UNIVERSIDADE POSITIVO LEDA MARIA GUARESCHI MILENA THÁ BATISTA SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL - ANÁLISE DOS RESULTADOS ALCANÇADOS A PARTIR DA CERTIFICAÇÃO NBR ISO 14001 POR ORGANIZAÇÕES DE ENGENHARIA CIVIL E SUAS FORNECEDORAS NA CIDADE DE CURITIBA-PR CURITIBA 2010 2 LEDA MARIA GUARESCHI MILENA THÁ BATISTA SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL - ANÁLISE DOS RESULTADOS ALCANÇADOS A PARTIR DA CERTIFICAÇÃO NBR ISO 14001 POR ORGANIZAÇÕES DE ENGENHARIA CIVIL E SUAS FORNECEDORAS NA CIDADE DE CURITIBA-PR Trabalho de conclusão de curso, apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Engenheiro Civil do curso de Engenharia Civil da Universidade Positivo. Orientador: Prof. Claudio Cesar Ferreira CURITIBA 2010 3 AGRADECIMENTOS Não podemos acreditar que o mesmo Deus que nos dotou de sentidos, como razão e intelecto, pretenda que não os utilizemos. Sendo assim, agradecemos a ele por ter nos fortalecido a cada dia difícil, nos ajudando a concluir este trabalho. Agradecemos também: Aos nossos pais, por terem nos incentivado nessa jornada, acreditando sempre no nosso potencial; À Cláudio Cesar Ferreira, nosso mestre, professor e orientador, que a cada encontro nos ouviu, corrigiu, direcionou e motivou, atuando como principal norte deste trabalho; À Mari Elizabete Bernardini Seiffert, nossa professora, que forneceu dados essenciais para a seleção das empresas entrevistadas; À todos os outros professores, que participaram deste trabalho com informações, recomendações e orientações; À Bruno Fernando S. Kasper, por ter colaborado com seu conhecimento e paciência em todos os momentos, principalmente nos finais de semana; Aos nossos amigos, por terem compreendido nossa ausência em muitos momentos para que o trabalho fosse finalizado; E, finalmente, às empresas entrevistadas, pois sem elas não poderíamos chegar ao final deste trabalho. ii 4 SUMÁRIO LISTA DE TABELAS v LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS vi LISTA DE FIGURAS vii RESUMO viii 1 INTRODUÇÃO 10 2 JUSTIFICATIVA 11 3 OBJETIVOS 13 3.1 OBJETIVO GERAL 13 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 14 4 REVISÃO DA LITERATURA 14 4.1 VANTAGEM COMPETITIVA NAS ORGANIZAÇÕES 14 4.2 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 18 4.3 SUSTENTABILIDADE E GESTÃO AMBIENTAL 25 4.4 SGA ISO 14001 28 4.5 VANTAGENS DA IMPLEMENTAÇÃO DO SGA 30 4.6 IMPLEMENTAÇÃO DO SGA A PARTIR DA NBR ISO 14001 33 4.6.1 Política ambiental 35 4.6.2 Planejamento 37 4.6.3 Implementação e operação 43 4.6.4 Verificação e ação corretiva 49 4.6.5 Auditoria do Sistema de Gestão Ambiental 55 4.7 DADOS ESTATÍSTICOS SOBRE A CERTIFICAÇÃO NBR ISO 14001 60 4.8 RESULTADOS DO SGA SOB O PONTO DE VISTA DE EMPRESÁRIOS 65 iii 5 5 METODOLOGIA 66 5.1 PLANO METODOLÓGICO SINTÉTICO 67 5.2 SELEÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES 67 5.3 DESENVOLVIMENTO DO PLANO DE PESQUISA 68 5.4 DESENVOLVIMENTO DO INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS 69 5.5 COLETA DE DADOS 79 5.6 APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS 80 6 CONCLUSÕES 94 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES 100 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 102 iv 6 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Quantidade de certificações NBR ISO 14001 por continente 61 Tabela 2 - Quantidade de organizações certificadas pela NBR ISO 14001 por estado da federação Brasileira 61 Tabela 3 - Percentual de organizações certificadas pela NBR ISO 14001 por setor produtivo brasileiro 63 Tabela 4 - Caracterização das empresas pesquisadas 80 Tabela 5 – Avaliação dos benefícios observados por cada uma das organizações a partir da certificação NBR ISO 14001 88 Tabela 6 – Avaliação dos benefícios observados pelas organizações a partir da certificação NBR ISO 14001 92 v 7 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ADA Avaliação de Desempenho Ambiental ASCE American Society of Civil Engineers BI Business Intellingence BID Banco lnteramericano de Desenvolvimento BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Cerf Civil Engineering Research Foundation CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente Confea Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ICA Indicador de Condição Ambiental IDA Indicador de Desempenho Ambiental IDO Indicador de Desempenho Operacional IDG Indicador de Desempenho de Gestão INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial ISO International Organization for Standardization NBR Norma Brasileira OHSAS Occupational Health & Safety Advisory Services ONGs Organizações não-governamentais PGA Programa de Gestão Ambiental RNC Relatório de Não-Conformidades SGA Sistema de Gestão Ambiental vi 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – As cinco tarefas da gerência estratégica 20 Figura 2 – Planos de negócios 24 Figura 3 – O gráfico dos seis passos 27 Figura 4 – A espiral da melhoria contínua 35 Figura 5 – Os três pilares da política ambiental 37 Figura 6 – Fluxo do macroprocesso de uma organização com detalhe no processo de aquisição 39 Figura 7 – Fluxograma guia para o ciclo PDCA 53 Figura 8 – Percentual de organizações certificadas pela NBR ISO 14001 por região. 63 Figura 9 – Grau de avaliação dos benefícios observados pela organização “A” a partir da certificação NBR ISO 14001 89 Figura 10 – Grau de avaliação dos benefícios observados pela organização “B” a partir da certificação NBR ISO 14001 89 Figura 11 – Grau de avaliação dos benefícios observados pela organização “C” a partir da certificação NBR ISO 14001 90 Figura 12 – Grau de avaliação dos benefícios observados pela organização “D” a partir da certificação NBR ISO 14001 91 Figura 13 – Grau de avaliação dos benefícios observados pelas organizações a partir da certificação NBR ISO 14001 vii 93 9 RESUMO Em vista ao atendimento dos requisitos da preservação do meio ambiente, muitas organizações almejam a certificação NBR ISO 14001, a qual especifica os requisitos relativos a um sistema de gestão ambiental. O setor da construção civil, por gerar grande quantidade de resíduos e por ser um grande consumidor de matéria-prima, necessita de um sistema de gestão que gerencie suas atividades e sua interface com o meio ambiente, a fim de tentar diminuir os impactos que causa. Entretanto, em muitas ocasiões, o empresariado não encontra subsídios suficientes para a tomada de decisão pela adoção da NBR ISO 14001, uma vez que os resultados obtidos a partir da implementação da mesma ainda são demasiadamente desconhecidos e a própria implementação da norma demanda recursos adicionais, os quais nem sempre estão disponíveis nas organizações. Considerando essa dificuldade encontrada pelos gestores das organizações em adotar um Sistema de Gestão Ambiental, tem-se como principal objetivo deste trabalho a avaliação dos resultados obtidos pelas organizações de engenharia civil e seus fornecedores, que estão localizados na cidade de Curitiba-PR, a partir das suas certificações NBR ISO 14001. Para tanto, foi feita uma pesquisa das organizações certificadas na NBR ISO 14001, constantes na base de dados do INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial), no estado do Paraná, e um questionário foi enviado às 7 organizações encontradas (todas na cidade de Curitiba-PR) , sendo 4 de engenharia civil e 3 suas fornecedoras. O questionário, baseado nos benefícios alcançados pelas organizações após a certificação da norma, afirmados por Harrington e Knight (2001), foi respondido por 4 das 7 organizações, representando uma taxa de retorno de 57%. Pode-se notar nos resultados dessa pesquisa os benefícios que realmente foram significativos para as organizações, como a melhoria no acesso ao mercado, na gestão de conformidade, a redução de responsabilidade e do risco, entre outros, bem como os considerados medianos, e ainda, os que não foram obtidos, como a melhoria no acesso ao capital de baixo custo. Palavras-chave: sistema de gestão ambiental na construção civil, NBR ISO 14001 nas organizações de engenharia civil, avaliação dos benefícios da NBR ISO 14001. viii 10 1 INTRODUÇÃO A engenharia pode ser considerada a mola propulsora para o desenvolvimento de um país, pois no Brasil, por exemplo, só o setor da construção civil representa 9% do PIB (produto interno bruto) do país (CETESB, 2010). No atual cenário econômico, onde o mundo enfrenta crises financeiras, engenharia e inovação, juntamente com a responsabilidade social, são essenciais para a sobrevivência e o progresso da nação. Pode-se ressaltar o papel da engenharia como vetor da inovação tecnológica e como sendo de vital importância para o desenvolvimento humano, social e principalmente econômico sustentável (1Marcos Túlio de Melo, Presidente do Confea). Ainda nesta linha de pensamento, Seiffert (2009) ressalta que a importância dos recursos naturais é fundamental para a sobrevivência humana, considerandose que, apesar de todo o desenvolvimento tecnológico até aqui alcançado, ainda não existem condições que possibilitem a substituição dos elementos fornecidos pela natureza. Diante destas condições, o mercado está cada vez mais exigente quanto ao crescimento tecnológico aliado à melhoria da qualidade ambiental. Apesar de isso poder representar custos iniciais a uma organização, pode também, à longo prazo, representar melhorias na produtividade e assegurar competitividade em mercados globalizados (Kopp e Outros, 2008). Desse modo, para que uma organização atinja seu objetivo de melhoria da qualidade ambiental e assim melhore sua produtividade e competitividade, ela deve se apoiar em um Sistema de Gestão Ambiental. Para tal, a NBR ISO 14001 é uma norma que estabelece as melhores práticas a serem adotadas no gerenciamento de um Sistema de Gestão Ambiental, sendo também um modelo mundialmente reconhecido, que permite estabelecer através de um número mínimo de procedimentos devidamente planejados, ações para promover proteção ambiental e as atitudes preventivas na geração de poluição, realização dos seus produtos ou serviços, assim como das atividades associadas a estes. A referida norma é a única da série ISO 14000 que possui fins de certificação. 1 Entrevista cedida ao jornal Fisenge, em dezembro de 2008. 11 Uma vez que a implementação de um sistema de gestão ambiental pode gerar benefícios para as organizações, como o aumento de produtividade e competitividade, este trabalho de conclusão de curso procurou avaliar os resultados atribuídos à certificação da NBR ISO 14001 nas organizações de engenharia civil, bem como em suas principais fornecedoras, como indústrias de cimento e aço. 2 JUSTIFICATIVA Sabe-se que o setor da construção civil consome matéria prima em abundância, além de gerar uma grande quantidade de resíduos, interferindo diretamente no meio ambiente. Segundo pesquisa realizada pela Civil Engineering Research Foundation (Cerf) – entidade vinculada à American Society of Civil Engineers (Asce), as organizações da área de construção civil estão entre as maiores poluidoras do mundo. A referida pesquisa revela que o setor é responsável por 15% a 50% do consumo dos recursos naturais extraídos (Agenda Sustentável2). Fazendo uma retrospectiva, nos anos 80 a preocupação com o meio ambiente já estava sendo traduzida em ações preservacionistas nos países ricos. No Brasil, esta ainda não era a realidade, pois o ritmo das agressões era alarmante, tanto na Floresta Amazônica, por meio das queimadas e da derrubada ilegal de madeira, quanto nos grandes centros, por causa da poluição. Apesar de naquele momento ter sido possível para os países se desenvolverem afetando o meio ambiente, hoje se sabe que o crescente aumento da consciência ambiental do consumidor faz com que este exija, além de um produto de qualidade, um produto que, no seu ciclo de vida, seja ambientalmente correto. O site da Agenda Sustentável tem como objetivo compartilhar Programas de Sustentabilidade entre empresas, executivos, jornalistas, estudantes, consultores e interessados na área de Sustentabilidade Corporativa. A BiO2 Sustentabilidade, editora responsável pelo site, foi fundada por executivos em fevereiro de 2008, com a intenção de promover um resultado ambiental, social e econômico de melhor qualidade para o Brasil, incentivando tanto ações integradas entre as empresas como a participação da sociedade pública. 2 12 Assim sendo, a proteção ambiental passa a ser uma qualidade desejada do produto, e a certificação ambiental torna-se a garantia da qualidade deste produto para o consumidor, que compartilha de preocupações com o meio ambiente. Logo, cabe às organizações buscarem essas certificações para continuarem ou tornarem-se competitivas no mercado atual, bem como para contribuírem para o desenvolvimento sustentável das próprias cidades nas quais estão localizadas. A cidade de Curitiba-PR, por exemplo, através de várias ações de citymarketing, feita pelos seus governantes durante décadas, juntamente com projetos voltados para a preservação ambiental, tornou-se a “capital ecológica” e, ainda recentemente, ganhou o prêmio de Cidade Sustentável pela Globe Forum, entidade sueca que reúne empreendedores preocupados com a sustentabilidade global (SEMA, 2010). No entanto, apesar do título de cidade sustentável, Curitiba-PR ainda está longe de encontrar o equilíbrio, possuindo diversos problemas ambientais e socioculturais. Desse modo, é importante que os gestores das organizações localizadas na capital paranaense desenvolvam ações no que diz respeito às questões ambientais, para que as organizações tornem-se menos agressivas ao meio ambiente e, assim, contribuam para a manutenção do título de capital ecológica. Uma certificação que permite às organizações estarem voltadas à preservação do meio ambiente é a NBR ISO 14001, que tem como título “Sistemas de Gestão Ambiental”, pois traça as diretrizes a serem seguidas pelas organizações nas suas interfaces com o meio ambiente. A NBR ISO 14001 é, portanto, uma norma para a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental que norteia as organizações que se preocupam com o meio ambiente e tem ou desejam adquirir uma visão sustentável. Com isso, as organizações, ao receberem a certificação na NBR ISO 14001, e ao agirem com responsabilidade ambiental, podem gerar lucro, atingindo não apenas o ganho social e da imagem empresarial, mas também a receita econômica, pois as grandes corporações, principalmente aquelas ligadas ao mercado externo, estão exigindo o certificado ambiental de seus fornecedores, e 13 o não atendimento dos seus requisitos poderá acarretar perdas na negociação de contratos de novos projetos (Seibt, 2008). Seiffert (2009, p.32) ao tratar da implantação de sistemas de gestão ambiental segundo a NBR ISO 14001 pelas organizações, ressalta: “Apesar de a adoção e a implantação de formas sistemáticas de gestão ambiental terem o potencial de proporcionar excelentes resultados a todas as partes envolvidas, não existe garantia de que resultados ambientais excelentes sejam efetivamente alcançados”. Assim, considerando-se que o processo de implantação do SGA ainda enfrenta a resistência de empresários pouco informados acerca dos benefícios que este pode trazer para o empreendimento, gerando principalmente questões quanto ao custo de implementação, retorno e ao esforço necessário pelos colaboradores da organização (Moreira, 2001), surge à questão que motiva a realização deste trabalho: Quais foram os resultados obtidos pelas organizações de engenharia civil e seus fornecedores, que estão localizadas na cidade de Curitiba-PR, a partir do momento que conquistaram a certificação NBR ISO 14001? A resposta a esta questão contribuirá para os gestores das organizações de engenharia civil e seus fornecedores, bem como para a própria “academia”, na medida em que é de grande importância uma avaliação nos processos da organização no que diz respeito às suas interfaces com o meio ambiente, sendo de grande valia para os empresários a identificação de indicadores que mostrem mudanças a partir da implementação do Sistema de Gestão Ambiental segundo a NBR ISO 14001 e, principalmente, se estes estão interferindo nos fatores de competitividade da organização. 3 3.1 OBJETIVOS OBJETIVO GERAL Avaliar os resultados obtidos pelas organizações de engenharia civil e seus fornecedores, que estão localizados na cidade de Curitiba-PR, a partir das suas certificações na NBR ISO 14001. 14 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Identificar os ganhos mais significativos, segundo a percepção dos gestores, a partir da certificação NBR ISO 14001. Identificar os ganhos menos significativos, segundo a percepção dos gestores, a partir da certificação NBR ISO 14001. 4 4.1 REVISÃO DA LITERATURA VANTAGEM COMPETITIVA NAS ORGANIZAÇÕES Com o nível acelerado das mudanças tecnológicas e com o aumento da concorrência global, os produtos estão com um ciclo de vida cada vez mais curto e qualquer ideia específica se tornará obsoleta mais rápido do que em qualquer ponto do passado, interferindo fortemente na capacidade de competição das organizações (Collins e Porras, 1995). Para Porter (1991, p.48), existem cinco forças competitivas que materializam a natureza da competição: a ameaça de novas organizações, a ameaça de novos produtos ou serviços, o poder de barganha dos fornecedores, o poder de barganha dos compradores e a rivalidade entre competidores existentes. O autor ainda afirma que "as organizações conseguem vantagem competitiva ao conceber novas maneiras de realizar atividades, empregando novos procedimentos, novas tecnologias ou diferentes insumos". Ao lidar com as cinco forças competitivas, a organização pode optar por um dos dois tipos básicos de vantagem competitiva: menor custo ou diferenciação. “A diferenciação é a capacidade de proporcionar ao comprador um valor excepcional e superior, em termos de qualidade do produto, características especiais ou serviços de assistência" e “as vantagens de menor custo são, com frequência, menos sustentáveis do que as de diferenciação” (Porter, 1991). A estratégia de diferenciação consiste em diferenciar o produto ou o serviço oferecido pela organização, criando algo que seja considerado único, no âmbito de toda a indústria. Assim, se alcançada, é uma estratégia viável para se obter retornos acima da média em um setor, pois ela cria uma posição de defesa para 15 evitar as cinco forças competitivas, mas de forma diferente que na liderança de custos (Porter, 1991). Para que uma organização sobreviva e prospere, ela precisa obter vantagem sobre os concorrentes. Essa vantagem competitiva é obtida pela adoção de abordagens de administração que satisfaçam às pessoas (tanto dentro quanto fora da organização) por meio de competitividade em quatro fatores: custos, produtos de alta qualidade, velocidade e inovação (Bateman e Snell, 1998). Dentro dos fatores competitivos de uma organização, o fator custo constitui o dinheiro gasto em insumos, no processo de transformação dos mesmos e na forma como a organização apresentará os resultados ao mercado interessado. Deve-se lembrar que produto com preço competitivo não significa produto de qualidade, apesar de o custo ser um dos fatores decisivos na aquisição de um produto e/ou serviço. Segundo Bateman e Snell (1998), há um consenso entre estudiosos no assunto que o custo de um produto é julgado pela qualidade que o mesmo oferece. Assim, um grande desafio é desenvolver tecnologias que permitam produzir produtos e/ou serviços que atinjam alta qualidade com o menor custo, sendo a qualidade um fator sempre atrelado ao custo do produto. A velocidade, por sua vez, com que um produto é feito ou inserido no mercado é determinante na vantagem competitiva de uma organização, pois em um cenário marcado por alta competição, este fator separa vencedores de perdedores. O último fator a ser descrito, o qual é imprescindível para o alcance da vantagem competitiva das organizações, é a inovação, que significa disponibilizar novos produtos aos consumidores diante das novas necessidades a serem atendidas. Para ser uma organização inovadora, esta precisa estar sempre atenta às tendências do mercado. Quando as organizações percebem maneiras novas e melhores de competir, criam vantagem competitiva, e quando levam ao mercado essas descobertas, estas passam a ser consideradas ato de inovação. Segundo Stewart (1998, p.161) “[...]para prosperar, as organizações e indivíduos precisam descobrir formas de trabalhar que sejam tão diferentes de suas antigas formas como os pássaros são diferentes das pedras.” 16 Mas não somente os fatores descritos anteriormente serão suficientes para uma administração de sucesso. Uma organização não é simplesmente um grupo aleatório de pessoas que estão unidas por acaso. Ela precisa estabelecer formalmente como os integrantes deste grupo deverão atingir seus objetivos, através de um sistema administrado, projetado e operado para que se consiga alcançar os mesmos (Bateman e Snell, 1998). Segundo Stewart (1998), o capital intelectual torna-se uma nova vantagem competitiva das organizações. O autor ainda observa que o conhecimento dos mercados, dos clientes, das tecnologias e dos processos ajuda qualquer organização a crescer, mas, também com eles, o conhecimento ganha mais poder quando é o ingrediente primário de um negócio. As organizações que aprendem com seus clientes passam a obter informações privilegiadas e, assim, pessoal e sistema – capital humano e estrutural, interagem de uma maneira mais eficiente. As organizações fazem parte do mundo dos negócios, visando lucro (retorno dos capitais investidos) no menor tempo possível. Em um cenário altamente competitivo como este, as informações assumem um papel fundamental no sucesso dessa empreitada e, em face da enorme quantidade dessas informações, há a necessidade de critérios para a seleção e organização dos dados que são de interesse da organização. Diante desta necessidade do recolhimento de informações, não só com a finalidade de avaliar o ambiente empresarial, surge o BI (Business Intellingence), que possibilita um ganho de sustentação na vantagem competitiva, pois permite que a organização detecte tendências e tome decisões eficientes no tempo correto através da exploração das informações obtidas. Esse sistema proporciona lucros quando permite que uma maior quantidade de bens seja produzida, uma maior quantidade de clientes sejam atendidos, a satisfação e fidelização dos mesmos sejam conquistadas e, finalmente, permite uma melhor alocação dos recursos disponíveis, gerando economia e, consequentemente, maximização dos lucros. A obtenção dessas informações pelo BI de forma rápida e estruturada permite à organização descobrir os problemas com seus produtos, possibilitando corrigi-los com maior velocidade, saber se seus clientes estão satisfeitos e, assim, 17 ter a possibilidade de definir novas estratégias para expansão no mercado. Numa economia globalizada e veloz como a atual, essas tecnologias são um grande diferencial competitivo (Bevilacqua e Bitu, 2003). Uma nova estratégia adotada pelas organizações para obter esse diferencial competitivo é a melhoria nos seus sistemas de gestão. Um sistema de gestão de vital importância para a organização é o sistema de gestão ambiental, que tem como objetivo maior a busca permanente de melhoria da qualidade ambiental dos serviços, produtos e ambiente de trabalho de qualquer organização pública ou privada. A busca permanente da qualidade ambiental é, portanto, um processo de aprimoramento constante do sistema de gestão ambiental global, de acordo com a política ambiental estabelecida pela organização. A legislação ambiental exige cada vez mais respeito e cuidado com o meio ambiente, exigência essa que conduz coercitivamente a uma maior preocupação ambiental, sendo que pressões públicas de cunho local, nacional e mesmo internacional exigem cada vez mais responsabilidades ambientais das organizações. Deve-se lembrar, porém, que a organização é a única responsável pela adoção de um SGA e, por conseguinte, de uma política ambiental. Só após sua adoção, o cumprimento e a conformidade devem ser seguidos integralmente, pois eles adquirem configuração de “sagrados”. Portanto, ninguém é obrigado a adotar um SGA e/ou Política Ambiental, porém, uma vez adotados, é de bom tom que a organização cumpra o estabelecido, sob pena de a mesma cair em um enorme descrédito no que se refere às questões ambientais (Ambiente Brasil – Portal Ambiental). Segundo Hodja (1998), a adoção de um SGA pode oferecer às organizações vantagens competitivas matematicamente mensuráveis, como a redução de custos, em função da economia de recursos naturais e a diminuição da geração de resíduos, possibilidades de conquistar mercados restritos, como o da União Européia, economia de recursos pertinentes a indenizações por responsabilidade civil, maior facilidade para a obtenção de financiamentos junto a organismos multilaterais de crédito, como o Banco Mundial (Bird), Banco lnteramericano de Desenvolvimento (BID) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e atendimento às legislações inerentes ao meio ambiente. 18 Ressalta-se ainda que a grande vantagem competitiva é o ganho na imagem da organização junto aos Clientes, Órgãos Públicos e a Sociedade, (Valle, 2000) não restrito somente ao mercado nacional e internacional, mas também demonstrando o compromisso ambiental, o que resulta em um grande diferencial estratégico em relação ao cuidado e à preservação do meio ambiente. Pode-se constatar atualmente uma grande tendência de evolução no que diz respeito à disposição crescente dos consumidores e clientes em adquirir produtos ou serviços de organizações ambientalmente corretas, ou seja, pró-ativas em relação à preservação do meio ambiente e no controle dos seus impactos ambientais, sendo consideradas pelo mercado como exemplo e referência (Master Qualidade – Assessoria & Treinamento). Portanto, para ser considerada exemplo e referência no mundo empresarial, a organização deve dispor de uma administração que proporcione bons resultados e alcance liderança no mercado. Para tanto, é importante que a organização disponha de um planejamento estratégico, pois ao utilizá-lo de forma coerente, a organização está “lançando mão” de uma “arma” competitiva, na medida em que embasa a sua gestão em objetivos, metas e estratégias (Drucker, 1984). 4.2 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO A organização eficiente é aquela que mescla sua estrutura, práticas gerenciais, recompensas e pessoas em um único “pacote” que, por seu turno, ajusta-se com sua estratégia. Entretanto, estratégias mudam e, portanto, as organizações precisam mudar (Mintzberg e Quinn, 2001). O conceito de estratégia é oriundo de um cenário de guerra. Segundo Chiavenato (1994), as constantes lutas e batalhas ao longo dos séculos fizeram com que os militares começassem a pensar antes de agir, e a condução das guerras passou a ser planejada com antecipação. Este conceito sofreu uma série de refinamentos, de tal maneira que hoje, sem planejamento, uma organização dificilmente consegue sobreviver. A elaboração de um planejamento estratégico aumenta a probabilidade de que, no futuro, a organização esteja bem situada no mercado e, independente de 19 seu porte, o mesmo pode indicar a direção a ser seguida para o alcance dos objetivos visados. Para Drucker (1984), planejamento estratégico é um processo contínuo e sistematizado, com o maior conhecimento possível do futuro. Ele permite à organização tomar decisões que envolvam riscos, organizar sistematicamente as atividades necessárias à execução destas decisões e, através de uma retroalimentação organizada e sistemática, medir o resultado dessas decisões em confronto com as expectativas alimentadas. Uma outra definição de planejamento estratégico, proposta por Oliveira (1999), revela que ele é um processo gerencial que possibilita ao executivo estabelecer o rumo a ser seguido pela organização, com vistas a obter um nível de otimização na relação da organização com o seu ambiente. Segundo o mesmo autor, o planejamento estratégico possui três dimensões operacionais: delineamento, elaboração e implementação. A primeira compreende a estruturação do processo de planejamento estratégico, onde o executivo escolhe a estrutura metodológica desse processo. A segunda, elaboração, inclui a identificação das oportunidades e ameaças no ambiente da organização, bem como os riscos, os pontos fortes e os pontos fracos, de modo a avaliar a capacidade da organização em tirar vantagem das oportunidades percebidas e de enfrentar as ameaças. É nessa dimensão também que o executivo deve explicitar os alvos ou situações a serem alcançados pela organização, incluindo as maneiras de desenvolver as ações necessárias à concretização do processo. Já a fase de implementação envolve os assuntos organizacionais, os sistemas de informações e incentivos, a competência operacional, o treinamento e a liderança necessárias ao desenvolvimento dos projetos. Merece destaque o fato de que a atividade de concepção de planejamento estratégico é complexa em decorrência de sua própria natureza, na qual está inserido um processo contínuo de pensamento sobre o futuro, desenvolvido mediante a determinação de objetivos futuros almejados e a avaliação de cursos de ação alternativos a serem seguidos para que tais objetivos sejam alcançados. Uma análise mais esmiuçada destas ações permite ao gestor caminhar pelas 20 etapas do planejamento estratégico, as quais estão dispostas na Figura 1, a seguir, proposta por Thompson e Strickland (2000, p.14): Figura 1 – As cinco tarefas da gerência estratégica Fonte: Thompson e Strickland, 2000. Para Bateman e Snell (1998), o primeiro passo no planejamento estratégico é o estabelecimento da missão e da visão da organização. A missão é a declaração básica da razão de existência da organização, incluindo seus propósitos e valores. Thompson e Strickland (2000, p.14) ressaltam que “uma declaração de missão define o negócio da organização sucintamente, fornecendo uma visão clara do que ela está tentando fazer para seus clientes.” A missão é uma forma de se traduzir determinado sistema de valores em termos de crenças ou áreas básicas de atuação, considerando as tradições e filosofias da organização (Oliveira, 1999). Segundo Collins e Porras (1995), os valores centrais de uma organização, juntamente com a missão, definem sua ideologia básica. Os valores centrais da organização são seus princípios essenciais e duradouros. Para Freitas (1991, p.18) “os valores são definições a respeito do que é importante para a organização atingir o sucesso”. Assim, os valores exercem grande influência no que diz respeito ao comportamento e à execução de ações organizacionais, que são motivadas pelos mesmos. Portanto, os valores se 21 referem aos princípios éticos que permeiam todas as ações desenvolvidas pela organização. Collins e Porras (1995) ressaltam que os valores são intrínsecos e, portanto, não exigem justificativas externas. Cabe a cada organização, então, escolher os valores que lhe são de interesse para o alcance de seus objetivos. A visão é a posição na qual os executivos desejam que a organização se encontre no futuro, sendo que a mesma proporciona o grande delineamento do planejamento estratégico a ser desenvolvido e implementado pela organização (Oliveira 1999). O mesmo autor ainda ressalta que toda e qualquer estratégia deve ser precedida de uma visão, resultante do consenso e do bom-senso de um grupo de líderes. Weiler (2008) considera que a visão e os valores devem direcionar-se aos focos básicos, ou seja, aos consumidores, funcionários e fornecedores para que, assim, a organização incremente a sua participação no mercado e lucratividade através da percepção de seus produtos e serviços em face aos concorrentes. Estabelecidos a missão, a visão e os valores da organização, é necessária a análise do ambiente externo à mesma. Segundo Bateman e Snell (1998, p.127) “a administração estratégica bem-sucedida depende de uma avaliação ambiental acurada e completa” e, ainda, para Almeida (2003, p.18) “a análise do ambiente é geralmente a etapa mais importante do plano estratégico, pois é quando as entidades são levadas a alcançar a eficácia pela descoberta de oportunidades e ameaças.” As oportunidades são as variáveis externas e não controláveis pela organização que podem criar condições favoráveis para a organização, desde que a mesma tenha condições e/ou interesse de usufruí-las (Oliveira, 1999). O mesmo autor ainda ressalta (p.89): “Uma oportunidade devidamente usufruída pode proporcionar um aumento dos lucros da organização, enquanto uma ameaça não administrada pode acarretar diminuição nos lucros previstos, ou mesmo prejuízos para a organização.” A análise do ambiente externo contempla diversas outras análises, como a do setor e do mercado, buscando informações sobre a taxa de crescimento, ameaça de novos entrantes, produtos substitutos e o poder econômico dos compradores e fornecedores, a análise dos concorrentes, buscando seu perfil, objetivos, estratégias e participações no mercado, a análise política e de 22 regulamentação, a análise social, a análise de recursos humanos (questões trabalhistas), a análise macroeconômica, buscando fatores que afetam a oferta, demanda, crescimento, concorrência e lucratividade dentro do setor e, por fim, a análise tecnológica, que visa identificar inovações recentes e potenciais (Oliveira, 1999). Segundo Bateman e Snell (1998), a análise interna fornece aos tomadores de decisão estratégica um panorama das habilidades e recursos da organização, bem como de seus níveis de desempenho gerais e funcionais. Os autores ainda ressaltam (p.127): “ao mesmo tempo que a análise externa é conduzida, os pontos fortes e fracos das principais áreas funcionais da organização devem ser avaliados”. Um ponto forte é algo que a organização faz bem ou uma característica que lhe proporciona uma capacidade importante, podendo ser uma habilidade, uma perícia, um recurso organizacional ou capacidade competitiva valiosa, como um empreendimento que coloca a organização numa posição de vantagem no mercado. Já um ponto fraco é algo que a organização não tem ou não faz em comparação com as outras ou, ainda, uma condição que a coloca em posição de desvantagem (Thompson e Strickland, 2000). Dentro da análise dos pontos fortes e fracos da organização estão a análise financeira, a avaliação de recursos humanos, a auditoria de marketing, a análise de produção e operação e outras análises de recursos internos, como a área de pesquisa e desenvolvimento, engenharia, compras e sistemas de informação (Bateman e Snell, 1998). Uma vez identificadas as principais competências e dificuldades da organização, é preciso compará-las com as outras organizações, processo conhecido como Benchmarking. Para Thompson e Strickland (2000), o Benchmarking é a melhor ferramenta do gerente para determinar se a organização está executando certas funções ou atividades eficientemente, se seus custos estão alinhados com os custos dos concorrentes e quais atividades e processos internos precisam ser escrutinados para serem melhorados. Feita a análise do ambiente externo e dos recursos internos, os tomadores de decisão estratégica possuem a informação de que necessitam para formular 23 as estratégias empresariais, de negócios e funcionais da organização (Bateman e Snell, 1998). Para que a organização estabeleça as estratégias empresariais, devem ser estabelecidos os objetivos e as metas. Oliveira (1999) conceitua os objetivos como o estado, situação ou resultado futuro que o executivo deseja atingir. Para Thompson e Strickland (2000, p.46) “eles dizem quanto, de que tipo de desempenho, para quando. Eles direcionam atenção e energia para o que precisa ser executado”. Os mesmos autores ainda afirmam que, para que os objetivos de desempenho tenham valor como ferramenta gerencial, eles devem ser estabelecidos em termos quantificáveis e devem ter um prazo para serem atingidos. Essa quantificação dos objetivos é denominada meta, e representa as etapas realizadas para o alcance desses objetivos. Para atingir seus objetivos, é preciso que o indivíduo ou grupo disponha de um conjunto de meios (estratégias), cuja aplicação o conduza aos objetivos estabelecidos (Oliveira, 1999). Segundo Thompson e Strickland (2000): “...as estratégias organizacionais são o “como” atingir as metas de desempenho e, portanto, os objetivos. A estratégia é inerentemente orientada pela ação, ela trata do que fazer, quando fazer e de quem deve ser envolvido no esforço. Se não houver ação, se não acontecer alguma coisa, se alguém não fizer alguma coisa, a reflexão e o planejamento estratégico simplesmente constituem desperdício, sem acrescentar coisa nenhuma.” Portanto, as estratégias devem ser escolhidas de acordo com a capacidade da organização em realizá-las eficientemente, de modo a obter vantagem competitiva sobre os concorrentes. A utilização de planos estratégicos ou de negócios é imprescindível para a determinação dessas estratégias. Ferreira (2008) define planos de negócios como sendo documentos de planejamento, elaborados de acordo com as necessidades de cada empreendimento, capazes de mostrar toda a viabilidade e estratégias deste, do ponto de vista estrutural, administrativo, estratégico, mercadológico, técnico, operacional e financeiro. Aiub (2006) ressalta que o plano de negócios 24 pode ser concebido como uma das primeiras iniciativas da organização em planejamento estratégico. O plano de negócios de uma organização é composto por várias seções que se relacionam e permitem um entendimento global do negócio. A figura 2 a seguir mostra a distribuição destas seções do plano de negócios: Figura 2 – Planos de negócios Fonte: Adaptado de Westwood J., 1995. Como pode ser observado na figura 2, o plano de negócios pode ser dividido em seções, que se denominam sub-planos, podendo ser compostas de planos de marketing, de recursos humanos, financeiro, de produção e, atualmente, com a crescente exigência do mercado; quanto à minimização de danos ao meio ambiente, as organizações cada vez mais vêm procurando se adequar a esta proposta de crescimento e integram ao seu plano corporativo um plano de gestão ambiental, plano este que direciona e motiva a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental. 25 4.3 SUSTENTABILIDADE E GESTÃO AMBIENTAL Desde a 1ª Conferência das Nações unidas sobre Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1972, o ambiente e, em especial, a relação entre ambiente e organizações, transformou-se em tema cada vez mais importante de política pública e de estratégia de negócios. Um resultado da Conferência de Estocolmo foi a criação da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. O relatório publicado pela comissão em 1987, Our Common Future, conhecido também por Relatório Brundtland, nome da primeira-ministra da Noruega e presidente da comissão, Gro Harlem Brundtland, teve importantes efeitos. Além de consagrar a expressão desenvolvimento sustentável, o relatório estabeleceu o importante papel que as organizações devem ter na gestão ambiental. A agenda 21, resultado da Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e desenvolvimento do Rio de Janeiro (1992), conceituou o desenvolvimento sustentável, afirmando que “o direito ao desenvolvimento deve ser exercido de tal forma que responda eqüitativamente às necessidades de desenvolvimento e ambientais das gerações presentes e futuras” Até o final da década de 80 e início da década de 90, a gestão ambiental em qualquer âmbito era, em grande parte, tratada caso a caso. As melhorias ambientais eram resultado de regulamentações com base no desempenho, após uma série de questões mais ou menos distintas. Quando se entendeu melhor os efeitos da gestão do meio ambiente, os agentes reguladores começaram a pensar mais em termos de ecossistemas e ecorregiões. Um número cada vez maior de organizações começou a considerar o ambiente de forma sistêmica. Para integrar as questões ambientais a um processo mais amplo de tomada de decisões, as organizações começaram a tratá-las como questões de natureza estratégica (Harrington e Knight, 2001). Segundo os mesmos autores, todo esse processo começou a ocorrer num período em que as organizações cada vez mais se dirigiam para os mercados internacionais. Considerando-se que o nível de legislação ambiental e a simples, porém importante, presença desta legislação varia significativamente de país para país, ficou claro para muitas organizações que administrar as questões 26 ambientais como item de custo dos negócios, as colocava em desvantagem competitiva. Foi necessário encontrar, portanto, maneiras para mitigar o custo e transformar desvantagem em vantagem. As organizações logo descobriram que isso não era, na verdade, difícil de alcançar. O importante era reconhecer que a gestão ambiental tinha de ascender na escala de prioridades corporativas. As maneiras como as organizações administram as questões ambientais podem ser classificadas, segundo Harrington e Knight (2001), das seguintes maneiras: i. Baseada em Artifícios – Em resposta a uma questão ambiental, a organização encerra suas operações e muda-se para outro local onde não haja controles ou, se houver, sejam menos rigorosos quanto à problemática ambiental. ii. Baseada em respostas – A organização responde aos incidentes e regulamentações ambientais conforme tenha informações a respeito, geralmente por meio de ações reguladoras para cada ocasião. Não possui nenhum programa pronto que identifique ou administre as questões ambientais. iii. Baseada na conformidade – A organização tem um programa pronto para identificar os requisitos reguladores; adota medidas que os satisfaçam, geralmente medidas de controle adicionais e extremas; controla o risco e a responsabilidade de acordo com a lei. iv. Gestão ambiental – a organização gerencia sistematicamente suas questões ambientais, integrando-as, frequentemente, à administração global. Identificam os aspectos ambientais e os impactos de suas atividades, produtos e serviços; desenvolve políticas, objetivos e metas para administrá-los; aloca os recursos necessários para uma implementação eficaz; mede e avalia o desempenho e revê e examina suas atividades com vista no aperfeiçoamento. v. Prevenção de poluição – Tudo que a organização realiza denota preocupação com o ambiente; para reduzir o potencial do impacto ambiental na fonte, desenvolve produtos e processos; a seleção de matéria-prima leva em consideração o impacto da colheita ou extração e os processos são mais eficientes. 27 vi. Desenvolvimento Sustentável – A organização considera o impacto social, ambiental e econômico de suas atividades, produtos e serviços. A gestão das questões ambientais é vista como responsabilidade social, moral e ética. A figura 3 ilustra essas seis estratégias administrativas como uma série de passos que resulta no desenvolvimento sustentável. Figura 3 – O gráfico dos seis passos Fonte: Adaptado de Harrington e Knight, 2001 Partindo do princípio de que o desenvolvimento sustentável significa atender às necessidades da geração atual sem comprometer o direito das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades, é necessário ter ciência dos dois principais conceitos relativos a esse desenvolvimento sustentável. O primeiro é o conceito das necessidades, que podem variar de sociedade para sociedade, mas que devem ser satisfeitas para assegurar as condições essenciais de vida de todos, indistintamente. O segundo conceito é o de limitação, que reconhece a necessidade de desenvolvimento de soluções que conservem os recursos limitados atualmente disponíveis e que permitam renová-los na medida em que eles sejam necessários às futuras gerações (Valle, 2002). 28 A partir do surgimento do conceito de desenvolvimento sustentável, passou a existir um discurso cada vez mais articulado, que procura condicionar a busca de um novo modelo de desenvolvimento aliado à noção de conservação do meio ambiente (Seiffert, 2009). Segundo Sachs, apud Seiffert (2009), o desenvolvimento sustentável somente será alcançado através de um equilíbrio integrado entre cinco dimensões de sustentabilidade: econômica, ecológica, social, espacial e cultural. Uma questão de grande importância diz respeito à compreensão da definição dos conceitos correlatos utilizados na discussão da relação meio ambiente e desenvolvimento, sendo de elevada importância a distinção que envolve os conceitos de preservação e conservação ambiental, estes que muitas vezes são usados para significar a mesma coisa, mas na verdade expressam ideias que têm origem em raízes e posturas distintas. Na preservação ambiental adota-se o critério da intocabilidade da natureza e do ecossistema pelo homem, acreditando-se que, uma vez rompido o equilíbrio preexistente no sistema, este não mais se recomporá. Através da conservação, ao contrário, admite-se o aproveitamento controlado dos bens e recursos constituintes do ecossistema, em extensão e ritmos tais que permitam sua recomposição, de forma induzida ou inteiramente natural (Valle, 2002). 4.4 SGA – NBR ISO 14001 Uma proposta resultante da discussão em torno do desenvolvimento sustentável é a adoção pelas organizações de normas da série NBR ISO 14000, as quais se destinam ao gerenciamento ambiental. A série NBR ISO 14000 contempla um conjunto de normas e diretrizes de adoção voluntária. Ela define os elementos de um SGA, a auditoria de um SGA, a avaliação de desempenho ambiental, a rotulagem ambiental, a análise de ciclo de vida de produto e aspectos ambientais em normas de produtos. A série contém 19 documentos e, entre eles, encontra-se a NBR ISO 14001, a qual trata dos Sistemas de Gestão Ambiental – Especificações e diretrizes para uso. (Harrington e Knight, 2001). 29 Das diversas normas constantes da série NBR ISO 14000, apenas a NBR ISO 14001 é formulada para fins de certificação junto a entidades independentes. Portanto, se a organização preferir almejar a certificação, a auditoria para certificação focalizará as exigências de conformidade à NBR ISO 14001. A NBR ISO 14001 especifica requisitos relativos a um SGA, permitindo a uma organização formular uma política e objetivos que levem em conta os aspectos legais e as informações referentes aos impactos significativos. Ela se aplica aos aspectos ambientais que possam ser controlados pela organização e sobre os quais se presume que ela tenha influência. Em si, ela não prescreve critérios específicos de desempenho ambiental (NBR ISO 14001, 2004). O termo gestão ambiental é bastante abrangente. Ele é frequentemente usado para designar ações ambientais em determinados espaços geográficos, como por exemplo: gestão ambiental de bacias hidrográficas, gestão ambiental de parques e reservas florestais, gestão de áreas de proteção ambiental, gestão ambiental de reservas de biosfera e outras tantas modalidades de gestão que incluam aspectos ambientais A gestão ambiental empresarial está essencialmente voltada para as organizações, ou seja, companhias, corporações, firmas, organizações ou instituições e pode ser definida como sendo um conjunto de políticas, programas e práticas administrativas e operacionais, que levam em conta a saúde e a segurança das pessoas e a proteção do meio ambiente através da eliminação ou minimização de impactos e danos ambientais decorrentes do planejamento, implantação, operação, ampliação, realocação ou desativação de empreendimentos ou atividades, incluindo-se todas as fases do ciclo de vida de um produto (Site Ambiente Brasil, 2010). Ainda segundo o mesmo site, ao considerar-se a gestão ambiental no contexto empresarial, percebe-se de imediato que ela pode ter (e geralmente tem) uma importância muito grande, inclusive estratégica para a organização. Isso ocorre porque, dependendo do grau de sensibilidade para com o meio ambiente adotado pela alta administração, já se pode avaliar o potencial que existe para que uma gestão ambiental efetivamente possa ser implantada pela organização. 30 A NBR ISO 14001 (2004) define o SGA como parte de um sistema global de gestão usada para desenvolver e implementar a política ambiental da organização, bem como, gerenciar seus aspectos ambientais. Outra definição mais abrangente de sistema de gestão ambiental dada por Harrington e Knight (2001, p.34) é que este “é parte do sistema global de gestão que inclui a estrutura responsabilidades, organizacional, práticas, o procedimentos, planejamento de processos recursos e atividades, para desenvolver, implementar, adquirir, analisar criticamente e manter a política ambiental da organização”. Os mesmos autores afirmam ainda que a implementação de um sistema de gestão ambiental confere benefícios para as organizações, aumentando a sua vantagem competitiva. 4.5 VANTAGENS DA IMPLEMENTAÇÃO DO SGA Como citado pelos autores Harrington e Knight (2001) e ponderado anteriormente no item sobre vantagem competitiva, a implementação de um SGA pode trazer muitas vantagens para a organização. Desse modo, os seguintes ganhos no uso de um sistema de gestão ambiental são preconizados por Harrington e Knight (2001): i. Acesso ao mercado: Normas de gestão ambiental como a NBR ISO 14001 – e outras demonstrações eficazes de gestão ambiental – poderão ser précondições para se fazer negócio. Isso seria um requisito de negócio para transações comerciais, não um requisito do governo. ii. Gestão de conformidade: Leis e regulamentações têm que ser administrados. Um SGA garante uma forma sistemática e documentada de gerir e demonstrar a gestão de conformidade reguladora. iii. Incentivos reguladores: Muitas jurisdições buscam oferecer incentivos reguladores para quem implementar voluntariamente os SGA, principalmente para quem apresentar o certificado NBR ISO 14001. Esses incentivos podem vir em forma de inspeções menos frequentes, aprovações, permissões consolidadas, atenuação de multas e penalidades, menos rigor na exigência de relatórios. O comprometimento 31 e o investimento em medidas voluntárias também podem ajudar a melhorar as relações com os legisladores. iv. Redução da responsabilidade e do risco. Incidentes custam caro. Um SGA, como a NBR ISO 14001, garante uma forma de identificar e administrar sistematicamente o risco e a responsabilidade ambiental. Esta pode ser uma contribuição importante à devida análise de competência no caso de um acidente. v. Melhor acesso ao seguro. As seguradoras podem reconhecer a implementação de um SGA como sinal do devido empenho e comprometimento para com um bom desempenho ambiental. Isso poderá facilitar a aquisição de seguro e também diminuir seu custo. O uso da NBR ISO 14001 tem, com certeza, alguma influência, conforme afirmam as seguradoras e financeiras. Também indicam que a implementação da NBR ISO 14001 irá, provavelmente, influenciar a maneira de as seguradoras tratarem as organizações de pequeno e médio porte, em comparação com o tratamento dado às 500 maiores organizações apontadas pela revista Fortune, que já possuem boas práticas, em vigor, de gestão de risco. vi. Melhor acesso ao capital de baixo custo. Assim como as seguradoras, os investidores e credores reconhecem a implementação de um SGA como sinal do empenho e comprometimento com um bom desempenho ambiental. Um SGA poderá dar à organização mais acesso ao capital de baixo custo. Poderá, eventualmente, até se tornar uma condição para investimentos. Muitos investidores já fazem algum tipo de investigação desse desempenho durante as transações e muitos bancos estabelecem pré-requisitos ambientais para os pedidos de empréstimo. vii. Melhoria na eficiência do processo. Uma abordagem sistemática para identificar os aspectos e impactos ambientais e para criar objetivos e metas como resposta leva, em geral, à produção mais eficiente, enquanto o desperdício de energia e de matéria-prima é reduzido e os processos são reconsiderados. A NBR ISO 14001 também exige um comprometimento com a prevenção de poluição. Isso irá, provavelmente, possibilitar a reavaliação de processos e tecnologias. 32 viii. Melhoria no desempenho ambiental. A existência de um SGA em uma organização geralmente conduz a melhorias no desempenho ambiental. A natureza de uma organização determina que, quando uma questão é levada à administração, ela tenta tratá-la de forma sistemática e positiva. Quando metas e objetivos são estabelecidos dentro do sistema administrativo, e pessoas e organização são avaliadas por completo para verificar se esses objetivos e metas foram alcançados, o resultado é a melhoria ix. Melhoria na gestão global. Sistemas de gestão ambiental fornecem abordagens comuns de terminologia e gestão. Em organização nas quais as práticas de gestão são menos sofisticadas, uma abordagem sistemática, tal qual é estabelecida a NBR ISO 14001, pode influenciar de forma positiva as outras questões-chave da organização. Nas organizações com múltiplas divisões ou naquelas organizações que trabalham com fornecedores e clientes, uma abordagem sistemática e documentada pode gerar maior estabilidade e maior confiança. x. Redução de custo/aumento de receita. Como países altamente desenvolvidos como Japão e Alemanha mostraram, mais eficiência significa aumento de competitividade, diminuição dos custos de produção e aumento da receita e da lucratividade. xi. Relações com os clientes. Os clientes possuem uma série de expectativas em relação à qualidade do produto e do serviço e também em relação ao preço. Eles podem exigir que seus fornecedores atendam a certos critérios ambientais específicos. A implementação de um SGA reconhecido pode ser uma forma de atender a essas expectativas. xii. Melhoria na relação com os fornecedores. As organizações podem beneficiar-se quando seus fornecedores cumprem certas metas de política ambiental. Por isso, podem querer que seus fornecedores e associados apresentem garantias sobre o produto e o desempenho do sistema de gestão. xiii. Melhoria na relação com os funcionários. Moral baixo e rotatividade alta de funcionários podem custar caro. Uma força de trabalho motivada e de qualidade pode representar muito no resultado final. O moral dos funcionários aumenta quando eles se sentem orgulhosos de estarem 33 associados ao empregador. A qualidade da força de trabalho melhora com um bom treinamento e procedimentos sistemáticos bem definidos. xiv. Melhoria nas relações com outros detentores de interesses. Cada vez mais as organizações percebem a importância de manterem boas relações com as comunidades em que operam, assim como com grupos ambientais, acadêmicos, de pesquisa e de outros tipos. Esses grupos podem exercer forte pressão sobre uma organização, o tipo de pressão que influencia a preferência do comprador e o resultado final. xv. Melhoria na imagem pública. Uma organização que seja reconhecida por seu SGA e por seu desempenho ambiental será vista de forma muito mais positiva pela mídia do que outras organizações. As organizações já não podem se envolver em “devastações” – tratando o meio ambiente mais como uma questão de relações públicas do que de desempenho. Precisam ser capazes de substanciar suas ações, não podem fazer promessas vazias e tomar atitudes sem nada que as apóie. xvi. Degrau para o desenvolvimento sustentável. Sob a perspectiva de política pública, um SGA desenvolvimento eficiente sustentável. é um Em passo si no caminho mesmo não para o constitui desenvolvimento sustentável, mas é um passo essencial sem o qual o caminho fica muito mais difícil. Mediante a observação desses benefícios, os gestores das organizações podem optar pela implementação de um sistema de gestão ambiental, sendo necessário para isso o conhecimento das etapas de implementação contidas na NBR ISO 14001. 4.6 IMPLEMENTAÇÃO DO SGA A PARTIR DA NBR ISO 14001 Para a adoção de um SGA de acordo com a NBR ISO 14001, segundo Moreira (2001), o primeiro passo deve ser a decisão da alta administração da organização em implantar o sistema. Desse modo, deve haver uma formalização por parte da direção da organização perante a sua corporação, do seu desejo em implementar um SGA, deixando claro suas intenções, e enfatizando os benefícios a serem obtidos com a sua implementação. Isso se traduz em comprometimento 34 de sua alta administração ou, em alguns casos, dos gerentes e chefias de suas unidades, com a realização de palestras de conscientização e de esclarecimentos da abrangência pretendida, realização de diagnósticos ambientais, definição formal do grupo coordenador, definição de um cronograma de implantação e, finalmente, no lançamento oficial do programa de implantação do SGA. Segundo Seiffert (2009, p.78) “o desenvolvimento e a melhoria contínua de um SGA necessitam de orientações consistentes para que sejam levados a bom termo”. Para tanto, a NBR ISO 14001 preconiza a utilização de uma abordagem de processo. Neste sentido, os requisitos de sistema de gestão da norma ISO 14001 são baseados no ciclo PDCA (plan, do, check, action – planejar, executar, verificar, agir), de Walter Shewhart (físico, engenheiro e estatístico estadunidense, conhecido como o "pai do controle estatístico de qualidade”). O ciclo PDCA pode ser descrito da seguinte forma: • P - Planejar: estabelecer os objetivos e processos necessários para atingir os resultados, em concordância com a política ambiental da organização. • D - Executar: implementar o que foi planejado. • C - Verificar: monitorar e medir os processos em conformidade com a política ambiental, objetivos, metas, requisitos legais e outros requisitos e relatar os resultados. • A - Agir: implementar ações necessárias para melhorar continuamente o desempenho do sistema de gestão ambiental, podendo atuar sobre o planejamento e, em consequência, sobre outros passos do ciclo. A essência desse ciclo é coordenar continuamente os esforços no sentido da melhoria contínua, enfatizando e demonstrando que programas de melhoria devem iniciar com uma fase cuidadosa de planejamento. O PDCA é materializado através de ações, cuja efetividade é verificada através de análise crítica, direcionando-se novamente a uma fase cuidadosa de replanejamento em um ciclo contínuo de melhoria. Trata-se, portanto, de um modelo dinâmico em que a melhoria contínua é atingida em ciclos contínuos como em uma espiral evolutiva (Seiffert, 2009), como observado na figura 4, de Harrington e Knight (2001, p.80): 35 Figura 4 - A espiral da melhoria contínua Fonte: Harrington e Knight, 2001. Essa espiral, segundo Harrington e Knight (2001), retrata os próprios requisitos da NBR ISO 14001, sendo composta de cinco partes, denominadas subsistemas: 1 Política ambiental; 2 Planejamento; 3 Implementação e operação; 4 Verificação e ação corretiva; 5 Análise crítica pela administração Cada um desses subsistemas é imprescindível para o desenvolvimento do SGA, sendo importante que ocorra um intercâmbio significativo de informações entre eles. 4.6.1 Política ambiental A política ambiental é o ponto de partida para a implementação e aprimoramento do sistema de gestão ambiental de uma organização. Como citado na norma NBR ISO 14001 (2004), a política ambiental é a declaração da 36 organização, expondo suas intenções e princípios em relação ao seu desempenho ambiental, na visão global, que provê uma estrutura para a ação e definição de seus objetivos e metas ambientais. Dessa forma, a política ambiental estabelece um senso geral de orientação e fixa os princípios de ação para a organização. A seção 4.2 da NBR ISO 14001 (2004), segundo Cajazeira (1998) prescreve que “a alta administração deve definir a política ambiental da organização e assegurar que ela: a) seja apropriada à natureza, âmbito e impactos ambientais de suas atividades, produtos ou serviços; b) inclua o comprometimento com a melhoria contínua e com a prevenção de poluição; c) inclua o comprometimento com a obediência à legislação e normas ambientais aplicáveis, e demais requisitos apoiados pela organização; d) forneça a estrutura para o estabelecimento e revisão dos objetivos e metas ambientais; e) seja documentada, implementada, mantida e comunicada a todos os funcionários ; e f) esteja disponível para o público.” A NBR ISO 140043 recomenda ainda que a política ambiental da organização considere as seguintes questões: - a missão, a visão, os valores essenciais e as crenças da organização; - os requisitos das partes interessadas e comunicação com elas; - os princípios orientadores; - a coordenação com outras políticas organizacionais, como as de qualidade, de saúde ocupacional e segurança no trabalho; - as condições locais específicas ou regionais. 3 NBR ISO 14004 - Diretrizes para Princípios de Gestão Ambiental, ou partes dela, para iniciar e/ou melhorar seu SGA ISO 14001 contém somente os requisitos que podem ser objetivamente auditados com o propósito de Certificação/Registro ou para propósito de "Auto-Declaração". A ISO 14004 inclui exemplos, descrições e opções que dão subsídios, tanto para a implementação do SGA, como para o seu fortalecimento em relação à gestão global da organização. A ISO 14004 não tem o propósito de ser usada por órgãos de certificação/registro (IBAMA, 2010). 37 Seiffert (2009) compreende que o texto da política ambiental deve evidenciar o comprometimento com a melhoria contínua e a prevenção da poluição, sendo que todo o seu conteúdo deve estar evidenciado de alguma forma dentro da operação do SGA. Para a mesma autora, a política ambiental possui três pilares, os quais podem ser observados na figura 5: Figura 5 – Os três pilares da política ambiental Fonte: Seiffert, M. E. B., 2009. De forma geral, a política ambiental da organização deve estar devidamente documentada, comunicada a todos do corpo funcional e disponível ao público. Deve abordar todos os valores e filosofia da organização relativos ao meio ambiente, bem como apontar os requisitos necessários ao atendimento de sua política ambiental, por meio dos objetivos, metas e programas ambientais. A política ambiental contém as diretrizes básicas para a definição e revisão dos objetivos e metas ambientais da organização (Embrapa, 2004). 4.6.2 Planejamento A NBR ISO 14001 (2004) recomenda que a organização formule um plano para cumprir sua política ambiental, contendo os aspectos ambientais, os 38 requisitos legais e outros requisitos, os objetivos e metas e os programas de gestão ambiental. 4.6.2.1 Aspectos ambientais Pela seção 4.3.1 da NBR ISO 14001 (2004) a organização deve estabelecer e manter um procedimento para identificar os aspectos ambientais de suas atividades, produtos ou serviços que possam por ela ser controlados e sobre os quais se presume que ela tenha influência, a fim de determinar aqueles que tenham ou possam ter impactos significativos sobre o meio ambiente. Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT (2005, p.45), aspecto é um “elemento das atividades, produtos ou serviços de uma organização que pode interagir com o meio ambiente” e impacto ambiental é “qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, dos aspectos ambientais da organização”. Sendo assim, o aspecto é a “causa” e o impacto é o “efeito”. Os impactos são difíceis de serem avaliados e administrados e, por outro lado, são mais fáceis de determinar. Portanto, nessa etapa, cabe à organização identificar os aspectos relacionados às suas atividades, produtos ou serviços, bem como a gravidade, a probabilidade de ocorrência e a frequência/duração do impacto, para que então possa controlar esses aspectos e manter essas informações atualizadas. Assim sendo, detectando-se os impactos gerados por esses aspectos, é possível determinar a significância desses impactos. Harrington e Knight (2001) ressaltam que a norma não define como a organização deve proceder para determinar o que é significativo, sendo a mesma livre para desenvolver critérios e procedimentos que possam determinar a significância, desde que, durante uma auditoria, a organização seja capaz de justificar a validade dos procedimentos para a determinação da significância. Entende-se que todo e qualquer aspecto encontrado será feito em algum nível do fluxo do macroprocesso e, especificamente, em alguma etapa do processo deste nível. Pode-se entender melhor o fluxo do macroprocesso através da observação da figura 6 a seguir: 39 Figura 6 – Fluxo do Macroprocesso de uma organização com detalhe no processo de aquisição. Fonte: Adaptado do material de aula do Professor Cláudio Ferreira, na disciplina de Gestão de Projetos, do curso de Engenharia Civil, da Universidade Positivo, Curitiba-PR, 2010. Na figura 6 podem ser observadas as fases do macroprocesso de uma organização “genérica”, na qual os processos da organização formam um ciclo. Em cada um deles, desde a engenharia de produto, por exemplo, até a análise de marketing e de mercado, precedidos pela assistência técnica, fica estabelecida a necessidade da aplicação do ciclo PDCA. Segundo Paladini (2002), um dos prérequisitos para gerar qualidade no processo é desenvolver mecanismos para incentivar a melhoria contínua. Assim, justifica-se a adoção do ciclo PDCA, porque este visa estabelecer um novo padrão que deve ser implementado na organização ou processo ou, ainda, no produto. De um modo geral, pode-se dizer que em todas as atividades da organização são requeridos os conhecimentos e uso do ciclo PDCA, para que se possa planejar, executar, verificar e corrigir o que é feito em cada rotina ou atividade prevista (Canossa, 2010). 40 Ainda observando a figura 6, pode-se perceber no detalhamento feito na etapa de aquisição, a presença de atividades a serem cumpridas, assim, somente através da realização das atividades inerentes a cada etapa do fluxo, pode-se chegar na transformação de entrada em saída (input em output), ficando perceptível a necessidade destas atividades serem acompanhadas de contínuas avaliações. Para gerenciar um processo é necessário dispor de informações sobre ele. Avaliar processos é estudar métodos para obter um conjunto de informações acerca do desempenho de negócios que permita decidir sobre as ações necessárias à implementação da estratégia do negócio e sobre a necessidade de atualizar ou rever a estratégia. Para Norton e Kaplan (1997), o aprendizado e crescimento são aspectoschave porque formam a base da melhoria da qualidade e da inovação. Uma organização pode funcionar muito bem do ponto de vista financeiro, ter boas relações com os clientes e contar com excelentes processos, mas se outra organização obtiver vantagens semelhantes, isso de nada adiantará. Por isso que não se deve ficar acomodado com o desempenho atual, ainda que seja satisfatório. É importante que os executivos entendam que serão superados pelos concorrentes se não mudarem e aperfeiçoarem sua atuação continuamente e mais rápido do que eles. Convém dar-se conta de que a fonte de aprendizado e crescimento são os servidores da organização, aqueles que, de qualquer forma, influenciam nos processos da organização (operadores, gerentes e etc.) Somente graças a eles é possível continuar melhorando os processos. 4.6.2.2 Requisitos legais e outros requisitos Esse item da norma determina que a organização deve estabelecer e manter um procedimento para identificar e ter acesso à legislação e outros requisitos por ela apoiados, ou aplicáveis aos aspectos ambientais de suas atividades, produtos ou serviços (Harrington e Knight, 2001). Isso significa que os requisitos definidos pela política ambiental da organização colocam com clareza os 41 comprometimentos, destacando-se o atendimento à legislação, normas ambientais aplicáveis e outros requisitos ambientais (Embrapa, 2004). Segundo Seiffert (2009), quando uma organização inicia a implantação de um SGA ela passa a ser obrigada a identificar e manter atualizado um cadastro desses requisitos. Esse cadastro deve conter itens legais ambientais identificados nos níveis municipais, estaduais, federais e internacionais, bem como códigos industriais, normas voluntárias e compromissos ambientais assinados em contrato, que tenham qualquer relação com as atividades, produtos ou serviços da organização. A autora ainda ressalta que além de estar cadastrado, esse material deve ser mantido e atualizado constantemente e comunicado aos setores da organização que tenham relação com os aspectos ambientais, sendo a comunicação feita por escrito e os documentos guardados de forma centralizada para garantir sua atualização. Harrington e Knight (2001) enfatizam a indicação da norma NBR ISO 14001 em que a organização só precisa satisfazer às regulamentações da jurisdição onde a mesma opera e que a política organizacional deve ser adequada à natureza e ao âmbito das operações, independente da maturidade da regulamentação em qualquer jurisdição. Os autores também explicitam que a norma não irá substituir a legislação e a regulamentação ambiental, mas que é um complemento às mesmas. Além dos requisitos legais e comprometimentos com requisitos negociados e princípios e códigos de prática existentes, a NBR ISO 14001 também discute o desenvolvimento de critérios internos de desempenho que seriam desenvolvidos onde a organização tem alguma necessidade e não há nada disponível externamente, ou onde há uma política para exceder requisitos legais existentes. Desse modo, somente se a organização formalizar tais critérios, incluindo-os nos objetivos e metas, o auditor da certificação terá o direito de verificar se os sistemas necessários estão funcionando para assegurar que estão sendo alcançados (Harrington e Knight, 2001). 42 4.6.2.3 Objetivos e metas Para Seiffert (2009, p.124) “os objetivos e as metas representam um subsistema fundamental, pois servem de parâmetro às ações operacionais da organização”. A organização deve estabelecer e manter objetivos e metas ambientais documentados para cada nível e função pertinentes da organização, devendo considerar os requisitos legais e outros requisitos, os aspectos ambientais significativos, as opções tecnológicas, os requisitos comerciais, operacionais e financeiros e as opiniões das partes interessadas (Harrington e Knight, 2001). É necessário que a política ambiental seja implementada através da materialização de objetivos e metas, criando um comprometimento da organização com o controle, a melhoria e a eliminação dos impactos ambientais adversos. Desse modo, a determinação de objetivos e metas ambientais relativos a cada um dos processos é importante para direcionar e coordenar ações e esforços dentro do sistema de gestão ambiental, permitindo a verificação da conformidade dos controles operacionais com as medidas ambientais propostas (Seiffert, 2009). “Um objetivo é um alvo ambiental de nível elevado. Uma meta é um requisito ambiental mensurável”, afirmam Harrington e Knight (2001, p.95) ao citarem que para se alcançar um único objetivo, pode ser necessário o alcance de várias metas. Seiffert (2009) ainda ressalta que cada meta desdobrada a partir de um objetivo deve ser gerenciada através dos Programas de Gestão Ambiental (PGA). 4.6.2.4 Programas de Gestão Ambiental Na forma como concebido pela Série NBR ISO 14000, o Programa de Gestão Ambiental deve ser entendido pela organização sendo um roteiro para implantar e manter um sistema de gestão ambiental que permita alcançar os objetivos e metas previamente definidos, já que sem ação de nada servem os objetivos e as metas à organização. O Programa deve conter um cronograma de execução que permita comparação entre o realizado e o previsto, possuir recursos financeiros alocados às atividades, ter definidos os responsáveis pelas 43 ações que serão realizadas pelo programa e possuir prazos de cumprimento dos objetivos e metas ambientais. Os PGA’s devem ser dinâmicos e passíveis de correção sempre que necessário e, ainda, sempre que possível, devem ser integrados aos sistemas de gestão de projetos e programas existentes na organização (Harrington e Knight, 2001). 4.6.3 Implementação e operação Esse requisito explicita que, para que haja uma efetiva implantação da NBR ISO 14000, a organização deve desenvolver os mecanismos de apoio necessários para atender ao que está previsto em sua política e nos seus objetivos e metas ambientais. Esses mecanismos incluem a determinação de uma estrutura organizacional e delegação de responsabilidades, o treinamento, conscientização e competência dos funcionários, a comunicação interna e externa da organização, a documentação do SGA, o controle de documentos, o controle operacional e a preparação e atendimento a emergências. 4.6.3.1 Estrutura organizacional e Responsabilidade A NBR ISO 14001 (2004) afirma que as funções, responsabilidades e autoridades da organização devem ser definidas, documentadas e comunicadas, a fim de facilitar o desempenho das atividades de planejamento, implementação, controle e análise crítica do SGA. Afirma, ainda, que a administração deve fornecer os recursos – humanos, financeiros, tecnológicos e logísticos – essenciais à implantação e controle do sistema de gestão ambiental. Harrington e Knight (2001) citam que a norma não define como a organização deve se estruturar ou que papéis e responsabilidades específicos deve delinear, mas sim, exige que a alta administração designe um representante administrativo para o sistema de gestão ambiental. Para Seiffert (2009, p.132), “um aspecto considerado crítico neste processo é o comprometimento da alta administração através da criteriosa escolha de um líder de implantação ou representante da alta administração”. Esse líder deve 44 garantir que a organização seja capaz de atender aos requisitos de suas normas, disponibilizando recursos, integrando o SGA com outros sistemas de gerenciamento, definindo atribuições e responsabilidades, viabilizando o processo de motivação e conscientização ambiental, identificando os conhecimentos e habilidades necessários, estabelecendo processos para comunicação e relato e implementando controles operacionais necessários (Seiffert, 2009). Seiffert (2009) ressalta, ainda, que para a implantação de programas é essencial obter sucesso em no mínimo cinco pontos, sendo eles o comprometimento da alta gerência, assegurando que todos os empregados reconheçam que o gerenciamento ambiental é uma prioridade para a organização, o estabelecimento de objetivos, fornecendo parâmetros para avaliação de progressos em desempenho ambiental, o envolvimento e responsabilidade dos empregados, reduzindo a resistência organizacional e elevando o comprometimento, as avaliações de desempenho, reconhecendo os empregados quanto aos resultados alcançados em desempenho ambiental e a estimativa de custos ambientais, assegurando que os gerentes tomem decisões com base em informações completas de custos, inclusive ambientais. 4.6.3.2 Treinamento, Conscientização e Competência A organização deve estabelecer procedimentos que propiciem aos seus empregados a conscientização da importância e responsabilidade em atingir a conformidade com a política ambiental em avaliar os impactos ambientais significativos, reais ou potenciais de suas atividades, os benefícios ao meio ambiente que possam resultar da melhoria no seu desempenho pessoal, bem como as consequências potenciais da inobservância dos procedimentos operacionais recomendados. A organização deve ainda identificar as necessidades de treinamento, particularmente aos empregados cujas atividades possam provocar impactos ambientais significativos sobre o meio ambiente. Seiffert (2009) entende que esse processo nada mais é do que um processo de reeducação, já que os integrantes da organização não consideravam em suas atividades diárias qualquer preocupação em relação ao meio ambiente. 45 A autora ainda diferencia os processos de treinamento, conscientização e competência, sendo a conscientização o “querer fazer”, o treinamento sendo o empregado “ser competente para” ou “saber fazer” e a competência sendo o empregado “ter requisito ou habilidade apropriada, conhecimento para completar uma tarefa ou função”. O treinamento tem o intuito de assegurar tanto a conscientização das questões ambientais quanto a competência para realizar as tarefas necessárias para administrá-las, sendo requerido pela norma que a organização tenha procedimentos em uso para identificar qual o treinamento necessário para oferecê-lo e para avaliar e oferecer segurança para que todo o pessoal que executa tarefas que podem causar impactos ambientais significativos seja competente e tenha educação, treinamento e experiência apropriados (Harrington e Knight, 2001). 4.6.3.3 Comunicação A organização deve criar e manter procedimentos para a comunicação interna e externa. Desta forma, devem ser criados canais de comunicação organizacional e técnica entre os vários níveis e funções dentro da organização. A organização deve receber, documentar e responder a comunicação relevante recebida das partes externas interessadas nos aspectos ambientais e no sistema de gestão ambiental, manter registros das decisões relativas aos aspectos ambientais importantes e sua comunicação às partes externas envolvidas. Harrington e Knight (2001) entendem que a principal função da comunicação é definir os fluxos de informação, significando não somente o seu destino, mas também o método de comunicação que deve ser utilizado e que a chave é a informação relevante no lugar e no momento certo. Já Seiffert (2009) trata a comunicação como um componente aglutinador do sistema que estabelece o fluxo de informações necessárias aos subsistemas. Desse modo, as comunicações representam um importante elemento da dinâmica de um sistema, uma vez que o poder, a liderança e tomada de decisões na organização dependem do processo de comunicação. A autora enfatiza que a comunicação possui o papel de agente transacional entre os diversos 46 subsistemas, possibilitando a troca de informações que acarretem a estabilidade do sistema como um todo. Seiffert (2009, p.154) ainda ressalta a importância da comunicação em um SGA da seguinte forma: “O processo de comunicação/divulgação da política ambiental da organização pode também ser considerado um fator determinante para o sucesso da implantação de um SGA, uma vez que é essencial que todo colaborador esteja ciente de sua existência e de como em sua atividade diária pode contribuir para que seja cumprida”. A identificação do tipo de divulgação pode ter impacto positivo sobre a imagem da instituição, definindo um público de maior interesse e desenvolvendo estratégias de comunicação externa. A organização deve selecionar canais favoráveis, veículos e formas de comunicação deixando clara a intenção de periodicidade da comunicação (Embrapa, 2004). Esses veículos podem ser na forma de cartazes, quadros, placas, camisetas, informativos periódicos, folders, etc.. 4.6.3.4 Documentação do Sistema de Gestão Ambiental A documentação pode ser compreendida como um meio de assegurar que o sistema de gestão ambiental seja compreendido não só pelo público interno, mas também pelo ambiente externo com o qual a organização mantém relações, tais como clientes, fornecedores, governo, sociedade civil em geral, etc.. Recomenda-se também que a organização defina os vários tipos de documentos, estabeleça e especifique os procedimentos e controle a eles associados. A natureza da documentação pode variar em função do porte e complexidade da organização. A documentação pode estar sob a forma física ou eletrônica. No entanto, a adoção de uma ou outra forma, não deve prescindir-se de um processo de atualização e disponibilização aos interessados. O elemento mais importante da documentação é o manual de gestão, cita Seiffert (2009), que busca sintetizar as informações relativas aos procedimentos 47 do SGA. Entretanto, a NBR ISO 14001 não exige a elaboração desse manual, desde que a organização tenha alguma evidência de que um procedimento existe e é mantido. No entanto, ainda é muito útil categorizar ou desenvolver hierarquias de documentação. A partir da NBR ISO 90004, surgiram os seguintes níveis de documentação (Harrington e Knight, 2001): Política. Procedimentos e documentos de SGA. Procedimentos operacionais e instruções de trabalho. Documentos. Também fazem parte da documentação relatórios de monitoramento e de desenvolvimento de programas específicos e os planos e projetos (Seiffert, 2009). As organizações que implementam a norma NBR ISO 14001 devem maximizar a integração dos sistemas e documentação existentes e desenvolver um sistema que atenda principalmente às suas necessidades, assegurando que elas estejam em conformidade com os requisitos definidos pela própria norma (Harrington e Knight, 2001). 4.6.3.5 Controle de documentos Os documentos exigidos pela NBR ISO 14001 (2004) devem obedecer a procedimentos para o seu controle, de maneira que toda a documentação possa ser localizada, analisada e periodicamente atualizada quanto à conformidade com os regulamentos, leis e outros critérios ambientais assumidos pela organização. Da mesma forma, a norma exige que a organização possua um controle dos documentos do sistema de gestão ambiental, requerendo, para isso, controle da distribuição da versão atualizada e a eliminação das versões obsoletas (Seiffert, 2009). Harrington e Knight (2001) especificam que a documentação deve ser legível, datada e facilmente identificável, mantida de forma organizada e retida por um período de tempo especificado. Devem, ainda, ser estabelecidos e mantidos procedimentos e responsabilidades referente à criação e alteração dos vários 4 A expressão ISO 9000 designa um grupo de normas técnicas que estabelecem um modelo de gestão da qualidade para organizações em geral, qualquer que seja o seu tipo ou dimensão. 48 tipos de documentos. Segundo os mesmos autores (p.108), “o controle eficaz de documentos torna o processo de auditoria de certificação ordenado e eficiente em qualquer organização que esteja considerando a certificação”. A organização pode optar por meios digitais, físicos ou uma integração de ambos para o controle de documentos. O enfoque do processo de controle de documentos deve ser na eficácia do sistema de gestão e no desempenho ambiental e não em um sistema complexo de controle de documentos (Harrington e Knight, 2001). 4.6.3.6 Controle operacional O controle operacional pressupõe a identificação por parte da organização das operações e atividades potencialmente poluidoras em cada um dos processos do SGA de acordo com sua política, objetivos e metas. Este controle visa garantir o desempenho ambiental da organização, no que diz respeito ao compromisso obrigatório expresso na Política Ambiental, no que se refere à “prevenção da poluição”. Também serve para assegurar que a política ambiental, os objetivos e metas da organização sejam atingidos e que atividades irrelevantes ou inadequadas sejam eliminadas (Harrington e Knight, 2001). O controle operacional deve consistir de atividades relacionadas à prevenção da poluição e conservação de recursos em novos projetos, em modificações de processos e nos lançamentos de novos produtos e embalagens. Em termos práticos, o controle operacional na organização deve ser realizado abordando noções sobre as principais atividades que impliquem em controle ambiental: resíduos, efluentes líquidos, emissões atmosféricas, consumo de energia e água. Desse modo, para o cumprimento dos requisitos associados ao controle operacional, a organização deve procurar o estabelecimento e manutenção de procedimentos documentados para abranger situações em que sua ausência possa acarretar desvios em relação à política ambiental, objetivos e metas. Devem também ser estipulados critérios operacionais nos procedimentos, visando o estabelecimento e a manutenção de procedimentos relativos aos aspectos ambientais significativos identificáveis associados a produtos e serviços 49 da organização e à comunicação dos procedimentos e requisitos pertinentes a serem atendidos por fornecedores e prestadores de serviços (Seiffert, 2009). 4.6.3.7 Preparação e atendimento a emergências A organização deve estabelecer e manter mecanismos que possam ser acionados a qualquer momento para atender a situações de emergência e eventos não controlados. Isso implica em identificar as possíveis situações emergenciais, definir formas de mitigar os impactos associados, prover os recursos necessários e treinar periodicamente uma brigada de emergência e um plano de abandono do local pelos funcionários (Harrington e Knight, 2001). Com a identificação de acidentes e incidentes ocorridos no presente, podese estimar a possibilidade da ocorrência desses mesmos acidentes e incidentes no futuro, já que parte-se do princípio de que tudo que ocorreu no passado possa se repetir no futuro. Assim, procura-se identificar os diversos graus de risco ambiental associados a esses eventos quanto à sua probabilidade de ocorrência (Seiffert, 2009). Os planos de ação para situações de emergência devem ser periodicamente testados, mesmo sem a ocorrência da emergência, para assegurar que ainda estão adequados e que os funcionários saibam o que fazer nessas situações. A norma não especifica como devem ocorrer os registros de frequência desses testes, mas eles devem existir e podem ser na forma de treinamentos e situações práticas ou na forma de simulações computadorizadas (Harrington e Knight, 2001). 4.6.4 Verificação e ação corretiva Este item da norma cria condições de se averiguar se a organização está operando de acordo com o Programa de Gestão Ambiental previamente definido, identificando aspectos não desejáveis e mitigando quaisquer impactos negativos, além de tratar das medidas preventivas. A Verificação e Ação Corretiva são etapas orientadas por quatro características básicas do processo de gestão 50 ambiental: Monitoramento e Medição, Não-conformidades e Ações Corretivas e Preventivas, Registros e Auditoria do SGA. 4.6.4.1 Monitoramento e Medição Todo e qualquer sistema de gestão empresarial envolve as fases de planejamento, implementação, execução, operação e avaliação dos resultados alcançados. Esta sequência de etapas interdependentes também se verifica com o sistema de gestão ambiental. Desta forma, o sistema deve prever as ações de monitoramento e controle para verificar a existência de problemas e formas de corrigi-los. Conforme publicação da Embrapa (2004), monitorar um processo significa acompanhar evolução dos dados, ao passo que controlar um processo significa manter o processo dentro dos limites preestabelecidos. Consiste em estabelecer medidas-padrão para a verificação do desempenho ambiental das organizações. Os aspectos ambientais significativos – emissões atmosféricas, efluentes líquidos, ruídos, etc. - devem ter suas características medidas periodicamente e seus resultados comparados com os padrões legais aplicáveis (Embrapa, 2004). Geralmente, os órgãos de controle da qualidade ambiental estabelecem em documentos apropriados as características a serem medidas e a periodicidade das medições. O estabelecimento de medidas e o acompanhamento do desempenho ambiental das organizações são ferramentas úteis no sentido de gerenciar as atividades ambientais, principalmente aquelas consideradas estratégicas. Através do trabalho de servidores, de suas observações, da coleta de dados e de sugestões à alta direção são desenvolvidos os indicadores. Estes são os parâmetros representativos dos processos que permitem quantificá-los, e têm como objetivo facilitar a compreensão de determinada situação, através da apresentação de um reflexo da realidade, possibilitando uma base comum para a tomada de decisão (Oliveira, 1999). Para a determinação de indicadores é preciso identificar o que é preciso acompanhar, ou seja, o que é importante no processo para o resultado final. Pontos importantes para a construção de um indicador são (Noman, 2008): 51 Nomear o indicador Definir seu objetivo Estabelecer sua periodicidade de cálculo Indicar o responsável pela geração e divulgação Definir sua fórmula de cálculo (método) Indicar seu intervalo de validade Listar as variáveis que permitem o cálculo Apontar onde e como as variáveis serão capturadas Através dos indicadores podem-se tomar medidas de desempenho, e estas, segundo Hronec (1994), são sinais vitais da organização, qualificando e quantificando o modo como as atividades ou outputs de um processo atingem suas metas. Frequentemente, por parte dos gestores organizacionais, há a formulação de perguntas que refletem a necessidade do conhecimento do andamento dos negócios. Essas perguntas perpassam todo o contexto organizacional com evidências para os seus processos até a dimensão que mede a satisfação do cliente externo. Segundo Harrington e Knight (2001), as medições feitas nos processos são fundamentais para o sucesso da organização. Se a organização não pode medir o processo, não poderá controlá-lo, se não puder controlá-lo, não poderá gerenciálo, e, se não puder gerenciá-lo, não poderá aperfeiçoá-lo. No âmbito do SGA, os indicadores ambientais constituem-se em instrumentos de avaliação que devem ser adequados às realidades ambientais e socioeconômicas da região a ser avaliada (FEAM, 2010). Os indicadores ambientais são selecionados dentro dos seguintes aspectos ambientais: ar, água, solo, biodiversidade, matéria-prima, resíduos, energia, transporte, institucional e socioeconômico - sendo submetidos a um processo de escolha e priorização por meio de métodos. Ressalta-se, ainda, que os indicadores são classificados quanto a sua relevância como essenciais ou adicionais. Uma das referências conceituais utilizadas para seleção de Indicadores de Desempenho Ambiental na organização é a NBR ISO 14031(2004) (ferramenta de gestão ambiental, da série NBR ISO 14000), onde se descrevem duas 52 categorias gerais de indicadores a serem considerados na condução da Avaliação de Desempenho Ambiental (ADA) que são: Indicador de Condição Ambiental (ICA) e Indicador de Desempenho Ambiental (IDA). O ICA fornece informações sobre a qualidade do meio ambiente onde se localiza a organização por meio da comparação com os padrões e regras ambientais estabelecidos pelas normas e dispositivos legais (Ex: Qualidade do Ar, da água, etc.). Já o IDA analisa a eficiência da organização em relação a seus principais aspectos ambientais (consumo de energia, de matéria prima, de materiais e a geração de resíduos), sob o prisma (tipo) do Desempenho Operacional (IDO), Informações relacionadas às operações do processo produtivo da organização e Desempenho de Gestão (IDG), bem como informações dos resultados dos esforços de gestão da organização. Um bom indicador é mais que uma estatística. Ele representa uma construção lógico-conceitual que permite uma correta interpretação da realidade e dá subsídios para tomadas de decisão, sejam elas no âmbito das políticas públicas ou decisões gerenciais das organizações ou segmentos corporativos (Lavorato5, 2004). Contudo, é uma exigência da norma que seja feito o mapeamento dos processos da organização. Segundo a NBR ISO 14001 (2004), p15. a organização deve: a) Identificar os processos necessários para o sistema de gestão ambiental e sua aplicação por toda a organização; b) Determinar a sequência e interação desses processos; c) Determinar critérios e métodos necessários para assegurar que a operação e o controle desses processos sejam eficazes; d) Assegurar a disponibilidade de recursos e informações necessárias para apoiar a operação e o monitoramento desses processos; e) 5 Monitorar, medir e analisar esses processos; e A importância dos indicadores de desempenho ambiental para a competitividade das empresa e iniciativas ambientais. Marilena Lino de Almeida Lavorato, Publicitária (PUCC), pós-graduada em Marketing (ESPM), Sociologia e Política (EPGSP/SP), Gestão Estratégica de Negócios (FGV), Gestão Ambiental (IETEC), Gestão Empresarial Estratégica (USPcursando), Aluna especial da Faculdade de Saúde Pública (USP) – Sistema de Informações Ambientais para o Desenvolvimento Sustentável. 53 f) Implementar ações necessárias para atingir os resultados planejados e a melhoria continua desses processos. Esses processos devem ser gerenciados pela organização de acordo com os requisitos da Norma. Quando uma organização optar por adquirir externamente algum processo que afete a conformidade do produto em relação aos requisitos, ela deve assegurar o controle desses processos. O controle de tais processos deve ser identificado no SGA. Atender a todos esses itens nada mais é que exigir que a organização prepare o seu P-D-C-A, definindo sua lógica operacional, resumida no seguinte fluxograma: Figura 7 – Fluxograma guia para o ciclo PDCA. CONTINUA Mapear os processos → Finalidade (produto) Escopo de aplicação Interações Métodos e critérios Controles e medidas Provimento de recursos Indicadores de desempenho ↓ Monitorar o Processo e Medir os Resultados ↓ Analisar os resultados ↓ 54 CONCLUSÃO ← Planejar e Implementar Ações de Melhorias Fonte: Adaptado de Maranhão, 2001. Conforme Seiffert (2009), a identificação dos aspectos ambientais relativos a uma organização, assim como seus respectivos impactos, é uma atividade que requer continuidade, não podendo ser negligenciada pelos agentes envolvidos no gerenciamento ambiental. A autora ainda afirma que a identificação dos aspectos ambientais associados a atividades, processos e produtos é uma das etapas mais importantes da implementação de um SGA. Por fim, Harrington e Knight (2001) destacam que o monitoramento e a medição devem ser parte do próprio sistema de gestão, bem como os sistemas operacionais e o desempenho ambiental. Os autores ainda diferenciam os processos de monitoramento e medição e auditoria, explicando que o monitoramento e a medição são contínuos e devem ser abrangentes, enquanto as auditorias são periódicas e devem ser conduzidas utilizando técnicas de amostragem e seu escopo pode ser limitado. 4.6.4.2 A Não-conformidades e Ações Corretivas e Preventivas organização deve estabelecer procedimentos para definir responsabilidades e autoridades no tratamento e investigação das nãoconformidades, adotando medidas para diminuir quaisquer impactos, bem como para iniciar e concluir ações preventivas e corretivas (Seiffert, 2009). Neste requisito é fundamental o entendimento do conceito de nãoconformidade e a responsabilidade pela observação, documentação, comunicação e correção das não-conformidades. Não-conformidade, segundo ainda a mesma autora, significa qualquer evidência de desvio dos padrões estabelecidos com base nos aspectos legais ou de comprometimento da organização. As ações corretivas devem ser pautadas em procedimentos que possibilitem a eliminação da não-conformidade e sua não reincidência. 55 As ações preventivas devem apoiar-se na possibilidade de ocorrência de não-conformidades, estabelecendo-se procedimentos para a verificação de suas causas potenciais. Geralmente a análise de risco efetuada quando da elaboração dos estudos de avaliação dos impactos ambientais é uma fonte de informação na identificação da necessidade de adoção de medidas preventivas. Devem ser observadas as causas das não-conformidades, o que é necessário para correção imediata da situação, a maneira de alterar os procedimentos, controles ou tecnologias para que os erros não se repitam e quais alterações devem ser feitas nos procedimentos escritos para assegurar que não haja repetição (Harrington e Knight, 2001). Conforme Harrington e Knight (2001, p.115), “qualquer ação corretiva ou preventiva adotada para eliminar as causas das não-conformidades, reais ou potenciais, deve ser adequada à magnitude dos problemas e proporcional ao impacto ambiental verificado”. Os autores ressaltam que a organização deve, ainda, implementar e registrar quaisquer mudanças nos procedimentos documentados, resultantes de ações corretivas e preventivas e realizar o treinamento necessário para assegurar que os funcionários estejam conscientes de quaisquer alterações. 4.6.4.3 Registros A organização deve estabelecer procedimentos para o registro das atividades do SGA, incluindo informações sobre os treinamentos realizados, as conclusões de auditorias e as análises críticas. Estes registros, que podem ser arquivados eletronicamente ou em papel, devem ser mantidos em ambiente seguro, ser claros quanto ao seu conteúdo, estar prontamente disponíveis para consulta e estar protegidos contra avarias, deterioração ou perda. O tempo de retenção da documentação deve ser estabelecido e registrado (Seiffert, 2009). 4.6.5 Auditoria do Sistema de Gestão Ambiental Por auditoria entende-se o procedimento de verificação dos cumprimentos de todas as etapas de implementação e manutenção do sistema de gestão ambiental. 56 Segundo Harrington e Knight (2001), a organização deve estabelecer e manter programas e procedimentos para auditorias periódicas que possam determinar se o SGA está em conformidade com as disposições planejadas para a gestão ambiental e se foi devidamente implementado e tem sido mantido, bem como visa fornecer informações à alta administração da organização sobre os resultados das auditorias. Seiffert (2009, p.181) explicita que “os procedimentos de auditoria devem levar em conta o contexto de aplicação, a frequência, as metodologias, as responsabilidades e requisitos que compõem a realização de auditorias e a apresentação de resultados”. As auditorias do sistema de gestão ambiental devem ser periódicas, sendo recomendadas duas auditorias internas por ano. Harrington e Knight (2001, p.319), ao explicarem as atividades de uma auditoria, citam alguns itens que devem ser contemplados: monitorar e medir a eficácia da implementação (inclusive os elementos, tais como comunicações, treinamento, níveis de comprometimento e as mudanças de comportamento exigidas); monitorar a adesão ao programa; determinar o quê, quando e onde as ações corretivas são indicadas. modificar o plano de transição; comunicar as constatações àqueles que podem executar as ações corretivas. Para a execução das auditorias internas é necessário, primeiramente, capacitar o(s) auditor(es) responsável(is) de cada setor, devendo ser feitos treinamentos de formação de auditores internos do SGA, que deverão conter os temas de “requisitos legais e outros requisitos”, “conceitos básicos de sistemas de gestão”, “norma ABNT NBR ISO 14001” e “técnicas de auditoria”. Desse modo, as auditorias internas deverão ser programadas pelo auditor líder e pelo responsável do setor, sendo que nessa programação devem estar contidos a área auditada, a equipe de auditoria, a data, o horário e os requisitos aplicáveis. A programação deverá ser repassada para os responsáveis pelas áreas a serem auditadas. 57 Essa programação das auditorias é denominada “Plano de Auditorias”, devendo ser feito no início do ano. O “Plano de Auditorias” tem a função de assegurar que todos os requisitos da NBR ISO 14001 aplicáveis sejam auditados durante o período de seis meses. Nada impede, porém, que sejam agendadas auditorias extras, não previstas no plano. O passo seguinte ao planejamento é a preparação da auditoria, feita para cada auditoria pelo responsável pelas auditorias. Nessa fase deverá ser definido o auditor-líder, bem com os demais auditores, assegurando que estes sejam independentes dos que tem responsabilidade direta pela atividade a ser auditada. A data prevista para a auditoria deverá ser marcada com base no “Plano Anual de Auditorias”, sendo possível, caso necessário, a alteração do plano, desde que essa alteração seja acordada entre os responsáveis das áreas a serem auditadas. Após o planejamento e a preparação, a auditoria é de fato executada. O auditor-líder da equipe conduz uma reunião de abertura, na qual deverão ser esclarecidos o objetivo e a programação da auditoria, sendo imprescindível a presença do responsável pela área auditada ou de seu representante. Uma vez feita a reunião de abertura, inicia-se a auditoria propriamente dita, na qual o auditor-líder e os demais responsáveis pela auditoria deverão, durante a realização da auditoria, seguir as seguintes orientações (Seiffert, 2009, p.242): verificar sempre a conformidade do sistema: procedimento x prática; fazer anotações precisas, registrando as evidências objetivas e as nãoconformidades encontradas e o item da norma NBR ISO 14001 que está relacionada à não-conformidade encontrada; não deixar dúvida quanto à existência da não-conformidade junto ao auditado; a auditoria interna não poderá ser conduzida sem a presença de representante do setor auditado; ao final da auditoria o auditor-líder deverá se reunir com a equipe de auditores para elencar de forma sumarizada as não-conformidades encontradas, abrindo os relatórios de não-conformidades (RNC) correspondentes. Realizada a auditoria, o responsável pela área auditada deverá buscar as causas das não-conformidades encontradas e tomar as ações corretivas 58 necessárias, registrando-as no Relatório de Não-Conformidades (RNC), conforme o sistema de Tratamento de Ações Corretivas e Preventivas. É importante salientar que deverá ser acordado um prazo para a definição das ações corretivas necessárias entre o auditor-líder e o auditado, sendo que o auditor-líder deverá entregar um relatório de auditoria para o responsável pelas auditorias internas, que será arquivado e utilizado nas próximas auditorias, bem como na análise crítica do sistema pela alta direção. Uma cópia desse relatório deverá ser entregue também ao auditado. O RNC deverá conter a descrição detalhada do problema, quando ocorreu o fato, quem estava envolvido, onde, como e por que ocorreu (onde aplicável), bem como as possíveis causas do problema e as ações imediatas à sua correção. As ações corretivas deverão estar detalhadas em forma de planos simplificados, sendo necessária a definição de no mínimo quem, como e quando será executada a solução, para que a sua implementação seja sistematizada. Implementadas as ações corretivas, o emitente do RNC e/ou seu designado avaliam a eficácia das ações, sendo o RNC fechado e assinado caso a ação tenha sido eficaz ou sendo abertas novas ações corretivas caso seja comprovada a ineficácia das ações, sendo as mesmas identificadas com o prefixo “R” (reincidente). Caso o prazo para a implementação das ações seja vencido, é possível a readequação desse prazo de acordo com o emitente e o responsável pela não-conformidade. A responsabilidade pelo acompanhamento das ações corretivas é dos emitentes e o acompanhamento da eficácia das ações previstas é realizado conforme indicador ou forma qualitativa acordada entre emitente e responsável. Encerrados os prazos de implementação de ações corretivas e avaliada a eficácia das mesmas, é enviado um relato da auditoria para a alta administração da organização, sendo os resultados das auditorias discutidos em reuniões de análise crítica do SGA (Seiffert, 2009). 59 4.6.5.1 Análise crítica do SGA Após a etapa da auditoria e, considerando possíveis mudanças nos cenários internos e externos à organização, como novas pressões de mercado e as recentes tendências do ambiente externo à organização - além do compromisso de melhoria contínua requerido pela SGA - é o momento da alta administração identificar a necessidade de possíveis alterações em sua Política Ambiental, nos seus objetivos e metas, ou em outros elementos do sistema. Para tanto, a NBR ISO 14001 preconiza que sejam realizadas análises críticas do SGA, as quais devem ser abrangentes; no entanto, nem todos os aspectos do SGA precisam ser analisados ao mesmo tempo. Estas análises são de responsabilidade da alta administração, embora devam também envolver outros níveis administrativos que possuem responsabilidade direta com os elementos em análise. O anexo da NBR ISO 14001, segundo Harrington e Knight (2001) recomenda que a o documento que representa a análise crítica feita pela alta direção contemple: Os resultados das auditorias. O nível de atendimento aos objetivos e metas. A adequação do SGA em relação a mudanças de condições. As preocupações das partes interessadas. Segundo Seiffert (2009), é essencial que a alta direção programe e realize pelo menos duas reuniões de revisão de administração durante o ano, sendo necessárias as discussões de itens como a conveniência, suficiência e efetividade da política ambiental, dos objetivos e metas ambientais e dos esforços de treinamento, o nível de implantação do SGA como um todo e sua efetividade, o nível de implementação das ações corretivas/preventivas com base nos resultados das auditorias, as discussões dos resultados da auditoria posterior à última reunião e os resultados do encaminhamento de ações recomendadas em reunião prévia. É necessário que durante essas reuniões sejam elaboradas minutas, a fim de registro, contendo lista com os nomes e assinaturas dos participantes, resumo 60 dos assuntos-chave discutidos e ações a serem implementadas posteriormente à reunião (Seiffert, 2009). A autora ainda cita que as reuniões de análise crítica deverão ocorrer periodicamente e ressalta a importância da realização das mesmas após a realização das auditorias internas, possibilitando à alta administração ter ciência dos problemas, para que possam ser discutidas e propostas as soluções para os mesmos. Em resumo, neste momento o processo de gestão ambiental pode ser revisado, bem como o processo de melhoria contínua exercitado, visando o melhor desempenho ambiental. Desempenho ambiental, segundo a NBR ISO 14001, são resultados mensuráveis do Sistema de Gestão Ambiental, que uma organização se propõe atingir, sendo quantificado sempre que possível. Assim, a análise crítica pela alta direção também possui relevante importância por revelar se houve mudanças nos indicadores ambientais e, principalmente, se os resultados “prometidos” pela norma NBR 14001 foram alcançados. Desse modo, organização identifica os resultados alcançados através do mapeamento de seus processos e da análise dos indicadores ambientais previamente determinados, para que então disponha de uma base de dados para a tomada de decisões. Entre esses resultados, como já citado no item 4.3 (Sistema de Gestão Ambiental – SGA), estão o acesso ao mercado, incentivos reguladores, redução da responsabilidade e do risco, melhor acesso ao seguro e ao capital de baixo custo, melhoria na eficiência do processo, no desempenho ambiental e na gestão global, redução de custo/aumento de receita, melhoria nas relações com os clientes, fornecedores, funcionários e outros detentores de interesses e melhoria na imagem pública. 4.7 DADOS ESTATÍSTICOS SOBRE A CERTIFICAÇÃO NBR ISO 14001 Números revelam a existência de uma quantidade significativa de organizações certificadas pela NBR ISO 14001 no mundo. Até dezembro de 2006 61 foram emitidas 130.042 certificações; destas, 4.246, o que representa 3,3%, se concentravam na América do Sul (INMETRO, 2005). Em uma perspectiva mundial, pode-se verificar na tabela 1 que o continente asiático e europeu são os que mais possuem certificações NBR ISO 14001, sendo a América do Sul o 4° continente com mais certificações. Tabela 1 – Quantidade de certificações NBR ISO 14001 emitidas por continente. CONTINENTE AMÉRICA CENTRAL ÁFRICA AMÉRICA DO SUL AMÉRICA DO NORTE ÁSIA EUROPA OCEÂNIA Total TOTAL DE CERTIFICAÇÕES 109 1.098 4.246 7.673 57.945 56.825 2.146 130.042 Dados coletados até 31/12/2006 Fonte: INMETRO, 2010. Segundo o INMETRO (2010), o Brasil possui 1339 certificações em conformidade com a NBR ISO 14001. Destas, 8,7% se encontram no estado do Paraná, sendo este o 3° estado com maior número de certificações. Estes dados podem ser observados na tabela 2, onde se encontram os números de certificações emitidos para cada estado da federação e as respectivas porcentagens em relação a todo o país. Tabela 2 – Quantidade de organizações certificadas (certificados emitidos) pela NBR ISO 14001 por estado da federação Brasileira. CONTINUA ESTADOS TOTAL % ALAGOAS 8 0,6 AMAPÁ 6 0,4 AMAZONAS 41 3,1 62 CONCLUSÃO TOTAL % BAHIA 85 6,3 CEARÁ 12 0,9 DISTRITO FEDERAL 4 0,3 ESPÍRITO SANTO 20 1,5 GOIÁS 11 0,8 MARANHÃO 2 0,1 MATO GROSSO 8 0,6 MATO GROSSO DO SUL 2 0,1 MINAS GERAIS 102 7,6 PARÁ 13 1 PARAÍBA 6 0,4 PARANÁ 116 8,7 PERNAMBUCO 20 1,5 PIAUÍ 1 0,1 118 8,8 RIO GRANDE DO NORTE 7 0,5 RIO GRANDE DO SUL 72 5,4 RORAIMA 1 0,1 SANTA CATARINA 73 5,5 SÃO PAULO 610 45,6 TOCANTINS 1 0,1 1339 100 ESTADOS RIO DE JANEIRO TOTAL Relatório emitidos em: 14/12/2010 Fonte: INMETRO, 2010. Uma vez conhecidos os números de certificados emitidos por estado da federação, é possível estabelecer o percentual por região do país, como demonstrado na figura 8: 63 Figura 8 – Percentual de organizações certificadas pela NBR ISO 14001 por região. Depois dessas análises por continente, por estados e por regiões, ainda, resta fazer uma análise por setor produtivo no país. Assim, pode-se perceber que os setores automotivo, petroquímico e químico detêm as maiores porcentagens de certificações, sendo que o setor da construção representa apenas 1,9% do total das certificações (INMETRO, 2010). A tabela 3 demonstra essa distribuição de porcentagem para os demais setores: Tabela 3 – Percentual de organizações certificadas válidas pela NBR ISO 14001 por setor produtivo brasileiro. CONTINUA Setor produtivo (%) Agricultura, Pecuária , Caça, Silvicultura 0,7 Atividades de Serviços Sociais Comunitários e Serviços Pessoais – Outras 2,6 Atividades Imobiliárias; Locações e Prestação de serviços 6,2 Comércio; Concertos. de veículos auto; bens de pessoais e domésticos 3,6 Construção 1,9 Educação 0,5 Hotéis e Restaurantes 0,2 64 CONCLUSÃO Setor produtivo (%) Ind. de Transf. - artigos de borracha e de plástico 5,8 Ind. de Transf. - Celulose, Papel, Papelão e seus Produtos; Edição e Impressão 2,9 Ind. de Transf. - Coque, Refinados de Petróleo e combustível nuclear. Ind. de Transf. - Equipamentos de transporte 1 10,8 Ind. de Transf. - Madeira, Cortiça e seus produtos. 1 Ind. de Transf. - Máquinas e Equipamentos não específicos. 2,4 Ind. de Transf. - Metais de Base e Produtos Metálicos. 17,3 Ind. de Transf. – Outras 1 Ind. de transf. - Produtos minerais não metálicos - Outros. Ind. de transf. - Química de Base, Produtos Químicos, e fibras sintéticas e artificiais. 2,4 Ind. de Transf. – Têxteis 0,7 Ind. de Transf.- Eletrônica e Ótica 3,8 Ind. de Transf.- Produtos Alimentícios, Alimentos, Bebidas e fumo. 13,2 9,6 Ind. Extrat. - (Exceto produtos energéticos) 1 Suprimento de Energia Elétrica, gás e água 0,7 Transporte; Armazenagens e Telecomunicação 10,8 Relatório emitido em: 14/12/2010 Fonte: INMETRO, 2010. Uma pesquisa realizada pela Civil Engineering Research Foundation (CERF) com 1500 construtores, projetistas e pesquisadores de todo o mundo, detectou que a questão ambiental é considerada a segunda mais importante tendência fundamental para o futuro do setor, ficando atrás somente da informática. Portanto, ainda que pequeno, o número de certificações NBR ISO 14001 em relação a outros setores, a construção civil, como uma das mais importantes atividades para o desenvolvimento econômico e social do país, grande consumidora de recursos naturais e potencial geradora de impactos ambientais, vem buscando cada vez mais a conciliação da execução de seus procedimentos aliada a práticas ambientais. Uma grande aliada para essa conciliação é a resolução CONAMA 207/2002, que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Esta resolução contribui para a minimização dos impactos ambientais provocados pelo setor. 65 Considerando-se que o setor da construção civil é responsável pelas atividades relacionadas diretamente com o desenvolvimento econômico e social de um país, principalmente de países como o Brasil, que está em fase de transição para se tornar país de primeiro mundo, a preocupação com o meio ambiente é fundamental para que o país não se desenvolva de forma descontrolada e no futuro precise remediar impactos ambientais. Uma forma de prevenir tais impactos é através da implementação e monitoramento de SGA nas organizações brasileiras, pois através do alto desempenho de um SGA, pode-se obter a melhoria contínua do sistema e, com isso, a não ocorrência de danos ambientais, visto que estes serão previstos, monitorados e controlados. 4.8 RESULTADOS DO SGA SOB O PONTO DE VISTA DE EMPRESÁRIOS Observando o histórico de implementações de SGAs através da NBR ISO 14001, o número de organizações certificadas pelo INMETRO no âmbito brasileiro em 2003 (146) e em 2010 (351), mostra que houve um crescimento de quase 139% de organizações certificadas em sete anos. Isso demonstra uma maior preocupação das organizações em responder ao mercado sobre a sua gestão ambiental. Consequentemente, a imagem do Brasil no exterior vai sendo modificada, além de haver a solidificação do respeito e reconhecimento internacional de importantes órgãos nacionais, como o INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial. É importante ressaltar que todos os dados estatísticos explorados neste trabalho são referenciados pelo INMETRO, já que, segundo outras fontes não oficiais, como sites na internet, o número de certificações pode ser 10 vezes maior que o número divulgado pelo INMETRO, pois muitos certificados são emitidos por organizações não credenciadas por este órgão (Ribeiro, 2005) Para efeito de ilustração da importância da implementação do SGA sob o ponto de vista das organizações, pode-se verificar a seguir os seus comentários acerca dos benefícios alcançados após a certificação NBR ISO 14001, extraídos de Harrington e Knight (2001): 66 “A primeira coisa que observamos é a redução de custos. Ao incluir técnicas de melhoria contínua no SGA, a Acushnet economizou $ 2 milhões por ano.” (Jack Bailey, diretor de meio ambiente, saúde e segurança, Acushnet Ruber Company, New Bedford, Massachusetts). “Nunca fizemos por benefício financeiro. Pelo contrário, a organização buscou a certificação para demonstrar, aos funcionários e às comunidades onde operamos, o comprometimento com o meio ambiente.” (Keith Seibert, coordenador de sistemas de qualidade do Grupo de Informações e Controle de Contrato, Rockwell Automation, Twinsburg, Ohio). “Esses programas representam um compromisso com o meio ambiente e com uma filosofia que não somente confirma que produzimos um produto de qualidade superior, mas também demonstra nosso apoio aos clientes e à comunidade”. (Steve Walling, presidente e diretor executivo da Plasticolors, Ashtabula, Ohio). "Em 2005 contratamos os serviços de uma organização para nos assessorar na implantação de um sistema integrado de gestão na organização, com o qual obtivemos a certificação nas normas ISO 9001, ISO 14001 e OHSAS 18001 no ano seguinte. Para nós da VIMSA foi um grande desafio, pois fomos pioneiros no país, no nosso segmento, na implantação de um sistema integrado como este. Porém, o processo de implantação deste modelo de gestão aos poucos foi sendo desmistificado e assimilado por todos na organização, e hoje, passados três anos, com os bons resultados que obtivemos neste período, assim como, com a crescente credibilidade que temos alcançado junto aos nossos clientes, temos certeza de que fizemos a escolha correta." (Paulo Ricardo Ávila Schmitz - Gestor de Qualidade, Segurança e Meio Ambiente, Viação Montenegro S/A – VIMSA, Montenegro, RS). 5 METODOLOGIA Para Marconi e Lakatos (2007), o método científico é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que permitem alcançar o objetivo com maior segurança e economia, auxiliando na tomada de decisão do pesquisador, bem 67 como detectando erros e determinando o caminho a ser seguido. Esta pesquisa pode ser classificada, portanto, quanto às técnicas de pesquisa empregadas, de acordo com Marconi e Lakatos (2007), como uma pesquisa de campo qualitativoquantitativo-descritiva. O que caracteriza a pesquisa como de campo é o levantamento de informações a partir da percepção dos gestores do mercado (campo) acerca dos benefícios da implementação da NBR ISO 14001. É classificada como uma pesquisa descritiva por mostrar a situação como ela é, em tempo e espaço (Selltiz et al., 1975) e qualitativa e quantitativa por buscar percepções e entendimento sobre os resultados do SGA e por buscar um histórico de informações com dados mais concretos, respectivamente (IBOPE). Esse tipo de pesquisa pode ser feita através de questionários, como no caso deste trabalho. 5.1 PLANO METODOLÓGICO SINTÉTICO Para o alcance dos objetivos estabelecidos, foram seguidos (sinteticamente) os seguintes passos: seleção das organizações certificadas com a NBR ISO 14001 que foram pesquisadas; desenvolvimento do plano de pesquisa; desenvolvimento do instrumento de coleta de dados; coleta de dados propriamente dita; tabulação dos dados; apresentação e interpretação dos resultados; conclusões do trabalho. 5.2 SELEÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES A primeira fase do trabalho envolveu a seleção das organizações de engenharia civil e de insumos certificadas com a NBR ISO 14001 localizadas no estado do Paraná, que permitissem a realização de uma pesquisa mediante a proposta deste trabalho, que é avaliar os resultados obtidos pelas organizações 68 de engenharia civil e seus fornecedores a partir da suas certificações NBR ISO 14001. Para a seleção das organizações foi feita uma pesquisa no site do INMETRO, com o objetivo de identificar quantas e quais as organizações tinham seus sistemas de gestão ambiental certificados de acordo com a NBR ISO 14001 naquele momento no estado do Paraná, onde foram encontradas 45 organizações. Como dentre estas havia organizações de diversos setores, foi feito contato com estas organizações para verificação de quais eram do setor de engenharia civil e sua cadeia de fornecedores. Assim, finalmente foram encontradas 7 organizações que estavam qualificadas para a pesquisa necessária à consecução do trabalho. Dentre elas, 4 são organizações de engenharia civil e 3 são organizações de insumos da engenharia civil, sendo todas localizadas na cidade de Curitiba-PR. Em seguida, entrou-se em contato com estas organizações, via telefone, informando que tratava-se de um projeto de conclusão de curso, qual era o objetivo do trabalho e que, portanto, seria necessário visitar as organizações certificadas para a coleta de dados. As organizações foram também informadas que em nenhum momento seriam divulgados seus nomes, e que estas seriam sempre referenciadas, neste trabalho, por questões éticas, simplesmente através de letras. As organizações contatadas demonstraram disponibilidade para participar da pesquisa, sendo que este contato foi feito com o responsável pelo SGA implementado. Assim, o respondente da pesquisa foi este responsável, bem como eventualmente seus principais colaboradores. 5.3 DESENVOLVIMENTO DO PLANO DE PESQUISA Após a seleção das 7 organizações, foi desenvolvido um plano de pesquisa que consistiu na elaboração de um cronograma de visitas para a coleta de dados. Estas visitas seriam feitas quando permitidas pelas organizações, porém, as 69 mesmas demonstraram maior interesse em receber, responder e enviar o questionário via e-mail. O cronograma elaborado definiu o início das pesquisas em 30/07/2010, com término previsto para 18/08/2010; logo, foram reservadas três semanas para a coleta de dados. 5.4 DESENVOLVIMENTO DO INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS Para que fosse possível a avaliação dos resultados atingidos pela organização após a implementação da NBR ISO 14001, foram feitas pesquisas via questionário, elaborado pelas autoras, e enviado aos responsáveis pelo sistema de gestão ambiental das organizações via e-mail (considerando-se o interesse demonstrado por esses profissionais em receber o questionário via email). O questionário foi estruturado em 18 partes, contendo uma estrutura mista, que contempla questões de múltiplas escolhas e discursivas, baseadas nos 16 ganhos esperados a partir da implementação do SGA (foco para a NBR ISO 14001) citados por Harrington e Knight (2001), os quais são: acesso ao mercado; gestão de conformidade; incentivos reguladores; redução da responsabilidade e do risco; melhor acesso ao seguro; melhor acesso ao capital de baixo custo; melhor eficiência no processo; melhoria no desempenho ambiental; melhoria na gestão global; redução dos custos/aumento de receita; relações com os clientes; melhoria na relação com os fornecedores; melhoria na relação com os funcionários; melhoria nas relações com outros detentores de interesses; melhoria na imagem pública e degrau para o desenvolvimento sustentável. As partes do questionário e suas respectivas justificativas são as descritas a seguir: Parte 1 - dados gerais da organização: nesta parte é feita a caracterização da organização, contendo o nome, a área de atuação, n⁰ de funcionários (que classifica o porte da organização) e a observação da data da certificação, para que organizações com certificados de seis meses não sejam tratadas como organizações que já tenham o certificado há três anos, por exemplo. Também é 70 observado se a organização possui outros certificados e quais são suas datas de certificações, pois como a NBR ISO 14001 é relativamente nova, se torna comum as organizações já estarem certificadas com outras normas, o que auxilia no processo de estruturação do SGA. Parte 1 1. Dados gerais da organização 1.1 Nome da organização: 1.2 Área de atuação: 1.3 N⁰ atual de funcionários: 1.4 Data da certificação NBR ISO 14001: 1.5 Informações sobre outros certificados (ex: NBR ISO 9001, PBQPH), com suas datas de emissões: As partes seguintes (parte 2 a 18) são todas relativas ao período pósimplementação da NBR ISO 14001 na organização. Assim, tem como parte inicial a expressão “A partir da certificação NBR ISO 14001...:” Parte 2 - resultados relativos ao acesso ao mercado: nesta parte é observado se surgem ganhos na melhoria e aumento na porcentagem de transações comerciais, bem como o grau da intensificação dessas transações quando observadas, visto que a certificação é requisito de negócio para negócio e não um requisito do governo. Parte 2 2. Resultados relativos ao acesso ao mercado 2.1 A organização firmou negócios nos quais a certificação era exigida? Sim ( ) Não ( ) 2.2 Em que grau as suas transações comerciais foram intensificadas? a) Abaixo de 10% b) De 10% a 30% c) De 30% a 50% d) Acima de 50% e) Não houve instensificação nas negociações comerciais. Parte 3 - gestão de conformidade: nesta parte é observado se a organização identifica melhoria na administração de leis e regulamentos, visto que um SGA permite de forma sistemática e documentada a geração e demonstração de uma gestão de conformidade reguladora. 71 Parte 3 3. Gestão de conformidade 3.1 Constatou-se que a melhoria na administração de regras ambientais impostas por leis e regulamentos foi: 1 Pouco significativa 2 De significância moderada 3 Muito significativa Parte 4 - incentivos reguladores: nesta parte é observado se a organização identifica melhoria na sua relação com os legisladores, mediante a análise dos fatores: inspeções; número de multas ambientais e benefícios, visto que muitas jurisdições buscam oferecer incentivos reguladores para quem implementar voluntariamente os SGAs, principalmente a NBR ISO 14001. Parte 4 4. Incentivos reguladores 4.1 A organização sofreu inspeções pelos órgãos reguladores com menos frequência? Sim ( ) Não ( ) 4.2 A organização obteve redução nos números de multas ambientais? Sim ( ) Não ( ) 4.3 A organização obteve algum benefício perante órgãos reguladores? Sim ( ) Não ( ) Se sim, especifique o benefício: Parte 5 - redução da responsabilidade e do risco: nesta parte é observado se a organização tem registro de algum acidente ambiental após a certificação, bem como seu histórico e se identifica uma contribuição do SGA para a prevenção do mesmo. A NBR ISO 14001 garante uma forma de identificar e administrar sistematicamente o risco e a responsabilidade ambiental. Parte 5 5. Redução da responsabilidade e do risco 5.1 A organização provocou algum acidente ambiental (lembrando que qualquer situação que fuja do controle previsto caracteriza acidente ambiental, por menor que seja)? Sim ( ) Não ( ) 5.2 A partir da questão anterior cite o histórico da organização sobre acidentes ambientais, como número de acidentes e quais foram: 72 5.3 Constatou-se que a melhoria na prevenção de acidentes e atendimentos à emergências foi: 1 Pouco significativa 2 De significância moderada 3 Muito significativa Parte 6 - melhoria do acesso ao seguro: nesta parte é observado se a organização identifica facilitações na aquisição de seguros e/ou renovação, bem como a redução no custo deste seguro, visto que as seguradoras reconhecem a implementação da NBR ISO 14001 como uma preocupação da organização em se adequar às legislações ambientais. Parte 6 6. Melhor acesso ao seguro 6.1 A organização notou facilitações na aquisição e/ou renovação do seguro? Sim ( ) Não ( ) Se sim, cite qual(is): 6.2 A organização obteve redução no custo do seguro? Sim ( ) Não ( ) Parte 7 - melhoria no acesso ao capital de baixo custo: nesta parte é observado se a organização identifica reconhecimento dos investidores e credores relativo à implementação do SGA, baseados nos prazos, respostas aos pedidos e taxas dos créditos, visto que muitos investidores já fazem algum tipo de investigação sobre o desempenho ambiental e muitos bancos estabelecem prérequisitos ambientais para os pedidos de empréstimos. Parte 7 7. Melhor acesso ao capital de baixo custo 7.1 A organização obteve maior prazo nos créditos? Sim ( ) Não ( ) 7.2 A organização obteve resposta mais rápida ao pedido de crédito? Sim ( ) Não ( ) 7.3 A organização obteve taxas de crédito mais baixas? Sim ( ) Não ( ) Parte 8 - melhoria na eficiência do processo: nesta parte é observado se a organização identifica uma melhor abordagem sistemática para identificar os aspectos e impactos ambientais e para criar objetivos e metas, através de indicadores e histórico dos processos, citando os indicadores que apresentam melhora, estabilização ou regressão, visto que a NBR ISO 14001 visa uma produção mais eficiente. A NBR ISO 14001 também exige um comprometimento 73 com a prevenção da poluição. Isto irá, provavelmente, possibilitar a reavaliação de processos e tecnologias. Parte 8 8. Melhoria na eficiência do processo (processos destacados no fluxo do macroprocesso, na figura abaixo, onde há a representação de um ciclo de produção com vários processos e suas atividades). A organização apresentou melhoria na eficiência do processo? Se sim, para responder esse bloco de questões, siga o exemplo do processo ilustrado a seguir: Processo: Pintura Indicador: Resíduos de tintas Histórico: Diminuição de 10% 8.1 Cite os indicadores ambientais que têm apresentado evolução (melhoria): Processo 1: Indicador: Histórico*: Processo 2: Indicador: Histórico*: Processo 3: Indicador: Histórico*: Processo 4: Indicador: Histórico*: Processo 5: Indicador: Histórico*: 8.2 Cite os indicadores ambientais que não têm apresentado evolução, nem tampouco regressão (estáveis): 74 Processo 1: Indicador: Processo 2: Indicador: Processo 3: Indicador: Processo 4: Indicador: Processo 5: Indicador: 8.3 Cite os indicadores ambientais que têm apresentado regressão (piora): Processo 1: Indicador: Processo 2: Indicador: Processo 3: Indicador: Processo 4: Indicador: Processo 5: Indicador: * Destacar valores absolutos e/ou relativos no histórico. Ex: aumento de 15% no reaproveitamento de materiais. Parte 9 - melhoria no desempenho ambiental: nesta parte é observado se a existência de um SGA em uma organização conduz a melhorias no desempenho ambiental, visto que o sistema permite uma melhor verificação se os objetivos e metas estabelecidos são alcançados, assim resultando em melhoria. Parte 9 9. Melhoria no desempenho ambiental 9.1 Constatou-se que a melhoria do desempenho ambiental global da organização foi: 1 Pouco significativa 2 De significância moderada 3 Muito significativa Parte 10 - melhoria na gestão global: nesta parte é observado se a NBR ISO 14001 pode fornecer uma abordagem comum de terminologia e gestão, através da verificação do impacto da SGA sobre os demais planos de gestão da organização e da sistematização em outros processos, visto que em organizações nas quais as práticas de gestão são menos sofisticadas, uma abordagem sistemática pode influenciar de forma positiva as outras questões chaves da organização. 75 Parte 10 10. Melhoria na gestão global 10.1 A organização notou um impacto do SGA sobre os demais planos de gestão, além do plano de gestão ambiental (marketing, RH, financeiro, etc...)? Sim ( ) Não ( ) 10.2 A organização notou uma maior sistematização em outros processos além dos que envolvem somente as questões ambientais, tais como os burocráticos, relacionados à propaganda, relacionados à contratação de funcionários, etc.? Sim ( ) Não ( ) Cite o processo: Parte 11 - redução de custos/aumento de receita: nesta parte é observado se a organização identifica diminuição dos seus custos, bem como aumento de receita, visto que a NBR ISO 14001 conduz a maior eficiência, o que significa aumento de competitividade. Parte 11 11. Redução de custos/aumento de receita 11.1 Em que números de porcentagem foi a redução de custos na organização? a) Abaixo de 10% b) De 10% a 30% c) De 30% a 50% d) Acima de 50% Não houve redução de custos. e) 11.2 Em que números de porcentagem foi o aumento da receita da organização? a) Abaixo de 10% b) De 10% a 30% c) De 30% a 50% d) Acima de 50% e) Não houve aumento da receita. Parte 12 - relações com os clientes: nesta parte é observado o atendimento às expectativas dos clientes quanto à preocupação ambiental da organização e se a organização conseguiu resgatar clientes perdidos pela falta da certificação. Ainda é solicitada uma dissertação sobre os principais questionamentos desses clientes quanto à questão ambiental, visto que questões não tão tradicionais como a ambiental estão cada vez mais presentes nas considerações dos clientes, além das preocupações comuns como preço e qualidade do produto. Parte 12 12. Relações com os clientes 12.1 A organização percebeu aumento na preocupação dos clientes quanto às questões ambientais? Sim ( ) Não ( ) 76 12.2 A organização conseguiu "resgatar" algum cliente que havia perdido justamente pela falta da referida certificação? Sim ( ) Não ( ) 12.3 Disserte sobre os principais questionamentos (dúvidas e exigências) dos clientes quanto à questão ambiental: Parte 13 - melhoria na relação com os fornecedores: nesta parte é observado o atendimento de questões ambientais exigidas por fornecedores, através da firmação de novos contratos após a posse da certificação e a exigência da organização perante seus fornecedores para que estes possuam a certificação, bem como a porcentagem destes que já são certificados, visto que a norma atende a todos os requisitos ambientais estabelecidos pelo mercado mundial e hoje é muito comum organizações imporem restrições ambientais nos termos e condições de seus subcontratos, a fim de reduzir o próprio risco e responsabilidade. Parte 13 13. Relação com os fornecedores 13.1 A organização firmou novos contratos de fornecimentos, antes não atendidos pela falta da certificação? Sim ( ) Não ( ) 13.2 A organização passou a exigir de seus fornecedores a certificação? Sim ( ) Não ( ) 13.3 Que porcentagem de seus fornecedores mais frequentes possuem a certificação? a) Abaixo 25% b) De 25% a 50% c) De 50% a 75% d) De 75 a 100% e) Os fornecedores não possuem a certificação NBR ISO 14001. Parte 14 - melhoria na relação com os funcionários: nesta parte é observado se a organização identifica diminuição da rotatividade, aumento da auto-estima dos funcionários e a melhoria na relação destes com a alta administração, visto que esses quesitos podem custar caro para a organização, sendo que uma força de trabalho mais motivada e de qualidade pode melhorar a produtividade da organização. 77 Parte 14 14. Relação com os funcionários 14.1 A rotatividade da organização diminuiu? Sim ( ) Não ( ) 14.2 Os funcionários expressam mais orgulho de seu trabalho? Sim ( ) Não ( ) 14.3 Constatou-se que a melhoria na relação da alta administração com os funcionários foi: 1 2 3 Pouco signifitiva De significância moderada Muito signifitiva Parte 15 - melhoria nas relações com outros detentores de interesses: nesta parte é observado se a organização identifica um controle de suas ações por parte dos grupos ambientais e uma melhora na sua relação com as comunidades onde operam, visto que a opinião de grupos ambientais, acadêmicos, de pesquisas e de outros detentores de interesses sobre a organização exerce real influência sobre as escolhas dos compradores. Parte 15 15. Relações com outras partes interessadas 15.1 Os grupos ambientais locais expressam controlar as ações da organização relativas ao meio ambiente? Sim ( ) Não ( ) 15.2 Constatou-se que a melhoria na sua relação com as comunidades onde opera foi: 1 Pouco signifitiva 2 De significância moderada 3 Muito signifitiva Parte 16 - melhoria na imagem pública: nesta parte é observado se a organização identifica ganho na imagem pública, através do recebimento de elogios, a sua maior associação ao cuidado com o meio ambiente e o grau de constatação da melhoria de imagem pública pela organização, visto que uma organização que é reconhecida por seu SGA e por seu desempenho ambiental será vista de forma muito mais positiva pela mídia do que outras organizações. Parte 16 16. Melhoria na imagem pública 16.1 A organização vem recebendo elogios da comunidade (formais ou informais) pela sua certificação e por suas ações ambientais? Sim ( ) Não ( ) Não tenho conhecimento ( ) 16.2 A imagem da organização está mais associada (sob o ponto de vista da comunidade) ao cuidado com o meio ambiente? Sim ( ) Não ( ) Não tenho conhecimento ( ) 78 16.3 Constatou-se que a melhoria da imagem da organização (sob o ponto de vista da opinião pública) foi: 1 Pouco significativa 2 De significância moderada 3 Muito significativa Parte 17 - degrau para o desenvolvimento sustentável: nesta parte é observado se a organização identifica seu encaminhamento para o desenvolvimento sustentável, bem como o significado de sustentabilidade, visto que a norma por si só não garante esse desenvolvimento, porém, a sua adoção representa uma maior facilidade nesse caminho. Parte 17 17. Degrau para o desenvolvimento sustentável 17.1 A organização conclui que está caminhando para um desenvolvimento sustentável? Sim ( ) Não ( ) 17.2 A partir da questão anterior disserte sobre o significado de sustentabilidade para a organização: Parte 18 - ganhos alcançados e não alcançados: nesta parte são investigados quais os ganhos que a organização alcança com a implementação da NBR ISO 14001 e os ganhos esperados pela alta direção mas não alcançados, visto que nem todas as expectativas necessariamente serão verificadas. Ressalta-se que esta questão deve ser respondida de modo discursivo. Parte 18 18. Ganhos alcançados e não alcançados 18.1 Faça uma avaliação global e discorra sobre os ganhos alcançados pela empresa: 79 18.2 Faça uma avaliação global e discorra sobre os ganhos esperados, mas não alcançados pela empresa: 5.5 COLETA DE DADOS A coleta de dados foi feita através do questionário enviado por e-mail ao responsável pelo SGA de cada organização no período compreendido entre os dias 06/08/2010 e 01/10/2010. Ressalta-se que o tempo de coleta de dados foi duas vezes maior do que o estabelecido no plano de pesquisa, motivado pela demora na resposta do questionário por parte das organizações pesquisadas, sendo que somente quatro das sete contatadas responderam ao instrumento de coleta de dados, contrariando a expectativa inicial das pesquisadoras, uma vez que quando do planejamento da pesquisa, realizado em fevereiro de 2010, as organizações mostraram-se pré-dispostas em participar e colaborar com a execução da pesquisa. Merece destaque, também, o fato de que das quatro organizações efetivamente pesquisadas, aqui denominadas simplesmente de empresas “A”, “B”, “C” e “D”, três são, respectivamente, fornecedoras de insumos e somente uma é de construção de obras de engenharia. Uma vez que os questionários foram respondidos e enviados para as pesquisadoras, procedeu-se, na sequência, uma avaliação prévia das respostas dadas. Uma vez que houve dificuldades na interpretação das repostas, foram 80 feitos novos contatos telefônicos com os respondentes a fim de sanar as dúvidas que se apresentaram. A partir do momento que as dúvidas foram dirimidas, partiu-se para a efetiva interpretação dos dados. 5.6 APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS A análise dos dados foi feita, primeiramente, considerando-se as questões individualmente em cada uma das “partes” do questionário. Uma vez concluída a análise individual, partiu-se para a avaliação da parte como um todo. Para a apuração dos resultados, considerou-se inicialmente o conjunto formado pelas quatro organizações avaliadas, sendo que estes dados estão apresentados de forma escrita parte a parte. Posteriormente, avaliou-se cada uma das organizações individualmente, e estes dados estão apresentados em tabelas e figuras. Por fim, estão apresentados os dados relativos ao resultado final quanto ao grau de avaliação de todas as organizações perante os benefícios questionados. Antes de apresentar os resultados encontrados em cada parte, será feita uma apresentação das características de cada empresa para melhor entendimento dos resultados na tabela abaixo: Tabela 4 – Caracterização das empresas pesquisadas CONTINUA Empresa A Setor de atuação Fornecedora N⁰ de Funcionários 637 Porte da empresa Grande Data da certificação NBR ISO 14001 37469 Certificado NBR ISO 9001 sim Certificado OHSAS 18001 sim 81 CONCLUSÃO Empresa B Setor de atuação Fornecedora N⁰ de Funcionários 314 Porte da empresa Grande Data da certificação NBR ISO 14001 39022 Certificado NBR ISO 9001 sim Certificado OHSAS 18001 sim Empresa C Setor de atuação Fornecedora N⁰ de Funcionários 698 Porte da empresa Grande Data da certificação NBR ISO 14001 37926 Certificado NBR ISO 9001 sim Certificado OHSAS 18001 sim Empresa D Setor de atuação Construtora N⁰ de Funcionários 1200 Porte da empresa Grande Data da certificação NBR ISO 14001 39234 Certificado NBR ISO 9001 sim Certificado OHSAS 18001 sim Após a caracterização das empresas, segue-se com a apresentação dos resultados parte a parte do questionário. Parte 1 - dados gerais da organização Os resultados revelam uma maior adesão do SGA por organizações de médio e grande porte (no caso uma organização de médio porte -de 100 a 499 funcionários- e três organizações de grande porte - 500 ou mais funcionários), e ainda revela que todas as organizações pesquisadas conquistaram conjuntamente ou anteriormente à NBR ISO 14001 os certificados da NBR ISO 9001 (Sistema de gestão com foco na qualidade) e OHSAS 18001 (Occupational Health & Safety Advisory Services – Sistema de gestão com foco na saúde e segurança). 82 Parte 2 - resultados relativos ao acesso ao mercado Sobre os resultados relativos ao acesso ao mercado, três das quatro organizações entrevistadas afirmaram ter firmado negócios nos quais a certificação era exigida e, em duas delas, as transações comerciais foram intensificadas entre 10% e 30%, em uma delas acima de 30% (organização D) e a outra afirmou não haver intensificação das transações comerciais (organização C). Parte 3 - gestão de conformidade A melhoria na administração de regras ambientais impostas por leis e regulamentos foi muito significativa em duas das organizações e de significância moderada nas outras duas. Parte 4 - incentivos reguladores Duas das quatro organizações notaram que as inspeções pelos órgãos reguladores ocorreram com menos frequência. No entanto, nenhuma organização obteve outro benefício perante estes órgãos, além da redução no número de inspeções. No que diz respeito às multas ambientais, a redução se mostrou presente também em duas organizações e, tendo em vista que uma das organizações ao responder a esta questão citou não ter em sua história multas ambientais, esse resultado torna-se muito significativo, visto que as organizações mantiveram seu desempenho ou evoluíram. Parte 5 - redução da responsabilidade e do risco A certificação garantiu a prevenção de acidentes em todas as organizações, observando que duas delas afirmaram nunca terem tido acidente ambiental, o que pode representar, na sua totalidade, a redução do risco ambiental. Assim, a melhoria na prevenção de acidentes foi muito significativa em três das organizações e de significância moderada em uma delas. Parte 6 - melhoria do acesso ao seguro As facilitações na aquisição e/ou renovação do seguro foram notadas por três das quatro organizações, sendo que algumas delas até citaram que a certificação já é um critério de forte influência na análise de risco das 83 seguradoras. Consequentemente, a redução no custo do seguro também foi um ponto notado por duas das três organizações que notaram facilitações na aquisição e/ou renovação do seguro. Parte 7 - melhoria no acesso ao capital de baixo custo O acesso ao capital de baixo custo foi um item em que as respostas obtidas não foram as esperadas, pois nenhuma das organizações afirmou ter obtido maior prazo nos créditos e nem respostas mais rápidas ao pedido de crédito, e apenas uma das quatro organizações afirmou ter obtido taxas de crédito mais baixas. Tal fato pode revelar que este benefício, citado pela bibliografia, pode ainda não ter sido observado pelas organizações brasileiras ou do setor de engenharia civil e insumos. Parte 8 - melhoria na eficiência do processo A organização “A” notou melhoria (entre 10% e 30%) na eficiência operacional, na quantidade de CO2 por tonelada de cimento, na substituição energética, na eficiência energética e no rasgamento de sacaria. Devido ao fato da organização “A” fabricar cimentos, argamassas e concretos, estes são indicadores muito significativos na produção, o que mostra o real "ataque" do SGA nas questões ambientais mais importantes da produção. Contudo, dentro dos indicadores citados como os de regressão (piora), foi citado o indicador energético, o que contrapõe os dados dos indicadores de evolução, assim como a melhoria registrada, que foi de somente 5% e, portanto, concluiu-se que na verdade essa melhoria na eficiência energética possa ter sido insignificante. A organização “B” optou por não fornecer as informações sobre seus indicadores ambientais, o que foi de grande surpresa, visto que ela declara em seu site que o objetivo do seu SGA é garantir todo o acompanhamento do processo, desde a utilização de matérias-primas, passando pela parte industrial e de distribuição de produtos, até a correta destinação dos co-produtos gerados no processo. A organização afirma, também, que quase 80% dos seus co-produtos gerados são reaproveitados e cerca de 97% da água que utiliza é reaproveitada, além de lançar projetos segundo o conceito de sustentabilidade, visando uma melhor gestão sobre os resíduos siderúrgicos. 84 A organização “C” citou como indicador ambiental que tem apresentado melhoria a emissão de particulados a partir da clinquerização, com uma redução muito significativa, de 10 vezes menos material, a partir da data da certificação. Tendo em vista que a clinquerização é um dos processos mais importantes da fabricação do cimento, pois produz a matéria-prima principal para os diferentes tipos de cimentos, essa melhoria pode ser o grande resultado da implementação do SGA nesta organização. No entanto, partindo de declarações feitas pela organização, de que a mesma possui co-processamento de resíduos, foi notada na resposta ao questionário a ausência do indicador de resíduos gerados. A organização “D” apresentou o resíduo de concreto, o resíduo de ferro, o resíduo de madeira e o resíduo de papel como indicadores ambientais que apresentaram melhoria, sendo que os resíduos de papel apresentaram índices de melhoria entre 10% e 15%. Considerando que a organização realiza obras em diversos setores da engenharia e possui muitos processos, percebe-se uma quantidade muito pequena de processos monitorados nas questões ambientais. Porém, os números apresentados são de grande importância para a organização, sendo parte dos processos mais significativos da mesma. Parte 9 - melhoria no desempenho ambiental A melhoria no desempenho ambiental das organizações após a certificação foi considerada moderadamente significativa em três das quatro pesquisadas e muito significativa em uma delas, o que pode demonstrar que as organizações esperavam mais após a implementação do SGA, ou já eram organizações com desempenho ambiental significativo antes da implementação, e assim houve somente uma evolução da simples continuidade das ações ligadas às preocupações ambientais. Parte 10 - melhoria na gestão global No que diz respeito à gestão global, todas as organizações pesquisadas afirmaram que notaram um impacto do SGA sobre os demais planos de gestão (além do plano de gestão ambiental), e três das quatro organizações afirmaram haver uma maior sistematização em outros processos além dos que envolvem somente as questões ambientais. 85 Nesse sentido, na organização “A” observou-se essa sistematização na contratação de prestadores de serviços e na aquisição de materiais e equipamentos com mais eficiência; na organização “C” notou-se a inter-relação de todos os processos, melhoria esta que foi atribuída à certificação integrada ISO 9001, ISO 14001 e OHSAS 18001; na organização “D” notou-se a sistematização no processo de contratação de funcionários e terceiros. Parte 11 - redução de custos/aumento de receita Sobre a redução de custos/aumento de receita, duas das quatro organizações obtiveram entre 10% e 30% de redução dos custos, uma obteve aumento da receita de 10% a 30% e uma delas em menos de 10%, sendo que na organização “D” essas informações não foram levantadas e na organização “C” não houve redução dos custos ou aumento da receita. Fazendo-se uma análise desses valores e considerando o pequeno número de entrevistados, pode-se inferir que houve um relativo aumento da receita e redução dos custos pelas organizações a partir da implementação da NBR ISO 14001, pois há que se poderar, também, o recente “aquecimento” da economia brasileira. Parte 12 - relações com os clientes Dentre as organizações pesquisadas, todas afirmaram notar maior preocupação dos clientes em relação às questões ambientais após a certificação, sendo a destinação de embalagens e resíduos, o certificado de emissões de CO2, o controle de documentação ambiental (licenças ambientais, alvarás de funcionamento, certificados de regularidade do IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), as solicitações de auditorias e o tratamento de efluentes os principais itens de indagação dos clientes. Também em duas das quatro organizações houve o resgate de clientes antes perdidos pela falta da certificação. Parte 13 - melhoria na relação com os fornecedores Apenas uma das quatro organizações (no caso a organização “D”) afirmou ter firmado novos contratos de fornecimento antes não atendidos pela falta da certificação, e somente a organização “A” afirmou que passou a exigir de seus fornecedores a certificação. 86 Quanto à porcentagem dos fornecedores mais frequentes que possuem a certificação, merece destaque o fato de que em três das quatro organizações, menos de 25% dos fornecedores apresentam a certificação, e em apenas uma organização a porcentagem dos fornecedores que apresentam a certificação é de 75% a 100% (organização “C”). Parte 14 - melhoria na relação com os funcionários Em todas as organizações observou-se que os funcionários passaram a expressar mais orgulho de seu trabalho, bem como houve melhoria na relação da organização com os seus funcionários a partir da certificação. Porém, somente em duas delas notou-se menor rotatividade dos mesmos. Tal fato pode revelar que somente a implementação de um SGA não garante a satisfação e o desempenho máximo dos funcionários. Parte 15 - melhoria nas relações com outros detentores de interesses No que tange às relações com outras partes interessadas, todas as organizações afirmaram que os grupos ambientais locais controlam suas ações relativas ao meio ambiente, e constataram haver melhoria na relação com a comunidade onde operam. Parte 16 - melhoria na imagem pública A melhoria da imagem pública, como já esperado, foi observada por todas as organizações, por meio do recebimento de elogios da comunidade (formais ou informais) pela sua certificação, por suas ações ambientais e pela imagem da organização estar mais associada (sob o ponto de vista da comunidade) ao cuidado com o meio ambiente, sendo que duas delas afirmaram que essa melhoria foi muito significativa. Parte 17 - degrau para o desenvolvimento sustentável Todas as organizações concluíram que estão caminhando para um desenvolvimento sustentável, e no seu conceito acerca de sustentabilidade, todas apresentaram ideias semelhantes, as quais são: a preservação dos recursos naturais para atender gerações futuras, a garantia de lucro para os acionistas e colaboradores e a melhoria contínua do desempenho ambiental. Parte 18 - ganhos alcançados e não alcançados 87 Sobre os ganhos alcançados a partir da certificação NBR ISO 14001, a organização “A” cita que no ano de 2009 foi premiada por alcançar a menor emissão de CO₂ por tonelada de produto, atribuindo esse resultado ao contínuo comprometimento da indústria em reduzir o consumo de combustíveis fósseis, à intensificação da utilização de combustíveis alternativos e matéria-prima, além da melhoria contínua dos seus processos, intensificando a eficiência energética e a redução de perdas. A organização “B” notou melhorias na segurança e nos processos, bem como a redução de desperdícios, a maior organização das áreas, o maior orgulho dos colaboradores e o atendimento à legislação. De semelhante modo, a organização “C” relata que, com a certificação ambiental, o controle aplicado sobre a interação dos seus processos com o meio ambiente foi sistematizado e que todos os aspectos e impactos ambientais estão mapeados e gerenciados com o objetivo de melhoria contínua no desempenho desse quesito, o que já era esperado, pois sem a determinação dos processos e suas interações não é possível certificar o SGA. A organização “D”, com uma visão mais econômica que o SGA lhe trouxe, afirmou que está mais competitiva no mercado em que atua. A organização “B” foi a única das quatro organizações que afirmou não ter alcançado alguns resultados que eram esperados, relatando que ainda existem poucos clientes que estão interessados nas questões ambientais dos produtos que adquirem, mas que nos últimos dois anos esta postura está mudando consideravelmente. Os dados revelam que três das quatro organizações não apresentaram respostas a este item, o que pode significar que todos os ganhos esperados foram alcançados por estas, ou esta foi uma questão simplesmente não respondida. Considerando-se o significativo volume de informações oriundas da pesquisa realizada, a tabela 5 e as figuras 8, 9, 10 e 11 a seguir retratam, de forma sumarizada, os resultados alcançados pelas organizações pesquisadas, a partir do momento que conquistaram a certificação NBR ISO 14001: 88 Tabela 5 - Avaliação dos benefícios observados por cada uma das organizações a partir da certificação NBR ISO 14001 Parte Benefício Avaliação Organização A Avaliação Organização B Avaliação Organização C Avaliação Organização D 2 acesso ao mercado MS SMOD SMOD MS 3 gestão de conformidade SMOD MS MS SMOD 4 incentivos reguladores SMOD MS INS SMOD 5 responsabilidade e do risco MS MS MS SMOD 6 acesso ao seguro MS MS SMOD INS 7 acesso ao capital de baixo custo INS INS INS SMOD 8 eficiência do processo MS NINF MS MS 9 desempenho ambiental SMOD SMOD MS SMOD 10 gestão global MS SMOD MS MS 11 redução de custos/aumento de receita SMOD SMOD INS NINF 12 relações com os clientes MS SMOD SMOD MS 13 relação com os fornecedores SMOD INS SMOD MS 14 relação com os funcionários SMOD MS MS SMOD 15 relações com outros detentores de interesses MS MS MS SMOD 16 imagem pública SMOD MS MS SMOD 17 desenvolvimento sustentável MS MS MS MS LEGENDA: MS – muito significativo; SMOD – de significância moderada; INS – insignificante; NINF – não informado 89 Figura 9 – Grau de avaliação dos benefícios observados pela organização “A” a partir da certificação NBR ISO 14001 A figura 9 mostra que a organização A afirmou ter avaliado a melhoria de 50% dos benefícios como muito significativa, 44% como de significância moderada e 6% como insignificante. Figura 10 – Grau de avaliação dos benefícios observados pela organização “B” a partir da certificação NBR ISO 14001 90 A figura 10 mostra que a organização B afirmou ter avaliado a melhoria de 54% dos benefícios como muito significativa, 33% como de significância moderada e 13% como insignificante. Figura 11 – Grau de avaliação dos benefícios observados pela organização “C” a partir da certificação NBR ISO 14001 A figura 11 mostra que a organização C afirmou ter avaliado a melhoria de 56% dos benefícios como muito significativa, 25% como de significância moderada e 19% como insignificante. Figura 12 – Grau de avaliação dos benefícios observados pela organização “D” a partir da certificação NBR ISO 14001 91 A figura 12 mostra que a organização D afirmou ter avaliado a melhoria de 40% dos benefícios como muito significativa, 53% como de significância moderada e 7% como insignificante. Analisando os gráficos acima mostrados de forma a relacionar a porcentagem de melhoria “muito significativa” e “insignificante”, pode-se verificar que a organização que obteve melhor resultado quanto aos benefícios analisados neste trabalho, foi a organização A, e a organização que teve o pior resultado foi a organização D. Considerando-se o grande número de aspectos avaliados e a consequente dificuldade de uma avaliação conjunta dos mesmos, a tabela 5 a seguir retrata, de forma sintética, os benefícios alcançados pelas organizações a partir da certificação NBR ISO 14001. Ressalta-se que os referidos benefícios foram relacionados com as constatações das organizações quanto a eles, podendo ser estas muito significativa, de significância moderada ou insignificante, onde muito significativa representa resposta positiva na maioria das questões do item, de significância moderada representa pelo menos uma resposta positiva no item e insignificante representa nenhuma resposta positiva no item. Ainda para uma melhor avaliação numérica dos resultados, foi calculada uma média para cada parte do questionário. Para se obter essa média, foi 92 atribuído o número 3(três) para muito significativo, o número 2(dois) para significância moderada e o número 1(um) para insignificante. Assim, a partir dos resultados da tabela 5, foi feita a atribuição de valores e calculada a média demonstrada na tabela 6. Vale ainda ressaltar que o arredondamento foi feito da seguinte forma: média até a casa decimal de 0,49 foi arredondada para baixo e a partir da casa decimal 0,50 foi arredondada para cima. Assim, a tabela abaixo é resultado da síntese de todos os aspectos verificados em cada parte do questionário. Tabela 6 – Avaliação dos benefícios observados pelas organizações a partir da certificação NBR ISO 14001 Parte Benefício Avaliação pelas organizações Média 2 acesso ao mercado MS 2,5 3 gestão de conformidade MS 2,5 4 incentivos reguladores SMOD 2,0 5 responsabilidade e do risco MS 2,8 6 acesso ao seguro SMOD 2,3 7 acesso ao capital de baixo custo INS 1,3 8 eficiência do processo MS 3,0 9 desempenho ambiental SMOD 2,3 10 gestão global MS 2,8 11 redução de custos/aumento de receita SMOD 1,7 12 relações com os clientes MS 2,5 13 relação com os fornecedores SMOD 2,3 14 relação com os funcionários MS 2,5 15 relações com outros detentores de interesses MS 2,8 16 imagem pública MS 2,5 17 desenvolvimento sustentável MS 3,0 LEGENDA: MS – muito significativo; SMOD – de significância moderada; INS – insignificante 93 Mediante a observação da tabela 4, nota-se que 10 dos 16 benefícios citados por Harrington e Knight (2001) foram altamente significativos nas organizações, 5 foram parcialmente significativos e apenas um não foi significativo nas organizações, o qual foi a melhoria no acesso ao capital de baixo custo. A figura 13 a seguir expressa melhor visualização desses dados: Figura 13 – Percentual relativo ao grau de avaliação dos benefícios observados pelas organizações a partir da certificação NBR ISO 14001 Observando a figura 13, pode-se notar a grande parte dos benefícios alcançados com muita significância pelas organizações a partir da certificação NBR ISO 14001, os quais representam 63% dos 16 benefícios preconizados, e a pequena parcela dos benefícios não alcançados, que representam apenas 6%. 94 6 CONCLUSÕES Algumas bibliografias, como o caso de Harrington e Knight (2001), anunciam diversos benefícios da implementação do SGA. O conhecimento sobre o real alcance desses benefícios auxilia as organizações que estão em dúvida sobre a implementação do sistema, tendo em vista que este utiliza de recursos financeiros e humanos para sua execução. Assim, a intensa evolução da dinâmica organizacional, exige que, constantemente, estes benefícios sejam verificados e principalmente particularizados, considerando regiões menores e segmentos empresariais específicos, para que representem mais fielmente a realidade de grupos determinados. Portanto, este trabalho pesquisou os benefícios em 16 diferentes abrangências nas organizações de engenharia civil e suas fornecedoras certificadas com a NBR ISO 14001 na cidade de Curitiba-PR. Os benefícios afirmados pelos autores acima citados foram quase na sua totalidade comprovados, ou seja, a maior parte dos benefícios foram confirmados, ainda que com intensidades diferentes em alguns itens. Após a apresentação e interpretação dos resultados no item anterior, nesta etapa faz-se comparações e conclui-se sobre as afirmações e as efetivas respostas dadas pelas organizações, comparações estas que apresentam-se a seguir: - sobre o acesso ao mercado era afirmado que ter o SGA poderia ser précondição para se fazer negócios, o que de fato foi comprovado quando as organizações afirmaram ter fechado negócio onde a certificação era exigida e ainda terem obtido intensificação nas transações comerciais; - sobre a gestão de conformidade era afirmado que o SGA é uma garantia de sistematização e documentação que demonstra a gestão de conformidade reguladora, o que efetivamente foi verificado pelas organizações, quando estas pontuaram a melhoria na administração de regras ambientais impostas por leis e regulamentos como de significância moderada ou de muita significância (50% das organizações para cada pontuação); - sobre os incentivos reguladores era afirmado que após a implementação do sistema a organização notaria incentivos por parte dos órgãos competentes 95 como: inspeções menos frequentes, aprovações, atenuação de multas e penalidades e menos rigor na avaliação de relatórios, sendo que os incentivos efetivamente notados foram somente as inspeções com menos frequência e a redução no número de multas ambientais; - sobre a redução da responsabilidade e do risco era afirmado que o SGA garantiria a identificação e administração sistemática do risco e da responsabilidade ambiental, o que foi totalmente verificado pelas organizações, pois nenhuma provocou acidente ambiental após a certificação, além de afirmarem que a melhoria na prevenção de acidentes e atendimentos a emergências foi muito significativa; - sobre o melhor acesso ao seguro era afirmado que a obtenção do SGA poderia facilitar o processo de aquisição do seguro e também poderia diminuir seu custo, além de influenciar a maneira na qual as seguradoras tratam as organizações de pequeno e médio porte, dando mais credibilidade a elas. Essas afirmações foram comprovadas quando as organizações na sua maioria confirmaram ter tido facilitações na aquisição e/ou renovação do seguro e metade delas afirmaram ter redução no custo do seguro; - sobre o melhor acesso ao capital de baixo custo era afirmado que o SGA poderia dar à organização mais acesso ao capital de baixo custo, podendo até tornar-se uma condição para investimentos. Este benefício praticamente não foi verificado pelas organizações pesquisadas, pois nenhuma delas obteve maior prazo nos créditos ou resposta mais rápida no pedido de crédito e somente uma delas obteve redução nas taxas de crédito; - sobre a melhoria na eficiência do processo era afirmado que, como o SGA exige um comprometimento com a prevenção a poluição, isso iria possibilitar a reavaliação dos processos, bem como suas matérias-primas e tecnologias. Esse benefício de fato foi bem representativo para as organizações, principalmente nos seus processos de produção, que pela pesquisa pôde-se notar que foi onde ocorreu o maior enfoque do sistema; - sobre a melhoria no desempenho ambiental era afirmado que o SGA conduz a organização para as melhorias no desempenho ambiental, pois o sistema leva a organização a tratar suas questões de forma sistemática e positiva, 96 dando sempre enfoque para a melhoria contínua. Essa melhoria no desempenho ambiental foi moderadamente significativa para as organizações pesquisadas, o que pode significar o não amadurecimento do sistema ou uma expectativa muito acima da verificada; - sobre a melhoria na gestão global era afirmado que nas organizações onde as práticas de gestão são menos sofisticadas, uma abordagem sistemática, tal qual é estabelecida na NBR ISO 14001, pode influenciar de forma positiva as outras questões-chave da organização, e nas organizações quanto às relações com fornecedores e clientes, uma abordagem sistemática e documentada pode gerar maior estabilidade e maior confiança. Esse benefício foi amplamente verificado pelas organizações, pois todas notaram a influência do SGA em outros setores da organização que não fossem diretamente ligados às questões ambientais, e a maioria delas notou a sistematização de processos que não envolvem somente as questões ambientais; - sobre a redução de custo/aumento de receita era afirmado que países altamente desenvolvidos mostraram mais eficiência nos processos, o que significa aumento de competitividade, diminuição dos custos de produção e aumento da receita e da lucratividade. Como a pesquisa foi realizada com organizações em um país em desenvolvimento, esse era um benefício no qual não era esperado grande retorno. Em vista disso, os resultados foram muito positivos, pois duas das quatro organizações afirmaram ter redução nos custos entre 10% e 30% (as outras duas não revelaram os dados), porém, somente uma delas obteve aumento de receita com o mesmo percentual da redução de custos, o que também estava dentro do previsto, já que esta era uma questão que as pesquisadoras esperavam menor confiabilidade nas respostas, pois muitas organizações não revelam esses dados; - sobre a melhoria na relação com os clientes era afirmado que, como estes possuem uma série de expectativas em relação à qualidade do produto, do serviço e também em relação ao preço, eles podem exigir que seus fornecedores atendam a certos critérios ambientais específicos. Desse modo, o SGA é a garantia do atendimento a essas exigências, o que foi verificado de fato pelas organizações, pois todas afirmaram que após a 97 certificação perceberam aumento na preocupação dos clientes quanto às questões ambientais e duas das quatro organizações conseguiram "resgatar" algum cliente que haviam perdido justamente pela falta da referida certificação; - sobre a melhoria na relação com os fornecedores era afirmado que os fornecedores que possuem certa política ambiental beneficiam seus fornecidos com a melhoria de seu produto e/ou serviço. Essa melhoria não foi tão significativa, pois somente uma organização firmou novos contratos de fornecimento, antes não atendidos pela falta da certificação, e também apenas uma organização passou a exigir de seus fornecedores a certificação. Isso pode significar que nessa relação organização e fornecedor não haja ainda a forte exigência da certificação; - sobre a melhoria na relação com os funcionários era afirmado que o SGA poderia significar um orgulho ao funcionário e o motivaria mais no trabalho, isso devido ao sistema visar o constante treinamento e capacitação dos funcionários e a sistematização dos procedimentos. Essa melhoria foi notavelmente verificada pelas organizações, pois todas afirmaram que os funcionários expressam mais orgulho de seu trabalho e metade das organizações constatou redução na sua rotatividade, sendo que a melhoria na relação da alta administração com os funcionários foi moderadamente significativa ou muito significativa. - sobre a melhoria nas relações com outros detentores de interesses era afirmado que a boa relação da organização com a comunidade onde opera, assim como com grupos ambientais e acadêmicos, significa influência direta na preferência do comprador, e o SGA poderia garantir e melhorar essa relação. Essa melhoria foi altamente notada pelas organizações, que afirmaram em sua totalidade que os grupos ambientais locais acompanham e controlam as ações da organização relativas ao meio ambiente após a certificação. Ainda, a melhoria na sua relação com as comunidades onde operam foi no total muito significativa. - sobre a melhoria na imagem pública era afirmado que a organização após a sua certificação e demonstração de melhoria do desempenho ambiental seria vista de forma mais positiva pela mídia, comparada com outras organizações que não possuem a certificação. Assim, todas as organizações passaram a receber elogios da comunidade por sua certificação e notaram que a imagem da 98 organização está mais associada (sob o ponto de vista da comunidade) ao cuidado com o meio ambiente, constatando-se que a melhoria da imagem das organizações (sob o ponto de vista da opinião pública) foi muito significativa. - sobre a certificação significar um degrau para o desenvolvimento sustentável era afirmado que sob a perspectiva de política pública, um SGA eficiente é um passo no caminho para o desenvolvimento sustentável, deixando o caminho mais fácil para o alcance da sustentabilidade. Esse benefício foi verificado por todas as organizações, que afirmaram que o SGA faz com que a organização caminhe para esse desenvolvimento sustentável. Por fim, fazendo uma análise global dos resultados e buscando relações diretas entre os benefícios, pode-se notar forte correlação entre itens, como gestão da conformidade, incentivos reguladores e redução da responsabilidade e do risco, ainda entre melhoria na relação com os clientes e a melhoria na imagem pública. Os três primeiros benefícios compartilham das questões ligadas às ações preventivas e corretivas do SGA e dois últimos apresentam uma correlação já esperada, pois quem avalia a imagem da organização são os clientes, e, havendo melhoria na relação destes com a organização, esta, consequentemente, terá sua imagem melhor avaliada. No entanto, também foi identificada a ausência de uma correlação que era esperada, mas não se apresentou, esta foi entre os itens de melhoria na eficiência do processo e a redução de custos/aumento da receita, visto que o processo de produção pode ser considerado o coração da organização e todos os esforços são direcionados a ele. No entanto, nesta pesquisa, notou-se uma grande melhoria na eficiência do processo e somente uma moderada redução nos custos e aumento da receita, o que pode ter sido decorrente da falta de maturidade das organizações brasileiras quanto à sua relação econômico-ambiental. Quando a organização implementa o SGA, são geradas expectativas quanto à esse investimento. Sintetizando os ganhos esperados e alcançados pelas organizações, pode-se concluir que são basicamente duas as principais expectativas: a melhoria na imagem pública e a melhoria na eficiência do processo. A primeira fortemente ligada à manutenção e obtenção de clientes e a 99 segunda é dada pela exigência do alto investimento na modificação dos processos, às vezes para o atendimento aos requisitos do SGA. Uma questão também colocada para as organizações foi quanto aos ganhos esperados mas não alcançados. Nessa questão, somente uma organização forneceu resposta, onde afirma que ainda existem poucos clientes que estão interessados nas questões ambientais dos produtos que adquirem, mas reconhece que esta postura está mudando e que percebeu aumento na preocupação dos clientes quanto às questões ambientais. Assim, pode-se concluir que o benefício que gerou grande expectativa mas não foi tão significativo para esta organização foi a melhoria na relação com os clientes. Finalmente, fazendo-se uma análise sobre as questões objetivas da pesquisa, verificou-se que somente um benefício não foi observado pelas organizações, que foi a melhoria no acesso ao capital de baixo custo, sendo que nesta questão foram analisados o maior prazo nos créditos, a obtenção de resposta mais rápida ao pedido de crédito e a obtenção de taxas de crédito mais baixas, onde somente neste último item apenas uma das quatro organizações afirmou resposta positiva. Tal fato talvez pode ser explicado pelos bancos e financeiras ainda não estarem colocando a questão ambiental como exigência nos seus empréstimos e financiamentos. 100 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES A implementação da NBR ISO 14001 – norma de sistema de gestão ambiental é uma alternativa real, tangível e cada vez mais utilizada por organizações de todo o mundo para aprimorar e controlar suas atividades, de forma a gerenciar melhor seus riscos ambientais. Acredita-se que isso gera maior produtividade e, consequentemente, maior competitividade para as organizações, em função da modernização de projetos e processos, da redução do desperdício de materiais, da emissão de resíduos e gases poluentes e do número de ocorrências de multas ambientais. Através dos resultados obtidos por esta pesquisa, espera-se contribuir com os gestores, para que estes reavaliem seus conceitos ambientais, adotando a NBR ISO 14001 e, por sua vez, tornarem o sistema gestão ambiental uma estratégia empresarial efetiva, passando a agir de forma ambientalmente adequada dentro e fora da organização, visto que foi observado, através dos contatos com as organizações pesquisadas, que essa ideia de responsabilidade ambiental declarada ainda não é totalmente verdadeira e eficaz. No entanto, cabe lembrar que este trabalho possui algumas limitações, como o número reduzido de entrevistados, justamente pelo estado do Paraná ter um número pouco significativo de organizações certificadas no setor de construção civil e sua cadeia de fornecedores, e o fato de que os questionários enviados foram respondidos pelos responsáveis do sistema de gestão ambiental nas organizações estudadas. Este alto grau de envolvimento com o sistema pode influenciar, apesar do anonimato, a isenção das respostas. Contudo, são esses profissionais que têm uma visão geral e maior conhecimento sobre os SGAs. Ainda, dentre os maiores desafios encontrados neste projeto, foi exigido das pesquisadoras uma percepção além do que os números poderiam afirmar; assim, foi necessário um grande aprofundamento sobre o assunto, o que permitiu um maior embasamento teórico na interpretação dos resultados. Levando-se em consideração essa percepção além dos números obtidos na pesquisa, e analisando a parte 8 do questionário – Melhoria da eficiência do processo, na qual as empresas deveriam citar indicadores ambientais que 101 apresentaram evolução, regressão ou que não apresentaram evolução nem regressão, percebeu-se que ainda não há um mapeamento completo das atividades das organizações, em função das respostas dadas pelas mesmas, nas quais foi citado um número muito menor de indicadores do que o esperado pelas pesquisadoras. Isso deve-se, talvez, pelo fato do SGA ser muito recente nas organizações e, portanto, ainda pouco “maduro”, lembrando que essas constatações não advém de dados científicos e, sim, da análise da pesquisa como um todo. Sendo assim, acredita-se que a partir do momento que o SGA for ganhando “maturidade” ao longo do tempo, a quantidade dos indicadores será maior e, desse modo, os mesmos serão mais bem monitorados, revelando de forma mais segura a eficiência do processo nas organizações. Outro aspecto que é importante salientar é a redução dos custos/aumento da receita que, como já discutido, não atingiram valores muito significativos. Também pode-se inferir que a “imaturidade” dos SGA`s explica tal fato, uma vez que esses benefícios podem ser considerados, portanto, benefícios de médio a longo prazo. Seguindo a mesma linha, constatou-se, por fim, que a implementação da NBR ISO 14001 realmente traz benefícios às organizações, entretando, devido ao fato dos seus sistemas de gestão ambiental serem relativamente recentes, esses benefícios ainda não são alcançados efetivamente em seu potencial pleno, situação que possivelmente mudará com a manutenção e melhoria contínua dos SGA`s, além da contínua conscientização por parte dos gestores e funcionários em relação às questões ambientais das organizações. Segue assim algumas recomendações para novas pesquisas sobre o assunto: - abranger um número maior de entrevistados, expandindo a pesquisa a nível nacional, se o questionário for enviado por e-mail ou se os pesquisadores disponibilizarem de tempo suficiente para visitas; - se possível visitar as organizações para verificar questões relativas aos indicadores ambientais dos processos declarados. 102 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. <http://www.abnt.org.br/> Acesso em: 16.04.2010 AGENDA 21. Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e desenvolvimento do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1992. Disponível em <http://www.ecolnews.com.br/agenda21> Acesso em: 13.12.2010 AIUB, Msc George W. Plano de Negócios: “Apostila”. São Paulo, 2006. Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/13145463/Apostila-Plano-de- Negocios> Acesso em: 22.04.2010 ALMEIDA, M. I. R. 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