18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015.
ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: PERSPECTIVAS NA ASSISTÊNCIA EM
ENFERMAGEM
Lais Vasconcelos Santos1
Adylla Maria Alvez de Carvalho2
Mikael Lima Brasil3
Ueigla Batista da Silva4
Jéssica Oliveira Rodrigues5
1
Relatora. Discente do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG,
Campina Grande (PB), Brasil. E-mail: [email protected]
2
Discente do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, Campina
Grande (PB), Brasil. E-mail: [email protected]
3
Discente do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, Campina
Grande (PB), Brasil. E-mail: mikael_cpc@hotmail.
4
Discente do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, Campina
Grande (PB), Brasil. E-mail: [email protected]
5
Enfermeira graduada pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, Campina Grande
(PB), Brasil. E-mail: [email protected]
RESUMO
Introdução: No tocante a Reforma Psiquiátrica em curso no cenário brasileiro, é
notório que estamos passando por diversas transformações no modelo de atenção
em saúde mental, sendo estruturadas estratégias que visam à inclusão social, com o
fortalecimento da cidadania e ampliação da autonomia dos portadores de
transtornos mentais. Objetivo: refletir, a partir da literatura, aspectos positivos da
assistência de enfermagem na atenção psicossocial. Metodologia: trata-se de uma
revisão sistemática da literatura, de natureza exploratória. O material foi coletado no
primeiro semestre de 2015. Utilizou-se a Biblioteca Virtual de Saúde (BVS),
adotando-se os descritores: “saúde mental”, “assistência de enfermagem”, “atenção
psicossocial”. Os critérios adotados foram: artigos científicos em português, inglês e
espanhol que abordassem nas pesquisas o cenário brasileiro, não havendo recorte
temporal para seleção. Foram excluídos os que não abordaram os profissionais de
enfermagem e as duplicidades. Atendendo a tais critérios, alcançou-se uma seleção
de 41 artigos. As publicações escolhidas receberam leitura crítica dos títulos e
resumos, alcançando uma amostra final de 10 artigos. Esses receberam leitura
analítica. Resultados e Discussões: Para a organização dos achados deste
estudo, optou-se por desenvolver o texto dividindo em duas categorias, a saber:
“Assistência em enfermagem no âmbito da saúde mental: As Lacunas emergidas na
prática” e “Mudar é preciso: Tendências e reflexões necessárias”. Considerações
Finais: Foi observado que, no contexto da atenção psicossocial brasileira, existem
distintas lacunas que convergem para práticas marcadas pelo modelo manicomial.
Faz-se necessário, principalmente da equipe de enfermagem, a quebra de
paradigmas para impulsionar um acolhimento mais integral. Logo, para desenvolver
uma assistência mais resolutiva e humanizada, é preciso viabilizar a educação como
prática aliada à saúde, tendendo a sensibilizar a transformação e melhora da
qualidade da assistência prestada nos serviços de saúde por profissionais de
enfermagem.
DESCRITORES: Atenção Psicossocial. Assistência em Enfermagem. Saúde Mental.
18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015.
INTRODUÇÃO
No contexto da Reforma Psiquiátrica no cenário brasileiro, Correia, Barros e
Colvero (2011) colocam que estamos passando por diversas transformações no
modelo de atenção em saúde mental, sendo estruturadas estratégias que visam à
inclusão social, com fortalecimento da cidadania e ampliação da autonomia dos
portadores de transtornos mentais. Em virtude deste movimento, no ano de 2001 foi
promulgada, após 12 anos de tramitação no Congresso Nacional, a Lei Federal nº
10.216, também conhecida como Lei Paulo Delgado ou Lei da Reforma Psiquiátrica
(ESPERIDIAO et al., 2013).
A
política
nacional
de
saúde
mental
possui
como
base
a
desinstitucionalização, baseando-se no deslocamento da atenção ao portador de
transtorno mental dentro de instituições fechadas para estratégias extra-hospitalares
que atendam às necessidades dos usuários, dos seus familiares e da comunidade,
sempre valorizando a manutenção dos vínculos sociais (ESTEVAM, 2011).
Para atender a esta lógica, foi instituída, em 2011, na esfera do Sistema
Único de Saúde (SUS), por meio da Portaria nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011,
a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) com o intuito de colher as pessoas em
sofrimento psíquico (BRASIL, 2011). Assim, as ações em saúde mental devem
acontecer em rede na lógica da integralidade nos diversos níveis de atenção à
saúde, articulando-se com outras políticas sociais, valorizando os setores da cultura,
educação, trabalho, assistência social, dentre outros (CLEMENTE; LAVRADOR;
ROMANHOLI, 2013).
Nesta direção, Souza et al. (2007) reforçam que, com a redução progressiva
dos leitos em hospitais psiquiátricos, há o fortalecimento da rede extra-hospitalar
com implementação dos serviços substitutivos como: Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS), Unidades Psiquiátricas em Hospitais Gerais (UPHG) e
Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs). Entretanto, estas mudanças têm
encontrado obstáculos para superar o modelo biomédico e hospitalocêntrico no
campo da saúde mental (CORREIA; BARROS; COLVERO, 2011).
No tocante a enfermagem psiquiátrica brasileira, essa profissão teve
representantes presentes nesse processo de transformação, discutindo as
possibilidades de avanços e contradições atuais encontradas na área da saúde
mental, assim como, debatendo os rumos da formação profissional dos que
18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015.
trabalham nesta área, pois os mesmos são parceiros na melhoria da qualidade da
assistência (MUNARI et al., 2008).
Todavia,
a
prática
efetiva
da
equipe
de
enfermagem
centra-se,
principalmente, no desenvolvimento de atribuições burocrático-administrativas, em
benefício do "agir terapêutico", o que nos leva a observar que são eles os que
menos realizam atendimentos diretos aos usuários dos serviços e apresentam
dificuldade na utilização de tecnologias leves, que compõe o cuidado (ESPERIDIAO
et al, 2013).
Nesta direção, fazem-se necessárias, frente às mudanças paradigmáticas na
compreensão da saúde mental, transformações no conjunto de saberes da
enfermagem (BARROS; EGRY, 1994). É o que afirmam Souza et al. (2007), ao
colocarem que a não formação específica ou a falta de atualizações dentro da área
de Saúde Mental podem vir a tornar-se um complicante, dificultando desta forma o
acompanhamento das mudanças que a Reforma Psiquiátrica propõe em níveis
nacional, estadual e municipal.
Diante deste cenário, é preciso que ocorra a ruptura do paradigma que
caracteriza a doença de forma reducionista, com enfoque exclusivamente biológico.
Assim, necessita-se a revisão do processo de qualificação profissional, pois irá
instrumentalizar os enfermeiros para intervenções em saúde mental com estratégias
multiagente e multiprofissional (BARROS E EGRY,1994).
Sendo assim, deve-se alcançar a sensibilização dos profissionais por meio de
reflexões de conteúdos voltados a humanização da assistência, compromisso,
aceitação, solidariedade, julgamento, respeito, liberdade e responsabilização que
devem ser voltadas aos preceitos do novo modelo assistencial, que se estende ao
atendimento básico de saúde, e envolvem o usuário, familiares e comunidade
(SOUZA et al., 2007).
Logo, este estudo pretende refletir, a partir da literatura, aspectos positivos da
assistência de enfermagem na atenção psicossocial.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão sistemática da literatura, de natureza exploratória.
De acordo com Minayo (2008) levantamento teórico aproxima-se da abordagem
18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015.
qualitativa, tendo em vista a interpretação e análise dos dados obtidos por meio da
investigação bibliográfica realizada.
Este estudo partiu da seguinte pergunta de pesquisa: Quais as perspectivas
na assistência de enfermagem na atenção psicossocial?
O material foi coletado no primeiro semestre de 2015. Utilizou-se a Biblioteca
Virtual de Saúde (BVS), adotando-se os descritores: “saúde mental”, “assistência de
enfermagem”, “atenção psicossocial” e usado o operador booleano and. Foram
selecionadas as publicações que atendiam aos seguintes critérios: artigos científicos
em português, inglês e espanhol que abordassem nas pesquisas o cenário
brasileiro, não havendo recorte temporal para seleção. Foram excluídos os que não
abordaram os profissionais de enfermagem e as duplicidades. Atendendo tais
critérios, alcançou-se uma seleção de 41 artigos, distribuídos nas seguintes bases
de dados: LILACS (16), BDENF-Enfermagem (14) e MEDLINE (11).
As publicações escolhidas receberam leitura crítica dos títulos e resumos,
sendo selecionados apenas os artigos pertinentes ao estudo, compondo a amostra
final 10 artigos, apresentados no quadro 1.
Quadro 1:
ARTIGO
Relação dos artigos que compõem a amostra deste estudo.
AUTORES
TITULO
ANO DE
PUBLICAÇÃO
A1
Esperidião, E.; Silva,
N.S.; Caixeta, C.C.;
Rodrigues, J.
A Enfermagem
Psiquiátrica, a ABEn
e o Departamento
Científico de
Enfermagem
Psiquiátrica e Saúde
Mental: avanços e
desafios
A2
Souza, A.J.F.; Matias,
G.N.; Gomes,
K.F.A.; Parente,A.C.M.
A saúde mental no
Programa de Saúde
da Família
2007
A3
Oliveira, R.M.P.
Enfermagem
psiquiátrica:
discursando o ideal
e praticando o real
2010
A4
Silva, N.S.; Esperidião,
Desenvolvimento de
2013
2013
OBJETIVO
Contextualizar a
Enfermagem
Psiquiátrica e a
Saúde Mental no
Brasil, considerando
os principais marcos
históricos, políticos e
sociais que
influenciam o cuidado
de enfermagem
nessa área.
Identificar a formação
e as ações do
enfermeiro em Saúde
Mental (SM), no PSF.
A testagem de um
modelo teórico
inovador que oriente
o cuidado da
enfermeira psiquiatra,
em uma instituição
psiquiátrica de
internação hospitalar,
no município de
Paracambi/Rio de
Janeiro
Compreender os
18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015.
S; Cavalcante, A.C.G.;
Souza, A.C.S.; Silva,
K.K.C.
recursos humanos
para atuar nos
serviços de saúde
mental
Demandas de
autocuidado em
grupo terapêutico:
educação
Em saúde com
usuários de
substâncias
psicoativas
2013
Projeto copiadora do
caps Luis Cerqueira:
do trabalho de
Reproduzir coisas â
produção de vida1
2002
Rocha, R.M.
O enfermeiro na
equipe
interdisciplinar do
centro de atenção
psicossocial e as
possibilidades de
cuidar
2005
A8
Kirschbaum, D.I.R;
Rosa, TM
Os trabalhadores de
enfermagem como
acompanhantes
terapêuticos de um
centro de atenção
psicossocial
2003
A9
Brêda, M.Z.; Rosa,
W.A.G.; Pereira, M.A.O.;
Scatena, M.C.M.
Duas estratégias e
desafios comuns: a
reabilitação
Psicossocial e a
saúde da família
2003
A5
A6
A7
Vasconcelos, S.C.;
Frazão, I. S.;
Vasconcelos, E.M.R.;
Cavalcanti, A.M.T.S.;
Monteiro, E. M. L.M.;
Ramos, V.P.
Silva, A.L.A.; Fonseca,
R.M.G.S.
aspectos
relacionados à
formação e
capacitação dos
profissionais que
atuam nos serviços
de saúde mental no
interior do Estado de
Goiás, Brasil, sob o
ponto de vista dos
coordenadores destes
serviços.
compreender as
contribuições do
Grupo Terapêutico
Educação em Saúde
para a identificação
das
demandas
terapêuticas de
autocuidado entre
usuários de
substâncias
psicoativas.
Compreensão da
prática
desenvolvida no
Centro de Atenção
Psicossocial Prof.
Luis da Rocha
Cerqueira, da
Secretaria de Estado
da
Saúde de São Paulo.
Aprofundar o
conhecimento sobre a
inserção do
enfermeiro na equipe
interdisciplinar do
Centro de Atenção
Psicossocial,
considerando que
essa inserção se
reflete em suas
possibilidades de
cuidar do cliente.
analisar a atuação de
auxiliares de
enfermagem como
acompanhantes
terapêuticos do
Centro de Atenção
Psicossocial do
município de
Campinas-SP
Refletir sobre as
Estratégias de Saúde
da Família (ESF) e de
Reabilitação
Psicossocial.
18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015.
A10
Argiles, C.T.L.;
Luciane Prado
Kantorski, L.P.; 1
Willrich, J.Q.;
Antonacci, M. H.;
Coimbra, V.C.C.
Redes de
sociabilidade:
construções a partir
do serviço
residencial
terapêutico
2013
Conhecer a rede de
sociabilidade dos
usuários
do serviço residencial
terapêutico de
Alegrete/RS,
a partir de um estudo
de caso.
Os trabalhos que compõem a amostra receberam leitura analítica. As
informações condizentes com objeto deste estudo foram coletadas e organizadas
por categoria. Para analise dos dados adotou-se a literatura pertinente a temática.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para a organização dos achados deste estudo, optou-se por desenvolver o
texto dividindo em duas categorias, a saber: “Assistência em enfermagem no âmbito
da saúde mental: As Lacunas emergidas na prática” e “Mudar é preciso: Tendências
e reflexões necessárias”.
Assistência em enfermagem no âmbito da saúde mental: As Lacunas
emergidas na prática
Os serviços da atenção psicossocial visam um trabalho interdisciplinar, sendo
necessária a presença dos variados profissionais que devem exercer as ações que
lhes são próprias, bem como funções comuns, valorizando-se aí a utilização de
diferentes técnicas e a integração de diferentes saberes (ROCHA, 2005).
No tocante a(o) enfermeira(o), seu papel na assistência a saúde mental deve
oportunizar as ações terapêuticas para identificar e auxiliar na recuperação das(os)
usuárias(os) em sofrimento psíquico, possibilitando a reabilitação das capacidades
físicas e mentais, e respeitando as limitações e direitos (JORGE et al., 2006). Para
tanto, essas relações terapêuticas exigem dessa/desse profissional iniciativa,
criatividade e diferentes modos de assistir (VILELA; MORAES, 2008).
Face ao trabalho da(o) enfermeira(o), deparou-se nas publicações analisadas,
com lacunas emergidas nos distintos serviços de saúde, a qual prevaleceram:
marcas do modelo psiquiátrico, assistência medicalizada, tecnicista, dificuldade de
18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015.
assistir em equipe horizontal; falta de conhecimento e preparo para assistir usuários
em sofrimento psíquico. Como pode-se observar nos seguintes estudos:
[...] atribuições dos enfermeiros voltadas para o âmbito individual e
bastante próximo das atividades executadas em ambiente hospitalar
psiquiátrico, valorizando ainda o tratamento farmacológico. A1
Ações voltadas às atividades assistenciais de natureza técnica, tais
como verificação de sinais vitais, medidas de higiene e conforto,
além da administração de medicamentos ainda prevalecem entre os
cuidados de enfermagem nos serviços especializados em saúde
mental [...] A4
[...] os profissionais ainda encontram dificuldades na implementação
das atuais políticas. A2
[...] percebe-se o desconhecimento da equipe de enfermagem a
respeito do papel de outros profissionais na equipe multiprofissional.
A1
[...] a prática dos profissionais em questão vem se configurando
mais como uma intervenção calcada no senso comum, que busca o
treinamento e a aquisição de habilidades por parte do paciente, do
que numa clínica que concebe o usuário como sujeito e objetiva a
criação de narrativas pessoais e novas possibilidades de estar no
mundo. A8
Diante das representações sociais que permeiam a sociedade em que
vivemos, encontram-se marcas nos profissionais de saúde que acabam interferindo
no modo de pensar e assistir. E mesmo com implementação do modelo psicossocial
(que busca desconstruir o pensar e conceber a loucura, e práticas e discursos que
conferem caráter de objeto a mesma) encontram-se relacionado à saúde mental,
vestígios do modelo hospitalocêntrico caracterizado pela superlotação dos
manicômios, maus tratos e exclusão das(os) pacientes (BORBA et al., 2012).
Nesta direção, as atribuições dos profissionais de enfermagem deveriam
incluir atividades terapêuticas objetivando contribuir para as(os) usuárias(os),
atendimentos grupais e o relacionamento interpessoal. Todavia, identifica-se em
serviços que quando essas atividades acontecem não são sistematizadas,
prevalecendo ações de caráter assistencial-tecnicista, o que contrapõe o modelo
psicossocial no que tange a valorização das potencialidades e recuperação da
autonomia do indivíduo em sofrimento psíquico (SILVA et al., 2013).
Conforme Pini; Waidman (2012), os aspectos que dificultam a prática de
enfermagem em saúde mental incluem: falta de conteúdos teóricos e práticos na
18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015.
formação; desconhecimento de referências que contribuem para assistência em
saúde mental, a complexidade do processo intersubjetivo de cuidar do sujeito em
sofrimento psíquico e a privação de supervisão técnica de finalidade terapêutica.
Para Rocha (2005) as dificuldades predominantes são o saber/formação do
enfermeiro para o trabalho em CAPS e a dificuldade em ultrapassar fronteiras a
caminho da integração na equipe interdisciplinar.
Segundo Alves e Oliveira (2010), é notado que os discursos das(os)
enfermeiras(os) estão orientadas(os) para a desconstrução do saber psiquiátrico e
superação das práticas manicomiais, apontando para atividades de relacionamento
interpessoal e trabalho interdisciplinar. Entretanto, suas ações predominam o
modelo organicista, mantendo práticas tradicionais tais quais: triagem e controle,
principalmente medicamentoso dos pacientes em crise.
Também foi percebida uma barreira no serviço em relação à assistência da
família dos usuários dos serviços de atenção psicossocial. Bessa e Waindman
(2013) apontam que existe uma falta de aperfeiçoamento das atividades de
profissionais de enfermagem para familiares, bem como
resolutividade e
embasamento científico.
Face as lacunas encontradas, percebe-se que o rompimento de paradigmas
na atuação dos profissionais de enfermagem se faz necessário juntamente com
adoção de práticas baseadas em evidências cientificas pertinentes ao contexto da
atenção psicossocial.
Mudar é preciso: Tendências e reflexões necessárias
Em meio às barreiras existentes nos serviços de saúde na atenção
psicossocial,
são
encontrados
distintos
cenários,
desses
destacam-se
as
experiências que buscam a quebras de paradigmas e proporcionam mudanças nas
práticas, tais quais:
Projeto Copiadora do Caps - A experiência de coordenar o Projeto
Copiadora e o processo de discussão sobre trabalho-atividade
produtiva durante anos, junto aos usuários, demonstra que um
projeto assistencial para essa população deve incluir mecanismos
que a instrumentalize para acessar esse mundo estranho e não
habitual: o lugar onde se realiza a reprodução material do ser
humano, um universo determinado por um modo de produção, um
código de convivência, regras e pré-requisitos aos quais não têm
18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015.
acesso, não só, mas também, pela sua condição de doente mental.
A6
Rede de sociabilidade - o Serviço de Residência Terapêutica
enfrenta as dificuldades inerentes a uma experiência singular e
inovadora, construindo saídas e respostas para os desafios
colocados, considerando a importante aproximação dos moradores
dos residenciais e moradias protegidas, com seus familiares, assim
como com a vizinhança, a comunidade e com instituições como
escolas, igrejas e comércio local. A10.
Um dos grandes desafios para a saúde mental brasileira está no rompimento
das marcas do modelo manicomial. Mielke et al. (2012) colocam que é necessário
combater os vícios carregados de condutas cristalizadas e excludentes. Para isso, é
preciso adotar práticas ampliadas e inovadoras, voltadas para a libertação e
produção de novos sentidos e novas pessoas.
Para Veloso, Melo e Souza (2013), uma das maneiras de superação do
modelo hospitalocêntrico pode ser o desenvolvimento de projetos que estimulem a
articulação das equipes em atividades integradas a opções de convívio social
(esporte, lazer cultura), e que venham a fortalecer o vinculo familiar.
No que concerne aos profissionais de enfermagem, uma experiência
destacável apresentada em um dos trabalhos foi o Grupo Terapêutico Educação em
Saúde que
[...] proporcionou subsídios para o fortalecimento dos usuários no
enfrentamento das situações inerentes ao uso abusivo de álcool e de
drogas, considerando os prejuízos/as perdas e despertar para
possibilidades da construção de atitudes e comportamentos
comprometidos com o autocuidado- ser corresponsável por seu
tratamento. A5
Nesta direção, visualiza-se a importância de aliar nas práticas de saúde
atividades de educação. Essas são tecnologias leves inovadoras que podem
contribuir para a qualidade de vida dos indivíduos, família e comunidade. Cabe
ressaltar que, quando tratamos da parceria entre Saúde e Educação, estão
envolvidos vários sujeitos. São singulares histórias de vida que se entrelaçam e se
encontram para a efetivação dessa parceria que, no cotidiano dos serviços,
contribuem para o processo de cuidar (GONZE; SILVA, 2011).
18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015.
Também foram encontrado nos estudos indicações para ações de
enfermagem que, ao serem adotadas, podem contribuir com a qualidade da
assistência à saúde mental:
A enfermeira possui uma ferramenta singular que pode ter mais
influência sobre os clientes do que qualquer medicamento ou terapia:
ela mesma. A3
[..] a dimensão dialógica no encontro entre usuários e profissionais,
a partir de uma abertura para ouvir o outro, rompendo o monólogo
técnico-científico, é a mais básica condição de ações de saúde na
direção do cuidar. A4
Seria de extrema relevância que se empreendesse uma profunda
reflexão acerca do modo como tais tecnologias (Acompanhamento
terapêutico) vem sendo implementadas, levando-se em conta,
principalmente, a necessidade de se preservar e reconstruir as
relações entre as práticas e as proposições teóricas que lhe deram
origem, sob pena de, ao desconsiderá-las, criar condições favoráveis
para a reprodução de práticas alienadas e alienantes. A8
O processo de cuidar atribuído à enfermeira remete a atividades que
possibilitem, na relação profissional-usuário, ter conhecimento sobre a pessoa, na
sua singularidade; ainda requer contato no cotidiano do serviço para surgir
proximidade, uma abertura para ouvir o outro e romper o monologo técnico-cientifico
(ROCHA, 2005). Para Veloso, Melo e Souza (2013), a importância do cuidar nas
práticas em saúde é fundamental, o que permite uma permeabilidade do técnico ao
não técnico, buscando uma maior autenticidade. Assim, uma relação construída a
partir
dessa
perspectiva,
favorece
a
segurança
e
bem-estar,
interferindo
positivamente na saúde mental da pessoa cuidada.
Compreendendo a Saúde Mental como um campo de conhecimento
polissêmico, entende-se a necessidade de adotar no processo de formação dos
profissionais de enfermagem conteúdos que valorizem a subjetividade em qualquer
ação em saúde, visando desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes
para intervenções às pessoas em sofrimento psíquico, independente da presença de
transtornos mentais.
Para tanto, considerar que o individuo com sofrimento psíquico não é o único
que merece atenção, entendendo que o transtorno mental não é um fenômeno
individual, mas social e como tal deverá ser pensado. Pode ser o principio para
18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015.
práticas relevantes que insiram a família, e eventualmente, surja um grupo mais
ampliado, compreendendo-os como agentes de mudança (GOLÇALVES, 2003).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observou-se que, no contexto da atenção psicossocial brasileira, existem
distintas lacunas que convergem para práticas marcadas pelo modelo manicomial.
Observa-se nos serviços de saúde mental uma realidade ainda preocupante, a qual
os profissionais de saúde, principalmente a equipe de enfermagem, encontram
obstáculos na promoção da integralidade a assistência aos usuários, sejam de
caráter pessoal, social ou administrativos.
Nesta direção, barreiras necessitam ser rompidas. Assim, alguns estudos
mostraram que primeiros passos foram dados, todavia, faz-se necessário uma maior
compreensão por parte de gestão, profissionais, usuários e sociedade sobre o que
preconiza a atual política de saúde mental.
Assim, acredita-se que investir em estudos avaliativos dessa atenção e
conhecer as especificidades das localidades pode vir a contribuir com a adoção de
medidas cabíveis para transformar práticas e minimizar as barreiras, tomando como
partida a capacitação dos profissionais, com disseminação de informações para a
sociedade e investimento em atividades de educação em saúde.
Dessa maneira, é indubitável que, para a melhoria dos serviços, estas
iniciativas devam ser efetuadas na integra, tendo o profissional de enfermagem
como sujeito ativo, assim como a comunidade presente nos processos decisórios
das propostas do modelo psicossocial.
Logo, para se ter uma assistência mais resolutiva e humanizada, é preciso
impulsionar dentro da equipe da atenção psicossocial uma quebra de paradigmas,
acolhendo os usuários na sua integralidade e tecendo cuidados de acordo com suas
demandas individuais. Por fim, a educação como prática aliada a saúde pode
sensibilizar a transformação e melhor a qualidade da assistência prestada nos
serviços de saúde por profissionais de enfermagem.
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praticando o real. Esc. Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, p. 64-
18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015.
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