18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015. ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: PERSPECTIVAS NA ASSISTÊNCIA EM ENFERMAGEM Lais Vasconcelos Santos1 Adylla Maria Alvez de Carvalho2 Mikael Lima Brasil3 Ueigla Batista da Silva4 Jéssica Oliveira Rodrigues5 1 Relatora. Discente do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, Campina Grande (PB), Brasil. E-mail: [email protected] 2 Discente do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, Campina Grande (PB), Brasil. E-mail: [email protected] 3 Discente do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, Campina Grande (PB), Brasil. E-mail: mikael_cpc@hotmail. 4 Discente do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, Campina Grande (PB), Brasil. E-mail: [email protected] 5 Enfermeira graduada pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, Campina Grande (PB), Brasil. E-mail: [email protected] RESUMO Introdução: No tocante a Reforma Psiquiátrica em curso no cenário brasileiro, é notório que estamos passando por diversas transformações no modelo de atenção em saúde mental, sendo estruturadas estratégias que visam à inclusão social, com o fortalecimento da cidadania e ampliação da autonomia dos portadores de transtornos mentais. Objetivo: refletir, a partir da literatura, aspectos positivos da assistência de enfermagem na atenção psicossocial. Metodologia: trata-se de uma revisão sistemática da literatura, de natureza exploratória. O material foi coletado no primeiro semestre de 2015. Utilizou-se a Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), adotando-se os descritores: “saúde mental”, “assistência de enfermagem”, “atenção psicossocial”. Os critérios adotados foram: artigos científicos em português, inglês e espanhol que abordassem nas pesquisas o cenário brasileiro, não havendo recorte temporal para seleção. Foram excluídos os que não abordaram os profissionais de enfermagem e as duplicidades. Atendendo a tais critérios, alcançou-se uma seleção de 41 artigos. As publicações escolhidas receberam leitura crítica dos títulos e resumos, alcançando uma amostra final de 10 artigos. Esses receberam leitura analítica. Resultados e Discussões: Para a organização dos achados deste estudo, optou-se por desenvolver o texto dividindo em duas categorias, a saber: “Assistência em enfermagem no âmbito da saúde mental: As Lacunas emergidas na prática” e “Mudar é preciso: Tendências e reflexões necessárias”. Considerações Finais: Foi observado que, no contexto da atenção psicossocial brasileira, existem distintas lacunas que convergem para práticas marcadas pelo modelo manicomial. Faz-se necessário, principalmente da equipe de enfermagem, a quebra de paradigmas para impulsionar um acolhimento mais integral. Logo, para desenvolver uma assistência mais resolutiva e humanizada, é preciso viabilizar a educação como prática aliada à saúde, tendendo a sensibilizar a transformação e melhora da qualidade da assistência prestada nos serviços de saúde por profissionais de enfermagem. DESCRITORES: Atenção Psicossocial. Assistência em Enfermagem. Saúde Mental. 18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015. INTRODUÇÃO No contexto da Reforma Psiquiátrica no cenário brasileiro, Correia, Barros e Colvero (2011) colocam que estamos passando por diversas transformações no modelo de atenção em saúde mental, sendo estruturadas estratégias que visam à inclusão social, com fortalecimento da cidadania e ampliação da autonomia dos portadores de transtornos mentais. Em virtude deste movimento, no ano de 2001 foi promulgada, após 12 anos de tramitação no Congresso Nacional, a Lei Federal nº 10.216, também conhecida como Lei Paulo Delgado ou Lei da Reforma Psiquiátrica (ESPERIDIAO et al., 2013). A política nacional de saúde mental possui como base a desinstitucionalização, baseando-se no deslocamento da atenção ao portador de transtorno mental dentro de instituições fechadas para estratégias extra-hospitalares que atendam às necessidades dos usuários, dos seus familiares e da comunidade, sempre valorizando a manutenção dos vínculos sociais (ESTEVAM, 2011). Para atender a esta lógica, foi instituída, em 2011, na esfera do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da Portaria nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011, a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) com o intuito de colher as pessoas em sofrimento psíquico (BRASIL, 2011). Assim, as ações em saúde mental devem acontecer em rede na lógica da integralidade nos diversos níveis de atenção à saúde, articulando-se com outras políticas sociais, valorizando os setores da cultura, educação, trabalho, assistência social, dentre outros (CLEMENTE; LAVRADOR; ROMANHOLI, 2013). Nesta direção, Souza et al. (2007) reforçam que, com a redução progressiva dos leitos em hospitais psiquiátricos, há o fortalecimento da rede extra-hospitalar com implementação dos serviços substitutivos como: Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Unidades Psiquiátricas em Hospitais Gerais (UPHG) e Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs). Entretanto, estas mudanças têm encontrado obstáculos para superar o modelo biomédico e hospitalocêntrico no campo da saúde mental (CORREIA; BARROS; COLVERO, 2011). No tocante a enfermagem psiquiátrica brasileira, essa profissão teve representantes presentes nesse processo de transformação, discutindo as possibilidades de avanços e contradições atuais encontradas na área da saúde mental, assim como, debatendo os rumos da formação profissional dos que 18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015. trabalham nesta área, pois os mesmos são parceiros na melhoria da qualidade da assistência (MUNARI et al., 2008). Todavia, a prática efetiva da equipe de enfermagem centra-se, principalmente, no desenvolvimento de atribuições burocrático-administrativas, em benefício do "agir terapêutico", o que nos leva a observar que são eles os que menos realizam atendimentos diretos aos usuários dos serviços e apresentam dificuldade na utilização de tecnologias leves, que compõe o cuidado (ESPERIDIAO et al, 2013). Nesta direção, fazem-se necessárias, frente às mudanças paradigmáticas na compreensão da saúde mental, transformações no conjunto de saberes da enfermagem (BARROS; EGRY, 1994). É o que afirmam Souza et al. (2007), ao colocarem que a não formação específica ou a falta de atualizações dentro da área de Saúde Mental podem vir a tornar-se um complicante, dificultando desta forma o acompanhamento das mudanças que a Reforma Psiquiátrica propõe em níveis nacional, estadual e municipal. Diante deste cenário, é preciso que ocorra a ruptura do paradigma que caracteriza a doença de forma reducionista, com enfoque exclusivamente biológico. Assim, necessita-se a revisão do processo de qualificação profissional, pois irá instrumentalizar os enfermeiros para intervenções em saúde mental com estratégias multiagente e multiprofissional (BARROS E EGRY,1994). Sendo assim, deve-se alcançar a sensibilização dos profissionais por meio de reflexões de conteúdos voltados a humanização da assistência, compromisso, aceitação, solidariedade, julgamento, respeito, liberdade e responsabilização que devem ser voltadas aos preceitos do novo modelo assistencial, que se estende ao atendimento básico de saúde, e envolvem o usuário, familiares e comunidade (SOUZA et al., 2007). Logo, este estudo pretende refletir, a partir da literatura, aspectos positivos da assistência de enfermagem na atenção psicossocial. METODOLOGIA Trata-se de uma revisão sistemática da literatura, de natureza exploratória. De acordo com Minayo (2008) levantamento teórico aproxima-se da abordagem 18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015. qualitativa, tendo em vista a interpretação e análise dos dados obtidos por meio da investigação bibliográfica realizada. Este estudo partiu da seguinte pergunta de pesquisa: Quais as perspectivas na assistência de enfermagem na atenção psicossocial? O material foi coletado no primeiro semestre de 2015. Utilizou-se a Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), adotando-se os descritores: “saúde mental”, “assistência de enfermagem”, “atenção psicossocial” e usado o operador booleano and. Foram selecionadas as publicações que atendiam aos seguintes critérios: artigos científicos em português, inglês e espanhol que abordassem nas pesquisas o cenário brasileiro, não havendo recorte temporal para seleção. Foram excluídos os que não abordaram os profissionais de enfermagem e as duplicidades. Atendendo tais critérios, alcançou-se uma seleção de 41 artigos, distribuídos nas seguintes bases de dados: LILACS (16), BDENF-Enfermagem (14) e MEDLINE (11). As publicações escolhidas receberam leitura crítica dos títulos e resumos, sendo selecionados apenas os artigos pertinentes ao estudo, compondo a amostra final 10 artigos, apresentados no quadro 1. Quadro 1: ARTIGO Relação dos artigos que compõem a amostra deste estudo. AUTORES TITULO ANO DE PUBLICAÇÃO A1 Esperidião, E.; Silva, N.S.; Caixeta, C.C.; Rodrigues, J. A Enfermagem Psiquiátrica, a ABEn e o Departamento Científico de Enfermagem Psiquiátrica e Saúde Mental: avanços e desafios A2 Souza, A.J.F.; Matias, G.N.; Gomes, K.F.A.; Parente,A.C.M. A saúde mental no Programa de Saúde da Família 2007 A3 Oliveira, R.M.P. Enfermagem psiquiátrica: discursando o ideal e praticando o real 2010 A4 Silva, N.S.; Esperidião, Desenvolvimento de 2013 2013 OBJETIVO Contextualizar a Enfermagem Psiquiátrica e a Saúde Mental no Brasil, considerando os principais marcos históricos, políticos e sociais que influenciam o cuidado de enfermagem nessa área. Identificar a formação e as ações do enfermeiro em Saúde Mental (SM), no PSF. A testagem de um modelo teórico inovador que oriente o cuidado da enfermeira psiquiatra, em uma instituição psiquiátrica de internação hospitalar, no município de Paracambi/Rio de Janeiro Compreender os 18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015. S; Cavalcante, A.C.G.; Souza, A.C.S.; Silva, K.K.C. recursos humanos para atuar nos serviços de saúde mental Demandas de autocuidado em grupo terapêutico: educação Em saúde com usuários de substâncias psicoativas 2013 Projeto copiadora do caps Luis Cerqueira: do trabalho de Reproduzir coisas â produção de vida1 2002 Rocha, R.M. O enfermeiro na equipe interdisciplinar do centro de atenção psicossocial e as possibilidades de cuidar 2005 A8 Kirschbaum, D.I.R; Rosa, TM Os trabalhadores de enfermagem como acompanhantes terapêuticos de um centro de atenção psicossocial 2003 A9 Brêda, M.Z.; Rosa, W.A.G.; Pereira, M.A.O.; Scatena, M.C.M. Duas estratégias e desafios comuns: a reabilitação Psicossocial e a saúde da família 2003 A5 A6 A7 Vasconcelos, S.C.; Frazão, I. S.; Vasconcelos, E.M.R.; Cavalcanti, A.M.T.S.; Monteiro, E. M. L.M.; Ramos, V.P. Silva, A.L.A.; Fonseca, R.M.G.S. aspectos relacionados à formação e capacitação dos profissionais que atuam nos serviços de saúde mental no interior do Estado de Goiás, Brasil, sob o ponto de vista dos coordenadores destes serviços. compreender as contribuições do Grupo Terapêutico Educação em Saúde para a identificação das demandas terapêuticas de autocuidado entre usuários de substâncias psicoativas. Compreensão da prática desenvolvida no Centro de Atenção Psicossocial Prof. Luis da Rocha Cerqueira, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Aprofundar o conhecimento sobre a inserção do enfermeiro na equipe interdisciplinar do Centro de Atenção Psicossocial, considerando que essa inserção se reflete em suas possibilidades de cuidar do cliente. analisar a atuação de auxiliares de enfermagem como acompanhantes terapêuticos do Centro de Atenção Psicossocial do município de Campinas-SP Refletir sobre as Estratégias de Saúde da Família (ESF) e de Reabilitação Psicossocial. 18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015. A10 Argiles, C.T.L.; Luciane Prado Kantorski, L.P.; 1 Willrich, J.Q.; Antonacci, M. H.; Coimbra, V.C.C. Redes de sociabilidade: construções a partir do serviço residencial terapêutico 2013 Conhecer a rede de sociabilidade dos usuários do serviço residencial terapêutico de Alegrete/RS, a partir de um estudo de caso. Os trabalhos que compõem a amostra receberam leitura analítica. As informações condizentes com objeto deste estudo foram coletadas e organizadas por categoria. Para analise dos dados adotou-se a literatura pertinente a temática. RESULTADOS E DISCUSSÕES Para a organização dos achados deste estudo, optou-se por desenvolver o texto dividindo em duas categorias, a saber: “Assistência em enfermagem no âmbito da saúde mental: As Lacunas emergidas na prática” e “Mudar é preciso: Tendências e reflexões necessárias”. Assistência em enfermagem no âmbito da saúde mental: As Lacunas emergidas na prática Os serviços da atenção psicossocial visam um trabalho interdisciplinar, sendo necessária a presença dos variados profissionais que devem exercer as ações que lhes são próprias, bem como funções comuns, valorizando-se aí a utilização de diferentes técnicas e a integração de diferentes saberes (ROCHA, 2005). No tocante a(o) enfermeira(o), seu papel na assistência a saúde mental deve oportunizar as ações terapêuticas para identificar e auxiliar na recuperação das(os) usuárias(os) em sofrimento psíquico, possibilitando a reabilitação das capacidades físicas e mentais, e respeitando as limitações e direitos (JORGE et al., 2006). Para tanto, essas relações terapêuticas exigem dessa/desse profissional iniciativa, criatividade e diferentes modos de assistir (VILELA; MORAES, 2008). Face ao trabalho da(o) enfermeira(o), deparou-se nas publicações analisadas, com lacunas emergidas nos distintos serviços de saúde, a qual prevaleceram: marcas do modelo psiquiátrico, assistência medicalizada, tecnicista, dificuldade de 18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015. assistir em equipe horizontal; falta de conhecimento e preparo para assistir usuários em sofrimento psíquico. Como pode-se observar nos seguintes estudos: [...] atribuições dos enfermeiros voltadas para o âmbito individual e bastante próximo das atividades executadas em ambiente hospitalar psiquiátrico, valorizando ainda o tratamento farmacológico. A1 Ações voltadas às atividades assistenciais de natureza técnica, tais como verificação de sinais vitais, medidas de higiene e conforto, além da administração de medicamentos ainda prevalecem entre os cuidados de enfermagem nos serviços especializados em saúde mental [...] A4 [...] os profissionais ainda encontram dificuldades na implementação das atuais políticas. A2 [...] percebe-se o desconhecimento da equipe de enfermagem a respeito do papel de outros profissionais na equipe multiprofissional. A1 [...] a prática dos profissionais em questão vem se configurando mais como uma intervenção calcada no senso comum, que busca o treinamento e a aquisição de habilidades por parte do paciente, do que numa clínica que concebe o usuário como sujeito e objetiva a criação de narrativas pessoais e novas possibilidades de estar no mundo. A8 Diante das representações sociais que permeiam a sociedade em que vivemos, encontram-se marcas nos profissionais de saúde que acabam interferindo no modo de pensar e assistir. E mesmo com implementação do modelo psicossocial (que busca desconstruir o pensar e conceber a loucura, e práticas e discursos que conferem caráter de objeto a mesma) encontram-se relacionado à saúde mental, vestígios do modelo hospitalocêntrico caracterizado pela superlotação dos manicômios, maus tratos e exclusão das(os) pacientes (BORBA et al., 2012). Nesta direção, as atribuições dos profissionais de enfermagem deveriam incluir atividades terapêuticas objetivando contribuir para as(os) usuárias(os), atendimentos grupais e o relacionamento interpessoal. Todavia, identifica-se em serviços que quando essas atividades acontecem não são sistematizadas, prevalecendo ações de caráter assistencial-tecnicista, o que contrapõe o modelo psicossocial no que tange a valorização das potencialidades e recuperação da autonomia do indivíduo em sofrimento psíquico (SILVA et al., 2013). Conforme Pini; Waidman (2012), os aspectos que dificultam a prática de enfermagem em saúde mental incluem: falta de conteúdos teóricos e práticos na 18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015. formação; desconhecimento de referências que contribuem para assistência em saúde mental, a complexidade do processo intersubjetivo de cuidar do sujeito em sofrimento psíquico e a privação de supervisão técnica de finalidade terapêutica. Para Rocha (2005) as dificuldades predominantes são o saber/formação do enfermeiro para o trabalho em CAPS e a dificuldade em ultrapassar fronteiras a caminho da integração na equipe interdisciplinar. Segundo Alves e Oliveira (2010), é notado que os discursos das(os) enfermeiras(os) estão orientadas(os) para a desconstrução do saber psiquiátrico e superação das práticas manicomiais, apontando para atividades de relacionamento interpessoal e trabalho interdisciplinar. Entretanto, suas ações predominam o modelo organicista, mantendo práticas tradicionais tais quais: triagem e controle, principalmente medicamentoso dos pacientes em crise. Também foi percebida uma barreira no serviço em relação à assistência da família dos usuários dos serviços de atenção psicossocial. Bessa e Waindman (2013) apontam que existe uma falta de aperfeiçoamento das atividades de profissionais de enfermagem para familiares, bem como resolutividade e embasamento científico. Face as lacunas encontradas, percebe-se que o rompimento de paradigmas na atuação dos profissionais de enfermagem se faz necessário juntamente com adoção de práticas baseadas em evidências cientificas pertinentes ao contexto da atenção psicossocial. Mudar é preciso: Tendências e reflexões necessárias Em meio às barreiras existentes nos serviços de saúde na atenção psicossocial, são encontrados distintos cenários, desses destacam-se as experiências que buscam a quebras de paradigmas e proporcionam mudanças nas práticas, tais quais: Projeto Copiadora do Caps - A experiência de coordenar o Projeto Copiadora e o processo de discussão sobre trabalho-atividade produtiva durante anos, junto aos usuários, demonstra que um projeto assistencial para essa população deve incluir mecanismos que a instrumentalize para acessar esse mundo estranho e não habitual: o lugar onde se realiza a reprodução material do ser humano, um universo determinado por um modo de produção, um código de convivência, regras e pré-requisitos aos quais não têm 18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015. acesso, não só, mas também, pela sua condição de doente mental. A6 Rede de sociabilidade - o Serviço de Residência Terapêutica enfrenta as dificuldades inerentes a uma experiência singular e inovadora, construindo saídas e respostas para os desafios colocados, considerando a importante aproximação dos moradores dos residenciais e moradias protegidas, com seus familiares, assim como com a vizinhança, a comunidade e com instituições como escolas, igrejas e comércio local. A10. Um dos grandes desafios para a saúde mental brasileira está no rompimento das marcas do modelo manicomial. Mielke et al. (2012) colocam que é necessário combater os vícios carregados de condutas cristalizadas e excludentes. Para isso, é preciso adotar práticas ampliadas e inovadoras, voltadas para a libertação e produção de novos sentidos e novas pessoas. Para Veloso, Melo e Souza (2013), uma das maneiras de superação do modelo hospitalocêntrico pode ser o desenvolvimento de projetos que estimulem a articulação das equipes em atividades integradas a opções de convívio social (esporte, lazer cultura), e que venham a fortalecer o vinculo familiar. No que concerne aos profissionais de enfermagem, uma experiência destacável apresentada em um dos trabalhos foi o Grupo Terapêutico Educação em Saúde que [...] proporcionou subsídios para o fortalecimento dos usuários no enfrentamento das situações inerentes ao uso abusivo de álcool e de drogas, considerando os prejuízos/as perdas e despertar para possibilidades da construção de atitudes e comportamentos comprometidos com o autocuidado- ser corresponsável por seu tratamento. A5 Nesta direção, visualiza-se a importância de aliar nas práticas de saúde atividades de educação. Essas são tecnologias leves inovadoras que podem contribuir para a qualidade de vida dos indivíduos, família e comunidade. Cabe ressaltar que, quando tratamos da parceria entre Saúde e Educação, estão envolvidos vários sujeitos. São singulares histórias de vida que se entrelaçam e se encontram para a efetivação dessa parceria que, no cotidiano dos serviços, contribuem para o processo de cuidar (GONZE; SILVA, 2011). 18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015. Também foram encontrado nos estudos indicações para ações de enfermagem que, ao serem adotadas, podem contribuir com a qualidade da assistência à saúde mental: A enfermeira possui uma ferramenta singular que pode ter mais influência sobre os clientes do que qualquer medicamento ou terapia: ela mesma. A3 [..] a dimensão dialógica no encontro entre usuários e profissionais, a partir de uma abertura para ouvir o outro, rompendo o monólogo técnico-científico, é a mais básica condição de ações de saúde na direção do cuidar. A4 Seria de extrema relevância que se empreendesse uma profunda reflexão acerca do modo como tais tecnologias (Acompanhamento terapêutico) vem sendo implementadas, levando-se em conta, principalmente, a necessidade de se preservar e reconstruir as relações entre as práticas e as proposições teóricas que lhe deram origem, sob pena de, ao desconsiderá-las, criar condições favoráveis para a reprodução de práticas alienadas e alienantes. A8 O processo de cuidar atribuído à enfermeira remete a atividades que possibilitem, na relação profissional-usuário, ter conhecimento sobre a pessoa, na sua singularidade; ainda requer contato no cotidiano do serviço para surgir proximidade, uma abertura para ouvir o outro e romper o monologo técnico-cientifico (ROCHA, 2005). Para Veloso, Melo e Souza (2013), a importância do cuidar nas práticas em saúde é fundamental, o que permite uma permeabilidade do técnico ao não técnico, buscando uma maior autenticidade. Assim, uma relação construída a partir dessa perspectiva, favorece a segurança e bem-estar, interferindo positivamente na saúde mental da pessoa cuidada. Compreendendo a Saúde Mental como um campo de conhecimento polissêmico, entende-se a necessidade de adotar no processo de formação dos profissionais de enfermagem conteúdos que valorizem a subjetividade em qualquer ação em saúde, visando desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes para intervenções às pessoas em sofrimento psíquico, independente da presença de transtornos mentais. Para tanto, considerar que o individuo com sofrimento psíquico não é o único que merece atenção, entendendo que o transtorno mental não é um fenômeno individual, mas social e como tal deverá ser pensado. Pode ser o principio para 18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015. práticas relevantes que insiram a família, e eventualmente, surja um grupo mais ampliado, compreendendo-os como agentes de mudança (GOLÇALVES, 2003). CONSIDERAÇÕES FINAIS Observou-se que, no contexto da atenção psicossocial brasileira, existem distintas lacunas que convergem para práticas marcadas pelo modelo manicomial. Observa-se nos serviços de saúde mental uma realidade ainda preocupante, a qual os profissionais de saúde, principalmente a equipe de enfermagem, encontram obstáculos na promoção da integralidade a assistência aos usuários, sejam de caráter pessoal, social ou administrativos. Nesta direção, barreiras necessitam ser rompidas. Assim, alguns estudos mostraram que primeiros passos foram dados, todavia, faz-se necessário uma maior compreensão por parte de gestão, profissionais, usuários e sociedade sobre o que preconiza a atual política de saúde mental. Assim, acredita-se que investir em estudos avaliativos dessa atenção e conhecer as especificidades das localidades pode vir a contribuir com a adoção de medidas cabíveis para transformar práticas e minimizar as barreiras, tomando como partida a capacitação dos profissionais, com disseminação de informações para a sociedade e investimento em atividades de educação em saúde. Dessa maneira, é indubitável que, para a melhoria dos serviços, estas iniciativas devam ser efetuadas na integra, tendo o profissional de enfermagem como sujeito ativo, assim como a comunidade presente nos processos decisórios das propostas do modelo psicossocial. Logo, para se ter uma assistência mais resolutiva e humanizada, é preciso impulsionar dentro da equipe da atenção psicossocial uma quebra de paradigmas, acolhendo os usuários na sua integralidade e tecendo cuidados de acordo com suas demandas individuais. Por fim, a educação como prática aliada a saúde pode sensibilizar a transformação e melhor a qualidade da assistência prestada nos serviços de saúde por profissionais de enfermagem. REFERÊNCIAS ALVES, M.; OLIVEIRA, R. M. P. Enfermagem psiquiátrica: discursando o ideal e praticando o real. Esc. Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, p. 64- 18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015. 70, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielophp?script =sci_artte xt&pid=S1414-81452010000100010&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 30 Jun 2015. BARROS, E.; EGRY, E. Y. A enfermagem em saúde mental no brasil: a necessidade de produção de novos conhecimentos. Saúde e Sociedade, v.3, n.1, 1994. BESSA, J. B.; WAIDMAN, M. A. P. Família da pessoa com transtorno mental e suas necessidades na assistência psiquiátrica. Texto contexto - enferm., Florianópolis , v. 22, n. 1, p. 61-70, Mar. 2013 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scie lo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072013000100008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 20 Jul 2015. BORBA, L. O. et al. Assistência em saúde mental sustentada no modelo psicossocial: narrativas de familiares e pessoas com transtorno mental. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo , v. 46, n. 6, p. 1406-1414, Dec. 2012 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S008062342012000600018&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 30 July 2015. BRASIL. Ministério da Saúde. PORTARIA Nº 3.088. Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). 23 DE DEZEMBRO DE 2011. CLEMENTE, A.; LAVRADOR, M. C. C.; ROMANHOLI, A. C. Desafios da rede de atenção psicossocial: problematização de uma experiência acerca da implantação de novos dispositivos de álcool e outras drogas na rede de saúde mental da cidade de Vitória-ES. Polis e Psique, v. 3, n.1, 2013. CORREIA, V. R.; BARROS, S.; COLVERO, L. A. Saúde mental na atenção básica: prática da equipe de saúde da família. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo , v. 45, n. 6, p. 1501-1506, Dec. 2011 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S008062342011000600032&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 29 July 2015. ESPERIDIAO, E. et al . A Enfermagem Psiquiátrica, a ABEn e o Departamento Científico de Enfermagem Psiquiátrica e Saúde Mental: avanços e desafios. Rev. bras. enferm., Brasília , v. 66, n. espec., 2013. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script= sci_arttext& pid=S0034-7167201300 0700022&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 30 July 2015. ESTEVAM, M. C. et al . Convivendo com transtorno mental: perspectiva de familiares sobre atenção básica. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo , v. 45, n. 3, p. 679-686, June 2011 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S008062342011000300019&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 29 July 2015. GONÇALVES, A. M. A saúde a doença e a cura: O Recurso aos Operadores Rituais alternativos entre os utentes das consultas de psiquiatria no concelho de Viseu – Dissertação de Mestrado apresentada ao ISCTE, 2003 18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015. GONZE, G. G.; SILVA, G. A. A integralidade na formação dos profissionais de saúde: tecendo valores. Physis, Rio de Janeiro , v. 21, n. 1, p. 129-146, 2011. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010373312011000100008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 31 July 2015. JORGE, M. S. B. et al . Reabilitação Psicossocial: visão da equipe de Saúde Mental. Rev. bras. enferm., Brasília , v. 59, n. 6, p. 734-739, Dec. 2006 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003471672006000600003&lng=en&nrm=iso>. access on 30 July 2015. MIELKE, F. B. et al. Avaliação qualitativa da relação de atores sociais com a loucura em um serviço substitutivo de saúde menta. Rev Bras Enferm., Brasília, v.65, n.3, 2012. MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 11ª ed., São Paulo: Hucitec, 2008. MUNARI, D. B. et al . Analysis of scientific production of mental health researcher and psychiatric nursing specialist meetings. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto , v. 16, n. 3, p. 471-476, June 2008 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010411692008000300022&lng=en&nrm=iso>. access on 30 July 2015. PINI, J. S.; WAIDMAN, M. A. P. Fatores interferentes nas ações da equipe da Estratégia Saúde da Família ao portador de transtorno mental.Rev. esc. enferm. USP, São Paulo , v. 46, n. 2, p. 372-379, 2012 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S008062342012000200015&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 31 July 2015. ROCHA, R. M. O enfermeiro na equipe interdisciplinar do centro de atenção psicossocial e as possibilidades de cuidar. Texto Contexto Enferm., v.14, n.3, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/tce/v14n3/v14n3a05.pdf. Acesso em: 20 junho 2015. SILVA, N. S. et al . Percepção de enfermeiros sobre aspectos facilitadores e dificultadores de sua prática nos serviços de saúde mental. Rev. bras. enferm., Brasília , v. 66, n. 5, p. 745-752, Oct. 2013 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003471672013000500016&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 30 July 2015. SOUZA, Aline de Jesus Fontineli et al . A saúde mental no Programa de Saúde da Família. Rev. bras. enferm., Brasília , v. 60, n. 4, p. 391-395, Aug. 2007 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003471672007000400006&lng=en&nrm=iso>. access on 30 July 2015. VELOSO, T. M. C.; MELLO E SOUZA, M. C. B. Concepções de profissionais da Estratégia Saúde da Família sobre saúde mental. Rev Gaúcha Enferm., v.34, n.1, 2013. 18º CBCENF, João Pessoa-PB, 2015. VILELA, S. C.; MORAES, M. C. A prática de enfermagem em serviços abertos de saúde mental. Rev Enferm UERJ.,v.6, n.4, 2008.