAIN, D.M.; PLONSKI, A. Parques Tecnológicos:
planejamento e gestão. Brasília: ANPROTEC: SEBRAE,
2006.
93
94
COLEÇÃO
EMPRESAS NASCENTES E GESTÃO DO
CONHECIMENTO
Marcos Mueller Schlemm e Luiz Carlos Duclós
RESUMO
O argumento central deste artigo explora a importância de se
estabelecer, desde os primórdios de um novo empreendimento
(start-up), a base de relações, de recursos e de conhecimento
necessária para seu correto posicionamento estratégico.
Decisões tomadas pelo empreendedor, nos primeiros momentos
da concepção de um novo negócio, podem ser vitais para
alocação eficiente dos recursos, normalmente escassos nesse
estágio do empreendimento, e podem até comprometer o futuro
da organização ou o seu futuro.
Evidências empíricas revelam que as decisões tomadas
no estágio inicial da atividade empreendedora podem ser
estratégicas para a sobrevivência das empresas. Dados
recentes trazidos do campo indicam que a alta taxa de
mortalidade dos empreendimentos nascentes deve-se, de
forma marcante, à baixa compreensão por parte dos sujeitos
empreendedores da base requerida e disponível para a
estruturação inteligente do novo negócio.
95
Marcos Mueller Schlemm | Luiz Carlos Duclós
Este artigo procura relacionar o sucesso do empreendimento,
medido em termos da gestão no tempo com a gestão
estratégica dos recursos, destacando-se, nesse processo, a
gestão estratégica do conhecimento. Esta gestão, que gravita
em torno da empresa nascente, torna-se importante pela
dificuldade de acesso à informação e à complexidade de
sua análise, transformando-a em conhecimento relevante
ao prognóstico, articulação e direcionamento estratégico do
empreendimento.
Portanto, com base na revisão da literatura pertinente e
na análise de dados disponíveis referentes às taxas de
mortalidade prematura dos empreendimentos e às causas
imputadas, desenvolver-se-á o argumento central. Este
coloca em perspectiva a relevância do instrumental
hoje disponível na área da gestão do conhecimento para
assegurar uma taxa de sobrevivência mais elevada dos
empreendimentos em fase de criação.
1. INTRODUÇÃO
96
Empresas nascentes (start-ups) têm, notadamente, recebido
crescente atenção no campo de estudos das organizações
nas últimas décadas do século XX com o boom das gazeles
(empresas de rápido crescimento e de base tecnológica). Para
isso, no entanto, deviam representar, aos seus investidores,
potencial de altos retornos em curto espaço de tempo. A súbita
derrocada, com a falência em massa de promissores negócios de
início, trouxe consigo a decepção, a desconfiança e o ceticismo
quanto ao interesse para com esse tipo de empreendimento.
Dentre essas, as empresas denominadas dot.com chamaram
para si o foco de atenção, sendo logo a seguir também as
principais protagonistas do infortúnio, frustração e desencanto
por parte dos principais stakeholders, particularmente dos
investidores conhecidos como venture capitalists e/ou angels,
por seu papel de provedores de recursos iniciais necessários
aos novos empreendimentos.
COLEÇÃO
Registros históricos remotos (Boswell, 1973) e mais
recentes (Vale et al., 1998) revelam, no entanto, que a
mortalidade de empresas novas sempre foi elevada, tendo
sido apenas acentuada pelo alto número de registros de novos
empreendimentos, nesse período mais recente, com o advento
dos negócios virtuais que proliferaram no âmbito da internet.
Outros setores de atividade, entretanto, também acusaram
crescimento exponencial nesse mesmo período, motivado
principalmente pelo enxugamento das estruturas dos
grandes grupos empresariais; pela propagação da idéia
de terceirização; pelo processo de privatização e pela
popularização e maior aceitação no meio social do conceito
de empreendedorismo apresentando desempenho semelhante
no aspecto de mortalidade precoce.
A base de conhecimento sobre o que acontece no processo
de criação e desenvolvimento de um novo negócio ou
empreendimento continua limitada. A revisão da literatura
mais abrangente, que trata da estruturação e adaptação das
organizações (Miles, 1980; Aldrich, 1999; Arbaugh et al.,
1999), revela a escassez de estudos longitudinais sobre o
estágio nascente das organizações. Para agravar esse quadro,
grande parte do conhecimento disponível na literatura da área
foi construída sobre dados estáticos e secionais de organizações
cronologicamente situadas no estágio maduro do ciclo de vida.
Curiosamente, pouco se fez para analisar e compreender como
essas organizações atingiram a maturidade e outras não. Em
conseqüência, pouco se sabe sobre a evolução das estruturas
e a dinâmica dos processos organizacionais no estágio
nascente das organizações (Miles, 1980). O conhecimento
torna-se ainda mais escasso quando se inserem questões
referentes a padrões de aprendizagem, decisão e a gestão
do conhecimento gerado e acumulado nessa fase do ciclo de
vida.
Este artigo procura, portanto, chamar atenção para a
importância do desenvolvimento de maior conhecimento
sobre esses processos em empresas nascentes, ao mesmo
97
Marcos Mueller Schlemm | Luiz Carlos Duclós
tempo em que propõe um esquema conceitual na forma
de uma curva. Assim, a dimensão estratégica da gestão do
conhecimento sobre o negócio nessa etapa é realçada. Isso
vai sugerir que os constructos teóricos e instrumentos de
gestão do conhecimento disponíveis podem vir a auxiliar de
forma prática na aprendizagem e na decisão ocorridas no
período antecedente à própria criação do empreendimento e
chegando até os estágios subseqüentes no ciclo de vida das
organizações.
A oportunidade e a relevância do argumento deste artigo são
realçadas, quando se avalia o custo substancial do processo
de novos empreendimentos para a sociedade e para os
próprios indivíduos e/ou entidades abrangidas, processo esse
resultante de iniciativas com baixo nível de informação e de
conhecimento crítico ao negócio e à mortalidade prematura
dessas organizações.
Utilizando-se da bibliografia pertinente à área, de fatos
e dados disponíveis em fontes secundárias, pretende-se
desenvolver a análise do processo de criação de um novo
empreendimento com a inserção da dimensão estratégica do
conhecimento sob a perspectiva do agente empreendedor. A
finalidade, portanto, é a de esboçar uma forma ajustada ao
contexto e à realidade da empresa nascente, provendo, com
isso, um arcabouço para análise do processo e de sugestões
de abordagens e modelos para a operacionalização da
estratégia empresarial.
Assim, o objetivo deste artigo é destacar a importância da
dimensão estratégica do conhecimento no estágio inicial de
criação de um empreendimento. Estágio esse que, na opinião
dos autores, antecede o nascimento da organização, indo
se localizar nos primórdios, na fase da intenção, anterior à
decisão de empreender um novo negócio.
98
Para possibilitar o desenvolvimento do argumento e análise
do processo estratégico de uma empresa nascente, torna-se
importante estabelecer o entendimento comum de alguns
elementos essenciais que emprestam sentido ao argumento
proposto.
COLEÇÃO
2. ORGANIZAÇÃO E A AÇÃO DE ORGANIZAR
A questão básica, que abrange tanto as atividades em torno
de um novo empreendimento quanto a empresa nascente
e a gestão estratégica do conhecimento (conceitos centrais
deste artigo), está no fato de dependerem de alguma
forma de organização do trabalho a ser realizado. A noção
de organização é essencial para que se compreenda o
processo empreendedor tal como descrito aqui. No caso
das empresas nascentes, ou dos novos empreendimentos a
questão concernente diz respeito à divisão do trabalho,
à coordenação das ações e à distribuição e controle
dos recursos, sem as quais o novo empreendimento
encontrará dificuldades para se consolidar. A estruturação
e organização das atividades e das equipes evidenciam-se
como aspecto crítico na viabilidade e longevidade de novos
empreendimentos (Scott, 1981).
O conceito organização adquire significados distintos,
dependendo do nível de análise escolhido. Na tradição
clássica, organização referia-se à divisão racional do trabalho,
o que implicava diferenciação das atividades e resultante
especialização do trabalhador. No caso da discussão em
torno do conceito de estratégia, a questão que interliga
organização com estratégia tem já longa data. Chandler
(1962) estabeleceu o princípio, seguido por muitos, de que
“a organização segue a estratégia”, ou seja, é a estratégia
que define e delimita o tipo de estrutura necessário para a
consecução dos objetivos traçados. Ao estabelecer tal relação,
Chandler, em verdade, nomeou o conceito de estratégia como
fundamental nas decisões administrativas, subordinando a
organização aos seus requisitos.
Perspectivas mais recentes colocam a discussão em termos
da interação da estratégia com a organização. A teoria das
organizações, ao enfatizar a importância de se analisar a
base de recursos, faz com que, em última análise, se busque
a relação adequada (fit) entre os recursos disponíveis
(estrutura, conhecimento, tecnologia, acesso a matéria-prima,
99
Marcos Mueller Schlemm | Luiz Carlos Duclós
distribuição e outros) e a estratégia possível ou desejável. Para
efeitos do argumento desenvolvido neste artigo, a menção a
essas duas perspectivas serve de base para clarificar os
aspectos considerados críticos na fase de criação de uma nova
empresa.
Para este artigo, entende-se por estrutura organizacional
qualquer “processo ou mecanismo que propicie a formulação
e implementação da estratégia e a coordenação geral do
empreendimento” (Bourgeois, III, L.J. et al., p. 258-260,
1990). A organização, por esse ponto de vista, é concebida
como meio para a viabilização da estratégia.
A questão, portanto, quanto a uma organização ter uma
estratégia, ou não, fica deslocada do enfoque aqui proposto,
uma vez que o conceito de organização passa a ser uma
estrutura que viabiliza as definições estratégicas em torno
de um negócio. Torna-se, portanto, um instrumento da ação
administrativa com finalidades e objetivos específicos.
Esse foco deverá mostrar-se necessário para a sustentação
do argumento central, uma vez que a organização é, com
freqüência, considerada fator limitador, ou de resistência, à
execução eficaz de uma estratégia.
O sujeito empreendedor pode criar ou desenvolver uma
organização. Em ambos os casos, ele está criando uma
entidade organizacional com significados e cultura próprios.
Essa noção torna-se importante no contexto de criação de
um empreendimento, uma vez que o conceito de organização
assimilado pelo sujeito empreendedor pode condicionar a
forma como os recursos serão nomeados e utilizados. Organizar
recursos constitui-se meio para a criação de novo valor, que
é, em última análise, a essência da atividade empreendedora.
O uso de metáforas para descrever a organização, como fez
Morgan em sua obra Imagens da Organização (1997), torna-se
recurso útil para facilitar a compreensão do papel e função
que uma organização pode desempenhar.
100
COLEÇÃO
Perceber a extensão da organização para além das fronteiras
convencionalmente tidas como delimitadoras, por exemplo,
auxilia que organizações possam ser vistas como uma rede
de recursos disponíveis ao novo empreendimento Ainda
outro aspecto relevante para o argumento desenvolvido
neste ensaio é a teoria da sanção, ou da criação por decreto,
introduzida pelo psicólogo social Karl Weick, em 1969, em
sua obra The Social Psychology of Organizing.
Ainda segundo Weick (1995), quando se utilizam conceitos
como organização, cria-se o fenômeno a ser estudado. De
modo semelhante, ao conceber o ambiente externo, as
organizações produzem situações às quais tendem a reagir. A
teoria das sanções (enactment theory) concentra sua atenção
na origem subjetiva das realidades organizacionais (Weick,
p. 164-166 e 30-32, 1995), sanção, ou no original enactment,
foi utilizado por ele de forma intencional “...to emphasize
that managers construct, rearrange, single out, and demolish
many ‘objective’ features of their surroundings”. Ainda
utilizando os seus termos no original, “[w]hen people act they
unrandomize variables, insert vestiges of orderliness, and
literally create their own constraints”. Constata-se aqui uma
convergência com a teoria da construção social da realidade,
desenvolvida por Peter Berger e Thomas Luckmann (1967),
uma vez que a persistência do indivíduo em sancionar a
própria realidade pode ser vista como anormal ou, em casos
extremos, como insana.
A pertinência dessas abordagens sobre o que seja organizar e
organização vai se evidenciar ao longo do desenvolvimento do
tema. A estruturação de novo empreendimento, ou de empresa
nascente, requer cuidados especiais nas definições iniciais,
conforme será visto mais adiante, uma vez que o modo de perceber
a organização e seus recursos pode alavancar ou comprometer
de forma prematura o empreendimento. O uso estratégico da
organização tem por objetivo evitar a alocação inadequada e
a aplicação ineficiente dos recursos, assumidos por definição
como escassos (particularmente, o recurso tempo).
101
Marcos Mueller Schlemm | Luiz Carlos Duclós
3. EMPRESAS NASCENTES E O PROCESSO
EMPREENDEDOR
Para melhor compreensão do argumento, é importante tornar
clara a definição de empresa nascente e descrever o processo
de criação de um empreendimento. Uma das classificações
mais comumente encontradas utiliza a dimensão temporal
para diferenciar uma empresa ou empreendimento novo de
outro, considerando o período de três meses de existência o
tempo máximo do empreendimento (GEM, 2001).
Uma empresa nascente, ou um novo empreendimento, é,
portanto, um conjunto de atividades organizadas e executadas
seguindo uma estratégia traçada com vistas a alcançar
determinado objetivo, num período não maior do que três
meses. O mérito da motivação que anima a sua criação não é
enfatizado neste ponto.
No entanto, conforme argumentam Schlemm e da Silva (2002),
o motivo que mobilizou a intenção de empreender por parte
do sujeito pode levar a diferentes definições e expectativas
quanto à estrutura do novo negócio. Partindo da distinção
feita pelo Projeto GEM, em 2002, empreendimentos podem
ser criados pela identificação de oportunidade de novo
negócio ou pela necessidade do agente empreendedor, por
ele não haver encontrado opção melhor para auferir algum
rendimento.
Segundo resultados obtidos de pesquisas de campo
realizadas em 2001 e 2002 pelo Projeto GEM, há diferenças
significativas no nível de expectativas, quanto ao porte e
objetivos dos empreendimentos criados pela oportunidade,
em contraste com aqueles criados pela necessidade. A
consideração, portanto, de a intenção de criar ser motivada
pela identificação de uma oportunidade, ou pela necessidade
de sobrevivência do empreendedor, tem implicações
importantes para a estratégia e a organização do novo
empreendimento.
102
COLEÇÃO
O processo empreendedor pressupõe, por sua vez, a
identificação de uma oportunidade, a organização adequada e,
finalmente, os recursos necessários para a exploração do novo
negócio. Resultante das ações do empreendedor, o processo
somente ocorre quando ele age no sentido de desenvolver uma
inovação, viabilizando seu acesso ao mercado consumidor.
A relação contingente desses fatores faz com que o processo
seja altamente dinâmico, exigindo definições estratégicas que
podem ser determinantes do sucesso do empreendimento.
A adequação e o monitoramento constante do foco, mantendo-o
em linha com a oportunidade a ser explorada e em coerência
com os recursos disponíveis, tornam-se o desafio maior do
empreendedor nessa etapa. Pode-se concluir, portanto, que a
estratégia seguida exerce papel crucial na busca de congruência
entre recursos do ambiente externo e os recursos e competências
internas, aos quais o empreendedor tem acesso.
A natureza da inovação tornada oportunidade determina a forma
organizacional a ser adotada. Behave (1994), Gartner (1985)
e outros mostram que as formas adotadas por empreendedores
raramente se aproximam, sendo influenciadas pelo setor de
atividade, experiência anterior, cultura, valores e tipo de
recursos disponíveis, ou a que tiveram acesso. A estratégia
concebida é necessariamente condicionada por essas variáveis,
devendo, entretanto, procurar o ajuste (fit) entre essas e as
características e requisitos do nicho identificado em que se
encontra a oportunidade.
O processo empreendedor completa seu ciclo multidirecional
e interativo quando a estratégia concebida obtém a relação
ótima entre oportunidade, organização e recursos. O aspecto
fluído e dinâmico, que caracteriza o processo empreendedor,
requer capacidade de adaptação e aprendizagem constante,
o que confere com os modelos e abordagens mais recentes
na administração, explicitados nos trabalhos de Senge
(2000). Mesmo assumindo que estratégias emergentes ou
não intencionadas possam se revelar mais interessantes
do que a estratégia originalmente concebida, conforme
sugere Mintzberg (1985), o monitoramento e a coordenação
103
Marcos Mueller Schlemm | Luiz Carlos Duclós
constantes do processo mantêm o senso de direção, além de
propiciarem oportunidades par excellence para a reflexão e
aprendizagem, possibilitando a modificação de respostas
futuras a eventos assemelhados à luz da experiência.
A empresa nascente não comporta a aquisição de ativos
e o estabelecimento de estruturas não compatíveis e em
linha com os requisitos do nicho encontrado (idealmente
estabelecido na estratégia de implementação) é de difícil
aquisição, em um primeiro momento. A aprendizagem deve
ser incentivada como competência natural e necessária ao
gerenciamento para que, com isso, decisões ao longo do
processo de implementação e consolidação do novo negócio
sejam beneficiadas e aprimoradas.
Talvez seja a falta de compreensão da natureza desse
processo, por parte do empreendedor e de seus requisitos,
a razão maior para o alto índice de mortalidade encontrado
entre os novos empreendimentos não chegando a 70% o
número de empreendimentos em funcionamento (GEM,
2002, Vale, 1998, Najberg, 2001).
Conclusões dos poucos estudos, que procuram investigar o
processo de criação das organizações, comprovam a tese de
que as escolhas feitas nesse estágio têm efeitos críticos e
muitas vezes determinantes para a prevalência e o crescimento
do negócio. Stinchcombe (1965), Kimberly (1975), Cavalieri
e Flaron (1996) demonstram que escolhas feitas nos estágios
iniciais têm o efeito de moldar o caráter da organização,
assim como também de limitar o rol de opções disponíveis
nos estágios subseqüentes do seu ciclo de vida. Simon (1963),
igualmente, apresentou indícios dos efeitos restritivos de
decisões tomadas nos primórdios das organizações sobre seu
comportamento e resultados conseqüentes.
104
COLEÇÃO
4. GESTÃO ESTRATÉGICA DO CONHECIMENTO
Assim como os conceitos de organização e sua relação
com estratégia e a descrição do processo empreendedor
constituem-se elementos importantes na construção do
argumento central deste artigo, faz-se necessário, também,
elaborar o conceito de gestão do conhecimento para que se
esclareça a perspectiva sustentada no modelo proposto.
Parte-se do pressuposto de que a aprendizagem é
inerente às organizações. De forma consciente, ou não, as
organizações necessitam desenvolver processos pelos quais
se dá a aprendizagem. Kim (1998) argumenta que empresas
promovem deliberadamente a aprendizagem organizacional,
desenvolvendo para isso capacitação consistente com seus
objetivos, enquanto outros não fazem esforços focalizados,
adquirindo, como conseqüência, hábitos de gestão
contraproducentes (p. 61).
A aprendizagem organizacional não encontra ainda consenso
quanto ao seu funcionamento no campo da teoria das
organizações, entretanto, para fins destas considerações,
o conceito utilizado permite estabelecer sua conexão com
a gestão do conhecimento, outra área ainda em estágio
embrionário. Aprendizagem é comumente defendida como
“aquisição de conhecimentos ou habilidades”, abrangendo
dois significados: (a) a aquisição de habilidades ou know-how,
portanto, a capacidade de produzir uma ação, e (b) a aquisição
da razão da existência ou funcionamento de determinado
fenômeno.
Aqui, o foco é know why, ou seja, a capacidade de articular
uma compreensão conceitual de uma experiência. Para Kolb
(1984), a aprendizagem é o processo em que o conhecimento
é criado pela transformação da experiência. Ambas as facetas
da definição são importantes no processo. A aprendizagem
pode ser compreendida como o aumento da capacidade de
decisão.
105
Marcos Mueller Schlemm | Luiz Carlos Duclós
Trazendo esses conceitos para o âmbito organizacional,
percebe-se que, embora o significado do termo aprendizagem
permaneça essencialmente o mesmo no caso individual,
o processo é fundamentalmente diferente no nível
organizacional. Klein (1998) aborda a questão do dilema
da aprendizagem Individual/Organizacional, colocando-a
justamente no âmago do argumento deste artigo. Ao questionar
o conceito de aprendizagem organizacional, ele faz referência
aos primeiros estágios da existência de uma organização,
em que a aprendizagem organizacional se confunde com
a aprendizagem individual, por causa, geralmente, da
diminuta estrutura de uma empresa nascente. A distinção
começa a surgir com o crescimento da organização. Klein
(1998) sugere um modelo integrado para tornar efetiva a
aprendizagem organizacional (p. 76/78), ao qual denominou
OADI-SMM, ou observar, auxiliar, projetar, implantar –
modelos mentais compartilhados.
Não é objetivo, deste artigo, esgotar esse assunto, mas apenas
estabelecer uma base comum de entendimento, que facilite
a assimilação do argumento central aqui proposto. Nesse
sentido, é suficiente mencionar que o modelo aborda a
questão da transferência da aprendizagem pelo intercâmbio
de modelos mentais individuais e coletivos. Fazendo uma
analogia à aprendizagem individual, a aprendizagem
organizacional é definida como ampliação da capacidade de
decidir pela organização (Klein, p. 76/77, 1998). Um conceito
relevante nesse constructo refere-se aos modelos mentais dos
indivíduos.
106
No modelo de Klein (1998), um grupo de indivíduos pode
ser visto como indivíduo coletivo com conjunto próprio de
modelos mentais, que contribui para os modelos mentais
compartilhados e para a aprendizagem da organização
(p. 78). A aprendizagem organizacional é dependente do
aperfeiçoamento dos modelos mentais dos indivíduos. Dessa
forma, fazer com que esses modelos sejam explicitados
torna-se crucial para o desenvolvimento de novos modelos
mentais compartilhados. Para Klein (1998), a ênfase dada
COLEÇÃO
aos modelos mentais é justificada, uma vez que neles reside
a maior parte do conhecimento de uma organização, tanto o
know-how como o know why. Modelos mentais representam
a visão de mundo (Weltanschauung) de um indivíduo,
incluindo compreensão implícita e explícita. Chega-se,
então, ao conceito de conhecimento. Para fins deste artigo,
conhecimento deriva de mentes em ação. Utilizando a
definição de Davenport e Prusak (1998), tem-se que:
“Conhecimento é um composto fluído de experiência
depurada, valores, informações de contexto e inferências
de indivíduos especializados ou informados, que gera um
arcabouço que permite avaliar e incorporar novas experiências
e informações. Ele se origina e é aplicado mentalmente
pelos agentes do conhecimento. Nas organizações, este
conhecimento é alicerçado não apenas em documentos ou
arquivos, mas também em rotinas organizacionais, processos,
práticas e normas.” (p. 5)
Essa definição permite a compreensão da complexidade com que
se reveste a noção do conhecimento no contexto organizacional.
Sendo composto de elementos vários, ele se revela um conceito
multifacetado de difícil configuração, que inicia e termina
na mente humana. A apropriação, difusão e acúmulo desse
conhecimento em termos coletivos fazem emergir o conceito de
sua gestão no contexto das organizações.
Novamente, não é o propósito, deste artigo, explorar em
profundidade, mas sim estabelecer uma base de entendimento
comum para a elaboração e compreensão das implicações do
argumento central proposto. A gestão do conhecimento concerne
a desenvolvimento de processos, instrumentos e cultura
organizacional adequada para promover a criação e distribuição
do conhecimento localizado em instâncias as mais diversas da
organização, para o seu uso na busca de resultados.
No contexto da empresa nascente, o conceito requer
descobrimento de estratégias, processos, procedimentos
e instrumentos que facilitem a criação, a assimilação, a
disseminação, o uso, o acesso e a qualidade do conteúdo
107
Marcos Mueller Schlemm | Luiz Carlos Duclós
acumulado, tendo como foco de preocupação a antecipação
de dados e fatos que possam vir a ser estratégicos para o
crescimento e sobrevivência do novo empreendimento.
5. CURVA DA SOBREVIVÊNCIA
Estudos do SEBRAE Nacional / SEBRAE Minas Gerais (Vale
et al., 1998) sugerem que novos empreendimentos poderiam
aumentar sua chance de sobrevivência caso adotassem
procedimentos que assegurassem a busca, a seleção e o
processamento das informações, seguindo princípios e
instrumentos de aprendizagem organizacional e da gestão do
conhecimento.
Os principais fatores que causam a morte prematura das
organizações, segundo esses estudos do SEBRAE, permitem
conjecturar sobre o papel que teria a gestão estratégica
dos conhecimentos necessários à gestão mais eficaz do
empreendimento. Isolando fatores como escassez ou inexistência
de determinado recurso, pode-se inferir que as verdadeiras
causas do fracasso se devem à falta ou à gestão deficiente do
conhecimento necessário para concluir, de forma eficaz, os
assuntos referentes ao dia-a-dia do empreendimento.
O conhecimento prévio e a gestão estratégica de informações
e dados relevantes ao negócio poderiam, por exemplo, facilitar
o acesso a fontes alternativas de capital, fator apontado
como dificuldade principal na condução dos negócios. Da
mesma forma, a forte concorrência, outro fator apontado
como dificuldade, poderia ser mais bem administrada, se o
empreendedor tivesse aguçada a consciência da natureza e da
agressividade dos concorrentes. Os demais fatores indicados
como restritivos à condução dos negócios, mostrados na
Tabela 1, assim como aqueles considerados importantes para
o sucesso de uma empresa, na avaliação dos pesquisadores
abordados, permitem o mesmo tipo de conjectura.
108
COLEÇÃO
Tabela 1 – Motivos que Levaram à Criação da Empresa
motivos (*)
Identificou uma
oportunidade de negócios
Tinha experiência anterior
Estava insatisfeito no seu
emprego
Tinha capital disponível
Tinha tempo disponível
Estava desempregado
Aproveitou incentivos
governamentais
Foi demitido e recebeu
FGTS/indenização
Aproveitou algum
programa de demissão
voluntária
Outros
Empresas
de sucesso
58,8
Empresas
extintas
70,9
23,2
12,8
13,9
4,7
13,4
5,8
9,8
3,6
2,1
3,5
8,1
1,2
1,6
2,3
1,0
0,0
8,3
9,3
(*) Questão permite múltiplas respostas.
Fonte: Vale et al., 1998
Este estudo revela na Tabela 2 as áreas de conhecimento
consideradas importantes no primeiro ano de atividade
na empresa. A atividade de planejar surge como a de
maior relevância, tanto na avaliação dos empreendedores
das empresas bem-sucedidas (50,1%), como pelos
empreendedores das empresas extintas (54,7%). O fator
organização aparece como terceiro fator mais importante
(22,8%) nas empresas bem-sucedidas e recebe 40,7% na
avaliação dos empreendedores das empresas extintas.
109
Marcos Mueller Schlemm | Luiz Carlos Duclós
Tabela 2 – Áreas de Conhecimento consideradas mais importantes no Primeiro Ano
de Atividade da Empresa
motivos (*)
Planejamento
Vendas
Empresas de
sucesso
59,1
32,1
Empresas
extintas
54,7
16,3
Organização empresarial
Relações humanas
22,8
21,8
40,7
23,3
Marketing
Gestão financeira
Conjuntura econômica
Informática
Processo decisório
Outros
21,2
11,9
8,3
4,2
1,6
1,0
18,6
26,7
11,6
7,0
0,0
1,2
(*) Questão permite múltiplas respostas.
Fonte: Vale et al., 1998 De forma curiosa, sugerindo falta de compreensão dos
empreendedores da real natureza e complexidade do
processo decisório, este recebeu baixa avaliação em ambos
os casos. Esses três fatores trazem implícita em seu processo
a necessidade de assimilação e análise de conhecimento
de natureza e origem distintas. A gestão inteligente e
estratégica do conhecimento sobre questões que interferem
e gravitam em torno de um novo negócio proporcionam a
abertura de leques de alternativas de ação, que podem
significar a diferença entre o sucesso e o fracasso de um
empreendimento.
110
Dados extraídos de estudos promovidos pelo BNDES
(Najberg et al., 2001), mostram na Figura 1 e Figura 2, que a
expectativa de fechamento acumulada nos primeiros anos de
atividade dos empreendimentos é inversamente proporcional
ao tempo, sugerindo que a experiência acumulada ao
COLEÇÃO
longo do processo melhora a capacidade de superação das
dificuldades. Nesse estudo realizado no período de 1996 até
1999, revela-se que, no terceiro ano, com exceção das firmas
médias, a mortalidade se reduz sensivelmente, indicando que
os dois anos de existência de uma organização são críticos.
Conforme indicado no estudo:
“O aumento de experiência e a confirmação de qualidade
de seus produtos pelo mercado reduzem parte das incertezas
sobre a viabilidade econômica dessas firmas”.
Figura 1 – Expectativa de Fechamento Acumulada nos Primeiros Anos de Atividade
Expectativa
de Fechamento Acumulada nos Primeiros Anos
– Firmas Criadas em
1996 (%)
de Atividade - Firmas Criadas em 1996 (%)
60
50
40
30
20
10
0
. ano
1°
2 primeiros anos
Micro
Pequenas
Médias
3 primeiros anos
Grande
Fonte: Najberg et al., 2001
Pode-se conjecturar que as empresas, que conseguem
atravessar os dois primeiros anos de atividade, têm mais
experiência em seu ramo, reduzindo as incertezas sobre a
viabilidade econômica do empreendimento, em função de
um processo instalado de aprendizagem organizacional e de
gestão de conhecimento crítico ao negócio.
111
Marcos Mueller Schlemm | Luiz Carlos Duclós
Figura 2 – Taxa de Mortalidade por Ano – Firmas Criadas em 1996 (%)
Taxa de Mortalidade por Ano - Firmas Criadas em 1996 (%)
25
20
15
10
5
0
1°. ano
2°. ano
Micro
Pequenas
3°. ano
Médias
Grande
Fonte: Najberg et al., 2001
Empreendedores de empresas nascentes enfrentam o duplo
problema de falta de efetivo conhecimento organizacional e do
baixo nível de legitimação cognitiva no processo de construção
de sua base de recursos iniciais (Brush et al., 2002). O
estabelecimento de procedimentos preventivos e proativos
na busca, seleção e assimilação do conhecimento relevante e
necessário ao negócio, nos estágios iniciais do empreendimento,
podem proteger e facilitar a antecipação de eventos e situações
complexas na gestão da empresa nascente.
Os estudos de Stinchcombe (1965) e Simon (1963) permitem
concluir que ações proativas, nesse sentido, tomadas no período
antecedente à efetiva criação do empreendimento, no período de
pré-gestação, podem facilitar e salvaguardar o empreendedor,
eventuais investidores e demais stakeholders, evitando o
comprometimento prematuro de recursos ou da necessidade de
mudança de rumos ou enfoque dado ao negócio.
112
COLEÇÃO
A gestão do conhecimento estratégico antecipando
informações críticas pode desempenhar papel crucial e
determinante no desenvolvimento de empresas nascentes,
facultando a escolha de maior e melhor número de
alternativas de decisão, interferindo diretamente na taxa de
mortalidade desse tipo de empresa.
Figura 3 - Curva da Sobrevivência
Conhecimento
Tempo
A Figura 3, que mostra sobre uma escala hipotética do
grau de conhecimento do empreendedor sobre o negócio
emergente (eixo vertical), sugere que, se no tempo zero (eixo
horizontal) de criação do empreendimento houver maior
grau de conhecimento acumulado sobre o negócio, poderá
haver maior probabilidade de sobrevivência do negócio
(curva contínua grossa). Caso o grau de conhecimento
sobre o negócio seja negativo no tempo zero, as chances
de mortalidade precoce são maiores (curva pontilhada).
Entre esses dois extremos, cogita-se a possibilidade de
variação do tempo de sobrevivência proporcional ao grau de
conhecimento do empreendedor (curva contínua fina).
113
Marcos Mueller Schlemm | Luiz Carlos Duclós
Leonard (1998) argumenta em Wellsprings of Knowledge,
que organizações podem desenvolver nova capacidade, ou
competência, ao longo do tempo, valendo-se de alternativas
(tais como fontes externas de forma incremental e de baixo
custo e baixa envoltura na assimilação e exploração de nova
tecnologia), como podem também valer-se da aquisição,
ou de múltiplas delas, para incorporar a tecnologia ao seu
domínio de atuação. Para a sustentação de seu argumento,
fica evidenciada a importância do período prévio de
aprendizagem, o acesso gradual ao conhecimento relevante e
gestão eficiente do novo empreendimento. O caso da Harris
Corporation é analisado, quando decidiu entrar em outra
área de atividade, citando seu presidente Harris Tullis, apud
Leonard (1998), em 1977: “We spend 20 years evolving into
a different kind of bussiness”
As empresas podem desenvolver novas competências
adquirindo “sementes, brotos ou um pomar”, mas a
capacidade tecnológica não irá florescer se o solo não
for previamente preparado antes do plantio e cultivado
atentamente nos períodos subseqüentes.
Como no caso da Harris Corporation, caracterizada como
empresa madura, é verdadeira a necessidade da construção
do conhecimento antes de iniciar uma outra área de atividade,
com muito mais razão é possível inferir que esse mesmo
argumento é válido para empresas nascentes.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A negligência ou desconhecimento de formulações
estratégicas nos primeiros momentos da concepção de um
novo negócio deve ser objeto de preocupação do sujeito
empreendedor. Costumeiramente, o empreendedorismo é
tratado de forma clássica, conforme ensinado nas diversas
escolas de ensino e treinamento de administradores.
114
COLEÇÃO
Entretanto, pouco se tem feito para identificar o nível ideal de
conhecimento, diferente da informação, que o empreendedor
deve ter sobre o negócio no início das atividades para que
se possa reverter a curva de mortalidade precoce dos novos
empreendimentos.
O instrumento Curva de Sobrevivência, apresentado neste
artigo, visa chamar a atenção dos órgãos de fomento ao
empreendedorismo e dos empreendedores sobre a importância
da prévia gestão estratégica do conhecimento a ser acumulado
antes do início do negócio. Para a academia, esse instrumento
propõe um desafio de quantificar o eixo da Gestão do
Conhecimento em relação aos principais fatores, que interferem
na mortalidade das organizações.
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Marcos Mueller Schlemm | Luiz Carlos Duclós
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117
118
COLEÇÃO
PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DE
SPIN-OFFS ACADÊMICOS
Leonardo Augusto de Vasconcelos Gomes,
Guilherme Ary Plonski e Mario Sérgio Salerno
1. Introdução
O desenvolvimento de um spin-off acadêmico será
tratado neste artigo, fundamentando-se em uma pesquisa
bibliográfica e em dois estudos de casos. Será proposto
um modelo integrando o processo e o desenvolvimento do
negócio e o planejamento estratégico, que muitas vezes se
confundem. Os spin-offs acadêmicos vêm atraindo a atenção
das comunidades acadêmica e política nas últimas duas
décadas pela possibilidade de geração de renda e criação
de empregos com base em resultados de pesquisas (Mustar
et al., 2005). Os spin-offs acadêmicos podem ser definidos
como empreendimentos criados no intuito de viabilizar
a transferência formal ou informal de tecnologias e de
conhecimento gerados em instituições de ciência e tecnologia
(universidades, centros de pesquisa e outros) mediante o
lançamento de produtos e serviços no mercado (Heirman
& Clarysse, 2007; Shane, 2004; Roberts, 1991). Motivado
119
Leonardo Augusto de Vasconcelos Gomes | Guilherme Ary Plonski | Mario Sergio Salerno
pelo destaque assumido por esse tipo de empreendimento,
principalmente no que concerne à geração de emprego, renda
e à promoção do desenvolvimento tecnológico e científico,
vem crescendo o interesse da academia em investigar
mecanismos e métodos para auxiliar o seu surgimento e o
desenvolvimento (Ndonzuau et al., 2002).
Propõe-se, portanto, uma arquitetura que articula o
planejamento estratégico sob incerteza e o desenvolvimento
do empreendimento, por meio de dois casos investigados
e pesquisa bibliográfica. Pretende-se que seja arquitetura
integradora do desenvolvimento do negócio em três
dimensões (tecnologia/produto, organização e mercado) com
o planejamento estratégico sob incerteza.
A pesquisa empírica discutida neste artigo aponta que o
desenvolvimento do produto depende do planejamento
estratégico do empreendimento, mas também do
desenvolvimento de outras dimensões do negócio, como:
mercadológica (clientes, parceiros, canais de distribuição);
organizacional (processo produtivo, organização do
trabalho, sistemas de informação) e tecnológica (plataforma
tecnológica, tecnologias complementares).
120
Os modelos de planejamento de spin-offs acadêmicos propostos
na literatura referente restringem-se, principalmente, às
dimensões produto e tecnologia (Cheng et al., 2007). A
arquitetura proposta, além de articular essas dimensões,
também abrange a estratégia e a organização do negócio. Nos
casos investigados, observou-se que a evolução da estratégia
do negócio modificou não somente o desenvolvimento da
tecnologia/produto, mas também da organização (por exemplo:
de uma empresa manufatureira para uma prestadora de
serviços exigindo uma nova organização do trabalho, estrutura,
processos e outros); do mercado e do tipo de tecnologia
demandada. Essa evolução da estratégia está relacionada
às incertezas inerentes a esse tipo de negócio e ao fato de
que, como ocorreu nos casos analisados, o empreendedor não
possuía uma visão clara do tipo de negócio a ser gerado. Além
disso, o modelo de negócio do empreendimento apresenta
COLEÇÃO
natureza dinâmica, sendo afetado pela sua própria evolução.
Nesse sentido, a arquitetura incorpora a idéia de modelo de
negócio dinâmico, ao propor um planejamento estratégico sob
incerteza, específico para o contexto de spin-offs e articulado
ao desenvolvimento do negócio.
Este estudo está dividido em quatro momentos distintos.
No momento primeiro, será realizada sucinta revisão da
literatura contemplando os seguintes tópicos: i- a criação e
o desenvolvimento de spin-offs acadêmicos; ii- o processo
de desenvolvimento de produtos; iii- o planejamento
inicial de spin-offs; e iv- o método technology roadmap. No
segundo momento, será discutida a metodologia empregada
na pesquisa para a construção do modelo proposto. A
terceira parte do artigo é consagrada aos resultados dos
estudos de casos e à proposição do modelo. Finalmente,
serão tecidas as conclusões, limitações do trabalho e
perspectivas futuras.
2. Literatura Relevante
2.1 Nascimento de spin-offs: criação e desenvolvimento
Diferentes modelos foram propostos na literatura pertinente
para a criação e o desenvolvimento de spin-offs. O processo
de criação está mais relacionado aos diferentes momentos do
nascimento de um negócio, desde a geração da idéia até o
lançamento da empresa. As principais referências discutidas
serão: Gasse (2002) com o seu Processo Empreendedor e
Cheng et al. (2007) com o seu funil divergente e convergente.
O segundo momento refere-se a ações concernentes
ao desenvolvimento do negócio em suas dimensões
organizacionais, mercadológicas, tecnológicas e em relação
ao produto. Discutir-se-á, portanto, o trabalho elaborado por
Cheng et al. (2007), que está mais centrado no produto.
121
Leonardo Augusto de Vasconcelos Gomes | Guilherme Ary Plonski | Mario Sergio Salerno
Gasse (2002) propõe o Processo Empreendedor, que
compreende quatro etapas: i- a conscientização; ii- a préincubação; iii- a incubação; e iv- a implementação. A primeira
fase, a conscientização, visa despertar e sensibilizar os
atores da comunidade acadêmica para o empreendedorismo,
ressaltando a relevância do empreendedorismo acadêmico
como propulsor do desenvolvimento científico, tecnológico,
econômico e social. A pré-incubação é a fase destinada ao
planejamento inicial do negócio.
O autor remarca que essa fase é fundamental para o sucesso
do empreendimento, ao permitir que o pesquisador/
empreendedor reflita sobre aspectos fundamentais do negócio.
Cheng et al. (2007) propõem o seu modelo de Processo de
Planejamento Tecnológico para essa etapa. O modelo proposto
inicia-se nessa fase, mas estende-se até o lançamento do
primeiro produto comercial de sucesso do negócio, que pode
incluir também a incubação. Esta começa quando a empresa
já fez algumas vendas e contatos com clientes. A última fase,
a implementação do negócio, consiste no nascimento da firma,
caracterizando-se pelo rápido crescimento e pela consolidação
do empreendimento no mercado.
122
O modelo proposto por Cheng et al. (2007) estabelece
interessante conexão entre o processo de criação e de
desenvolvimento de negócio (figura 1), subdividido em
dois momentos: a fase de pesquisa acadêmica e a fase
de desenvolvimento do spin-off. Em cada uma dessas
fases, os autores discutem também o desenvolvimento
do empreendimento em si, discutindo a formação da
estratégia, a concepção da tecnologia e do produto, além do
surgimento da empresa. Os autores sugerem que a primeira
fase da pesquisa acadêmica tenha a lógica de um funil
divergente, por causa do desenvolvimento da tecnologia e
das aplicações, enquanto o segundo apresenta uma lógica
convergente, relacionada às diferentes priorizações que os
empreendedores irão realizar em termos da estratégia de
entrada do negócio, do desenvolvimento do produto e outras.
Esse modelo, apesar de não ser explicitamente discutido
COLEÇÃO
pelo autor, sugere que a estratégia, o desenvolvimento do
produto e o nascimento são processos que, muitas vezes,
se confundem nesse tipo de empresa, como consta deste
trabalho.
Figura 1- Figura representativa do Processo de Criação de um Spin-off
Fonte: Adaptado Cheng et al, (2007)
123
Leonardo Augusto de Vasconcelos Gomes | Guilherme Ary Plonski | Mario Sergio Salerno
2.2 Desenvolvimento de Produtos
Desenvolver produtos consiste na condução de um
universo de atividades, gerenciando e transformando
recursos, informações e competências em especificações
e em requisitos que atenderão a uma necessidade do
mercado (Clark & Wheelwright, 1993). Cooper, Edgett &
Kleinschmidt (2004) relatam que as empresas mais bem
sucedidas nessas atividades utilizam processos formais de
critérios bem definidos, com destaque para a preparação
da equipe e para a qualidade na execução das atividades.
Nesse sentido, diversos modelos de desenvolvimento de
produtos vêm sendo propostos na literatura específica. Clark
& Wheelwright (1993) apresentaram o conceito de funil de
desenvolvimento; Cooper (1993) propôs a idéia de estágios e
pontos de decisão bem definidos para a condução de projetos
de desenvolvimento, conforme ilustra a figura 2.
Figura 2 - Modelo de Estágios e Pontos de Decisão para o PDP
Fonte: Extraído de Cooper (1993)
124
Esses modelos foram concebidos para grandes empresas,
normalmente, com estrutura organizacional relativamente
consolidada; posição de mercado e/ou imagem construída;
legitimidade; canais de distribuição; recursos e capacidades
instaladas e rotinas de gestão e de trabalho. O contexto de
desenvolvimento de produtos em um spin-off é diferente
daquele visto nas empresas estabelecidas, pois apresentam
um pequeno arcabouço de recursos tangíveis e intangíveis;
COLEÇÃO
além disso, a estratégia do negócio encontra-se em estágio
bem inicial de formação conjuntamente com a evolução da
concepção do produto (Cheng et al., 2007).
Em decorrência disso, o PDP afeta a estratégia do negócio,
que é afetada pelo desenvolvimento do produto, o que
implica as dimensões produto e tecnologia, necessidade de
alinhamento e de articulação com o planejamento estratégico
recursivo e cíclico (diferente do planejamento estratégico de
empresas consolidadas). No que concerne a esse segundo
ponto, será proposto o emprego do technology roadmap.
2.3 Planejamento sob incerteza
Um dos pontos fundamentais do planejamento e da tomada de
decisão sob incerteza é o conceito da flexibilidade (Loch et al.,
2001; Courtney et al., 1997). A discutida nesta circunstância
está relacionada à possibilidade de se tomar diferentes decisões e
modificá-las dada a condição do mundo em um determinado
momento. A sugestão de flexibilidade é particularmente útil
para o planejamento estratégico ao sugerir a idéia de que,
de determinada situação da realidade, é possível elaborar
um conjunto discreto de cenários e de possíveis resultados,
segundo o tipo e a natureza da incerteza (figura 3).
Essa idéia poderosa é o ponto de partida para Courtney
et al., (1997) proporem sua metodologia de planejamento
estratégico sob incerteza. Para esses autores, a capacidade
de se conceber cenários depende do grau de incerteza
associado ao de decisão e aos resultados decorrentes. A
flexibilidade está, justamente, na possibilidade, diante
do tipo de incerteza, de assumir diferentes posturas
estratégicas e modificá-las quando for necessário.
Courtney et al. (1997) propõem planejamento cíclico em
quatro etapas.
125
Leonardo Augusto de Vasconcelos Gomes | Guilherme Ary Plonski | Mario Sergio Salerno
1. Reconhecimento da natureza e da extensão das incertezas
associadas com as decisões a serem tomadas:
a. Identificar as áreas da decisão e as incertezas associadas
(figura 3).
2. Seleção da postura estratégica:
a. Movimentos sem arrependimento: as decisões
estratégicas apresentam payoff positivo independente do
cenário;
b. Opções: as decisões indicam significativo payoff em
certos cenários e negativo em parcela reduzida;
c. Grandes apostas: há possibilidade de grandes retornos
em alguns cenários e de grandes perdas em outros.
3. Elaboração de um portfolio de ações:
a. Movimentos sem arrependimento: as decisões
estratégicas apresentam payoff positivo independente do
cenário;
b. Opções: as decisões contêm significativo payoff em
certos cenários e negativo em outros;
c. Grandes apostas: há possibilidade de grandes retornos
e de grandes perdas.
4. Gerenciamento ativo da estratégia: estabelecer um ciclo
reduzido e periódico de revisão do planejamento.
126
Ferramentas
Analíticas
O que pode ser
conhecido
Planejamento de cenários
Métodos de Prospecção
Um pequeno conjunto
discreto de resultados
pode ser definido
Análise de decisão
Modelos de avaliação
de opções
Teorias dos jogos
Uma previsão precisa
é o suficiente para
determinar a estratégia
O Tradicional Tool Kit é
suficiente
Um limitado conjunto
de cenários podem
ser concebidos ou
percebidos
um futuro claro
um pequeno conjunto
futuros alternativos
3
2
1
Reconhecimento de padrão
Modelos dinâmicos não
lineares
nenhuma base para o futuro
verdadeira ambiguidade
¨
?
COLEÇÃO
Figura 3 - Tipos de incerteza
Adaptado: Courtney et al. (1997)
127
Leonardo Augusto de Vasconcelos Gomes | Guilherme Ary Plonski | Mario Sergio Salerno
Esses quatro passos serão propostos como processo para
elaborar roadmap. A idéia é que, por meio do tratamento
das incertezas, o roadmap possa ser revisto e atualizado
de maneira cíclica, acompanhando a evolução do negócio.
Na próxima subseção, será discutido o método technology
roadmap, que sintetiza em um documento as decisões e
informações do planejamento estratégico concernente ao
mercado, ao produto e à tecnologia.
2.4 Technology Roadmap
Phaal et al. (2004) definem technoloy roadmap como um
método flexível, cujo objetivo é auxiliar na integração do
planejamento estratégico com o desenvolvimento de novos
produtos e tecnologias, em uma representação gráfica
simples, conforme a figura 2. Há várias maneiras de se
elaborar um roadmap, mas para inicialização rápida no
método principalmente para os casos em que os praticantes
não estão familiarizados com a técnica, Phaal et al. (2004)
propõem o T-Plan, um guia de como elaborar um technology
roadmap baseado em workshops.
O T-Plan consiste em um guia estruturado em torno de
quatro workshops (mercado, produto, tecnologia e confecção
do mapa), para a elaboração do technology roadmap. As
informações e orientações estratégicas utilizadas durante
os quatro workshops refletem as decisões oriundas do PE
do negócio (Phaall et al., 2004). Dessa forma, o TRM
torna-se resultante da consolidação de informações e
decisões efetuadas na organização. No caso dos spin-offs, é
necessária a elaboração do technology roadmap diferente do
T-Plan, uma vez que o planejamento estratégico abrange todo
o nascimento do negócio, causado por incertezas relativas à
tecnologia e ao mercado, à complexidade e à ambigüidade
da informação. Como será discutido nos estudos de caso,
o processo sugerido apresenta uma estrutura recursiva de
busca e de análise de informações, além do gerenciamento
de decisões sob incerteza.
128
COLEÇÃO
3. Metodologia de Pesquisa
Voss et al. (2002) argumentam que a metodologia de
estudo de caso é particularmente útil quando o objetivo
da pesquisa é a proposição de novo modelo ou de nova
teoria. Isso é compatível com o objetivo da pesquisa, qual
seja, construir modelo de desenvolvimento de produtos
integrado com o planejamento estratégico para spin-offs
acadêmicos. Procurar-se-á compreender as variáveischave do desenvolvimento do negócio (tecnologia/produto,
organização e mercado) no contexto de spin-offs acadêmicos
e as relações entre essas variáveis, além de compreender a
elaboração do planejamento inicial de um spin-off.
Para cumprir os objetivos estabelecidos pela presente
pesquisa, estruturou-se a pesquisa de campo da seguinte
forma: i- elaboração dos protocolos e instrumentos de pesquisa;
ii- definição de universo de critérios para distinguir potenciais
casos de investigação; iii- seleção de casos; v- condução da
pesquisa de campo; e vi- elaboração do modelo.
Voss et al. (2002) reforçam que a validade dos resultados
obtidos em um estudo de caso depende do rigor na concepção
dos protocolos (elaborados por meio da revisão da literatura
específica sobre desenvolvimento de produtos, planejamento
inicial e technology roadmap) e dos instrumentos de pesquisa.
Esses protocolos corresponderam às perguntas-chave que
orientaram os questionários e os roteiros de pesquisa
aplicados nos casos. Para permitir a armazenagem, o estudo
e a análise das informações obtidas pelo estudo de campo
e pelos documentos gerados, foi construído um arcabouço
informacional.
Foi feita a seleção de spin-offs acadêmicos com tecnologias
inicialmente concebidas dentro da universidade, cujos
fundadores fossem os pesquisadores responsáveis por essa
concepção. Foi elaborada uma lista com dez potenciais
spin-offs para serem estudados. Para seleção dos casos a
serem investigados, foram analisados três critérios: relevância,
129
Leonardo Augusto de Vasconcelos Gomes | Guilherme Ary Plonski | Mario Sergio Salerno
diferentes estágios de desenvolvimento do produto e do negócio
e diferentes bases tecnológicas.
O critério de diferentes estágios de desenvolvimento do
produto e do negócio visou compreender a relação entre esse
desenvolvimento e a estratégia. Para tanto, definiu-se que,
em um dos casos, o produto já deveria ter sido lançado, pois,
pela análise retrospectiva, seria possível acompanhar todo
seu desenvolvimento, suas características, seu escopo, suas
etapas, além de sua relação com a estratégia.
Para complementar e enriquecer a pesquisa, foi elaborado
um segundo estudo de caso, que deveria conter: (i) uma base
tecnológica diferente (no intuito de aumentar a abrangência
da pesquisa) e (ii) processo de desenvolvimento de produto
ainda em suas fases iniciais (logo após a conclusão da
pesquisa científica). Ao contrário do primeiro, a perspectiva
de análise seria longitudinal, permitindo compreender
com maior profundidade os resultados obtidos no primeiro,
levantar novas informações e conclusões.
Somente dois entre dez spin-offs da lista original atenderam
aos critérios citados, um de base tecnológica elétrica (SPA
I) e outro da área de biotecnologia (SPA II). Em ambos os
casos, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com
os atores responsáveis pelo desenvolvimento de produtos
e pelo planejamento do negócio. O SPA I foi acompanhado
durante 12 meses, possibilitando acompanhar a evolução
do empreendimento, as questões para sua viabilização, o
encaminhamento dos processos de gestão e outros.
130
Para tanto, foram entrevistados todos os fundadores (ou seja,
100% dos recursos humanos do empreendimento), sendo
que uma parte das observações foi realizada informalmente
no seu laboratório. Já no SPA II, foram realizadas várias
entrevistas, no espaço de quatro meses, com o responsável
pelo desenvolvimento de produtos. Dadas as características
do caso (mais estruturado e em estágio de desenvolvimento
superior ao do SPA I), a análise retrospectiva foi mais além,
procurando levantar os estágios de evolução do produto, a
COLEÇÃO
evolução da estratégia de negócios e outros. Toda informação
e fonte de evidência foram registradas no arcabouço
informacional. Baseado nessas informações, foi proposto um
modelo integrando as ações de desenvolvimento do negócio
com as ações do planejamento estratégico.
4. Estudo de Casos
4.1 Caso I: Base Tecnológica em Elétrica
O primeiro caso investigado foi um spin-off criado para
explorar uma tecnologia na área de elétrica. A oportunidade
identificada foi criar uma empresa que ofereceria soluções
de aplicação da tecnologia no mercado brasileiro, ainda em
estruturação para aquele tipo de produto, substituindo as
importações. Com a elaboração dos primeiros protótipos do
produto e o contato com os primeiros clientes, a estratégia
do negócio molda-se mais para uma empresa especializada
na gestão de conteúdo e transmissão de informações. O
produto deixaria de ser vendido isoladamente para ser
incorporado em um serviço. Essa nova orientação do
negócio modificaria assim o conceito inicial do produto e
exigiria ainda o projeto de um serviço para explorar aquela
oportunidade, modificando também o tipo de organização
que viria ser aquele spin-off. A mudança ocorrida durante
o desenvolvimento do negócio alterou a visão inicial do
empreendimento.
4.2 Caso II: Base Tecnológica em Biotecnologia
O segundo caso analisado é uma empresa de biotecnologia
que surgiu da associação do pesquisador com uma organização
especializada na aceleração da empresa. O pesquisador
dispunha de uma tecnologia que consistia em um conjunto
de mecanismos físicos, químicos e biológicos que, dispostos
na forma de uma armadilha, atraíam o vetor causador de uma
determinada doença tropical, tida como epidêmica no Brasil.
Suportada por essa empresa, a idéia inicial do negócio era
prover um produto com diferenciais quanto aos existentes
131
Leonardo Augusto de Vasconcelos Gomes | Guilherme Ary Plonski | Mario Sergio Salerno
no mercado. A função era o combate desses vetores nos
domicílios brasileiros. Essas características implicavam a
criação de um empreendimento que concorreria com grandes
empresas multinacionais, cujos produtos direcionavam-se
para o mesmo objetivo e para o mesmo cliente. Diante desse
contexto, o pesquisador e a empresa aceleradora definiram
o conceito inicial do produto: uma armadilha natural que
combateria os vetores nas residências em cidades flageladas
por eles. Os primeiros protótipos foram desenvolvidos à luz
desse conceito.
Com o avanço das pesquisas de mercado, os primeiros
resultados das provas de conceito e o aprendizado do
pesquisador no contato com os primeiros clientes, uma
nova oportunidade de negócio foi vislumbrada: deixar de
fornecer a armadilha como produto, mas fornecer serviço de
monitoramento do vetor para o governo. Essa mudança no
produto e no cliente não somente alteraria a estratégia do
empreendimento, mas o próprio desenvolvimento do produto
e da organização, que agora passaria a ser uma prestadora de
serviços para o governo.
Dessa forma, novos protótipos do produto foram desenvolvidos,
agora orientados para a nova oportunidade vislumbrada,
assim como a concepção do serviço ao qual seria incorporado
esse produto. Tanto o produto quanto o serviço demandaram
revisão do planejamento do tipo de organização que o spin-off
deveria ser. Redefiniu-se, assim, o processo produtivo, local
de produção e a sua delegação. No que concerne ao serviço,
estabeleceu-se como seria o conceito do serviço, a linha de
frente, o momento da verdade e a retaguarda na organização.
Uma outra empresa surgiu muito diferente da visão inicial
concebida pelo pesquisador e pela empresa aceleradora.
4.3 Desenvolvimento do negócio nos dois casos
132
Nos dois casos investigados, observou-se que a visão do
negócio não foi a mesma inicialmente concebida. Nesses
casos, o spin-off foi liderado pelo professor, que contava, como
equipe, pessoas associadas ao seu laboratório de pesquisa.
COLEÇÃO
Um outro aspecto em comum foi que, em algum momento
durante o nascimento do empreendimento, ocorreu um
processo de reorientação do negócio, impactando totalmente
no desenvolvimento e na estratégia do spin-off.
Nos dois empreendimentos, o desenvolvimento de produto
afetou e foi diretamente afetado pelo desenvolvimento do
mercado, da organização e da tecnologia. O desenvolvimento
do mercado não se restringiu apenas à obtenção de
informações e à análise de cadeias de valor, mas estendeu-se
à prospecção e ao contato com clientes e parceiros; à definição
de canais de distribuição e ao acesso aos consumidores,
além de construção das relações na cadeia produtiva, entre
outras atividades. No que se refere ao desenvolvimento
da organização, nos dois últimos casos, além de fabricar
os produtos, os spin-offs tiveram de projetar um serviço a
ser oferecido associado ao produto, implicando arquitetura
organizacional diferente da almejada no início do negócio.
O andamento da organização iniciou-se com a definição:
da equipe até o desenho da estrutura; de áreas funcionais
e responsáveis e de processos de negócio e trabalho. Foi
necessária a utilização de tecnologias complementares não
mapeadas no início do desenvolvimento do produto.
Diante dos resultados da pesquisa empírica, foi proposta uma
arquitetura que alinhasse planejamento ao desenvolvimento
do negócio.
5. Proposição da arquitetura
A figura 4 mostra a arquitetura proposta, dividida em dois
momentos: planejamento estratégico do negócio sob incerteza
e o desenvolvimento do empreendimento. Este será descrito,
inicialmente, em cada uma das suas três dimensões. Em um
segundo momento, será abordado o planejamento estratégico
do negócio e, por fim, discorrer-se-á sobre a articulação entre
os dois momentos anteriores.
133
Leonardo Augusto de Vasconcelos Gomes | Guilherme Ary Plonski | Mario Sergio Salerno
Figura 4 - Arquitetura integrando processo de planejamento estratégico
sob incerteza e o desenvolvimento do negócio
Roadmap do Portfolio das Ações
1
2
3
Elaboração de um Portfólio
de Ações
Roadmap das Incertezas
Planejamento Estratégico
sob incerteza
Parte C
Seleção da postura
estratégica
Roadmap dos Recursos
Gerência ativa da
estratégica
Tacit
Explicit
Tacit
Explicit
Socialization
Externalization
learning
cycle
Internalization
Combination
Identificação e classificação
das incertezas
Roadmap Modelo de Negócio
P
T
M
Technology Roadmap
time
Market
Technology Roadmap
Parte B
Product
Technology
Desenvolvimento da
Tecnologia-Produto
Processo de
Desevnvolvimento do
Negócio
Parte A
134
Desenvolvimento da
Organização
Desenvolvimento do
Mercado
Cada uma das dimensões do negócio foi organizada em
termos de estágios e pontos de decisão. Essa estrutura
permite flexibilidade de execução, com pontos de decisão
que especificam o momento em que se poderá avançar para
a próxima etapa. A seguir, será discutida cada uma das três
dimensões (tecnologia/produto, mercado e organização).
COLEÇÃO
5.1 Desenvolvimento do Negócio
a. Desenvolvimento da Tecnologia e do Produto
A figura 5 mostra as etapas e os pontos de decisão
relacionados à incorporação da tecnologia resultante de
uma pesquisa acadêmica em um produto.
Figura 5 - Desenvolvimento da Tecnologia e do Produto
Conforme mencionado anteriormente, as etapas foram
organizadas em estágios e pontos de decisão, cujas etapas
serão, sucintamente, descritas a seguir:
1. Etapa 1 – Conceito do produto: consiste na definição
do produto, que deverá conter sua descrição sumária, sua
aplicação e suas principais funções.
a. Ponto de Decisão: elaborar um protótipo que incorpore
o conceito do produto.
2. Etapa 2 – Investigação de mercado: consiste nas
necessidades oriundas do nicho de mercado priorizado no
planejamento estratégico. Essa etapa se caracteriza por forte
conexão com a dimensão Mercado.
135
Leonardo Augusto de Vasconcelos Gomes | Guilherme Ary Plonski | Mario Sergio Salerno
b. Protótipo embrionário: evolução do protótipo,
incorporando aspectos relacionados à voz do cliente e às
suas necessidades.
3. Etapa 3 – Projeto do Produto: elaboração da engenharia
do produto, projetando seus sistemas e subsistemas.
c. Protótipo funcional: confecção de um protótipo físico
contendo as principais especificações do produto.
4. Etapa 4 – Lançamento do Produto: sugere-se a elaboração
do plano de marketing para lançamento do produto no
mercado.
d. Protótipo comercial: elaboração do protótipo adequado
para ser produzido e comercializado.
Salienta-se que os pontos de decisão referem-se ao
desenvolvimento de protótipos. Sua evolução deve permitir
aos pesquisadores obterem novas informações (insights)
que auxiliem esse desenvolvimento e o do negócio, além de
realizarem uma prova de princípio da tecnologia/produto
(testar se esta resolve de fato um problema de mercado).
Na próxima subseção, serão apresentadas as etapas referentes
à dimensão mercado.
b. Desenvolvimento do Mercado
A dimensão do mercado está estruturada em quatro etapas e
seus respectivos pontos de decisão.
Figura 6 - Desenvolvimento do Mercado
Conceito do
produto
Investigação
de Mercado
Protótipo
Conceitual
136
Projeto do
Processo
Projeto do
Produto
Protótipo
Embrionário
Protótipo
Funcional
Lançamento
do Produto
Protótipo
Comercial
COLEÇÃO
1. Etapa 1 – Prospecção Mercadológica: sugere-se o
levantamento das possíveis aplicações da tecnologia e seus
respectivos mercados. Propõe-se investigar os mercados
em termos de: tamanho, taxa de crescimento, barreiras de
entrada e outros.
a. Ponto de Decisão: priorizar o cliente inicial do
empreendimento com base nos critérios levantados.
2. Etapa 2 – Mapeamento da cadeia de valor: levantamento
de toda a cadeia de valor da empresa (clientes, parceiros,
fornecedores).
a. Ponto de Decisão: estruturar as relações na cadeia com
todos os stakeholders do negócio.
3. Etapa 3 – Estudo detalhado do cliente: sugerem-se visitas
aos clientes, entrevistas em profundidade, entre outras
atividades.
a. Ponto de Decisão: construir a voz do cliente e especificar
suas necessidades.
4. Etapa 4 – Fechamento dos contratos: esta etapa é consagrada
aos fechamentos de contratos com parceiros, fornecedores e
com os clientes.
a. Ponto de Decisão: iniciar a produção, as vendas e
demais.
c. Desenvolvimento da Organização
Basicamente, esta etapa é consagrada à elaboração de
um projeto organizacional que contemple a estrutura
organizacional, os processos produtivos, sistemas de
informação e outros. Sugerem-se duas etapas: uma consagrada
ao projeto organizacional e outra, à sua implementação.
137
Leonardo Augusto de Vasconcelos Gomes | Guilherme Ary Plonski | Mario Sergio Salerno
Figura 7- Desenvolvimento da Organização
Elaboração do
projeto
organizacional
Implementação
do projeto
organizacional
Projeto
Organizacional
O projeto organizacional pode ser inspirado no processo proposto
por Salerno (1999). Os empreendedores devem considerar
também a questão da rede na qual o empreendimento está
inserido no tocante aos processos e papéis desempenhados pela
universidade, pela incubadora, pelos fundos de investimento
e outros.
5.2 Tool kit para o planejamento inicial de spin-offs
Para que os empreendedores possam verificar a evolução da
estratégia, no que concerne ao trinômio tecnologia/produto/
mercado, propõe-se o emprego do método technology
roadmap. Cheng et al. (2007) também propõem o emprego
desse mesmo método para planejar o empreendimento,
mas não comentam como seria a elaboração do mapa; nem
sua relação com o planejamento estratégico; nem como as
incertezas afetam esse planejamento; nem a relação do mapa
com o desenvolvimento do negócio. A parte B, na figura,
ilustra o technology roadmap, enquanto a parte C mostra o
planejamento estratégico com gerenciamento das decisões/
recursos e a busca de informações.
138
COLEÇÃO
O technology roadmap foi proposto para facilitar o
acompanhamento da evolução do modelo de negócio.
No início do desenvolvimento do produto, ao final da
pesquisa acadêmica, os empreendedores encontram muita
dificuldade em estruturar a oportunidade de negócio (Vohora
et al., 2004), como também foi observado nos dois casos.
Os empreendedores têm dificuldade de planejar todo o
nascimento do empreendimento e, muitas vezes, de definir
a aplicação inicial da tecnologia explorada, o mercado e o
conceito do produto.
Os empreendedores se deparam com diversas incertezas
relacionadas às decisões contidas no modelo de negócio,
tais como a aplicação da tecnologia; o mercado priorizado;
o cliente; o conceito do produto; a estrutura organizacional;
as alianças e as parcerias; o processo de produção e o(s)
canal(is) de distribuição. Essas incertezas podem ser tratadas
em um segundo instrumento, o mapa de incertezas, presente
na parte C da figura. Nesse mapa, os empreendedores podem
tratá-las por uma perspectiva temporal de prioridade (“quais
devo responder agora”) e decidir o momento de empreender
ações para tentar diminuí-las ou tratá-las.
Outra importante atividade nesse mapa é a discretização
das incertezas. Os empreendedores podem discretizá-las,
conforme propõem Courtney et al. (1997), em: i- inexistente;
ii- é possível estabelecer opções e decidir pela melhor;
iii- um pequeno conjunto de opções; e iv- a verdadeira
ambigüidade (incerteza total). Para cada tipo de incerteza,
o empreendedor, além das ações, pode assumir posturas
diferentes: i- grandes apostas em torno de uma opção ou
direção (depende da visão do empreendedor e de seu perfil
ao risco); ii- adaptar-se à mudança; e iii- investir recursos
somente para permanecer no jogo. Esse último ponto reflete
a postura de não comprometer recursos em dada opção,
quando se julga haver muita incerteza. Essas posturas
e ações vão se refletir nos conhecimentos e em outros
recursos tangíveis e intangíveis do empreendimento. Os
empreendedores podem pensar como esses recursos poderão
139
Leonardo Augusto de Vasconcelos Gomes | Guilherme Ary Plonski | Mario Sergio Salerno
ser realocados, interferindo nas decisões assumidas, o que,
por fim, reflete-se no próprio technology roadmap.
5.3 Integração dos Dois Modelos
O technology roadmap foi proposto como integrador (ou
comunicador) das ações de planejamento estratégico sob
incerteza com as ações de desenvolvimento de negócio. A
intenção é permitir aos empreendedores planejarem o trabalho
e o empreendimento e, ao mesmo tempo, avaliarem a evolução
do modelo de negócio, do aprendizado, dos recursos
tangíveis e intangíveis e do desenvolvimento do produto.
Nos dois casos, foi possível observar que a evolução da estratégia
influenciava e era influenciada pelo desenvolvimento do
empreendimento, em especial, do produto. No SPA I, à medida
que o produto foi sendo concebido, os empreendedores foram
dando forma ao empreendimento. O aprendizado obtido por
meio do desenvolvimento de produto serviu para reorientar o
negócio.
No que concerne ao SPA II, uma nova informação obtida
do mercado, mudou a estratégia do negócio, passando de
orientação para produto a orientação para serviço. Essa
mudança implicou uma alteração e uma reorientação
total do empreendimento. Como conseqüência, foram
mudados o foco mercadológico; a alocação de recursos e as
competências necessárias para o nascimento do negócio. O
desenvolvimento de produtos foi revisto, principalmente, no
tocante ao projeto do produto e da produção, que passaram a
incorporar o serviço.
Outro importante fator de integração foi o aprendizado.
Loch et al. (2001) propõem o aprendizado mediante
tentativa e erro como estratégia de tomada de decisão,
quando há muita incerteza no desenvolvimento do produto.
Os autores referem-se à capacidade da equipe, que conduz
o desenvolvimento, em replanejar o trabalho e evitar
caminhos desnecessários para o aprendizado.
140
COLEÇÃO
6. Conclusão
Este artigo foi consagrado ao planejamento e desenvolvimento
de spin-offs acadêmicos, empresas que vêm despertando o
interesse da academia e de políticos pela possibilidade de
geração de riqueza e de empregos com base em pesquisas
realizadas em centros acadêmicos.
Propõe-se, ao longo desta exposição, uma arquitetura
integrando dois processos, que, no contexto de spin-offs
acadêmicos, se confundem: o planejamento do negócio e
o seu desenvolvimento. Por meio dos casos investigados,
observou-se que a evolução da estratégia afetava e era
afetada pelo desenvolvimento do produto, do mercado
e da organização emergente. As abordagens correntes de
planejamento abarcam somente a dimensão produto. Como foi
constatado na pesquisa empírica, o produto configura-se apenas
uma dimensão e seu desenvolvimento depende diretamente
do desenvolvimento do mercado e da organização.
O planejamento estratégico proposto é diferente das abordagens
para grandes empresas (do tipo tamanho único). O processo
sugerido é cíclico e visa ao tratamento das decisões sob
incerteza. Em todos os casos estudados, o modelo de negócio foi
se modificando durante o processo, por causa das incertezas
e das novas informações que emergiram. Nesse sentido, a
estratégia foi constantemente revisitada, sendo modificada e
modificando o desenvolvimento do negócio.
O desenvolvimento do negócio foi subdividido em três
dimensões: tecnologia/produto; mercado e organização.
Apesar de ser a atividade central nos primeiros anos de vida
de um spin-off, o desenvolvimento da tecnologia/produto
depende do desenvolvimento do mercado em termos da
prospecção de clientes, parceiros, fornecedores e outros. Ao
mesmo tempo, a organização emergente deve ser concebida
para facilitar o desenvolvimento, a produção e a distribuição
do produto, além de se criar uma organização que permita
outras inovações necessárias para o crescimento do negócio.
141
Leonardo Augusto de Vasconcelos Gomes | Guilherme Ary Plonski | Mario Sergio Salerno
Como fator integrador dos dois processos, foi proposto o
emprego do technology roadmap. Esse mapa visa auxiliar
empreendedores e gestores a acompanhar a evolução
da estratégia e do negócio e alinhá-la à evolução do
empreendimento.
Espera-se que o modelo concebido possa auxiliar pesquisadores
na conversão de suas tecnologias em novos negócios e
incubadoras, na proposição de programas de pré-incubação e
incubação, além de investidores, no auxílio ao desenvolvimento
e ao planejamento dessas empresas tão promissoras para o
desenvolvimento tecnológico e econômico do país.
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144
COLEÇÃO
PARTE II
DESAFIO DE COMUNICAR A INOVAÇÃO
Leila Gasparindo e Sérgio Wigberto Risola
1. INTRODUÇÃO
Nos tempos atuais, os jovens se deparam com um mercado de
trabalho bem diferente do vivenciado por seus pais e avós.
As mudanças ocorridas nas últimas décadas criaram novo
cenário para os que saem das universidades. As oportunidades
cada vez mais se traduzem não apenas por escassos bons
empregos, mas principalmente pela abertura de espaço para
novos empreendimentos com foco em projetos inovadores.
A alta competitividade global e a tendência das
organizações, que antes produziam tudo internamente,
deram lugar a negócios mais focados e apoiados por
cadeias produtivas formadas principalmente por micro,
pequenas e médias empresas. Essa onda de procura por
empresas dedicadas à inovação tecnológica chegou ao
meio acadêmico, onde a maior parte da pesquisa científica
é produzida.
145
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
Assim, as incubadoras têm se estabelecido como ponte
entre a universidade e o mercado em ambiente capaz de
propiciar a convivência entre pessoas de visões bastante
diferentes, mas complementares e com interesses afins.
Em seus corredores, transitam acadêmicos, pesquisadores,
empreendedores, empresários, investidores, agências de
fomento à pesquisa, comitivas internacionais, governantes,
jornalistas, entre outros. Público que, dificilmente, faria
parte da vida de um empreendedor em início de seu trajeto
e, até mesmo, daqueles com algum tempo de estrada.
Um dos pontos fortes e importantes das incubadoras é sua
capacidade de comunicação, proporcionando à empresa
associada constante troca de conhecimento, informação e
relacionamento com público estratégico para seus negócios
e garantindo, assim, visibilidade ímpar. Essa comunicação,
imprescindível para o sucesso de projetos inovadores,
é abordada adiante ao se discorrer, brevemente, sobre
experiência do CIETEC, incubadora situada no campus da
Cidade Universitária, em São Paulo.
1.1 Cenário Mundial: Era do Empreendedorismo e da Inovação
“As incubadoras de empresas e parques tecnológicos vêm
ganhando cada vez mais importância em todo o mundo,
induzindo à criação de novas empresas, em função da
aproximação com universidades.” (Sérgio Rezende, Ministro
da Ciência e Tecnologia, ANPROTEC, 2006).
A primeira incubadora do mundo nasceu na Universidade
de Stanford, na década de 1930, na Califórnia (EUA). Mais
tarde, a região viria a se tornar o famoso Vale do Silício,
aninhando companhias como Apple, Cisco, Intel, HP e,
provocando, a partir da década de 1970, a proliferação de
empresas de ponta nas indústrias eletrônica, de computação
146
COLEÇÃO
e de comunicação nos Estados Unidos. O país, berço da
inovação, coincidentemente se manteve por muito tempo
como maior potência do planeta.
No mundo contemporâneo e globalizado, a capacidade
de inovação de uma nação é determinante para seu
desenvolvimento e competitividade. Contudo, a história
da inovação no Brasil, em função de políticas industriais,
permaneceu inerte durante anos. O surgimento das incubadoras
representou um divisor de águas nesse cenário e colocou o
país, não apenas na rota mundial da inovação, como também
o tornou referência em empreendedorismo tecnológico.
O brasileiro descobriu sua aptidão para criar e empreender.
Hoje, o país conta com mais de 400 incubadoras que,
unidas, articulam 6.300 empresas, gerando cerca de 33
mil postos de trabalho altamente qualificados e produzindo
tecnologia de ponta, destinadas, também, para exportação
em áreas como tecnologia da informação, telecomunicações,
agronegócios, medicina, entre outras. No entanto, essa
realidade, que parece um tanto quanto promissora, ainda é
muito recente: tem cerca de vinte anos.
Ao se analisar a trajetória de incentivo à ciência e tecnologia
no Brasil, percebe-se que a mudança de rumos, segundo
especialistas, também ocorreu por conta da atuação de órgãos
(como o SEBRAE) que, em 1991, começaram a investir
recursos para apoiar o movimento em prol das incubadoras.
Foram ações destinadas à implementação, desenvolvimento
e fortalecimento das incubadoras pelo entendimento de que
seriam importante ferramenta de apoio às micro e pequenas
empresas. O Brasil começava, dessa forma, por meio das
incubadoras, a despertar parte do espírito empreendedor
que estava adormecido.
1.2 Brasil na Rota Mundial da Inovação
Na década de 1980, o Brasil iniciou significativa mudança
em seu futuro com o movimento das incubadoras. Em
meados de 1984, surgia em São Carlos, cidade no interior
147
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
de São Paulo, a primeira incubadora de empresas com base
tecnológica do país, considerada também a mais antiga da
América Latina. Meses depois, nascia o Celta, incubadora
da Fundação Certi, na cidade de Florianópolis (SC). Em
30 de outubro de 1987, foi dado outro importante passo
com o nascimento da Associação Nacional das Entidades
Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Inovadoras
(ANPROTEC), uma das primeiras entidades do gênero no
mundo.
Guilherme Ary Plonski, presidente da ANPROTEC,
relembra que, naquela época, poucos tinham a dimensão
exata sobre o trabalho de uma incubadora. “No início,
eram cerca de vinte associados. Estávamos no governo de
José Sarney e sua nova política industrial, no período de
redemocratização. Todos só pensavam em conter a inflação
e se esqueciam de planejar a longo prazo. Faltava definir as
vocações para o desenvolvimento tecnológico do país. Hoje,
felizmente, temos mais de 270 associados, nos 25 estados
da Federação”.
Para chegar ao patamar atual, foi necessária uma somatória
de esforços e mudanças consideráveis nas estratégias de
incentivo ao desenvolvimento científico-tecnológico. Com
as metas inflacionárias sob controle e cenário mundial
favorável, o que facilita o intercâmbio de projetos, os
governantes passaram a voltar suas atenções para as políticas
de concessão de créditos e criação de benefícios fiscais,
fundamentais para quem se dedica à pesquisa.
2. DEZ ANOS DE UMA DAS MAIORES
INCUBADORAS DO MUNDO
148
A primeira incubadora da capital paulista nasceu em
1998, graças a um acordo de cooperação entre o Instituto
de Pesquisas Energéticas Nucleares (IPEN), o Instituto de
Pesquisas Tecnológicas (IPT), a Universidade de São Paulo
(USP), a Secretaria de Ciência e Tecnologia e o SEBRAE.
COLEÇÃO
Situada no campus da USP, em um prédio cedido pelo IPEN,
aos cinco anos de vida, o CIETEC já contava com mais de
70 empresas com R$ 25 milhões de faturamento total e nove
registros de patentes. Em 2004, um ano depois, quebra de
recorde e reconhecimento internacional, a incubadora
chegava a uma centena de projetos em andamento e
recebia convite para participar da conferência promovida
pela Organização das Nações Unidas (ONU) para o comércio
e desenvolvimento.
Em 2007, o CIETEC atingiu a impressionante marca de
127 empresas incubadas, responsáveis pela geração de 780
postos diretos de trabalho. Sob o aspecto econômico, no
mesmo período, o faturamento das associadas superou R$
33,5 milhões, sendo que cerca de R$ 7 milhões retornaram
aos cofres públicos sob a forma de impostos. As exportações
somaram US$ 56 mil. Ao todo, foram registradas sete novas
patentes e protocolados treze pedidos de marcas.
Maior incubadora das Américas
A última década representou o crescimento e a consolidação
do CIETEC. Nesse período, foram 27 patentes depositadas, no
total, e um acúmulo de mais de R$ 133 milhões relativos ao
faturamento das empresas integrantes. Todo o dinheiro investido
pelo Estado retornou ao erário. Em dez anos, foram devolvidos
aos cofres públicos cerca de R$ 26 milhões em impostos.
Do projeto inicial, a instituição atingiu o status de segunda
maior incubadora do mundo. Segundo Cláudio Rodrigues,
presidente do Conselho Deliberativo do CIETEC, com
exceção da China, que já tem incubadoras com cerca de 500
associados, as incubadoras de outros países não apresentam
mais do que 100 projetos.
Parques tecnológicos
Na Índia e na China, as incubadoras com mais de dez anos de
existência já se constituem verdadeiros parques tecnológicos.
149
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
O mundo tem hoje aproximadamente 340 parques, apoiando
o empreendedorismo, o crescimento e a sustentabilidade de
milhares de novas empresas.
O Brasil ainda engatinha nesse quesito, com mais de
quarenta projetos de parques em desenvolvimento, segundo
informações da ANPROTEC. Ao todo, foram aplicados, ao
longo dos últimos vinte anos, cerca de R$ 150 milhões nas
incubadoras e parques tecnológicos, recursos provenientes
da esfera pública ou mesmo de entidades parceiras.
Número ainda tímido, se comparado ao custo de operação
e implementação das incubadoras no país, girando em torno
dos R$ 430 milhões, nas duas últimas décadas.
O avanço desse conceito no estado de São Paulo também
é levantado como tendência para o futuro do CIETEC. A
construção do Centro de Inovação, Empreendedorismo e
Tecnologia (CEI) com atribuições que incluem, além da gestão
da atual Incubadora de Empresas Tecnológicas, também
a de gestão de um Condomínio de Empresas Inovadoras,
intensivas em conhecimento (CEI), já em estruturação, e de
um Núcleo de P&D Corporativo e de Serviços Tecnológicos,
este ainda em formatação.
3. EMPREENDEDOR EM UMA INCUBADORA –
VANTAGENS DO CONDOMÍNIO
A incubadora é uma forma de incentivo à transformação de
conhecimento científico e tecnológico em produtos e serviços
que, a cada dia, está se fortalecendo mais no Brasil. Seu
objetivo é incubar empreendimentos de base tecnológica de
forma a ampliar o índice de sobrevivência e a competitividade
dessas empresas, objetivando o crescimento da economia
brasileira; o aumento da geração de empregos e da capacidade
de atuar positivamente na balança comercial do país.
150

o tempo médio de incubação de uma empresa é de três
anos e meio;

a taxa de mortalidade das empresas em incubadoras está
abaixo de 20%;

16 das 20 melhores universidades públicas contam com
incubadoras de empresas e 11 delas estão vinculadas a
parques tecnológicos em implantação;

a estimativa de impostos gerados para os cofres públicos
anualmente por empresas incubadas é de R$ 400
milhões?
COLEÇÃO
Você sabia que:
 em 64% dos municípios com menos de 1(um) milhão de
habitantes, mais de 300 mil possuem uma incubadora;
O sucesso das incubadoras deve-se ao fato de que elas
conseguem colocar as empresas no mercado de forma mais
segura do que seria se o empreendedor optasse por iniciar
apenas com as próprias pernas. A incubadora permite
desempenho diferenciado às empresas, porque o ambiente
é fértil, propício ao desenvolvimento dos negócios. Nela, são
oferecidos treinamentos, consultorias, palestras e auxílio
para montar o plano de negócios.
Além disso, as empresas contam com assessorias em gestão
tecnológica, financeira, captação de recursos, marketing
estratégico, assessoria jurídica e assessoria de comunicação.
Essa última promove na incubadora a troca de conhecimento,
informação e a construção de relacionamento com segmentos
da sociedade considerados essenciais para as empresas. Essa
comunicação elaborada especialmente para atingir o públicoalvo é pensada de forma estratégica pelos consultores e alinhada
aos objetivos de crescimento das empresas, sendo imprescindível
para o sucesso e a visibilidade de projetos inovadores.
151
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
Incubadora: elo entre o Mercado e a Universidade
As incubadoras estão quase sempre vinculadas a academias
e universidades, portanto, o contingente de conhecimento
científico e tecnológico à disposição dos empreendedores
é ímpar. As universidades são centros privilegiados de
informação que permitem aprimorar serviços e produtos, o
que tem sido, inclusive, o mote da criação das incubadoras.
No CIETEC, por exemplo, as empresas ingressantes têm à
sua disposição todas as facilidades técnicas e operacionais
oferecidas pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e
Nucleares (IPEN) e pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas
(IPT), Universidade de São Paulo (USP). Portanto, dispõe de
laboratórios em todas as áreas do conhecimento humano com
o apoio de cientistas, técnicos e pesquisadores de todas as
entidades participantes. Além disso, a incubadora mantém
parcerias com outras instituições e universidades de excelência
em suas áreas, como: ITA, ESALQ, ITAL e outras.
Ingresso em uma incubadora
As incubadoras abrem vagas para interessados em criar novos
empreendimentos por meio de edital e apresentação de plano
de negócios. O pré-requisito para ingressar é ter propostas
inovadoras em pesquisas para produtos e serviços de alto
conteúdo tecnológico em diferentes áreas do conhecimento:
Biotecnologia, Biomedicina, Química, Meio Ambiente,
Materiais, Técnicas Nucleares, Tecnologia da Informação e
Softwares Especiais, entre outras.
4. NOVAS FERRAMENTAS DA INOVAÇÃO:
COMUNICAÇÃO, MARKETING E PATENTES
152
“As inovações constituem o motor do processo de mudança
que caracteriza o desenvolvimento capitalista e resultam
da iniciativa dos agentes econômicos. Mesmo partindo de
COLEÇÃO
objetivos individuais, os efeitos da inovação são amplos e
levam à reorganização da atividade econômica, garantindo
o aspecto instável e evolutivo do sistema capitalista.”
(Schumpeter, 1934)
O reconhecimento da inovação, como um motor do processo
de mudança que caracteriza o desenvolvimento, ocorre graças
à comunicação. É por meio do ato de se comunicar que a
inovação é difundida e reconhecida como tal. Pode-se dizer
que a inovação está intrinsecamente relacionada à gestão
da comunicação, ou seja, aos meios e à forma pela qual a
nova tecnologia é informada e comparada à anterior. Por
isso, as corporações investem quantias consideráveis para
divulgar os aspectos inovadores de seus produtos e, assim,
garantirem seu posicionamento inovador.
No livro “Obtendo Resultados com Relações Públicas”, no
capítulo Identidade Corporativa, Luiz Carlos de Souza
Andrade define bem o papel da comunicação como o de
administrar percepções, isto é, ajudar a fazer com que
consumidores, cidadãos e demais segmentos se interessem por
um produto fazendo associação mental com a marca de uma
empresa ou corporação no setor privado, ou com a marca de
uma instituição no setor público de valores e atributos justos.
Assim, as informações recebidas a respeito de uma empresa
ajudam a construir a imagem de sua marca. A inovação
está inserida em um contexto, assim como a empresa, como
afirma Margarida Maria Krohling Kunsch, em Planejamento
de Relações Públicas na Comunicação Integrada. Para ela,
não é possível considerar uma organização somente em seu
âmbito interno e de forma estática. É necessário vê-la em
relação a um contexto muito mais amplo, por uma perspectiva
holística, além de considerá-la vinculada ao ambiente em
que está inserida, incluindo aspectos sociais, econômicos,
políticos, tecnológicos, ecológicos e culturais.
A empresa pode gerenciar o processo de comunicação e,
assim, contribuir para o aumento de sua competitividade
no mercado e para a melhoria de sua imagem institucional.
153
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
Esse processo requer certo nível de investimento em
comunicação, marketing e patentes. No CIETEC, as empresas
têm acesso a essas importantes ferramentas para a inovação
sem o mesmo ônus desses serviços no mercado. Contam
com assessoria de marketing, jurídica e de comunicação
em amplo espectro, incluindo desde marcas e patentes até
o desenvolvimento de estratégias para o relacionamento com
seu público de interesse por meio de eventos, publicações
impressas, website, intranet, assessoria de imprensa, relações
públicas, media training e outros. Essa comunicação
promove a troca de conhecimento e de informação garantindo
a visibilidade necessária aos projetos inovadores, inclusive,
quanto a formadores de opinião e mídia.
Além disso, quando um empreendedor está em uma incubadora,
ele encontra maior acesso à informação qualificada referente
às oportunidades oferecidas por agências de fomentos e a
créditos para o desenvolvimento de seus projetos. Há grande
esforço da incubadora no sentido de organizar essas
informações e ajudar as empresas a compreenderem melhor
as estruturas de apoio à inovação e ao desenvolvimento
existentes no país. A comunicação interna informa e alerta
as empresas sobre os mecanismos da Lei de Inovação; os
editais da FINEP, da FAPESP, do CNPq; a Lei da Informática
e dos incentivos do BNDES. O CIETEC atua como agente
de interpretação dessas oportunidades para os empresários
e ainda faz o acompanhamento dos trâmites nas instituições
que ofertam os recursos.
5. INTELIGÊNCIA COLETIVA NO COTIDIANO DAS
INCUBADORAS
154
As empresas, no CIETEC, agrupam-se em Redes de
Cooperação para intercambiar conhecimento científico
e interagir mais facilmente com o mercado. Funcionam
como uma colônia de formigas capaz de resolver problemas
inconcebíveis de seus integrantes, tal como encontrar o
COLEÇÃO
caminho mais curto para a melhor fonte de comida. Elas
agem em um modelo de sistema descentralizado, em que
o funcionamento do coletivo se baseia em incontáveis
interações dos indivíduos, cada qual seguindo regras práticas
muito simples.
Empresas estão lucrando ao imitar o comportamento das
formigas. O Google, por exemplo, usa a inteligência coletiva
para encontrar o que as pessoas procuram. A Wikipedia,
enciclopédia colaborativa de livre acesso também é exemplo
de sucesso. Seus milhares de artigos em mais de duzentas
línguas podem ser editados por qualquer indivíduo.
O CIETEC, com a inovação e a tecnologia entre seus
pilares, vem atuando em redes de cooperação empresarial,
possibilitando a geração de oportunidades de negócios para
as empresas, por intermédio de encontros que favoreçam
contatos e relacionamentos. Essas redes estão divididas em
cinco categorias: Biotecnologia, Medicina & Saúde, Meio
Ambiente, Tecnologia da Informação e Eletroeletrônica.
Demais disso, permite que empresas não concorrentes entre
si adentrem à incubadora e, dessa forma, possam apoiar todos
os projetos, além de estabelecer parcerias com entidades
de classe. O intuito é aumentar o número e a qualidade de
eventos comerciais e feiras dos quais as empresas participem,
melhorando o relacionamento delas com o mercado.
Raitec
A Rede de Apoio à Inovação Tecnológica em Empreendimentos
(Raitec), de forma simplificada, significa a ampliação do
conceito de redes de cooperação empresarial. A diferença
está no fato de que a Raitec reúne dez incubadoras paulistas
sob coordenação do CIETEC, que é a incubadora-âncora.
Dentre seus objetivos, estão: aumentar a taxa de sucesso
de 252 empresas; alavancar negócios e criar canais de
comunicação com o mercado; capacitar empresários no
acesso a recursos financeiros; prospectar novos projetos e
aprimorar a gestão das incubadoras.
155
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
Fazem parte da Raitec: a Incubadora de Empresas de
Guarulhos; a Incubadora de Empresas Barão de Mauá
(IEBM); a Incubadora Aceleradora de Empreendimentos
(ITS); a In Nova Incubadora Tecnológica e Educacional
de Santo André; a Esalqtec; a Incubadora de Empresas de
Santos (IES), a Incubadora Tecnológica de Empresas de
Sorocaba (INTES); a Incubadora de São Bernardo do Campo
(IESBeC) e a Incubadora Tecnológica de Mogi das Cruzes
(INTEC-MOGI).
Mapa das Redes no Brasil
Segundo a Associação Nacional das Entidades Promotoras
de Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC), há no
Brasil 21 redes de incubadoras, a maioria concentrada
nos estados do Norte e do Nordeste. Elas funcionam como
postos avançados da ANPROTEC e trabalham também
para a harmonização dos principais elementos jurídicos e
operacionais, que as caracterizam, o que permite resultados
mais qualitativos para os empreendedores.
6. INDÚSTRIA FARMACÊUTICA NACIONAL: CONFIANÇA NO
AMBIENTE DA INCUBADORA – CASE BIOLAB/EUROFARMA
A inovação é a garantia de futuro e a perspectiva da
empresa e da indústria farmacêutica no Brasil. A afirmação
é de Dante Alário Júnior, CEO da Biolab, um dos
maiores laboratórios fabricantes de medicamentos do país,
responsável conjuntamente com a Eurofarma pela criação e
desenvolvimento da Incrementha PD&I, joint venture sediada
no CIETEC.
156
Para o executivo, o êxito da indústria farmacêutica no
Brasil depende de sua capacidade de desenvolver produtos
inovadores e de deter patentes. Inovação é uma questão de
sobrevivência para o setor, frente às multinacionais. Biolab
COLEÇÃO
e Eurofarma são nacionais e atuam com genéricos, uma
espécie de commodities do setor.
A nova empresa fruto dessa união é um braço de pesquisa
e desenvolvimento dos laboratórios dentro da incubadora.
Seu objetivo é atuar com inovação tecnológica radical
(criação de novas moléculas) e também incremental (no ramo
de drogas já conhecidas). Hoje, conta com trinta pesquisas
em desenvolvimento, grande parte dos projetos decorrente
de estudos que abrangem a nanotecnologia.
O ambiente propício à pesquisa e à troca de experiências
da incubadora também cativou o empresário da indústria
farmacêutica. Para ele, a incubadora é hoje importante
ligação entre a indústria e a universidade. Uma das principais
vantagens de dispor da área de P&D&I na incubadora é o
ganho de agilidade no desenvolvimento e pesquisa. Segundo
Alário Júnior, “a Incrementha reduziu em 40% o tempo
de desenvolvimento de cada um dos produtos em suas
respectivas fases”.
Outro benefício é o retorno de imagem. A Incrementha
ganhou visibilidade, sendo hoje procurada por pesquisadores
brasileiros que saíram do país em busca de oportunidades
não oferecidas pelo Brasil até então, no setor de pesquisa
farmacêutica. “Hoje recebemos currículos de pessoas com
experiência internacional que têm interesse de voltar a seu
país e contribuir para seu desenvolvimento. Isso se torna
possível graças à chancela do CIETEC e da inovação”,
afirma Alário Junior.
7. IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO NA INOVAÇÃO
“O bacalhau bota milhares de ovas e ninguém toma
conhecimento, enquanto a galinha bota um ovo só, cacareja
e todo mundo fica sabendo.” Provérbio popular
157
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
Pode-se listar uma série de casos de sucesso, corporativos
e pessoais, para sustentar a tese de que a comunicação é
ferramenta fundamental para construir e manter imagem e
reputação. Desenvolver bons projetos é essencial, mas, na
maioria das vezes, isso não basta. É necessário, também,
divulgá-los, pois, sem divulgação, informações não são
transmitidas, exemplos não podem ser seguidos e o
conhecimento irá se perder.
Mais do que nunca, comunicação pode ser a chave para o
sucesso de uma iniciativa. Afinal, as pessoas só se mobilizam em
torno do que conhecem e confiam; de quem tem credibilidade.
Justamente, esse é o papel da comunicação: tornar conhecida
uma marca e gerar credibilidade. Abrir portas. É pela
comunicação que uma empresa pode difundir seu valor social
e impulsionar o sucesso, proporcionando a visibilidade e o
relacionamento necessários para seu crescimento.
A comunicação realizada de forma elaborada, alinhada ao
planejamento estratégico e feita com técnica, dentro das
incubadoras, é uma receita para o sucesso. Mas, quais são
os atributos de uma comunicação eficiente? Para que seja
realmente eficaz configura-se imprescindível a valorização
da comunicação por parte da diretoria da incubadora ou da
organização e, mais do que isso, o comprometimento de seu
principal executivo.
Deve-se também definir o papel e o comportamento do
responsável pela comunicação. Ele deve poder tomar
decisões e não atuar meramente como um técnico. Tem
de participar da gestão e do planejamento estratégico,
resolver problemas que digam respeito à comunicação e
aos relacionamentos, coordenar pesquisas, interagir com a
equipe de marketing e com as demais áreas estratégicas da
incubadora.
158
Um terceiro aspecto, mas não menos importante para uma
comunicação eficaz, é a cultura corporativa da incubadora
em oposição à cultura autoritária: quanto mais sintonizada
com seu ambiente e com seu tempo, mais ela favorecerá uma
COLEÇÃO
comunicação eficiente. Trata-se aqui de gestões transparentes,
participativas, socialmente responsáveis e éticas.
Como bem resume o norte-americano Richard Lindborg “A
comunicação eficiente é a comunicação que é administrada
estrategicamente, que alcança seus objetivos e equilibra as
necessidades da organização com a dos principais segmentos
do público-alvo, mediante uma comunicação simétrica de
duas mãos”.
Assim, para que a comunicação conquiste excelência
também perante os jornalistas, alguns aspectos devem ser
considerados: a qualidade e o ineditismo dos projetos dos
incubados e sua relevância para a sociedade. Além, é claro,
de porta-vozes bem treinados para o relacionamento com a
imprensa.
8. COMUNICAÇÃO E RELACIONAMENTO COM PÚBLICO
ESTRATÉGICO PARA O EMPREENDEDOR
Em seu dia-a-dia, as incubadoras relacionam-se com setores
estratégicos da sociedade como colaboradores, comunidade,
empresas, formadores de opinião (ONGs, professores,
entidades de classe, dentre outros), fornecedores, órgãos
governamentais, agências de fomentos, imprensa, parceiros
e investidores.
Para garantir qualidade em cada ponto de contato com seu
público, as incubadoras podem contar com os serviços de
profissionais de comunicação, jornalismo e de relações
públicas. Eles gerenciam a comunicação e o relacionamento
entre a instituição e esses segmentos, identificando
oportunidades e necessidades em situações harmônicas
e controversas. É esse profissional quem planeja, executa
e avalia as políticas de marketing de relacionamento da
organização, de maneira ética e estratégica.
159
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
As ações e práticas de comunicação integrada buscam:
construir reputação; criar e fortalecer a imagem da marca;
cuidar das relações de uma organização ou pessoa física
com seu público (externo ou interno); informar e atrair a
atenção das pessoas formadoras de opinião. Margarida M.
Krohling Kunsch, em Planejamento de Relações Públicas
na Comunicação Integrada, define suas grandes áreas,
assim: comunicação institucional, mercadológica, interna e
administrativa.
No CIETEC, a comunicação integrada inclui essas grandes
áreas das relações públicas e suas ferramentas: assessoria
de imprensa, media training, endomarketing e comunicação
interna, comunicação e identidade visual, gerenciamento
de crises, auditoria de imagem, organização, divulgação e
cobertura de feiras e eventos, administração de conteúdo de
website, produção de publicações impressas e eletrônicas,
jornal mural, consultoria e planejamento, entre outras.
9. APOSTA EM UMA PARCERIA DE SUCESSO
No momento histórico em que nasceu o CIETEC, o
movimento das incubadoras era pouco conhecido da
sociedade em geral e muitos formadores de opinião não
haviam entendido, ainda, sua importância para o país.
Assim, tornou-se fundamental que os primeiros passos para
a construção de imagem do CIETEC estivessem a cargo de
profissionais gabaritados.
160
A opção foi buscar uma agência de comunicação com
experiência em tecnologia e inovação. Sua responsabilidade
era promover relacionamentos éticos e duradouros, de início
com a imprensa e, posteriormente, com o público em geral.
Essa parceria já dura dez anos e tem ajudado a incubadora
no papel de conciliar os interesses de grupos distintos, abrir
portas para diálogos em setores estratégicos e, por vezes,
equilibrar forças sociais e políticas.
COLEÇÃO
O gerenciamento da comunicação atraiu jornalistas,
formadores de opinião e até mesmo empresários e
políticos como aliados ao CIETEC e ao movimento. Com
transparência, os projetos inovadores e o sucesso de novos
empreendimentos, nascidos do ventre do CIETEC, são
divulgados ao mercado e já contribuem para cooperar com
a inserção do Brasil na rota da inovação mundial.
Começo da difusão do CIETEC
Por acreditar que a imprensa seja o grande canal de
comunicação com os mais variados segmentos da
sociedade, o CIETEC optou, desde a fase inicial, por
investir no relacionamento com a mídia como forma
de disseminar a importância das incubadoras no país,
difundir o desenvolvimento de novas tecnologias e
impulsionar negócios e parcerias para as empresas
incubadas. Por meio da imprensa, foi possível atingir de
forma unânime todo o público da incubadora: investidores;
parceiros; colaboradores; formadores de opinião; órgãos
governamentais; comunidade; empresas; público interno
e externo e, assim, construir a imagem positiva e a forte
marca da instituição.
O objetivo foi posicionar o CIETEC como uma das mais
importantes incubadoras do país, como referência em
Inovação e Empreendedorismo. Com isso, sua marca
associada à de outras entidades parceiras já conhecidas
como a USP, IPEN, IPT e SEBRAE/SP ganhou força e
visibilidade. Para desmitificar o tema entre os jornalistas,
foi criado um glossário de jargões e termos com o significado
de expressões como incubadora, empresa residente, tipos
de incubação e outros. Esse guia passou a fazer parte de
todo material enviado à imprensa: press releases (textos para
divulgação em massa); sugestões de pauta, press kits, dentre
outros. Além disso, alguns cursos para jornalistas têm sido
realizados para apresentar assuntos que o CIETEC tem
interesse em divulgar.
161
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
O plano de relacionamento com a imprensa, inserido no
Projeto de Comunicação do CIETEC, inclui a designação
de seus “porta vozes”, grupos de jornalistas e veículos de
imprensa a serem contactados e uma agenda atualizada
periodicamente com ênfase na divulgação dos resultados das
empresas incubadas. Prevê ações especiais para divulgação
de feiras e eventos e de assuntos considerados fundamentais
na estratégia dos negócios da incubadora e, ainda, a produção
de press kits e todo o material necessário para subsidiar
entrevistas (textos, fotos, folders e brindes) e matérias com o
perfil da organização e das empresas residentes.
Exclusividade de informação
Para garantir a presença contínua do CIETEC e de suas
empresas incubadas na mídia, a divulgação de press
releases para todo o país é sistemática. Isso é sempre
feito após a designação de um assunto exclusivo para um
determinado veículo de comunicação, definido como o mais
apropriado para atingir o público-alvo daquela notícia.
Além disso, são realizadas sugestões de pautas exclusivas
com o objetivo de garantir maior espaço editorial ao assunto
divulgado, visto que a imprensa valoriza muito mais
informações inéditas em relação a seus concorrentes. Pela
grande quantidade de dados referentes à incubadora, é
possível contemplar as diversas publicações e jornalistas de
relacionamento da instituição.
Meios de criação de notícia em uma incubadora
162
O desafio mais importante no relacionamento com a
imprensa é como ser notícia. Segundo especialistas, notícia
é algo novo, inusitado, de importância direta para um
grande número de pessoas; algo que se relacione a uma
personalidade famosa ou ainda a um acontecimento futuro.
Em uma incubadora de base tecnológica, obviamente,
há muitos assuntos com esse perfil. No CIETEC, cabe
ao gerente, que acompanha o dia-a-dia dos negócios
COLEÇÃO
desenvolvidos pelas residentes, realizar uma reunião
mensal de quatro horas com a agência de comunicação, além
de outras menores durante o mês, para identificar assuntos
e adequá-los aos veículos de interesse para a instituição,
transformando a notícia em valor estratégico para o impulso
dos negócios.
No caso do CIETEC, a estratégia tem como base atuação
contínua e proativa com a imprensa nacional para a
divulgação dos mais variados assuntos da incubadora. Entre
eles, notícias institucionais, de novos produtos, tecnologias
e serviços, acordos, aportes, parcerias, casos de sucesso,
lançamentos, pesquisas, índices, balanços, feiras e eventos,
histórias de empreendedores. Enfim, o objetivo é manter
a imprensa informada sobre questões relevantes quanto à
evolução dos negócios e dos projetos em desenvolvimento
na incubadora.
Presença constante nos meios de comunicação
Após divulgar a notícia, como manter presença nos meios
de comunicação? Afinal, a novidade depois de divulgada
deixa de ser de interesse para o jornalista. Esse é o segundo
desafio. É preciso criar fatos novos. Daí, mais uma vez, a
importância de atuar com profissionais capazes de, além
de apenas identificar a notícia, participar de suas decisões
estratégicas e estarem próximos do dia-a-dia da incubadora
e das empresas.
Algumas formas eficazes apontadas por especialistas de
relações-públicas, para garantir a atenção da imprensa,
incluem: conduzir pesquisas; estar vinculado a uma
celebridade; organizar homenagens, debates ou eventos;
criar prêmios; consolidar números; diagnosticar estatísticas,
entre outros que podem ser sugeridos por profissionais
experientes e criativos. Obviamente, as agências de mercado
apresentam uma vantagem, nesse aspecto, em relação às
estruturas internas, uma vez que, pelo fato de atuar com
163
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
empresas de diversos segmentos, vivenciam boas práticas
e experiências que podem ser trazidas para o ambiente da
incubadora.
Garantia de maior espaço pelo esforço conjunto
O CIETEC sempre valorizou o relacionamento com outras
entidades do setor como forma de promover um esforço
conjunto em benefício do movimento das incubadoras. Assim,
o CIETEC mantém relacionamento bastante cooperativo
com as equipes de comunicação do Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE/ SP); do
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT); da Secretaria de
Desenvolvimento de São Paulo; da Associação Nacional de
Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias
Avançadas (ANPROTEC); Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (Fapesp); Financiadora de Estudos
e Projetos (FINEP); da Universidade de São Paulo (USP) e
com outras incubadoras do estado de São Paulo e do país.
Uma forma prática de realizar isso é por meio da elaboração
de sugestões de pauta nas quais há indicação dessas
entidades como fonte de informação. O mecanismo garante
matérias mais amplas sobre o assunto, na medida em que é
oferecido à imprensa o leque mais completo possível de boas
práticas e sucessos do segmento.
Monitoramento de mídia e avaliação de resultados
A fim de acompanhar a publicação de matérias sobre o
CIETEC e o mercado de incubadoras e de avaliar resultados
de divulgação, contratou-se o serviço de clipping de
empresa especializada. Esse trabalho inclui o recebimento e
monitoramento de todas as matérias que citam incubadoras
brasileiras.
164
Essas matérias são apresentadas ao CIETEC, juntamente
com um relatório mensal, com análise dos resultados baseada
nos objetivos da instituição. Esse relatório é cumulativo,
ou seja, traz mês a mês os avanços obtidos, permitindo ao
COLEÇÃO
final de cada período a realização de um balanço anual da
exposição da instituição na mídia.
Café Tecnológico – a incubadora de portas abertas
Com o objetivo de gerar ambiente ainda mais propício aos
negócios e promover relacionamento entre suas empresas e o
mercado, o CIETEC abriu, literalmente, suas portas e criou
o Café Tecnológico. Trata-se de evento de aproximação que
estimula o encontro de empresas apoiadas pela incubadora
com importantes segmentos como investidores, parceiros,
órgãos governamentais, autoridades, imprensa, corporações
e entidades da área de atuação dos incubados.
No formato de um café da manhã, o evento inclui a
apresentação de projetos de empresas, homenagens a
personalidades ilustres do meio acadêmico, político
ou jornalístico e, principalmente, promove networking,
relacionamento, troca de informações, um verdadeiro
encontro de oportunidades com necessidades. Finaliza com
uma coletiva com a imprensa para comunicar aos jornalistas
notícias relevantes da incubadora e das empresas residentes
naquele momento.
Acompanhando a recente segmentação das empresas do
CIETEC em redes de cooperação empresarial, os últimos
cafés tecnológicos realizados foram temáticos: Meio Ambiente,
Biotecnologia, Medicina & Saúde, Tecnologia da Informação
e Eletroeletrônica. Isso fortaleceu ainda mais o evento, que
cresce a cada edição e já é “marca registrada” do CIETEC.
Sucesso dimensionado em números
É sabido que, para os jornalistas de economia e negócios,
sucesso é sinônimo de números positivos. Para garantir
espaços nessas editorias, além dos benefícios de médio e
longo prazo que os novos projetos gerariam para a sociedade
brasileira, é necessário dimensionar a importância imediata
da incubadora para o país. Com isso, anualmente o CIETEC
divulga seu balanço sempre com a preocupação de incluir
165
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
números que possam traduzir ao jornalista e ao cidadão que
investir em inovação é um bom negócio para o Brasil.
Outra estratégia adotada é destacar como o governo é
beneficiado por centavo investido. Para isso, a comunicação
tem ressaltado que o total de impostos arrecadados durante
os anos de existência do CIETEC é bem maior do que o valor
investido pelo governo, feito por meio do convênio com o
SEBRAE/SP. Em 2007, o SEBRAE aportou R$ 945,3 mil
e nestes últimos dez anos investiu um total superior a R$
5 milhões. Em 2007, as empresas incubadas recolheram
cerca de R$ 6,7 milhões em impostos, totalizando R$ 26,7
milhões no período de 1998 a 2007.
Observa-se que, para cada R$ 1,00 investido pelo SEBRAE
em 2007, R$ 7,08 retornaram na forma de imposto. O
valor do retorno desde a implementação da incubadora
é de R$ 5,25 para cada real aportado pelo SEBRAE.
Em dados absolutos, enquanto o SEBRAE/SP investiu
aproximadamente R$ 5,1 milhões, as empresas do CIETEC
recolheram mais de R$ 26,7 milhões em impostos.
Plano de encontros e visitas à incubadora
Para complementar o trabalho de relacionamento com
a imprensa, a cada três meses é estabelecido um plano
de encontros de aproximação e visitas de jornalistas à
incubadora. Sua meta é promover mensalmente determinado
número de encontros, trazendo profissionais da mídia para
conhecer projetos e vivenciar o ambiente da incubadora.
10. CHAVE PARA O RELACIONAMENTO COM A IMPRENSA
166
Os porta-vozes designados pelo CIETEC, selecionados por
assuntos de seu envolvimento, juntamente com a agência de
comunicação contratada são em grande parte responsáveis
COLEÇÃO
pelo sucesso do relacionamento com a imprensa. O seu
desempenho é fator predominante para que uma matéria
jornalística alcance seus objetivos.
Para a imprensa, as fontes precisam ser essencialmente
éticas e transparentes e transmitir confiabilidade.
Necessitam ainda de ter reputação inquestionável e imagem
compatível com a da organização representada.
Disponibilidade e interesse pelo jornalismo
Desde seus primeiros anos o CIETEC identificou como
prioritário para o sucesso de sua missão o compromisso com
a informação. Disponibilidade e conhecimento sempre foram
as premissas para o relacionamento com a imprensa.
Fonte de informação para a imprensa
O CIETEC, por meio de seus porta-vozes, tem sido
identificado pelos jornalistas, em função da sua desenvoltura,
dedicação e conhecimento, como excelente fonte de
informação. A determinação da direção do CIETEC em
sempre privilegiar os resultados das empresas incubadas no seu
relacionamento com a imprensa, permitiu a abertura de canais
duradouros das empresas com a mídia.
CIETEC na BandNews FM
Prova da reputação do porta-voz do CIETEC foi o convite
recebido pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, em
maio de 2005, para que o atual gerente do CIETEC, Sérgio
Risola, se tornasse colunista de tecnologia da primeira
emissora de FM em São Paulo da BandNews FM. A coluna
ficou no ar por dois anos, trazendo no seu primeiro ano
notícias diárias aos ouvintes sobre a dimensão do que uma
incubadora de base tecnológica pode gerar de benefícios
para o país. No segundo ano, as notícias passaram a ter
três inserções semanais e depois duas. Para abastecer o
repertório de notícias, uma estrutura jornalística foi montada
com o apoio da Assessoria de Comunicação do CIETEC. As
167
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
notas produzidas eram gravadas pelo colunista convidado,
gerando sempre resultados expressivos para as empresas
citadas e também para os parceiros da incubadora.
Prêmio da América Economia
Outro exemplo de visibilidade do CIETEC refere-se à
escolha de Risola pela equipe editorial da revista América
Economia para receber o Prêmio Excelência 2005, na
categoria “I-biz: os negócios da inovação”. A premiação
existe há duas décadas e é uma seleção anual dos grandes
líderes empresariais da América Latina.
Resultado dos inúmeros encontros de aproximação, a
indicação do CIETEC foi confirmada depois da visita do
editor brasileiro daquela publicação, que reconheceu suas
dimensões e seu alto grau de eficiência no apoio às pequenas
empresas de base tecnológica.
Para receber o prêmio a que fez jus, o CIETEC designou seu
Gerente, Sergio Risola para receber a honraria, em Santiago
do Chile, em 7 de Setembro de 2006. Foi um reconhecimento
ao CIETEC por um trabalho de quase sete anos realizado por
uma equipe altamente profissional e dedicada.
Resultado de um dos inúmeros encontros de aproximação,
a indicação vingou efetivamente depois da visita do editor
brasileiro da publicação à incubadora. Impressionado com
as dimensões do CIETEC e seu alto grau de eficiência
no apoio à geração de novas tecnologias, o profissional
concedeu o voto decisivo para que Risola fosse ao Chile,
em nome do CIETEC, receber um dos mais importantes
prêmios da América Latina, ao lado de outras personalidades
internacionais. A entrega foi em 7 de setembro 2006, em
Santiago, no Chile. A homenagem feita pela revista premiou
na verdade um trabalho muito consistente desenvolvido ao
longo de quase sete anos por um ‘time’ reduzido em número
de pessoas, mas enorme em competência individual e
capacidade de trabalho em equipe.
168
Como Nemércio Nogueira define bem em seu livro Media
Training – Melhorando as relações da empresa com os
jornalistas: “todo executivo que se proponha interagir com
jornalistas precisa conhecer certas características principais
desse ofício e algumas atitudes que marcam o jornalismo
brasileiro e os profissionais que o exercem”.
COLEÇÃO
Media training
Assim, além do porta-voz principal do CIETEC, a agência
diagnosticou a importância da preparação dos empreendedores
incubados para falar com os profissionais de comunicação
sobre seus projetos. A solução foi realizar um media training
para atender às suas necessidades específicas. O treinamento
é oferecido para aqueles que alcançam um grau de
amadurecimento em seus negócios e que suportem a exposição
na grande imprensa.
O curso, regularmente oferecido a grupos de até cinco
executivos de empresas residentes, prepara-os para o
relacionamento com a imprensa, assim como aprimora o
desempenho dos que já atuam como porta-vozes. O objetivo
é maximizar oportunidades na imprensa e torná-los fontes de
informação capacitadas a falar de forma clara e persuasiva a
respeito dos assuntos relacionados às suas áreas de atuação.
No treinamento, são trabalhadas atividades teóricas e práticas
de forma integrada. Seu conteúdo desvenda os bastidores da
notícia e apresenta as características e diferenças dos meios
de comunicação, mostrando o processo de produção da
notícia. Aborda o funcionamento da relação fonte/imprensa,
formas de persuasão e discute sobre fonte confiável para os
jornalistas. Apresenta também os aspectos fisiológicos da
voz, hábitos e cuidados com sua colocação.
Inclui, ainda, simulação de entrevista com a imprensa e
análise da expressividade, com gravação em vídeo digital e
reprodução para avaliação e percepção de gestos, posturas
169
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
e voz do entrevistado. Para esse trabalho, buscam-se outros
profissionais especialistas no mercado. Com o objetivo de tornar
o treinamento ainda mais próximo do real, nos treinamentos
seguintes, repórteres do mercado serão convidados para uma
entrevista simulada.
11. PLANEJAMENTO DA COMUNICAÇÃO E OS
PRÓXIMOS DEZ ANOS
O trabalho implementado no CIETEC abrangeu, no segundo
momento da parceria, o desenvolvimento de um planejamento
de comunicação mais amplo, que incluiu todo seu público
e orientou as iniciativas da organização em curto, médio e
longo prazos. Detectou-se, inclusive, a necessidade de se
investir em um ou mais canais diretos de comunicação com
o público interno e externo da instituição.
Novo portal do CIETEC
O momento coincidiu com o novo portal do CIETEC e a
necessidade de abastecê-lo com conteúdo jornalístico atualizado
continuamente. Assim, ficou sob a responsabilidade da agência
gerar notícias para o site sobre a instituição e suas empresas
e gerenciar as informações para que fossem destinadas
de forma adequada para cada um dos segmentos de seu
público.
Boletim eletrônico de notícias e conteúdo para o site
170
Como forma de manter comunicação direta e contínua com o
público externo do CIETEC e abastecer seu site com conteúdo
atualizado, a Assessoria coordena uma publicação dirigida no
formato eletrônico. Mesclando notícias sobre as empresas
incubadas, avanços de seus projetos e eventos e visitas
ilustres recebidas, a publicação usa texto jornalístico
e é enviada por e-mail para instituições parceiras,
empresas do mercado, pesquisadores, personalidades
COLEÇÃO
públicas e outros, que já visitaram ou mantiveram algum
relacionamento com o CIETEC. O boletim gera visitação ao
site, pois inclui links para a leitura na íntegra das matérias e,
ainda, garante a ampliação e atualização do banco de dados
da incubadora.
Revista CIETEC 10
No ano de comemoração aos 10 anos do CIETEC, o jornal
institucional ganhou novo projeto editorial e transformouse em uma revista de 28 páginas. A publicação é um
canal de comunicação que objetiva fortalecer a imagem da
instituição, das empresas incubadas, de seus produtos e
serviços inovadores; em especial, os cases de sucesso.
Workshops para a imprensa
Entre as novas ferramentas de relacionamento e comunicação
a serem adotadas pela incubadora está a de estabelecer um
programa de workshops para jornalistas. O objetivo é oferecer
cursos para que os visitantes conheçam mais sobre as novas
tecnologias desenvolvidas na instituição.
Comunicação interna
A incubadora dispõe de intranet abastecida com informações
altamente relevantes para o público interno da incubadora.
Entre elas: chamadas para editais, eventos, notícias sobre
política de inovação, agências de fomento, parcerias e outras.
Essas notas internas são também expostas em um mural,
próximo a pontos estratégicos da incubadora, e enviadas
semanalmente por meio de boletins eletrônicos.
Livro como memória institucional
Está sendo elaborado um livro sobre os 10 anos do CIETEC.
A obra faz um resgate histórico com base em depoimentos
daqueles que participaram da trajetória da incubadora. Seu
objetivo é colocar à disposição da sociedade uma parte da
171
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
própria história da inovação no país. O lançamento está
previsto para o terceiro trimestre de 2008.
12. CIETEC NA MÍDIA
O ano de 2007 foi marcado por excelente exposição
do CIETEC pelos diversos tipos de mídia, levando sua
marca aos mais diferentes setores da sociedade brasileira
consolidando esse centro incubador como fonte de
informação para os principais veículos de comunicação do
país. O CIETEC conquistou espaço em mais de 220 matérias
(impressas, on-line, rádio e TV) ao longo de 2007, muitas
delas em veículos expressivos, como: O Estado de S.Paulo,
Folha de S.Paulo, Gazeta Mercantil, Valor Econômico, Istoé
Dinheiro e em todos os canais abertos de TV.
Para reforçar as ações de comunicação, o CIETEC adotou
também sólida estratégia de publicações dirigidas, pela
qual teve 94 matérias publicadas em seu site, além de 89
matérias produzidas para a intranet, distribuídas em 38
boletins eletrônicos divulgados em 2007.
A estratégia de comunicação do CIETEC, em 2007,
também incluiu sua participação em feiras, congressos
e seminários, meios importantes para a divulgação das
empresas incubadas e seus produtos. No ano, as empresas
do CIETEC participaram de mais de 130 eventos, entre eles
a Hospitalar, IsaShow, ExpoManagement, Educar, Equipotel
e Reatech.
O resultado de comunicação em 10 anos pode ser constatado
pelos números:
 2.187 matérias publicadas na imprensa nacional;
172

699 press releases divulgados;

638 entrevistas;

30 citações em editoriais de jornal e por colunistas;
13 cafés tecnológicos, todos com coletiva de imprensa;

expressivo percentual de participação das matérias de TV
produzidas sobre o tema inovação e empreendedorismo;

atualização semanal do conteúdo do website;

de quinze em quinze dias, são enviadas e-news para um
mailing de quase mil e-mails;

434 participações de empresas do CIETEC em feiras de
negócios, seminários e congressos com ampla cobertura
da imprensa.
COLEÇÃO

13. EMPREENDEDORES DE SUCESSO:
VISIBILIDADE DA INOVAÇÃO
Além dos dados quantitativos, uma das maneiras mais
eficazes de mensurar a importância do CIETEC no cenário
de inovação do país tem sido apresentar casos de sucesso de
empreendedores que tiveram o apoio da instituição, cujos
produtos hoje fazem parte do cotidiano dos brasileiros. Foram
selecionadas dez histórias interessantes que retratam como a
inovação e a comunicação estão relacionadas.
Um ativo social da incubadora – energia solar a baixo custo
e com soluções caseiras
Destaque em programas de televisão como Jornal Nacional,
Bom Dia Brasil e SPTV (Globo) e em noticiários de diversas
emissoras de rádio e TV, a Sociedade do Sol é uma das
incubadas do CIETEC com maior visibilidade na imprensa.
O Aquecedor Solar de Baixo Custo (ASBC) é um dispositivo
para aquecimento de água, em reservatórios com 200 a 1.000
litros de capacidade, destinado a substituir parcialmente
a energia elétrica consumida por cerca de 36 milhões de
famílias brasileiras, usuárias do chuveiro elétrico, em casas e
apartamentos.
173
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
O projeto inovador chegou a ser patenteado, mas seu
idealizador abriu mão da patente para difundir o processo
de fabricação do ASBC para o maior número de pessoas
possível. A idéia era desenvolver um aquecedor solar que
pudesse ser elaborado por meio de materiais de fácil acesso
e de custo reduzido por cidadãos comuns. Um grupo de
pesquisadores resolveu maturar a idéia e criou uma ONG
para atuar na descoberta de novas tecnologias de captação
de energia solar.
Residente desde 1999, a Sociedade do Sol tornou-se uma
organização não-governamental (ONG), em 2001, por
orientação do corpo diretivo do CIETEC, e hoje integra seu
núcleo de ações sociais e ambientais. A iniciativa, inédita
em uma incubadora tecnológica, garantiu excelente ganho
de imagem para o CIETEC por contribuir com a sociedade
de forma imediata.
“Dentro desse ideal oferecemos cursos de montagem de
aquecedores a todo tipo de interessados. Utilizando-se de
materiais de fácil manuseio, o curso ensina a montagem de
forma prática e rápida e tem um custo reduzido, destinado
apenas ao financiamento do material na construção dos
aquecedores”, detalha Woelz.
Sob o comando do engenheiro Augustin Woelz, a Sociedade
do Sol dedica-se ainda ao desenvolvimento de outros projetos
de cunho socioambiental, como reuso da água do banho
para descarga e o fogão solar. Sempre ocupando espaço
privilegiado em jornais e revistas de circulação nacional, a
ONG freqüentemente é citada na Folha de S.Paulo, O Estado
de S.Paulo e revistas Globo Rural e Scientific American.
Woelz explica ainda que a entidade lida com seus alunos
como canais de divulgação do próprio trabalho. “Além deste,
que é o principal projeto, outros estão sendo disponibilizados
e estudados pela ONG, como uma adaptação do aquecedor,
em maior porte, para ser usado na agricultura e em entidades
174
COLEÇÃO
assistenciais, e um forno solar, projeto elaborado para
famílias carentes do Nordeste. Tudo isso é uma prova de que
os projetos de busca por energias sustentáveis podem ser
realizados por quem manifestar interesse”, conclui.
Mais recentemente, os projetos da organização têm gerado
acordos internacionais e voluntários em diversos países,
especialmente, após o lançamento do site com opções de leitura
em inglês, francês e espanhol. O apoio do CIETEC em sua
trajetória é um exemplo de iniciativa simples e relativamente
barata capaz de ampliar a comunicação de qualquer organização
com seu público-alvo de forma receptiva e exponencial.
Tormento das donas-de-casa: dias contados
Ficar horas a fio debruçada em cima de uma tábua de passar não
é o sonho de nenhuma mulher. Foi pensando nesse problema
que a arquiteta e ex-aeromoça, Célia Jaber, que também sofria
com suas pilhas de roupas, desenvolveu a Agillisa, a primeira
máquina alisadora de roupas com tecnologia 100% brasileira.
Esse é um equipamento da Coll Projetos, Engenharia e
Tecnologia, uma associada do CIETEC.
O ineditismo e o impacto de uma notícia são decisivos
para sua publicação na imprensa. Com base nessa máxima
jornalística, a Coll Projetos garantiu em menos de um ano
cerca de 80 aparições em jornais, revistas e sites de todo
o país com a Agillisa. Esse eletrodoméstico livra as donasde-casa de uma das tarefas mais estressantes do lar: a de
passar roupa, economizando ainda cerca de 50% de energia
elétrica em relação ao método comum.
A máquina alisa até 12 peças por vez, utilizando apenas
vapor d’água, e o mais importante: com economia de até
50% em relação ao tradicional ferro de passar. “Precisava
diminuir o tempo dispensado para essa tarefa ingrata. A
idéia de montar uma máquina surgiu de uma prática muito
utilizada que consiste em aproveitar o vapor do chuveiro
para desamassar as peças de roupas. A partir disso, tiveram
início os estudos técnicos”, comenta Célia.
175
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
Em 1996, a arquiteta entrou com o pedido de depósito de
patente, o qual foi concedido três anos mais tarde. O projeto
foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (Fapesp), que viabilizou a produção
da máquina. Estudos realizados em 2006 apontaram a
Agillisa como efetiva necessidade de consumo que pode ser
abrangida por quase 3,5 milhões de lares brasileiros, daí o
imenso potencial de mercado a ser explorado.
A Agillisa conquistou grande espaço no Globo Repórter
e nos principais noticiários de TV e rádio. O sucesso
baseou-se ainda em pesquisa de mercado feita por empresa
especializada com 200 mulheres, amplamente divulgada na
imprensa. Os dados mostravam, por exemplo, que passar
roupas é considerada a tarefa doméstica mais desagradável
e que 84% das entrevistadas provavelmente comprariam o
produto de imediato.
Todas as entrevistas para a imprensa foram concedidas com
êxito por Célia Jaber de Oliveira, diretora da Coll Projetos,
que passou por treinamento de porta-voz em media training.
Sobre o período de incubação no CIETEC, a empresária
afirma ter sido de fundamental importância. “Desde a
infra-estrutura e orientações técnicas disponibilizadas até
os processos de atualização profissional, integração com
a universidade, utilização dos laboratórios e o apoio de
especialistas e consultores nas mais diversas áreas, tudo foi
imprescindível. Sem a incubadora, não teríamos prosperado”,
acrescenta.
Contribuição da força do rádio para a geração de negócios
176
Uma nota na BandNews e setenta negócios foram gerados
em um único dia, em diversas cidades do país. Com esse
resultado, a Brasil Ozônio pôde comprovar que a força da
emissora de rádio (veículo de comunicação que cobre 96%
do território nacional) alcança 38 milhões de residências no
Brasil, mas que ainda é pouco explorado pelas organizações
em ações de comunicação com a imprensa.
COLEÇÃO
A Brasil Ozônio fabrica um aparelho gerador de ozônio
chamado BRO3-3, destinado ao tratamento da água em
piscinas, poços artesianos, caixas d’água e efluentes
industriais, que substitui desinfetantes e bactericidas.
A notícia apresentada na coluna de tecnologia de Sergio
Risola, na BandNews, abordava a venda de uma miniestação
de tratamento de água à base de ozônio para a cidade de
Tucuruí, no Pará. Além do resultado comercial, a nota pautou
jornalistas de publicações impressas, que também escrevem
matérias a respeito do assunto.
O depoimento de Samy Menasce, presidente da Brasil
Ozônio, ressalta a importância da coluna: “Além do
fortalecimento de imagem, a divulgação gerou marketing
direto comprovado. (...) Com a coluna na BandNews
FM, o CIETEC garante uma excelente oportunidade de
comunicação a seus incubados, dentro de seu conceito
de amparar e promover todas as chances de sucesso aos
empreendimentos”.
Um projeto na cabeça e o agradecimento do meio ambiente
Os porta-vozes da empresa, Gilberto Janólio e Gerhard Ett,
já se tornaram fontes de informação para os jornalistas.
Afinal, além de falar de uma energia alternativa ao petróleo,
eles estão sempre munidos de números “quentes” para a
imprensa, baseados em pesquisas de mercado realizadas
com regularidade. A Electrocell atua com célula combustível
também conhecida como célula a hidrogênio, tecnologia de
energia limpa, uma tendência mundial, quando se pensa
viver um contexto de transição de matrizes energéticas fósseis
(petróleo, carvão e demais) para as renováveis (hidrogênio,
biodiesel e outros).
O que hoje é uma discussão recorrente, a preservação
dos recursos naturais já fazia parte das preocupações do
empresário Gerhard Ett, desde o início dos anos 1990. No
ano de surgimento do CIETEC, Gerhard estava concluindo o
doutorado na área de revestimentos especiais e seu pai iria
177
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
se aposentar na mesma área. Era, então, o momento ideal
para a dupla investir na criação do próprio negócio. Surgia a
Anod-Arc, uma das primeiras empresas a serem aprovadas
pela incubadora.
Nos corredores do CIETEC, desenvolveram parceria com a
DC System. Meses depois, as duas companhias fundaram o
Grupo Electrocell, motivadas pelo desejo de levar adiante
uma das tecnologias mais inovadoras para o país: a célula
combustível movida a hidrogênio.
A história da Electrocell ilustra um dos principais benefícios
que somente uma incubadora proporciona às empresas: a
integração. Atualmente, a empresa de Gerhard mantém o
total de dez parcerias. O empresário também cita a excelência
dos cursos promovidos pelo CIETEC e as qualidades dos
profissionais que atuam na incubadora como diferenciais
importantes. “São profissionais gabaritados, sempre prontos
para orientar da maneira mais adequada”, diz.
Um dos destaques da Electrocell na imprensa foi conquistado
quando a empresa inaugurou o primeiro gerador de energia
do país, baseado em célula combustível. O equipamento
foi colocado em funcionamento para atender à incubadora
durante um café tecnológico, que contava com a presença
do ministro da Ciência e Tecnologia, do presidente da
Eletropaulo e de outros importantes parceiros. O evento teve
cobertura da imprensa e foi notícia nos principais veículos de
comunicação nacionais, incluindo jornais, revistas, internet,
rádio e televisão.
Os próximos passos da Electrocell estão direcionados ao
mercado externo. Os custos dos equipamentos são 50%
menores do que os importados, o que pode abrir portas para a
exportação. Com diversos prêmios importantes no currículo,
como o da Confederação Nacional da Indústria, o da Fiesp
(fase estadual) e o da SAE Brasil (Society of Automotive
Engineers), a meta é a produção em série, o que viabiliza
plenamente a inserção no mercado.
178
Wang Shu Chen, taiwanesa, engenheira química, trabalhou
durante anos em grandes multinacionais fabricantes do
setor de adesivos e selantes. Certa vez, ao realizar exames
rotineiros de saúde, constatou sensível queda na quantidade
de glóbulos brancos no sangue, provavelmente, em função
do contato direto com solventes químicos nos laboratórios
das empresas onde atuava.
COLEÇÃO
Sustentabilidade: uma idéia que cola!
A partir daí, a empreendedora passou a estudar as
propriedades dessas substâncias e seus efeitos no organismo
e no meio ambiente em busca de alternativas ecologicamente
corretas, que não agredissem o ser humano. Surgia, então, a
ADESPEC, fornecedora de soluções inovadoras em adesivos
e selantes de alto desempenho, completamente isentos de
solventes, isocianatos e compostos orgânicos voláteis (VOCs).
A ADESPEC iniciou seu negócio no CIETEC, em 2003, e o
primeiro fruto das pesquisas de Chen surgiu, no mesmo ano,
com o lançamento da cola Prego Líquido, a primeira no país
a não utilizar substâncias tóxicas. Em seguida, lançou no
mercado uma cola multiuso para toda a família, a FixTudo.
“Somos a primeira empresa verde de adesivos e selantes que
atendem aos altos padrões de eficiência de energia e impacto
global”, orgulha-se o diretor Flávio Lacerda.
Graças ao projeto e à grande visibilidade de que sempre
desfrutou na mídia e com os formadores de opinião de seu
setor, em 2007, a empresa obteve outra grande conquista: foi
escolhida pela Rio Bravo Investimentos, que estava à procura
de empresas sustentáveis para fornecer aporte de capital.
Os recursos possibilitaram o crescimento da ADESPEC no
mercado e a conseqüente ampliação de sua unidade fabril,
em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, atualmente com
1.300 m2 de área construída, aumentando em quatro vezes
sua capacidade de produção.
A empresa quer chegar aos R$ 50 milhões de faturamento
anual até 2012. Hoje, já é possível encontrar os adesivos
FixTudo e o Prego Líquido nas prateleiras de grandes redes
179
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
varejistas como Wal-Mart, Carrefour, Supermercados BIG,
Grupo Sonae, Pastorinho, entre outras. A ADESPEC também
conta entre seus parceiros a CEBRACE, do grupo Saint
Gobin, a Eternit e a UBV.
Acessibilidade para todos – ligue-se nesta
O desenvolvimento da Koller está diretamente relacionado à
história de vida de seus fundadores. Renato Sindicic é surdo,
lecionava nos Estados Unidos, onde notou a disseminação
do conceito de acessibilidade em comunicação no mercado
norte-americano e percebeu a deficiência do Brasil nesse
contexto. Foi então que, em parceria com seu irmão Cláudio,
fundou, em 1996, a Koller & Sindicic, focada em soluções
inovadoras em telecomunicações para surdos.
Em 2003, após anos importando equipamentos, a empresa
buscou o CIETEC com o objetivo de nacionalizar a produção
dos aparelhos. Com base em pesquisas de mercado,
desenvolveu um plano de negócios consistente, tornando-se
em 2004 a primeira empresa a fabricar telefones para surdos
com tecnologia 100% brasileira.
Dois anos mais tarde, explica Cláudio Sindicic, foram
lançados os terminais telefônicos para surdos, modelos
voltados às empresas com pessoas portadoras dessa
deficiência em seu quadro administrativo ou na linha de
produção. O equipamento também pode ser utilizado pelas
operadoras, para instalarem telefones públicos próprios
para surdos em locais estratégicos, tais como: rodoviárias,
aeroportos, shopping centers, entre outros.
180
Outra grande contribuição da Koller é a criação da Central
de Atendimento ao Surdo. A solução permite a abertura de
canais entre a empresa e esse público. Já dispõem desse
serviço, por exemplo, Banco Real e Itaú, Claro, Gol, Sadia,
Wyeth Farmacêutica, Vivo e outros. Para os próximos anos,
a empresa pretende consolidar sua produção seriada.
“Atuamos hoje sob demanda. Com a produção contínua,
firmaríamos nossa estrutura produtiva e também de
faturamento”, finaliza Sindicic, diretor da Koller.
A história da LaserTools está intimamente ligada ao
nascimento e desenvolvimento da inovação tecnológica do
país. O diretor da empresa, Spero Penha Morato, foi um dos
fundadores do CIETEC e a LaserTools faz parte do primeiro
grupo de projetos associados à incubadora, em 1999. Três
anos mais tarde, tornava-se a segunda graduada e, desde
então, mantém estreita ligação com o CIETEC.
COLEÇÃO
O laser na vida dos brasileiros
Seu negócio, explica Morato, é desenvolver sistemas de
aplicações de corte e marcação a laser para o mercado.
A tecnologia inovadora possibilita trabalhos com mais
precisão, qualidade e economia. Para seu desenvolvimento,
contou com investimento da Fapesp, cerca de R$ 1,2 milhão, e
do CNPq, fundamentais para a rápida entrada no mercado.
Atualmente, a LaserTools atua como prestadora de serviços
para diversas empresas e está presente nos setores médico,
odontológico, agroindustrial, promocional, automotivo e de
plásticos, com destaque para clientes como Kodak, Bosch,
Telefonica e Ford (EUA).
Após a graduação da LaserTools, Morato associou um
novo negócio ao CIETEC: a Innovatech Medical, dedicada
ao desenvolvimento de stents coronários e periféricos
implantados em artérias fora do coração. Atualmente, todos
os stents utilizados no Brasil são importados, sendo que a
expectativa da empresa é lançar uma versão nacional em até
dois anos.
Softwares a serviço da educação
A primeira vez em que o empresário Mervyn Lowe Neto
ouviu falar sobre o CIETEC foi durante a leitura de uma
reportagem produzida pela revista Veja. A partir daí,
mandou um e-mail à incubadora, que retornou com uma
espécie de formulário para que ele preenchesse. Começava,
em 2003, a relação entre a empresa que desenvolve softwares
educacionais e o CIETEC.
181
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
A chance de o projeto vingar era grande, uma vez que a
tecnologia aplicada à busca do saber é importante ferramenta
pedagógica e os investimentos no setor, tanto na esfera pública,
quanto no setor privado, são para lá de consideráveis. Nos
últimos cinco anos, a P3D não só conquistou sucesso no Brasil,
uma vez que hoje seu produto é encontrado em cerca de 150
escolas, como no exterior, exportando para cerca de dez países.
“Minha empresa atua na área de educação. Nada mais
interessante do que a incubadora estar dentro da Cidade
Universitária. Certamente, a P3D não estaria no mesmo nível,
com tantos clientes, bem estruturada e com o prestígio que
tem hoje no ambiente educacional se não fosse o ‘carimbo’
do CIETEC”, comenta Lowe Neto.
Um dos momentos mais marcantes, segundo o empresário, foi
logo após a elaboração de seu plano de negócios. No CIETEC,
todos foram taxativos: eles dominavam a tecnologia, mas o
projeto demandaria capital intensivo e se os empreendedores
não conseguissem essa verba, não poderiam fazer parte da
incubadora.
“Transformei esse ‘não’ momentâneo em um ‘sim’. Fui buscar
dinheiro no mercado e o consegui por meio de um investidor
que apareceu como anjo. Depois desse aporte, consegui
outros investidores. A soma de um bom produto aliado ao
nome do CIETEC abre portas”, complementa.
Vá plantar batatas, mas sem agredir o meio ambiente
O Brasil tem assumido cada vez mais sua vocação para o
agronegócio. Nesse contexto, empresas que desenvolvem
tecnologias inovadoras alcançam boas perspectivas de
lucratividade. A PRTrade, no mercado há 14 anos, destaca-se
pela criação do Fegatex, defensivo agrícola sem similares no
mundo, com base em cloretos de benzalcônio, utilizados em
descongestionantes nasais infantis. O produto é o primeiro
totalmente desenvolvido com tecnologia brasileira.
182
COLEÇÃO
A PRTrade, após graduada, instalou-se no CIETEC em uma
área denominada Pré-Parque Tecnológico, onde continua
investindo em P&D. Pelo caráter inovador de seus projetos,
além dos potenciais econômicos e sociais, a empresa também
é apoiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) e encontra-se dividida
em duas ramificações: a PRTrade propriamente dita,
responsável pela parte administrativa e comercial, e a BR3
Tecnologia e Indústria, pelo ramo industrial.
Dessa forma, produz e comercializa seu defensivo agrícola,
aumentando o potencial de mercado, otimizando as operações
com menos gastos. O resultado trouxe lucros expressivos:
os dois primeiros meses de 2008 foram de recorde histórico
quanto ao faturamento.
O setor agroquímico é, sem dúvida, o carro-chefe da
PRTrade. A empresa incubou-se no CIETEC em 2003 com
o plano de desenvolver o produto por meio de pesquisas
acadêmicas, elaboradas no início de suas atividades. O
Fegatex possui propriedades bactericidas, fungicidas e
esporicidas, apresentando como diferenciais, além de sua
eficácia agronômica, características muito desejáveis do ponto
de vista da toxicologia e do impacto ao meio ambiente.
É o primeiro defensivo agrícola brasileiro desenvolvido
com base em um ingrediente ativo de uso no campo inédito
na agricultura mundial. Registrado para a utilização nas
culturas de batata, café, cenoura e tomate, o produto está
com o registro em tramitação final também para as culturas
de soja e feijão. “O grande diferencial está nos processos
de controle de qualidade que empregamos, que são muito
rígidos, embora isso não seja exigido por lei”, explica
Marcelo Claro, gerente da PRTrade.
Quer fazer um download? Clique aqui!
Um dos websites mais conhecidos dos internautas brasileiros
é o Superdownloads. Com mais de 25 mil softwares
183
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
disponíveis para serem baixados, o site registra 65 milhões
de page views por mês e cerca de 400 mil downloads por
dia.
A Superdownloads tem características um pouco diferentes
dos empreendimentos que passaram pelo CIETEC ao
longo desses dez anos. Apesar de passar pelo processo
de incubação entre 2002 e 2003, ela já era uma empresa
desde 1998. “Como trabalhávamos em casa, não tínhamos
jeito, processos, nem a organização de uma companhia”,
explica o sócio-diretor Daniel Marcos Borges. “Foi com a
incubadora que aprendemos a efetivamente administrar um
negócio. Lá, tínhamos infra-estrutura a um preço acessível,
itens fundamentais para uma empresa que está começando”,
conta.
Outro aspecto positivo ressaltado por Borges é a relação
entre os associados. “O fato de sabermos o que os outros
pesquisadores estavam desenvolvendo era uma forma de
estarmos ligados às inovações tecnológicas. Havia muitas
pessoas diferentes umas das outras, mas que tinham o mesmo
ideal e problemas semelhantes, que falavam a mesma língua.
Isso faz da integração um momento bastante enriquecedor”,
avalia.
Consistência e celeridade nas decisões também fazem parte
do aprendizado da Superdownloads durante o processo
de amadurecimento no CIETEC. Depois que obteve sua
graduação, a empresa já estava estruturada e, desde então,
não parou de crescer. Hoje, possui 16 colaboradores e atende
mais de 3 milhões de usuários únicos mensais e atualmente
é parceiro do portal UOL.
14. CONCLUSÃO
O dia seguinte das empresas: desafio de comunicar a
inovação, sem a chancela da incubadora
184
COLEÇÃO
“Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um
se chama ontem e o outro amanhã. Portanto, hoje é o dia
certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.”
Dalai Lama
Uma incubadora como o CIETEC deve ser vista como
organização viva com capacidade de gerar mudanças e
de responder aos estímulos do meio em que está inserida.
Enquanto o empreendedor está aninhado na incubadora,
pode desfrutar dessa chancela. CIETEC torna-se seu
sobrenome, seu ícone, sua marca. Um dos trabalhos do
centro em todo o período da incubação e, principalmente
nos meses que antecedem a graduação, é reforçar a máxima
da continuidade do trabalho de comunicação da empresa
quando deixa a incubadora. Para tanto, é necessário prever
investimento em comunicação e marketing e investir na
construção e manutenção da imagem de sua marca.
Tony Davila, em As regras da inovação, relata como
exemplos de lideranças em inovação a Apple, Nokia,
GE, IBM, que estão atualmente às voltas com um novo
desafio, aquele de lutar para manter sua liderança em
inovação. Essa preocupação é, em geral, o foco principal
dos empreendedores que, nesse momento, esquecem-se
da importância da comunicação. Entretanto, essas mesmas
marcas empresariais estimulam valores definidos, construídos
ao longo de anos e duramente mantidos, como afirma Paulo
Nassar, em A comunicação para a pequena empresa: “A
construção desse grande patrimônio de uma empresa tem
na Comunicação sua maior arma, que fixa na cabeça do
consumidor, a partir do posicionamento da empresa, pontos
como a qualidade de produtos e serviços, seus preços, o
atendimento ao consumidor, sua atitude profissional, seu
comportamento cidadão.”
185
Leila Gasparindo | Sérgio Wigberto Risola
Apesar de intangível, a comunicação pode regular,
influenciar e estimular o crescimento e a consolidação
de uma empresa no mercado, sendo principalmente
importante em seu início. É justamente nesse momento
que a empresa depende da comunicação para informar
seus diferenciais, seus valores e sua capacidade de inovar.
Portanto, o objetivo com este relato é apresentar alguns
cases de comunicação e mostrar como diversas ferramentas
podem ser utilizadas para promover e comunicar a inovação
e melhorar o relacionamento da empresa com seu públicoalvo, respeitando sempre o porte e as características de
cada organização.
REFERÊNCIAS
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ANPROTEC, 2006.
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mais importantes movimentos de Incubadoras e Parques.
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DAVILA, Tony. As regras da inovação. Porto Alegre: Ed.
Bookman, 2007.
186
COLEÇÃO
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Editorial, 2003.
KUNSH, Margarida Maria Krohling (org.) Obtendo resultados
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pequena empresa. 3.ª ed. São Paulo: Editora Globo, 1998.
NOGUEIRA, Nemércio. Media Training: melhorando as
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REZENDE, Sergio.
ANPROTEC, 2006
Videodepoimento
no
Seminário
SCHWARTZ, Gilson. O Capital em jogo: fundamentos
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Campus, 2000.
SCHUMPETER, Joseph.
econômico. M.A: 1934.
Teoria
do
desenvolvimento
SCOTT, David Meerman. As novas regras do marketing e de
relações públicas. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2008.
VEIT, Mara Regina. (org). Histórias de Sucesso: Empresas
Graduadas das Incubadoras Mineiras. RMI e SEBRAE
Minas, MG, 2007.
187
188
COLEÇÃO
FUNDAÇÃO EDUCERE DE
CAMPO MOURÃO/ PR
Ater Cristófoli e Eduardo Akira Azuma
RESUMO
A Fundação EDUCERE de Campo Mourão, instituição
privada e sem fins lucrativos, atua de forma inovadora
em relação à maioria das instituições do terceiro setor em
três esferas distintas, mas complementares entre si: escola
técnica com cursos de eletrônica básica e desenho mecânico
industrial; centro de pesquisa e desenvolvimento; sistema
de incubadora de empresas. Essa atuação diferenciada
foi estruturada em razão das especificidades da região,
explorando um setor da indústria que está emergindo e
despontando como alternativa socioeconômica viável para
o município.
189
Ater Cristófoli | Eduardo Akira Azuma
1. INTRODUÇÃO
Já se tornou lugar comum a necessidade do investimento em
educação para o crescimento econômico do país, a exemplo
dos tigres asiáticos e do sistema educacional meritocrático
da Índia (que, por meio do investimento na matemática, foi
o principal ator no surgimento dos empreendimentos do Vale
do Silício), além da própria transformação social gerada por
esse tipo de apoio.
Entretanto, encontra-se o grande hiato desse discurso entre
os diversos mecanismos de investimento em educação e os
níveis a serem priorizados, principalmente, levando-se em
conta um país em desenvolvimento e com parcos recursos
destinados à educação básica.
Nesse sentido, algumas iniciativas da própria sociedade
civil, aplicadas de forma subsidiária e criativa em
relação aos modelos do Estado, vêm colhendo resultados
surpreendentes até mesmo para seus idealizadores,
angariando colaboradores e transformando localidades no
interior do país.
Seguindo a mesma tendência, o empresariado, ainda que
no ritmo de seu crescimento, também está investindo e
constatando as benesses de fomentar programas e projetos
de capacitação e qualificação nas comunidades em que estão
sediados seus empreendimentos.
190
Espera-se que a chamada responsabilidade social não
seja apenas um modismo efêmero e que os investidores e
empresários a tenham como possibilidade estratégica de
lucros a longo prazo (considerada a palavra “lucro” sem
a habitual carga pejorativa conferida por alguns setores
institucionais). Portanto, pretende-se, ao longo deste artigo,
demonstrar que alguns projetos de iniciativa do setor
produtivo conseguem, além de oferecer novo horizonte para
a vida de muitas pessoas, fortalecer e expandir os negócios,
sem prejuízo dos valores éticos, mas sim com a autonomia de
muitos dos jovens empreendedores.
COLEÇÃO
Nos seus dez anos de atividades, a Fundação EDUCERE de
Campo Mourão encontra, no conjunto das histórias de seus
fundadores e colaboradores, o seu principal combustível, gerando
uma espiral ascendente de inovação tecnológica em uma região
sem qualquer tradição em tecnologia e pesquisa aplicada.
O projeto dessa instituição idealizada por Ater Cristófoli,
representado pela convergência do sonho de adolescente
com a necessidade do adulto empreendedor, inicia-se com a
nova fase de expansão da empresa Cristófoli Biossegurança,
no ano de 1997.
Tendo por marco a inauguração da nova fábrica de
equipamentos destinados para a área de biossegurança
(autoclaves, incubadoras de testes biológicos e outros) em
instalações mais modernas e amplas, a demanda natural
para a longevidade da empresa volta-se para a contratação
de pessoal qualificado para os novos e estratégicos cargos do
novo empreendimento.
Entretanto, dois problemas surgem de imediato com essa
necessidade: encontrar pessoas com a capacitação de acordo
com as especificidades do setor e, por outro lado, oferecer
atrativos para atrair tais profissionais para a região.
Diante dessas dificuldades, aliadas ao cenário situado
pela empresa (região predominantemente agrícola e sem
qualquer tradição em indústrias de base tecnológica), o
momento tornou-se oportuno para a realização de um sonho
e, ao mesmo tempo, para vencer esses obstáculos.
Assim, em outubro de 1998, foi constituída a Fundação
EDUCERE com o objetivo inicial de qualificar e
capacitar jovens do município para exercerem atividades
de alto valor técnico nas empresas da região, por meio
de uma metodologia que distingue a prática e o apoio ao
empreendedorismo.
191
Ater Cristófoli | Eduardo Akira Azuma
2. SETORES DE ATUAÇÃO E DINÂMICA DE NOVOS
COLABORADORES
Conforme citado anteriormente, ainda que a percepção de
crescimento da empresa Cristófoli visasse à importância da
capacitação e da valorização das habilidades e experiências,
a região não apresentava qualquer atrativo e incentivo para
formação desse contingente.
Além disso, a região de Campo Mourão está localizada
no interior do estado do Paraná e tem a economia
protagonizada pela atividade agrícola. Seus jovens têm
a formação e as perspectivas de vida girando apenas em
torno desse setor ou destinando-se à migração para cidades
maiores.
Ademais, como é notório em regiões voltadas para a agricultura,
as propriedades concentram-se nas mãos de poucas famílias
e a mecanização cada vez mais intensa do setor alimenta
um ciclo desfavorável para o primeiro emprego entre os
jovens. Dessa forma, acabam subaproveitados em outras
áreas da economia, prejudicando a continuidade de seus
estudos. Essa formação deficiente acaba por impedi-los de
obter melhores colocações no mercado de trabalho.
Para minorar os prejuízos desse ciclo, bem como para
propiciar incremento nos diversos setores das indústrias
da região, surgiu a idéia de se investir no capital humano,
para composição não apenas dos novos postos de trabalho
ofertados como também para a formação de pessoal para
cargos vindouros.
192
Assim, mesmo com o pequeno número de indústrias de
base tecnológica instaladas no município, essa iniciativa,
com o devido apoio e os instrumentos adequados, poderia
fomentar a cultura do empreendedorismo e contribuir para
que novos negócios e importante cadeia de fornecedores
pudessem emergir e impulsionar a região. Haveria, portanto,
a geração de novos postos de trabalho e, conseqüentemente,
COLEÇÃO
a concretização de alternativas socioeconômicas para a
região.
Diante dessas observações, a Fundação EDUCERE foi
se constituindo com base em três setores distintos e
complementares entre si, cujas atividades teriam como
objetivo primordial oportunizar novos horizontes para
os jovens por meio de postos qualificados de emprego ou
geradores de emprego.
Essa idéia foi se concretizando ao mesmo tempo em que
também se foi conseguindo o apoio de outras pessoas da
comunidade.
Instalada em prédio próprio em terreno de cerca de 2400 m²
(com 1400 m² de área construída), a instituição iniciou
suas atividades com parcos recursos, tendo como única
mantenedora a empresa Cristófoli Biossegurança.
Para atingir os objetivos basilares da instituição, a Fundação
EDUCERE definiu seus três setores de atuação com o apoio
do SEBRAE local, levando em conta a nova e emergente
vocação da região: fabricação de produtos e equipamentos
para saúde.
Esses setores, que logo adiante terão sua estrutura mais
detalhada, são: Escola Técnica com ênfase em eletrônica
e desenho mecânico industrial; Centro de Pesquisa e
Desenvolvimento; Incubadora de Empresas.
2.1 Escola Técnica Gratuita
A primeira forma de atuação da instituição é a escola
técnica, que oferece cursos totalmente gratuitos de
eletrônica básica e desenho mecânico industrial aos jovens
de 14 a 17 anos.
Como os recursos são oriundos da iniciativa privada
(atualmente cerca de 90% dos custos fixos são pagos
pela principal mantenedora – Cristófoli Biossegurança), o
investimento na escola precisa ser todo otimizado, de tal
193
Ater Cristófoli | Eduardo Akira Azuma
forma que o projeto se distancia dos tradicionais modelos de
educação assistencialista.
Isto significa que, como não há vagas para atender a
quantidade substancialmente grande de jovens, é feita uma
seleção anual, realizada por uma equipe multidisciplinar de
colaboradores, incluindo um psicólogo. Este acompanha,
desde o início, as atividades da escola com o objetivo
de selecionar os alunos mais talentosos e com espírito
empreendedor, que não têm outra oportunidade para
demonstrar e aplicar o seu talento.
O método de seleção conta com prova de conhecimentos
gerais, redação, dinâmica de grupo e entrevista. Entretanto,
cabe salientar que os participantes da seleção devem
estar regularmente matriculados na escola regulamentar e
apresentar médias acima de 7,0, no boletim escolar.
A Escola Técnica da Fundação EDUCERE é totalmente
informal, de iniciativa privada e sem finalidade lucrativa,
por isto, exige-se que os alunos freqüentem a escola
tradicional apresentando bom aproveitamento, pois, em
caso de repetência serão automaticamente desligados da
Fundação.
O fato de ser informal proporciona algumas vantagens
para a metodologia da Escola Técnica, sendo a principal
delas oferta de conteúdos e de disciplinas de acordo com
as necessidades das empresas, havendo, portanto, estreita
ligação com a real demanda do setor produtivo.
As seleções costumam ser o facilitador de todo o desempenho
da Escola Técnica, contribuindo sobremaneira para que
não haja qualquer espécie de controle de freqüência, pois,
como já disse o educador Rubem Alves: “há escolas que
são gaiolas, há escolas que são asas”. No caso da Escola
Técnica da Fundação EDUCERE, as avaliações são práticas,
o índice de evasão é menor do que na escola tradicional e o
reconhecimento da metodologia se concretiza pela procura
e pela satisfação das empresas que contratam os alunos.
194
COLEÇÃO
Além disso, o mais importante é que os alunos se conduzem
não apenas para uma perspectiva de emprego, mas para
empregos mais qualificados e, como conseqüência, com
melhores remunerações. Para tanto, são selecionados vinte
e oito jovens, anualmente, em sua maioria com talentos e
interesse para as áreas ofertadas.
Outro ponto de destaque da escola é o fato de haver alunos
de idades diferentes na mesma sala de aula, fato que, além
de incentivar saudável sistema de competição entre eles,
mantém uma estrutura de cooperação. De tal forma que os
alunos com alguma experiência repassam-na para os demais,
sem a exclusão da competição e da valorização do mérito,
cujo exemplo mais evidente encontra-se na concessão de
bolsas de estudo.
Em relação aos professores, outro mecanismo utilizado para
redução dos custos, sem perda na qualidade de ensino, foi a
contratação de voluntários.
Ao todo, são onze professores das mais variadas titulações
e experiências, oriundos das outras empresas componentes
do Sistema de Incubação. Solução que se mostrou criativa
não apenas sob o ponto de vista econômico, mas também por
colocar diretamente em contato alunos e empresários, alunos
e funcionários, alunos e profissionais experientes nas suas
áreas de competência.
Quadro 1 - Número de Professores e Formação Profissional
Professores
Engenheiro Mecânico
Engenheiro Eletricista
Número
01
02
Advogado
Técnico em Eletrônica
01
04
Técnico em Mecânica
Graduanda em Administração
Total
02
01
11
195
Ater Cristófoli | Eduardo Akira Azuma
Além desses, destacam-se também os colaboradores eventuais e
as palestras realizadas na instituição. Com esse mecanismo,
um dos itens considerados fundamentais para o sucesso da
iniciativa é o aproveitamento da diversidade de experiências
e conhecimentos em torno da instituição.
Exemplo disso é que trabalha, na Incubadora de Empresas,
um verdadeiro celeiro de profissionais titulados, cujos
valiosos conhecimentos contribuem para qualquer projeto
referente a ensino. Dentre proprietários de empresas
incubadas e graduadas, encontram-se doutores em química,
mestre em administração de empresas, mestre em direito,
especialista em internet, especialistas em contabilidade,
além de outros mais.
2.1.1 Cursos ofertados e suas etapas
Conforme referido anteriormente, toda a finalidade da
Fundação EDUCERE está dirigida para a capacitação e a
qualificação de jovens para as indústrias da região. Com o
foco na pesquisa e no desenvolvimento, os dois principais
cursos ofertados aos jovens são: Eletrônica Básica e Desenho
Mecânico Industrial.
As turmas compõem-se, no máximo, de vinte e oito alunos,
que recebem aulas de segunda a sexta-feira das 14h às 18h.
O curso tem duração de 1(um) ano, desenvolvendo-se em três
etapas, cuja descrição e objetivos estão expostos a seguir.
196
COLEÇÃO
Quadro 2 - Cursos e Objetivos
Etapa duração descrição/objetivos
1
2 meses Nesta etapa os alunos recebem os
conceitos e fundamentos de ambas
as disciplinas (Eletrônica básica e
Desenho mecânico industrial). O
objetivo é familiarizar o aluno com as
disciplinas, bem como dar o suporte
necessário para as etapas seguintes.
Além disso, também fornece subsídios
para que o aluno opte por uma das
duas disciplinas na etapa 2.
2
7 meses
Na transição entre estas duas etapas
ocorre uma nova avaliação e entrevista
com os alunos. Nesta etapa, o aluno opta
por uma das duas disciplinas, ocorrendo
então a divisão dos alunos entre turma
de Eletrônica e turma de Mecânica.
O objetivo desta fase é aprofundar os
conhecimentos na disciplina escolhida,
com o início do contato do aluno com a
realidade das empresas.
3
3 meses
Esta etapa é dedicada exclusivamente
ao desenvolvimento de produtos e
equipamentos. As turmas são dividas
em grupos, com integrantes de ambos
os cursos, cada grupo fica responsável
pelo desenvolvimento de um projeto.
O objetivo é que o aluno coloque em
prática e exercite a criatividade. Além
de projetos idealizados pelos próprios
alunos, ocorre aqui um mecanismo
de aproximação entre empresas da
incubadora e escola. Trata-se de
um edital interno, com objetivos
exclusivamente pedagógicos, destinado
às empresas para que enviem projetos
para serem executados pelos alunos.
197
Ater Cristófoli | Eduardo Akira Azuma
Além das duas disciplinas centrais do curso, são desenvolvidas,
também, disciplinas de apoio: Introdução ao Gerenciamento
de Projetos, Introdução à Filosofia e à Cidadania, Conceitos
sobre design do objeto e Introdução à Administração.
Essas disciplinas também são ministradas por professores
voluntários, semanalmente.
Ainda, durante o ano, são organizadas excursões para
as principais feiras do setor de saúde com o objetivo de
aproximar os alunos das principais tendências da área.
2.1.2 Resultados
Durante seus dez anos de atividades, já passaram mais de
250 alunos pela Escola Técnica da Fundação EDUCERE,
sendo que considerável número desse grupo trabalha hoje
em atividades ligadas à área de pesquisa e desenvolvimento.
Nesse sentido e a título de exemplo, o Departamento
de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa Cristófoli
Biossegurança, conta hoje com 50% dos seus colaboradores
egressos da Fundação EDUCERE.
Importante mencionar-se também que todas as doze empresas
originárias do Sistema de Incubadoras contam com pelo
menos 1(um) egresso da Escola Técnica.
Ressalte-se, igualmente, que alunos, cujas idéias foram
desenvolvidas no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento
da instituição, abriram o próprio negócio com o apoio da
Incubadora de Empresas, tornando-se geradores de novos
empregos e de novas tecnologias.
Um caso paradigmático, inclusive como roteiro de percurso
entre todos os setores da Fundação EDUCERE, é a empresa
Saubern. Ela foi fundada por alunos da instituição, cujo
principal equipamento foi desenvolvido no centro de P&D,
que abriram o próprio empreendimento por intermédio
da Incubadora de Empresas. À época, os três estudantes
fundadores dessa empresa tinham entre 16 e 23 anos.
198
COLEÇÃO
O equipamento desenvolvido e hoje comercializado pela
empresa é o único desse tipo produzido em território
nacional. Trata-se da Estação Reprocessadora de Filtros
de Hemodiálise “Quality 1”, finalista do prêmio FINEP de
inovação tecnológica em 2006 – Região Sul.
2.2 Centro de Pesquisa e Desenvolvimento
Esse setor reúne os interesses dos alunos da Escola Técnica
e da Incubadora de Empresas, ou seja, capacitar-se e até
desenvolver um protótipo idealizado por eles, além de
propiciar também o desenvolvimento de novos projetos pelas
empresas graduadas ou incubadas.
Nesse setor, que também privilegia a aproximação entre
alunos, funcionários e empresários, o desenvolvimento de
produtos e equipamentos vem se mostrando cada dia mais
profícuo ao longo desses dez anos.
Com essa participação, as empresas incubadas e graduadas
já desenvolveram vários produtos e geraram onze pedidos
de patente. Dentre os principais equipamentos/produtos
desenvolvidos na instituição, encontram-se os indicados a
seguir.
Quadro 3 - Descrição de Equipamentos e Produtos
produto empresa
Quality 1
Clean Test
Saubern
Médica
descrição
Primeira reprocessadora automática de
filtro dialisador do Brasil. Desenvolvida
por alunos da escola técnica que
posteriormente incubaram uma empresa
para fabricá-lo. O produto já é premiado
pela FINEP e foi comercializado nos
hospitais de referência do país, como
Albert Einstein em São Paulo.
Clean-up Brazil O Clean Test é um indicador biológico
Biotecnologia autocontido utilizado para monitoramento
de ciclos de esterilização a vapor.
199
Ater Cristófoli | Eduardo Akira Azuma
(Continuação do Quadro 3)
produto empresa
descrição
Biojato
Ortus
Destina-se à profilaxia dos dentes, ágil na
remoção da placa bacteriana e retirada
da camada oxidada do amálgama das
restaurações e de manchas extrínsecas,
melhorando o polimento dentário.
Ortusonic
Ortus
Este equipamento de uso odontológico
permite, na periodontia, a remoção de
tártaro (sub e supragengival), aplainamento
e alisador radicular, remoção de manchas
extrínsecas e placa bacteriana.
Banho Maria
Sieger
Destinado ao uso nos mais diversos
- Stern 6
Equipamentos tipos de laboratórios para aplicações
Médicosorológicas, clínicas e analíticas.
Laboratoriais
200
Duo
Biovisium
Dispensador de sabonete líquido e
papel toalha num só equipamento. Com
design inovador, o produto já compôs a
cenografia de novelas e programas de
TV. Os desenhos do equipamento e dos
moldes de injeção foram feitos no centro
de P&D da Fundação Educere.
Nabucha
Medical Via
Láctea
Dispensador de detergente que também
teve todo o seu desenvolvimento realizado
no centro de pesquisa e desenvolvimento
da Fundação Educere. Produto no
mercado e já premiado pela ABRALIMP
– Associação Brasileira do Mercado
Institucional de Limpeza.
O terceiro campo de atuação da Fundação EDUCERE
configura-se pela Incubadora de Empresas. Trata-se de um
mecanismo de apoio àqueles que desejam empreender novo
negócio na área da saúde, permitindo também a transformação
das idéias e projetos surgidos na Escola Técnica e no Centro
de P&D em novos negócios, ou seja, promove a aproximação
da escola com o setor produtivo.
COLEÇÃO
2.3 Incubadora de Empresas
A forma de apoio varia desde o fornecimento de salas
para escritório, mobiliário, internet banda larga, telefone,
serviços de administração, até de laboratórios de eletrônica
e desenho mecânico com as ferramentas básicas para o
desenvolvimento dos equipamentos.
Além de proporcionar consideráveis reduções nos custos
fixos, o mecanismo em referência também reduz sobremaneira
os riscos da empresa, aumentando suas chances de
sobrevivência. Prova disso é que o índice de mortalidade
das empresas geradas na incubadora é zero.
Outra importante forma de apoio caracteriza-se pela rede
de contatos proporcionados pelo Sistema de Incubação, por
não haver concorrência direta entre as empresas, permitindo
troca de informações e experiências entre as mesmas.
A abertura de novos empreendimentos é representada
com, pelo menos, uma nova empresa todo ano, pois, as
mais experientes contribuem para a estabilidade e o
desenvolvimento das nascentes, ou seja, as empresas
graduadas auxiliam na trajetória das empresas incubadas32.
As empresas dispõem também de consultorias para captação
de recursos a serem aplicados no desenvolvimento dos seus
projetos, bem como o apoio institucional dos parceiros da
Fundação EDUCERE.
As empresas denominam-se incubadas, quando ainda estão iniciando suas atividades, sem faturamento expressivo, não têm
capacidade de auto-sustentação, ou não produzem receita suficiente para arcar com todos os custos fixos do negócio. Assim que
elas passam a ter tal capacidade, tornam-se graduadas.
32
201
Ater Cristófoli | Eduardo Akira Azuma
Esse setor da instituição, além de impulsionar novos
empreendimentos, também atua como mola propulsora
para uma cadeia de fornecedores estratégicos para a
sobrevivência de outros empreendimentos, inclusive, de
importância para a própria mantenedora.
Com a geração de novos negócios, a estrutura de manutenção
da instituição caminha também para a descentralização,
sendo diluída entre as novas empresas.
Até o momento, foram geradas as seguintes empresas pelo
Sistema de Incubação, as quais permanecem em atividade e
em crescimento.
Quadro 4 - Descrição das Empresas Geradas
202
empresa
descrição
1) ORTUS
INDÚSTRIA E
COMÉRCIO LTDA
Desenvolve equipamentos para a profilaxia
dentária, como o Bio-Jato e o Ortusonic. Foi uma
das primeiras empresas incubadas pela Fundação
Educere. O know-how adquirido pela empresa
ao longo dos anos permitiu um avançado estágio
de inovação e segurança aos seus produtos,
garantindo eficiência e praticidade ao profissional,
e segurança e qualidade ao paciente
2) SIEGER
EQUIPAMENTOS
MÉDICOS
LABORATORIAIS.
Fabrica e comercializa equipamentos para
laboratórios de análises clínicas, como o banho
maria Stern 6 – Banho-Maria, autoclave Sieger
21, entre outros. A empresa desenvolve produtos
com a tecnologia necessária para obter os melhores
resultados em exames e testes laboratoriais.
3) SAUBERN VIVAX INDÚSTRIA
E COMÉRCIO DE
EQUIPAMENTOS
LTDA.
A empresa Saubern foi incubada em 2002 por
alunos do curso técnico da Fundação Educere,
motivo este que a torna um dos cases de sucesso
não apenas da incubadora de empresas, mas
também da escola técnica da instituição. Todo o
processo de surgimento desta empresa serve como
roteiro paradigmático para os alunos e empresários
da região. A empresa desenvolveu e comercializa
a primeira reprocessadora automática de filtros de
Hemodiálise (equipamento premiado pela FINEP
– Financiadora de Estudos e Projetos, categoria
produto, região Sul).
empresa
descrição
4) VISIUM
BIOSSEGURANÇA
LTDA.
Fabrica produtos de higiene e limpeza, como
dispensers e papel toalha. A empresa foi incubada
na Fundação Educere em 2003 e teve a sua gênese
na busca de soluções e novos produtos na área de
higiene e limpeza institucional, primando pela
criatividade, economia e agregando inovação e
praticidade aos seus produtos, num nicho de mercado
altamente competitivo mas que ainda carece de
produtos realmente inovadores e especializados
para ambientes da área da saúde.
5) CLEANUP BRAZIL
BIOTECNOLOGIA
LTDA.
Desenvolveu e produz o indicador biológico para
monitoramento de ciclos de esterilização a vapor.
Laboratório de pesquisa e desenvolvimento de
produtos e processos biotecnológicos da área de
biossegurança. A empresa desenvolve produtos em
total sintonia com as principais demandas do setor,
e que garantem um indicador de eficiência para
alguns dos equipamentos produzidos por empresas
que compõem a APL.
6) PROJETARE
– PROJETOS
MECÂNICOS LTDA.
Especializada na elaboração de projetos
mecânicos em softwares 3D. A empresa atuou no
desenvolvimento de vários produtos fabricados
pelas empresas que compõem o APL de
equipamentos médico-odontológicos.
7) MGE DO BRASIL
– MONTADORA
GERAL DE
ELETROELETRÔNICOS
LTDA.
A empresa busca desenvolver soluções
tecnológicas na área de eletrônica. Desenvolveu
e é fornecedora das placas e circuitos eletrônicos
para os principais equipamentos médicoodontológicos das empresas que surgiram
na Fundação Educere. A empresa conta com
pessoal qualificado para atender às principais
demandas do setor, além de fornecer produtos
em microeletrônica, eletrônica de potência,
automação, segurança eletrônica, eletrônica
para a linha branca, eletrônica para o controle e
processo da indústria alimentícia.
COLEÇÃO
(Continuação do Quadro 4)
203
Ater Cristófoli | Eduardo Akira Azuma
(Continuação do Quadro 4)
empresa
descrição
8) OP ELETRÔNICA Buscando atender a demanda crescente nesta
LTDA.
área e impulsionada principalmente pelo aumento
no número de empresas que necessitam destes
serviços, a empresa aproveitou o know-how
adquirido neste segmento para não apenas montar,
mas desenvolver circuitos eletrônicos. A empresa
graduou-se em aproximadamente 10 meses e
atualmente fornece placas eletrônicas para vários
equipamentos desenvolvidos por empresas da
região.
204
9) LEVE
EQUIPAMENTOS
LTDA.
A empresa é incubada no sistema de incubação
de empresas da Fundação Educere e tem
como principal objetivo o desenvolvimento de
equipamentos que facilitem o transporte e a
locomoção de pessoas com alguma espécie de
deficiência. A empresa conta com uma gama de
projetos e protótipos já em fase de conclusão,
que trarão o bem-estar e a dignidade das pessoas
portadoras de deficiência além de facilitar o
trabalho dos profissionais que os acompanham.
10) BUSKER
PRODUTOS
ELETRÔNICOS
LTDA.
A empresa Busker foi incubada pela Fundação
Educere em 2007 e tem como principal área
de atuação o desenvolvimento de tecnologia de
produtos em termodinâmica (motocompressores
e bombas de vácuo) para o setor médicoodontológico. Além disso, a empresa também
atua no desenvolvimento de equipamentos e
seus periféricos para terceiros.
11) R&A
Equipamentos
Empresa em fase de Incubação, que desenvolve
equipamentos para a área de saúde, disponibilizando
ao mercado produtos inovadores baseados em
tecnologias como a fotodinâmica.
12) Medical Via
Láctea
Empresa graduada pela incubadora de empresas,
atua na área de utilidades domésticas. Desenvolveu
produto premiado nacionalmente pelo design e
pela inovação.
A convergência e a metodologia de ensino estruturadas
para aproximar conhecimentos teóricos e práticos e para
incentivar a concretização de idéias inovadoras em novos
negócios geraram diversos produtos e equipamentos
colocados no mercado interno e externo.
COLEÇÃO
2.3.1 Resultados
Resultados animadores, pois, os primeiros alunos foram
capacitados e tornaram-se sócios do negócio (de empresas
incubadas na Fundação), enquanto outros passaram a
trabalhar em produtos tecnológicos de alto valor agregado,
que exigem mão-de-obra especializada.
Como reflexo dessa atuação, percebe-se tanto a jovialidade
das empresas como o perfil jovem dos empresários34.
Conforme estudo realizado pelo Instituto Paranaense de
Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), Secretaria
de Estado do Planejamento e Coordenação Geral35, há
considerável número de empresários com idade inferior a 25
anos, reflexo do trabalho focado na cultura empreendedora
estruturada pela Fundação EDUCERE.
À guisa de exemplificação, o diretor da incubadora é ex-aluno
e, agora, possui a própria empresa incubada e outros sete
alunos (com idades entre 18 e 25 anos) tornaram-se sócios de
empresas oriundas dessa instituição.
As 12 empresas geradas pelo sistema de incubação geraram
também cerca de 160 empregos diretos, inaugurando novos
postos de trabalho para os jovens da Escola Técnica e da região.
Todo esse movimento causado pela Incubadora de Empresas
provocou significativo impacto na região e impulsionou a
geração de um Arranjo Produtivo Local (APL) de equipamentos
e insumos médico-odontológicos composto por cerca de 25
empresas, gerando em torno de trezentos empregos diretos.
Portanto, próximo de metade das empresas desse arranjo é
oriunda da instituição.
Esta observação foi constatada também pela pesquisa realizada pelo SEBRAE/PR sobre a APL local e sobre a Fundação EDUCERE.
(disponível em: <http://www.redeapl.pr.gov.br/arquivos/File/ProgDesAPLInsumosEquipMedCampoMourao.pdf> Acesso em: 27/
dez/2007).
34
Arranjos Produtivos Locais do Estado do Paraná: identificação, caracterização e construção de tipologia. Instituto Paranaense de
Desenvolvimento Econômico e Social, Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral. Curitiba: IPARDES, 2006.
35
205
Ater Cristófoli | Eduardo Akira Azuma
A geração de empregos nesse ramo da indústria apresenta
excelente peculiaridade. “Apesar de não contar com
um número significativo de empresas, o APL visitado
tem potencial para adensamento produtivo e geração de
empresas de base tecnológica e empregos de qualidade e
bem-remunerados, sem produção de resíduos ou qualquer
outro impacto ambiental”36.
Outro expressivo resultado a demonstrar as principais
experiências da instituição é constituído pelos produtos/
equipamentos desenvolvidos pela atmosfera que abrange
o ensino, pesquisa e setor produtivo, gerando mais de 45
produtos.
2.4 Apoio à Cultura – Ateliê de Escultura Clássica
O Ateliê de Escultura Clássica da Fundação EDUCERE
teve início no ano de 2003 nas próprias dependências da
instituição. Sua primeira turma era composta por mais ou
menos 15 alunos em sua maioria pertencentes a famílias
de renda média abaixo de cinco salários-mínimos, na faixa
etária entre 14 e 16 anos e com certa aptidão para as artes.
A realidade social desses jovens faz parte de um ciclo
que exige ações afirmativas não apenas para inseri-los
no mercado de trabalho, mas também para oportunizar
alternativas de ofício para aqueles com talentos
subaproveitados. O destino da maioria desses jovens,
principalmente os de baixa renda, é o abandono dos
estudos para exercerem trabalhos de pouca qualificação e
baixa remuneração.
Com o objetivo de oferecer aos jovens talentosos a
oportunidade de aperfeiçoamento e de auto-sustentação por
meio das artes, sem prejuízo da sua educação básica,
surgiu a idéia do Ateliê de Escultura Clássica da
Fundação EDUCERE.
36
206
Ibidem
COLEÇÃO
O projeto utiliza metodologia que vem mostrando resultados
surpreendentes. Os alunos passaram por três etapas, sendo
a primeira de caráter propedêutico e de suma importância
para a qualidade dos trabalhos. Essa primeira etapa durou
dois anos e foi focada no estudo do corpo humano. Os alunos
contaram com um monitor (bolsista da Fundação EDUCERE)
em aulas de segunda a sexta-feira, aprendendo a desenhar
os ossos mais evidentes do corpo humano, os principais
músculos e as necessárias noções de biometria, tudo de
maneira autodidata, utilizando apenas alguns livros de
anatomia. Essa fase foi de salutar importância por lançar
os traços basilares revelados nas esculturas posteriores.
A segunda fase do projeto consistiu na modelagem em argila,
como etapa preparatória para a escultura em pedras. Além
de evitar desperdícios, usando material mais barato para o
início da modelagem em três dimensões, essa etapa também
serviu para selecionar os mais talentosos a fim de dar
continuidade ao projeto, aplicando todos os conhecimentos
adquiridos na etapa anterior.
A terceira etapa definiu os alunos que prosseguiriam no
projeto, selecionando os cinco mais talentosos, todos de família
de baixa renda, para dar continuidade aos trabalhos.
A escassez de recursos financeiros para a compra de
materiais e demais investimentos necessários foi superada
com muita criatividade. Aliás, dessa necessidade de se
produzir esculturas com parcos recursos e com os materiais
disponíveis na região é que surgiu a técnica inovadora de se
produzir esculturas em placas de arenito.
Tais placas têm cerca de 50 cm por 50 cm e são utilizadas na
construção civil. Segundo a arquiteta Janaína Fuchs, CREA/
PR – 33384/d, professora voluntária do projeto: “estas placas
de arenito têm como aplicação principal a construção civil,
sendo utilizadas para revestimentos de paredes, edificações
e decoração”.
Algumas obras, compostas por até 12 placas de arenito, estão
conquistando admiradores e compradores na comunidade e,
atualmente, o projeto está mais perto da auto-sustentabilidade.
207
Ater Cristófoli | Eduardo Akira Azuma
3. CONCLUSÃO: VALE A PENA INVESTIR EM EDUCAÇÃO?
Analisando todo o projeto da Fundação EDUCERE apenas
sob a ótica econômica, ou seja, de forma restrita ao retorno
financeiro de um investimento nestes moldes, a resposta
ainda continua afirmativa. O cálculo é relativamente simples.
Ainda que haja algumas restrições acerca da efetividade
do trabalho voluntário, a somatória dos interesses dos
participantes (seja na busca de talentos, projetos,
realização pessoal, aquisição de experiências, desafios e
demais) acaba fornecendo a força motriz e dando vida a um
projeto idealizado individualmente.
Com esse tipo de engajamento, a busca por soluções criativas
de baixo custo acaba reduzindo gastos com salários, encargos,
materiais e equipamentos, a ponto de os custos fixos de um
projeto como da Fundação EDUCERE serem equivalentes
ao salário de três professores doutores de uma universidade
pública.
Por outro lado, para a empresa que mantém um projeto
semelhante, basta um aluno capacitado e qualificado
montar o próprio negócio, transformando-se em fornecedor
estratégico para a empresa mantenedora, para o projeto se
pagar.
Essa ainda não é a única possibilidade. O poder transformador
da educação e do estímulo à criatividade, com os devidos
mecanismos de apoio para que a idéia ou projeto chegue
ao setor produtivo, também pode gerar lucros, tanto para
a empresa, como para garantir a autonomia do jovem, ou
mesmo, e não menos importante, quebrar o ciclo de pobreza
encontrado no interior do país.
Evidentemente, projetos educacionais não podem ser
analisados apenas sob o prisma econômico. A série de
impactos sociais provocados por verdadeira rede de novos
colaboradores, a cada ano e a cada turma formada, garante
208
COLEÇÃO
um circuito de crescimento exponencial, transcendendo os
objetivos da empresa que deu início ao projeto e passando
a ter importância para toda uma região.
Esse projeto ainda carece de melhorias, de investimentos
e de aperfeiçoamentos, mas, durante toda essa trajetória,
uma conclusão chega claramente e em tempo: projetos de
iniciativa do empresariado, que promovam investimento em
educação, não se caracterizam um jogo de soma zero, ou seja, em
que há necessariamente um vencedor e um perdedor, em
verdade todos saem lucrando.
REFERÊNCIAS
ALVES, Alexandre Florindo et al. Programa de Desenvolvimento
do Arranjo Produtivo Local de Insumos e Equipamentos Médicos
de Campo Mourão. Disponível em: http://www.redeapl.pr.gov.br/
arquivos/File/ProgDesAPLInsumosEquipMedCampoMourao.
pdf Acesso em: 27/dez/2007.
INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO E SOCIAL. Secretaria de Estado do
Planejamento e Coordenação Geral. Arranjos Produtivos
Locais do Estado do Paraná: identificação, caracterização e
construção de tipologia. Curitiba: IPARDES, 2006.
209
210
COLEÇÃO
HOTEL DE PROJETOS INOVADORES
DO SENAI-PR: DESENVOLVIMENTO DO
COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR NA
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Maricilia Volpato e Sonia Regina Hierro Parolin
1. INTRODUÇÃO
O projeto político-pedagógico dos cursos de formação
profissional do SENAI/PR propõe o desenvolvimento de
competências empreendedoras. Em busca de realizá-lo,
percebeu-se premente necessidade de incrementar ações
de curto prazo voltadas para o exercício empreendedor em
ambiente propício para os discentes serem sistematicamente
assistidos na fase inicial desse aprendizado e, ao mesmo
tempo, poderem empreender projetos inovadores com real
viabilidade de mercado.
Dessa forma, o projeto pedagógico transcenderia a relação
ensino/aprendizagem tradicional, oportunizando espaço para
concretizar competências empreendedoras tão requeridas
pelo atual mercado de trabalho, além de disseminar essa
cultura na prática educacional.
211
Maricilia Volpato | Sonia Regina Hierro Parolin
Para tanto, a instituição delineou o Hotel de Projetos
Inovadores (HPI), como pré-incubadora nas suas escolas, com
a finalidade de estimular o comportamento empreendedor
nos alunos por intermédio da pré-incubação de projetos
inovadores.
A necessidade de disseminar a cultura empreendedora nas
instituições de ensino é um imperativo para os dias atuais
e sua disseminação deve ocorrer no intuito de atender às
demandas profissionais requeridas pelo sistema produtivo
no atual contexto competitivo em nível global. Ademais,
o empreendedorismo é fenômeno global que apresenta,
em alguns países, direta correlação com o crescimento
econômico.
No Brasil, o traço ainda mais marcante na promoção
do empreendedorismo é o da necessidade associada
à oportunidade. No âmbito educacional, são raras as
escolas que adotam práticas efetivas de desenvolvimento
de competências empreendedoras nos seus discentes
por inúmeras razões, tanto filosóficas, quanto técnicas e
estruturais.
Aprofundando a questão pela ótica dos projetos políticopedagógicos em geral, os alunos são formados para almejar
trabalho em empresas sólidas, ter empregos estáveis com
salários satisfatórios e com atividades desafiadoras sem
a geração de insegurança ou sensação de incompetência.
Especificamente na educação profissional, também
analisada de modo geral, a formação se dá no preciosismo
da habilidade técnica e é com dificuldade que algumas
práticas pedagógicas conseguem elevar, aos mesmos
patamares de excelência, o aprendizado mais amplo traduzido
no saber ser, conforme será discutido na fundamentação
teórica.
212
Diante dessas dificuldades, considera-se que as práticas
pedagógicas de resultados satisfatórios na formação integral
da pessoa necessitam de serem socializadas. Inclusive, para
se colocar debates que contribuam para seu enriquecimento e
para a identificação de possíveis gaps ainda não detectados.
COLEÇÃO
Por essa perspectiva, o presente artigo tem como objetivo
apresentar a experiência do SENAI/PR com ações de
desenvolvimento do comportamento empreendedor na
educação profissional, mais especificamente a experiênciapiloto da implantação da pré-incubadora denominada
Hotel de Projetos Inovadores (HPI). A adoção dessa prática
procura manter como foco melhorar a qualidade dos
futuros trabalhadores inseridos no sistema produtivo com
a introdução de ferramentas potencializadoras de inovação.
Os aspectos de gestão se apresentam na medida em que
contribuem para o entendimento da experiência em destaque,
de forma complementar.
Do status de novo projeto na escola, a implantação do HPI
vem, paulatinamente, impulsionando a transformação do
trabalho pedagógico já realizado, levando o universo da
educação profissionalizante a adotar em suas referências
curriculares abordagens que dêem conta da universalização
dos fatos e das práticas de empreendedorismo.
2. FACES DO EMPREENDEDORISMO
O empreendedorismo é uma das grandes bandeiras da
sociedade pós-moderna. A necessidade desse movimento tem
forte presença nas discussões cujo foco é o desenvolvimento
e crescimento econômico, social e sustentável. Segundo
Timmons (1994), esse movimento do “empreendedorismo é
uma revolução silenciosa, que será para o século XXI mais
do que a revolução industrial foi para o século XX”.
Nessa revolução, tudo está sendo construído, inclusive a
própria conceituação de empreendedorismo. Um dos desafios
é tornar esse conceito uma plataforma de promoção da
cultura empreendedora. É um processo? Pode-se apreender?
É comportamento, ou perfil das pessoas? Uns são mais
empreendedores do que os outros? Característica cultural de
um povo? A atividade de uma pessoa? Para responder a esses
questionamentos e explicar o fenômeno, há muitas teorias.
213
Maricilia Volpato | Sonia Regina Hierro Parolin
A avaliação epistemológica de Filion (1993) e Pinchot
(1989) afirma que o empreendedor é alguém que imagina/
sonha com algo, que organiza e estabelece metas, planeja
ações para a realização de um sonho. Inclusive, afirma
que o empreendedor deve manifestar condições de definir
parâmetros necessários e os meios utilizados para alcançar o
resultado desejado.
O empreendedorismo pode ser dividido em duas grandes
linhas de pensamento: os comportamentalistas (McClelland,
1972; Filion, 1991) e economistas (Schumpeter, 1982).
Os comportamentalistas atribuem aos empreendedores as
características de criatividade, persistência e liderança
somadas à necessidade de realização e de sucesso. Os
economistas associam empreendedorismo a inovação,
considerando os empreendedores a força direcionadora do
desenvolvimento de um país, pois, interferem na inércia
do mercado. Essa interferência provoca mudanças que
impulsionam a economia.
Para os comportamentalistas, o empreendedor é alguém que
define por si mesmo o que vai fazer (levando em conta seus sonhos,
desejos, preferências, o estilo de vida desejado) e em que contexto
será feito. Dessa forma, consegue dedicar-se intensamente,
uma vez que seu trabalho se confunde com prazer. Filion
(1999) também associa a imagem do empreendedor com sua
capacidade de imaginar e desenvolver visões. Ao imaginar,
ele sonha e ter visões significa estabelecer objetivos para a
realização desse sonho.
214
[...] o empreendedor caracteriza-se por ser uma pessoa criativa,
marcada pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos e
que mantém alto nível de consciência do ambiente em que
vive, usando-a para detectar oportunidades de negócios.
Um empreendedor que continua a aprender a respeito de
possíveis oportunidades de negócios e a tomar decisões
moderadamente arriscadas que objetivam a inovação,
continuará a desempenhar um papel empreendedor. (Filion,
1999, p.19)
COLEÇÃO
Na visão dos economistas, o processo empreendedor
relaciona-se com inovação e desenvolvimento econômico.
Para Schumpeter (1982), novos empreendimentos são novas
combinações e empreendedores, os sujeitos capazes de
realizar essa combinação.
Schumpeter associou o empreendedorismo ao desenvolvimento
econômico e mostrou que ações inovadoras promovem esse
desenvolvimento, por meio do rompimento de paradigmas
estabelecidos. O mesmo autor evidencia que esse
rompimento é o processo de destruição criativa definido
como o impulso fundamental que aciona e mantém em
marcha o motor capitalista. Ou seja, é a forma de buscar
constantemente a criação de novos produtos, novos mercados,
métodos de produção, criação de valores e hábitos de
consumo.
Drucker (2005) corrobora a visão dos economistas, quando
percebe o empreendedor como aquele que pratica a
inovação contínua e sistematicamente sempre em busca
de oportunidades para inovar a inovação. Aquele que,
inconformado com determinismos, busca sempre novas
formas de ver e de fazer as coisas, sendo considerado agente
de mudanças e de inovação.
Empreendedorismo pode surgir na oportunidade e/ou na
necessidade. Um novo processo, produto ou serviço inovador
lançado no mercado pode ser considerado empreendedorismo
por oportunidade (relacionado a inovações radicais ou
incrementais de processo, produto ou serviços). Nesse caso,
instituições de ensino e de pesquisa são fomentadoras da
oportunidade por estarem diretamente ligadas ao processo
de capacitação proporcionando ambientes de aprendizagem
e experimentação contínuas. O empreendedorismo por
necessidade está relacionado à premência de geração de
renda.
Assim, a educação torna-se ferramenta basilar para o
empreendedorismo inovador. Esse processo deve voltar-se
ao desenvolvimento de habilidades que visam à autonomia
215
Maricilia Volpato | Sonia Regina Hierro Parolin
do sujeito, desde a educação fundamental até escolas
técnicas, universidades e centros de pesquisa. Trata-se do
meio mais econômico e seguro de promover a inovação e o
desenvolvimento. No entanto, além da educação, fazem-se
necessárias políticas públicas voltadas para a efetivação
desse movimento.
Como conseqüência, tem-se a consolidação de instituições como
empreendedoras e inovadoras, estimulando crianças, jovens e
adultos a inovar e a empreender desde o primeiro dia de aula.
Por esse lado, Plonski (2007) afirma serem os verbos
empreender e inovar faces da mesma moeda. Assim,
independente do que se possa ter como opção de vida, ser
empreendedor é ser e estar preparado para tornar-se ator
principal de um cenário em que a inovação é a base para
o desenvolvimento econômico, social e sustentável de uma
nação.
Para alcançar esse patamar, o apoio por parte de instituições
públicas e privadas configura-se fundamental para a
efetivação de programas de incubação, pré-incubação e
desenvolvimento de parques tecnológicos. Esses apoios vêm
contribuir efetivamente para o empreendedorismo inovador
e geração de novos negócios.
Essas iniciativas se concretizam com ambientes favoráveis e
estimuladores ao empreendedorismo e com o desenvolvimento
e oferecimento de infra-estrutura básica e suporte para
esses programas. Como resultado, tem-se o fortalecimento
do empreendedorismo inovador, por meio da criação,
desenvolvimento e colocação no mercado de produtos,
processos e serviços inovadores.
216
O empreendedorismo dentro das organizações é outra forma
epistemológica de entender a abrangência desse tema. Do inglês
intrapreneur, pode significar empreendedor interno (Pinchot,
1989) ou o empreendedorismo corporativo (Dornelas,
2003). Seu perfil é o do indivíduo que, isoladamente ou em
equipe, com base em uma idéia inovadora e com liberdade
e incentivo da organização onde trabalha, concentra suas
COLEÇÃO
energias para transformar essa idéia em produto ou processo
de sucesso. O intra-empreendedor desenvolve projetos e
ações inovadoras dentro das organizações.
A formação de perfis empreendedores e intra-empreendedores
no panorama competitivo do mercado de trabalho resulta
de fundamental importância, por preparar pessoas proativas
a aprender a pensar e agir por conta própria com
criticidade, liderança, criatividade e visão de futuro. Isto
significa formar pessoas disseminadoras de inovação com
competências para fazer com que as organizações sejam
capazes de sobreviver em sociedades sustentáveis num
ambiente de constantes mudanças.
Para Filion (2000), faz-se necessário, para alcançar esse
perfil, que as instituições de ensino proporcionem a seus
alunos relação proativa com o aprendizado, livrando-se da
passividade do processo educacional e concentrando-se no
desenvolvimento do conjunto de inter-relações da razão,
intuição e imaginação.
Cabe ressaltar que o movimento de incubadoras, préincubadoras e parques tecnológicos tem se fortalecido
mediante articulações em rede, que vêm ganhando força nas
formulações de políticas públicas governamentais para a
consolidação do empreendedorismo inovador. Como exemplo,
cita-se a Associação Nacional das Entidades Promotoras
de Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC), uma das
primeiras entidades do gênero no mundo com objetivos de
colaborar com entidades para criação, desenvolvimento de
empreendimentos de base tecnológica ou tecnologia de ponta
e de promover empreendimentos de tecnologia avançada
como instrumento de transformação social e cultural do país,
garantindo assim o desenvolvimento endógeno e sustentado
do Brasil.
217
Maricilia Volpato | Sonia Regina Hierro Parolin
3. COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS
Becker e Lacombe (2005) discutem a dimensão individual
das competências na perspectiva da atitude social e pessoal
do profissional, ressaltando a dimensão da aprendizagem
em situações denominadas por Zarifian (1996, in Becker
e Lacombe, 2005) de “eventos” que exigem capacidade
de mobilizar conhecimentos específicos pré-existentes e
próprios para atividades específicas. Seguem a discussão
aportando à afirmação de Le Boterf (1998, in Becker e
Lacombe, 2005) “que a competência aparece na ação do
indivíduo e não existe antes dela” (Becker e Lacombe, 2005,
p. 169).
A noção de competência apresentada pelas autoras contrapõe-se
à noção de competência como repertório de conhecimentos,
habilidades e atitudes, como recursos estáticos acumulados ao
longo do tempo. Requer a noção do “evento”, como situação
que mobiliza de forma prática esses conhecimentos. Dutra
(2004) discute com clareza essa questão e introduz o conceito
de “entrega” que os indivíduos realizam durante os eventos.
Para esse autor, “ao avaliarmos as pessoas pelo que fazem e
não pelo que entregam, criamos uma lente que distorce a
realidade” (Dutra, 2004, p. 28). Fica claro, então, que a noção
de competências está relacionada à capacidade de entrega do
trabalho pelas pessoas, ou como o autor enfatiza, quando há
“competências em ação”.
Ruas (2004, p. 07) defende que “as competências que viabilizem
uma relação mais adequada com a instabilidade do ambiente
acabam por se tornar fundamentais para a sobrevivência e
competitividade das empresas e também para a empregabilidade
das pessoas”. Aponta as competências como: capacidade de
adaptação, flexibilidade, percepção acerca do que não é visível
e nem objetivo, improvisação, criatividade e outras semelhantes.
218
Becker e Lacombe (2005, p. 182) apontam o empreendedor
do ponto de vista de empresa de base tecnológica, que tem
como premissa básica o desenvolvimento de inovação.
COLEÇÃO
Para as autoras, “agir de forma empreendedora” implica
necessariamente ter capacidade para identificar, gerenciar,
explorar oportunidades e vantagens competitivas com foco
no negócio, a fim de concretizar o projeto pré-estabelecido.
Dessa forma, essas competências se materializam com a
aplicação do conhecimento do ambiente, conhecimentos
gerais e teóricos, conhecimentos operacionais, experiências
profissionais, atributos profissionais e pessoais.
No que se refere a comportamento empreendedor na educação
profissional, tem-se procurado desenvolver as competências
propostas por Silva (1999), no âmbito comportamental
e psicológico que norteia o processo empreendedor. As
competências podem ser entendidas em três dimensões:
busca da realização, por meio da identificação de uma
oportunidade e iniciativa para concretizá-la; dimensão
do planejamento, que dará a diretriz de como buscar as
informações para atingir as metas estabelecidas e, por
último, construção de network com parâmetros para buscar
nas pessoas-chave os instrumentos e informações para a
concretização dos próprios objetivos.
4. EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E
EMPREENDEDORISMO INOVADOR
Para a Unesco (2002), a educação deve ser vista de forma
sistêmica, pela qual os indivíduos sejam capazes de buscar:
a) aprender a ser: desenvolver o autoconhecimento sobre
suas competências, comportamentos e autocontrole; b)
aprender a conviver: reconhecer a necessidade de rede
de relacionamento; c) aprender a fazer: obter informações
técnicas e teóricas; d) aprender a aprender: utilizar o
conhecimento teórico e informações que mostrem caminhos
para aprender a fazer com sucesso.
Assim, o empreendedor é o indivíduo capaz de gerar novos
conhecimentos com base nesses saberes acumulados na
sua história de vida, os quais conduzem ao aprender a
219
Maricilia Volpato | Sonia Regina Hierro Parolin
empreender (Dolabela, 2003). A educação é o principal
motor desse processo, pois reúne mecanismos de acionar o
potencial criativo e inovador das pessoas, conduzindo-as em
ações empreendedoras, quando utilizados eficazmente nessa
direção.
Por isso, empreender requer mobilizar conhecimentos,
habilidades e atitudes, traduzidas em “competências
em ação”, conforme Dutra (2004), para melhor inserção
do homem no mundo do/pelo trabalho. São necessárias,
entretanto, condições básicas para realizar essa mudança.
Empreender não é ação única e exclusivamente ensinada nos
bancos escolares, porém, se o meio educacional não pode
gerar isso de forma direta, pode desenvolver um ambiente
que favoreça essa ação e cultura (Dolabela, 2003).
A educação profissional tem se esforçado para ampliar
seu leque de atuação, de forma a aprender a empreender,
embora a mesma ainda seja socialmente entendida em suas
referências curriculares pela função de ensinar o preciosismo
na execução de tarefas específicas. No entanto, instituições
voltadas para a educação profissional vêm notando que a
formação tem de ser dirigida para além das habilidades
somente técnicas. Ela precisa desenvolver competências
multifacetadas com base na habilidade técnica específica e
suas possibilidades de atuação e inovação.
Ressalta-se a sutileza peculiar sobre essa concepção, que
gera polêmicas e interpretações variadas e até distorcidas,
do sentido dado à formação dessas habilidades. A formação
técnica na educação profissional deve se voltar para o
preciosismo técnico, para a excelência da habilidade
profissional e para o domínio da tecnologia utilizada. A
formação por competências na educação profissional deve
objetivar que todo esse preciosismo técnico se desenvolva
em situações problemáticas próprias do mundo do trabalho.
Conforme exposto no item anterior, trata-se da “entrega”
proposta por Dutra (2004) na formação por competências
empreendedoras, a qual acresce novas habilidades e
220
COLEÇÃO
atitudes ao desenvolvimento das competências na educação
profissional.
Nesse sentido, a educação profissional oferecida pelo
SENAI é um processo que tem por finalidade a preparação
do homem para o mundo do trabalho, visando ao
desenvolvimento contínuo de aptidões para o exercício de
uma vida produtiva. A formação profissional entendida pela
instituição não contempla somente o saber fazer, visa mais
além. Visa integrar diferentes formas de educação capazes
de desenvolver o raciocínio crítico e criativo aplicáveis, tanto
no desenvolvimento de suas habilidades e competências,
quanto no exercício de sua função no local de trabalho,
despertando em seus alunos o senso de oportunidade. Dessa
forma, a educação profissional prepara seus alunos, de forma
sistemática, a percorrerem caminhos inovadores por meio de
planejamento e execução de projetos. (SENAI/PR, 2002)
Um mecanismo eficiente de ativar o comportamento
empreendedor entre os alunos é a efetivação de programas
com abordagens voltadas ao estímulo do empreendedorismo.
Na prática, essas ações se efetivam por meio de laboratórios
específicos, onde os alunos têm recursos e apoio para o
desenvolvimento de projetos inovadores, aproveitando o
potencial criativo, inovador e empreendedor dos perfis da
educação profissional. Assim, a adoção de programas de préincubadoras ou hotéis tecnológicos vem favorecer a adoção
de uma cultura empreendedora na sociedade.
5. CONTEXTUALIZAÇÃO DO HPI
O SENAI/PR é uma instituição sexagenária e atua
direta e indiretamente por intermédio de parcerias ou
acordos de cooperação, nas áreas de negócios (nacionais
e internacionais), pesquisas e análises, representação
empresarial, desenvolvimento tecnológico, formação
profissional, saúde ocupacional, lazer e qualidade de vida,
oferta de infra-estrutura e prestação de serviços sociais e
221
Maricilia Volpato | Sonia Regina Hierro Parolin
educacionais. Integra cinco entidades em sua governança,
mantidas por impostos compulsórios, sendo que cada uma
delas tem missão específica com características próprias
de funcionamento, finalidades diferenciadas definidas
por estatuto e processos diferenciados, inclusive, com
autonomia jurídica e orçamentária. Contudo, atuam com
programas e projetos compartilhados voltados ao mesmo
público-alvo.
Moreira Neto (1997, p. 285) justifica a existência desse
tipo de instituição pelo princípio da subsidiariedade, como
reconhecidamente um princípio de direito, na expansão
de entidades intermediárias, em fomento público de forma
colaborativa com o Estado, no intento de promover e
desenvolver plena aptidão, técnica, física ou mental do
homem para progredir no trabalho. Segundo Meirelles (1995,
p. 335), instituições dessa natureza são caracterizadas como
“entes paraestatais de cooperação com o Poder Público, com
administração e patrimônio próprios, revestindo a forma de
instituições particulares convencionais (fundações, sociedades
civis ou associações) ou peculiares ao desempenho de suas
incumbências estatutárias”. Para Cavalcanti (1971, p. 248),
são entidades, cuja existência “(...) escapam à estrutura geral
dos órgãos administrativos. São organizações privadas, mas
criadas por lei e que gozam de certas prerrogativas e a que se
atribuem finalidades mais próximas dos serviços públicos,
do que mesmo privadas e lucrativas. (...) Vivem, essas
entidades, dentro da zona cinzenta que sofre a influência
do Direito Administrativo, embora privadas, por natureza,
origem e estrutura jurídica”.
Para cumprir a finalidade de desenvolver o homem para
o mundo do trabalho, o SENAI, por intermédio dos
Departamentos Regionais em todo o país, realiza cursos
nas modalidades de Aprendizagem Industrial, Técnicos,
Qualificação Profissional, Graduação e Pós-graduação.
222
No Paraná, a instituição atua com essas modalidades em
26 Unidades de Negócio fixas, incluindo três Centros de
Tecnologia, destinadas a transferir tecnologia sob a forma
COLEÇÃO
de educação profissional, prestação de serviços técnicos e
divulgação de informações tecnológicas. Conta, também,
com cinco extensões das unidades de educação profissional,
destinadas ao atendimento das necessidades imediatas
de preparação e aperfeiçoamento de trabalhadores em
seus diferentes níveis, de acordo com as demandas locais.
Além disso, conta com as Ações Móveis que possibilitam
levar o atendimento do SENAI das unidades de educação
profissional até regiões distantes dos centros produtores
do país, por meio dos kits do Programa de Ações Móveis
(PAM).
A gestão dos serviços educacionais, técnicos e tecnológicos está
organizada em coordenadorias localizadas no Departamento
Regional que, por intermédio das gerências regionais,
desenvolvem os programas e projetos das áreas-fim. A
partir de 2004, o SENAI/PR implantou coordenadorias
transversais à educação e serviços técnicos e tecnológicos
(áreas-fim), com o objetivo de viabilizar a implementação
de programas e projetos voltados para a inovação em
produtos e em gestão.
Como estratégia para se reposicionar frente às novas
diretrizes e promover a intensificação dos processos de
gestão da inovação, as implantações abrangeram elementos
considerados centrais para a aprendizagem em todos os
níveis, tais como:
 capacitação da sua força de trabalho para o desenvolvimento
das novas competências centradas no negócio, tanto em
nível técnico, como gerencial;

revisão e modernização dos modelos de gestão adotados,
visando impulsionar a eficiência e a qualidade de seus
serviços e produtos com contínua sustentação;

intensificação da interação e de parcerias com os clientes
e demais instituições.
223
Maricilia Volpato | Sonia Regina Hierro Parolin
Entre as coordenadorias transversais, a instituição implantou o
Programa Inova (nome atual da coordenadoria), com a missão
de disseminar conteúdos e práticas relacionadas à criatividade,
empreendedorismo, inovação e propriedade intelectual. O
SENAI/PR já desenvolvia ações com essas características e
a implantação da coordenadoria proporcionou a valorização
dessas práticas com o aprimoramento das propostas.
O SENAI/PR implementou, ainda, projetos voltados a
promover a disseminação de conteúdos e práticas sobre
criatividade, inovação, empreendedorismo e propriedade
intelectual, visando contribuir mais efetivamente com
a educação profissional, a sustentabilidade e a
competitividade da indústria paranaense, conforme figura a
seguir.
Figura 1 - Fluxo da Gestão da Inovação em Ambientes de Aprendizagem.
Fonte:SENAI/PR. Programa Inova SENAI/PR. Disponível em: www.pr.senai.br
Essa figura traduz um fluxo conceitual que abrange inúmeras
práticas, a respeito da gestão da inovação, que vêm sendo
realizadas no SENAI/PR, caracterizando-a como ambientes
de aprendizagem (ambientes físicos e espaços relacionais),
tanto no meio educacional, quanto nos projetos e nos
processos voltados aos serviços técnicos e tecnológicos da
indústria paranaense.
224
A estratégia da instituição para reposicionar-se frente às
novas diretrizes e promover as mudanças (novos métodos,
estratégias e práticas de trabalho) abrangeu elementos
considerados centrais para a aprendizagem no nível
administrativo, tais como:
capacitação da sua força de trabalho para o desenvolvimento
das novas competências centradas no negócio, tanto em
nível técnico, como gerencial;

revisão e modernização dos modelos de gestão adotados,
visando impulsionar a eficiência e a qualidade de seus
serviços e produtos com sustentação contínua;

intensificação da interação e de parcerias com clientes e
demais instituições.
COLEÇÃO

Nesta coordenadoria, foi desenvolvido e gerenciado o projeto
HPI/ Hotel de Projetos Inovadores entre outros. Para sua
implantação, decidiu-se realizar um projeto-piloto pelo
ineditismo do projeto no SENAI, em nível nacional. Diante
dessa realidade, houve necessidade da testagem do modelo
nos seguintes aspectos:
i) identificação de elementos críticos e estratégicos de gestão
do HPI nas unidades operacionais da instituição;
ii) identificação de elementos críticos e estratégicos do
processo educacional;
iii) avaliação da responsividade dos alunos aos editais do HPI;
iv) análise da efetividade do HPI no desenvolvimento das
competências empreendedoras na comunidade escolar.
Para implantação do projeto, optou-se por realizar o primeiro
piloto na escola SENAI/ CIC/CETSAM, que seguiu estes
critérios:
a) conceito de maior escola do SENAI/PR, com mais de mil
alunos distribuídos nos cursos de Aprendizagem Industrial,
Técnicos e Pós-graduação;
b) atuação anterior com pré-incubação de projetos detendo,
assim, competências em formação empreendedora instaladas
na equipe técnica e na unidade operacional;
c) disponibilidade da equipe técnica da unidade operacional
para as discussões de todos os componentes do projeto, como
equipe de concepção;
225
Maricilia Volpato | Sonia Regina Hierro Parolin
d) proximidade da unidade operacional com o
Departamento Regional, base de trabalho da equipe
de coordenação geral. Este último critério viabilizou
o cronograma de reuniões entre a equipe de discussão
da unidade operacional e a equipe de coordenação do
projeto.
Após a testagem do primeiro piloto, procedeu-se à
implantação do segundo na escola do SENAI localizada
na cidade de Maringá. Com base nesses pilotos, deu-se
prosseguimento à implantação dos HPIs de Ponta Grossa,
Londrina, Cascavel e CIETEP (Curitiba), conforme
demonstrado no mapa do Paraná, na figura a seguir.
Figura 2 - Unidades do Senai com HPI
N
O
Maringá
Londrina
HPI CIETEP
5
L
S
HPI CIC
4
Toledo
HPI Ponta Grossa
Cascavel
2
3
Curitiba
1
Legenda
226
3
Oeste / Sudoeste
2
Campos Gerais
4
Noroeste
1
Curitiba - Metropolitana / Litoral
5
Norte
HPI
O gerenciamento dos HPIs ocorre em estrutura celular com
a coordenação geral do Programa Inova, um responsável
técnico geral e responsáveis técnicos por hotel nas unidades
operacionais. Essa equipe atua de forma compartilhada
com as coordenações de educação e com as coordenações
pedagógicas, conforme plano de ação traçado pelo corpo
diretivo e gestor do SENAI/PR.
COLEÇÃO
6. EXPERIÊNCIA: PRÉ-INCUBADORA
“HOTEL DE PROJETOS INOVADORES”
O Hotel de Projetos Inovadores (HPI) do SENAI/ PR tem
como finalidade contribuir não só com o esforço institucional
de promover a inovação, mas também de fomentar a
capacidade criativa e empreendedora dos discentes e
docentes. Foi um esforço de âmbito local realizado com foco
nacional de consolidação e implantação de uma cultura
sobre a necessidade de melhorias dos índices sociais e de
inovação do Brasil.
O HPI funciona como pré-incubação, cujo objetivo, nesse
estágio, é desenvolver o comportamento e a formação do
empreendedor via disponibilidade de recursos e apoio
para o desenvolvimento do projeto em protótipo e plano
de negócios. O hotel disponibiliza apoio para melhoria do
potencial do projeto, conhecimento de mercado e definição
de novas estratégias. Os projetos podem ser hospedados
por um período determinado de tempo até que estejam
prontos para serem oferecidos ao mercado, incubados ou
para transferência de tecnologia. Os projetos hospedados,
a princípio, demandam tecnologias simples e investimentos
iniciais baixos, mas com potencial de crescimento.
Ressalta-se que o SENAI/PR, por intermédio do Programa
Inova, ao qual o HPI está vinculado técnica e gerencialmente,
adota os seguintes requisitos em todas as suas ações.
a) Criatividade das pessoas para formar novas idéias que
gerem inovações em produtos, serviços, processos ou
inovações organizacionais.
b) Ambiente de estímulo à criatividade e inovação dotado
de competências técnicas e gerenciais que promovam a
receptividade de idéias inovativas, a assunção de risco
de erro, do tempo de implementação de idéias e de apoio
à persistência.
227
Maricilia Volpato | Sonia Regina Hierro Parolin
c) Cultura e estrutura constituídas de bases para se
proceder à transferência das idéias entre os participantes
da organização.
d) Criatividade associada às tarefas e habilidades dos
colaboradores (como input ao processo) e associada
ao comprometimento e às competências individuais e
organizacionais desenvolvidas para a consecução da
estratégia organizacional voltada para as inovações.
Para fazer o acompanhamento quantitativo do HPI, foram
estabelecidos indicadores de seu desempenho. Esses são
medidos de acordo com o limite máximo de hospedagens
física e virtual (máximo de cinco projetos para cada
modalidade e máximo de quatro alunos por projeto)
oferecido por HPI, quanto ao número de:
 alunos participantes dos projetos submetidos aos editais
de projetos;

projetos submetidos aos respectivos editais de convocação;

projetos hospedados;

projetos em eventos de criatividade;

projetos voltados à transferência de tecnologia;

patentes geradas;

projetos graduados;

projetos transferidos para incubadoras.
Dessa forma, o período de hospedagem é concebido como o
ambiente e a estrutura apropriados ao desenvolvimento dos
projetos. Trata-se de ofertar condições aos alunos no período
em que os projetos se encontram no estágio de concepção da
inovação. Nesse estágio, há apenas uma idéia e um plano de
negócios para guiar os primeiros passos.
228
COLEÇÃO
Segundo a ANPROTEC (2002), “incubadora de empresas
é uma organização dotada de mecanismos que estimulam a
criação e o desenvolvimento de micro e pequenas empresas
ou de prestação de serviços, de base tecnológica ou de
manufaturas leves, por meio da formação complementar
do empreendedor em seus aspectos técnicos e gerenciais
e que, além disso, facilita e agiliza o processo de inovação
tecnológica nesse tipo de empresa”.
A figura 3 adiante representa a evolução e a importância
da hospedagem e da incubação com indicação dos estágios
a serem alcançados ao longo do tempo de desenvolvimento
dos projetos.
Figura 3 - Fases do Desenvolvimento de Projetos Inovadores
Estágios
Hospedagem
Projetos Inovadores
Incubação de Projetos
Inovadores
Crescimento
Incubação
Projeto
Experimental
Concepção
Tempo
Fonte: Adaptado de Sena, 2004.
O processo de incubação ocorre justamente quando
termina a hospedagem. Nesse estágio, promove-se a
consolidação e o crescimento da empresa com um protótipo
do produto ou serviço a ser oferecido no mercado ou, então,
a ser incubado, atraindo dessa forma clientes potenciais.
Observa-se que os dois processos se complementam,
aumentando a possibilidade de sucesso do projeto apoiado.
Assim, a hospedagem torna-se vital para o fortalecimento
de projetos, uma vez que contribui profundamente para
229
Maricilia Volpato | Sonia Regina Hierro Parolin
seu amadurecimento em empresas com maiores chances de
sucesso no mercado.
Essa política traduz um comportamento empreendedor
aderente ao proposto na Formação de Competências do
SENAI, cujo conceito de competências é “a mobilização
de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias ao
desempenho de atividades ou funções típicas segundo
padrões de qualidade e de produtividade requeridos
pela natureza do trabalho”. Ressalta-se, portanto, que o
entendimento de mobilização desloca o foco estrito do estoque
e repertório de conhecimentos e habilidades e propõe certa
dinamicidade diante de determinado contexto.
Toda a estruturação de funcionamento e gerenciamento
das atividades desenvolvidas pelo HPI está descrita em
regimento, visando dar direcionamento para as ações
didático-pedagógicas e de gestão. O processo de elaboração
do documento também passou por amplas discussões e
ajustes com o grupo de discussão e foi submetido e aprovado
pela procuradoria jurídica do Sistema FIEP.
Nesse documento é detalhado todo o processo de acompanhamento
das atividades do HPI, realizadas internamente por um grupo
coordenador, cujas funções são de gerir e operacionalizar as
atividades referentes ao HPI. O regimento também contempla
as ações dos professores orientadores para o desenvolvimento
de cada projeto, além de deixar claro os direitos e deveres dos
alunos, enquanto permanecerem hospedados no HPI.
Ainda com relação às funções do grupo coordenador, além
de gerir e acompanhar as atividades do HPI, a principal
atividade é o acompanhamento dos relatórios mensais dos
projetos hospedados com o objetivo de avaliar o andamento
e a evolução dos projetos e dos alunos hospedados. Por meio
desses relatórios, fica possível identificar as dificuldades
ocorrentes e, se for o caso, atuar com os integrantes dos
230
COLEÇÃO
projetos e com os professores orientadores na proposição
de sugestões ou soluções. Por esses relatórios, pode-se
perceber se as competências empreendedoras estão sendo
efetivamente desenvolvidas.
O gerenciamento técnico da célula HPI segue a mesma
lógica de gestão, resguardado seu âmbito de ação. É
realizado por profissional especializado, componente da
equipe do Programa Inova, o qual se articula com os técnicos
responsáveis por HPI nas unidades operacionais (U.O.)
em conjunto com as coordenações pedagógicas, conforme
demonstrado na figura seguinte.
Figura 4 - Gestão do HPI Articulado por Células e por Redes Internas
U.O.
U.O.
HPI
Projeto A
Redes Internas
U.O.
Escolas SENAI / SESI
Projeto
HPI
Programa
INOVA
Projeto B
Projeto C
Redes Internas
SERVIÇOS
TÉCNICOS E
TECNOLÓGICOS
RH
Fonte: SENAI/PR, Programa Inova – HPI.
O aprimoramento da estrutura de gestão dos HPIs, via
célula, pressupõe o desenvolvimento de mecanismo de
gerenciamento virtual em todas as unidades, de forma a
agilizar a comunicação e viabilizar a colaboração entre os
componentes dos hotéis (alunos e docentes) independente
da posição geográfica; o acompanhamento do desempenho e
dos resultados e o compartilhamento de experiências entre
outros benefícios de um sistema de gestão integrado.
231
Maricilia Volpato | Sonia Regina Hierro Parolin
Ao focar um determinado HPI (área geográfica específica), a
gestão local espelha a mesma lógica apresentada anteriormente,
caracterizando as redes locais de interação e abrangendo
parceiros externos como incubadoras, universidades, sindicatos,
empresas e demais.
Dando continuidade ao relato do processo de implantação
do HPI, as ações voltadas ao fomento do comportamento
empreendedor nos alunos seguiram as três etapas discriminadas
a seguir, com obtenção de resultados em formato de funil.
Ou seja, da grande quantidade de alunos e docentes
compreendida na primeira etapa até a seleção dos
projetos abrangendo menor número de alunos, obtendo-se,
portanto, resultados em qualidade, conforme capacidade de
hospedagem do HPI.
Figura 5 - Etapas de Implantação dos HPIs
Fonte: SENAI/PR, Programa Inova – HPI
232
Nessa etapa, até o presente, foram ofertadas palestras sobre
empreendedorismo com apoio do SEBRAE/PR a 3500 discentes
provenientes de vários cursos, de modo permanente, com
palestras e apresentação do projeto HPI e foram capacitados
150 docentes sobre o tema. O maior enfoque foi dado ao papel
do docente e da escola no estímulo ao empreendedorismo nos
alunos.
COLEÇÃO
I. Etapa de ampla sensibilização: comunicação e engajamento
II. Etapa de construção dos projetos: submissão ao edital de
convocação de projetos
Após os workshops sobre elaboração de planos de negócios,
os alunos foram motivados a submeter seus projetos ao edital
de convocação do HPI. Como alunos, em grande maioria,
e vários docentes ainda não tinham experiência com esse
procedimento, a construção dos projetos contou com amplo
apoio de um grupo de docentes e do técnico responsável
pelo HPI, na unidade operacional. Ação que resultou em
79 projetos submetidos ao edital, com total de 197 alunos
participantes em todos os HPIs das unidades do SENAI.
Comparado ao de várias outras incubadoras e ao porte das
escolas a que estão vinculados, esse número é considerado
alto. Estima-se que o empenho do grupo de docentes das
unidades do SENAI e dos técnicos responsáveis pelo HPI,
na unidade operacional, foi decisivo para o alcance desses
resultados.
III. Consolidação e aprofundamento dos projetos: avaliação
e seleção dos projetos para hospedagem
Nessa etapa, foi constituída uma comissão técnica para
avaliar os projetos pelas seguintes perspectivas: escopo
tecnológico, competências profissionais instaladas na
unidade para essas orientações e condições dos seus
componentes para a hospedagem, tais como: disponibilidade
de tempo, interesse e outros. O HPI oferece a modalidade
de hospedagem não presencial visando à flexibilização dos
horários de permanência. Após avaliação dos projetos, os HPIs
233
Maricilia Volpato | Sonia Regina Hierro Parolin
do SENAI/PR estão com 21 projetos em desenvolvimento,
abrangendo 61 discentes. Conforme o regimento, a cada
desistência do projeto e dos alunos participantes, novos
editais são abertos.
No momento, quatro projetos se preparam para graduação
em agosto de 2008. Estes se preparam com uma empresa
parceira, fornecedora para o mercado de aplicação da
inovação dos empreendedores, que se interessou em abrigar
o empreendimento, como nova unidade de negócio de sua
empresa, para exploração conjunta do mercado alvo da
inovação.
No que se refere a comportamento empreendedor, o HPI
tem sido encaminhado para os alunos, conforme as três
dimensões propostas por Silva (1999), ou seja, a busca
da realização, por meio da oportunidade da hospedagem
assistida dos projetos; o planejamento, pela elaboração
e desencadeamento do plano de negócios de projetos; na
formação de network, com a busca de pessoas basilares
para a coleta de informações para a concretização dos
próprios objetivos, como na transferência de tecnologia,
por exemplo.
Em relação à qualidade dos projetos, todos apresentam
inovação e potencial de patenteamento com variações nas
densidades tecnológicas. O SENAI/PR, por intermédio do
Núcleo de Orientação de Propriedade Intelectual (serviço
também ofertado pelo Programa Inova), assessora os alunos
e docentes na busca de anterioridades e no encaminhamento
do pedido de patentes.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
234
Na sociedade do conhecimento, percebe-se nitidamente a
tendência de aumento do número de pessoas trabalhando
informalmente, por conta própria, em suas respectivas
casas. Sabe-se, todavia, que somente terão sucesso
aqueles que, em sua atividade, desenvolverem habilidades
COLEÇÃO
e qualidades que os diferenciem dos outros trabalhadores.
É preciso, portanto, que haja engajamento na realização
dessas atividades, dedicação e comprometimento para que
permaneçam atuantes nessa nova economia.
Analisando a característica social e empresarial da sociedade
brasileira, a necessidade e a disposição para o trabalho
estão presentes, porém, não basta apenas “querer fazer” é
preciso “saber fazer” e conseqüentemente é preciso oferecer
condições para “poder fazer”.
A experiência com empreendedorismo do SENAI/PR,
conforme se propôs mostrar por este artigo, apresenta
relevância no aprendizado dos seguintes aspectos:
a) elementos críticos e estratégicos de gestão do HPI
As principais dificuldades encontradas na implantação do
HPI referem-se à absorção dessa cultura por alguns docentes,
ao se considerar que eles, para dar a orientação sistemática
aos projetos, necessitam de se comprometer, requerendo
o autodesenvolvimento continuado dos participantes do
processo. Portanto, o engajamento dos docentes é considerado
um dos elementos fundamentais do processo e a instituição
vem estudando alternativas de valorização do docente que
orienta projetos hospedados.
Por uma visão mais ampliada sobre o papel da cultura no
pleno desenvolvimento do projeto HPI, conforme Ruas
(2005), verifica-se a necessidade de rever a forma dominante
de pensar projetos de mudança e melhoria na empresa
brasileira, pois, grande parte dos projetos em organizações
públicas e privadas, a partir de determinado período,
apresenta dificuldades para prosseguir numa rota de
resultados positivos e de atingir a organização em geral. As
empresas alegam inúmeras razões, entre elas, a inadequação
do programa adotado; problemas com a metodologia de
implantação; falta de comprometimento da alta direção ou
gerências médias e alegações mais raras como a carência de
competências gerenciais adequadas ao processo.
235
Maricilia Volpato | Sonia Regina Hierro Parolin
Apesar de o projeto HPI ser fruto da estratégia do SENAI/PR para
ser reconhecido como indutor da inovação para a indústria,
percebe-se a necessidade de atuação sistemática com os
gestores para o fortalecimento e sustentação da crença sobre
a relevância do HPI na educação profissional. Dessa forma,
acredita-se que, quanto mais essa crença se sedimentar,
mais facilmente as práticas empreendedoras na organização
encontrarão espaços de expansão e realização ao longo
do tempo. Ainda mais, espera-se que essa sedimentação
propicie ao projeto HPI resistir às mudanças organizacionais
provenientes dos processos eletivos do grupo diretivo no
nível de governança da instituição.
b)elementos críticos e estratégicos do processo educacional
As principais dificuldades encontradas pelo processo
educacional referem-se à necessidade de se incluir
disciplinas específicas de empreendedorismo na grade
curricular dos cursos oferecidos pelo SENAI/PR. O tema
ainda é tratado de forma tangencial na formação profissional
dos alunos por meio de disciplinas de gestão. No entanto,
há necessidade de maior aprofundamento sobre o tema
em questão, seja para atender diretamente à expectativa
de inovação, seja para o mercado de trabalho, que vem
requerendo trabalhadores com essas competências.
Ademais, a obrigatoriedade de realização de projetos de
final de curso nas grades curriculares alavanca de maneira
sistêmica o processo empreendedor e inovador dos alunos e,
por conseqüência, da instituição.
c) responsabilidade dos alunos quanto aos editais do HPI
236
Por se tratar do resultado de um projeto inédito e inovador
para o SENAI, percebe-se que foi necessário intenso
trabalho de sensibilização dos alunos e docentes. Primeiro,
para conhecer o projeto e, segundo, sobre como o HPI se
adequaria aos propósitos dos alunos interessados. Pode-se
afirmar que, nesse processo, a responsividade inicial foi
traduzida na quantidade de alunos presentes na etapa de
sensibilização e comunicação. Mas, principalmente, em
COLEÇÃO
relação à quantidade, obteve-se retorno além da expectativa
inicial de projetos submetidos aos editais. Acredita-se que
ainda não foi possível abranger a dimensão do trabalho
realizado.
Nesse sentido, o resultado obtido foi bastante positivo, pois,
além da mobilização dos alunos, os projetos apresentados
seguiram criteriosamente os itens estabelecidos. Percebeu-se,
igualmente, a qualidade dos projetos, tanto pelo entusiasmo
dos candidatos a uma vaga de hospedagem, quanto pela defesa
oral, quando puderam expressar suas emoções, dando-se
conta da importância do seu projeto, do processo pelo qual
estavam passando e como esses poderiam mudar de maneira
substancial sua vida nos campos pessoal e profissional.
d) efetividade do HPI no desenvolvimento das competências
empreendedoras na comunidade escolar
Todas as dimensões das atividades desenvolvidas com o
projeto HPI têm-se apresentado, na comunidade escolar,
como diferencial na formação profissional dos alunos do
SENAI/PR. Esse diferencial apresenta-se na internalização
das competências empreendedoras às quais a formação
profissional por si só não corresponde. Dessa forma,
considera-se que o universo da educação profissionalizante
deve adotar em suas referências curriculares abordagens
que possibilitem a universalização dos fatos e as práticas de
empreendedorismo.
Ampliando suas atividades em 2008, o SENAI e o SESI, por
meio do HPI, adotaram novas linhas de atuação. A partir
de então, o HPI passa a receber projetos, não só de cunho
tecnológico, mas também voltados para inovações sociais.
Com isso, os alunos do Colégio SESI/PR poderão apresentar
seus projetos e desenvolvê-los no HPI com a mesma
metodologia já utilizada no desenvolvimento de projetos
tecnológicos do SENAI.
237
Maricilia Volpato | Sonia Regina Hierro Parolin
Essa diretriz estratégica SESI/SENAI consolida uma
fase de amadurecimento da metodologia dos HPIs, que
conta com projetos incubados alinhados com as reais
necessidades da indústria. Nessa nova fase, as parcerias entre
as unidades SESI/SENAI (onde os HPIs estão instalados)
e o mercado serão ainda mais estreitas. A expectativa é de
maior aproveitamento das idéias dos alunos, tanto no SENAI,
como no SESI, no desenvolvimento de projetos inovadores
de âmbito tecnológico e social.
Para concluir, considera-se que o desafio do projeto é o de
voltar-se para as ações, que conduzam os alunos empreendedores
e seus projetos inovadores, propiciando-lhes tornarem-se
bem-sucedidos, com uma cultura empreendedora endógena
instaurada na estratégia da organização e alinhada em todas as
instâncias da gestão do cotidiano organizacional.
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240
COLEÇÃO
SENAI-SC E INCUBADORAS DE
EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA:
MODELO DE GESTÃO
Hildegarde Schlupp, Natalino Uggioni e Elisangela de Souza de Paiva
RESUMO
O objetivo deste artigo é apresentar a atuação do SENAI/SC na
gestão de incubadoras de empresas de base tecnológica. Essa
instituição implementou e gerenciou a operacionalização de
três Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica (IBTs),
no âmbito do Projeto Pégaso, por meio de parceria entre
a Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina
(FIESC) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID).
Essas incubadoras estão estratégica e geograficamente
distribuídas pelo estado de Santa Catarina, contribuindo
para a geração de novos postos de trabalho e aumentando a
competitividade dos novos empreendimentos. Os ambientes
estão estruturados de forma flexível, portanto, podem
241
Hildegarde Schlupp | Natalino Uggioni | Elisangela de Souza de Paiva
ser facilmente adaptados para atender às necessidades
das empresas nascentes interessadas em ingressar nas
incubadoras. Nessas IBTs, são realizadas estreitas relações
com o meio empresarial pela transferência de conhecimento
e resultado de pesquisas das entidades promotoras de
informação e produtoras de tecnologia.
Além do mais, deve-se ressaltar a mudança de mentalidade
provocada por pesquisas, desenvolvimento e inovação na
modernização dos sistemas produtivos nas estratégias locais
e regionais, considerando as necessidades momentâneas e
emergentes.
O SENAI/SC, instituição voltada para a educação
profissional, ciente das mudanças ocorridas no mundo
do trabalho e buscando cada vez mais fortalecer o
empreendedorismo no estado, tem seus novos cursos
estruturados na metodologia de ensino por competência e,
também, implementado o Programa SENAI/SC de Inovação,
Desenvolvimento e Transferência de Tecnologia.
1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento econômico e social do estado de Santa
Catarina alcançou bons resultados durante o período em que
o modelo econômico brasileiro era fechado e privilegiava a
substituição de importações com subsídios, alto crescimento da
renda, parques industriais diversificados e distribuídos em
pólos regionais com boa distribuição de renda. Esse modelo
vigorou até o início dos anos 1990.
242
Com a globalização e a conseqüente abertura para importação
em todos os níveis, muitos setores industriais importantes
(têxtil e de confecção, de alimentos, de couro e calçados,
metal-mecânico e cerâmico/materiais) sofreram significativos
impactos negativos, alguns deles irreversíveis: descontinuidade
de produção, erosão dos lucros e desemprego.
COLEÇÃO
A sobrevivência desses setores dependeu do rápido ajuste
a modelos de gestão de empresas, identificação de fatores
reais e permanentes de competitividade, investimento
em modernização tecnológica do parque produtivo, busca
de alternativas de negócios e novo desenho da política
industrial.
Dentro desse novo enfoque empresarial de Santa Catarina,
está a transformação do desempregado qualificado e do
universitário recém-formado e sem oportunidade de emprego
em empreendedores capazes de gerar o próprio negócio
(produto ou serviço de alto valor agregado).
Nesse contexto, considerando as conclusões da pesquisa
sobre competitividade sistêmica da indústria catarinense
realizada em 1996 pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL) de
Santa Catarina em cooperação com o German Development
Institute (GDI) da Alemanha, foi elaborado o Projeto
Pégaso com o objetivo de aumentar a competitividade e a
produtividade da indústria catarinense e promover a geração
de novos empregos.
De acordo com Sáenz, Capote (2002, p. 48), “a tecnologia se
alimenta de três fontes distintas: do conhecimento científico,
do trabalho tecnológico em si mesmo e da prática concreta”.
Assim, para uma nova tecnologia ser bem-sucedida, deve
inserir-se em um amplo sistema que possa introduzir
mudanças nas tecnologias já adotadas, cujos conhecimentos
possam ser transformados em novos produtos/processos com
alto valor agregado constituindo num diferencial para quem
os desenvolve e para quem os aplica.
Dessa forma, torna-se de suma importância acompanhar o
processo de desenvolvimento da tecnologia, pois, mediante
a análise de uma idéia, são selecionadas propostas de
solução, optando-se pela mais viável economicamente.
A partir de então, inicia-se o processo de análise de mercado
e de viabilidade técnico-econômica para verificar se essa
opção é realmente viável ou não, podendo, posteriormente,
243
Hildegarde Schlupp | Natalino Uggioni | Elisangela de Souza de Paiva
constituir-se numa nova empresa candidata ao processo de
incubação.
O objetivo geral desse projeto, portanto, é a geração de
novos empregos e a modernização das médias, pequenas
e microempresas pela inserção de novas tecnologias para
permitir o aumento da renda com a incorporação de maior
valor agregado à produção.
Seus objetivos específicos, definidos na Federação das
Indústrias do Estado de Santa Catarina (1997, p. 09),
destacam-se a seguir:
 capacitar as microempresas, as pequenas e as médias,
do estado de Santa Catarina, para a geração de novas
tecnologias especialmente nos setores de automação
industrial, eletrometalmecânica e matrizaria, cerâmica e
agroindústria;
244

capacitar profissionais para os setores industriais, visando
à incorporação de novas tecnologias nos processos
produtivos;

incentivar a criação de novas empresas de base tecnológica
por meio de mecanismos que valorizem e estimulem a
capacidade empreendedora, apoiando o desenvolvimento
de novas tecnologias;

promover o desenvolvimento gerencial dos microempresários
e dos pequenos, dos pesquisadores de universidades e
centros de pesquisa e de estudantes universitários, que
tenham por meta a criação e o desenvolvimento de novos
empreendimentos;

inserir a variável ambiental no processo de desenvolvimento
econômico do estado, conscientizando os empresários
para a adoção de técnicas de preservação ambiental e
para a introdução de tecnologias que minimizem efeitos
causados pelos resíduos da produção industrial;

integrar diferentes parceiros na constituição desse
processo como universidades, centros de pesquisa e

identificar empreendimentos passíveis de se transformar
em empresas com interesse em explorar, industrial e
comercialmente, os resultados de pesquisas disponíveis
nas instituições de ensino e pesquisa e nas indústrias;

identificar microempresas de base tecnológica em
funcionamento com interesse em se realocar e, durante
determinado período, residir nas incubadoras, desde que
não participantes de outros projetos de fomento;

definir mecanismos para facilitar o entrosamento de
professores, pesquisadores e profissionais, que se
transformarão em empresários, identificando canais e
procedimentos ágeis e permanentes, que induzam os
relacionamentos formais e informais;

definir procedimentos para facultar o acesso das micro
e pequenas empresas a laboratórios coletivos, bem como
a equipamentos e recursos humanos das instituições
de ensino e pesquisa, estabelecendo sistemática de
remuneração apropriada;

capacitar novos empreendedores em áreas relacionadas
ao seu negócio especialmente nos seguintes aspectos:
(a) procedimentos de atualização tecnológica do
produto, processo ou serviço; (b) gestão do processo de
inovação tecnológica e formas de relacionamento entre
as empresas e o setor de ensino/pesquisa; (c) gestão de
modernização empresarial (produtividade, qualidade
e competitividade), associativismo e uso de serviços
de forma compartilhada; (d) novos métodos de gestão
utilizados nas áreas administrativa, financeira, de
marketing, de divulgação e de comercialização;
COLEÇÃO
escolas técnicas; poder público e suas agências de
fomento e financiamento; Federação das Indústrias do
Estado de Santa Catarina, Serviço de Apoio às Micro
e Pequenas Empresas, Associações Comerciais e
Industriais e entidades de classe;
245
Hildegarde Schlupp | Natalino Uggioni | Elisangela de Souza de Paiva

coletar e difundir informações sobre oportunidades
tecnológicas e de mercado, facilitar acesso a bancos de
dados e outras fontes de informação que identifiquem
tecnologias disponíveis, recursos humanos, laboratórios,
agentes de financiamento e tendências internacionais;

identificar as necessidades das micro e pequenas
empresas de base tecnológica referentes a espaço físico e
demanda de infra-estrutura e serviços compartilhados;

acompanhar o crescimento e consolidação dos diversos
empreendedores, definindo critérios para a seleção
de empresas a serem instaladas, a permanência das
empresas nas incubadoras e a orientação concernente à
instalação definitiva da empresa em outro local;

assegurar o aumento da oferta de emprego por meio de
melhores condições de sobrevivência para as micro e
pequenas empresas de base tecnológica;

inserir a variável ambiental no processo de
desenvolvimento econômico do estado, conscientizando
os empresários para a adoção de técnicas de preservação
ambiental e para a introdução de tecnologias que
minimizem efeitos causados pelos resíduos da produção
industrial;

estimular a participação da mulher no cenário
econômico do estado.
O centro da proposta do projeto é mostrar que o
conhecimento trazido para o Brasil e o produzido pelas
universidades brasileiras, ou pelas indústrias, podem
beneficiar o cidadão catarinense por meio da formação de
empresas de base tecnológica.
246
Assim, far-se-á o conhecimento chegar mais facilmente
ao mercado mediante esforços compartilhados e parcerias
realistas que incorporem os papéis e referenciais do governo,
do setor produtivo e das instituições de ensino e pesquisa.
O escopo é a geração de produtos intensivos com valor
COLEÇÃO
agregado especial (o saber e a inteligência) que permita
maior valoração comercial e aumento de competitividade.
A expectativa geral é de que esse projeto reforce a
competitividade e a produtividade da indústria catarinense,
como conseqüência das inovações tecnológicas desenvolvidas
pelas empresas residentes apoiadas, beneficiando principalmente
os setores focados no programa.
2. DESENVOLVIMENTO DAS INCUBADORAS DO SENAI-SC
O projeto das incubadoras do SENAI/SC é resultado de
cooperação técnica com a FIESC, por meio do IEL/SC e o
BID, no montante de US$ 7 milhões.
O SENAI/SC gerencia e operacionaliza três Incubadoras
de Empresas de Base Tecnológica (IBTs) distribuídas pelo
estado de Santa Catarina com base em critérios estratégicos e
geográficos, com a finalidade de criar novos postos de trabalho
e aumentar a competitividade dos empreendimentos
instalados. Esses locais estão estruturados de forma
flexível, a fim de facilitar sua adaptação no atendimento das
necessidades das empresas interessadas.
Essas IBTs desempenham estreita relação empresarial pela
transferência de conhecimento e resultados de pesquisas
da própria instituição, bem como de outras entidades
promotoras de informação e produtoras de tecnologia,
promovendo agregação de valor às atividades empresariais
fundamentadas no conhecimento e na tecnologia.
Nesse cenário, encontram-se inseridas: Incubadora de Base
Tecnológica de Joinville (MIDIVILLE), localizada nesse
pólo da região norte do estado, cujas áreas temáticas são
a automação industrial e a eletrometalmecânica; o SENAI/
Joinville, unidade prestadora de apoio logístico e operacional;
Incubadora de Base Tecnológica de Criciúma (MIDISUL),
cujas áreas temáticas de conhecimento são a cerâmica e os
materiais, com apoio logístico do SENAI/Criciúma, cidade
247
Hildegarde Schlupp | Natalino Uggioni | Elisangela de Souza de Paiva
pólo da região sul do estado; Incubadora de Base Tecnológica
de Chapecó (MIDIOESTE), que oferece a agroindústria como
área temática de conhecimento, apoiada pela unidade de
Chapecó, cidade pólo da região oeste.
As unidades, que oferecem apoio às empresas residentes
nas incubadoras, têm suas funções estratégicas alinhadas ao
modelo de gestão dos Centros de Tecnologia definidos pelo
SENAI (Departamento Nacional), no documento Centros
Nacionais de Tecnologia do SENAI – Projeto de implantação
e dinâmica de funcionamento (Rio de Janeiro, 1993) por
meio da Educação Profissional e de Serviços Técnicos e
Tecnológicos. Suas principais atividades são as destacadas
adiante.
Educação Profissional
Processo realizado com a finalidade de preparar pessoas
para o exercício pleno da cidadania e com qualificação
para o trabalho, visando ao permanente desenvolvimento
de aptidões para a vida produtiva. Integrado às diferentes
formas de educação, incorpora atividades que desenvolvem
o raciocínio crítico e criativo, podendo ocorrer em
instituições especializadas ou no próprio local de trabalho
(LDB 9.394/96, artigos 39 e 40 e Decreto 2.208/97, artigos
1.º e 2.º, apud SENAI/DN/2002, p. 17 a).
Contempla os seguintes níveis:
Nível Básico – Aprendizagem Industrial e Qualificação
Profissional
Nível Técnico – Técnico de Nível Médio e Especialização
Técnica
Nível Superior – Curso Superior de Tecnologia
Pós-Graduação – Nível Especialização em programas
presenciais e a distância
248
Constituem-se de ações destinadas à criação e/ou melhoria
de processos e produtos ou ao desenvolvimento de
conhecimentos e informações sobre os mesmos, bem como
à certificação de pessoas (SENAI/DN/2002, p. 18 b). Estão
inseridos em sua linha de serviços:
COLEÇÃO
Serviços Técnicos e Tecnológicos
a) Desenvolvimento Tecnológico: uso do conhecimento
técnico-científico para produzir novos equipamentos,
materiais, produtos e sistemas, ou efetuar melhorias;
realização de pesquisa aplicada e desenvolvimento
experimental de produtos/serviços e de sistemas.
b) Serviços Técnicos Especializados: serviços cuja rotina
de execução já esteja padronizada, preferencialmente,
fundamentada em normas técnicas ou procedimentos
sistematizados, tais como:
 Serviços laboratoriais: ensaios e/ou teses/análises e
serviços metrológicos.

Serviços operacionais: instalação e montagem de máquinas
e equipamentos; fabricação e reparação de peças.
c) Assessoria Técnica e Tecnológica: atividades voltadas
para a solução de problemas em empresas e instituições,
visando à melhoria de sua qualidade e produtividade;
trabalhos de diagnóstico e recomendações no campo da
gestão, bem como correção de problemas técnicos na
produção de bens e na execução de serviços (SENAI/
DN/2002, p. 20 b). Compõe-se dos seguintes setores.
 Assessoria e Consultoria em Gestão Empresarial:
implantação e melhoria de sistemas de gestão de
qualidade; planejamento e administração estratégica;
gestão de pessoas; APPCC (Análise de Perigos e Pontos
Críticos de Controle).
249
Hildegarde Schlupp | Natalino Uggioni | Elisangela de Souza de Paiva

Assessoria e Consultoria em Processo Produtivo: implantação,
redefinição e otimização de processos; diagnóstico e
elaboração de produtos industriais; uso eficiente de
energia; gestão de manutenção; controle estatístico
do processo; assessoria e consultoria em propriedade
intelectual e industrial.

Assessoria e Consultoria em Meio Ambiente: implantação
e melhoria de sistemas de gestão ambiental (ISO 14.000);
tratamento de águas e efluentes; reaproveitamento de
resíduos industriais.

Assessoria e Consultoria em Educação: elaboração de
currículos e programas; projetos educacionais.
Informação Tecnológica
Essa atividade engloba captação, tratamento e disseminação
de todo tipo de conhecimento relacionado com o modo de
fazer um produto ou prestar serviço para colocá-lo no mercado,
sendo de natureza técnica, econômica, mercadológica,
gerencial e demais (SENAI/DN/2002, p. 22 b), conforme
citado a seguir.
 Elaboração e Disseminação de Informações (Serviços
de Documentação): disseminação seletiva de informação;
elaboração de publicações técnicas e apostilas;
fornecimento/locação de publicações técnicas; pesquisa
bibliográfica; resposta técnica e extensão tecnológica.

Eventos Técnicos: organização e realização de workshops;
seminários e palestras.
Certificação de Pessoas
Por meio desse processo, pode-se reconhecer formalmente
o indivíduo que demonstra conhecimentos, habilidades e
atitudes necessárias ao desempenho de suas funções em
determinada profissão (SENAI/DN/2002, p. 23b).
250
COLEÇÃO
As incubadoras do SENAI/SC estão focadas em facilitar
a longa travessia entre o protótipo de laboratório e a
concretização da atuação da empresa no mercado. Daí a
importância da infra-estrutura e das atividades associadas
ao suporte operacional, marketing, comercialização e
divulgação, proporcionando condições favoráveis ao
surgimento de novas empresas ou ao aperfeiçoamento
das já estabelecidas, para que definam a forma como
seus produtos serão criados e fabricados, a que preço e
durante quanto tempo, considerando-se o ciclo de vida dos
produtos.
Devem também fomentar a base e a capacitação dos
empresários para que enfrentem com maior segurança
os obstáculos interferentes no mundo da pesquisa e da
realidade empresarial, de que a competitividade (qualidade,
produtividade e preço) é fator determinante de sucesso.
O projeto que originou esse processo foi elaborado pelo
SENAI/SC, o IEL/SC e o SEBRAE/SC, que consideraram
os seguintes requisitos indispensáveis para o sucesso de
empreendimentos de base tecnológica (Federação das
Indústrias do Estado de Santa Catarina et al, 1997, p.32):
 demanda;

viabilidade técnica e comercial;

parceiros comprometidos com o desenvolvimento;

apoio político e disponibilidade de laboratórios e de
recursos humanos;

disponibilidade de espaço físico apropriado;

existência de incentivo e de linhas de financiamento
apropriadas;

gestão do fomento a cargo de entidades do setor privado e
participação governamental minoritária e decrescente;
251
Hildegarde Schlupp | Natalino Uggioni | Elisangela de Souza de Paiva

experiência na geração e administração de empresas de
base tecnológica;

clima favorável e personificação dos projetos;

localização nas imediações de instituições de ensino e
pesquisa;

centros de instrumentos de precisão;

centros de prestação de serviços especializados de
precisão;

ferramentas de software e plataforma de hardware;

gestão política dos esforços e direcionamentos sob
comando de instituições da representação empresarial.
O modelo de gestão das incubadoras implementado no
SENAI/SC utiliza mecanismo de fomento industrial
materializado num espaço físico especialmente configurado
para abrigar empresas de base tecnológica dispostas a
transformar idéias em produtos e processos em serviços.
Além disso, esse projeto constitui-se numa ponte entre
o mercado e o desenvolvimento tecnológico gerado nas
instituições de ensino e investigação ou derivado de outras
empresas, levando os produtos originados no mundo da
investigação aos consumidores potenciais.
A base para esse modelo de gestão está fundamentada nos
critérios de excelência da FNQ (Fundação Nacional da
Qualidade), modelo solidificado no mercado e embasado
em requisitos de gestão claramente definidos e específicos,
os quais conferem um diferencial competitivo na forma de
atuação no mercado às organizações que os utilizam.
Critérios para Seleção
As empresas interessadas devem apresentar um plano de
negócios comprovando: produto intensivo em tecnologia;
252
COLEÇÃO
projeto tecnicamente viável; retorno comercial; estrutura
de capital; adequação aos objetivos do projeto; atendimento
à legislação ambiental.
Forma de acesso à Incubadora
Para ter esse acesso, as empresas deverão obedecer às seguintes
etapas: pré-qualificação de empreendimentos; qualificação
dos candidatos; classificação final.
Infra-estrutura de Uso Compartilhado
Além do espaço físico para instalação das empresas
residentes (módulos), são oferecidos: auditório, salas de
reunião, reprografia e encadernação; sala de capacitação,
programas de treinamento, intranet, recepção, serviço de
limpeza, vigilância e acesso aos laboratórios das unidades
do SENAI/SC.
Resultados esperados
Destacam-se: redução da taxa de mortalidade das empresas;
geração de inovação tecnológica; geração de postos de
trabalho; transferência de tecnologia entre universidades,
centros de pesquisa tecnológica e empresas; realização
de taxas de crescimento acelerado entre as empresas
incubadas; influência na cultura tecnológica da região.
O modelo de gestão implementado vincula a gestão das
incubadoras ao gerenciamento das unidades às quais
estão ligadas. Assim, as incubadoras se configuram
núcleos de negócios dessas unidades, focadas nas ações de
empreendedorismo e de geração de novos negócios.
Esse modelo garante a sustentabilidade técnica necessária
à disponibilização dos laboratórios onde estão instalados
os recursos humanos e tecnológicos para suporte ao
desenvolvimento das atividades das empresas.
253
Hildegarde Schlupp | Natalino Uggioni | Elisangela de Souza de Paiva
É unânime a opinião das empresas residentes, quanto à
valorização de estarem usando as instalações do SENAI/SC
e da FIESC, como fator que abre portas para a concretização
dos negócios de interesse das empresas, bem como de
referencial para a conquista de novos clientes e mercados.
As incubadoras do SENAI/SC propõem-se ao fomento
de geração de empresas, materializado em um espaço
físico especialmente configurado para abrigar as de base
tecnológica dispostas a transformar idéias em produtos,
processos ou serviços, utilizando equipamentos, infraestrutura e serviços de forma compartilhada.
Constituem-se, também, na ponte entre o mercado e o
desenvolvimento tecnológico gerado nas instituições de
ensino e de pesquisa dentro de outras empresas, ou ainda
dentro da própria instituição mantenedora, visando levar os
produtos originados no mundo da pesquisa aos consumidores
potenciais.
Depois de alguns anos de atuação, percebe-se aproximação
voluntária por parte de formandos da universidade local e da
estadual em busca de espaço para desenvolver e implementar
suas idéias.
Estrutura de Gestão
Essa estrutura é composta pela entidade gestora financeira
das três incubadoras, o IEL/SC, com recursos do BID no
Projeto Pégaso e, administrativamente, pelo SENAI/SC,
encarregado de promover e facilitar o intercâmbio com os
parceiros no processo de inovação tecnológica.
254
A estrutura das incubadoras baseia-se em um Conselho
Diretor, uma Gerência Executiva e um Comitê de
Consultores, que na sua operacionalização estão assim
implementados:
 Conselho Diretor: órgão colegiado que detém o poder
originário e soberano das incubadoras, composto
por representantes do IEL/SC, SENAI/SC, entidades

Gerência Executiva: instalada em cada incubadora
e constituída por um gerente, um consultor, uma
secretária e um assistente administrativo, sendo
responsável pelo funcionamento da infra-estrutura física
e operacional colocada à disposição das empresas. A
direção dos Centros de Tecnologia também exerce o
papel de Gerente da Incubadora.

Comitê de Consultores: formado por especialistas
credenciados e capacitados, com a atribuição de
julgar os pedidos de admissão de empresas e avaliar
o desempenho daquelas já instaladas nas incubadoras,
bem como de prestar consultoria e capacitação aos
empreendedores.
COLEÇÃO
proponentes do projeto e por representantes das
instituições que apóiam seu desenvolvimento.
As incubadoras são mantidas com recursos do SENAI/SC, do
Projeto Pégaso e com as taxas de locação das empresas. Os
recursos do BID estão previstos por um período de 48 meses
de vigência, desde o início do projeto.
Estrutura de Uso Compartilhado
Proporcionados por um espaço comum de interação, as
empresas podem contar com: salas destinadas a reuniões
técnicas, recepção de clientes, fornecedores e visitantes;
sala de capacitação para atender à demanda de treinamento,
buscando desenvolver a cultura empreendedora dos
colaboradores das incubadoras; restaurante; almoxarifado e
sanitários; auditório e biblioteca.
Dentre seus serviços operacionais, destacam-se: locação de
espaço físico: administração de contratos de participação
a custos condizentes com a realidade da empresa; serviços
de reprografia e encadernação; correio e mensageiro;
copa com serviço completo de café, lanches e outros;
conservação e limpeza, recepção, zeladoria e segurança:
255
Hildegarde Schlupp | Natalino Uggioni | Elisangela de Souza de Paiva
pessoal disponível diariamente; banco de recursos humanos
com cadastros de profissionais que buscam colocação no
mercado de trabalho.
Por meio de consultorias e de capacitação aos
empreendedores, realizam-se estes serviços especializados
de apoio:
 Área de Marketing: divulgação, comercialização,
engenharia de produtos, pesquisas mercadológicas,
oportunidades de negócios, concorrências públicas e
outros.

Orientação jurídica: informações técnico-jurídicas,
trabalhistas, administrativas, tributárias e comerciais.

Tecnologia: consultorias técnicas visando solucionar
problemas de projetos ou novas pesquisas, buscando o
aprimoramento dos produtos desenvolvidos.

Qualidade: gestão de qualidade e adoção de normas
internacionais.

Registro e legalização da empresa: processos necessários.

Registro de marcas e patentes: consultorias específicas.

Contabilidade: serviços contábeis das empresas abrigadas
nas incubadoras.
Outros serviços em áreas diversas e também logísticas estão
disponíveis:
 informações tecnológicas, acervo bibliográfico nas áreas
de gestão e tecnologia, revistas técnicas, jornais, vídeos e
acesso a banco de dados;
256

elaboração de documentos técnicos dentro dos conceitos
da metodologia científica e das normas da ABNT;

cadastramento e homologação em órgãos governamentais:
atividades de apoio;
bolsas de estudo para órgãos de fomento à pesquisa e
desenvolvimento destinarem a estudantes universitários
e de nível médio;

centros de pesquisa para promover a integração das
incubadoras com as instituições de desenvolvimento
tecnológico, buscando a transferência de tecnologia;

integração social: de empresas de médio e grande porte,
associações de classe, federações, visando incentivo ao
cooperativismo;

banco de consultoria: prestação de serviços aos profissionais
abrigados nas incubadoras;

home-page das incubadoras na internet dos centros
tecnológicos;

acesso a serviços de internet.
COLEÇÃO

Para as empresas iniciantes residentes nas incubadoras,
que usufruem desse ambiente propício para seus negócios,
cuja sinergia e soma de esforços oferecem elementos
facilitadores para o processo gerencial e operacional, a
adaptação ao mercado é fortemente facilitada.
Ainda mais, os valores, os princípios, a cultura e a definição
dos padrões de trabalho e das práticas de gestão usuais,
mesmo em fase inicial, se bem orientadas nesse sentido,
terão seu início na linha de excelência preconizada pela
instituição mantenedora.
A forma de gestão implementada constitui-se em ferramenta
para a equipe de operacionalização da incubadora, facilitando
o acompanhamento dos estágios de desenvolvimento das
empresas.
Nesse sentido, poderão conviver periodicamente com os itens
mínimos necessários para serem consideradas empresas de
excelência, que é um grande diferencial a ser explorado no
mercado de atuação.
257
Hildegarde Schlupp | Natalino Uggioni | Elisangela de Souza de Paiva
A infra-estrutura das unidades disponibilizadas para uso
das incubadoras oferece serviços de funções estratégicas
nas áreas de Educação Tecnológica e Serviços Técnicos e
Tecnológicos.
Quanto à tipologia das empresas aptas a ingressarem nas
incubadoras do SENAI/SC, segundo o projeto (FIESC, 1997,
p.14), habilitam-se os empreendimentos enquadrados nas
categorias relacionadas mais adiante, desde que tenham
produto, serviço ou estudo integrado no campo geral
das ciências e direcionado ao atendimento dos setores
eletrometalmecânico, alimentos, cerâmica e materiais. Essas
categorias estão assim descritas:
 Empresa criada por Pessoa Física: oferece oportunidade
ao pesquisador/profissional que tenha idéia/projeto/
produto e que deseja criar na incubadora a própria
empresa de base tecnológica.

Empresa criada por Pessoa Jurídica: propicia criar uma
empresa de base tecnológica a quem esteja em busca de
maior apoio técnico e/ou gerencial, e/ou integração com
outras empresas.

Empresa Transferida: acolhe empresa de base tecnológica
já constituída no mercado que deseja se transferir para
a incubadora em busca de maior apoio técnico, e/ou
gerencial, e /ou integração com outras empresas.

Divisão de Desenvolvimento: proporciona a empresa já
constituída instalar um corpo técnico na incubadora para
desenvolvimento de novos produtos de base tecnológica.
Tempo de Permanência das Empresas nas Incubadoras
258
No contrato de participação assinado entre a entidade gestora
e as empresas é estabelecido o tempo de permanência
das empresas e a participação das mesmas nos custos
compartilhados, os quais deverão pagar as despesas
operacionais do empreendimento.

na fase de crescimento: 0,7 x CCR

na fase de consolidação: 0,9 x CCR

na fase de liberação:
COLEÇÃO
Esses custos compartilhados reais (CCR) variam, conforme
o estágio de cada empreendimento (cerca de 12 meses):
 na fase de implantação:
0,5 x CCR
1,0 x CCR
Critérios para Seleção das Empresas

Produtos intensivos em tecnologias;

projeto viável;

adequação aos objetivos das incubadoras;

produtos adequados à legislação ambiental e de aceitação
social;

competitividade controlada.
Para obter informações que permitam chegar aos critérios
anteriormente mencionados, as empresas candidatas ao
ingresso nas incubadoras elaboram um Plano Executivo
de Negócios para apresentar à gerência pertinente,
demonstrando de forma resumida, o que pretendem
desenvolver no âmbito da incubadora.
Esse plano deve conter os seguintes dados sobre o
empreendimento: conceituação do negócio; objetivos;
identificação do público-alvo; descrição dos produtos
ou serviços, do macroambiente e do microambiente, da
tecnologia, da fase em que se encontra o produto; procedência
da tecnologia; processo produtivo; comercialização; aspectos
financeiros, organizacionais e de gestão; serviços utilizados
pela empresa e registro e legalização da empresa.
259
Hildegarde Schlupp | Natalino Uggioni | Elisangela de Souza de Paiva
Com base nas informações do Plano de Negócios, a gerência
de cada incubadora realiza uma pré-qualificação de caráter
eliminatório, conforme análise relacionada aos critérios
previstos anteriormente.
O Processo de Pré-Qualificação é contínuo e não precisa
aguardar o início formal do processo de seleção, quando
houver vaga na incubadora.
Os projetos são submetidos a processo de avaliação e seleção
pela análise do Plano de Negócios, desenvolvido por todos
os candidatos pré-qualificados, podendo contar com o apoio
das equipes das incubadoras.
A qualificação dos candidatos se processa pela análise
dos Planos de Negócios e de entrevista com os candidatos
e é realizada por uma comissão avaliadora, formada por
consultores da área mercadológica, financeira, técnica e de
gestão, indicados pela Gerência Executiva e aprovados pelo
Conselho Diretor.
Estrutura do Parecer da Comissão Avaliadora
São definidos critérios objetivos de análise e decisão,
mediante parecer pessoal de cada avaliador desenvolvido
por análises de competitividade, técnica e financeira.
Faz-se uma avaliação dos pontos positivos e negativos do
empreendimento, de demanda com relação à incubadora
e outros pontos relevantes para o julgamento do
empreendimento com o objetivo de eliminar dúvidas sobre
o projeto apresentado e medir o grau de conhecimento
relativo ao sucesso do empreendimento.
Após avaliação e entrevista com os candidatos, o Comitê
Avaliador classifica os melhores projetos levando em
consideração a melhor pontuação técnica, mercadológica e
financeira dos candidatos.
260

COLEÇÃO
Uma vez classificados, os candidatos estão aptos para
ingressar nas incubadoras, exigindo-se deles as seguintes
providências:
 Pessoa Jurídica, Empresa Transferida e Centro de
Desenvolvimento, cópia de: contrato social; comprovante
de regularidade nos cartórios da região onde está
instalada/registrada a empresa; cartão atualizado do
CNPJ e CPF.
Pessoa Física (sócios), certidão negativa dos sócios
emitida pela Receita Federal; demonstração de iniciação
dos atos constitutivos da empresa.
Os empreendedores selecionados assinam um Contrato de
Desenvolvimento de Empreendimento com as incubadoras,
que define prazos, apoios e responsabilidades devidos para
a instituição gestora.
Concluído esse processo de seleção de empresas e a
assinatura do Contrato de Participação, inicia-se a fase de
instalação e operação do empreendimento em conformidade
com o disposto nos Estatutos e no Regimento Interno de cada
incubadora.
Durante o processo de incubação, são operacionalizados os
serviços de apoio, de orientação estratégica, acompanhamento
e avaliação das empresas.
2.1 Incubadora de Base Tecnológica de Joinville – MIDIVILLE
Inaugurada em 15 de março de 1999, a Incubadora de
Base Tecnológica de Joinville (MIDIVILLE) vem abrigando
empresas nascentes, como também provenientes do
processo de terceirização das grandes empresas do setor
eletrometalmecânico, cujas áreas de atuação focam-se na
automação industrial e na eletrometalmecânica e recebem
apoio logístico e operacional do SENAI/Joinville.
Os resultados descritos nas tabelas 1, 2 e 3 representam os
indicadores da IBT Joinville.
261
Hildegarde Schlupp | Natalino Uggioni | Elisangela de Souza de Paiva
Tabela 1 – Resultados Obtidos
indicações
Ano I
Ano II
Ano III
Ano IV
Ano V
(dez/1999)
(dez/2000)
(dez/2001)
(dez/2002)
(dez/2003)
Índice de
ocupação
75,7%
91,6%
97,2%
100%
77%
Número de
Módulos
Ocupados
13
16
16
19
14
*Empregos
Gerados
-
-
-
-
-
*Número de
Empregos
70
103
122
152
115
*Produtos
e Serviços
Gerados
13
14
24
23
24
*Número de
Clientes
70
172
378
339
362
*Número de
Sócios
13
18
27
31
32
*faturamento
2.035.606,40
4.095.982,80
6.380.861,12
8.779.263,24
9.040.042,88
indicações
Ano VI
Ano VII
Ano VIII
Ano IX
(dez/2004)
(dez/2005)
(dez/2006)
(dez/2007)
50,68%
85,42%
100%
100%
12
14
12
12
*Empregos
Gerados
-
86
79
93
*Número de
Empregos
90
72
67
75
*Produtos e
Serviços Gerados
37
44
40
34
*Número de
Clientes
451
495
276
272
Índice de
Ocupação
Números de
Módulos Ocupados
*Número de Sócios
*faturamento
262
36
34
27
25
6.424.327,85
5.123.951,94
4.140.766,98
5.341.836,48
COLEÇÃO
Tabela 2 – Empresas Residentes
data
ingresso
Área (m2)
N.o
Sócios
N.o
Empregados
Eletron Trade
Point da
Eletrônica LTDA
01.09.2003
101,81
02
04
Daqsys dados e
controle LTDA
01.02.2004
60,00
03
02
Itflex comércio
16.07.2004
de equipamentos
e material para
informática LTDA
36,00
02
04
Noetec Tecnologia 15.09.2004
Industrial LTDA
158,42
02
24
Gati-Gestão e
assessoria em
tecnologia LTDA
28.09.2004
56,33
03
19
Fortes consultoria 04.05.2005
LTDA
103,00
05
18
Supplier Indústria
e Comércio de
Eletroeletrônicos
LTDA
01.11.2005
40,77
04
02
Brasil Automatics
Automoção e
Tecnologia LTDA
03.07.2006
56,94
03
01
Iafox Soluções
para automoção
LTDA
02.10.2006
28,00
03
01
641,27
27
75
empresas
263
Hildegarde Schlupp | Natalino Uggioni | Elisangela de Souza de Paiva
Tabela 3 – Empresas Graduadas
empresas
graduadas
Mês
Graduação
N.o
Sócios
N.o
Empregados
Siq Serviço
Metrológico LTDA
março-03
02
12
Isa do Brasil
Automoção
Industrial LTDA
março-03
02
10
Fast Parts Protótipos
LTDA
março-03
02
06
Hahntel S/A
março-03
05
41
outubro-03
02
06
HBTEC Projetos
e Serviços em
Informática LTDA
dezembro-04
07
04
EGS - Engenet
Sul Tecnologia
de Informação e
Automoção LTDA
janeiro-05
04
03
Sysfocus Software
LTDA
janeiro-06
01
01
Difermac Indústria,
Comércio e
Representações
LTDA
janeiro-06
02
10
Migros
Equipamentos
Industriais LTDA
janeiro-06
02
0
maio-06
02
01
dezembro-06
02
10
24
104
Engekronos
Prestadora de
Serviço LTDA
Nitreaço Tratamento
Superficial LTDA
Di Planejamento
Visual LTDA
264
Inaugurada em 21 de maio de 2001, a Incubadora de Base
Tecnológica de Criciúma (MIDISUL) apóia o desenvolvimento
de empreendimentos de base tecnológica. Com o objetivo
de atrair novos empreendimentos, abriga empresas do setor
cerâmico e de materiais, que iniciaram suas atividades
acreditando na solução tecnológica desenvolvida, buscando a
produtividade e a competitividade na economia globalizada.
Seus resultados são apresentados nas tabelas 4, 5 e 6, que
representam também a evolução do projeto.
COLEÇÃO
2.2 Incubadora de Base Tecnológica de Criciúma – MIDISUL
Tabela 4 – Empresas Residentes
indicações
Ano III
Ano IV
Ano V
Ano VI
(dez/2001)
(dez/2002)
(dez/2003)
(dez/2004)
Índice de ocupação
18%
45%
61%
72,20%
Número de Módulos
Ocupados
3
8
11
13
*Número de
Empregos
12
32
66
98
*Produtos e
Serviços Gerados
8
19
25
13
*Número de
Clientes
42
119
98
2.212
*Número de Sócios
9
21
17
17
678.600,00
1.796.537,00
4.801.559,55
6.645,327,00
*faturamento
265
Hildegarde Schlupp | Natalino Uggioni | Elisangela de Souza de Paiva
indicações
Ano VII
Ano VIII
Ano IX
(dez/2005)
(dez/2006)
(dez/2007)
Índice de ocupação
61,00%
55%
61%
Número de Módulos
Ocupados
11
10
9
*Número de Empregos
40
45
41
*Produtos e Serviços
Gerados
11
10
09
*Número de Clientes
1497
348
300
20
19
16
6.311.450,00
6.568.126,11
711.363,68
*Número de Sócios
*faturamento
* Inclui os dados das empresas graduadas até a data da saída
Tabela 5 – Empresas Residentes
Empresa
Residente
Data
ingresso
área (m2)
N.o
sócios
n.o
empregados
Pharmaceutical
04/04/07
19,45
01
03
RH Service
01/09/06
20,35
01
03
Diplan
01/08/05
19,45
01
03
Volpe
09/11/03
9,38
01
01
Berimbau
25/05/05
49,76
04
20
Logosystem
01/02/06
41,71
02
03
High Connection
01/09/06
30,35
01
01
Deps
01/11/06
40,71
01
03
Consulti
16/06/03
51,77
02
09
Digitrom
06/10/03
47,82
02
04
330,75
16
50
TOTAL
266
COLEÇÃO
Tabela 6 – Empresas Graduadas
Empresas
graduadas
mês
graduação
N.o
sócios
n.o
empregados
Biotech
setembro-05
04
04
Tecnnic
maio-05
02
02
Florestal S.A.
agosto-06
01
100
Laboratório Controller
junho-06
02
01
AGP5
maio-05
02
12
RC Tecnologia
junho-06
02
04
13
123
2.3 Incubadora de Base Tecnológica de Chapecó – MIDIOESTE
A agroindústria é a área temática de conhecimento apoiada
pela unidade de Chapecó. Essa incubadora, com espaço físico
para instalação de quatro empresas, constitui um mecanismo
para gerar novos produtos e tecnologia para agregar valor
à produção atual. Localiza-se em Chapecó, cidade pólo
da região oeste do estado, onde está situado o complexo
agroindustrial voltado principalmente ao abate de suínos
e de aves. As tabelas seguintes apresentam as informações
referentes ao desempenho da IBT de Chapecó.
267
Hildegarde Schlupp | Natalino Uggioni | Elisangela de Souza de Paiva
Tabela 7 – Resultados das Empresas Residentes
indicadores
Ano V
Ano VI
Ano VII
Ano VIII
Ano IX
(dez/2003)
(dez/2004)
(dez/2005)
(dez/2006)
(dez/2007)
Índice de
ocupação
33,33%
100%
40%
20%
20%
Número de
Módulos
Ocupados
2
6
2
1
1
*Número de
Empregos
4
16
8
5
6
*Produtos
e Serviços
Gerados
7
22
16
1
1
*Número de
Clientes
1
275
28
31
47
*Número de
Sócios
4
13
5
2
2
*faturamento
487.54,64
480.000,00
964.308,40
1.284.265,93
1.408.197,59
* Inclui os dados das empresas graduadas até a data da saída
Tabela 8 – Empresas Graduadas
Empresas
graduadas
mês
graduação
N.o
sócios
n.o
empregados
CHOAITEC Indústria de
Equipamentos e Máquinas
Frigoríficas Ltda
28/05/2003
02
08
Cardume Indústria e
Comércio de Peixes
05/09/2002
03
05
Pasteca - M.F.Franchising
03/05/2004
02
27
New Tripe Ind. e Com.
Ltda. ME
14/04/2004
02
25
Plastgramp
16/01/2004
02
00
11
65
Total
268

Prêmio Abre de Design e Embalagem, em 2005; Prêmio
Brasileiro de Embalagem Embanews, em 2006; Prêmio
Internacional World Star for Packaging Excellence, em
2007 e o Prêmio Idea Brasil em 2008, recebidos pela
empresa graduada Designinverso.

Prêmio Reality Experience, em 2007, conquistado pela
empresa incubada Consulti.
COLEÇÃO
Os resultados dessas empresas também incluem diversas
premiações, dentre as quais se destacam:
 Prêmio FINEP Nacional de Inovação Tecnológica,
conquistado pela empresa graduada Hanhatel, em 2000.
3. CONCLUSÕES
O modelo de gestão de incubadoras de empresas, apresentado
neste artigo e implementado nas incubadoras do SENAI/SC, tem
demonstrado ser eficaz e atender aos anseios e expectativas
organizacionais, bem como das empresas residentes que
valorizam o fato de estarem fazendo uso das instalações da
instituição.
Os critérios de excelência do Prêmio Nacional da Qualidade
“constituem um modelo sistêmico de gestão adotado por
inúmeras organizações de classe mundial” (FNQ, 2001, p. 4).
Os critérios específicos foram “construídos sobre uma base
de fundamentos essenciais para a obtenção da excelência do
desempenho”.
Os oito critérios de excelência estão subdivididos em 27 itens
de avaliação. Destes, vinte representam os aspectos de enfoque
e aplicação e sete, os de resultados. Os mesmos podem
ser utilizados como referência para uma organização moldar
e ajustar seu sistema de gestão, realizando auto-avaliação
em seu status quo para efetuar melhorias e implementar o
resultado do seu aprendizado, rumo à excelência.
269
Hildegarde Schlupp | Natalino Uggioni | Elisangela de Souza de Paiva
O diferencial apresentado é o fato de que essas empresas
residentes têm a oportunidade de orientar seus negócios
com base em critérios de excelência em gestão empresarial.
Dessa forma, essa experiência contribui para suavizar a
principal dificuldade nos novos empreendedores: a gestão
do negócio.
Isto porque o SENAI/SC tem seu sistema de gestão
fundamentado nesses critérios de excelência repassando-o
para suas incubadoras e beneficiando-as com essa orientação
focada e pontual.
Assim, os novos empreendedores têm a oportunidade de
gerenciarem suas empresas sob esses critérios de grande
diferencial competitivo, colaborando para que essa
atividade de acompanhamento, indispensável ao processo
de incubação e ao crescimento das empresas residentes,
ocorra em ambiente favorável ao desenvolvimento das
mesmas, facilitando também o trabalho das equipes de
gerenciamento das incubadoras.
Desse modo, o SENAI/SC busca dar uma resposta aos
anseios emergentes da sociedade industrial catarinense,
possibilitando aos novos empreendedores a aplicação prática
de pesquisas e idéias, convertendo-as em benefícios para a
sociedade em geral.
A experiência adquirida com esse projeto oportuniza, à
organização, disseminar os conhecimentos obtidos, cujos
resultados atestam o sucesso da atuação institucional nessa
área.
REFERÊNCIAS
FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SANTA
CATARINA et al. Projeto Pégaso: incubadoras de base
tecnológica. Florianópolis: IEL, 1997.
270
COLEÇÃO
FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE – FNQ. Prêmio
Nacional da Qualidade – PNQ, 2002: Critérios de Excelência.
São Paulo: 2001.
SÁENZ, Tirso; CAPOTE, Emilio Garcia. Ciência, inovação
e gestão tecnológica. Brasília : CNI/SENAI, ABIPTI, 2002,
p. 57.
SCHLUPP, Hildegarde. Integração do processo de incubação
de empresas ao sistema de gestão de centro de tecnologia:
caso CTEMM/MIDIVILLE. Dis de Mestrado em Engenharia
de Produção, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção, Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.
Florianópolis: 2002.
SERVIÇO
NACIONAL
DE
APRENDIZAGEM
INDUSTRIAL. Centro Nacional de Tecnologia do SENAI:
projeto de implantação e dinâmica de funcionamento. Rio de
Janeiro: SENAI, 1993.
SENAI/DN. Classificação das ações do SENAI: Termos e
Conceitos da Educação Profissional. Brasília: 2002, p. 28 a.
SENAI/DN. Classificação das ações do SENAI: Termos e
Conceitos dos Serviços Técnicos e Tecnológicos. Brasília:
2002, p. 27 b.
UGGIONI, Natalino. Sistema de acompanhamento e avaliação
de empresas residentes em incubadoras. Dis de Mestrado
em Engenharia de Produção, Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa
Catarina – UFSC. Florianópolis, 2002, p.108 f.
271
272
COLEÇÃO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E
EMPREENDIMENTOS SOCIAIS
Rosa Maria Fischer
RESUMO
As pesquisas em andamento no CEATS (Centro de
Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor)
visam apreender as características dos empreendimentos
sociais e, mais amplamente, discutir a dinâmica de
transformação social que pode haver entre empreendedorismo
social e desenvolvimento socioambiental sustentável.
Para efeito de análise, este texto enfoca, de um lado,
empreendimentos estimulados por empresas privadas e,
de outro, por organizações da sociedade civil. É aferida
a importância do papel das alianças estratégicas
intersetoriais na concepção, implantação e consolidação
de tais iniciativas. Ao descrever seu desempenho,
observa-se seu potencial de contribuição para alavancagem
da geração de renda e do desenvolvimento local. Mas também
se verificam os obstáculos e limitações à sua perenidade e
consolidação, principalmente, se forem colocados parâmetros
de desempenho empresarial para avaliar sua performance.
273
Rosa Maria Fischer
1. INTRODUZINDO O TEMA
As pesquisas realizadas pelo CEATS37 atualmente estão
focadas na ampliação do conhecimento derivado da
teoria e da prática, acerca das possíveis relações entre
o Empreendedorismo Social e o Desenvolvimento
Socioambiental Sustentável. Esse objetivo justifica-se pela
importância de cada um desses temas em um país como
o Brasil, caracterizado pela economia emergente e pela
democracia em processo de consolidação.
De um lado, destaca-se o fenômeno organizacional do
surgimento de empreendimentos voltados à geração de valor
econômico e de valor social. Este último consiste em grande
diferencial, na medida em que contribui para reduzir as
condições sociais de iniqüidade e exclusão que afetam vastos
segmentos populacionais. De outro lado, evidencia-se o
desafio do desenvolvimento, que se renova periodicamente
ao longo da história do país, demonstrando que, isolado,
o crescimento econômico não é suficiente para superar os
entraves da distribuição desigual de renda, da carência
de condições para o exercício da cidadania e da utilização
predatória dos recursos humanos e naturais.
DEMANDA EMPRESARIAL E DEMANDA ACADÊMICA
A oportunidade de identificar a existência dessas relações
entre os dois temas e analisar as características com que
se expressam no contexto contemporâneo brasileiro surgiu
em função de duas demandas. A primeira deriva do apoio
técnico a empresas que o CEATS realiza: elas adotam
estratégias de responsabilidade corporativa e, por esse
meio, deparam-se freqüentemente com o desafio de investir
no desenvolvimento local, num misto de opção altruísta e
necessidade de agregar valor ao seu negócio. A outra se
O CEATS (Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor) desenvolve atividades ligadas a temas do
empreendedorismo social sob a forma de pesquisas, projetos de consultoria para empresas, ONGs e órgãos do governo (sempre
com perspectiva de geração de conhecimento), além de cursos e publicações. Estabeleceu-se como programa institucional
em 1998, com suporte da FIA (Fundação Instituto de Administração e da FEA/USP – Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade de São Paulo).
37
274
COLEÇÃO
originou do vínculo estabelecido em 2001 com o SEKN
(Social Enterprise Knowledge Network38), rede de produção
e disseminação de conhecimento que, de 2006 a 2008, está
investigando as iniciativas de inclusão de indivíduos e grupos
sociais de baixa renda nas relações econômicas de mercado.
As demandas empresariais refletem a tendência de mudanças
percebida durante a última década no Brasil. Embora não seja
um comportamento homogêneo, observa-se que as empresas
já não podem omitir-se em relação a sua responsabilidade
social. Aquelas que apresentam iniciativas mais maduras
já superaram os estágios da filantropia empresarial e estão
assumindo um papel de investidores em desenvolvimento
sustentável. Quando se associa o conceito de sustentabilidade
à noção de desenvolvimento, remete-se imediatamente ao
desafio da colaboração intersetorial.
A sustentabilidade manifesta-se em uma série de situações:
 a sustentabilidade das organizações que compõem uma
aliança ou rede intersetorial, assegurando que a própria
rede seja sustentável;

o desenvolvimento econômico local, que assegura a
renovação e perenidade dos recursos naturais e, portanto,
da vida e da biodiversidade;

o desenvolvimento socioeconômico, que garante
as condições de vida e sociabilidade das pessoas,
habilitando-as a se tornarem agentes da própria
transformação39.
Representando a FEA/USP, o CEATS é a única organização brasileira a participar do SEKN, rede de universidades iberoamericanas, coordenada pela Harvard Business School, com a missão de fortalecer pesquisa, ensino e prática de gestão do
empreendedorismo social. As atividades consistem no desenvolvimento conjunto de material didático e publicações que versam
sobre empreendedorismo social, alianças estratégicas intersetoriais e gestão no Terceiro Setor.
38
39)
FISCHER, R. M. A Responsabilidade pelo Desenvolvimento. Prova de Erudição/ FEA-USP, 2003.
275
Rosa Maria Fischer
No Brasil, organizações como Grupo ORSA, VCP,
AGROPALMA, APAEB e Natura estão trilhando esse
caminho, caracterizado pela inovação em vários sentidos.
O mais importante deles é a proposição de agregar valor,
não apenas para o próprio capital empresarial, mas também
para o capital social da região onde a empresa atua. O
CEATS apóia essas iniciativas, realizando diagnósticos
socioambientais para identificar necessidades e ativos
comunitários; coordenando o planejamento para orientação
das ações e investimentos; elaborando sistemas e
indicadores de avaliação, a fim de propiciar monitoramento
e aperfeiçoamento dos empreendimentos.
A demanda acadêmica provém da evolução que o SEKN
vem experimentando no que concerne à pesquisa sobre
Empreendedorismo Social. Um dos pontos fortes dessa rede
é seu caráter multi-institucional e multinacional, que lhe
permite realizar comparações entre os casos estudados.
No seu primeiro ciclo bienal, a rede em questão dedicouse a identificar, em cada país-membro, casos de alianças
intersetoriais criadas com o objetivo de promover mudanças
sociais, principalmente no que diz respeito a minimizar as
situações de exclusão que caracterizam a condição de vida
dos pobres e miseráveis.
Essa investigação foi baseada no modelo conceitual desenhado
por James Austin40 e resultou em 24 casos de ensino e um
livro com análises comparativas41. O estudo em profundidade
dessas parcerias conduziu a rede a uma compreensão mais
acurada de que o empreendedorismo social implica reduzir
as fronteiras organizacionais e estreitar as relações de
colaboração, de modo que a ação resultante seja uma
‘simbiose’ do desempenho das organizações aliadas.
40
276
AUSTIN, J. The Collaboration Challenge. San Francisco: Jossey-Bass, 2000
SEKN et al. Parcerias sociais na América Latina: lições da colaboração entre empresas e organizações da sociedade civil. Rio de
Janeiro: Elsevier; Campus, 2005. 388 p. ISBN 8535215956.
41
COLEÇÃO
Tal reflexão levou o SEKN, em seu segundo ciclo de
produção, a desenvolver atividades para identificar e
analisar os empreendimentos sociais criados por iniciativa
de empresas e de organizações da sociedade civil. Essa
etapa produziu novo conjunto de casos e um segundo livro,
cujo conteúdo mescla as análises comparativas extraídas da
pesquisa empírica aos referenciais teóricos que explicam
características organizacionais, como: liderança, estratégia,
cultura organizacional, estrutura, finanças, recursos humanos
e governança.
Por isso, no terceiro ciclo da pesquisa, o maior esforço de análise
dirigiu-se para a compreensão do que vêm a ser o valor
econômico e o valor social gerados por um empreendimento
social. Enquanto era relativamente simples detectar a criação
de valor econômico em alguns casos, por se tratar de
organizações cujos produtos e serviços eram precificados e
podiam ter sua qualidade avaliada, na grande maioria delas,
o valor social era intangível ou impossível de ser medido
com precisão.
Esse é, provavelmente, um dos maiores dilemas com que se
defronta o estudioso do tema, pois os sistemas de avaliação e
os parâmetros tradicionalmente empregados para monitorar
o desempenho organizacional tendem a ser impróprios para
analisar as mudanças provocadas por um empreendimento
social. Nesse sentido, adota-se um conceito amplo que
o define como “qualquer empreendimento para o qual a
criação de valor social seja o objetivo estratégico essencial e
que aborde essa missão de modo criativo e inovador”42.
Apesar disso, os estudos demonstravam serem notórios
os benefícios aportados pelos empreendimentos para os
grupos sociais de baixa renda, ao atenderem necessidades
várias, como educação fundamental, serviços básicos de
saúde e inclusão digital. Mas, fica evidente a robustez das
42
NICHOLLS, A. Playing the field, Social Entrepreneurship Posting from Oxford, vol. 1, autumn, 2006.
277
Rosa Maria Fischer
barreiras que impedem essas pessoas de desfrutar melhores
condições de vida: analfabetismo, abandono, falta de
acesso a serviços públicos, ausência de infra-estrutura
básica, desconhecimento dos direitos civis e exclusão das
relações de mercado43.
REDE SEKN E B.O.P.
Tais conclusões encaminharam o terceiro ciclo de pesquisa
do SEKN ao estudo dos chamados mercados socialmente
inclusivos ou, em outras palavras, à hipótese de que a
construção de relações simbióticas intersetoriais entre
organizações permitiria ampliar o acesso aos mercados,
baixando os custos de transação e oferecendo oportunidades
para que novas energias produtivas se incorporassem à
economia.
Esse projeto da pesquisa SEKN tomou por referência o
polêmico debate acadêmico alimentado durante os últimos
cinco anos por estudiosos como Prahalad44, o qual defende
a tese de que iniciativas empresariais lucrativas dirigidas
aos setores mais pobres da população são geradoras de valor
econômico e social e podem promover a inclusão dessas
pessoas.
No Brasil, a publicação de Prahalad gerou forte reação no
meio acadêmico e entre as organizações do Terceiro Setor,
reconhecidas por sua militância política e sua legitimidade
nas comunidades de base. O caso brasileiro apresentado
no livro (Casas Bahia) descreve o sucesso de uma grande
rede de comércio varejista que conseguiu ampliar seu
posicionamento mercadológico, atraindo consumidores
de baixa renda com formas flexíveis de financiamento.
A principal crítica ao estudo ressalta que esse acesso ao
consumo beneficia, quase exclusivamente, o crescimento de
43
278
SEN, Amartya K. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. 409 p.
PRAHALAD, C. K. The fortune at the Bottom of the Pyramid: Eradicating Poverty through Profits. Wharton School Publishing,
2005.
44
COLEÇÃO
lucros da empresa, enquanto colabora para o endividamento
do consumidor atraído pela facilidade de compra, mas
fragilizado pela limitação de seu poder aquisitivo. Assim, ao
concentrar seu foco analítico no desempenho empresarial,
os autores estabelecem uma conexão simplória entre o
crescimento da oportunidade de transações comerciais e
uma pretensa “democratização da economia”, a qual seria
o indicador de uma transformação social no sentido do
desenvolvimento socioeconômico.
Contudo, se errou na escolha do exemplo, a proposta de ‘B.o.P.’
(base of the pyramid) acertou ao evidenciar a potencialidade
representada pelos setores alijados do mercado global e a
miopia da iniciativa privada, que os exclui de sua estratégia
de negócio. Embora a mera inserção no mercado não resulte
no fortalecimento do pobre, esse raciocínio abriu o debate
sobre os demais papéis que os segmentos de baixa renda
podem desempenhar no contexto das relações econômicas de
produção, como sócios, fornecedores ou empreendedores.
Assim, a discussão ampliou muito as possibilidades de
pesquisa sobre empreendedorismo, pois, ao contrário dos
autores pioneiros no tema, ela não se deve limitar aos
estudos do papel desempenhado por grandes corporações
empresariais, nem tampouco à transformação dos grupos
socialmente excluídos em consumidores frenéticos.
Seguindo essa abordagem mais ampla, a rede SEKN elegeu,
para o período de 2006 a 2008, o estudo de casos de
empreendedorismo nos quais os indivíduos e grupos sociais
de baixa renda pudessem ser considerados em uma gama de
situações, tais como a ampliação de seu acesso ao consumo;
a criação de condições de incremento da renda familiar; a
promoção de condições de trabalho; e a participação como
elo em uma cadeia produtiva.
279
Rosa Maria Fischer
Analisando os casos estudados nos dois primeiros ciclos do
SEKN sob essa ótica, os pesquisadores avançaram algumas
reflexões preliminares45:
 As oportunidades de inovação são reais e realizáveis, se
as barreiras aos mercados tradicionais forem conhecidas
e modificadas para atender às especificidades dos
segmentos de baixa renda.

Quando considerados atores sociais legítimos, e não
receptores passivos, os pobres demonstram capacidade
de criar e adicionar valor às cadeias produtivas em que
se inserem.

As organizações da sociedade civil, como associações
e cooperativas comunitárias, podem ser poderosos
parceiros de empreendimentos sociais voltados para o
desenvolvimento local.

Mudanças na cultura das organizações são requeridas
para que haja compatibilidade, facilitando o fluxo da
comunicação e abrindo espaço para a inovação.
No Brasil, na atual fase do projeto SEKN, estão em estudo
casos de empreendedorismo social nos quais os segmentos
de baixa renda desempenham, eles próprios, o papel de
empreendedores no contexto de uma cadeia de produção.
Ao apresentá-los, discutem-se o conceito e as práticas desse
empreendedorismo, procurando identificar se e como eles
podem contribuir para a construção de processos locais de
desenvolvimento socioeconômico e ambiental sustentável.
Nessa pesquisa, seguindo uma tendência observável em
diferentes regiões do mundo, o conceito de empreendedorismo
deixa de ter seu significado restrito à criação de empresas
capitalistas, ampliando-se para abarcar a competência de
gerar alternativas organizacionais inovadoras. E elas são
inovadoras, não apenas pelos formatos diferentes daqueles
AUSTIN, J. et al. Building New Business Value chains with Low Income Sectors in Latin America in Business Solutions for the
Global Poor; Rangan and Quelch (org) Jossey-Bass (2007)
45
280
COLEÇÃO
adotados por empresas e corporações ao longo dos séculos
XIX e XX, mas também porque sua visão estratégica
extrapola o mercado e suas reduzidas formas de transação.
As iniciativas dos empreendedores sociais lançam-se para
horizontes bem mais longínquos do que a simples
comercialização de produtos e serviços, e buscam:
incrementar o desenvolvimento socioambiental de
localidades esquecidas pelo crescimento econômico
capitalista; tornar a sociedade inclusiva para aqueles
despojados das condições físicas, sociais e econômicas
necessárias à sua inserção como pessoas, consumidores
e cidadãos; ampliar as oportunidades para que cada qual
se emancipe por própria conta, gerando renda e tendo
liberdade para escolher o estilo de vida que prefere e o
destino que propiciará a seus filhos; garantir às próximas
gerações o direito de nascer e viver em liberdade, com
acesso aos recursos naturais que a biodiversidade oferece à
vida humana.
Na coleta dos casos, foram privilegiados aqueles nos quais o
empreendimento proporciona condições de incremento da
geração de renda, empregabilidade e melhoria das condições
sociais e econômicas de grupos deprimidos pela pobreza
e carência de perspectivas. Ou seja, aqueles que buscam
resultados de transformação social.
Este objetivo colocou o desafio de inserir o empreendimento
social em um contexto teórico-conceitual mais amplo,
que é a proposição de desenvolvimento local sustentado.
Significa dizer que, além de analisar e prospectar a
sustentabilidade do empreendimento em si, surgiu a
necessidade de investigar o potencial e as limitações para
que ele alavanque o desenvolvimento local, porque uma
estratégia de desenvolvimento que favoreça transformação
social pressupõe a mobilização de recursos, potencialidades
e atores sociais ativamente envolvidos, e que se reforçam
mutuamente46.
BROSE, Markus. Redes: breve introdução à arte de tecer Capital Social. 2005. Disponível em: http://www.risolidaria.org.br/util/
view_texto.jsp?txt_id=200505200017.
46
281
Rosa Maria Fischer
Neste texto, os casos são descritos de forma sumária, apenas
para fornecer os dados que permitam a análise de suas
características. São casos liderados por empresas: VCP,
Natura, Grupo ORSA, AGROPALMA e, também, outros nos
quais o empreendedorismo se origina de organizações do
Terceiro Setor: APAEB, ASMARE e Coopa-Roca.
Localização das ações desenvolvidas pelas organizações e parcerias analisadas nos estudos do CEATS aqui
referidos.
282
Tanto as iniciativas empreendedoras originadas em movimentos
sociais e em organizações da sociedade civil como aquelas
promovidas por empresas e corporações privadas, todas têm
em comum o paradigma da colaboração intersetorial. Em outras
palavras, para concebê-las e implantá-las, faz-se necessário
agregar recursos e esforços de diversas fontes: órgãos
públicos, que podem prover as condições para ampliar
a escala de atuação; o Terceiro Setor, com sua miríade
de experiências, métodos e tecnologias para lidar com
problemas sociais; organizações empresariais, utilizando
COLEÇÃO
o melhor de seu conhecimento e prática de gestão para
assegurar a própria sustentabilidade e a daqueles em seu
universo de relacionamento. O empreendedorismo social
adota, assim, o conceito de trabalho em colaboração como
pressuposto básico.
Desse modo, as iniciativas empreendedoras descartam
definitivamente os conceitos de assistencialismo e dependência,
substituindo-os pelas noções de emancipação e cidadania.
Não se trata apenas de modernização terminológica, mas
de mudança radical nos valores que sustentam a atuação
social. Não basta prover benesses, pois é preciso equalizar
as condições sociais concernentes à liberdade pessoal que,
segundo Amartya Sen47, é fator condicionante para a existência
de qualquer processo de desenvolvimento.
2. ESTUDOS SOBRE EMPREENDEDORISMO SOCIAL
No estudo sobre empreendedorismo social realizado pelo
CEATS no Brasil, os levantamentos de campo já foram
encerrados e estão em curso a análise e elaboração das
conclusões. Por isso, o presente texto aporta alguns aspectos
descritivos e outros analíticos, ao levantar questionamentos
que permitam aprofundar a interpretação e comparação dos
dados empíricos.
Para efeito de estrutura lógica, a apresentação dos casos foi
dividida conforme a presença, ou não, de uma empresa na
rede organizacional que constitui o empreendimento social.
Essa separação, contudo, não significa considerar-se que os
empreendimentos sociais apresentem diferentes naturezas em
função de estarem, ou não, vinculados a empresas privadas.
SEN, A.K. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. 409 p. Bibliografia; CDU - 330:300; N.º
- 184a. ISBN 8571649782.
47
283
Rosa Maria Fischer
Embora, nos últimos tempos, a produção acadêmica
internacional venha focando, com insistência, a necessidade
de convergência entre empresa e sociedade48, o que se
busca compreender nos casos estudados é muito menos o
incremento da competitividade e muito mais os benefícios
sociais advindos do empreendedorismo estimulado pela
iniciativa privada.
Nesse sentido, foram selecionados casos em que o
investimento social empresarial elege o empreendedor
como parceiro, sócio ou fornecedor, criando uma dinâmica
de geração de riqueza local, onde antes havia estagnação e
pobreza.
O segundo foco do trabalho aborda empreendimentos
sociais surgidos de iniciativas comunitárias, pela criação
de entidades do tipo ‘associações e cooperativas’, visando
superar condições locais de pobreza.
CONCEITO DE POBREZA
A pobreza é definida como “a incapacidade dos indivíduos
de assegurarem para si e para seus dependentes um
conjunto de condições básicas mínimas para sua
subsistência e bem-estar segundo os padrões vigentes em
sua sociedade”49. Isto é, sua mensuração não se restringe
aos tradicionais indicadores de renda e consumo; precisa
ser complementada por outros de qualidade de vida, que
contemplem os conceitos de risco e vulnerabilidade, como
afirma Barbosa50, “enquanto a pobreza for encarada apenas
como falta de recursos e deficiência de renda, bastará
o argumento de que o desenvolvimento econômico com
o aumento progressivo da renda social é suficiente para
combatê-la”. Contudo, sob a perspectiva do paradigma do
desenvolvimento humano – não apenas o econômico – a
pobreza é um estado de ‘desempoderamento’, de privação
de capacidades de acesso e de oportunidade, um estado de
restrição às disponibilidades de recursos e à cidadania.
48
284
49
50
PORTER, M. e KRAMER M. Estratégia e Sociedade Harvard Business Review, dez. 2006, vol. 84, n.º 12, p. 52
Relatório Anual da Pobreza – G20 (2004)
BARBOSA, B. Brasil começa 2006 sem quebrar ciclo da pobreza, dizem especialistas. In: Carta Maior, jan/ 02, 2006.
COLEÇÃO
É a respeito desses cidadãos ‘desempoderados’ que se
trata no estudo das iniciativas de grupos comunitários e
organizações do Terceiro Setor voltadas para a geração de
renda, mas também se aborda a ampliação de competências
que permitam superar a vulnerabilidade, e do capital social
que possibilite consolidar a dimensão comunitária51.
3. EMPRESAS ESTIMULANDO EMPREENDIMENTOS SOCIAIS
Um dos aspectos ressaltados no protocolo da pesquisa SEKN
sobre empreendedorismo social diz respeito à importância
de conhecer o ‘ecossistema’ no qual o empreendimento se
insere. Isso se justifica em todos os casos estudados, mas se
destaca sobremaneira naqueles em que a rede de relações
simbióticas agrega uma empresa privada, porque a empresa
apresenta forte sensibilidade às influências do contexto, ao
mesmo tempo em que tem grande capacidade de influenciar
os stakeholders em seu espaço de relacionamento.
Portanto, caracterizar os componentes desse ‘ecossistema’;
compreender como e porque as organizações se engajam
em uma relação de cooperação, o que pretendem dela;
como modelam esses arranjos e conseguem obter sinergia
e aprendizagem organizacional a partir deles; são algumas
das colocações feitas para compreender os arranjos
interorganizacionais formados para gerar empreendimentos.
Desde meados da década de 1990, o CEATS vem realizando
pesquisas sobre as ações sociais promovidas pelas empresas
em parcerias com outros tipos de organizações. O acúmulo
dessas experiências permite compreender a evolução que
vem ocorrendo no ecossistema das organizações, a qual
pode propiciar o desenvolvimento do empreendedorismo
social como projeto multissetorial52.
“Capital Social é um recurso que permite aos conjuntos humanos criar ambientes favoráveis à boa governança, à prosperidade
econômica e à expansão de uma cultura cívica”. DE FRANCO – Carta Rede Social 141 – [email protected] – 05/07/2007.
51
52
FISCHER, Rosa M. A responsabilidade pelo desenvolvimento. Prova de Erudição/ FEA-USP, 2003.
285
Rosa Maria Fischer
Os resultados desses estudos possibilitam a identificação
de novos atores sociais – empresas, empresários, executivos
e funcionários – que vêm se incorporando ao cenário da
colaboração organizacional com o objetivo de promover o
desenvolvimento social. Parece claro que já não se considera
que reduzir a exclusão social e encontrar meios para obter
um desenvolvimento sustentável seja de responsabilidade
exclusiva do Estado. Nem tampouco que isso possa
ser desempenhado apenas por entidades beneméritas,
organizações não-governamentais ou movimentos sociais53.
Entretanto, os dados demonstram haver apenas essa
tendência, sendo ainda muito restritos para assegurar
que as iniciativas de atuação social empresarial estejam
promovendo impactos efetivos sobre problemas estruturais,
tais como a desigualdade na distribuição de renda, as
defasagens educacionais e a carência de condições
individuais para desfrutar a liberdade – premissa para o
desenvolvimento. Essa constatação empresta veracidade
às principais críticas deflagradas pelos analistas contra as
iniciativas de empresas em promover o empreendedorismo
social, ou apoiar projetos e programas sociais, como forma
de concretização de sua responsabilidade corporativa.
No entanto, essas críticas são insuficientes, tanto para
desestimular esse movimento como para comprovar que
ele encobre intenções manipulativas. Com os mesmos
argumentos, podem-se construir análises no sentido
inverso: as práticas de responsabilidade social podem vir
a se expandir e aprofundar, a ponto de desencadear uma
transformação na cultura das organizações.
A última pesquisa referida neste texto permite identificar
que essa mobilização social tem propiciado a formação de
alianças organizacionais com o objetivo de promover ações
sociais. Tais alianças parecem deter forte potencial de se
tornar mais perenes e integradas, assegurando, de um lado,
a continuidade dos programas e projetos e, de outro lado,
286
FISCHER, Rosa M. O desafio da colaboração: práticas de responsabilidade entre empresas e terceiro setor. São Paulo: Gente,
2002. 172 p.
53
COLEÇÃO
contribuindo para o fortalecimento das organizações da
sociedade civil, que se tornam mais conhecidas, mais visíveis
e, muitas vezes, mais capacitadas em virtude da experiência
do trabalho em colaboração. As conclusões desse estudo não
demonstram que as alianças intersetoriais sejam a forma
organizativa que garante a maior eficiência dos projetos com
foco na redução dos deficits sociais no país. Provavelmente,
elas serão cada vez mais efetivas em obter esses resultados,
na medida em que se tornem os veículos de mobilização e
articulação empregados para operar programas e projetos de
alto impacto social54.
Para isso, uma condição sine qua non é que essas ações
estejam alinhadas a políticas públicas formuladas com
eficiência, eficácia e efetividade. Portanto, será necessário
que as alianças intersetoriais não se limitem a operar
projetos específicos, mas que se proponham a gerar impactos
de ressonância social. Do mesmo modo que, na outra ponta,
as esferas governamentais sejam sensíveis a essas propostas
de colaboração, não apenas em atividades operacionais, mas
principalmente naquelas de cunho estratégico e decisório,
tais como:
 levantamento, análise e priorização de necessidades
e problemas sociais na geração de diagnósticos com
métodos participativos e interativos;

mapeamento das potencialidades e recursos locais na
definição dos planos de ação e de alocação das atribuições
e responsabilidades55;

equilíbrio na distribuição de poder entre as organizações
que constituem a rede de atendimento e de mobilização
do trabalho em colaboração.
Outra condição é de que haja espaço e legitimidade
para o florescimento do empreendedorismo social. O
vocábulo,‘empreendedor’ tem sido empregado de forma
FISCHER, Rosa M (Coord.); et al. Alianças estratégicas intersetoriais para atuação social: pesquisa aplicada - relatório final
(Pesquisa Ford). São Paulo: CEATS / FIA, abr. 2003. 107 p.
54
KRETZMANN (1995) ressalta a importância de elaborar o “inventário” das competências e potencialidades que qualquer
comunidade detém para promover seu desenvolvimento.
55
287
Rosa Maria Fischer
reducionista para identificar pessoas com capacidade para
criar negócios. Entretanto, seu significado é mais amplo,
como define Say56, pois ele “move recursos econômicos de
uma área de baixa produtividade para uma área de maior
produtividade e grande retorno”. É nesse sentido que
Drucker57 ressalta a importância do empreendedorismo
social: a busca e a identificação de oportunidades para gerar
mudanças sociais com visão estratégica, ações inovadoras,
efetividade de resultados e transparência de gestão.
“Para os empreendedores sociais, a missão social é central
e explícita. A criação central torna-se o impacto relativo à
missão e não à riqueza. Para os empreendedores sociais a
riqueza é apenas um meio para um determinado fim”58.
As parcerias não constituem a forma exclusiva de as empresas
executarem suas ações sociais, porém figuram entre as mais
freqüentes. Verifica-se uma tendência de elas buscarem
esse tipo de arranjo, ou considerarem que essa forma de
trabalho pode ser mais eficiente e reduzir os custos da
atuação social. Porém, uma parte significativa de empresas
prefere deter a autonomia e exclusividade de suas ações.
Questões como falta de confiança, carência de informações
e experiências frustradas permeiam essa tendência de
rejeição do trabalho em colaboração, constituindo-se em um
dos mais importantes desafios à expansão das práticas de
empreendedorismo e responsabilidade social.
As organizações da sociedade civil mostram-se bastante
ambivalentes em relação à tendência de interesse das
empresas por atuar na solução de problemas sociais. Aquelas
que têm uma percepção positiva das parcerias nas quais
DEES (1998) cita o economista Jean Baptiste Say reconhecido pelo significado amplo que atribuía ao empreendedor como
agente do progresso econômico no século XIX.
56
DRUCKER, P. Inovação e Espírito Empreendedor (entrepreneurship): prática e princípios. São Paulo: Pioneira, 1994. & DRUCKER,
P. Administração de Organizações sem Fins Lucrativos:princípios e práticas. São Paulo: Pioneira, 1995.
57
288
58
DEES, J. G. op. cit. p. 2.
COLEÇÃO
se envolvem enfatizam os benefícios: aperfeiçoamento da
capacidade de gestão; modernização de práticas gerenciais;
ampliação de network; fortalecimento da imagem; ampliação
do acesso a recursos.
Aquelas que evitam fazer alianças, ou que tiveram experiências
frustrantes, ressaltam: incompatibilidade da lógica e dos
ritmos de trabalho; falta de conhecimento e sensibilidade
da empresa quanto às especificidades dos problemas
sociais; caráter arrogante e impositivo, ou paternalista
e condescendente com que a empresa se relaciona com a
entidade; falta de clareza sobre as intenções da empresa
e os valores que norteiam sua ação; insegurança quanto à
duração do relacionamento.
Pode-se dizer que, ao longo da vida da parceria, as
organizações da sociedade civil tendem a oscilar entre
essas duas posições, o que é indicativo de que elas são
dependentes das iniciativas e das decisões empresariais.
Por isso, um passo no caminho do aperfeiçoamento das
alianças intersetoriais seria o estímulo à proatividade das
organizações da sociedade civil e à sensibilização das
empresas no sentido de manterem um relacionamento mais
equilibrado no que diz respeito às decisões vitais para o
destino das alianças.
Os casos de empreendedorismo desse estudo do CEATS
ressaltam um avanço no tipo de relacionamento proposto
pelas empresas. Além de parceria para manejar projetos
sociais, as situações apresentadas configuram uma relação
de aliança estratégica, na qual a empresa estimula pessoas e
grupos sociais a criarem e manterem negócios sustentáveis,
que passam a integrar sua cadeia produtiva.
As características do contexto externo são fortes condicionantes
desse tipo de decisão. As empresas são grandes corporações
atuando no setor agroindustrial, como é o caso da
AGROPALMA (produtora de óleo de palma) e da ORSA e
VCP (produtoras de celulose e derivados. Ou são empresas
289
Rosa Maria Fischer
com produção altamente dependente de ativos oriundos
da biodiversidade brasileira, como é o caso da Natura
– indústria de cosméticos e produtos de higiene pessoal.
Portanto, a própria característica do negócio pressupõe
intensa interação das empresas com o meio ambiente e com
as comunidades localizadas em sua área de influência.
O Grupo ORSA, além de se dedicar a um tipo de produção
que demanda especial cuidado com as questões ambientais,
adquiriu, em 2000, a Jari Celulose (unidade industrial
no coração da floresta amazônica), que produz mais de
350 mil toneladas de celulose, das quais exporta 90%,
ocupando uma área de 1.700.000 hectares, 1.100.000 dos
quais constituídos por mata nativa. No entorno das instalações
industriais, em regiões de acesso precário e difícil, foram
contabilizadas 127 comunidades, cada qual tendo em média
20 famílias e totalizando cerca de 12.000 pessoas vivendo
de extrativismo dos recursos florestais, muitas vezes em
condições de pauperismo59. Os três municípios vizinhos
apresentam baixos indicadores de desenvolvimento humano
e quadros expressivos de pobreza e miséria, típicas das
longínquas regiões ribeirinhas do norte do país.
Nem mesmo a já consagrada experiência desse grupo em
desenvolver projetos sociais por meio da Fundação ORSA foi
suficiente para implantar uma estratégia de responsabilidade
corporativa na região. Assim, indo além das parcerias e
investimentos sociais, o grupo desenvolveu proposições
de empreendimentos envolvendo as comunidades com
o objetivo de estimular a capacidade empreendedora das
pessoas, principalmente as mais jovens, possibilitando
a geração de renda em uma área deprimida pela pobreza
estrutural, baixa oferta de emprego, falta de qualificação da
mão-de-obra e baixo nível de escolaridade da população.
Como observa Sérgio Amoroso, controlador do Grupo
ORSA: “um empreendimento privado tradicional, por mais
Diagnóstico Socioambiental das Comunidades do Vale do Jari – realizado pela equipe CEATS sob a Coordenação dos Professores
Rosa Maria Fischer e João Teixeira Pires para o Grupo ORSA. São Paulo:2006.
59
290
COLEÇÃO
responsável que venha a ser, é limitado em sua capacidade
de equilibrar a distribuição da riqueza. A pressão sobre a
floresta e os problemas sociais continuarão comprometendo
a sustentabilidade do negócio”60.
Prospectando as potencialidades de recursos humanos e
naturais existentes na região, com base na conscientização
dessas barreiras, o grupo concebeu e vem implementando
empreendimentos dos tipos: manejo certificado de
recursos madeireiros e não madeireiros; desenvolvimento
de fitoterápicos e nutracêuticos; marcenaria; movelaria;
carpintaria e produção de fibras de uso industrial.
Os empreendedores são moradores das comunidades,
orientados por assistência técnica e programas de
capacitação propiciados pela empresa. Conforme as
características de cada empreendimento, as relações podem
ser de parceria societária ou de contrato de fornecimento. Em
cada tipo, estão definidos os direitos e deveres dos parceiros e
as condições de geração e distribuição da receita. Entretanto,
em todos os casos, o grupo investe também na geração de
capital social por meio de projetos da Fundação ORSA, que
visam ‘empoderar’ as pessoas com conhecimentos e práticas
de cidadania.
No extremo oposto do país, nos limites do estado do Rio
Grande do Sul, vizinho ao Uruguai, outra grande empresa
do mesmo setor de produção de papel e celulose percebeu a
necessidade de redefinir suas estratégias de relacionamento.
A VCP – Votorantim Celulose e Papel é uma das mais
importantes divisões do poderoso Grupo Votorantim,
o qual distribui suas atividades produtivas nos mais
diversos setores: agroindústria, mineração, siderurgia. Um
projeto estratégico da divisão, que reflete a tendência de
crescimento do setor no Brasil, expande as atividades de
cultivo e produção industrial para a região Sul, aproveitando
condições favoráveis à aquisição de terras e implantação
de instalações industriais.
60
www.gruporsa.com.br – Desenvolvendo a Sustentabilidade.
291
Rosa Maria Fischer
O projeto a ser implantado nos próximos sete anos prevê a
construção de uma indústria com capacidade para produzir
um milhão de toneladas/ano de celulose, o que implica ocupar
cerca de 135.000 hectares com o cultivo de eucaliptos. O impacto
gerado pelo projeto atinge 21 municípios com uma população
urbana e rural estimada em mais de 950.000 habitantes.
Ao contrário da tradição dos empreendedores pioneiros, que
invadiam as localidades escolhidas com a força de seu tamanho
e poder, destruindo os recursos naturais e as condições de
vida dos habitantes, a VCP vem se fixando na região com o
cuidado de estabelecer redes de relacionamento sinérgico
com as comunidades locais. Encomendou um diagnóstico
socioambiental para reconhecimento da área e a modelagem
de um sistema de avaliação de impactos61, que lhe serve de
instrumento gerencial para prevenir externalidades negativas
decorrentes da sua presença.
Procurando valorizar a capacidade empreendedora local,
a empresa evitou resolver sua necessidade de produção
agrícola exclusivamente por cultivo próprio. É sua meta
que, pelo menos, 30% da produção agrícola demandada
pela indústria sejam provenientes de agricultores locais,
de modo a incrementar a geração de renda deles e evitar a
especulação fundiária. Assim, fixados em suas propriedades
rurais de pequeno e médio porte, esses produtores não serão
expulsos para os centros urbanos e não terão suas economias
depauperadas.
Atualmente, a empresa já conta com cerca de 40.000
hectares plantados, pertencentes a pequenos proprietários
envolvidos no programa Poupança Florestal, o qual lhes
assegura a compra de madeira a preço justo e pré-estabelecido e
lhes facilita o acesso a financiamento bancário. Como no caso
do Grupo ORSA, a VCP também reconhece a necessidade de
compartilhar com seus parceiros conhecimento técnico que
lhes permita obter a qualidade requerida pela indústria e a
Modelagem do Sistema de Monitoramento e Avaliação de Impactos Socioambientais realizado para a VCP pela Equipe CEATS,
sob a direção dos Professores Rosa Maria Fischer e João Teixeira Pires.
61
292
COLEÇÃO
rentabilidade que mantenha a atração pelo empreendimento.
Assim, presta serviços de assistência técnica, inclusive para
que o agricultor possa desenvolver outras culturas em sua
propriedade, multiplicando as fontes de renda, e evitando a
dependência no fornecimento da madeira e as conseqüências
negativas da monocultura para o ambiente.
Nesse tipo de relacionamento entre a empresa e os pequenos
proprietários locais, é importante ressaltar o inédito acesso dessas
pessoas às informações que podem fomentar seus negócios.
A falta de condições para que os agricultores obtenham
crédito para financiamento de atividades é recorrente nessas
regiões empobrecidas. Mesmo programas federais com juros
subvencionados pelo Governo, como é o caso do PRONAF
(Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar) não
beneficiam essas pessoas, porque elas se encontram em tal
estado de isolamento e abandono que não reúnem as condições
individuais para conseguir habilitação para esses créditos.
Um dos casos estudados é exemplar nesse aspecto. Trata-se da
AGROPALMA, maior produtor de óleo de palma da América
Latina, com 5,5 milhões de palmeiras plantadas e produção
de 120 mil toneladas de óleo de dendê anuais62. A empresa
localiza-se no estado do Pará, no norte do país, a 150 km
de distância da capital Belém, em região caracterizada pela
exclusão econômica e social dos pequenos produtores rurais.
O grupo empresarial, composto por seis empresas,
responde por 80% da produção nacional desse óleo,
gerando 2.800 empregos diretos e faturamento anual de 185
milhões de dólares. Embora domine todo o ciclo produtivo
– do cultivo ao processamento industrial, em áreas que se
estendem por 32 mil hectares abrangendo três municípios –,
a empresa não pode deixar de observar duas tendências em
seu ecossistema: a primeira é a perspectiva de crescimento
da demanda, não apenas pelo aumento e diversificação do
emprego de óleo de palma em várias aplicações no mundo
O azeite-de-dendê, ou óleo de palma, é um azeite popular na culinária brasileira produzido a partir do fruto da palmeira conhecida
como Dendezeiro (Elaeis guineensis) ou Palma. Além do uso culinário, o azeite-de-dendê pode também substituir o óleo diesel.
É empregado na fabricação de sabão e vela, para proteção de folhas-de-flandres e chapas de aço, fabricação de graxas e
lubrificantes e artigos vulcanizados.
62
293
Rosa Maria Fischer
inteiro (indústria alimentícia, oleoquímica, saboaria e
outras), como também pela ascensão do biodiesel como fonte
combustível sucessora do petróleo. A segunda, que indica
a necessidade de substituir o modelo de produção agrícola
em terras próprias por formas mais flexíveis que rebaixem
o custo e ainda propiciem condições de um relacionamento
simbiótico com as comunidades de seu entorno.
Plantação de dendê da AGROPALMA
Além da pobreza, a região se caracteriza pela freqüência de
conflitos fundiários, os quais adquirem caráter violento,
principalmente quando a localidade se torna alvo da
cobiça de exploradores clandestinos de madeira nobre
(situação vivenciada pelo Grupo ORSA) ou de movimentos
sociais que reivindicam a reforma agrária (situação
vivenciada pela VCP). Antecipando-se a essas dificuldades
e considerando antieconômica a imobilização de capital
na aquisição de terras, a AGROPALMA decidiu investir
no estímulo aos empreendedores fixados em seu entorno.
Inspirada por um modelo de agricultura familiar empregado
na Malásia e Tailândia, planejou aumentar sua produção
com menor custo, estabelecendo uma relação estável com os
pequenos produtores vizinhos, que passariam a ter a garantia
da compra e do escoamento de sua produção.
294
Há barreiras que impedem ou dificultam o estabelecimento
dessas alianças: as diferenças culturais entre os agricultores
e os gestores e técnicos da empresa; o baixo nível
educacional das pessoas da comunidade; a carência de
COLEÇÃO
documentos essenciais, como a identidade pessoal e o título
de propriedade da terra. Essas características dificultavam,
por exemplo, o acesso desses produtores ao PRONAF:
analfabetos, não sabiam preencher os formulários e assinar
os contratos de financiamento; isolados, não tinham acesso
às agências bancárias e às informações; abandonados, não
sabiam como regularizar a situação de seus documentos e
cadastros; desconfiados, temiam perder suas terras para a
empresa, por não acreditarem nas intenções de aproximação e
vantagens compartilhadas.
Ao contrário da VCP, que estimulou um banco privado
comercial a oferecer o crédito que apóia a produção de seus
parceiros, a AGROPALMA estabeleceu aliança com um
banco estatal de desenvolvimento regional o BASA (Banco
da Amazônia) e com as prefeituras dos municípios vizinhos.
Essas escolhas estão relacionadas ao estilo gerencial de
cada empresa e às características socioculturais e políticas
predominantes em cada região.
A AGROPALMA vem, gradativamente, ampliando o
número de famílias participantes de seu programa, em
um processo seletivo que começou com 50 famílias com
renda mensal inferior a 27 dólares, em uma área de 500
hectares (2001), e atingiu 150 famílias e 1.500 hectares
(2005). A receita média por família – 345 dólares por
mês no primeiro ano de colheita (2005) – dobrou no ano
seguinte. Após o sétimo ano, quando a cultura se tornou
perene (2008), estima-se que a receita líquida de 11 mil
dólares/ano por família, proveniente apenas da produção
dos cachos de palma, poderá ser acrescida do ganho com
outras culturas consorciadas na mesma área.
Também no Norte do país, a Natura – empresa brasileira
de cosméticos reconhecida por sua estratégia de
sustentabilidade e pelos valores de responsabilidade de sua
cultura organizacional – detém uma experiência de quase
10 anos na manutenção de comunidades tradicionais
como parceiras e fornecedoras de insumos para criar e
desenvolver seus produtos. Aproveitando sua forte marca,
295
Rosa Maria Fischer
associada ao conceito de bem-estar e à proposição de entregar
produtos naturais, a empresa firmou um posicionamento
estratégico com o lançamento da linha Ekos, formada por
produtos desenvolvidos com base em ativos oriundos da
biodiversidade brasileira, principalmente da floresta
amazônica. Com esse apelo, a Natura promoveu a abertura
de seu capital e começou a implementar seu projeto de
internacionalização.
Contudo, para realizar esses objetivos ambiciosos, foi preciso
investir em longo e profundo aprendizado sobre como
estabelecer e manter alianças estratégicas intersetoriais63,
inclusive com grupos nativos da floresta, com pequenas
comunidades de economia extrativista e com moradores
locais detentores de conhecimentos tradicionais acerca do
emprego de recursos naturais. Esse processo de aprendizagem
nem sempre é linear e tranqüilo e, muitas vezes, a empresa teve
de enfrentar reivindicações inesperadas, desativar acordos
estabelecidos e negociar novos padrões de parceria.
Tais dificuldades, entretanto, não reduzem a fé que
gestores e dirigentes depositam nos benefícios do esforço
de manter essas redes de relacionamento, buscando tornálas simbióticas, isto é: geradoras de sustentabilidade para
a empresa e para os grupos de baixa renda, que se tornam
empreendedores locais e passam a ser centros geradores de
transformação social.
Um dos traços comuns dessas iniciativas é que, embora
sejam embebidas por uma dose de altruísmo, elas
caracterizam-se por uma visão racional que procura obter
competitividade para o negócio empresarial. Entretanto,
a natureza dessa competitividade não é de explotação,
porque é concebida como um compartilhamento de
vantagens, que assegura perenidade e sustentabilidade
para a empresa e para os empreendimentos sociais a ela
associados. Outra característica é que tais iniciativas não
296
63
Natura Ekos: da floresta a Cajamar. FISCHER, R.M. e CASADO, T. Boston: Harvard Business School Publishing, 2003
COLEÇÃO
são isoladas e nem dependem, exclusivamente, da vontade e
da ação das empresas. Para concebê-las e implantá-las, fazse necessário agregar recursos e esforços de diversas fontes
organizacionais, as quais se integram em configurações
inovadoras que materializam a colaboração intersetorial.
4. ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL ESTIMULANDO
EMPREENDIMENTOS SOCIAIS
Outros empreendimentos analisados neste estudo são de
concepção e implantação não vinculadas a uma iniciativa
empresarial, embora possam vir a fazer parte de uma cadeia
produtiva na qual também haja empresas privadas. Nesses
casos, do mesmo modo, destacam-se certas características
do ecossistema como condicionantes do empreendimento,
assim como a necessidade de implantar alianças estratégicas
para sustentar sua consolidação.
Mas é nestes exemplos que puderam ser identificados
outros importantes aspectos de análise sobre o tema
do empreendedorismo social. São eles: o papel das
‘organizações-ponte’; o desafio da geração de valor
econômico; e as dificuldades de gestão, em especial, da
governança desses empreendimentos.
Para apresentação neste texto, foram selecionados três casos
de empreendimentos que poderiam ser considerados ‘casos
de sucesso’, em razão de seu desempenho.
O primeiro deles é a APAEB (Associação de Desenvolvimento
Sustentável e Solidário da Região Sisaleira), que agrega
pequenos produtores rurais dedicados ao cultivo do sisal64
no semi-árido baiano, região castigada por longas secas que
provocam fome, miséria e migração.
O Brasil é o maior produtor mundial de sisal e responde
por quase 50% do mercado global, sendo o estado da Bahia
Planta originária do México cujas folhas produzem uma fibra altamente resistente, utilizada na confecção de artigos artesanais
diversos. Em espanhol, é chamada de ‘agave’.
64
297
Rosa Maria Fischer
responsável por 92% dessa produção, o que corresponde
a 120 mil toneladas/ano. Apesar de ser uma das riquezas
naturais do país, a maior parte dos lucros dessa produção
sempre foi apropriada por comerciantes que beneficiavam
e comercializavam a fibra, fornecida pelos agricultores em
estado bruto e a preços muito baixos.
Em 1980, alguns pequenos produtores, revoltados com a
miséria e a extorsão de que eram vítimas, buscavam uma
forma de aumentar a geração de renda e adquirir maior
autonomia sobre seus negócios. Incentivados por padres
europeus progressistas, eles fundaram a associação, como
forma coletiva de solução de seus problemas e de apoio mútuo
para resistir às crises. Passaram a investir na cultura do sisal
e, gradativamente, foram adquirindo bens que consolidaram
o patrimônio do grupo: um caminhão para transporte da
produção, uma máquina de beneficiamento para agregar
valor ao produto; um posto de vendas que funciona como
modesta cooperativa de consumo das famílias; uma
incipiente e, a princípio, informal cooperativa de crédito
mútuo. Durante a década de 1980, mais de 2.000 famílias
associadas garantiam a solidez da APAEB e permitiram
saltos mais arriscados: a constituição formal de uma
cooperativa de crédito para sustentar o capital de giro nas
entressafras; a comercialização direta e profissionalizada
de sua produção; e a eliminação de ‘atravessadores’.
298
Atualmente, a ação da APAEB beneficia 7.000 associados de
sete municípios da região. O volume mais significativo de
recursos da arrecadação municipal é injetado em Valente,
onde fica a sede da associação, o que a tornou o dínamo
econômico da cidade. Apenas esses indicadores já seriam
suficientes para uma avaliação positiva do empreendimento,
principalmente observando-se o fortalecimento dessas
pessoas que, além do incremento da renda familiar,
adquiriram novos conhecimentos, diversificaram sua
produção, conseguiram manter suas propriedades e ter
acesso a modernos bens de consumo e a melhores padrões
de conforto. As novas moradias construídas nos últimos anos,
COLEÇÃO
a diminuição das correntes migratórias e os mais elevados
níveis de escolaridade dos filhos e netos dos fundadores da
associação atestam esses bons resultados.
Porém, como se isso não bastasse, o espírito empreendedor dos
associados levou-os a vislumbrar um alvo outrora impossível,
mas já alcançado. No final da década de 1990, criaram a
Fábrica de Tapetes e Carpetes Valente, que funciona em
quatro turnos, com 630 trabalhadores, produz 650 mil m²
de tapetes e carpetes de sisal e fatura 5,5 milhões de dólares
(2005), com vendas para o mercado interno e exportação.
Fábrica de Tapetes e Carpetes da APAEB em Valente, BA
Esse foi um salto qualitativo do empreendimento social para
o negócio empresarial sustentável. A receita da indústria é
suficiente, não apenas para manter suas operações, como
também para injetar recursos nas inúmeras iniciativas da
associação que beneficiam os associados e os moradores das
comunidades, como: centro esportivo, clube recreativo, escola
agrícola, programas de capacitação técnica para convivência
com o semi-árido, educação ambiental, entre outras.
Outra associação é responsável por proporcionar meios
dignos de sobrevivência e resgatar a auto-estima de um
dos grupos sociais mais estigmatizados pela miséria: os
moradores de rua. Trata-se da ASMARE (Associação dos
Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável),
299
Rosa Maria Fischer
dedicada à coleta de material reciclável do lixo urbano
na cidade de Belo Horizonte, capital do estado de Minas
Gerais.
No início dos anos 1980, o crescimento significativo da
população urbana das capitais brasileiras trouxe consigo
o agravamento das crises sociais geradas pela oferta
insuficiente de emprego. Um dos indicadores dessa
situação foi o elevado crescimento dos ‘sem teto’, pessoas
que vivem em condições-limite de sobrevivência, em miséria
absoluta. A dificuldade de reinserção social desses grupos é
maior, na medida em que não apresentam condições pessoais
de se reintegrarem; são perseguidos por ‘ações higienistas’
dos governos locais; e não estão no foco de atenção das
políticas públicas, das ações sociais empresariais, ou mesmo
da filantropia. Marginalizados, são, quando muito, objeto da
atenção de entidades religiosas de caráter assistencialista.
Entretanto, o recrudescimento desse quadro de violenta
marginalização social provocou o início de movimentos de
articulação local, que passaram a reivindicar o direito ao
trabalho e à organização desses trabalhadores. De meados
de 1990 até hoje, o movimento disseminou-se nas maiores
cidades do país, realizou encontros estaduais e congressos
federais, articulou-se com iniciativas semelhantes em outros
países da América Latina. O sucesso da ASMARE começou
a ser construído quando os moradores de rua identificaram
um nicho de mercado para sua atividade, que consistiu em
inserir-se na cadeia produtiva da indústria de reciclagem.
300
A ASMARE é fruto de um trabalho assistencial iniciado em
1987 pela igreja católica de Belo Horizonte, com o objetivo
de apoiar a organização social e a atividade produtiva de
moradores de rua e catadores de resíduos. A associação
foi criada em 1990, com apoio da Prefeitura Municipal.
Sua atividade compreende a coleta, triagem, prensagem e
comercialização de materiais recicláveis, mas se estende
para ações de capacitação e manifestações culturais
indicativas do desenvolvimento pessoal dos associados.
Sua rede de relacionamentos compreende também indústrias
COLEÇÃO
de produção de papel, depósitos de materiais recicláveis
e empresas, demonstrando a necessidade de que o
empreendimento social esteja sustentado por um conjunto
de alianças estratégicas intersetoriais.
Coleta seletiva em Belo Horizonte, MG
No SEKN, os estudos das iniciativas sociais El Ceibo
Recuperadores Urbanos (Argentina), ASMARE (Associação
dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reciclável
(Brasil) e Cooperativa de Recicladores Porvenir (Colômbia)
permitem aprofundar conhecimentos, compreender os cenários
e as dinâmicas sociais e econômicas que promoveram o
surgimento dessa categoria de trabalhadores – os catadores
de materiais recicláveis –, bem como das organizações
e movimentos locais, regionais e nacionais. Além disso,
permitem identificar e compreender os papéis dos diferentes
atores envolvidos na cadeia produtiva transformadora da
reciclagem e o seu funcionamento. Constata-se que os
catadores têm construído uma rede de parceiros – organizações
sociais, empresas privadas e órgãos públicos –, que vem se
confirmando como fundamental para a promoção de ganhos
econômicos, sociais e ambientais para os catadores e suas
famílias, para as associações e cooperativas e para toda a
sociedade.
301
Rosa Maria Fischer
De fato, iniciativas bem-sucedidas de cooperativas e
associações de catadores de resíduos sólidos na América
Latina parecem se articular, em geral, sobre uma base
rica em capital social e no funcionamento em redes, cuja
formação e existência são anteriores à própria experiência
empreendedora.
Adotando também o formato organizacional de cooperativa,
a Coopa-Roca (Cooperativa de Trabalho Artesanal e de
Costura da Rocinha) produz peças artesanais para artigos
de decoração, indústrias de confecção de vestuário e
estilistas de moda. Criada no início da década de 1980
por humildes moradoras da favela da Rocinha, no Rio
de Janeiro, tinha o objetivo de propiciar uma ocupação
domiciliar remunerada para mulheres impossibilitadas
de se empregar no mercado formal, por não apresentarem
qualificação adequada e por não se dedicarem às jornadas
comuns de trabalho, em virtude de cuidarem de filhos
pequenos.
302
A Rocinha é uma das várias favelas da cidade do Rio de
Janeiro que expõem o contraste entre a riqueza e a miséria
do país, num aglomerado urbano com cerca de 150 mil
habitantes. A iniciativa do empreendimento foi estimulada
por uma socióloga que tinha a intenção de desenvolver
projetos de arte-educação com as crianças, mas acabou
descobrindo nas mães um talento para técnicas artesanais,
o qual poderia ser canalizado para atividades produtivas.
Em 1987, a cooperativa foi criada por cinco moradoras
com uma estrutura de produção muito simples na qual
os produtos eram comercializados de forma errática
em feiras, bazares e lojas escolhidos aleatoriamente. O
intenso crescimento dos setores de moda e confecção
em São Paulo e no Rio de Janeiro, nos anos seguintes,
propiciou oportunidades para a Coopa-Roca ampliar e
diversificar sua produção, tornando-se conhecida como
fornecedora de produtos artesanais, parceira de estilistas
e de grifes reconhecidos, e participante efetiva das cadeias
produtivas.
COLEÇÃO
Vestido produzido pelas artesãs da Coopa-Roca
em desfile do estilista Carlos Miele
Nessas cadeias, os parceiros comerciais mantêm com
a cooperativa uma relação de simples fornecimento de
peças e adereços artesanais; mas aportam importante
ativo, que consiste na transformação do padrão produtivo
do empreendimento. Para alinhar-se aos requisitos da
demanda, a organização teve de adaptar-se aos critérios
industriais de qualidade, escala de produção e ritmo de
trabalho.
A mobilização das mulheres envolvidas com a cooperativa
não se limita à produção, mas também a atividades de lazer,
capacitação e acesso a bens culturais, elevando sua autoestima, rebaixada pela cultura ‘machista’, prevalente nas
relações conjugais e familiares predominantes nas favelas.
Embora o número de artesãs em atividade flutue, em
função do volume de trabalho demandado pelos parceiros
comerciais, atualmente, cerca de 100 pessoas se mantêm
ocupadas de forma permanente.
303
Rosa Maria Fischer
Em 20 anos, a Coopa-Roca expandiu-se, exigindo a
ampliação e adaptação do espaço físico; o desenvolvimento
da capacidade de gestão das cooperadas; o redesenho
de sua estrutura organizacional; e a sistematização dos
processos de trabalho. Entre os maiores desafios enfrentados
para assegurar a sustentabilidade do empreendimento está a
necessidade de criar um modelo de governança adaptado à
sua especificidade, o qual permita a transparência da gestão
e a efetiva participação das cooperadas nas ações e decisões
que norteiam o destino e os resultados da Coopa-Roca.
Esses casos indicam que organizações da sociedade civil,
adquirindo diferentes formatos organizacionais e modelos
de gestão, têm potencial para se tornarem empreendimentos
sociais. Os resultados de seu desempenho no que
concerne à geração de valor social são evidentes, tanto na
avaliação por mensurações quantitativas como na busca por
parâmetros qualitativos. O incremento da renda pessoal e
familiar é resultado claro, identificado na história de vida
dos agricultores da APAEB, dos catadores da ASMARE
e das artesãs da Coopa-Roca. O aperfeiçoamento da
qualificação profissional dessas pessoas é acompanhado
por outros ganhos igualmente importantes: elevação da autoestima, maior autonomia na condução de suas trajetórias,
intensificação da participação social e do exercício da
cidadania.
304
Mais difícil de ser identificado é o valor econômico
agregado ao empreendimento. Embora sejam considerados
casos de sucesso, esses empreendimentos demonstram a
grande dificuldade de se manter um desempenho financeiro
estável. Todos ainda dependem de grande esforço de captação
de recursos e são alvejados por freqüentes crises. Tanto na
APAEB (que opera com elevados volumes financeiros, como
na Coopa-Roca e na ASMARE) que ainda dependem do apoio
de financiadores externos, fica evidente a vulnerabilidade
desses empreendimentos, principalmente se a mensuração
do valor econômico gerado for realizada empregando
os paradigmas vigentes nos sistemas de avaliação de
COLEÇÃO
performance das empresas privadas. Uma questão que se
coloca, portanto, é de que o conceito de valor econômico e
seus parâmetros avaliativos devem ser redefinidos para se
adequar às características específicas do empreendimento
social.
Reflexão semelhante se estabelece para os procedimentos
de gestão em geral e, mais especificamente, para os modelos
e práticas de governança. Os modelos de gestão consagrados
na administração das organizações empresariais não podem
ser transferidos mecanicamente para os empreendimentos
sociais. Coloca-se, portanto, não apenas o desafio de
profissionalizar a gestão, mas também de criar instrumentos
e competências apropriados às características e formas de
atuação desses empreendimentos.
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308
COLEÇÃO
Parte III
NOVOS MATERIAIS, VELHOS HIPPIES E
MUITO P&D:
CASO DO VÔO LIVRE
Claudio de Moura Castro
1. INTRODUÇÃO
As palavras Inovação, Criatividade, Pesquisa e Desenvolvimento
evocam imagens de processos e laboratórios sofisticados.
Pensa-se logo em difusão de semicondutores em salas
limpas, estações espaciais ou mapeamento de algum
genoma celebrado. Por relevantes que tais assuntos possam
ser, os termos citados cobrem um universo muito limitado
do que é inovação. Na grande coleção de objetos, máquinas
e processos que cercam o cotidiano, há muita inovação, mas
nem sua criação e nem os resultados se parecem com esses
processos descritos. Grande parte do progresso não se dá
em recônditos laboratórios, mas em um mundo muito mais
banal e mais simples.
309
Claudio de Moura Castro
De fato, inova-se também no simples. A maioria dos
produtos resulta do acúmulo de pequenos avanços de
desenho e de processo produtivo. Não há menos criatividade
em desenhar um carrinho de mão mais ergonômico do que
reduzir em um decimal o coeficiente de arraste de uma
carroceria de automóvel. Nem toda pesquisa se faz de
avental branco diante de um espectrógrafo de massa, pois
mesmo em indústrias sofisticadas, como a automobilística ou
siderúrgica, muita pesquisa ocorre no chão de fábrica ou no
uso do produto.
Com o objetivo de quebrar tais estereótipos, o presente ensaio
lida com o vôo, mas não o supersônico e sim o lentíssimo
vôo das asas-deltas e parapentes. De tão lento, jamais houve
muita pesquisa sistemática sobre a aerodinâmica em tais
velocidades. Portanto, não há uma ciência do vôo a baixa
velocidade. Tal circunstância deu características muito
particulares às empresas e pessoas que tiveram e têm papéis
determinantes nesse setor.
Essa indústria se vale dos mais modernos materiais
produzidos nas indústrias mais avançadas. Fibras de aramide
e HPPES (kevlar technora, spectra, vectran e dineemas),
tecidos de poliamida de alta tenacidade, ligas de alumínio
temperado e ferragens produzidas em fábricas certificadas
para a indústria aeronáutica são usadas cotidianamente,
ou seja, do ponto de vista dos materiais, é uma indústria
de ponta. Em contraste, como esse vôo não tem um lastro
científico, não concede vantagens para os engenheiros
aeronáuticos. De fato, como será mostrado, jamais houve um
só avanço feito por tais engenheiros.
No seu conjunto, é uma indústria formada por empresas
pequenas ou muito pequenas. Desde seu aparecimento,
a fábrica típica conta com três a dez pessoas trabalhando,
sendo raras aquelas cuja força de trabalho ultrapassa vinte
funcionários.
310
Porém, ao contrário da esmagadora maioria das outras indústrias
(grandes ou pequenas), em que pouco ou nada se gasta
COLEÇÃO
em pesquisa e desenvolvimento, as fábricas de materiais
de vôo livre gastam na ordem de 10% de sua receita no
desenvolvimento de novos modelos. Isso é algo como
dez vezes mais do que gastam as maiores e melhores
indústrias brasileiras, pois somente as mais modernas e
eficientes indústrias brasileiras chegam a gastar 1% do
seu faturamento em pesquisa e desenvolvimento (P&D).
A única exceção é a indústria informática, mas, mesmo
nessa área, 10% do faturamento é um percentual alto.
Com essa curiosa combinação de novos materiais, muito
P&D e fabricantes sem currículos técnicos fazem do vôo livre
um caso muito curioso. Mais ainda, seus fabricantes não são
pacatos mecânicos ou administradores, mas pessoas com
passado de aventura e alguns de nomadismo confirmado.
Sempre foi grande o número de hippies (praticantes ou
aposentados), daí o título do presente ensaio: “Novos materiais,
hippies velhos e muito P&D”.
2. A PITORESCA HISTÓRIA DO VÔO LIVRE65
“Que desejo eu sinto de me precipitar no espaço infinito e de
sobrevoar abismos medonhos” Goethe
“Inventar um aeroplano não é nada. Construir um é alguma coisa.
Mas voar é tudo” Otto Lilienthal
Essa história começa com Ícaro, naturalmente. O sonho e a
paixão do vôo são tão velhos quanto a inveja que o homem
tem dos pássaros. Depois de tornado possível, é difícil imaginar
outra atividade que tanto magnetize e apaixone o homem.
Não se trata de amor fugaz, de flertes passageiros ou de
ligações efêmeras, uma vez que costuma ser uma paixão para
a vida toda, consumada ou platônica. No entanto, refere-se
A parte histórica do ensaio foi inspirada pelo livro de Dan Poynter Hang gliding: the basic handbook of skysurfing (Califórnia:
Poynter, 1973) e outro de Denis Pagen, Hang Gliding and Flying Skills (Pensylvania: Pagen, 1977), ambos precursores na
apresentação do vôo livre para um público mais amplo. Também serviu de inspiração a falecida revista Low & Slow, publicada nos
Estados Unidos até o fim dos anos 1970. Em período mais recente, a Drachenflieger alemã (hoje chamada Fly and Glide) apresenta
a melhor cobertura técnica sobre o vôo. Mas as interpretações aqui apresentadas vão por conta e responsabilidade do autor.
65
311
Claudio de Moura Castro
a homem, pois as mulheres não são dadas a tais fascínios,
permanece reduzido o número de voadoras, não atingindo
cinco por cento do total.
A liberdade e a emoção de voar lá estão na mitologia grega
espelhando um sonho atávico. Estão documentadas em
mármore e textos escritos, embora a beleza das imagens
de Ícaro absolutamente nada tenha a ver com a física
do vôo planado em baixa velocidade. Ele pode ser o
símbolo do desejo de voar, mas os meios de fazê-lo estão
descalibrados, seu equipamento é tão verossímil quanto
os tapetes voadores do folclore árabe. Lamentavelmente,
Ícaro é também protagonista do primeiro acidente de
aviação.
Portanto, a paixão pelo vôo tem um companheiro permanente:
o medo.
O primeiro projeto de uma máquina de voar com
inspiração científica foi de Leonardo da Vinci. Em um
de seus escritos, afirma: “Um homem equipado com asas
bem grandes pode vencer a resistência do ar, conquistar
esse elemento e subir, apoiado nele”. Interessante notar que
esse inventor/pintor desfrutou longos anos de vida e uma
das razões é que não provou, de verdade, o aparato voador
de sua invenção. Menos sorte teve um funcionário seu. Era
um empregado de grande iniciativa que, sem autorização,
decolou da torre de um castelo com uma asa projetada pelo
mestre e inspirada nos pássaros. Contudo, demonstrou
empiricamente que o projeto não era bom, pois o teste lhe
custou a vida. Boas razões teve da Vinci para permanecer
um teórico em tais matérias.
312
Daí para frente, por muitos séculos, quase nada aconteceu.
É bem verdade que muitos morreram, construíram aparatos
voadores e saltaram de torres e edifícios. Lá pelo fim do
século XIX, mais de duzentos já haviam perdido a vida
tentando voar em balões de ar quente ou algum tipo de asa.
Os mais afortunados terminaram com pernas quebradas,
mas não deixaram nenhum saldo positivo sobre o qual algo
COLEÇÃO
pudesse ser construído. Quase todos seguiram o exemplo
dos pássaros e tentaram construir aparelhos que batiam as
asas. Foram também construídos muitos pára-quedas. Os
inventores mais prudentes mandavam seus cachorros para
os testes. Vários porcos foram também sacrificados pelo bem
do vôo. Um certo Drouet tentou escapar de uma fortaleza na
Morávia, mas quebrou o pé ao aterrissar e não completou a
sua fuga.
No campo dos aparelhos mais leves do que o ar, o brasileiro
Lourenço de Gusmão teve algum sucesso, mas esse “padre
voador” acabou perseguido pela Inquisição e assado em uma
fogueira. Notem-se, portanto, os incentivos à criatividade
oferecidos em Portugal. Todavia, examinar o vôo em balões
causaria um desvio da história do vôo livre.
Somente na segunda metade do século XIX voltou a moda de
voar. Um inglês de nome Sir George Cayley projetou vários
aparatos já bastante próximos dos que, mais tarde, vieram a
dar certo. Por boas razões, quem voava era o seu cocheiro.
Quem sabe teria sido a lição mais importante que aprendeu
com da Vinci?
Estava, então, lançada a semente do vôo planado. Vários
outros inventores também desenharam planadores e usaram
encostas de morros para testá-los. Alguns sobreviveram,
outros não.
Um dos mais importantes precursores desse vôo foi
Otto Lilienthal. Ele e seu irmão Gustave, da Pomerânia,
começaram suas pesquisas sobre vôo em 1871. Ao longo de
quinze anos, chegaram a fazer 2000 vôos em 16 planadores.
Ao contrário dos que vieram antes e de quase todos os que
vieram depois, os dois irmãos estudaram metodicamente
o movimento dos pássaros, fizeram protótipos e anotaram
germanicamente os resultados de todos os experimentos. O
produto desse esforço foi um livro mostrando o que o vôo dos
pássaros podia ensinar sobre aerodinâmica. Segundo consta,
o livro foi lido por todos os inventores que o sucederam,
tornando-se a principal fonte científica sobre o assunto.
313
Claudio de Moura Castro
Seus planadores usaram exatamente o mesmo deslocamento
do centro de gravidade do piloto que permite controlar uma
asa-delta moderna. Além disso, Otto foi o primeiro a ganhar
altura como resultado de correntes ascendentes. Quando
estava pensando em instalar um motor no seu último modelo,
um biplano, teve um acidente fatal, em 1896. Moribundo,
teria dito: “É preciso fazer sacrifícios”.
Um americano de origem francesa, Octave Chanute, deixa
também contribuições importantes, diretas e indiretas. Antes
disso, teve uma longa carreira como inventor talentoso, a que
se devem inovações importantes na construção de estradas
de ferro. Chanute começou a pensar no vôo planado, já meio
avançado nos anos, lendo sobre esse assunto, que estava
entrando na moda. Seu primeiro protótipo, um triplano, não
voava bem, mas sobreviver a seus testes com 64 anos já foi
uma bela proeza. A favor do seu pragmatismo, note-se sua
decisão de fazer todos os testes em dunas de areia, muito
mais macias do que o chão duro.
Sua segunda linha de planadores antecipa a geometria
dos primeiros aviões dos irmãos Wright e o Demoiselle
de Santos Dumont. Tinha uma asa retangular e uma
empenagem parecida com a dos aviões de hoje. A pilotagem
era por deslocamento do centro de gravidade do piloto e,
para tanto, era necessário voar de pé. Vale notar que, no
início da década de 1970, voltaram a ser construídos muitos
planadores bem parecidos com esse desenho, inclusive
no sistema de pilotagem por deslocamento do centro de
gravidade. Mais ainda, os ultraleves (motorizados) do fim
desses anos retomam esse desenho convencional de avião.
O mais copiado de todos, o Quicksilver, teve sua primeira
encarnação como planador.
314
Chanute merece cumprimentos em três direções. Seus
planadores e os escritos gerados em sua esteira tiveram
muita influência no desenvolvimento da nascente aviação.
Em segundo lugar, conseguiu fazer isso tudo e continuar
vivo apesar da idade bem madura em que começou a voar.
Em terceiro, a partir do momento em que deixou de voar,
COLEÇÃO
tornou-se grande fonte de apoio para os que continuaram seu
trabalho, sobretudo os irmãos Wright, com quem mantinha
intensa correspondência.
Langley foi um self-made man, cientista e inventor americano
muito conhecido. Entre outros assuntos, pesquisou muito o vôo
com aparelhos mais pesados do que o ar. Foi contemporâneo
de Santos Dumont, tendo os dois, inclusive, se encontrado
algumas vezes em Paris. Consta que se deram muito bem.
Aliás, é muito plausível a hipótese de que foi Langley quem
mais influenciou Santos Dumont para passar do mais leve
para o mais pesado que o ar, transição que o brasileiro custou
a aceitar.
Esse cientista americano também gastou muito tempo
de sua vida tentando construir planadores e aeroplanos
motorizados. Não obstante os amplos meios de que dispunha,
pois era diretor do Smithsonian, seus aviões teimavam em
cair na água. O Washington Post satirizou o insucesso dos
seus experimentos, dizendo que Langley deveria construir
submarinos, pela afinidade natural de seus aparelhos com
a água66.
Dentre os precursores do vôo planado, os mais ilustres e
celebrados foram os irmãos Wright. Sua obra começa mais
ou menos onde pára Chanute, construindo planadores e
estudando metodicamente os princípios teóricos do vôo.
Como Chanute, não desprezaram a segurança oferecida
pela areia, escolhendo as dunas da Carolina do Norte como
terreno de prova.
A obra dos dois irmãos marca uma encruzilhada no vôo.
Uma das suas contribuições mais importantes consiste no
desenvolvimento de um sistema de entortar a asa, para que
comece uma curva. De início, era uma boa alternativa ao
sistema de pilotagem por mudanças do centro de gravidade
do piloto. Esse método exigia que o piloto ficasse meio
pendurado, em um espaço livre no meio do planador. Era
66
Paul Hoffman, op. cit. p. 227.
315
Claudio de Moura Castro
usado desde Lilienthal e funcionava. Contudo, para o tipo de
aeronave que se seguiu, essa era uma limitação inaceitável.
Não obstante, o que torna os irmãos mais conhecidos é a
entrada em cena do motor.
Tanto nos Estados Unidos (com os dois irmãos) como na
Europa (com Santos Dumont), em pouco tempo o motor
muda irreversivelmente a velocidade de deslocamento.
Os aparelhos motorizados passam a voar a velocidades
muito acima dos vinte a quarenta quilômetros por hora dos
planadores que os antecederam. Além disso, vão ficando
mais pesados, requerendo um trem de pouso, novas técnicas
e materiais estruturais.
Esse distanciamento progressivo tem conseqüências que
influenciaram todo o perfil profissional daqueles que
desenvolveram o vôo livre mais de meio século adiante.
A partir do início do vôo motorizado, toda pesquisa
da aerodinâmica passa a focalizar um vôo muito mais
rápido. Segundo consta, morre com os irmãos Wright o
desenvolvimento de uma ciência de vôo a baixa velocidade.
Os dois chegaram a assinar várias publicações científicas
sobre o assunto, mas com o aumento da velocidade do vôo,
que interessava a todos, as publicações sobre o vôo lento
desaparecem. De tal forma que, se pode dizer, até hoje, o de
baixa velocidade permanece em um limbo teórico. As asas
de hoje, como as primeiras, são construídas por gente que
de aerodinâmica praticamente nada sabe.
O fato é que se observa um hiato na história do vôo livre a
partir da motorização dos planadores ocorrida nos primeiros
anos do século XX. Os usos potenciais de uma aeronave
motorizada eram infinitos e, diante deles, o vôo planado
passou a ser uma excentricidade obsoleta e virtualmente
abandonada. Os planadores reaparecem bem mais tarde, mas
já com a configuração e velocidade dos aviões. Passariam a
ser outro esporte, com outra aerodinâmica e produzidos por
uma indústria caudatária da manufatura convencional de
aviões. Nenhum parentesco com o vôo livre.
316
COLEÇÃO
3. ONDE SANTOS DUMONT E OS IRMÃOS WRIGHT SE
SEPARAM: O VÔO PELO PRAZER DE VOAR
Entre Santos Dumont e os irmãos Wright, havia tanto
semelhanças, como diferenças. Todos queriam fama e
reconhecimento pelo trabalho pioneiro e eram de origem
aristocrática. Os irmãos eram os hippies de uma severa
família de pastores protestantes. Wilbur causou escândalo e
consternação na França por não gostar de vinho e por arrotar
em público.
Mas há uma diferença que interessa em particular à
presente narrativa. Herdeiros de uma ética protestante,
os dois irmãos queriam ficar ricos. Para eles, inventar um
avião era o caminho da riqueza. O cliente mais imediato
eram os militares, daí que muito cedo andaram atrás deles,
tentando vender seu aeroplano. Curiosamente, conforme
estudo recente, o sucesso comercial e a fama dos irmãos
foram profundamente prejudicados pelo excesso de zelo
diante dos riscos de que alguém copiasse seu invento67. Todos
os seus vôos, durante anos, foram feitos sem testemunhas.
Quando disseram ter um aeroplano, que realmente voava,
encontraram grande ceticismo. Assim, se duvidavam os
americanos, mais ainda, o aeroclube francês que havia
documentado oficialmente o vôo do “Petit Santos”. E depois,
sobretudo na França, um aeronauta que arrota em público e
não gosta de vinho não merece muita confiança.
Se os irmãos estavam preocupados com reconhecimento
público, mais ainda estavam com a venda do seu aeroplano
para algum exército. O problema é que queriam vender sem
mostrar o aparelho voando. O próprio exército americano não
se convenceu. Os aviões de Langley, o poderoso presidente
do Smithsoniam, teimavam em afundar no rio Potomac. Não
surpreende que, do outro lado do rio, fossem céticos os
generais do exército americano, diante de dois fabricantes
67
Everet Bleiber, op. cit.
317
Claudio de Moura Castro
de bicicleta que voavam secretamente e se recusavam a
mostrar seu aparato a quem quer que fosse.
Foram então os irmãos oferecer o avião para a França,
Alemanha e Rússia, no entanto, a proposta era a mesma:
comprar sem ver voar. Passaram-se os anos e ninguém
comprou. Quando, finalmente, Wilbur se dispôs a voar em
público, muitos outros já estavam voando, tanto na França
como nos Estados Unidos (nesse momento, Orville já
havia morrido). Pouco tempo depois, seu obsoleto avião já
estava ultrapassado por Santos Dumont, Blériot e Curtiss.
Este último era um americano que teve muito mais sucesso
comercial do que os irmãos e estabeleceu uma indústria
de grande importância. Ou seja, por excesso de ambições
monetárias e a paranóia de serem plagiados, os irmãos
Wright não tiveram em vida nem a fama e nem as riquezas
almejadas. Embora Santos Dumont não fosse menos ávido
de fama (“Francamente, amo a glória e desejo ser famoso”68)
e nem menos inflado o seu ego, a semelhança pára por aí.
Santos Dumont desdenhava o dinheiro. Arriscava o pescoço
para ganhar um prêmio monetário, mas, ao recebê-lo,
distribuía para os pobres e para seus mecânicos.
A grande ironia do destino é que embora não fosse motivado
pelo dinheiro (exceto pelo seu valor simbólico como
reconhecimento dos seus feitos) parece que Santos Dumont
acabou ganhando mais do que os aflitos irmãos. Não ganhou
fabricando, mas na forma de prêmios pelos seus vôos.
Pela perspectiva da presente narrativa, interessa aqui registrar
uma diferença fundamental na concepção dos aparelhos
que construía. Via no vôo uma forma extraordinária de
recreação, daí sua preocupação em fazer aparelhos pequenos
e leves. Ia jantar no Maxim´s no seu balão Número 9,
passeava com ele, ia almoçar nos castelos de amigos que
moravam na periferia de Paris. Veio depois o 14 Bis, um
68
318
Hoffman, op. cit. p. 247.
COLEÇÃO
monstrengo inadministrável. Mas o Demoiselle volta ao
seu estilo, pois era a quintessência da aeronave recreativa:
pequeno, elegante, eficiente e de fácil pilotagem. Era a
versão mais pesada do que o ar do seu lépido Número 9.
Não o patenteou, justamente para que fosse copiado, o que
aconteceu em uma escala extraordinária. Na França, um
fabricante produziu 800 Demoiselle. Nos Estados Unidos,
foi capa do Popular Mechanics e era vendido como kit para
ser montado pelos mais intimoratos. O mais extraordinário
é que ninguém morreu em um Demoiselle, tendo sido
sua pequena capacidade de carga o que limitou a sua
multiplicação. Como Santos Dumont era muito leve, o avião
só permitia pilotos de até 55 quilos.
O que vem depois do Demoiselle só faz tirar do avião sua
dimensão recreativa. O uso militar, já na Primeira Guerra,
deixa entrever seu futuro para grande desgosto de Santos
Dumont. Seu preço aumenta e as dificuldades de pilotagem
idem, os riscos de choque no ar geram um cipoal de
regras de controle do espaço aéreo. Com isso, aparece a
necessidade de brevês e a burocracia do vôo se expande
de forma extraordinária pelo supremo império do “não
pode”. Assim sendo, o Demoiselle marca o fim do vôo pelo
prazer, pela curtição, pela liberdade. Daí para frente, é a
vez do vôo militar, comercial, de transportes de carga, de
correspondência e passageiros. Os usos recreativos passam
a ser muito limitados, tanto pelos custos como pela falta de
liberdade. Até muito recentemente, Santos Dumont foi o
último a voar pelo prazer do vôo.
Após uma hibernação de meio século, ocorre o renascer
do vôo livre, mas vindo de uma linhagem conceptual
completamente diferente. Um engenheiro aeronáutico
desenvolve, nos anos de 1940, uma série de inventos
focados no vôo com membranas flexíveis. Francis Rogallo
era diretor do túnel de vento do Laboratório Aeronáutico
de Langley (localizado na Virgínia, EUA, seu nome
homenageia o famoso inventor, cujos aviões não voavam).
319
Claudio de Moura Castro
Pelos idos de mil novecentos e sessenta, começa a
desenvolver e a patentear várias versões de um misto de
asa com pára-quedas, cuja característica fundamental era
seu perfil aerodinâmico, que só se formava sob pressão
de uma massa de ar, isto é, voando. Ao contrário das asas
do avião semi-rígidas tal como as de um pára-quedas, as
engenhocas de Rogallo, somente ao inflar, adquirem um
perfil apropriado para dar a sustentação necessária para
o vôo, de tal forma que, uma vez desinfladas, podem ser
enroladas e transportadas. Após o vôo, estão mais para
guarda-chuva do que para avião.
Uma das idéias de Rogallo era de que tal aparato poderia
servir para trazer de volta à terra, suavemente, cápsulas
espaciais. A NASA chegou a fazer alguns experimentos,
mas depois decidiu que era mais fácil usar um pára-quedas
convencional e deixá-las cair no mar. Ele sai, então, em
busca de outros usos para suas asas feitas de velas dobráveis
ou enroláveis. O melhor que conseguiu foi transformá-las
em um brinquedo até parecido com as primeiras asas-deltas.
Lamentavelmente, para sua conta bancária, o invento foi
um grande fracasso, pois, era caro demais para as poucas
gracinhas que fazia.
No fim dos anos 1960, sobretudo na Austrália, os esquiadores
(aquáticos) começam a se fazer puxar por lanchas a motor,
segurando pipas gigantes. Com a velocidade do barco, a
pipa levantava vôo com o esquiador dependurado nela.
Mas como sabe qualquer soltador de pipas, elas padecem
de instabilidade crônica, glissando lateralmente, “de faca”,
para pânico do seu passageiro.
320
Um vendedor de apólices de seguro, John Dickerson,
descobrindo as idéias de Rogallo, desenvolve sua própria
versão e a patenteia, na Austrália. Sua contribuição foi adicionar
um trapézio e pendurar o piloto sob a asa desenhada por
Rogallo. Em vez das pipas, tão mal comportadas, entra em
cena a primeira asa-delta. Aí estava o elo vital. Os desenhos de
Rogallo, pensados para voar sem piloto, eram inerentemente
estáveis, justamente o que faltava nas pipas.
COLEÇÃO
As asas-deltas de bambu da Califórnia não tinham trapézio.
Como nos planadores de Lilienthal, o piloto ia pendurado
por baixo dos braços, movendo as pernas para mudar o
centro de gravidade, uma solução precária e cansativa. Na
asa de Dickerson, o piloto pendurado usa o trapézio para
mudar o centro de gravidade, mudança que desequilibra a
asa e induz uma curva. Ao puxar o trapézio, a asa acelera
e, inversamente, voa mais lenta quando o piloto empurra
o trapézio para a frente. No entanto, se empurrar demais,
perde velocidade e pára de voar, afundando bruscamente: é
o temido estol!
Dickerson constrói alguns protótipos, mas é Bill Moyes
quem usa sua oficina mecânica de preparação de barcos
de corrida para fabricar uma boa quantidade de aparatos
dessa nova geração. Bill Benett, que trabalhava com
Moyes, leva a novidade para os Estados Unidos, fazendo
demonstrações de grande impacto público. Ficou conhecida a
sua foto sobrevoando a Estátua da Liberdade, em Nova York,
puxado por um barco a motor.
A equação se completa quando o australiano Kilbourne
visita os Estados Unidos e se encontra com um bando de
hippies, que estava tentando reinventar o vôo livre. Com nove
dólares, Richard Miller havia construído uma asa de bambu
e polietileno. O extraordinário é que voava. Os americanos
estavam construindo asas precárias de bambu com as quais se
voava agarrado em duas barras paralelas, ou então, trambolhos
inspirados na aviação convencional com empenagem posterior
(como as belas confecções de Volmer Jensen).
Essas últimas eram muito no estilo do planador de Chanute
e, portanto, muito mais pesadas e complicadas de construir
e armar. Kilbourne traz da Austrália as asas-deltas simples e
estáveis, criadas na oficina mecânica de Moyes. Ao chegar
à Califórnia, em vez de ser puxado por um barco, copia dos
voadores locais a decolagem de uma encosta, no estilo já
centenário, como o vôo do inglês Cayley. É, portanto, no
início dos anos mil novecentos e setenta que nasce a asadelta muito próxima da conhecida hoje.
321
Claudio de Moura Castro
As primeiras asas-deltas da Califórnia usam varas de bambu
e plástico laminado (esse mesmo usado para fazer sacos de
lixo). Em contraste, as asas de Moyes, originalmente um
construtor mecânico, eram caprichosamente manufaturadas
com ferragens e dacron de barco a vela. Até hoje, as ferragens
das asas revelam a influência de Moyes, que as constrói com
os materiais de origem naval a que estava habituado.
A partir do início da década indicada (1970), o crescimento
é explosivo, aparecendo, às dúzias, fábricas de fundo de
quintal. O livro de Dan Poynter lista mais de setenta fábricas
em 1974. Algumas crescem tornando-se indústrias, embora
de vida efêmera, e muitas outras vendem as asas em forma
de kit. O comprador recebe um maço de tubos de alumínio,
um rolo de cabo de aço, ferragens e uma vela (opcional).
O manual de instruções mostra como cortar os tubos, os
cabos, enfim, como armar tudo, e um adendo ao manual de
montagem ensina a voar 69.
Começa então um período de aperfeiçoamento em todas as
direções. Tudo melhora, embora não ao mesmo tempo. A
adoção de materiais de padrão aeronáutico é passo inicial e
decisivo, provavelmente, influenciada pela proximidade da
gigantesca fábrica McDonald Douglas, em Los Angeles. Se a
cabeça do parafuso não viesse com as letras AN, marca dos
produtos certificados para a aviação, não era testado, nem
aprovado como material aeronáutico. Portanto, não merecia
confiança. São buscadas as melhores ligas de duralumínio
temperado para os tubos. Para a vela, experimentam-se todos
os tecidos de última geração, em geral, concebidos para
veleiros de competição.
Passa-se do bambu para o padrão AN. Foi um grande
avanço, mas para chegar lá, o caminho foi árduo. Os tubos
medem até sete metros e vergam sob o peso do piloto. Para
resistir às condições de vôo, as asas necessitam de agüentar
322
69
A primeira asa-delta do autor do presente ensaio foi comprada em forma de kit
COLEÇÃO
turbulências mais fortes do que um jato comercial – o
que não parece intuitivo, mas é verdade. Um Boeing está
desenhado para resistir de três a quatro vezes a aceleração
(ou desaceleração) da gravidade. As asas necessitam de
6g, o que as coloca próximo de um avião de caça. Por isso,
continuavam quebrando no ar. Instalam-se então cabos
(outriggers) que reduzem a sua flexão. Até hoje, um dos
grandes desafios é resistir a um estol invertido, no qual
despenca o piloto sobre a quilha com todo o seu peso.
Obviamente, o máximo que podem fazer os fabricantes
é desenhar uma asa que não se parta em vôo. Não há
engenharia que possa impedir os tubos de se despedaçarem
em um choque contra o solo ou um edifício.
Por isso, garagem de piloto era cemitério de pedaços de
tubo entortados ou quebrados. Ainda nos anos mil novecentos
e setenta, entra em cena um novo fator de segurança: o páraquedas de emergência. Fica estrategicamente instalado em
uma bolsa, no casulo, que hoje substitui os cintos feitos com
tiras de tecido dos primeiros anos. Um safanão na alça e abrese o pára-quedas, descendo meio embolado com os pedaços
da asa e o piloto. A aterrissagem é feia, mas suficientemente
lenta para a função essencial de salvar a vida do piloto.
No entanto, nem tudo são ganhos. Uma ou duas asas
partidas eram suficientes para levar à falência o fabricante,
sobretudo, quando isso acontecia durante uma competição.
Daí aumenta o “coeficiente de medo” no desenho das asas e,
para aplacá-lo, só há uma solução: mais alumínio. Os tubos
passam a ser duplos ou triplos, em certas partes, aumenta-se
o seu diâmetro e adicionam-se reforços. Em vôo, nada se
nota, a não ser o fato de que não se quebram. Em resistência
e na confiança que dela deriva, só há ganhos, malgrado haja
um perdedor: o lombo do dono da asa. De vinte quilos das
primeiras asas, passam a quarenta. A fibra de carbono é
usada experimentalmente, reduzindo peso e aumentando a
resistência, mas é difícil de trabalhar e caríssima.
323
Claudio de Moura Castro
As primeiras asas tinham a vela totalmente flácida. Daí o
conselho dos livros para que os pilotos aprendessem a ouvir
o panejamento da vela para controlar a velocidade. Muito
barulho indicava velocidade alta, já, ausência de ruído
era prenúncio de um estol, ou seja, perda de sustentação
seguida de um dramático afundamento do nariz da asa, o
que, em baixa altura, pode ser fatal.
Com o tempo, vão sendo introduzidas as talas (de plástico,
alumínio ou fibra) próximas do bordo de fuga, para dar mais
rigidez e evitar o panejamento. Uma asa contemporânea tem
quase duas dúzias delas.
Um objetivo, cedo perseguido, era aumentar a cambagem da
vela, isto é, dar-lhe um perfil côncavo. Os irmãos Wright já
sabiam que cambagem e performance estavam associadas,
o que só podia ser conseguido com talas recurvadas, pois
é difícil fazer cambagem em pano solto.
Nos primeiros modelos, a quilha era mais comprida do que
a envergadura. Aos poucos, os fabricantes foram ousando
reduzir a quilha e aumentar a envergadura (tecnicamente,
aumentar a relação de aspecto). Do ponto de vista aerodinâmico,
sabia-se que isso melhoraria a performance, mas temia-se a
instabilidade.
De fato, a instabilidade era temível. As primeiras asas
eram vítimas da chamada “síndrome do mergulho”. Isso
significava que, se a asa assumisse uma atitude de vôo
com a quilha na vertical, ela entraria em um mergulho do
qual não se recuperaria. A razão é que a asa deixaria de
ser asa e passaria a panejar, como se fosse uma bandeira
sob vento forte. Essa foi a maldição dos primeiros anos
da asa-delta. Tentou-se tudo. Houve um modelo com uma
manete que abria uma espécie de guarda-chuva na quilha.
Não funcionou.
324
Com as asas tornadas mais rígidas pelas talas, uma
primeira invenção da Electra Flyer atenua o problema. Na
ponta da asa, instala-se um tubo com um ângulo tal que,
se a asa entrar em mergulho, em queda vertical, a ponta
COLEÇÃO
da vela adquire uma superfície aerodinâmica que provoca
a recuperação. Embora tenha sido, na época, um grande
alívio, não era perfeito, sobretudo, quando a asa entrava
em gravidade zero, causada por alguma turbulência. Se,
nesse momento, o nariz virasse para o solo, poderia não se
recuperar do mergulho. Várias fábricas fecharam por conta
de acidentes desse tipo durante competições.
Um piloto bem relacionado conseguiu que a NASA
fizesse uma simulação das condições em que o mergulho
aconteceria. De fato, a simulação mostrou que, em gravidade
zero (por exemplo, em uma turbulência), a asa poderia girar
e embicar na vertical. Demonstrou-se matematicamente a
existência de uma condição que já havia custado a vida
de vários e assustado muitos outros. Aconteceu na Pedra
Bonita com um americano. Sua asa embicou e desceu na
vertical, entretanto, a frondosa mata atlântica das Canoas
atenuou a queda e o piloto escapou sem arranhões.
No fim dos anos 1970, alguém inventa a solução final para o
problema. Todas as artimanhas mecânicas e aerodinâmicas
foram abandonadas em prol de um reles barbante.
Descobriu-se que, se dois barbantes fossem atados no
mastro (king post) da asa e suas extremidades nos bordos
de fuga, havia um comprimento tal que eliminava por
completo o problema. Durante o vôo normal, os barbantes
ficam folgados, pois a superfície da vela se eleva com a
pressão do ar. Quando a asa assume uma posição vertical e a
vela perde seu perfil aerodinâmico, os barbantes criam uma
cambagem negativa, transformando novamente a vela em
uma superfície aerodinâmica (só que invertida). Com isso, a
asa sai do mergulho: genial, definitivo.
O próximo capítulo do desenvolvimento é o pano duplo.
Sabe-se que um aerofólio espesso é mais eficiente do que
um fino, sobretudo, quando aumenta a velocidade de vôo.
Um aerofólio de pano simples, bem desenhado, é impecável
na faixa dos 30 a 50 km por hora. Daí para frente, degrada-se
a sua performance. Isso significa que a asa pode andar
mais rápido, mas sua razão de planeio (metros afundados
325
Claudio de Moura Castro
por metros percorridos) é severamente degradada. Já, o
pano duplo, de pouca vantagem nas baixas velocidades,
oferece desempenho superior em velocidades mais altas,
permitindo às novas asas atingir mais de cem quilômetros
por hora com um desempenho razoável.
Como a moda do cross-country estava pegando, por essa
época, a velocidade é essencial para ir mais longe ou para
pescar a próxima térmica, quando esta não estiver perto.
Aí, nasce a engenharia do pano duplo, armado por talas
e reforços em mylar (plástico muito duro) nos bordos de
ataque. O objetivo era criar um aerofólio com um perfil
de até 30 cm de espessura. À medida que vai crescendo o
número de talas, a asa vai ficando mais rígida com aumentos
dramáticos no planeio e reduções na taxa de afundamento.
Maravilha! Os fabricantes ousam mais e mais aumenta a
superfície coberta por pano duplo.
No entanto, infelizmente, a asa faz curvas, porque ao
mudar o piloto o seu centro de gravidade, as duas metades
da asa se deformam diferentemente e deixam de ter perfis
simétricos. É a diferença de sustentação entre os dois lados
que inicia uma curva (É mais complicado do que isso, mas
fica-se por aí). Ao enfiar dúzias de talas para manter uma
superfície dupla, a vela fica mais rígida e muda menos de
perfil. Ora, se é a assimetria de perfil que desequilibra a
asa, provocando uma curva, ao ficar mais rígida, ela começa
a se recusar a fazer curvas.
Inicia-se, então, longa batalha entre a vontade da asa de
fazer curvas e a sua vontade de se manter mais tempo no ar.
Em alguns modelos, pilotar era como dirigir um caminhão.
Na aproximação para o pouso, já em baixa velocidade, a
asa não aceitava correções. Aterrissagens devastadoras
eram o preço da performance ganha, preço alto demais
que causava inúmeros acidentes (testemunhados, conforme
citado, pela abundância de tubos quebrados nas garagens
dos voadores com as primeiras asas de pano duplo).
326
Novamente, havia uma solução e era bastante simples.
Ao invés de se fixar a vela na quilha, construiu-se uma
COLEÇÃO
montagem flutuante, que lhe permitia se deslocar para um
lado ou para o outro, como resultado do piloto mudar seu
centro de gravidade. Com isso, aumentava a assimetria dos
dois lados da asa, permitindo as curvas. Outro problema
resolvido.
Há outra vítima na batalha do L/D (lift/drag ratio, ou seja,
o número de metros que a asa avança para cada metro de
altitude que perde). É o pouso. As primeiras asas eram
inseguras e desajeitadas, contudo, pelo menos, voavam
bem lento e tinham pouso fácil. Pouso de asa-delta é como
passarinho. Próximo do solo, empurra-se violentamente a
barra do trapézio, o nariz sobe, a asa perde velocidade e
cessa de voar, praticamente parando. Nesse momento, os
pés do piloto estão a poucos centímetros do solo, prontos
para, suavemente, sustentar a asa. Assim é a teoria e assim
é a prática, quando tudo dá certo.
Aumentando a performance, a velocidade aumenta e o
ângulo de planeio também. Após sobrevoar uma árvore, a asa
moderna vai tocar o solo bem mais longe. Daí a necessidade
de campos de pouso mais longos e desimpedidos. Além
disso, com sua ineficiência, uma asa velha, ao ter seu nariz
cabrado (apontado para cima), entrega os pontos e estola.
Com as novas, mais atrevidas, se a velocidade for elevada,
simplesmente sobem de novo, podendo o inevitável estol
ocorrer a uma altitude nada saudável, ou seja, cai de ré.
Pilotos veteranos, só de ouvirem o estrondo dos pousos dos
noviços já sabem exatamente o que ocorreu. As vítimas são
geralmente as barras de trapézio, sabiamente construídas
para quebrar e, assim, absorver os choques.
Em paralelo aos desenvolvimentos dos anos de mil
novecentos e setenta a oitenta, aparecem as preocupações
em certificar asas. De fato, não foram poucos os acidentes
causados por falhas mecânicas e erros de desenho. Sobretudo,
na Europa, houve várias tentativas de se conseguir acesso a
túneis de vento para testar as propriedades e os limites das
asas. Todavia, quase todos os túneis são feitos para testar
327
Claudio de Moura Castro
modelos de tamanho reduzido, obrigando as fabriquetas de
asa a mais um esforço financeiro de criar miniaturas com
todo o artificialismo introduzido nos testes.
Novamente, é a criatividade que ganha a guerra. Em vez de
um túnel de vento, atrela-se a asa no topo de uma picape
e fazem-se os ensaios bem cedinho, enquanto o ar está
estagnado. O velocímetro do veículo mede a velocidade do
vento que incide sobre a asa. Com a evolução dos testes,
são instalados elastômetros na conexão da caminhonete
com a asa, com o objetivo de medir os parâmetros de vôo.
Com o tempo, esse veículo ganha microcomputadores e
elastômetros mais precisos.
Para saber quanto de maltrato resiste a asa, é só acelerar a
picape e anotar a velocidade em que a asa se quebra. Houve
caminhonetes que decolaram diante da tarefa de quebrar uma
asa mais robusta. De fato, com o enrijecimento das asas, o
grande problema passa a ser a potência do veículo. A Wills
Wing instala um motor de sete litros no seu picape, mas é
insuficiente. Passa a um motor de dragster, turbinado, com
gasolina de 100 octanas e com óxido nitroso adicionado.
Sim, é necessário todo esse veneno para conseguir um
motor capaz de quebrar as asas em teste. Embora o defeito
do motor de não poder funcionar acelerado mais de 20
segundos, até hoje não se encontrou solução melhor. Essa
ainda é melhor e mais barata do que um túnel de vento.
Nos últimos anos, o progresso das asas-deltas arrefeceu de
ritmo, embora não tenha desaparecido. Uma novidade é o
abandono do mastro com seus cabos presos à quilha e no
tubo transversal. Gugglemoss e a Bautek foram pioneiras
nessa subtração de um componente antes considerado
sagrado e, agora, um elemento a menos provocando arrasto.
Em compensação, mais peso nos tubos para suportar a asa
sem o seu auxílio – e mais peso no lombo do piloto.
328
Igualmente, a se notar, é a especialização das asas, que se
configuram: de saída de escola; intermediárias (para quem
já tem uma alguma experiência e quer mais performance);
COLEÇÃO
de competição (mais delicadas de pilotagem e, muitas vezes,
indomáveis no pouso).
Asa de escola ou de saída de escola é simples, barata, lenta
e fácil de pilotar e pousar. Obviamente, é também mais
fácil e mais barata para ser consertada, na interminável
rotina de trocar tubos quebrados. Aliás, praticamente
tudo em uma asa é indestrutível, com exceção dos tubos e
das talas. Asas criminosas, que mataram seus donos após
colisões terríveis, ao serem examinadas, verifica-se que,
trocando dois ou três tubos, estarão como novas.
A escalada no preço, vai pari passu com o nível da asa. As de
escola são as mais baratas, pouco mais de dois mil dólares.
As de competição já estão querendo chegar aos dez mil
dólares.
O progresso é permanente e perceptível a cada ano, embora
apresente ritmo decrescente. As primeiras asas comerciais
tinham um planeio de 3:1, isto é, avançavam três metros
para cada metro de altitude perdida. Hoje, planam acima de
11:1. As primeiras asas perdiam três metros de altura por
segundo, em ar calmo. As de hoje já chegam a um metro/
segundo.
Antes que se pudesse falar de medidas de performance
com tanta tranqüilidade e segurança, desencadeou-se,
por longos anos, a guerra dos números. Para vender
seus novos modelos, os fabricantes anunciavam razões de
planeio mirabolantes. O critério era a coragem para mentir.
Felizmente, hoje não dá mais para mentir, pelo menos não
muito, pois logo virão as revistas para consertar os números.
Progressivamente, as grandes revistas americanas, francesas
e alemãs começam a criar os próprios testes, além da
certificação oficial nesses mesmos países. Curiosamente,
apesar da liderança americana no desenvolvimento das
asas, é na sua certificação que a Europa sai na frente dos
Estados Unidos, com as iniciativas alemãs, francesas e
suíças de criar instituições certificadoras e testes. Na maioria
dos países, as certificações são referendadas pelo governo.
329
Claudio de Moura Castro
4. ASA-DELTA ENCONTRA UM RIVAL À ALTURA: O PARAPENTE70
A geografia da criação do parapente é diferente da asadelta. Nos momentos iniciais, a asa-delta resulta de uma
dobradinha de esquiadores (aquáticos) australianos e
hippies americanos, situação a que a Europa chega bem
atrasada. Pior, é um americano, Mike Harker, quem
introduz as asas nos Alpes europeus, em 197371. Faz o
vôo do Zugspitze e termina preso pela polícia local, pois
decolou da Alemanha e pousou na Áustria (sem mostrar
passaporte), embora tudo tivesse sido televisionado,
criando grande curiosidade pelo novo brinquedo.
Com o parapente, a geografia é inversa. É uma invenção
da Europa que até hoje não teve a mesma penetração nos
Estados Unidos, embora se encontrem similaridades com
a asa-delta, na sua aparição no Velho Continente. Fica
mantida a tradição de uma tecnologia feita por leigos e
curiosos, com base nos avanços e materiais feitos em locais
de grande respeitabilidade científica e tecnológica.
Em meados de mil novecentos e sessenta, já se popularizavam os
pára-quedas retangulares e com muito mais potencial de serem
pilotados: os parafoils. Houve algumas tentativas de usá-los
em encostas, nos Estados Unidos, que deram em nada.
Em 1974, entra em cena Gérard Bosson e seu amigo, o
médico Richard Trinquier, habitantes do vilarejo de Mieussy,
modesta estação de esportes de inverno, localizada entre
Genebra e Chamonix. Bosson não tinha diplomas de engenharia
aeronáutica. Era tricampeão francês de pára-quedismo,
açougueiro, carteiro, marceneiro, cozinheiro e poeta (com
mais de uma dúzia de livros publicados). Tal como Kilbourne
e seus companheiros, que decidem levar a uma encosta as
asas-deltas puxadas por barco, Bosson e seus amigos levam
um parafoil para as pistas de esqui de Mieussy.
Para um tratamento técnico do parapente, ver Hubert Aupetit, Traité de pilotage e de mécanique du vol (Ivry: (Éditions Retine,
1990)
70
330
71
Fritz Kurz, Wie alles begann, Fly and Glide (setembro, 1995)
COLEÇÃO
A motivação inicial era treinar aterrissagens no alvo sem
gastar com os saltos de avião, sempre caros. Igualmente,
havia a esperança de descer voando, ao fim de uma escalada
nos Alpes.
Deu certo o vôo, entretanto o parawing voava pessimamente.
O exagero dos cabos e tecidos feitos para resistir a uma
abertura brusca a 180 milhas por hora era desnecessário para
as decolagens suaves de uma encosta. Era preciso aumentar
a área vélica, mexer nos comandos e muito mais. Não faltou
vontade de voltar à máquina de costura, quantas vezes
fossem necessárias. Os fabricantes de parapentes estão até
hoje nesse ir e vir da encosta para a máquina de costura.
Até hoje, não sabem tanto de aerodinâmica quanto Bosson
de cozinha, pois, na França, culinária é coisa séria e não se
permitem amadores.
O batismo do novo aparato é meio óbvio. O “para” vem da
longa estirpe de pára-quedas. O “pente” vem da palavra
francesa que denomina uma encosta ou ladeira. Em inglês,
vira paraglider, uma cruza de planador com pára-quedas.
Fica, assim, o resto do mundo tendo de decidir entre um
anglicismo ou um galicismo, uma vez que o gleitschirm
alemão não tem seguidores fora das fronteiras da língua
alemã.
Inicialmente, o desempenho dos parapentes era pateticamente
pior do que o de uma asa-delta. Esta já atingia um planeio de
1:10 e os parapentes ficavam em um modesto 1:3 ou 1:4, o
mesmo com que começaram as asas-deltas. Mas o progresso
é muito rápido.
Quanto mais ir e vir entre encosta e máquina de costura, mais
se aproxima a performance do parapente à da asa. Hoje, a
superioridade de um ou de outro é questão de condições
meteorológicas. Dia de térmicas grandes e térmicas longe
umas das outras é dia de a asa superar o parapente, pois as
térmicas grandes não ultrapassam o seu raio de viragem
e a velocidade superior permite o salto para uma outra
térmica mais longe. Dia de térmicas pequenas e quebradas
331
Claudio de Moura Castro
é dia de parapente ficar no ar e a asa pousar, pois o seu
raio de viragem é bem menor, permitindo girar dentro de
térmicas ínfimas.
Progressivamente, o parapente vai tomando o mercado da
asa-delta. Eis a receita da asa-delta para perder o mercado:
um charuto de sete metros de comprimento, quarenta quilos,
quase meia hora para armar ou desarmar e pousos delicados,
ou aterrorizantes. O parapente, com toda a sua tralha, mal
chega a quinze quilos em uma única mochila. Não requer
bagageiro especial no carro, leva dez minutos para armar ou
desarmar e pousa de qualquer jeito. Além disso, é bem mais
barato.
Mais ainda, o aprendizado da asa é muito mais longo e penoso.
Subir a colina carregando quarenta quilos nas costas é a
parte mais execrável do aprendizado do vôo livre. Quando
há vento, então, a asa no solo se torna indomável para um
principiante. Enquanto havia a diferença de performance,
a escolha era entre desempenho ou conveniência. Agora,
os desempenhos são muito parecidos, restando apenas
pequena vantagem da asa nos percursos de cross-country
(pela sua maior velocidade) nos dias de vento muito forte.
Curiosamente, os parapentes chegaram em massa ao
Brasil até antes de chegar aos Estados Unidos. Não há
estatísticas exatas, mas já são muito mais numerosos. Se
as rivalidades entre pilotos de asas e de parapentes são coisas
do passado, a competição entre os dois aparelhos é real. Será
que o parapente vai completamente eliminar as asas? Ou
há lugar para os dois, cada um com suas características e
virtudes?
332
Como a asa, o parapente se beneficia dos novos materiais
produzidos para outros objetivos. São os tecidos da
família das poliamidas de alta tenacidade, menos porosos
e de maior duração. O encordoamento é mais leve e
resistente, baseado nas fibras de aramida e high politilene
performance. Na máquina de costura, vão mudando os
perfis, aumentando a relação de aspecto (como aconteceu
COLEÇÃO
com as asas). E vão se fechando as bocas que permitem inflar
o pano duplo do velame, ao mesmo tempo em que ganham
reforços semi-rígidos de mylar.
Como no caso das asas, também fica mais difícil entrar em
condições perversas de vôo e mais fácil de sair. Parapente
é pano e barbante, portanto, pode fechar em pleno vôo;
pode se enrolar (gravata); pode quebrar no meio o seu
perfil, em vôo turbulento; pode até entrar em parafuso. Em
socorro, vêm os novos modelos e o incentivo da certificação,
esta última baseada no tempo que leva a vela para sair de seis
diferentes situações perversas sem o auxílio do piloto (além
de outros critérios). Por exemplo, se o velame desinfla um
lado, quantos segundos para que se abra sozinho? As velas,
nas quais tudo se normaliza sozinho em menos de quatro
segundos, são de nível 1; se quase tudo se acerta sozinho,
são de nível 2; as mais rebeldes são de nível 3, reservadas
para pilotos experientes e para competições.
5. VÔO LIVRE: ONDE ESTÁ A CIÊNCIA? E OS ENGENHEIROS?
A palavra livre, atrelada a vôo, lá está por boas razões.
Na verdade, estavam inspirados os franceses, ao criarem
a expressão vol libre, sobretudo, livre das burocracias
da aviação moderna. Ao ter seu balão apreendido pela
alfândega americana, Santos Dumont afirmou que tinha
sido mais fácil guiá-lo em volta da Torre Eiffel do que pela
burocracia dos Estados Unidos72.
Melhor o termo vol libre do que o hang-gliding dos americanos
que meramente descreve o fato de voar pendurado, ou o
drachenflieger alemão, cuja palavra denomina pipas ou
papagaios.
Como o vôo tomou muitas direções diferentes, do caça
supersônico ao balão de ar quente, vale precisar melhor
de que espécie ou variedade se está falando. Como há
72
Paul Hoffman, op.cit. p.193
333
Claudio de Moura Castro
burocracias regulando o vôo e também regras de competição,
foi preciso definir vôo livre. Sem entrar no preciosismo
técnico, o vôo livre requer aparato mais pesado que o ar,
voando sem propulsão (motor) e leve o suficiente para ser
sustentado pelas pernas do piloto durante a decolagem.
Não faz parte da definição oficial, mas do ponto de vista
científico, pois, é um vôo de baixa velocidade.
Na prática, como já foi dito, isso significa que quase nada
do que se pesquisou e escreveu sobre vôo no século XX é
de qualquer serventia para desenhar asas ou parapentes.
Só servem mesmo os princípios fundamentais do vôo, já
bem antigos e compreensíveis para qualquer leigo com
conhecimentos de física e matemática do curso médio.
Como será mostrado adiante, está-se diante de uma
atividade com característica única na história da ciência.
Praticamente, todas as tecnologias começam, literalmente,
pelas mãos de curiosos, abelhudos, inventores ou gente
prática. Assim foi no século XIX, período de grandes
avanços tecnológicos, realizados por homens práticos
com grande vivência de oficinas, embora muitos fossem
pessoas inteligentes, cultas e com interesses amplos.
Aos poucos, aparece um substrato teórico que começa a dar
sentido e a ajudar no desenvolvimento. A necessidade de
rigor leva à criação de termos técnicos e de uma linguagem
que vai se tornando inacessível para os leigos. O mesmo
ocorre na aviação. “Os inventores, em sua maioria pessoas
com formação em engenharia ou outra arte da técnica, tinham
conhecimento de alguns aspectos da física do vôo”73.
A história da ciência registra que o primeiro setor em que
se junta a teoria com a prática é a química na Alemanha
dos finais do século XIX. Hoje, quando se usa a expressão
consagrada, Ciência e Tecnologia, não se dá mais conta
de que não nasceram juntas, nem viveram juntas pelo resto
da vida. Ainda assim, sempre se tende a falar de atividades
em que se combinam a prática, a teoria e a documentação
73
334
Henrique Lins de Barros, Santos Dumont e a invenção do vôo, (Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003) p.26.
COLEÇÃO
sistemática e cuidadosa do que vai sendo feito. De fato,
esse conhecimento acumulado é a matéria-prima da nova
rodada de publicações, que encorpam a ciência ao longo do
tempo.
Santos Dumont era um homem prático. Segundo ele
próprio, “nunca me sentei para trabalhar seriamente sobre
dados abstratos... Realizei minhas invenções por via de
uma série de testes, solidificados pelo senso comum e pela
experiência”74. O progresso não é feito por pessoas que
operam no ciclo completo entre a teoria e a prática, entre a
ciência e a tecnologia. Há muitos perfis diferentes, enquanto
um é mais intuitivo e experimental, outro dá mais elegância
teórica ao que vai sendo destilado da experiência. No fim
da linha, a pessoa ou equipe, que realiza o trabalho prático,
precisa estar solidamente ancorada na ciência e nos princípios
tecnológicos que estão alimentando intelectualmente o
trabalho. Não há mais lugar para leigos e curiosos.
Ainda não era assim na época de Santos Dumont, que
jamais freqüentou uma escola, tendo sido educado por
professores particulares, inclusive, nos muitos anos em que
passou na França, antes de meter-se em assuntos de vôo75.
Por coincidência ou não, os dois irmãos Wright também
eram da aristocracia americana. O pai deles era um ministro
protestante de grande projeção e veleidades intelectuais.
Todavia, ao contrário da irmã, que se formou em Oberlin
College (instituição de grande prestígio), os dois irmãos
sequer terminaram a high school76.
Em outras palavras, os pioneiros americanos do mais pesado
que o ar compartilhavam com Santos Dumont a origem
aristocrática e a ojeriza pela escola, embora, tanto na França
quanto nos Estados Unidos, as carreiras de engenharia já
fossem maduras e sofisticadas. De fato, o próprio pai de
Santos Dumont estudou na França, no Conservatoire des
Arts et Métiers, muito respeitado até os dias de hoje.
74
Paul Hoffman, op. cit. p. 252.
75
Ibid, capítulo 2.
76
Hallion, op. cit. pp 20-21.
335
Claudio de Moura Castro
Contudo, na maioria das indústrias, o trabalho prático
é caudatário da ciência e da tecnologia. Nesse sentido, o
vôo livre é uma aberração cronológica, pois vive no mundo
industrial do século XIX com seus curiosos e amadores.
Os parágrafos anteriores preparam o terreno para
entender porque o vôo livre é um caso muito particular da
tecnologia de construir objetos voadores. Como já mostrado,
os pioneiros do fim do século XIX, como Lilienthal, eram
cientistas e engenheiros que forjavam as primeiras teorias
da aerodinâmica, ao mesmo tempo em que construíam suas
máquinas voadoras. O vôo livre (hoje, asas-deltas, ultraleves
e parapentes) passa meio século em total hibernação, ou
seja, deixa de existir. De fato, com a motorização, o vôo deixa
de ser atividade recreativa e livre. Só que, na contramão
da história da ciência, quando reaparece nos fins de 1960,
vem totalmente descolado da engenharia aeronáutica e,
ainda mais, da ciência.
De fato, não há uma só inovação nas asas ou nos parapentes
que tenha sido feita por um engenheiro aeronáutico. Francis
Rogallo pareceria uma exceção, no entanto, na verdade,
os aparelhos que desenhou jamais foram construídos e
tampouco eram destinados a ter um piloto comandando
o vôo. Os únicos desenhos seus a se transformarem em
realidade foram pipas, não mais do que brinquedos. Rogallo
não construiu asas de verdade.
336
Na empresa americana Electra Flyer, na época a segunda
maior do país, o currículo do vice-presidente citava sua
passagem pela McDonald Douglas e sua experiência de
vôo. Só não dizia que naquela empresa apenas transportava
mercadorias e só sabia de vôo como falconista. O australiano
Moyes (o primeiro a rebocar com barco uma asa-delta)
era dono de uma oficina mecânica (como dito, dele vem
o uso de ferragens navais nas asas). Muitos fabricantes
de asas e parapentes começaram fazendo velas de barco.
Aliás, o currículo de cozinheiro do inventor do parapente
não podia estar mais distante da aviação. Tampouco, é
muito próximo da aviação o passado de músico de rock
COLEÇÃO
de Gartig, o fabricante do primeiro parapente motorizado
comercialmente viável.
A tabela, a seguir, mostra a formação de alguns dos mais
importantes personagens no avanço do vôo livre.
nome
profissão ou
formação
Atividade ou campo
de atuação
Dickerson
Agente de seguros
Inventou a primeira asadelta
Bill Moyes
Eletricista e
mecânico
Primeiro fabricante de
asas (Moyes)
Larry Newman
Piloto de avião
Desenhista e fabricante
de asas (Electra Flyer)
Tom Peghiny
Adolescente, na
época
Desenhista e fabricante
de asas (Peregrine)
Laurent de
Kalbermaten
Banqueiro
Desenhista e fabricante
de asas (Ailes de K)
Gerard Bossom
Açougueiro,
cozinheiro,
marceneiro, poeta e
paraquedista
Inventor do parapente
Richard Trinquier
Médico
Inventor do parapente
Robert Grahm
Fabricantes de velas Desenhista e fabricante
de parapentes (Advance)
Michel le Blanc
Químico
Desenhista e fabricante
de parapentes (ITV)
Bob Trampeneau
Aeromodelista
Desenhista e fabricante
de asas(Sensor/Seedwing)
Hannes Papesh
Abandonou curso de Desenhista e fabricante
biologia
de parapentes (Nova)
Bernd Gartig
Músico de rock
Pioneiro dos parapentes
Gin Seouk
Construtor de
barcos
Desenhista e fabricante
de parapentes (Gin)
337
Claudio de Moura Castro
Jamais houve um só engenheiro aeronáutico desenhando
ou fabricando, com êxito, asas-deltas ou parapentes. Há
um sim, o senhor Taras Kiceniuk Jr, que foi engenheiro
aeronáutico formado no MIT. Nos primórdios do vôo livre,
começou a fabricar asas, não obstante, nem suas inovações
tiveram conseqüências e nem sua fábrica deu certo. Até hoje,
os engenheiros somente entram na hora da certificação de
segurança. Os desenhistas, construtores e pilotos de prova
aprenderam olhando os pássaros e experimentando. Tom
Peghiny, o construtor de Peregrine (asa de grande criatividade
e sucesso comercial) tinha 16 anos, quando a desenhou.
Não há periódicos acadêmicos sobre o vôo livre ou a
construção de asas. O que há são revistas para o grande
público com alguns artigos técnicos de divulgação de
princípios básicos de aerodinâmica ou de pequenas
inovações de projeto.
Assim, foram criadas centenas de fábricas espalhadas pelo
mundo afora, abastecendo um mercado com bem mais
de cem mil praticantes (talvez duzentos mil) trocando
de equipamento a cada dois ou três anos. No conjunto, a
indústria cria milhares de empregos e gera muitos milhões
de dólares. Ademais, é uma indústria moderna, empregando
novos materiais, novas ligas de alumínio, tecidos de fibras
sintéticas de última geração, cabos de kevlar e até tubos em
fibra de carbono. Além disso, o produto final é certificado
por instituições credenciadas pelos governos de países
como Alemanha, França e Suíça.
Como se desenha um parapente (ou uma asa)? Primeiro,
copiando do concorrente, método universal dos principiantes
e de outros, nem tanto. Depois, experimentando obsessivamente,
introduzindo pequenas modificações, testando e voltando
para a máquina de costura para redesenhar o perfil da vela.
O piloto de prova dá o feedback ao desenhista, que volta a
modificar. Em período de desenvolvimento de novo modelo,
chega-se a produzir três versões diferentes em um mesmo
dia.
338
COLEÇÃO
Larry Newman, um dos empresários mais arrojados do
setor, tem uma biografia que ilustra o clima organizacional
do vôo livre. Herdou o gosto pela aviação e a ousadia do pai,
somando-se a isso incomum petulância. Começou a pilotar
aviões, quando, de tão pequeno, tinha de se sentar sobre
as listas amarelas para enxergar o que estava à frente. Fez,
então, uma carreira bem-sucedida como piloto, chegando a
comprar o próprio Learjet, que explorava como táxi-aéreo.
Um dia descobriu as asas-deltas recentemente aparecidas.
Comprou uma, mal que mal, aprendeu sozinho e anunciou
a abertura de uma escola de vôo. Recomendou a um dos
seus primeiros alunos, que comprasse uma asa Wills Wing,
grande fabricante da época (próximo de 1974).
Assim que chegou a asa, Larry a pediu emprestado,
desmontou-a toda e copiou, literalmente, tudo. Mais ainda,
desfez a costura da vela, para copiar gomo por gomo.
Refez tudo, grosseiramente, e a devolveu para o aluno.
Estava criada a fábrica Electra Flyer. O aluno, por acaso,
era amigo de Chris Wills, o piloto principal da fábrica Wills
Wing. Teve então a única reação imaginável: queixou-se,
escandalizado, a seu amigo Chris, pelo plágio descarado
cometido por Larry. A tempestade nos meios do vôo livre
não se fez esperar. A família Wills ficou furiosa e lançou
uma campanha de difamação do plagiador. O resultado foi
exatamente o que havia planejado Larry.
De fato, ele sabia que o aluno era amigo de Chris, sabia
que para copiar uma vela não é preciso descosê-la e, ainda
menos, coser de novo de maneira descuidada. De um inocente
desconhecido, virou um vilipendiado conhecido. Para ele,
era propaganda gratuita por conta da família Wills. Tanto
deu certo que sua fábrica prosperou, tornando-se uma das
melhores e maiores do país.
Em 1976, houve um campeonato mundial em Köessen,
na Áustria. Impressionava a asa Cirrus III, produzida pela
Electra Flyer, do mesmo Larry Newman. Ao lado do local de
aterrissagem (uma dessas ravinas de gramado impecável,
própria das bandas germânicas), havia uma grande feira
339
Claudio de Moura Castro
livre de asas com dezenas de fabricantes expondo suas asas
montadas. Lá estava postado o representante europeu da
Electra Flyer, um engenheiro que trabalhava em uma base
americana na Baviera.
Chega, então, Bernard Denis, um fabricante francês de
asas-deltas que, em matéria de respeito pela propriedade
intelectual, era da mesma tribo de Larry. A asa que tinha
no mercado não apenas era copiada da Wills Wing, mas
até a fotografia nos seus folhetos publicitários era da
asa original americana e não da própria cópia. Bernard
chegou em companhia do seu chefe de oficina, munido de
trena, prancheta e máquina fotográfica. Aproximaram-se
da Cirrus e começaram a trabalhar. Um lia as medidas
na trena e o outro segurava a sua ponta, ao mesmo tempo
em que anotava as medidas. Mediram não apenas os tubos
e os cabos, mas os gomos da vela, individualmente. O
levantamento terminou com algumas fotos das ferragens. O
americano, perplexo, não sabia o que dizer ou fazer.
O chefe de oficina volta imediatamente à fábrica para
reproduzir uma igualzinha, a ser vendida por um preço
inferior. Antes mesmo de terminar o mundial, já estava
em Köessen. Bernard montou no mesmo gramado a sua
novíssima cópia da Cirrus III.
Isso tudo podia acontecer e acontecia. Em primeiro lugar, o
equipamento necessário para produzir uma asa é muito menos
do que um amador tem na sua oficina de fundo de quintal.
Para a vela, basta uma máquina de costura industrial sem
qualquer requinte.
340
Além disso, curiosamente, não há patentes no vôo livre.
Só Rogallo e Dickerson patentearam suas idéias originais.
No entanto, as patentes de Rogallo já tinham caducado,
quando foram copiadas pelo vôo livre. Em indústrias
pequenas, e mesmo em algumas grandes, os fabricantes
preferem ser imitados a incorrer nos custos legais de
patentear um modelo ou um detalhe. Ademais, não dispõem
de recursos para acionar alguém que se aproprie de suas
invenções.
COLEÇÃO
Como citado, não há grandes fabricantes. A firma coreana
Gin, uma das maiores e mais bem-sucedidas, tem trinta
funcionários. Uma fábrica com quinze, considerada grande,
é uma raridade.
Ao contrário de empresas mais convencionais, o ambiente
tende a ser informal. Patrick Bredel, que por muito tempo
representou a Wills Wing no Brasil, conta de uma visita à
fábrica na Califórnia. Quando chegou, estava a fábrica em
plena atividade. De repente, toca o telefone e, do outro lado
da linha, alguém comunica que um vento típico, o Santa
Ana, havia amainado. Sendo um vento terral, praticamente
impede o vôo nos locais mais conhecidos. Parar o Santa
Ana é a glória. Correm todos os funcionários da fábrica para
suas kombis, já com as asas no bagageiro e desaparecem
em poucos minutos. Sobra apenas uma senhora gorda, que
operava a máquina de costura da velaria.
O presente autor visitou a fábrica da Electra Flyer,
orgulhosamente guiado por Larry Newman. A grande
novidade era a recente mudança de política de pessoal.
Passou a contratar apenas imigrantes vietnamitas. Segundo o
relato entusiástico de Larry, nem sabiam voar e nem fumavam
maconha dentro da fábrica. Outra novidade foi a contratação
de um engenheiro aposentado. Causou espanto o fato de ele
desenhar as peças, antes de fabricá-las.
O projeto de um veleiro suíço, que vem ganhando regatas
oceânicas, custou mais de vinte milhões de dólares.
Boa parte do dinheiro foi para o desenho da vela, que é
muito parecida com a de uma asa-delta. Em contraste, o
departamento de P&D das fábricas de asas e parapentes
se resume a um desenhista e um piloto de provas, ambos
modestamente remunerados. A estimativa é a de que
um modelo novo requeira um investimento de 100 a 150
mil dólares77. Como já mencionado, não há engenheiros
aeronáuticos, embora tivesse havido trapezista de circo,
77
“Eine Branche hangt an dunnen Leinen”, Fly and Glide (julho, 1996)
341
Claudio de Moura Castro
falconista, surfista, hippie e adolescentes. Na primeira
fábrica de asas visitada pelo autor, o chefe de oficina era um
ator de Hollywood, desempregado.
Vale a pena voltar ao ambiente em que começa a borbulhar
o desenvolvimento da asa-delta. Nos fim dos anos 1960,
cria-se na Califórnia o clube Low and Slow, reunindo os
hippies voadores da região. No seu primeiro encontro, em
1968, aparecem duzentos malucos voadores.
Se a indústria do vôo livre contrasta com a dos veleiros
milionários, ela tem grandes analogias com a ebulição
intelectual que gerou os microcomputadores. Durante os
anos de 1970, a mesma que produziu os hippies e as asasdeltas, curiosos e amadores começam a usar os materiais
informáticos, à venda nas lojas de eletrônica, para construir
microcomputadores.
Seu epicentro era na região de São Francisco, onde
havia um clube chamado Homebrew Computer. Nele,
propriedade industrial e patentes eram anátema e todos
compartilhavam suas novas idéias e engenhocas. Eram
muitos e, como na asa-delta, eram mais curiosos do que
engenheiros ou cientistas. Nascem ali centenas de pequenas
fábricas exatamente como no vôo livre.
342
Interessante notar o perfil dos quatro maiores protagonistas
na criação do microcomputador. O primeiro, o Altair,
era de autoria de Ed Roberts, um técnico em reparação
de equipamentos eletrônicos, formado na Marinha (depois
de muitos inventos, bem e malsucedidos, abandonou a
informática e estudou medicina). Bill Gates, após brincar
com mainframes, entrou em Harvard, onde sequer se
oferece um diploma de engenheiro. Steve Wosniak aprendeu
eletrônica na sua High School, como última cartada da
família para evitar que abandonasse a escola e virasse
delinqüente. Conseguiu um emprego de técnico do setor
de produção de calculadoras da HP e somente obteve um
diploma universitário ao abandonar a Apple Computers,
já milionário. Com Wosniak, Steve Jobs criou a Apple,
COLEÇÃO
quando estava iniciando seu curso de graduação. Jobs era
hippie puro sangue e alternava computadores com estágios
com seus gurus budistas na Índia.
Mutatis mutandis, é o mesmo perfil do vôo livre, essa
gente também é criativa e irreverente, meio irresponsável,
combativa e com quase nada de bagagem técnica da
profissão. Bill Gates vai ler o seu primeiro livro sobre
sistemas operacionais após mentir para Ed Roberts,
dizendo que já tinha um programa que funcionaria com
o Altair.
A grande diferença é que, de um brinquedo formalmente
desdenhado pelos grandes impérios da indústria informática, o
microcomputador tornou-se o carro-chefe da computação,
relegando os mainframes a funções muito especializadas. Ao
virar coisa séria, foi-se a aventura da criação e fabricação de
PCs. Os poucos hippies, que sobraram, foram domesticados
pelo furacão empresarial de Silicon Valley, restando apenas
o desleixo no vestir, a música barulhenta e o hábito de não
usar gravata, pífio vestígio dos anos de 1970.
No entanto, o vôo livre não se tornou uma grande
indústria. Em 1996, estima-se que foram produzidos 25
mil parapentes na Europa, o que pode ter sido um recorde.
Os modelos de grande sucesso das maiores fábricas
podem atingir uma produção total de mil unidades, o
que é excepcional. Em geral, os números são muito mais
modestos para uma típica fábrica, que é pequena. Não
houve a sacudida que destruiu milhares de pequenas
fábricas de fundo de quintal, no ramo da informática,
passando a concentrar-se a produção em alguns poucos
gigantes. No vôo, sobrevivem algumas das fábricas mais
velhas, pois, a Wills Wing e a Moyes dos primeiros tempos
ainda lideram nesse mercado.
343
Claudio de Moura Castro
Para se ter uma idéia da modéstia de tais operações, em
uma foto recentemente publicada em Fly and Glide, Steve
Moyes e sua irmã aparecem contando parafusos78. Ainda
mais acanhada é a operação de Jos Gugglemoss que, perto
de Neuschwanstein, opera a sua fabriqueta praticamente
sozinho desde o início dos anos 1970. Ele é o desenhista,
piloto de prova, construtor e, quem sabe, também a pessoa
que limpa a oficina. Ainda está vivo o romantismo da
indústria artesanal.
Há outra observação curiosa acerca da geografia do
projetamento de asas. Como referido, do ponto de vista
puramente mecânico, construir uma asa é infantil. Além
disso, não se requer qualquer conhecimento técnico muito
especializado para o seu desenho. Se assim não fosse,
como explicar que não há engenheiros aeronáuticos e que
os construtores não passam de curiosos?
Hoje, as revistas falam em parapentes projetados em
computador. Há até mesmo o programa Fly-Cad, oferecendo
mais de mil funções diferentes. Na verdade, o que está
sendo computadorizado é, sobretudo, o ato físico de
desenhar os elementos da vela e dos cabos e, obviamente,
a transferência dos moldes eletrônicos para a mesa de corte
ainda é infinitamente simplificada. De fato, é assim que
se fazem hoje camisas e calças e o que o computador faz é
pouco mais do que substituir o molde de papelão do gomo
da vela.
No fundo, o programa de CAD desenha na tela o que o
projetista quer que lá esteja. São tantos os parâmetros a
serem dados pelo projetista que não se pode dizer que foi
o computador que projetou a asa, mais do que foi a tinta
nanquim de Lúcio Costa que projetou Brasília em forma de
asa. Ou seja, projetar asas continua uma arte manejada
por praticantes criativos, em que o computador apenas
substitui a prancheta.
78
344
Mit familiensinn zum erfolg: Moyes, ibid (junho, 2002)
COLEÇÃO
A geografia do vôo livre é a do relevo adequado, dos ventos
e das térmicas. Isso, Deus distribuiu com equanimidade,
uma vez que tanto pode estar no Equador quanto na Suíça.
Por isso, o vôo se difundiu bastante pelo mundo afora. Se há
um bom morro, há boa chance de que haja vôo.
A construção comercial de asas, apesar de parecer tão
simples, permaneceu no circuito dos países altamente
industrializados e educados. O projetamento das asas, que
sequer exige engenheiros, não migrou para o Terceiro Mundo,
onde há esforços artesanais que não passam disso. Ficam as
perguntas: por que é assim? Por que um aparato tão simples
de ser fabricado permanece uma reserva de mercado dos
países mais avançados?
Tal como nos primeiros anos do vôo livre, por todas as partes,
logo que aparecem, as asas e parapentes são copiadas pelos
pilotos com pendores mecânicos. No Rio de Janeiro, houve
o português Antero, dono de uma loja de acessórios para
barcos. Como na Austrália, chega ao vôo pela via do reboque
na água. Com seu passado de oficina mecânica, tal como
Moyes, é um dos primeiros a construir asas no Brasil. Justiça
seja feita, a qualidade da construção e do acabamento era
bastante respeitável. Como Antero não era nem um bom
piloto e nem muito ligado com as novidades do exterior,
que chegavam céleres, suas asas eram sempre meio
ultrapassadas. Sendo português, passaram a ser chamadas
de “bacalhau”. Foi cunhado assim um neologismo para
denominar asas antiquadas ou de pouca performance.
Luiz Claudio era um excelente mecânico, já tendo sido dono
de uma oficina. Teve o seu momento de construção de asas,
tampouco, não foi muito longe. Jairo e seu irmão não eram
tão caprichosos e pertenciam a um grupo meio marginalizado
na Praia do Pepino. Suas asas eram desdenhadas pela
elite dos voadores. Curiosamente, nunca se quebraram
e apresentavam algumas inovações mecânicas bastante
interessantes. Houve vários outros. Casimiro, em linha com
sua especialidade, concentrou-se nas asas para vôo duplo,
mantendo esse nicho de mercado por um bom tempo.
345
Claudio de Moura Castro
Em São Paulo, havia a fábrica do Magrão, bem mais
profissional. Abasteceu o mercado no final dos anos 1970,
trabalhando com fabricantes de cabos de aço e de tubos
de alumínio, para obter matérias-primas adequadas, em
um período em que estavam fechadas as importações.
É um caso muito singelo, mas é paralelo ao que fazem
as grandes indústrias, ao juntarem-se aos fabricantes
dos seus insumos para melhorar a sua qualidade ou
características técnicas.
Os policiais rodoviários, que começaram o vôo em Sapiranga
(Rio Grande do Sul), também fizeram uma produção local.
Além disso, havia os construtores de fundo de quintal,
esparramados pelo interior do país, fazendo asas com cano
de ferro galvanizado e outras barbaridades tecnológicas.
Quanto mais inventavam, mais perigosas ficavam as suas
asas.
6. CASO DA SOL PARAGLIDERS
Somente nos últimos anos, aparece no Brasil um paradigma
de fabricação diferente dos anteriores. Trata-se da Sol
Paragliders, dedicada a fabricar parapentes e localizada
em Jaraguá do Sul (SC).
346
Ary Carlos Pradi formou-se em administração de empresas
e foi para a Alemanha para sua pós-graduação. Já havia tido
uma rápida iniciação ao vôo de asas-deltas com a ajuda de
seu pai, entretanto, não mostrou maior interesse pelo assunto.
Achou mesmo que era “coisa de velho”. Desde 1983, voava
regularmente, mas sem muito entusiasmo. Era seu pai
quem freqüentava o vôo com mais dedicação, desde 1979.
Chegou à Alemanha em pleno florescimento da prática do
parapente. Aí, então, passou a voar em parapentes. Gostou
tanto que decidiu não fazer mais nada na vida. Obviamente,
havia de pagar as contas. Pelo seu raciocínio, se gastasse
uma semana fazendo um parapente, poderia vendê-lo e gerar
uma receita que permitiria passar três semanas voando. Em
COLEÇÃO
retrospecto, o plano não deu certo. As três semanas de vôo
por puro divertimento acabaram num sonho não realizado.
Tornou-se um pequeno industrial, trabalhando trinta dias
por mês.
Obviamente, não sabia construir parapentes, tendo então
de empreender o aprendizado da arte. Vivendo na Europa
no início dos anos 1990, começou a visitar algumas fábricas
e a trabalhar em outras. Por esse processo, ele ia fazendo
sua espionagem industrial. Escondia-se no banheiro para
anotar o que via nas fábricas visitadas. Essa estratégia foi
aprendida com um grande industrial de Jaraguá, que havia
feito o mesmo, ao visitar uma trefilação para fios de cobre
na Suíça.
Como resultado de um longo aprendizado na Europa,
deu à sua fábrica um estilo mais profissional, em vez
da improvisação e imediatismo dos outros produtores
brasileiros. Ao voltar ao Brasil, reproduziu os estilos de
operação europeus que conhecia.
Ao contrário da pirataria reinante no Brasil, optou pelo
licenciamento com os fabricantes. Começou com o Black
Magic da Airwave, um parapente de muito sucesso, pela
sua segurança e performance. Comprou depois os direitos
de fabricação da Condor (Áustria). Em seguida, passa
a produzir, sob royalties, os modelos da Nova. Como os
direitos de reprodução estavam ficando muito caros e não
permitiam exportar, em 1999, decide desenvolver seus
próprios modelos. Contratou para isso André Rottet, um
desenhista suíço de parapentes (ex-projetista da Mac e
Falhalk).
Ou seja, a Sol Paragliders trilhou um caminho diferente
das outras fábricas brasileiras. Seu proprietário estudou
profundamente o mercado europeu, aprendeu as técnicas
construtivas nas melhores fábricas e optou por não piratear
modelos. Com isso, produzia parapentes certificados
internacionalmente, pois comprava os direitos das fábricas
347
Claudio de Moura Castro
européias. Ao optar pelo projeto próprio, não improvisa,
busca na Suíça um projetista confirmado e experiente.
Após décadas de amadorismo, é o início de uma indústria
madura e responsável no Brasil. Nos dias de hoje, vem
mostrando taxas anuais de crescimento acima de 25%,
atingindo duas mil asas por ano. Exporta metade da
sua produção para 65 países, incluindo até mesmo o
Uzbequistão e a Lituânia.
Com isso, já se encontra entre as cinco maiores fábricas
do mundo. Como as fábricas européias mandam coser suas
velas na Ásia e a Sol faz tudo no próprio local, sua fábrica
tem o maior número de empregados em todo o mundo, 130.
Em 2003, aparece sua primeira menção em uma revista
internacional.79 De lá para cá, suas velas são favoravelmente
avaliadas pela revista alemã Fly and Glide.
Tal como em automobilismo ou motociclismo, o desempenho
nas competições dá muita visibilidade para as fábricas. Nos
últimos dois anos, a Sol tem mostrado desempenho exemplar
com onze recordes mundiais, cinco campeonatos vencidos
em grandes mercados e liderança do ranking mundial em
acrobacia.
Um dos aspectos, em que as asas e parapentes se distinguem
de outros produtos de fábricas pequenas, está nos gastos de
pesquisa. Um fabricante de tijolos usa uma tecnologia pouco
diferente da que usavam os egípcios. Como um fabricante de
pregos pode esperar várias décadas antes de mudar modelos ou
maquinário, ele jamais faz gastos de pesquisa e desenvolvimento.
No entanto, fabricantes de paragliders e computadores
encontram um mercado freneticamente mutante, uma vez
que ou lançam modelo novo e comprovadamente melhor, ou
serão cuspidos pela concorrência.
Diante desse rapidíssimo avanço tecnológico, é imprescindível
gastar em P&D para desenvolver os próximos modelos.
348
79
Fly and Glide (março de 2003, p. 33)
COLEÇÃO
Portanto, é uma indústria pequena gastando mais em pesquisa
dos que as maiores indústrias brasileiras. Dez por cento do
faturamento da Sol é gasto em P&D e isso representa dez
vezes mais do que gastam as grandes empresas industriais
brasileiras.
O desenvolvimento de um novo modelo segue a tradição
criada na Europa e nos Estados Unidos. Nos dias de hoje,
são gastos de dois a três meses de simulação em computador.
Com o modelo mais ou menos definido, vem depois o
protótipo. Voando nele, começa o processo infindável de
aperfeiçoamento do novo modelo. O piloto de prova voa e
comenta o desempenho para o projetista, retorna a vela para a
máquina de costura, novo vôo, nova modificação, até satisfazer
piloto e projetista.
Aprontado o novo modelo, é hora de levar para a Suíça
para ser certificado pelas normas suíço-alemãs, as mais
prestigiosas do mundo. Gastam-se, nesse processo, uma
ou duas dezenas de milhares de dólares, pois, é feita uma
certificação para cada modelo e para cada tamanho.
A Sol oferece atualmente oito modelos diferentes de
parapente, quinze modelos diferentes de seletes (cadeirinha
do piloto), sete modelos de pára-quedas de reserva e trinta
tipos de acessórios. Isso não seria problema, não fosse o fato
de que cada modelo de parapente tem de ser renovado ao
cabo de três anos. Diante da competição das outras fábricas,
o modelo fica obsoleto. Se não for projetado um novo, o
fabricante será expulso do mercado. Entre parapentes,
seletes, reservas e acessórios, a Sol lança de dez a doze
modelos novos por ano.
7. CONCLUSÃO
À guisa de conclusão, é interessante registrar o aparecimento
no Brasil de um novo estilo de indústria moderna. É a pequena
indústria de tecnologia mutante e avançada, obrigando a
349
gastos enormes com P&D. Mostra, todavia, uma diferença
diante da nova pequena indústria informática ou genética
brasileira, que tende a ser um spin-off dos grandes centros
de pesquisa. A Sol opera em setor cuja tecnologia não foi
codificada e não se transmutou em disciplinas, cursos e
diplomas. Em vez de estar recheada de Ph.D por Berkeley,
as fábricas colecionam ex-hippies, aventureiros e pilotos
talentosos. É um perfil de indústria único no mundo e, no
Brasil, ainda mais raro.
350
COLEÇÃO
MINICURRÍCULO DOS AUTORES
Ater C. Cristófoli
Empresário; Fundador da empresa Cristófoli Equipamentos
de Biossegurança LTDA; Fundador da Fundação Educere de
Campo Mourão, instituição em que ocupa o cargo de DiretorPresidente; Coordenador Regional da Federação das Indústrias
do Estado do Paraná, na cidade de Campo Mourão. Contato:
[email protected]
Claudio Moura Castro
Graduado em Economia pela UFMG; Mestre pela
Universidade de Yale; Doutor em Economia, programa
iniciado na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e
terminado na Universidade de Vanderbilt; Professor nos
Programas de Mestrado da PUC/Rio, Fundação Getúlio
Vargas, Universidade de Chicago, Universidade de Brasília,
Universidade de Genebra e Universidade da Borgonha.
Trabalhou no IPEA/INPES; foi Coordenador Técnico do
Programa ECIEL, passando em seguida a Diretor Geral da
CAPES; Secretário Executivo do CNRH / IPEA. No exterior:
Chefe da Divisão de Políticas de Formação da OIT (Genebra);
Economista Sênior de Recursos Humanos do Banco Mundial;
351
Chefe da Divisão de Programas Sociais no BID. Ao aposentarse do BID, tornou-se Presidente do Conselho Consultivo da
Faculdade Pitágoras, no final do ano 2001. Autor de mais de
trinta e cinco livros e mais de trezentos artigos científicos;
Articulista da revista Veja. Contatos: claudioc@pitagoras.
com.br e Claudio&Moura&[email protected]
Eduardo Akira Azuma
Advogado e Mestre em Teoria do Direito e do Estado; Autor
de artigos publicados na área de Direito e Novas Tecnologias;
Coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento e Professor
voluntário da Fundação Educere de Campo Mourão. Contato:
[email protected]
Elisangela de Souza Paiva
Graduada em Administração com ênfase em Marketing pela
Faculdade Cenecista de Joinville, iniciou suas atividades
na área de Incubação de Empresas de Base Tecnológica e
atualmente é Coordenadora da Pré-incubadora do Midiville.
Contato: [email protected]
Guilherme Ary Plonski
352
Graduado em Engenharia Química e em Matemática pela
USP (1971); Mestre (1979) e Doutor (1987) em Engenharia de
Produção pela Poli/USP; Pós-doutorado no Center for Science and
Technology Policy, do Rensselaer Polytechnic Institute (EUA), na
condição de Fulbright Visiting Research Scholar (1990); Livredocente em Engenharia de Produção pela Poli/USP (2000); Gestor
da unidade de Desenvolvimento Institucional e Organizacional do
Consórcio Nacional de Engenheiros Consultores S/A, empresa do
Grupo Camargo Corrêa (1977/1989); Diretor da Coordenadoria
Executiva de Cooperação Universitária e de Atividades Especiais
da USP (1994/2001); Diretor-Superintendente do Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (2001/2006);
Professor Titular do Dep. de Administração da FEA/USP e
Professor Associado do Dep. de Engenharia de Produção da
Poli/USP; Coordenador Científico do Núcleo de Política e Gestão
COLEÇÃO
Tecnológica da USP; Diretor da Área de Gestão de Tecnologias
Aplicadas à Educação, da Fundação Vanzolini e Coordenador
de Projetos na Fundação Instituto de Administração; Presidente
da ANPROTEC; Diretor da ANPEI (2003/2006); Integrante
dos Colegiados Superiores de diversas instituições, entre elas:
ABDL, ABIPTI, ABNT, ABDI, CGEE, CEEA/Ciesp, CenPRA,
CIENTEC, CIETEC, CIP, CNPq, CONCITE/SP, Contec/FIESP,
FCAV, FIPT, Fundação Iochpe, Hospital Albert Einstein, ICTR,
ITS, PMI, Recla, Remesp, SBGC, SBM, SEBRAE/NA, SEBRAE/
SP, TECHNION e Unicamp. Contato: [email protected]
Hildegarde Schlupp
Mestre em Gestão da Qualidade e Produtividade pelo Programa
de Pós-Graduação de Engenharia de Produção e Sistemas da
UFSC; Pedagoga com Especialização Latu Sensu em Gestão
de Recursos Humanos e Gestão de Instituições de Ensino.
Prática Profissional dedicada à Gestão de Processos de
Educação Profissional, Processos de Incubação de Empresas
de Base Tecnológica e em Consultoria Empresarial; Diretora
do SENAI de Joinville/SC. Contato: [email protected]
José Alberto Sampaio Aranha
Engenheiro Químico pela UFRRJ; Pós-Graduado em
Administração pelo IAG PUC-Rio e em Comércio Exterior,
CECEX. Diretor do Instituto Gênesis PUC-Rio. Coordenador
do Programa Empresa Jr. da PUC-Rio e Membro do Conselho
Consultivo da Endeavor Brasil; Professor visitante em
Programas de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional
e Empreendedorismo em países da América Latina: Chile,
Peru e Equador; Coordenador do Projeto INFODEV do
Banco Mundial na comunidade de Vila Canoas (RJ) e PNI
/RAETeC, com o apoio da FINEP. Foi diretor da ANPROTEC
e Membro do Conselho da SOFTEX, de 2000 a 2007. Autor
do livro Modelo de Gestão para Incubadoras de Empresas
(REDETEC, 2002) e Colaborador do livro do Prof. Louis
Jacques Filion, Boa Idéia e Agora? (CULTURA, 2000); Local
Socio-Economic Development MicroCluster. In 5th Triple
353
Helix Congress, na Itália, maio 2005. Emerging Models
for the Entrepreneurial University: Regional Diversitieson
on Global Convergence - 6th International Conference on
University, Industry & Government Linkages - Triple Helix
VI - 16 - 18 May, 2007, Singapore. Contato: [email protected]
Joana Paula Machado
Graduada em Estatística pela Universidade Federal do
Paraná (2005); Estatística do Projeto GEM Brasil - Global
Entrepreneurship Monitor (GEM), pesquisa internacional
realizada em 40 países sobre Empreendedorismo; no Brasil,
essa pesquisa é executada pelo Instituto Brasileiro da
Qualidade e Produtividade, com apoio do SEBRAE, Sistema
FIEP/PR e PUC/PR; Pesquisadora da área de Estatística, com
ênfase em Estatística Descritiva. Contato: [email protected]
João Geraldo de Oliveira Lima
Graduado em Administração de Empresas pela Universidade
Federal de Alagoas (UFAL); Especialista em Consultoria
pelo Centro de Estudos Superiores de Maceió (CESMAC);
Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente pelo
PRODEMA/ UFAL; Coordenador da Incubadora Empresarial
Tecnológica (IET/CESMAC) e Professor do Centro de Estudos
Superiores de Maceió (CESMAC), nos cursos de Análise de
Sistemas e Administração; Sócio da Empresa HG Consultoria
Tecnológica. Experiência na área de Administração, com
ênfase em Administração de Empresas, principalmente nos
seguintes temas: Empreendedorismo, Plano de Negócios,
Incubadoras de Empresas, Pólos, Parques, Tecnologia de
Informação, Produção, Arranjos Produtivos e Captação de
Recursos. Contato: [email protected]
Josealdo Tonholo
354
Bacharel e Licenciado em Química pela Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto; Mestre e
COLEÇÃO
Doutor em Físico-Química pelo Instituto de Química de São
Carlos/ USP; Professor Associado da Universidade Federal de
Alagoas no Instituto de Química e Biotecnologia; Orientador
dos Programas de Pós-Graduação em Química e Biotecnologia
e de Economia; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação;
Diretor da Associação Nacional de Entidades Promotoras de
Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC) e do Instituto do
Bambu; Conselheiro do Conselho Regional de Química XVII,
Região AL. Experiência profissional na área de Química,
com ênfase em Eletroquímica, atuando principalmente nos
seguintes temas: degradação de petróleo e derivados, anodo
dimensionalmente estável, desprendimento de hidrogênio
e produção de cloro e soda, corrosão, polímeros condutores
e materiais odontológicos. Na área de Gestão em Ciência,
Tecnologia e Inovação é ativo nos temas relacionados com
Empreendedorismo Inovador, Transferência de Tecnologia,
Interação Universidade-Empresa e Incubadoras de Empresas.
Contato: [email protected]
Leila Gasparindo
Jornalista; Graduada em Comunicação Social pela PUC/SP, em
1991; Especialista em Comunicação Empresarial pela ESPM;
Sócia-fundadora da Trama Comunicação; Editora-chefe da
revista Super Escola e Cietec 10. Atua há mais de 15 anos
em Comunicação Organizacional com foco em Tecnologia e
Inovação. Há 10 anos, desde a fundação da incubadora, tem
sido a Responsável pela Comunicação Integrada do Centro
de Inovação e Empreendedorismo (CIETEC). Como DiretoraExecutiva da Trama, elabora e acompanha a implementação
de Planejamentos Estratégicos de Comunicação de grandes
empresas e instituições nas áreas de Tecnologia, Educação,
Inovação e Sustentabilidade, entre elas a Associação Nacional
de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores
(ANPROTEC). Foi uma das fundadoras da Associação
Brasileira das Agências de Comunicação (ABRACOM).
Contato: [email protected]
355
Leonardo Augusto de Vasconcelos Gomes
Graduado em Engenharia de Produção pela Universidade
Federal de Minas Gerais intercalada pela École Supérieure
d’Ingénieurs en Électrotechnique et Électronique (2006);
Mestrando em Engenharia de Produção, na Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo, na área de Organização do
Trabalho; Interesse acadêmico e profissional na área de
Organização do Trabalho, Inovação, Empreendedorismo
Tecnológico, Desenvolvimento de Produtos, Technology
Roadmapping e Empresas Nascentes de Base Tecnológica de
Origem Acadêmica. Contato: lavgomes@gmail
Luiz Carlos Duclós
Ph.D. em Computer Applications in Industrial and Systems
Engineering, pela University of Southern, Califórnia (1982).
Desenvolveu, 15 anos antes (1975), o conceito do SIG para
pequena empresa antecipando a viabilidade da informatização
da consolidação dos microcomputadores. Em 1983, criou
o conceito de Controle de Qualidade e Custo do software
Total Software Life-Cycle (TSL). Este trabalho foi citado em
Software Pioneers, em 2002, escrito por autoridades mundiais
em Software Engineering. Como CEO da NTS, introduziu no
Brasil o conceito de qualidade de software. Professor da Escola
de Negócios da PUC/PR, desde 2001, em Curitiba. Contato:
[email protected]
Maricilia Volpato
Bacharel em Economia pela Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC); Mestre em Inovação Tecnológica, pela
Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UFTPR);
Atuante no SENAI/PR em Processos de Inovação e
Empreendedorismo no contexto da Educação Profissional,
desde 2004; Atua com técnico responsável pelas PréIncubadoras do SESI/ SENAI/PR, inclusas no Programa
Inova SESI/SENAI/IEL.Contato: [email protected]
356
Bacharel em Administração pela UFPR; MPA e Ph.D pela
University of Southern California (USC), em Los Angeles;
Master of Science in Management pela Hult Intl School
of Business, em Boston. Experiência nas áreas de Custos
Industriais, Comercialização, Produção, Suprimentos,
Informática, Desenvolvimento Organizacional, Planejamento
Estratégico e Inovação; Líder em Negociações Internacionais
com transferência de tecnologia e parcerias em Capacitação
e Formação Profissional; Professor do PPAD na PUC/PR;
Coordenador da estruturação da Universidade da Indústria
(UNINDUS), no Sistema FIEP; Co-Fundador e Diretor do
Instituto Superior de Administração do Paraná (ISAD/PUC);
Coordenador do Projeto GEM (Global Entrepreneurship
Monitor) da London Business School e Babson College, que
trouxe para o Brasil; Coordenador do Programa Paranaense
de Treinamento de Executivos (PPTE); Consultor nas
áreas de Gestão, Planejamento Estratégico, Inovação,
Empreendedorismo e Desenvolvimento Organizacional;
Colaborador e Participante na criação de empreendimentos
nas áreas de Software, Consultoria e Educacional; Participante
de Conselhos de Administração de Empresas, industriais e de
serviços. Contato: [email protected]
COLEÇÃO
Marcos Mueller Schlemm
Mario Sergio Salerno
Graduado em Engenharia de Produção pela Poli/USP (1979);
Mestre em Engenharia de Produção pela UFRJ (1985);
Especialista em Inovação Tecnológica e Desenvolvimento
(IDS, University of Sussex, Inglaterra, 1986); Doutor em
Engenharia de Produção pela Poli/USP (1991), com período
intercalar na Politécnica de Milão, Itália (1989); PósDoutorado no LATTS/ École Nationale des Ponts et Chaussées
(França, 1996); Livre-docente em Engenharia de Produção
pela Poli/USP (1998); Vice-Coordenador do Observatório da
Inovação e Competitividade do Instituto de Estudos Avançados
da USP; Diretor de Estudos Setoriais do IPEA, entre 2003
e 2004; Participante da Coordenação do Grupo Executivo
357
da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior
(PITCE), do Governo Federal; Diretor da Agência Brasileira
de Desenvolvimento Industrial (ABDI), entre 2005 e 2006;
Professor Titular e Chefe do Departamento de Engenharia de
Produção da Poli/USP; Autor de vários artigos publicados em
revistas, livros e congressos nacionais e internacionais, sobre
temas de Organização e Gestão Estratégica da Inovação.
Contato: [email protected]
Natalino Uggioni
Graduado em Matemática; Especialista em Gestão
Empresarial; Mestre na área de Engenharia de Produção
pela UFSC; Instrutor de Ensino; Consultor de Empresas;
Diretor Técnico-Administrativo; Superintendente do IEL/ SC.
Contato: [email protected]
Paulo Alberto Bastos Junior
Engenheiro de Alimentos (PUC/PR); Especialista em Gestão
do Conhecimento e Inteligência Empresarial (PUC/PR);
Mestre em Tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal
do Paraná; Mestre em Informação Científica e Técnica pela
Universidade de Marselha; Pesquisador do Projeto GEM
(Global Entrepreneurship Monitor), desde 2002; Professor da
Fundação de Estudos Sociais do Paraná (FESP) e da Sociedade
Paranaense de Ensino e Informática (SPEI); Consultor em
Gestão Organizacional. Contato: [email protected]
Reynaldo Rubem Ferreira Júnior
358
Bacharel em Economia pela Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), em 1984; Mestre em Economia
Industrial pelo Programa Integrado de Mestrado em Economia
e Sociologia (PIMES/UFPE), em 1990; Doutor em Política
Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade
de Campinas (IE/UNICAMP), em 1998; Ex-Secretário
Extraordinário do Estado de Alagoas (2004); Responsável
pela Coordenação dos estudos para implantação da Agência
COLEÇÃO
de Fomento do Estado; Ex-Superintendente do PRODETUR/
AL (2005); Professor do Mestrado em Economia Aplicada
da Universidade Federal de Alagoas (UFAL); Consultor do
Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas
(SEBRAE/AL) e da Federação das Indústrias do Estado
de Alagoas (FIEA); Professor Associado I da Faculdade
de Economia, Administração e Contabilidade (FEAC) da
Universidade Federal de Alagoas (UFAL); Pesquisador nas
áreas de Organização Industrial e Estruturas Financeiras, com
ênfase em Economia da Inovação, Competitividade de Setores
Industriais, Perfis Tecnológicos e Sistemas de Financiamento
Empresarial. Contato: [email protected].
Rodrigo Gomes Marques Silvestre
Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade
Estadual de Londrina (2005). Mestrando do Programa de PósGraduação em Desenvolvimento Econômico da Universidade
Federal do Paraná (UFPR); Consultor Econômico e de
Projetos do Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade
(IBQP); Experiência na área de Economia, com ênfase em
Crescimento e Desenvolvimento Econômico, principalmente
nos seguintes temas: Inovação (benefícios, democratização
e difusão), Organização Industrial, Economia Brasileira e
Empreendedorismo. Contato: [email protected]
Rosa Maria Fischer
Professora Titular da FEA/USP e Coordenadora do Centro
de Empreendedorismo Social e Administração (CEATS), em
Terceiro Setor da Fundação Instituto de Administração (FIA);
Diretora da Social Enterprise Knowledge Network (SEKN),
no Brasil, rede constituída por 10 escolas de administração
ibero-latino-americanas, coordenada pela Harvard Business
School; Produtora de pesquisas, publicações e material
didático sobre Empreendedorismo Social, Responsabilidade
Corporativa e Alianças Intersetoriais, desde 2001. Contato:
[email protected]
359
Sérgio Wigberto Risola
Graduado em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito
de Pinhal; Especialista em Gestão Estratégica da Inovação
Tecnológica (UNICAMP); Professor Apoiador do Mestrado e
Extensão na Faculdade de Economia e Administração (USP),
na cadeira de Empreendedorismo, desde 2002; Gerente do
Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (CIETEC),
desde 1997; Criador, Diretor e Superintendente do Centro
Cerâmico do Brasil (CCB), entidade tecnológica do Setor
de Revestimentos Cerâmicos e Organismo de Certificação
INMETRO; Colunista diário da Rádio Band News FM, 96.9,
com o tema Inovações Tecnológicas, geradas pelo CIETEC,
desde maio de 2005; Comentarista de outras Tecnologias
Inovadoras e Cenários de P & D & I; Membro do Comitê
Gestor de Parques Tecnológicos do Estado de São Paulo, desde
2006. Contato: [email protected]
Simara Maria de Souza Silveira Greco
Graduada em Estatística pela Universidade Federal do Paraná
(1984) e em Serviço Social pela Pontifícia Universidade
Católica do Paraná (1977); Pós-graduada em Engenharia
Econômica pela FAE; Coordenadora de projetos do Instituto
Brasileiro da Qualidade e Produtividade, na área de
Empreendedorismo; Coordenadora Técnica do Projeto GEM
no Brasil (Global Entrepreneurship Monitor); Experiência
na área de Administração e Pesquisa, principalmente, nos
seguintes temas: Gestão Empresarial e Empreendedorismo.
Contato: [email protected]
360
Graduada em Artes pela FAP, 1981; Especialista em
Fundamentos da Arte-Educação pela FAP, 1998, e em
Administração pelo ISPG, 1997; Mestre em Administração
pela UFRGS, 2001; Doutora em Administração pela USP,
2008; Gerente do Programa Inova SESI/SENAI/IEL/PR,
desde 2004, na condução das pré-Incubadoras SENAI/SESI,
do núcleo de Orientação de Propriedade Intelectual e demais
projetos na área de criatividade e inovação, voltados à educação
profissional e ao meio empresarial; Professora de Criatividade
e Inovação em cursos de Pós-Graduação; Autora de vários
artigos publicados sobre os temas indicados. Contato: sonia.
[email protected]
COLEÇÃO
Sonia Regina Hierro Parolin
361
362
COLEÇÃO
Créditos
Federação das Indústrias do Estado do Paraná - FIEP
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial/Departamento Regional - SENAI
Diretor Regional
João Barreto Lopes
Diretor de Operações
Marco Antônio Areias Secco
Gerente Programa INOVA SENAI/SESI
Sonia Regina Hierro Parolin
Serviço Social da Indústria - SESI
Diretor Superintendenete
José Antônio Fares
Diretoria de Tecnologia de Gestão da Informação
Diretor de Tecnologia de Gestão da Informação
Pedro Carlos Carmona Gallego
Coordenação de Tecnologias e Mídias Educacionais - CTME
Coordenação – Lucio Suckow
Projeto Gráfico – Ana Célia Souza França
Priscila Bavaresco
Tratamento de imagens – Priscila Bavaresco
Editoração – Ana Célia Souza França
Revisão de texto – Bernadete de Lourdes Michelato
Código CTME 01408
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Faces do Empreendedorismo Inovador