TARCISIO ALVES CORDEIRO
O QUE VOCÊ
PRECISA SABER
SOBRE A ÁGUA
DE JOÃO PESSOA
Atuando na área de oceanografia, eu sabia que existiam alguns problemas na bacia do Gramame, até
porque já eram perceptíveis alguns efeitos nas águas
costeiras. Aliás, efeitos comuns a várias cidades costeiras do mundo, como a diminuição da transparência da água e a tendência à estagnação. Entretanto,
na época eu não fazia ideia da real dimensão do problema, foram necessários alguns anos de pesquisas
para entender o quão grave é a nossa situação.
Sempre que tive oportunidade, levei essa questão
aos atores governamentais, seja em conselhos municipais e estaduais de meio ambiente, em inúmeras reuniões com distintas audiências, fui também
às redes sociais e iniciei uma petição pública, e até
carreguei cartazes em demonstrações de rua. Passados uns cinco anos e praticamente nenhuma mudança substancial foi observada na gestão da bacia
do Gramame, os poluidores e outros transgressores
ambientais continuam atuando como sempre o fizeram. Obviamente, meu trabalho estava longe de estar
concluído. Como mais recente recurso, tentei organizar nesse texto o resultado desses anos de pesquisa, com a intenção de esclarecer ao cidadão da GJP
(Grande João Pessoa) a que riscos ele está sendo
submetido, sem que se tenha pedido sua permissão.
Tarcisio Alves Cordeiro
O QUE VOCÊ PRECISA SABER
SOBRE A ÁGUA DE JOÃO PESSOA
IDEIA
João Pessoa
2014
FICHA TÉCNICA
Livro produzido editorialmente pelo Projeto de Extensão
Para Ler o Digital
(NAMID/DEMID/PPGC/UFPB)
Coordenador do Projeto
Marcos Nicolau
Capa
Tarcisio Alves Cordeiro
Editoração Digital
Marriett Albuquerque
Atenção: As imagens usadas neste trabalho o são para efeito de estudo,
de acordo com o artigo 46 da lei 9610, sendo garantida a propriedade
das mesmas aos seus criadores ou detentores de direitos autorais.
C794q
Cordeiro, Tarcisio Alves.
O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa [recurso
eletrônico] / Tarcisio Alves Cordeiro.- João Pessoa: Ideia, 2014.
1CD-ROM; 43/4pol. (7200kb)
ISBN: 978-85-7539-952-1
1. Água e meio ambiente. 2. Água - João Pessoa-PB. 3. Rio Gramame
- poluição.
CDU: 556:504
EDITORA
Av. Nossa Senhora de Fátima, 1357, Bairro Torre
Cep.58.040-380 - João Pessoa, PB
www.ideiaeditora.com.br
O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
DEDICATÓRIA
Para Isabel e Júlia, o futuro é para vocês.
À Mariana pelo apoio irrestrito.
Capa
Sumário
Autor
eLivre
AGRADECIMENTOS
À Profa Mariana M. Nóbrega e ao Prof. José Paulo Marsola
por sugestões ao texto.
Ao Departamento de Sistemática e Ecologia da UFPB,
pelo apoio a essa iniciativa.
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 07
O GRAMAME E A ACADEMIA .......................................................................................................... 10
COMO VAI O GRAMAME? ................................................................................................................. 13
O QUE SE VEM FAZENDO NAS TERRAS DO GRAMAME .................................................... 18
E COMO PRECISAMOS DESSA ÁGUA .......................................................................................... 27
AGROTÓXICOS – O LADO SOMBRIO DA CIÊNCIA ................................................................ 34
A MENTIRA DAS TABELAS DE VALORES MÁXIMOS (VMPs) ........................................... 42
OS AGROTÓXICOS E A SAÚDE HUMANA .................................................................................. 56
OS AGROTÓXICOS E O MEIO AMBIENTE ................................................................................... 67
AGROTÓXICOS NAS ÁGUAS DO GRAMAME ........................................................................... 75
A BACIA DO GRAMAME NO FUTURO, PLANO A E PLANO B ......................................... 87
Plano A, o sempre foi assim ............................................................................................................ 87
Plano B, o cenário ideal ...................................................................................................................... 90
Capa
Sumário
Autor
eLivre
E AGORA A POLÍTICA .......................................................................................................................... 93
VOCÊ SABE DE ALGUMA COISA? ................................................................................................... 101
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 102
APÊNDICES .............................................................................................................................................. 109
Apêndice I – Mineralograma de cabelos ................................................................................... 110
Apêndice II – Laudos das análises de agrotóxicos ................................................................ 115
Apêndice III – Laudos das análises de metais em humanos ............................................ 135
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
INTRODUÇÃO
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Sumário
No final de 2008, as justiças federal e estadual demandaram a participação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em alguns casos de
poluição nas águas da bacia mais importante para João Pessoa e região, a
bacia do rio Gramame, que abastece a Grande João Pessoa (GJP). Como a
demanda era por informações técnicas, o Centro de Ciências Exatas e da
Natureza (CCEN) da UFPB formou uma comissão com pesquisadores de
diferentes áreas, biologia, química e de ciências humanas, da qual eu fiz
parte. Após um ano de trabalhos a comissão entregou um relatório aos
ministérios públicos federal e estadual da Paraíba, os quais, em seguida,
iniciaram um processo de negociação de um documento chamado de
TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), no qual as empresas se comprometem com as medidas de controle da poluição.
Autor
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
Panorâmica de João Pessoa e região, represa Gramame-Mamuaba em primeiro plano à esquerda
e ao fundo a cidade de João Pessoa (via Google Earth).
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Sumário
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No relatório do CCEN foi confirmado o que todos que conhecem o rio já
sabiam, o rio está morrendo asfixiado e envenenado, quase não pode mais
sustentar a vida aquática e a vida humana em seu entorno. Atuando na área
de oceanografia, eu sabia que existiam alguns problemas na bacia do Gra-
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
mame, até porque já eram perceptíveis alguns efeitos nas águas costeiras.
Aliás, efeitos comuns a várias cidades costeiras do mundo, como a diminuição da transparência da água e a tendência à estagnação. Entretanto, na
época eu não fazia ideia da real dimensão do problema, foram necessários
alguns anos de pesquisas para entender o quão grave é a nossa situação.
Sempre que tive oportunidade, levei essa questão aos atores governamentais, seja em conselhos municipais e estaduais de meio ambiente, em inúmeras
reuniões com distintas audiências, fui também às redes sociais e iniciei uma
petição pública, e até carreguei cartazes em demonstrações de rua. Passados
uns cinco anos e praticamente nenhuma mudança substancial foi observada na gestão da bacia do Gramame, os poluidores e outros transgressores
ambientais continuam atuando como sempre o fizeram. Obviamente, meu
trabalho estava longe de estar concluído. Como mais recente recurso, tentei
organizar nesse texto o resultado desses anos de pesquisa, com a intenção de
esclarecer ao cidadão da GJP (Grande João Pessoa) a que riscos ele está sendo
submetido, sem que se tenha pedido sua permissão.
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Tarcisio A. Cordeiro 2014
A propósito, o link para a petição é:
http://www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=P2013N44172
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
O GRAMAME E A ACADEMIA
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Por décadas, pesquisadores e estudantes da UFPB vem estudando a
Bacia do Gramame, sob os mais diversos aspectos, seja geologia, geografia, clima, fauna, flora e ainda, as águas do ponto de vista da engenharia
hidráulica, hidrografia e hidrologia, da química e da ecologia, aspectos
socioeconômicos e sócio ambientais. Enfim, em vários centros da UFPB
e UEPB, trabalhos vem sendo publicados por alunos de graduação, mestrado, doutorado e pelos próprios pesquisadores. Quer dizer, se a gestão
correta dos mananciais não acontece não é por falta de conhecimento,
porque ele existe e está disponível e ainda, mesmo quando tomamos um
trabalho sobre aspectos de engenharia ou de ciências sociais, uma constante na maioria dos trabalhos é o alerta que se dá sobre a inexistência de
conservação das margens dos rios do Gramame.
Peço aqui desculpas aos colegas por não citar todos os trabalhos que
encontrei, isso foi feito intencionalmente para não correr o risco de esquecer
alguém e também porque a intenção deste livreto sempre foi de ser breve e
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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direto. Ao escrever este texto, em momento algum me preocupei em atender
à comunidade acadêmica, até porque ela já está consciente do problema.
O que, agora numa perspectiva mais pessoal, demorei muito para entender é que o saber gerado na academia tende a permanecer na academia.
Alguns funcionários de órgãos públicos eventualmente se atualizam e leem
alguns dos trabalhos acadêmicos, mas isso não tem gerado qualquer mudança de atitude das instituições oficiais sobre o Gramame.
Quanto aos políticos, eu às vezes duvido que alguns deles leiam qualquer coisa, muito menos que leiam trabalhos de pesquisa e, mesmo quando
a informação lhes cai nas mãos, ainda assim os políticos não são efetivos em
promover as mudanças necessárias, seja porque seu partido é beneficiado
com doações de empresas da região do Gramame, seja porque são simplesmente incapazes de levantar a voz sobre este assunto. O fato é que desde
antes da formação da barragem Gramame-Mamuaba se sabe dos riscos de
uma má gestão de suas margens e nem por isso algo foi feito.
Novamente eu tenho de pedir sinceras desculpas, dessa vez aos leitores, porque embora fazendo parte da comunidade mais intelectualizada da
sociedade, fui ao mesmo tempo muito burro e demorei alguns anos para
perceber que este problema é simplesmente muito grande para a academia.
Depois de quatro anos lidando com essas questões, hoje eu entendo que se
uma considerável parte da população não se mobilizar para reivindicar uma
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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Sumário
mudança na gestão do Gramame, todos os trabalhos acadêmicos só servirão
para os historiadores do futuro saberem como foi que perdemos esses rios.
Acredito que outros órgãos públicos, por ex. ministério público, também
devem achar que o problema é muito grande para eles. Justamente essa percepção me levou a iniciar a petição pública e a escrever este livreto, é o que
ainda está ao meu alcance. Estou convencido de que se mais pessoas aderirem
a esta causa, as chances de mudança crescerão significativamente. Neste momento, até aonde a minha vista alcança, só o que pode funcionar é a pressão
popular, cobrar insistentemente para que se restaure o Gramame a níveis aceitáveis e dentro das leis ambientais. Se a população da GJP não se mobilizar,
nenhuma mudança positiva vai acontecer e no fim, vamos todos adoecer.
Lembrando que, mesmo restaurada a paisagem nas margens dos rios do
Gramame, ainda vamos ter resíduos de pesticidas por décadas em nossas
águas, a mobilidade e resistência dos resíduos de agrotóxicos variam muito
de um produto para outro e de suas combinações, mas ainda assim existe
a certeza de que, em um determinado momento, a vida voltará a Bacia do
Gramame e teremos também certeza de que a sua água se tornará mais
pura, nem que seja para nossos netos.
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
COMO VAI O GRAMAME?
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As águas dos rios Gramame e Marés são as que abastecem quase toda
a população da GJP, são elas que garantem a sobrevivência de cerca de um
milhão de pessoas nessa parte do planeta. A apropriação humana do solo
dessas e de outras bacias hidrográficas da região para desenvolvimento urbano, industrial e agrícola foi bem além dos limites do razoável. Todo esse
processo de ocupação do espaço sempre foi regado com altas doses de necessidade e cobiça, e na falta de um estado vigilante, excessos foram e ainda
são cometidos. A gestão ambiental dos nossos mananciais é quase nula e
não pode garantir a saúde e a vazão dos rios e consequentemente, a qualidade da água para consumo humano.
Embora a obtenção de água potável seja essencial, esse não é o único uso
que os humanos têm para os rios, eles são importantes na produção de alimentos, como vias de transporte, para a geração de energia, na manutenção
da vida selvagem e de locais de recreação, e ainda, muito comum atualmente, como o destino final de resíduos. Outros usos ainda podem aparecer em
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alguma parte do texto que se segue, mas o que se vê, globalmente e aqui na
GJP também, é que os impactos da atividade humana não só vêm limitando
esses usos como também já vem ameaçando o abastecimento público.
No caso do rio Gramame, por ex., o maior volume de suas águas é utilizado supostamente no abastecimento da GJP, em seguida vem a irrigação da
cana-de-açúcar (Santos 2009); é justamente da atividade agrícola que vem
a poluição de maior risco para a saúde humana, na forma de agrotóxicos e
fertilizantes.
Além da poluição agrícola, infelizmente existem ainda a industrial e a urbana. Existe sim o risco desses dois tipos de poluição acima da represa Gramame-Mamuaba, no entanto, a maior parte da poluição industrial e urbana
é mais concentrada à jusante (depois) da captação da CAGEPA. Somadas as
poluições agrícola, industrial e urbana, temos como resultado um corpo de
água com maiores limitações de usos, por ex. as águas do médio e baixo
Gramame não podem mais ser usadas para dessedentar animais e irrigar
hortas, muito menos para consumo humano, seja para tratar alimentos ou
tomar banho. O efeito mais direto de toda a poluição foi sobre a saúde do
ecossistema, ocorreu uma quebra da produção biológica, peixes e crustáceos praticamente desapareceram, bem como hortas irrigadas e criação de
animais, tudo parou em vários setores do baixo Gramame. A deterioração
progressiva da qualidade da água acabou por afetar e eventualmente des-
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
truir o modo de vida e, quem sabe, a saúde de umas três mil pessoas (ver
apêndice), distribuídas nas comunidades ribeirinhas de Mituaçú, Colinas do
Sul, Gramame e Engenho Velho.
Reunião de representantes de associações de moradores de Mituaçú com professores da UFPB/CCEN
e Ministério Público Estadual em 25/07/2008, para reivindicar o fim da poluição do Gramame (foto do autor).
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Decerto esse é um desastre ambiental e que curiosamente se tornou
invisível, apesar de algumas ações terem sido movidas por associações
de moradores junto aos órgãos públicos e de algumas matérias veiculadas em jornais e televisão. Passados mais de 15 anos de lutas e uma vez
que a situação ambiental só vem deteriorando, a população ribeirinha já
não acredita mais nas instituições do estado. Por força das circunstâncias,
muitos se adaptaram a alguma nova forma de subsistência, alguns emigraram para centros urbanos e ainda, uns tantos se tornaram empregados das empresas poluidoras.
Mas a deterioração ambiental não se restringe aos rios de água doce
propriamente ditos. Apesar de ocorrer uma diluição de poluentes em contato com a água do mar na região estuarina, onde ocorre o manguezal, é
uma unanimidade a percepção dos pescadores locais no que diz respeito à
diminuição da produção de pescado. Na realidade, os impactos negativos
da poluição se estendem até a região costeira, afetando ainda os corais e
nossas praias urbanas. A seguir tentaremos analisar de que forma este quadro de degradação ambiental da bacia do Gramame vem afetando a vida do
cidadão da GJP, no presente e em um cenário futuro.
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
A Bacia do Gramame drena aprox. 59 mil hectares da Zona da Mata Paraibana e está contida em áreas
de sete municípios. SCIENTEC/UFPB (2000). “Antes que chovam as críticas, o setores Alto, Médio
e Baixo Gramame foram delimitados arbitrariamente e tendo pura conveniência como critério.”
Locais amostrados pela Comissão UFPB/CCEN
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#
local
#
local
1
foz riacho Mussuré
6
canal Mamuaba-Gramame
2
emissário COTEMINAS, rio Mumbaba
7
vertedouro represa Gramame-Mamuaba
3
emissário CONPEL, rio Gramame
8
ponte cia GIASA sobre rio Gramame
4
represa CONPEL, rio Gramame
9
nascente rio Gramame
5
estação de bombeamento CAGEPA, rio Gramame
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
O QUE SE VEM FAZENDO NAS TERRAS DO GRAMAME
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É um lugar comum o conhecimento de que alterar as paisagens naturais
das margens dos rios afeta sempre a dinâmica da água e sua qualidade, no
entanto, a destruição da paisagem original é a condição prevalecente no
Gramame. Em 1998 as atividades humanas já reivindicavam 87% do solo de
toda a bacia, deixando menos de 13% de vegetação nativa. Plantações, pastos, áreas urbanas e industriais foram formados às margens dos rios à custa
da mata ciliar, aumentando o assoreamento e os focos de poluição.
O desmatamento, a mecanização e práticas agrícolas inadequadas
criaram condições que facilitaram o transporte de sedimentos e material
orgânico pelas chuvas até os rios, o resultado é a formação de bancos de
lama e areia que provocam obstruções da calha, é o conhecido processo
de assoreamento. Nesse processo outros efeitos são esperados, a água
fica mais turva e isso reduz a disponibilidade de luz para as plantas aquáticas e por consequência, a produção local de oxigênio de fotossíntese
também é reduzida.
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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Em vários rios do mundo vem acontecendo o mesmo processo, águas
muito turvas, com muita lama, areia e matéria orgânica e também com pouco oxigênio dissolvido, tendem a dizimar e afugentar parte da flora e fauna
aquática. O resultado final é a diminuição da diversidade e biomassa total de
plantas e animais do rio, é como se nós estivéssemos acionando para baixo
um “dimer” da vida do rio.
A redução da fotossíntese não deve deixar o rio sem oxigênio (anóxico),
existe ainda uma troca de gases com a atmosfera e esse aporte pode ser
mais importante para o ecossistema aquático do que aquele da produção
vegetal. O problema é que o excesso de sedimento e de matéria orgânica
entrando ou sendo ressuspendido no rio acaba por reduzir ainda mais a
concentração de oxigênio dissolvido na água. O oxigênio pode ser capturado em reações com alguns minerais, mas principalmente, é consumido pelas
bactérias que degradam a matéria orgânica. Aí a água pode ficar muito anóxica. No Gramame, o excesso de sedimento e matéria orgânica tende a ser
crônico, obviamente, com maior intensidade no período de chuvas.
Resumindo, somente o manejo inadequado do solo da bacia provoca
impactos muito importantes sobre os ecossistemas dos quais nós mais dependemos, limitando os processos de toda a vida aquática e também da
terrestre a ela ligada, incluindo-se aí os humanos.
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
Uso do solo na bacia do Gramame em 1998.
Fonte: SEMARH (2000a).
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No processo de assoreamento, os bancos de areia são como dunas
da praia, são móveis pela própria natureza. Assim sendo, podem ocorrer represamentos e alagamentos das margens, ou no sentido oposto, súbitos aumentos de vazão que podem destruir bens e trechos do
ecossistema. Depois de milhares de anos do rio forjando o seu leito, as
dinâmicas hídrica e de sedimentos são rapidamente (geologicamente
falando) alteradas, bem como da vida ali abrigada. É muito mais difícil
navegar no rio hoje do que o foi há 40 anos, mais ainda há 100 anos, porque com o tempo as águas se tornaram muito rasas. O pior da história é
que não precisava ser assim, a paisagem artificial foi construída em uma
orientação diametralmente oposta ao modelo de gestão regulamenta-
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
do pelo antigo Código Florestal Brasileiro (Lei 4771/65, modificado pela
Lei 7803/89) e que foi mantido no novo código (Lei 12651/2012), lembrando que o primeiro data de 1965, portanto, anterior à construção da
represa Gramame-Mamuaba.
Segundo o código florestal brasileiro (o antigo e o novo),
a faixa de mata ciliar (APP) é dimensionada em função da largura do rio.
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
Para os gestores públicos, a manutenção dos mananciais que abastecem as
cidades deveria ter a maior prioridade, a saúde da população e até mesmo o
futuro da comunidade como um todo estará em jogo se essa premissa for ignorada. O antigo Código Florestal Brasileiro, de 1965, deu a essa ideia a forma
de lei ao determinar que as matas ciliares sejam Áreas de Preservação Permanente (APP), tornando todas matas das margens intocáveis para as atividades
humanas mais triviais. Apesar de algo tímida ao dimensionar a mata ciliar para
proteger os rios e de omissa por desconsiderar a drenagem das águas subterrâneas, ainda assim o código florestal de 65 estabeleceu um padrão mínimo para
a gestão de mananciais.
Paisagem da represa Gramame-Mamuaba via Google Earth,
a área de APP nunca foi instalada e é utilizada para a atividade agrícola.
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
Uma imagem criada pelo antigo Instituto de Terras e Cartografia do Estado
do Paraná, atualmente integrado ao Instituto Ambiental do Paraná (IAP), sintetizou bem o esquema de gestão preconizado pelo Código Florestal de 65. Ao
compararmos a figura do IAP com as condições atuais das margens dos rios
do Gramame na imagem do Google Earth, veremos que a paisagem natural foi
praticamente toda suprimida, os rios estão nus. Hoje, o que encontramos no lugar das matas ciliares são canaviais, plantações de abacaxi, pastos e até areeiros.
Bancos de lama e sedimento (no caso cobertos por gramíneas) que provocam obstruções na vazão do rio,
esse é o conhecido processo de assoreamento. A vegetação vista aqui não se trata de mata-ciliar
e sim de plantas que ocupam a calha do rio (foto do autor, 2009).
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
Ao invés de mata-ciliar, a represa Gramame-Mamuaba possui “cana-ciliar”
em praticamente toda a sua margem (foto: Marco Vidal, 2009).
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As matas são muito importantes para a manutenção do ciclo hídrico, rios
com florestas tem um escoamento mais regularizado e o lençol freático permanece mais próximo à superfície, sem as matas a vazão apresentará variações maiores e as chances de enxurradas destrutivas aumentam. As florestas
evitam a erosão das margens dos rios e o assoreamento; inclusive, através
da transpiração das plantas, a ocorrência de chuvas tende a ser maior, o que
ajuda na manutenção da vida selvagem e da atividade agrícola nas imediações. Por essa e outras razões, sem floresta o rio se torna menos rio.
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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Segundo Santos et al. (2002), reflorestar uma faixa de apenas 30 metros
ao longo dos rios do Gramame significaria o resgate ambiental de aprox. 3,5
mil hectares de margens. Esses 3,5 mil hectares seriam a medida aproximada
do descaso, ou incompetência, ou até mesmo da corrupção dos órgãos ambientais e de gestão das águas do Estado da Paraíba em relação à bacia do
Gramame. Admitindo-se um valor (acredito que já defasado) de 5 mil reais
por hectare (UFRJ, 2005) para a recomposição de uma faixa estreita de mata
ciliar na bacia do Gramame, só nesse item o passivo ambiental deixado pelas más administrações já estaria na casa dos R$ 17,5 milhões - um péssimo
legado do Estado para as gerações do presente e do futuro.
No baixo Gramame a situação fica ainda mais crítica, pois se somam à poluição agrícola, rejeitos industriais e domésticos de João Pessoa e do município do
Conde. Entre as empresas poluidoras algumas ganharam mais visibilidade, no
caso a CONPEL, a COTEMINAS e a Gráfica Santa Marta. O fato é que os efluentes dessas indústrias têm cor acentuada e cheiro desagradável e, no caso das
duas últimas empresas, os efluentes contêm grandes quantidades de pigmentos e isso facilita a sua percepção por qualquer pessoa que esteja na beira do
rio. Aliás, muitos desses pigmentos são do grupo dos azocorantes, conhecidos
pela toxicidade e por serem carcinogênicos. Existe ainda uma poluição proveniente do distrito industrial de João Pessoa através de lançamentos no riacho
Mussuré. Segundo Abrahão (2006), a concentração de metais pesados nesse rio
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
está muito elevada e a carga orgânica, proveniente das indústrias, foi estimada
em 36.243 kgDBO/dia, isso equivale ao esgoto doméstico produzido por cerca
de 671 mil pessoas. É muita coisa para um rio tão pequeno.
Efluentes da COTEMINAS no baixo curso do rio Mumbaba, algumas substâncias lançadas aqui
são conhecidas pela alta toxicidade e por serem carcinogênicas (foto do autor, 2009).
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
E COMO PRECISAMOS DESSA ÁGUA
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Atualmente a bacia do Gramame garante o abastecimento de 60% da região
metropolitana de João Pessoa (70% segundo Fonseca, 2008), inclusive esse manancial pode, por curtos períodos, ser a única fonte de água tratada da região,
como aconteceu durante o alagamento da Estação de Tratamento de Água Marés (ETAM) em 2011 (Jornal da Paraíba).
Sim, Marés, algumas pessoas sempre podem lembrar-se da represa de Marés, que depois dos poços da Mata do Buraquinho foi a fonte mais tradicional
de nossa água. Acontece que Marés pode abastecer menos de 40% da população atual, acontece ainda que as margens e as águas de Marés também estão
comprometidas, principalmente com esgoto e lixo urbanos.
Bem recentemente foi escrita uma tese sobre a situação do sistema Marés,
o quadro obtido por Melo (2013) foi bastante sombrio, a urbanização não tem
respeitado a legislação ambiental e menos ainda o bom senso na gestão da água
potável. O risco de perdermos Marés é real e isso só vai mudar se a tendência de
urbanização for prontamente revertida. Infelizmente não se vê, na área da gestão pública, qualquer intenção em limitar e muito menos reverter as agressões
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
ambientais presentes no sistema Marés. Na realidade, a CAGEPA já bombeia
regularmente água de dois rios da bacia vizinha, justamente do Mumbaba e do
Gramame, para abastecer a Estação de Tratamento de Água de Marés.
Esquema do sistema de abastecimento de água da GJP, modificado de Santos (2009).
Note-se que as águas dos Rios Gramame e Mumbaba são bombeadas (EE Gramame e EE Mumbaba)
para abastecer a Barragem de Marés. Além disso, águas tratadas na ETA de Gramame são transpostas
por tubulação até a Estação de Tratamento (ETA) de Marés para então serem distribuídas.
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Voltando ao Gramame, boa parte da sua água é utilizada na agricultura,
são cerca de 1960 hectares irrigados, dos quais 1500 somente da empresa
GIASA, a qual utiliza ainda até 250 litros por segundo durante a operação da
sua usina (Santos, 2009). Já o rio Mumbaba, de menor dimensão, tem apenas cerca de 480 hectares irrigados, entretanto sofre mais com a mineração
de areia em suas margens.
O abastecimento da GJP demanda atualmente 1,8 m3/s do Gramame e
0,8 m3/s de Marés, totalizando 2,6 m3/s ou ainda, 224.640 m3/dia. Estimando-se um consumo per capita diário de 150 litros e multiplicando por uma
população de 1 milhão de habitantes, teremos uma demanda de 200.000
m3/dia somente para o consumo individual, restando apenas 24.640 m3/dia
para atender as demandas da indústria e do comércio. Na realidade, se considerarmos as perdas normais no sistema de distribuição (entre 10 e 40%),
teremos bem menos do que 24 mil m3/dia para a indústria e o comércio. Por
esse motivo, a CAGEPA, muitas empresas e condomínios captam água do
subsolo para complementar o abastecimento. Por ex., a UFPB possui cinco
poços artesianos em uso atualmente.
O fato é que a bacia do Gramame está no seu limite de retirada de
água para uso humano, segundo Cabral da Silva et al. (2002), atualmente
63 % da demanda de água é para o abastecimento urbano, 36 % para a
irrigação e 1 % para abastecimento na própria bacia. Isso significa que
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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muita água está sendo retirada do rio e que a maior parte não irá retornar
porque será lançada na forma de esgotos em outros rios, principalmente
nos rios Cuiá e Tambiá.
Uma visita à estação de bombeamento da CAGEPA no rio Gramame
pode dar a real impressão do que falam esses números. Após a captação da
CAGEPA sobra muito pouca água para alimentar o rio, provavelmente menos
de 5% nas estiagens. Isso vem agravando a condição ambiental rio abaixo
porque a pequena vazão não promove a diluição da poluição e renovação
da água de forma consistente nos cursos médio e baixo do rio. Como o rio
ficou mais fraco, a maré ficou mais forte, isso significa que a zona estuarina
deve ter avançado um pouco mais continente adentro, modificando a paisagem e diminuindo o espaço de água doce.
Para atender a crescente demanda por água do Gramame, foi sugerida
no Plano Diretor da Bacia uma redução do uso de água para a irrigação, o
que daria maior tempo para se buscar novas soluções. O fato é que, na prática, ninguém controla ao certo o volume de água usado na irrigação. Isso
catalisou a crise de água da GJP durante a estiagem de 1999, os agricultores
tiraram tanta água que desabasteceu a CAGEPA. Sabe-se que existem ligações temporárias e clandestinas e que elas nem sempre são fáceis de detectar. A criação de uma Área de Proteção Ambiental na margem dos rios pode,
como efeito colateral, promover um maior controle social sobre esse proces-
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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so da irrigação. Além disso, a irrigação agrava o problema da lixiviação dos
fertilizantes e agrotóxicos para a água dos mananciais.
Ainda para atender a crescente demanda por água na GJP, está em construção uma adutora que deverá trazer mais 1,12 m3/s da bacia Abiaí-Papocas,
situada na região mais ao sul da Zona da Mata paraibana. Esse projeto foi orçado em 55 milhões de reais em 2008 quando do início de sua construção, mas
recentemente foi feito um novo aporte na ordem de 88 milhões e a data para
conclusão ainda é incerta. Essa adutora deverá atender as demandas da GJP até
2020, lembrando que só faltam seis anos para chegarmos lá e que as margens
daquela bacia já apresentam os mesmos problemas que as do Gramame.
De forma geral, as questões que mais chamam a atenção na bacia do
Gramame são o esgotamento do manancial, na medida em que a demanda
está superando a oferta e ainda, não menos importante, a gestão ambiental
imprópria ou inexistente, que não favorece a manutenção da vazão e muito
menos garante a qualidade da água. Águas destinadas ao abastecimento
humano são utilizadas para a agricultura e para a indústria antes mesmo de
serem coletadas para o tratamento. No curso médio e inferior dos rios, as
águas que poderiam servir para a agricultura, pecuária, pesca de subsistência, turismo e recreação são utilizadas em processos industriais e como destino de efluentes industriais e domésticos. Enfim, o rio que deveria manter a
vida está moribundo, tiramos nota zero em planejamento.
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
Para garantir o abastecimento humano, o plano diretor da Bacia do Gramame sugere a redução do volume outorgado para
a irrigação, mas não existe uma fiscalização muito efetiva para saber quanta água vem sendo retirada para a irrigação.
Pescador do rio Gramame tentando a sorte a montante de um foco de poluição, no caso, efluentes da CONPEL,
de cor escura e com forte odor de gás sulfídrico (foto do autor, 2008).
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
Em águas de rios saudáveis são necessárias pequenas quantidades
de cloro para termos uma boa água para consumo humano. Se o rio fica
desprotegido, vamos precisar de mais produtos químicos e em maiores quantidades para tornar a água potável (além do cloro, coagulantes,
correção de pH, algicidas, oxidantes e substâncias para remover gosto
e odor). Some-se a isso a suspeita de que os resíduos desses produtos
químicos afetam a saúde humana, por ex. a polêmica com relação ao
coagulante sulfato de alumínio que estaria ligado ao surgimento precoce
do mal de Alzheimer. Segundo o Prof. José Galizia Tundisi, ex-presidente
do CNPq e atualmente liderando o Instituto Internacional de Ecologia, a
retirada da mata ciliar diminui a vazão dos rios e eleva em cerca de 100
vezes os custos com o tratamento da água.
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
AGROTÓXICOS - O LADO SOMBRIO DA CIÊNCIA
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De todos os capítulos deste livro, este foi o que me deixou menos à vontade,
é um assunto espinhoso e tortuoso, com muita informação contraditória, ciência e contra-ciência nos mesmos veículos de informação, academia e laboratórios corporativos fornecendo resultados conflitantes e os estados sendo reféns
de estratégias de mercado e de pressões políticas e econômicas. Enquanto isso,
sem nenhuma ciência, o cidadão comum está sendo deliberadamente afastado
de qualquer processo decisório sobre as novas tecnologias agrícolas e sobre
como deve ser a sua dieta. O cidadão brasileiro nunca teve espaço institucionalizado para se manifestar sobre as licenças para o plantio de transgênicos ou
sobre a entrada de novos pesticidas no país. A penetração dos transgênicos e
seus venenos é hoje tão grande no Brasil, que é praticamente impossível obter
alimentos industrializados que não contenham produtos derivados de plantios
geneticamente modificados, a saber, para aguentar mais agrotóxicos. Todos os
brasileiros estão em contato com sementes transgênicas, seja através do cereal
matinal, de um galeto ou até mesmo de uma simples cerveja.
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Acostumado com artigos e livros de oceanografia onde a ciência envolve
menos interesses econômicos, fiquei assustado quando comecei a estudar a
questão dos agrotóxicos, sua legalização, emprego e comercialização; de repente eu estava sendo confrontado com o lado mais sombrio da ciência. O garimpo
de um artigo científico já é um trabalho demorado, dado o enorme número de
revistas, teses e autores disponíveis nos bancos de dados e bibliotecas. No caso
dos agrotóxicos, tem-se ainda que tentar desvendar qual é o viés de uma dada
publicação, se pró ou contra a indústria agroquímica, porque os dois lados se
dizem fazendo ciência, mas parece evidente que alguns autores estão mentindo. Existe muito dinheiro na indústria agroquímica e essas empresas financiam
pesquisas dentro das universidades e assim, nem as academias ficam totalmente isentas de apresentar algum viés favorável à agroquímica.
Mesmo quando não é financiada pela indústria agroquímica, a academia
não está imune às pressões do meio externo. Não raro pesquisadores independentes são agressivamente intimidados pelas empresas para ficarem calados. O modo como essa pressão ocorre já é bem conhecido, por ex., através
de processos jurídicos, ataques na mídia e em revistas científicas para tentar
desqualificar resultados que não se coadunam com os interesses das empresas
e até, através dos canais da política, conseguindo a demissão de profissionais
competentes. Em alguns casos, os pesquisadores foram fisicamente ameaçados, por ex. o Dr. Tyrone Hayes (da Universidade de Berkeley, USA.).
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
“Trabalho no campo antes e depois da Monsanto, alguma pergunta?” Um movimento social em escala mundial
vem se desenvolvendo, clamando por uma agricultura mais limpa (Natural Cures Not Medicine).
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Uma rápida busca no “oráculo” (Internet) pode trazer alguns dos casos
mais conhecidos de pesquisadores e repórteres intimidados e até demitidos
por falarem mal da indústria agroquímica e/ou da de biotecnologia. A começar por Arpad Pusztai e Stanley Ewen do Instituto Rowett, Escócia; Shiv
Chopra, Gérard Lambert e Margaret Haydon, do Health Canadá; Jane Akre
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e Steve Wilson, ex-repórteres da Fox-EUA; Richard Burroughs, da FDA-EUA;
Cate Jenkins, William Sanjour e Louis Pribyl, da EPA-EUA; Irina Urbikova, Russia; Andrés Carrasco, Univ. Buenos Aires, Argentina; Ignacio Chapela, Univ.
Berkeley, Califórnia – EUA; Tyrone Hayes, ex-Berkeley, EUA; e o estrondoso
caso de Gilles-Eric Séralini, Universidade de Caen, França.
No Brasil, em 2012, temos o caso de Luiz Cláudio Meirelles, ex-gerente de toxicologia da Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA), que foi
demitido após ter feito denuncia ao Ministério Público de um esquema
de falsificação de laudos dentro da própria ANVISA – um após o outro,
a indústria agro-química vem arruinando heróis públicos dentro de suas
próprias fortalezas.
Os agrotóxicos já se configuram em uma crise mundial, em que países
ricos e emergentes são os locais onde essa questão já se tornou aguda.
O Brasil aparece como o número 1 dessa lista, na frente até dos EUA. Só
para exemplificar, desde 2008 o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, em 2011 foi alcançada a marca de 936 mil toneladas de
pesticidas lançados em nossos campos e em 2012 foi ultrapassada a marca de um milhão. Isso é uma grande e absurda insanidade, porque esse
milhão de toneladas de venenos não vai ficar nos campos, vai chegar na
nossa água e no nosso alimento, viaja pelo ar e contamina até as nuvens
que caem em nossas nascentes e quintais.
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
Fonte: Situação do Mercado de Agrotóxicos no Mundo e no Brasil, em: WordPress.com/2010.
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Segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2008) os trabalhadores
rurais são os mais afetados pela nova agricultura, trazendo estatísticas alarmantes de 3 milhões de casos de intoxicação aguda por ano no mundo, sendo que
99% das mortes ocorrem em países menos desenvolvidos. No Brasil fala-se em
8 mil casos de intoxicação aguda em 2011, mas esse número tem gerado muitas dúvidas e o próprio Ministério da Saúde admite que é muito inferior ao real,
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
só não se sabe o quanto. A última publicação do SINITOX (Sistema Nacional de
Informações Tóxico Farmacológicas), disponível na Internet, data de 2011 mas
os dados são referentes a 2009; lá estão registrados 11.641 casos de intoxicação
aguda. Menos ainda se sabe, no Brasil, sobre as intoxicações não agudas e crônicas. Hoje, o trabalho rural é a profissão de maior risco para a saúde humana e
o custo para a saúde pública é bem alto, como veremos adiante.
Poster de campanha no Brasil, publicado pela contraosagrotoxicos.org, organização formada
por mais de 100 entidades nacionais, entre elas FIOCRUZ, ABRASCO, INCA, MST, CREA, CUT e por aí vai.
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Segundo a ANVISA, após uma pesquisa realizada entre 2001 e 2012 em
27 Estados (Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos - PARA), 36%
dos alimentos que chegam a nossa mesa estão com resíduos de agrotóxicos acima do permitido, 42 % tem resíduos dentro do permitido e somente
em 22 % das amostras não foi detectado qualquer resíduo. Em 32% das
amostras foram encontrados resíduos de produtos proibidos no Brasil ou
indicados para outros fins que não os alimentos.
Esses resultados comprovam que nossa comida tem nos fornecido doses diárias de veneno. E a situação é certamente pior do que indicam os
números da ANVISA, pois foram utilizadas amostras de apenas 13 tipos de
alimentos. Nos Estados Unidos e na Europa a rotina de controle de resíduos de agrotóxicos examina centenas de tipos de alimentos. Além disso,
a pesquisa considerou apenas 235 ingredientes ativos, deixando de fora
outros 400 liberados para uso no Brasil, inclusive o glifosato, que já corresponde a 40% das vendas no país. Logo, onde se lê “22% das amostras sem
resíduos”, devemos ler “22% das amostras não apresentou nenhum dos
235 ingredientes pesquisados”.
Isso indica a precariedade na orientação e fiscalização do uso dos pesticidas entre os agricultores e o problema da “multiexposição” para os consumidores, que devemos tratar mais adiante.
Como se não bastasse a grande penetração dos agrotóxicos em nossas
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vidas, vem associado a isso um fato bem conhecido e já tem muito tempo,
de que os agrotóxicos são difíceis e caros de rastrear. Por ex. Gilliom em 1984
observou que a rede de monitoramento de pesticidas da USGS (United States
Geological Survey - Pesquisas Geológicas dos EUA) tinha um limite de detecção de 0,05 µg/litro, para o DDT, entretanto o critério para a vida aquática era
de 0,001 µg/litro e para a saúde humana o valor máximo permitido (VMP) estava em 0,0002 µg/litro, portanto em níveis muito menores do que os métodos
utilizados permitiam detectar. Ongley (1996), em um artigo da FAO complementa: “se o problema de detecção acontece nos Estados Unidos, isso sugere
que essa questão deva ser muito mais séria em países em desenvolvimento.”
Não é que é mesmo? Na verdade, a maioria dos estados brasileiros não tem
laboratórios e pessoal capacitado para realizar as análises, e às vezes quando
têm, esbarram na capacidade de detecção.
A Paraíba não tem laboratórios para analisar agrotóxicos, seja na água ou
em alimentos, muito menos no sangue humano. O recurso mais próximo é
em Pernambuco (ITEP-UFPE), onde podem ser pesquisados até 223 ingredientes de agrotóxicos, num processo que pode levar meses. Imagine agora
se quisermos investigar resíduos de agrotóxicos em uma feira da capital ou
região, até que o resultado seja divulgado, todos os produtos agrícolas já
foram consumidos ou apodreceram.
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
A MENTIRA DAS TABELAS
DE VALORES MÁXIMOS PERMITIDOS (VMPs)
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Existe ao redor do mundo, e no Brasil também, uma discussão sobre
a validade das tabelas de concentração máxima permitida de pesticidas
nos alimentos e na água. Essas tabelas são utilizadas pelos órgãos ambientais e de controle de alimentos para estabelecerem, digamos assim,
uma legalização da poluição. Os valores das tabelas têm origem em testes laboratoriais que custam caro e tomam tempo, mesmo assim, novos
produtos são lançados todos os dias. Essas tabelas têm como característica em comum, que cada valor é obtido através de algumas mágicas
aritméticas, considerando-se, por exemplo, o peso médio de um rato de
laboratório e de um humano adulto e assumindo que nossas reações sejam iguais às dos ratos.
Autor
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
A Portaria n.º 2914/2011 do Ministério da Saúde estabelece o valor máximo permitido (VMP)
na concentração de alguns pesticidas na água para consumo humano.
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Agrotóxico
2,4 D + 2,4,5 T
Alaclor
Aldicarbe + Aldicarbesulfona
+Aldicarbesulfóxido
Aldrin + Dieldrin
Atrazina
Carbendazim + benomil
Carbofurano
Clordano
Clorpirifós + clorpirifós-oxon
DDT+DDD+DDE
Diuron
Endossulfan (α β e sais) (3)
Endrin
Glifosato + AMPA
Lindano (gama HCH) (4)
Mancozebe
Metamidofós
Metolacloro
Molinato
Parationa Metílica
Pendimentalina
Permetrina
Profenofós
Simazina
Tebuconazol
Terbufós
Trifluralina
VMP (μg/L)
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20
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0,03
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7
0,2
30
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90
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O fato é que nenhuma dessas tabelas trata da multiexposição ou das
diferentes vias de contato (ingestão oral, pelo ar ou pele). Ou seja, o que
acontece se um rato de laboratório, ou um humano, ingerir o pesticida A em
doses não letais, combinado com o pesticida B em concentração também
não letal. Também faz diferença se o contato é pelo ar ou pelo alimento, os
efeitos sobre a saúde podem ser maiores ou menores para um mesmo produto dependendo da via de acesso. Essas tabelas legalizam um mundo de
ficção e sem qualquer conexão com a realidade, ninguém é exposto a um
único produto e pouco se sabe sobre a sinergia dos venenos, ou seja, quais
são os efeitos quando estão combinados.
Como se não bastasse essas limitações mais estruturais das tabelas, elas
nem sequer se preocupam em proteger a parte mais frágil da população que
são os bebês. Além de serem normalmente mais sensíveis aos venenos, os
lactantes podem ingerir doses concentradas desses produtos através do leite
materno ou ainda antes mesmo de nascer, através da placenta e do líquido
amniótico. O resultado pode ser o desenvolvimento de alergias, problemas
de desenvolvimento e também, já relatado, dificuldades no aprendizado e
nos piores dos casos, má formação do feto e aborto.
As combinações possíveis de pesticidas a que estamos expostos é um número muito grande, por ex., só na Bacia do Gramame já foram identificados
72 pesticidas diferentes (Gadelha et al., 2000). Aliás, essa lista de pesticidas
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
do Gramame já é bem maior do que aquela da tabela VMP do Ministério da
Saúde, com somente 27 pesticidas. Se formos analisar as combinações possíveis, teremos números gigantescos de forma que nenhum Estado vai poder
realizar tantos testes toxicológicos. Voltando aos 72 produtos identificados no
Gramame, se formos combinar cada dois pesticidas, teremos de realizar 2.556
análises, se forem combinações de 3, o número de testes sobe para 59.640, e
assim por diante. É simplesmente impossível para qualquer país avaliar a toxicidade combinada dos produtos a que estamos expostos no dia a dia.
Classificação dos pesticidas usados na Bacia do Gramame, modificado de Gadelha et al., 2000.
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I - Extremamente
Tóxica
II - Altamente
Tóxica
III - Mediamente
Tóxica
IV - Pouco
Tóxica
Aminol
Atta - Fos 50
Advance
GesapaxGrda
Boxer
Biarbinex 400
Asulox
Gotafix
Dimexion
Cention
Benlate 500
Extravon
DMA 806 BR
Diuron 500 SC
Cention SC
Recomil
Dontor
Fusilade 125
Counter 50G
Wil fix
Endosulflan 350 CE
Herbroun 500
BR
Gemine
Folidol
Karmex 500 SC
Herbipak 500 BR
Agril
Assist
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Gramocil
Katana
Manzat 800
Cercobin 500 SC
Gramoxone 200
Plenum
MSMA 720 CE
Óleo mineral
Laço CE
Premerilin 600
CE
MSMA 720 CS
Recop
Lannate BR
Roundup
Perflan 800 BR
Triona
Marathien 1000 CE
Sinerge CE
Provence 750 WG
Perfekthion
Stta - fos
Simbar 800
Tordon 2.4-D
Sumithion
500CE
Tebuthiuron 500 SC
U 46 D - Fluid 2.4
Thiodan CE
Topeze SC
Vertimec 18 CE
Carbarlfersol pó
75
Countain
Agritoato
Dicis 25 CE
Dithane
Aminol 806
Karate 50 CE
Ridonilmamcozeb
Azodrin 400
Sharpa 200
Metasystox
Talcord 25 CE
Nuvacron 40
Stron
Tamaron BR
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Atualmente existem relativamente poucos trabalhos tratando da sinergia
de diferentes produtos, mas já se sabe que em alguns casos o resultado é
mais nefasto do que a exposição aos produtos separadamente (ex. Pape-Lindstrom e Lydy, 1977; Howe, Gillis e Mowbray, 1988; Anderson and Lydy,
2002; Elhalwagy e Zaki, 2009).
Ayres (2000) colocou muito bem essa questão em seu artigo “The Four
Spikes”; ele relata o caso da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA),
a qual instituiu um programa em 1993 para testar, à luz de novos conhecimentos, a toxicidade de 20 mil produtos orgânicos sintéticos (POS) já em
uso, entre eles os pesticidas, bem como para a liberação de novas substâncias. Até o ano 2000 a EPA não tinha realizado nem 1,5% dos testes. No
ritmo em que vêm sendo realizados, serão necessários mais 560 anos de
trabalho na EPA só para testar os produtos já no varejo, sem incluírem-se
os cerca de 2,5 mil novos produtos que chegam ao mercado todo ano.
Resumindo, na questão dos produtos orgânicos sintéticos (os agrotóxicos
também o são), é como se a humanidade estivesse navegando à noite,
com céu encoberto, sem bússola, sem mapa e sem sequer uma lanterna.
Não temos a menor ideia de onde exatamente esse caminho vai dar, mas
podemos “tranquilamente” presumir que será um desastre.
Da mesma forma, algo que as tabelas VMPs também ignoram, é que os
produtos da degradação dos agrotóxicos (também chamados de metabóli-
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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Sumário
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tos) podem ser mais tóxicos que a fórmula que lhes deram origem e assim,
as avaliações de risco também não consideram os subprodutos dos venenos
liberados no ambiente. Os metabólitos podem surgir no interior de plantas
ou animais, na água ou no solo e podem variar dependendo do ambiente,
ex. variações de pH, temperatura, substâncias no solo e na água podem levar
a geração de diferentes fórmulas. Os metabólitos podem ser mais persistentes no meio ambiente (Papiernik and Spalding, 1998) e ainda permanecer
na cadeia trófica (Ralston-Hooper et al. 2009).
Além das questões da multiexposição e dos metabólitos, tem-se visto
muitas críticas aos métodos de avaliação e licenciamento de novos produtos. Para vários cientistas, as experimentações são muito curtas e em muitos
casos, realizadas pelas próprias empresas que querem aprovar o produto,
gerando assim um conflito de interesse para o qual os Estados simplesmente fecham os olhos. Na verdade, esse é o caso tanto nos EUA como no Brasil,
os novos venenos são aprovados com base em testes feitos pelas próprias
empresas que os produzem. Isso é uma cretinice ao cubo e só é possível em
Estados completamente reféns do capital.
Quando eu usei a expressão “o lado sombrio da ciência”, me referi
também aos lobbies e sistemas de pressão que permeiam a casas legislativas, órgãos do governo e até mesmo as academias. Por ex. criou-se uma cultura tão forte do agrotóxico na academia brasileira que em
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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algumas universidades, se algum estudante começar a falar mal dos
agrotóxicos, provavelmente será execrado e não conseguirá emprego
depois de formado.
A indústria agroquímica e biotecnológica mantém bancadas de representantes políticos em várias partes do mundo para a defesa de seus
interesses comerciais. Na Câmara de Deputados e no Senado Brasileiro,
alguns desses representantes pertencem a bancada dita ruralista, que
recentemente emplacou um código florestal que procurou perdoar todas as dívidas dos desmatadores e poluidores e tentou suprimir algumas
áreas de preservação permanente. Além disso, essa bancada vem conseguindo a entrada de novas sementes transgênicas e seus venenos e em
outra frente, vem combatendo a marcação (com o “T”) na embalagem de
alimentos transgênicos. Mais recentemente a bancada pretende retirar
da ANVISA e do IBAMA o processo de licenciamento de novos venenos
enquanto procura aumentar ainda mais a sua influência sobre a Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para aprovar novas sementes transgênicas (e seus venenos associados). Na CNTBio existem conflitos de interesses que não são casuais, onde pesquisadores e consultores
que trabalham para a indústria agroquímica e biotecnológica são maioria
no processo de licenciamento de novos produtos.
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
No Brasil, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor e várias outras ONGs vêm lutando contra
o fim da marcação dos alimentos transgênicos, o consumidor tem o direito de saber o que está comendo.
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Para a indústria agroquímica, através de seus representantes políticos, o licenciamento de novos venenos no Brasil deveria ficar a cargo de
um ou mais funcionários do Ministério da Agricultura, tirando o IBAMA,
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a ANVISA e o Min. Saúde da discussão. Esse novo funcionário eventualmente nem saberá o que é um ciclo benzeno e seria provavelmente indicado por algum(ns) lobista(s) da agroquímica. Ficaria enfiado em algum
canto até que alguma empresa precisasse de algum licenciamento. Por
mais que essa possibilidade seja muito sombria, ela pode virar fato. Se o
leitor não estiver acreditando que um setor da indústria possa direcionar
a política de biossegurança de um país, procure ver, por exemplo, a audiência pública realizada no MPF sobre o veneno 2,4 D no link: http://
www.tvmpf.mpf. gov.br/videos/284 (são três vídeos).
É nesse ambiente dominado pelas empresas agroquímicas, é nesse universo
que aparecem as tabelas VMPs como uma forma de tornar os alimentos e a água
com resíduos de agrotóxicos aceitáveis para o consumo. A ANVISA, como outros
órgãos semelhantes em outros países, vive em agonia, sem poder lidar de forma
adequada com uma demanda tão grande de análises, fiscalizações e licenciamentos das mais de 130 indústrias de venenos cadastradas no país. Enquanto o
segundo lugar no emprego de agrotóxicos, os EUA, tem quase 800 funcionários
para analisar e fiscalizar, o Brasil tem menos de 50. Isso, em boa parte porque
aqui o custo de licenciamento de agrotóxicos é 630 vezes menor do que nos
EUA, e no varejo, os agrotóxicos no Brasil gozam de fartas isenções fiscais.
Quando a ANVISA começa a analisar e discutir a aprovação de novos
produtos ou retirada de outros ainda em uso, aparece sempre um lobby
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
exercendo enorme pressão em relação a prazos e resultados, geralmente da ala ruralista brasileira e de seus representantes no executivo. Para
ver alguns depoimentos de funcionários da ANVISA e de pesquisadores,
procure ver o documentário “O Veneno está à Mesa”, que possivelmente custou o cargo do então presidente da ANVISA. http://www. youtube.
com/watch?v=8RVAg D44AGg.
Tabela: Situação do Mercado de Agrotóxicos no Mundo e no Brasil, em: WordPress.com/2010.
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Para se estudar os efeitos dos agrotóxicos sobre a saúde humana e ambiental, os produtos são testados um a um e, por conseguinte, todos os modelos de avaliação de risco servem apenas para a exposição a um princípio
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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ativo ou produto formulado e, algumas vezes, só por uma via. Pode haver
muita diferença nos efeitos e na intensidade da intoxicação de um mesmo
produto dependendo da forma de exposição, se o contato é por ingestão,
pelo ar ou através da pele (ao lavar uma fruta por ex.), isso faz diferença e
nunca é levado em conta nas tabelas.
Outra questão ignorada pelas tabelas VMPs é o que se convencionou chamar de “low level – long term exposition”, que em português seria exposição
(aos agrotóxicos) em baixas concentrações por longos períodos. Esses efeitos
são difíceis de estudar em humanos, entre outros motivos, porque muitas variáveis acabam entrando na equação, emigração, dietas, profissões, tabagismo,
multiexposição, etc., mas talvez por esse mesmo motivo, muito esforço de pesquisa tem sido despendido nas últimas duas décadas e hoje já existem dados
suficientes para colocar esse processo como sendo de risco para a saúde ambiental e humana, como muito bem alertaram McKinlay e colaboradores (2008).
Ao invés das tabelas VMPs, governos responsáveis deveriam colocar simplesmente o aviso: não existem níveis seguros para o consumo destas
substâncias. Isso já existe e está impresso em cada carteira de cigarros vendida no Brasil, mas para os agrotóxicos não. Ao contrário, parece que no
Brasil a burocracia do Estado está trabalhando contra o cidadão e favoravelmente aos poluidores, como demonstrou Pignati e colaboradores (2012)
em um estudo para o Conselho Nacional de Segurança Alimentar, no qual
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
se vê que a cada nova Portaria do Ministério da Saúde, a carga de poluição
aceitável na água para consumo humano vem aumentando.
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O Estado Brasileiro tem sido mais amigo dos poluidores do que da população em outros aspectos da regulamentação, enquanto na Comunidade
Européia e em alguns outros países se determinou uma carga máxima de
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
agrotóxicos na água potável (Council Directive 98/83/EC), o Brasil não tem
um limite máximo para as misturas de pesticidas. Explicando, uma fonte de
água em algum lugar da Europa apresenta 5 tipos de agrotóxicos, todos
dentro dos VMPs, mas o total da mistura não pode ultrapassar o limite de
0,5 μg/litro, caso contrário a água será recusada. No Brasil podemos ter todos os agrotóxicos dentro dos VMPs num dado corpo de água e não existe
nenhum limite para o total da mistura.
Ainda sobre o tema proteção institucional, a Comunidade Européia determinou que o VMP do glifosato seja de apenas 0,1 μg/litro; a Austrália de
10 μg/litro e o Canadá de 280 μg/litro, já o Brasil limitou em 500 μg/litro, só
perdendo para os EUA que tem o VMP de 700 μg/litro. Com essas diferenças
tão gritantes nos VMPs do glifosato, podemos especular que esses valores
devem ter um viés para além da pura ciência, talvez indique a força política
da agroquímica junto aos órgãos reguladores de cada país.
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OS AGROTÓXICOS E A SAÚDE HUMANA
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Em 2012 foi publicado um trabalho muito abrangente e talvez a mais importante compilação de informações sobre agrotóxicos no Brasil, trata-se do Dossiê
ABRASCO (Associação Brasileira de Saúde Coletiva, três volumes disponíveis no
sítio http://www.abrasco.org.br). Nesses textos encontramos estudos de casos,
estatísticas de contaminação, além de serem expostas falhas nas instituições
que deveriam manter o controle sobre a entrada e o uso de pesticidas no Brasil.
Importantes questões para a saúde do brasileiro são levantadas no
Dossiê ABRASCO, por exemplo, se questiona o porquê de monitorar somente 10% dos ingredientes ativos oficialmente registrados no país, e os
outros 90%? Na mesma linha, enquanto EUA e Europa fiscalizam resíduos
de agrotóxicos em 300 produtos agrícolas, no Brasil a ANVISA controla
somente 13 produtos. Ainda no Dossiê ABRASCO aparece o caso de um
estudo realizado no sul do país, onde foram encontrados 9 agrotóxicos na
água de mananciais, dos quais somente um era controlado pela Portaria
518 do MS, que era a válida na época.
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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Uma profusão de publicações científicas vem trazendo um número
sempre crescente de casos de intoxicação por agrotóxicos e isso acaba
também gerando uma dificuldade, a de lidar com um grande número de
artigos que precisam ser avaliados quanto à amostragem, circunstâncias
da intoxicação, métodos de avaliação, etc. Duas publicações da Escola de
Médicos da Família do Canadá (College of Family Physicians of Canada)
resolveram atacar esse problema. No primeiro trabalho, Bassil et al. (2007)
focalizaram a questão do câncer, inicialmente avaliando a consistência de
estudos do tipo causa-efeito da exposição aos agrotóxicos (exceto para
organoclorados que são proibidos no Canadá). Após selecionar, entre milhares de trabalhos com metodologia e amostragens adequadas, somente 83 trabalhos passaram para o próximo estágio, trazendo os seguintes
resultados: 73 trabalhos (88%) foram capazes de comprovar a associação
câncer/agrotóxicos. Lembrando, em tempo, que isso não quer dizer que
os 12% restantes não tenham qualquer associação, significa simplesmente que à luz do método científico, não foi possível afirmar categoricamente que a associação é presente.
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Poster de campanha contra agrotóxicos na Internet,
o conhecimento sobre os riscos dos agrotóxicos está chegando ao um público cada vez maior.
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Nos mesmos moldes do trabalho de Bassil (citado acima), Sanborn et
al. (2007) avaliaram as publicações referentes a outras doenças que não o
câncer e sua associação com a exposição aos agrotóxicos. Usando o mesmo
procedimento para selecionar somente trabalhos de boa qualidade, chegou
a um resultado bastante consistente com os relatos provenientes de várias
partes do globo: dos 124 trabalhos selecionados para análise final, 105 (85%)
provaram que a relação causa efeito é verdadeira para problemas dermatológicos, neurológicos, de reprodução e genéticos.
Os resultados dos pesquisadores canadenses colocaram o problema sob
uma nova perspectiva, a de que a exposição aos agrotóxicos definitivamente irá impactar negativamente a saúde das populações rurais e urbanas, não
importa o que os defensores da agroquímica estão dizendo, por ex. “produto tal é seguro para o ambiente e para humanos”, geralmente, baseados em
pesquisas rápidas e tendenciosas.
Associação causa-efeito entre agrotóxicos e alguns tipos de câncer, modificado de Bassil et al. (2007).
Tipo de câncer
Nº de estudos
Nº estudos
incluídos
Resultados
Pulmões
4
4
2/4 associações positivas
Autor
Mama
12
6
5/6 associações positivas; 1 encontrou
diminuição do risco com a exposição
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Pâncreas
3
3
Todos com associações positivas
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Linfoma não-Hodgkin
32
27
23/27 associações positivas
Leucemia
23
16
14/16 associações positivas
Cérebro
11
11
Todos encontraram associações positivas
Próstata
10
8
Todos encontraram associações positivas
Stômago
1
1
Todos encontraram associações positivas
Ovários
1
1
Falhou em encontrar associação positiva
Rins
7
6
Todos encontraram associações positivas
total
104
83
73 associações positivas (88%)
Associação causa-efeito entre agrotóxicos e alguns distúrbios da saúde humana que não o câncer,
modificado de Sanborn et al. (2007).
Nº de
estudos
Nº estudos
incluídos
Efeitos na pele
11
10
7/10 positivos para dermatitis
Neurotoxi-cidade
60
41
39/41 positivos para aumento em 1 ou mais
abnormalidades neurológicas
Efeito à saúde
Resultados
Reprodução
64
59
Defeitos ao nascer: 14/15 positivos; Tempo de
gestação: 5/8 positivos; Fertilidade: 7/14 positivos; Alterações do crescimento: 7/10 positivos; morte do feto: 9/11 positivos; outros: 6/6
positivos.
Autor
Genotoxici-dade
15
14
11/14 positivos para o aumento de aberrações
nos cromossomos.
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total
150
124
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105 associações positivas (85 %)
60
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Christman e colaboradores (2009) estudaram a incidência de morte por câncer em 11 estados brasileiros e descobriram que naqueles estados onde as vendas de agrotóxicos tiveram um maior aumento a partir de 1985, são justamente
os estados que apresentaram maior mortalidade por câncer uma década depois.
Atualmente, depois de décadas de uso de agrotóxicos, os efeitos das doses abaixo das VMPs também estão sendo melhor entendidos. A exposição
em baixas concentrações por períodos longos produz muitos efeitos sutis
nos organismos, como por ex. a propriedade que certos produtos têm para
funcionar como agentes imunodepressores e disruptores endócrinos.
Os imunodepressores são substâncias que inibem as defesas do organismo, significando que pequenas concentrações de agrotóxicos, por ex. num
alimento de consumo diário, podem modificar a forma como o corpo humano se defende de ataques de agentes patogênicos comuns na natureza, seja
um vírus ou uma bactéria, obstruindo a devida resposta de defesa natural do
indivíduo. O resultado é que depois do contato recorrente de pequenas doses de alguns agrotóxicos, infecções comuns e que poderiam ser eliminadas
pelo próprio metabolismo do organismo deixam de ser “curadas”. Os agrotóxicos podem bagunçar o sistema imunológico também em outra direção;
no outro extremo, os agrotóxicos podem fazer com que o sistema imunológico reaja em excesso a alguma substância ou alimento e o indivíduo afetado acaba desenvolvendo o que chamamos comumente de alergias.
61
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Com referência aos disruptores endócrinos (DE), McKinlay et al. (2007)
fizeram uma boa revisão sobre o assunto e a lista de produtos e efeitos é
enorme; os autores concluem que é necessário maior precaução na análise de riscos e sobretudo, maior limitação no uso desses produtos. Na
prática, os DE bagunçam o funcionamento dos hormônios dos animais.
Essas substâncias interferem na síntese, secreção, transporte, ligações,
nos efeitos ou na eliminação de hormônios naturais; que por sua vez são
responsáveis pelo controle do crescimento, comportamento, fertilidade
e manutenção do metabolismo celular.
No corpo dos animais, qualquer sistema controlado por hormônios
pode sair dos trilhos e os efeitos, já documentados, podem ser malformação de nascença, dificuldades de aprendizado e cognitivas, déficit de
atenção severo, deformação do corpo (principalmente os membros), vários tipos de câncer, feminilização de machos ou masculinização de fêmeas e por aí vai. O período mais crítico para a maioria dos organismos é
durante a transformação de um ovo fertilizado para um feto totalmente
formado, quase dizendo: das primeiras divisões celulares até a completa
diferenciação de tecidos.
Os hormônios atuam em concentrações baixíssimas, contadas em partes
por bilhão (PPB), numa faixa de concentração na qual vários contaminantes
podem ser encontrados no ambiente. Se o contato for prolongado, os efei-
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
tos serão mais severos, se a exposição for interrompida, alguns efeitos podem ser eliminados, outros não.
Um importante hormônio feminino é o estradiol (esquerda) e que pode ser confundido pelo corpo humano
com o nonil-fenol (direita), um potente e comum disruptor endócrino.
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O termo disruptores endócrinos apareceu pela primeira vez em um artigo
científico em 1993, portanto, é uma descoberta recente, mas de lá para cá
muita coisa foi aprendida. Atualmente existem evidências de que os pesticidas são uma grande ameaça à saúde pública, especialmente para as crianças, que são candidatas a contrair câncer, a apresentar problemas de desenvolvimento e outros efeitos (Cancer Prevention Coalition).
Em um trabalho de 2011, Orton e colaboradores comprovaram a suspeita de que pesticidas comuns, mesmo em baixas concentrações, provocam
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problemas de fertilidade em homens pela diminuição da produção de espermatozóides. Outros trabalhos sobre esse assunto reforçam a ideia de que
os pesticidas produzem uma lenta castração química em homens expostos
a esses químicos, ex. Swan et al (2003), Massaad et al (2002), Bretveld et al.
(2007); reduzindo ou bloqueando os hormônios masculinos e dependendo
do produto, aumentando a incidência de câncer de próstata e testículos. Em
outros estudos, observou-se que a fertilidade masculina pode ser comprometida por pesticidas ainda no ventre da mãe, na fase de formação do indivíduo, quando os órgãos masculinos não se desenvolvem adequadamente
e trazem dificuldades na fase adulta/reprodutiva (Swan, 2006). Para encurtar
a história, enquanto alguns pesticidas afetam os hormônios masculinos, o
mesmo ocorre com outros que impactam os hormônios femininos, também
promovendo problemas de reprodução e ainda, câncer de mama e ovário,
ex. Bretveld et al. (2006) e Cocco (2002).
Em círculos mais apaixonados pela causa ambiental, a diminuição da fertilidade humana poderia ser vista como uma “vingança da natureza”, que
nos devolve o veneno e diminui assim a praga que a espécie humana se tornou. Entretanto, para que o cidadão na cidade comece a sentir os efeitos na
fertilidade, a área rural e a natureza adjacente já estão bastante comprometidas; então, nada de cataclismos bíblicos ou sabedoria da natureza, somente causa e efeito, simples e direto. Até chegar à mesa do cidadão urbano, os
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agrotóxicos vão muito antes destruir os ecossistemas terrestres e aquáticos
nas áreas rurais, a natureza não será vingada, vai sim perder a capacidade de
sustentar a espécie humana (entre outras) bem antes de esterilizá-la.
Os efeitos negativos à saúde humana podem também ser traduzidos em
muitas horas de trabalho, de lazer e bem estar que vão ser consumidas com visitas ao médico e mais despesas serão feitas com tratamentos. Mais antibióticos
e antivirais serão consumidos e se o indivíduo tiver o azar de ser contaminado
com uma bactéria mais resistente ou de multiplicação muito rápida, o estrago
pode ser grande. Enquanto a agroindústria e em particular a agroquímica vem
acumulando somas estratosféricas, os estados e os indivíduos vêm gastando somas ainda maiores com o tratamento das intoxicações crônicas e agudas; esse
sistema não pode dar certo no longo prazo, na verdade, já devia ter acabado.
Nos EUA, Pimentel (2005) estimou que o estado gasta, por baixo, 1,2 bilhões de dólares por ano com doenças relacionadas aos agrotóxicos, para
cobrir custos com hospitalização, tratamento, dias de trabalho perdidos e
funerais. Considerando os custos sociais e ambientais, incluindo-se fiscalização e regulamentação, a cifra sobe para 9,6 bilhões; para cada dólar gasto na
compra de agrotóxicos são gerados 2 dólares de custos externos. No Brasil,
Soares e Porto (2012) estimaram que no Paraná, entre 1998 e 1999, para cada
dólar usado na compra de agrotóxicos o Estado gastou US$ 1,28 no tratamento somente de intoxicações agudas, sem considerar os casos crônicos,
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
Capa
chegando a um valor aproximado de US$ 149 milhões. Isso fica mais difícil
de aceitar quando lembramos que os agrotóxicos gozam de fartas isenções
fiscais, chegando, em alguns Estados, a 100%.
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), em João Pessoa,
como no resto do Brasil, o câncer é a segunda maior causa de óbitos, perdendo apenas para os problemas vasculares, mas considerando o crescimento
do número de casos, em dez anos deverá ser a causa principal. Aquino et al.
(2003) perceberam um crescimento acentuado da incidência do câncer já na
virada do século, quando aconteciam ± 22 óbitos por 100 mil habitantes em
1999, pulando para ± 35 óbitos em 2002. A crise fica bem configurada quando o INCA previu para o ano de 2014 uma incidência de aprox. 340 casos
para cada 100 mil habitantes em João Pessoa (excetuando-se o câncer de
pele), portanto um aumento de quase 10 vezes em 8 anos. É claro, nem todos esses casos de câncer podem ser atribuídos à contaminação das águas,
uma vez que os alimentos e outras substâncias como o tabaco e o álcool
devem contribuir. Entretanto e com toda a certeza, a contaminação da água
não irá ajudar a reduzir o número de casos, muito pelo contrário.
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OS AGROTÓXICOS E O MEIO AMBIENTE
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Uma informação bem importante (e que não passa nos grandes veículos
de comunicação) foi trazida à tona por Pimentel em 1995: menos de 0,1% dos
pesticidas usados na agricultura atingem o organismo alvo, ou seja, aquela espécie de erva ou inseto que levou o agricultor a usar o veneno vai receber uma
fração muito pequena de todo veneno aplicado. Assim sendo, todo o resto,
99,9% de todos os pesticidas usados nas lavouras, vai aderir aos alimentos ou
se mover pelo meio ambiente onde vai produzir efeitos nocivos à saúde pública e às espécies silvestres que não têm nada a ver com a lavoura.
Quando os agrotóxicos são aplicados por aviões, até 50% do volume
pode ir parar em algum outro lugar que não a lavoura; quando a pulverização é feita ao nível do solo, a deriva dos agrotóxicos é menor, mas ainda
pode ficar entre 10 e 30%, novamente produzindo efeitos adversos em regiões distantes das lavouras (Pimentel e Levitan, 1986).
Procurando alguns assuntos de impactos de agrotóxicos ao meio ambiente e que não soassem como um tratado de medicina, biologia ou eco-
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
logia (ou outra gia), deparei-me com um artigo de Edwin Ongley (1996) da
FAO onde este assunto está bem pontuado (FAO = Food and Agriculture
Organization da ONU).
Tartaruga verde (Chelonia mydas) com fibropapilomatosis. O exemplar da foto é do Hawai,
mas essa espécie e a doença são bem comuns em nossa orla. Foto: Van Houtan et al. (2010).
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Segundo Ongley, os efeitos dos agrotóxicos ao meio ambiente são variados e frequentemente inter-relacionados, muitos deles são crônicos e por
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vezes podem ser letais. É certo que trazem consequências em toda a cadeia
alimentar, mesmo quando um observador casual não se dê conta do que
está ocorrendo, o mundo à sua volta não será o mesmo após o contato com
os agrotóxicos.
Para falar dos efeitos mais comuns, podemos citar a bioconcentração e
biomagnificação; mortandade de populações de plantas ou animais em vales
ou bacias hidrográficas; câncer, tumores e lesões em peixes e outros animais;
problemas de reprodução; disrupção endócrina e do sistema imunológico
(como em humanos); saúde precária em peixes, genotoxicidade (produz alterações genéticas) e ainda efeitos intergeneracionais (aqueles que vão aparecer em gerações futuras).
A Bioconcentração acontece quando através de contato, inalação ou ingestão, uma substância tóxica se acumula num organismo. A substância não
é metabolizada ou excretada facilmente, tendo certos tecidos como locais
de destino final, por ex. tecido adiposo para o DDT.
Para entender a Biomagnificação, imagine-se inicialmente uma bactéria feliz tomando seu sol e fazendo fotossíntese nas águas de um rio, lago
ou estuário, imagine logo bilhões de pequenas células de bactérias, iguaiszinhas. Todas elas estão absorvendo nutrientes da água e junto com isso
elas absorvem e fixam alguma substância tóxica do tipo que bioconcentra.
Então vem um milhão de pequenos organismos pequeninos que comem
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bactérias como único alimento. Cada um desses comedores de bactérias irá
fixar a substância tóxica contida em cada bactéria devorada, se come 100
ou 1000, isso vai fazer diferença. Vem um animal maior e devora muitos dos
comedores de bactérias e assim por diante, até que o tamanho do predador
seja o de um peixe grande ou um pato, uma lontra, um timbú ou gavião, as
concentrações da substância tóxica são, então, centenas a milhares de vezes
mais altas. Os maiores animais acabam ingerindo presas com cargas maciças de substâncias tóxicas. Só lembrando que os humanos estão no topo
da cadeia alimentar e também padecem desse problema, aliás, talvez seja a
espécie mais afetada.
Quase todo dia acontece mortalidade em massa de organismos em algum lugar da Terra, nem todos podem ser atribuídos aos agrotóxicos exclusivamente, mas com frequência populações de peixes, crustáceos, anfíbios,
aves e abelhas podem ser dizimadas pelo contato com agrotóxicos. Por ex.,
em 2013 foram documentados 798 casos de mortandade de animais silvestres em 93 países; até maio de 2014 eram 40 casos só de mortandade de
peixes (Activist Post). Estimativas das perdas de recursos animais e vegetais
nos EUA devido ao uso de agrotóxicos trazem valores de 2,2 bilhões de US$/
ano com aves, 1,4 bilhões nas plantações (quando a aplicação excessiva de
agrotóxicos inviabiliza a utilização do produto colhido) e 100 milhões na
pesca (Pimentel, 2005).
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
Campanha pró-abelhas e contra agrotóxicos que circula nas redes sociais.
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Os agrotóxicos são os responsáveis pelo sumiço das abelhas e outros
polinizadores em todo o mundo. Desde alguns anos as abelhas estão no
centro das atenções porque suas populações vêm declinando rapidamente e também porque a maior parte da produção de alimentos vegetais
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
depende de insetos polinizadores. Na ausência dos polinizadores estão
ocorrendo quebras de safras que segundo Pimentel (2005) já somariam
prejuízos de 334 milhões nos EUA. Para reduzir o problema, apicultores estão alugando colmeias em um novo negócio que já movimenta cerca de 8
milhões de US$/ano.
Em fevereiro de 2014, milhões de abelhas morreram em Gavião Peixoto
(SP) devido ao contato com o herbicida glifosato e o inseticida clorpirifós,
isso numa localidade que já chegou a colher 10 toneladas de mel por ano.
Sobre câncer, tumores e lesões em peixes e outros animais, temos exemplos locais. A Dra. Rita Mascarenhas, organizadora da ONG Guajirú, sediada
na praia do Bessa em João Pessoa, tem inúmeros registros de papilomas em
tartarugas marinhas. Essas tartarugas se alimentam em recifes e bancos de
algas bem próximos às praias e esses ecossistemas recebem diariamente
uma carga de agrotóxicos e fertilizantes através dos rios. Como as tartarugas
consomem o mesmo alimento e por muitos anos, podem estar sendo afetadas pela contaminação das nossas águas.
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
As duas rãs africanas (Xenopus laevis) dessa foto são geneticamente machos, enquanto a de cima foi criada em
água limpa, a de baixo recebeu traços de Atrazina por toda a vida e teve o seus órgãos masculinos transformados
em femininos. O casal produziu ovos viáveis e que chegaram a fase adulta. Hayes et al. (2010).
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Da inibição em si ou falha em alguma fase da reprodução, o primeiro
caso documentado foi o da águia americana, que estava sofrendo uma redução drástica da população por conta do DDT ainda em meados da década
de 60 (Carson, 1962). O problema diagnosticado foi que o pesticida estava
produzindo uma redução da espessura da casca do ovo que facilmente se
quebrava no ninho, levando ao fracasso do esforço reprodutivo da águia e
de outras espécies de aves predadoras. Com a proibição do DDT nos EUA, a
população de águias vem lentamente se recuperando.
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
Os agrotóxicos ainda podem provocar disfunções no sistema endócrino
(hormonal) dos animais. Por exemplo, a atrazina, que já foi detectada na água
da torneira de João Pessoa, é uma das substâncias tóxicas com efeito negativo
comprovado sobre o sistema hormonal de vertebrados (animais com ossos).
Várias pesquisas encontraram que esta substância, mesmo em concentrações
muito pequenas, bloqueia os hormônios masculinos de indivíduos machos
de peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos, prejudicando a reprodução e
facilitando o desenvolvimento de câncer (Hayes et al. 2011). Quando a contaminação é persistente no tempo, pode provocar a eliminação de populações
inteiras de alguns animais mais sensíveis nos rios e açudes, transformando todos os machos em fêmeas ou machos quimicamente castrados. Nestes casos,
a continuidade da reprodução vai depender da chegada de indivíduos de fora
da área contaminada. Vale ainda fazer a nota de que esse efeito já foi observado em humanos também, por Swan et al. (2003).
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AGROTÓXICOS NAS ÁGUAS DO GRAMAME
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Existem muitos problemas associados ao monitoramento de agrotóxicos
no meio ambiente, um deles e que é bastante limitante, é a disponibilidade
de laboratórios bem instrumentados e de pessoal capacitado para realizar as
análises (como comentado acima).
Dos laboratórios existentes, a maioria só consegue rastrear uma ou duas
centenas de substâncias, o que fica muito aquém das aprox. 900 substâncias
disponíveis para o consumo. A grande maioria dos laboratórios não detecta
o glifosato, um nefasto herbicida que já detêm 40% do mercado. Além disso,
poucos laboratórios conseguem detectar baixas concentrações e isso é importante porque alguns agrotóxicos podem ser muito potentes, por ex. apenas 450g de Aldicarb pode contaminar um volume de água suficiente para
abastecer mais de 2000 pessoas por um ano (Trautmann et al. 2012), o VMP
do Aldicarb na água é de ínfimos 7 partes por bilhão (PPB), ou 0,000007 g/
litro. Agora imagine a dificuldade de encontrar produtos tão rarefeitos como
esse na água, isso não é uma tarefa fácil.
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
Variação na concentração de Cyanazina em um rio dos EUA, as concentrações aumentam de acordo
com as épocas de aplicação, com as chuvas e com a vazão do rio. O mesmo acontece com outros produtos
como a Atrazina e Alachlor. Imagem: Schottler et al. 1994.
Concentração de pesticidas no alto Gramame (acima da Represa Gramame-Mamuaba)
em março e junho de 2009, notem o pico de 0,2 µg/litro de Diuron.
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Concentração de pesticidas no médio Gramame (abaixo da captação da CAGEPA) em março e junho de 2009,
essas águas vão encontrar o estuário poucos quilômetros abaixo.
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Outro problema é que diferentes fórmulas de pesticidas apresentam
maneiras distintas de se movimentar no meio ambiente. Compostos como
a Atrazina, Alachlor, Cyanazina etc. tem suas concetrações aumentando e
diminuindo nos rios em função das aplicações e das chuvas, (Schottler et
al. 1994; Goolsby e Pereira, 1995; Clark et al. 1999). Como a Atrazina e seus
produtos de degradação são muito persistentes no ambiente, eles vão continuar a aparecer na água ainda por décadas, mesmo depois de cessado o
seu uso numa bacia hidrográfica (Squillace e Thurman, 1992; Carr, 1993). O
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DDT, mesmo tendo seu uso proibido em 1972, ainda pode ser encontrado
em muitos corpos de água nos EUA (Pereira, 2012).
Até aonde se sabe, foram realizadas poucas análises visando os resíduos de agrotóxicos nas águas do Gramame, de forma que o volume de
informação ainda é muito pequeno. Entretanto, em um estudo em mananciais de algumas capitais brasileiras liderado pelo pesquisador da UNICAMP, Prof. Wilson de Figueiredo Jardim, foi encontrada Atrazina e cafeína
na água tratada de João Pessoa (ex. Portal Correio). A Atrazina e a cafeína
foram usadas somente como indicadores de poluição, revelando a contaminação por resíduos agrícolas e de esgoto nas águas da grande João
Pessoa. Embora a notícia tenha sido divulgada em vários meios de comunicação, nada mudou em relação à gestão da bacia e de nossas águas.
Se Atrazina e cafeína estão chegando às torneiras, existem boas razões
para acreditar que outras substâncias que não são controladas por norma
legal estejam chegando aos rios e aos consumidores. Fármacos como a
Fenolftaleína (cancerígeno) e aditivos de perfumaria e agrotóxicos como
o Triclosan (disruptor endócrino) são comumente encontrados. Justamente pelo fato dessas substâncias não serem controladas por dispositivo legal, as empresas de saneamento não fazem o monitoramento e tampouco
empregam alguma forma de tratamento para reter ou destruir moléculas
desses produtos.
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Durante o período de coleta de dados da Comissão do Gramame do
CCEN/UFPB, foram realizadas amostragens em diferentes pontos dos rios e
em diferentes datas, mais precisamente em 30/03/2008, 01/04/2009 e em
13/06/2009, e mais recentemente em 07/02/2014 e a última em 23/07/2014.
Essas coletas foram feitas a título de sondagem e não de monitoramento,
mas já revelaram alguns problemas.
Nesse período foram encontrados mais três agrotóxicos a montante
(antes) da captação da CAGEPA, Ametrina, Diuron e Tebuthiuron; somando-se a Atrazina, já são quatro agrotóxicos nas águas que vão abastecer
a GJP. À jusante, no médio curso, foi encontrado ainda o fungicida Tetraconazol (laudos dos exames estão no apêndice). Dessas substâncias, somente o Diuron e a Atrazina são regulados pela Portaria n.º 2914/2011 do
Ministério da Saúde.
A Ametrina é do grupo das triazinas e é, segundo a ANVISA, um herbicida Classe III, medianamente tóxico, já segundo a Agência de Defesa
Agropecuária do Paraná, o herbicida pertence a Classe II, altamente tóxico
e muito perigoso para o meio ambiente.
Segundo Botelho et al. 2013, em um trabalho apresentado em um
evento em Boston, a Ametrina é mutagênica e genotóxica mesmo em
baixas concentrações; mudanças na biologia das células de peixes ocor-
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
reram em 1,5 e 2,0 µg/litro em 4 dias de exposição. Mesmo considerando
que no Gramame as concentrações são muito menores (> 0,2 µg/litro),
temos de lembrar que o tempo de exposição é muito maior, na realidade,
o tempo todo. Isso deve estar afetando profundamente o funcionamento
do ecossistema.
Concentração de pesticidas no rio Gramame em 07/02/2014, período de estiagem.
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
Concentração de pesticidas no rio Gramame em 23/07/2014, período de chuvas.
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A Portaria 2914/2001 MS não estabelece qualquer parâmetro para a Ametrina, logo, não importa a quantidade presente em nossa água, não seria
possível aplicar qualquer penalidade aos poluidores. Como se trata de um
produto semelhante à Atrazina, poderíamos forçar uma comparação com os
VMPs de outras fontes. Por ex. a americana EPA estabelece um VMP de 3 µg/
litro para a Atrazina, a Organização Mundial para a Saúde indica 2 µg/litro, já
a Comunidade Europeia se mostra mais prudente e utiliza o limite de 0,1 µg/
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litro, uma concentração 30 vezes menor que a Americana. Se fosse o caso, a
nossa água não poderia ser vendida na Europa.
O Diuron é um pesticida usado no mundo inteiro e pode ser também
encontrado com os nomes Karmex e Direx, afeta plantas e animais mesmo
em concentrações pequenas, é teratogênico, mutagênico e carcinogênico e,
como a Atrazina, pode atuar como hormônio feminino. O Diuron pode permanecer longos períodos no solo e na água; em rios, lagos e estuários, diminuindo a produção vegetal de algas e de plantas superiores e por esse motivo, acaba impactando toda a cadeia trófica. Bactérias que fixam nitrogênio
também são afetadas, diminuindo a capacidade de reciclagem de nutrientes
nos ambientes expostos ao Diuron. O que é espantoso, é que há décadas
vem aparecendo os efeitos nocivos do Diuron sobre a saúde humana e do
meio ambiente (Cox, 2003) e ainda assim, a maioria das agências reguladoras classifica o Diuron como classe III – medianamente tóxico.
O Ministério da Saúde do Brasil indica um VMP de 90 µg/litro na água
para consumo humano, um valor relativamente alto em relação a outros países. Até pelo menos 2006, as tabelas de VMPs dos EUA para água de consumo humano não apresentavam um valor limite para o Diuron e o mesmo
ocorre com a Organização Mundial para a Saúde. Alguns países conduziram
pesquisas e determinaram limites diferentes, enquanto a Nova Zelândia tem
um VMP de 20 µg/litro, a Comunidade Europeia utiliza o valor de 0,1 µg/litro.
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O Canadá possui um limite ainda superior ao nosso, de 150 µg/litro, mas já
existem trabalhos recomendando a redução desse valor para um nível pelo
menos igual ao da Comunidade Europeia, de 0,1 µg/litro (Boyd, 2006).
O Diuron inibe o crescimento de vegetais de rios, estuários e da região costeira, sejam algas, gramíneas ou plantas
com flores. Na Austrália, um estudo verificou uma grande diminuição na produção de plantas estuarinas usadas
pelo dugong (um tipo de peixe-boi também ameaçado de extinção) devido aos resíduos de Diuron das plantações
de cana-de-açucar. Com várias fontes de impacto sobre os dugongs e com menos alimento à disposição, a população atual de dugong é cerca de 10 % do que havia em 1960. Fontes: Haynes et al.( 2000); Cox (2003). Nota do autor: 0,1 ppb ≈ 0,1 µg/litro, essa é uma concentração comum no Gramame.
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O Tebuthiuron, assim como o Diuron, é um herbicida usado em várias culturas, a da cana-de-açúcar inclusive, a fórmula tem semelhanças estruturais e
funcionais com o Diuron e, no que diz respeito à toxicidade, a ANVISA (e outras
agências estrangeiras) coloca o Tebuthiuron na Classe II, altamente tóxico. A
maioria dos testes toxicológicos da literatura foca na concentração letal desse
veneno em um período de tempo de 24 a 72 horas, alguns poucos trabalhos
tratam de efeitos subletais em plantas e animais com exposição prolongada.
Sabe-se por ex., que esse veneno, segundo o estudo de Tesolin et al (2014),
vai impactar toda a cadeia trófica, tem um tempo de vida de praticamente um
ano, é altamente móvel no ambiente devido a sua solubilidade na água e porque dificilmente se liga ao solo. Essas são as características de uma substância
com grande potencial para contaminar o lençol freático, rios e lagos; infelizmente, ainda pouco se sabe sobre a exposição prolongada em humanos.
Na Austrália, aonde vive o dugong, um parente do peixe-boi e que também está ameaçado de extinção, se observou uma diminuição da população desses mamíferos que se alimentam exclusivamente de plantas aquáticas,
de fato, os pesquisadores atribuíram ao Diuron, proveniente das plantações
de cana-de-açúcar, como sendo responsável pela diminuição do estoque das
plantas alimento do dugong. O mesmo pode/deve estar ocorrendo aqui, em
estuários como os dos rios Paraíba, Gramame e Mamanguape, onde os peixes-boi estão se tornando cada vez mais raros. Como o Tebuthiuron e o Diuron
inibem ainda a atividade de algas planctônicas e de bactérias recicladoras de
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matéria orgânica, isso pode tornar toda vida nos estuários bem mais escassa.
A pior forma de gestão é aquela feita no escuro, sem dados concretos e específicos para o ambiente em foco. Por outro lado, os resultados de pesquisas
feitas em diferentes regiões do globo tendem a apresentar resultados semelhantes, mudam as espécies e a intensidade dos efeitos, mas as convergências
são muito maiores do que as discrepâncias. Assim sendo, os efeitos adversos
dos pesticidas devem seguramente estar presentes no Gramame, mesmo que
estudos detalhados não estejam revelando as condições específicas da região.
Os níveis de contaminação que chegam com o rio até as bombas da CAGEPA tendem ser mantidos após o tratamento, como sugere a análise da amostra
nº 3 de 30/07/2014 (no apêndice), essa água foi retirada de uma torneira no
bairro dos Bancários e apresentou os mesmos valores que a amostra nº 1 (da
mesma data), com a água in natura que estava entrando nas bombas – Diuron
0,03 e Tebuthiuron 0,04 µg/litro. Isto é de certa forma esperado porque esses
produtos não se fixam ao material sólido em suspensão que é eficientemente
reirado da água pela CAGEPA na fase de floculação. A adição de cloro tampouco interfere na concentração de pesticidas, de forma que o tratamento da
água não retém ou destrói essas substâncias que acabam chegando às nossas
torneiras. Diga-se de passagem que a CAGEPA só teria a obrigação legal de
controlar o Diuron, porque este produto consta da Portaria nº 2.914/2011 do
MS, os demais produtos não são regulados e podem chegar à vontade. Aliás,
segundo a referida Portaria, essa poluição de Diuron é legal.
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Com base nos resultados acima e assumindo que uma pessoa consome
em média 2 litros de água por dia, podemos estimar uma dose de coquetel de
agrotóxicos que nós da GJP estamos engolindo a cada dia, é algo entre 0,1 e
0,4 µg agrotóxicos/dia. Eu considero isso uma bomba química e não devemos
esquecer que existem ainda outras fontes de agrotóxicos, como os alimentos
por ex. – ninguém merece.
Alguém ainda sempre pode dizer que essa concentração é muito baixa e que,
logo, não existe aqui nenhum problema. O fato é que mesmo em pequenas doses, certas substâncias podem ter um grande efeito. Por exemplo, uma dose de
0,5 μg/dia de vitamina B12 é o ideal para manter uma criança sadia; 0,5 μg/dia
também é o VMP do chumbo segundo a FDA (Food and Drugs Agency, EUA); ainda, de 0,07 a 0,11 μg/litro são valores normais para a insulina no sangue humano.
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A BACIA DO GRAMAME NO FUTURO,
PLANO A E PLANO B
Plano A, o “Sempre foi assim”
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Visualizar um cenário no futuro é um exercício mental difícil porque muitas variáveis entram no processo, desde o emprego de novas fórmulas de
agrotóxicos até mudanças climáticas que afetam a drenagem na bacia. Mas
tentando eliminar as incertezas, é possível isolar alguns processos.
O primeiro cenário (Cenário A) seria aquele aonde todos fazemos as
coisas como sempre se tem feito, as mesmas práticas agrícolas e mesma
atitude das instituições do estado e da sociedade em geral. A eliminação
das matas deve continuar diminuindo, porque já existe bem pouco para
desmatar (menos de 13%). A demanda por água deve aumentar tanto pelo
crescimento da população como pelo maior acesso a bens de consumo da
população já instalada na GJP.
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O cenário A é o mais provável de acontecer porque não exige mudanças
e nem dá trabalho ou desconforto a uma ou outra pessoa, os que sabem do
problema preferem abanar a cabeça e se resignar com mais uma má notícia e
os que dela se beneficiam respiram aliviados por mais alguns anos. A sociedade e a política não vão mudar consideravelmente e vão seguir fazendo o que
sempre fizeram – neste cenário, o “Sempre Foi Assim” triunfa novamente.
Daqui a 10 anos, o rio Marés possivelmente não estará fornecendo nenhuma
ou pouca água, em consequência da espiral crescente de degradação do seu
entorno e da qualidade da água. Os resíduos agrícolas continuarão impactando
a saúde humana e a do meio ambiente, porque a cada safra, vai acontecer um
deslocamento desses produtos da lavoura para os rios. Os rios do Gramame
terão águas sempre turvas e com muita matéria orgânica, as suas águas deverão ser habitadas por algumas poucas espécies de animais e plantas, somente
aquelas que possuem maior tolerância à poluição. A expansão urbana de uma
população em crescimento e com poder aquisitivo cada vez maior deverá agravar a situação em termos de conservação das margens e da poluição.
O baixo curso do Rio Gramame deverá estar bem mais poluído, isso porque o volume de água que sobra após a captação pela CAGEPA é muito
pequeno e não garante uma renovação adequada. Com a vazão diminuída,
a influência do mar deve se aprofundar no continente, aonde hoje existem
fauna e flora de água doce, essas deverão ser substituídas por espécies de
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água salobra, o manguezal deve aumentar sua ocupação das margens. A alta
concentração de poluentes chegando ao mar pela Barra de Gramame deve
impactar ainda mais os corais, a pesca e o turismo nas praias, principalmente
naquelas situadas ao norte da Barra de Gramame.
Daqui a 10 anos o manancial de Abiaí-Papocas já deve estar operando e
tudo que se conquistar em termos de defesa dos mananciais de Gramame e
Marés deverá ser reproduzido em Abiaí-Papocas. Se nada for conquistado,
isso também será reproduzido. Se a água do Gramame se tornar momentaneamente imprópria, Abiaí-Papocas poderão atender a GJP apenas emergencialmente. Mas é importante lembrar que a bacia Abiaí-Papocas tem
uma parte no Estado de Pernambuco, o qual também já sofre com a falta de
água, de forma que conflitos pelo uso da água devem acontecer.
Se incluirmos alguns aspectos do aquecimento global a este exercício
mental, teremos mais alguns efeitos muito plausíveis. Por exemplo, um efeito, aliás já bem visível, do aquecimento global é uma expectativa de aumento na frequência e intensidade de tempestades, simplesmente porque vai ter
mais calor e umidade na atmosfera. Com mais tempestades caindo sobre as
áreas agrícolas, os problemas de assoreamento e de carreamento da poluição agrícola devem aumentar proporcionalmente.
A ocorrência mais frequente e mais intensa dos fenômenos El Niño e La Niña,
outra consequência do aquecimento global, pode produzir secas mais frequen-
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
tes, isso e as margens nuas dos mananciais devem resultar em escassez de água
em todas as bacias do Estado. O clima deve então apresentar períodos de chuvas
torrenciais sucedidos por secas prolongadas, as estações seca e chuvosa devem
ter duração mais incerta, uma vez que já alcançamos a marca de 400 ppm de gás
carbônico na atmosfera e que o aquecimento médio da atmosfera do planeta
deve superar o limite mais seguro de 2°C, podendo chegar a 3 ou 4 ou mais °C.
Os problemas já são possíveis de serem vislumbrados, resta saber se vamos
agir com antecedência, ou vamos deixar as coisas acontecerem e reagir de improviso. Lembrando que a última opção é muito arriscada, os meios podem
não estar disponíveis e mesmo que este seja o caso, os resultados podem não
surtir efeito a tempo para mitigar os efeitos indesejáveis da crise ambiental.
Plano B, o cenário ideal
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Dos cenários possíveis no futuro do Gramame, o cenário A, que podemos
alternativamente chamar de “deixar como está”, tem consequências graves
para a saúde humana e do meio ambiente, deixar como está compromete
seriamente a nossa capacidade de manutenção de uma população humana
tão grande nessa parte do Estado. Se possível, seria bem mais adequado
emplacar um cenário B, diametralmente alternativo ao primeiro. Entretanto,
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para se desenhar um cenário alternativo, é preciso que se leve em conta uma
mudança substancial na gestão da bacia.
Uma bacia ideal poderia ser sintetizada em um esquema bem simples
e funcional, não é uma ciência espacial, as dificuldades estão todas em sua
implantação e não em sua concepção. Um cenário alternativo demanda uma
mudança cultural da sociedade e de suas instituições, a mudança de atitude seria uma consequência. A primeira medida de gestão a ser conquistada
deveria ser a proibição do uso de agrotóxicos na bacia. Cessada a fonte de
poluição, talvez no decorrer de uma década os poluentes tenham sido degradados a formas inofensivas, ou lavados para o mar ou imobilizados no
solo. Mesmo que alguns poluentes possam permanecer recirculando na cadeia trófica por mais outra década, a tendência é que sejam exportados para
o mar e as concentrações se tornarão cada vez menores.
Em seguida é preciso se preocupar com a ocupação do espaço, a expansão
urbana e agrícola deverá respeitar os rios. Em um cenário ideal, todo manancial destinado ao abastecimento público de água deve ter margens protegidas
pela mata ciliar, que deve ocupar toda a Área de Proteção Permanente (APP),
tal como determinam os códigos florestais, o velho ou o novo. Adjacente a essa
mata pode acontecer a agricultura orgânica, que dispensa o uso de pesticidas
industrializados e fornece alimentos de melhor qualidade. Nas propriedades orgânicas devem existir reservas de mata cujas dimensões também devem aten-
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
der ao código florestal, essas matas podem ser distribuídas de forma a que se
unam umas com as outras para aumentar a área do fragmento florestado. Do
ponto de vista da conservação, quanto maior o fragmento florestal, melhor para
a diversidade biológica e para os serviços ambientais de florestas. A disposição
das reservas deve respeitar a topografia e veios d’água e ainda, facilitar a comunicação entre os fragmentos através de corredores ecológicos, o que também
favorece a diversidade biológica e os serviços das florestas.
Um trecho de um manancial ideal pode apresentar uma paisagem parecida com a da imagem abaixo. A mata ciliar (APP)
deve estar presente em todas as margens, sempre que possível conectada com a reserva legal de cada propriedade através de corredores ecológicos; a atividade agrícola possível é a orgânica porque não utiliza agrotóxicos industriais.
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E AGORA A POLÍTICA
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Cada um vota em quem bem entende, certo? Certo. De minha parte vou
procurar algum candidato que se comprometa publicamente com a proteção dos mananciais, um que me convença de que sabe do que está falando
e é claro, que tenha um passado ilibado - precisa ter/ser ficha limpa. Se o
candidato tentar jogar aquela conversa escorregadia, vou entender que o
mesmo não está nem aí com a nossa saúde ou com o tipo de vida ao qual
estamos condenando nossos filhos e netos.
Muitos políticos podem se posicionar favoravelmente à causa ambiental,
mas acredito que poucos tenham a real intenção ou competência para ajudar. O que fazer então? Posso só dizer o que eu pretendo fazer, vou ouvir e
gravar o compromisso, olhar nos olhos ao vivo e não só pela televisão, buscar a história do candidato, ver com quem ele anda é bem importante. Se
já foi um deputado federal, vou ver como ele votou sobre o Novo Código
Florestal, se votou a favor, já está eliminado.
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Um bom candidato deve ser antenado com o que está acontecendo à
nossa volta, inquietação popular, violência, poluição e morte dos rios, isso
num Estado com um dos maiores déficit hídrico do país. Um bom candidato deve entender o processo de contaminação dos rios e do mar, entender
como chegamos ao absurdo de termos nossas praias condenadas pela SUDEMA por conta de coliformes fecais. Um bom candidato, mesmo, deveria
entender o processo de degradação ambiental a nível planetário, é o aquecimento global, a acidificação dos oceanos, o buraco de ozônio, a escassez de
água e de petróleo, diminuição da biodiversidade, entre outros problemas,
para que possa atuar segundo o princípio de “PENSAR GLOBALMENTE, AGIR
LOCALMENTE”. Falando em princípios, um candidato sério deve entender
bem do que trata o “PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO”.
O cenário ambiental, social e econômico atual já não é fácil e no futuro
próximo deve ficar pior. Um político moderno e eficaz vai ter que funcionar
nesse admirável e perigoso mundo novo se quiser de fato fazer algo de útil
para a comunidade que ele representa. Adaptação vai ser o modo de vida
dos humanos que existirem daqui para frente.
Um bom candidato precisa entender a importância de se plantar tantas árvores quanto possíveis para mitigar os efeitos do aquecimento global
numa atmosfera com mais de 400 ppm de CO2 - o limite para um aquecimento global mais gerenciável era de 380 ppm. De preferência, qualquer
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plantio de árvores deveria começar justamente pela reconstituição da mata
ciliar de todos os nossos rios tão judiados.
A crise climática vai ter efeitos sobre a economia e o impacto não vai
ser nada parecido com as crises financeiras às quais estamos acostumados. Se o clima ficar muito ruim por aqui, por exemplo, com secas mais
prolongadas, isso seria um desastre e que poderá vir em doses cada vez
maiores. Grandes movimentos humanos estão previstos nesse processo. Se tivermos azar e as mudanças climáticas não favorecerem a nossa
região, vamos assistir ou mesmo protagonizar as novas emigrações, as
cidades irão se esvaziar. Se tivermos sorte e as mudanças climáticas nos
favorecerem por um tempo, então seremos o destino de muitos foragidos ambientais, o que também aumenta o desastre - isso já acontece durante as secas prolongadas no Estado. Neste caso as cidades vão inchar
ainda mais e teremos que lidar com demandas muito maiores do que as
atuais por água, esgoto, moradias, energia, alimentos, transporte, saúde,
matéria prima, empregos, etc. Um político dos novos tempos deve estar
atento a esses processos, ou não fará jus ao seu cargo.
A poluição crescente também vai merecer mais atenção de todos, neste livreto tratamos somente de alguns tipos de poluição, nem tocamos
ainda no assunto dos poluentes ditos emergentes. Definindo poluentes
emergentes: geralmente são produtos orgânicos sintéticos presentes em
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
medicamentos, produtos de higiene e limpeza, tais como antibióticos,
hormônios, conservantes e outros compostos que fazem parte da formulação desses produtos e para o qual as estações de tratamento não estão
preparadas para reter ou degradar. Existem várias pesquisas demonstrando que esses poluentes afetam a fertilidade e a saúde, muitos deles estão associados ao surgimento de câncer. Resíduos que nós jogamos no
esgoto diariamente podem afetar o meio ambiente e a saúde humana e
não se vê, num curto espaço de tempo, a perspectiva de uma limitação
de uso dessas substâncias.
Sobre uma política ambiental para a bacia do Gramame, pode se tomar
como um guia inicial, os pontos elencados na petição pública (link: http://
www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=P2013N44172), como segue:
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I. Criação de zona livre de agrotóxicos e fertilizantes químicos nas bacias
do alto Gramame, Marés e Abiaí-Papocas. Isto pode ser feito através de
criação de APAs dos mananciais.
II. Autuação de todos os proprietários que vem insistindo na desobediência dos Códigos Florestais e demais dispositivos legais que protegem as
nascentes. Não existem justificativas para desobedecer as leis ambientais
e ainda comprometer a saúde de 1 milhão de pessoas.
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
III. Apreensão imediata de todos agrotóxicos e fertilizantes químicos em
propriedades rurais do alto e médio Gramame, nas bacias dos rios Marés
e do sistema Abiaí-Papocas.
IV. Estabelecimento imediato de um programa de monitoramento de pesticidas e afins nas bacias acima referidas, contratando laboratório com
experiência nestas análises (ex ANVISA), ou de preferência, fortalecer a
CAGEPA para que o Estado adquira competência nessa área. Os resultados deverão ser publicados ao menos quinzenalmente. (*)
V. Recuperação da cobertura florestal das margens segundo o preconizado
no Código Florestal.
VI. Promover levantamentos geológicos (ex. junto às universidades) para
buscar vias de contaminação por fertilizantes e pesticidas dos aquíferos
do subsolo. (**)
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* Sobre o item iv, seria bem mais importante e efetivo um investimento
consistente do governo estadual na CAGEPA, para que ela se modernize e
se instrumentalize frente aos novos tipos de poluição, para que a CAGEPA
passe a ser o laboratório de referência para toda a Paraíba. Até agora, a
CAGEPA só sabe tratar de coliformes fecais e corrigir pH. É preciso que a
CAGEPA seja fortalecida no sentido de aumentar a capacidade de detec-
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
ção de resíduos na água, monitorando os mananciais permanentemente e
quando necessário, modificando o processo de produção de água potável
de forma a reter ou destruir os novos poluentes. Para tanto são necessários
laboratórios bem equipados e, sobretudo, pessoal técnico de alta competência, mas todos sabem que uma empreitada desse tipo leva algum tempo. Enquanto essa capacitação da CAGEPA não ocorre, é prudente que se
encomende as análises fora do Estado.
** Com relação ao item vi, é importante lembrar que os códigos florestais, tanto o antigo como o novo, são imperfeitos porque não consideram a estrutura geológica das bacias hidrográficas. Dessa forma,
importantes áreas de recarga do aquífero podem ficar situadas além
das áreas destinadas à mata ciliar e ainda, além do limite do assim chamado “divisor de águas” (limites estabelecidos somente em relação à
topografia do terreno).
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
Sozinha, a mata ciliar não é capaz de garantir a proteção dos mananciais, o código florestal brasileiro
é omisso com relação à estrutura geológica das bacias, criando a possibilidade de contaminação
dos rios pela movimentação de águas do subsolo.
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Devido ao tempo necessário para se determinar os verdadeiros limites
das áreas de recarga da bacia, faz-se necessária a primeira medida (item i),
em regime emergencial, criando uma ampla área livre de agrotóxicos. Aquíferos importantes, como o Guarani, já apresentam focos de contaminação
da água do subsolo; como o solo na região do Gramame é mais poroso do
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
que aqueles do sul e sudeste, as chances dos pesticidas percolarem e entrarem nos veios de águas subterrâneas é quase uma certeza.
Por fim, será preciso permanecer vigilante e confrontar o candidato
eleito sempre que ele se desviar de seus compromissos pré-eleição. De
resto é ter sorte para que os nossos eleitos não venham a sucumbir às
tentações do universo da política.
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VOCÊ SABE DE ALGUMA COISA?
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Este texto está longe de ser uma obra acabada, muito pelo contrário, ele
deverá permanecer aberto para novas contribuições. Se alguém porventura tiver mais informações sobre as águas de João Pessoa e que considere
importantes, informações que ainda não sejam de conhecimento público,
sinta-se convidado a incluir um ou mais capítulos a este livro. Além de informações sobre as águas, acredito que seriam relevantes dados mais recentes
sobre saúde pública que possam estar relacionados com a água ou com os
alimentos. Informações sobre populações silvestres, aquáticas ou terrestres,
que possam estar ligadas ao estado do rio também são bem vindas. Se você
sabe de alguma coisa relevante sobre o assunto deste livro, este pode ser
um canal oportuno para trazer a questão à tona.
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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Sumário
Autor
eLivre
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
APÊNDICES
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Na primeira parte do apêndice são apresentados os resultados da análise de
metais pesados de 17 voluntários moradores de Mituaçú. Como o número de
doadores ficou muito abaixo da expectativa e também porque os resultados das
análises chegaram após o fechamento do relatório, esses dados não foram incluídos no documento apresentado em 2009. De qualquer forma, os resultados
levantaram a suspeita de que algo pode estar acontecendo na região e sugerem
que uma nova pesquisa deve ser iniciada, desta vez conduzida por pesquisadores
da área médica. Caberia ao Ministério Público Estadual, a meu ver, atuar no sentido de que essa nova pesquisa seja iniciada o mais breve possível, para que se possa ou tranquilizar ou tratar a população do baixo Gramame, já bastante judiada.
Na segunda e terceira parte dos apêndices são copiados todos os laudos
de análise de resíduos de agrotóxicos e da análise de metais pesados na população ribeirinha, uma vez que estes dados também não foram publicados
no relatório do CCEN/UFPB de 2009. Para consultar os demais resultados do
relatório do CCEN/UFPB, pode-se baixar o documento pelo link: https://app.
box.com/s/8j4h84v4dd73kgramxk3
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
Apêndice I - Mineralograma de cabelos
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Esta pesquisa foi delineada e levada a termo pela Profa. Dra. Ilda A. S.
Toscano, do Departamento de Química (CCEN/UFPB), dentro das atividades
da Comissão UFPB/CCEN, as análises foram realizadas no laboratório Biominerais de Campinas, São Paulo.
A ideia inicial da Comissão UFPB/CCEN era a de amostrar pelo menos 100
pessoas das comunidades ribeirinhas do rio Gramame, infelizmente a adesão foi muito pequena de forma que só 17 amostras foram coletadas; isso
talvez tenha sido uma manifestação do descrédito da população em ações
do governo. Reforçando o que foi dito mais acima, que fique aqui registrada
a recomendação para a realização de uma nova pesquisa, desta vez conduzida por pesquisadores da área médica, uma vez que os resultados levantaram
a suspeita de que existem fontes de contaminação naquela região.
Nas 17 amostras foram pesquisados 38 elementos, dos quais 16 apareceram em concentrações acima do valor de referência (Fig. 1). O Alumínio
foi o elemento que apresentou a maior incidência de valores muito elevados
(100% das amostras), seguido do Silício, Magnésio, Sódio, Ferro, Manganês,
Níquel e Potássio (94 a 47% das amostras). As figuras nas páginas 112 a 114
indicam a distribuição desses metais na população, bem como o valor de
referência (linha verde) e a média da população (linha vermelha). Outros 8
110
O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
elementos apresentaram valores acima da referência, quais sejam: Cálcio,
Cobre, Molibdênio, Titânio, Chumbo, Zinco, Vanádio e Boro, aonde a incidência variou de 41 a 6% das amostras, respectivamente.
O Alumínio apresentou concentrações de 10 a 170 mg/kg, para um
valor de referência de 9 mg/kg, enquanto o Silício variou de 0 a 424 mg/
kg, com um VMP de 28. O Magnésio, com VMP de 200 mg/kg, também
atingiu concentrações muito altas, chegando a 656 mg/kg, e então temos o Sódio, com VMP de 400 e que atingiu o valor de 2044 mg/kg. Os
resultados originais da Biominerais Ltda estão copiados no Apêndice e
ficam à disposição de especialistas que queiram se debruçar sobre esse
problema. Nos laudos de mineralograma pode-se encontrar ainda outros
gráficos, inclusive das Relações Tóxicas, que trata da presença de certos
elementos que, quando combinados, tem efeitos deletérios ou que produzem alterações no metabolismo e que devem ser melhor observados;
neste parâmetro, o Alumínio e a Sílica é a combinação que merece maior
atenção, pelos altos valores e pela recorrência na população.
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111
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% incidência
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Análise de amostras de cabelo na comunidade de Mituaçú (baixo Gramame).
Elementos em concentrações acima do normal em % de incidência na população (n=17).
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Linha vermelha: média das amostras.
Linha verde: valor de referência (normal)
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Concentração de metais no cabelo de 17 moradores de Mituaçú, a linha verde representa o nível de referência,
concentrações em torno desta linha podem ser considerados normais; a linha vermelha representa a média da população,
a qual, em alguns casos, está muito acima do valor de referência.
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Apêndice II - Laudos das análises de agrotóxicos
nas águas da Bacia do Gramame
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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Capa
Sumário
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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Sumário
Autor
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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Capa
Sumário
Autor
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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Sumário
Autor
eLivre
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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Sumário
Autor
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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Autor
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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O que você precisa saber sobre a água de João Pessoa
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Autor
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Apêndice III - Laudos das análises de metais em humanos
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Graduado em Biologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(1983), mestrado em Zoologia pela Universidade Federal do Paraná (1988)
e doutorado (sandwich CAPES-DAAD) nas instituições Biologische Anstalt
Helgoland, Alemanha, e Universidade Federal do Paraná (1995). Atualmente
é professor da Universidade Federal da Paraíba, ministrando disciplinas nas
áreas de oceanografia, ecologia e zoologia. A atividade de pesquisa concentra-se na área de Oceanografia Biológica, em temas como taxonomia e
ecologia do plâncton e gestão de ecossistemas costeiros. Além disso possui
experiência de trabalho em ONGs, como consultor em empresas de consultoria ambiental, como secretário de meio ambiente e pesca de Cabedelo
(2005) e participa em conselhos de meio ambiente municipais e estaduais.
Paralelamente desenvolve ações de gestão ambiental na UFPB, a partir da
Comissão de Gestão Ambiental, da qual faz parte.
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PRECISA SABER - Pesquisa academica