XIX ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, São Paulo, 2009, pp. 1-17.
FORMAS DE ORGANIZAÇÃO SÓCIO – ESPACIAL DA RESERVA DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL AMANÃ – AMAZONAS / BRASIL¹
FORMAS DE ORGANIZACIÓN SOCIO – ESPACIO DE RESERVA DE
DESSARROLLO SOSTENIBLE AMANÃ – AMAZONAS / BRASIL¹
¹Marilene Alves da Silva
Mestranda do Programa de Pós – Graduação em Geografia da Universidade
Federal do Amazonas – UFAM
[email protected]
Resumo: O presente artigo pretende delinear as formas de organização sócio –
espacial do Amazonas tomando como exemplo a Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Amanã. Tentando compreender a dinâmica da produção e comercialização
da agricultura de várzea e terra firme, bem como suas variações sazonais, e estudar a
relação destas com os aspectos econômicos, sociais e ambientais. Procura demonstrar
por meio da Geografia Agrária a importância da agricultura familiar no contexto
socioeconômico das populações do Amazonas, estimulando a adoção de modelos de
exploração sustentável e encorajando a organização comunitária, integrando dessa
forma, objetivos sociais e ambientais.
Palavras - chave: Organização Sócio – Espacial, Agricultura de Várzea e Terra Firme,
Geografia Agrária, Desenvolvimento Sustentável.
Resumen: Este artículo tiene por objeto describir las formas de organización social - el
espacio de Amazonas para tomar un ejemplo de Amanã el Desarrollo Sostenible de
Reserva. Tratar de comprender la dinámica de producción y comercialización de la
agricultura y la tierra de las tierras bajas, y sus variaciones estacionales, y estudiar la
relación con estos aspectos económicos, sociales y ambientales. Buscar demostrar a
través de Geografía Agraria de la importancia de la agricultura familiar en el contexto
socioeconómico de las poblaciones de la Amazonas, fomentando la adopción de
modelos de explotación sostenible y alentar la organización de la comunidad,
integrando de esta manera, los objetivos sociales y medioambientales.
Las palabras - clave: Organización Social - el espacio, Várzea de Agricultura y
Tierras, la tierra de Geografía, el Desarrollo Sostenible.
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XIX ENGA, São Paulo, 2009
SILVA, M. A.
1. INTRODUÇÃO
Nos dias atuais a agricultura familiar ganhou tal ordem de consagração que
passou a ser considerada como importante fenômeno social. Na Amazônia Central a
agricultura familiar desempenha importante papel no contexto das populações, na
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã (RDSA) não é diferente, sendo na
maioria das comunidades, a principal atividade econômica.
De acordo com Neves (2007), na agricultura familiar a capacidade e as
condições de trabalho são articuladas a partir das relações familiares, deve-se levar em
consideração a diferenciação de gênero, os ciclos de vida e o sistema de autoridade
familiar.
As Reservas de Desenvolvimento Sustentável se diferenciam dos outros tipos
de unidades de conservação pelo fato de nelas ser permitida a presença de
assentamentos humanos. Neste tipo de unidade de conservação, se busca harmonizar
a convivência das populações tradicionais com os recursos naturais existentes,
estimulando a adoção de modelos de exploração sustentável e encorajando a
organização comunitária, integrando dessa forma, objetivos sociais e ambientais.
[...] Dessa forma, são as relações sociais de produção que dão a configuração
histórica específica ao território. Logo o território não é um prius ou um priori, mas a
contínua luta da sociedade pela socialização igualmente contínua da natureza
(OLIVEIRA, 2002, p. 74).
Poucos são os trabalhos científicos que abordam a temática da agricultura
tradicional, e que trazem informações sobre a importância no desenvolvimento
sustentável e sua interface com a população local, contribuindo na organização sócio –
espacial do lugar.
Desta forma, o estudo da agricultura familiar na RDSA torna-se de extrema
importância, uma vez que seus resultados servirão como subsídios para a elaboração
do Plano de Manejo, bem como base para os trabalhos a serem desenvolvidos pelo na
referida Unidade de Conservação.
Formas de organização sócio – espacial da reserva de desenvolvimento sustentável Amanã
– Amazonas / Brasil, pp. 1-17.
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2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Área de Estudo
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã (RDSA) (Figura 1) localizase na região central do Estado do Amazonas, entre a RDSM e as águas pretas do rio
Negro e Japurá e as águas brancas do rio Solimões, engloba uma área de
aproximadamente 2.350.000 hectares de ecossistema de terra firme e várzea (IPAAM,
1998).
A RDS Amanã possui uma população (moradores e usuários) de
aproximadamente 4.000 habitantes que vivem na sua grande maioria, da agricultura,
da caça e da pesca em menor escala (CENSO, 2006).
Figura 1: Mapa de Localização da Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Amanã
Fonte: Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá – IDSM
Organização: Marilene Alves da Silva
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XIX ENGA, São Paulo, 2009
SILVA, M. A.
2.2 Metodologia
O percurso metodológico consistiu inicialmente na revisão bibliográfica,
levantamento de documentos pertinente a Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Amanã.
Após este levantamento, foi realizada a pesquisa de campo por meio de visitas e
entrevistas estruturada e semi-estruturadas nas comunidades da referida reserva, com
o objetivo de identificar, mapear e descrever a organização sócio – espacial do lugar.
Para a identificação, foram utilizados os dados do levantamento demográfico da
reserva realizado no ano de 2006 pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável
Mamirauá, cuja instituição é gestora da RDSA. No mapeamento, procurou-se
inicialmente utilizar a ferramenta do mapeamento participativo comunitário, na qual os
próprios comunitários são os que desenham suas áreas de uso, por meio de mapas
mentais. Com a utilização de um programa de sistema de informação geográfica
elaboramos mapas cartográficos dos referidos mapeamentos. Quanto à descrição,
utilizamos os dados relatados pelos comunitários durante as entrevistas realizadas.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Caracterização Biofísica da Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Amanã
Parte da área é constituída por florestas de terra firme, cuja origem remonta à
Era Terciária, enquanto que a outra parte são florestas alagadas ou de várzea, que
surgiram em períodos mais recentes: o Pleistoceno e o Holoceno. As áreas Terciárias
são influenciadas pelas águas brancas provenientes dos Andes e pelas águas pretas
que se originam na bacia amazônica. Por isso, a fauna inclui elementos pré-andinos,
que vivem ao longo do rio Negro, e elementos mais tipicamente andinos, ao longo do
rio Solimões. A diversidade biológica na área é determinada, principalmente, por essas
influências hídricas (AYRES, 1995).
Diferentes formações fitofisionômicas são encontradas na RDSA (Figura 2);
dentre elas podemos destacar a Floresta Ombrófila Densa Aluvial, Floresta Ombrófila
Aberta de Terras Baixas, Vegetação Lenhosa Oligotrófica dos Pântanos (VLOP)
Formas de organização sócio – espacial da reserva de desenvolvimento sustentável Amanã
– Amazonas / Brasil, pp. 1-17.
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Arbórea Aberta e VLOP Arbórea Densa – essas duas últimas são formações de
Campinaranas e Campinas do rio Negro (WITTMANN, 2005).
Figura 2: Classificação Não-Supervisionada das Formações Fitofisionômicas da
RDSA
2
Cobertura (%)
Cobertura (km )
Nuvens
2,30
126,99
Água
7,66
422,94
Áreas antropogenicas
0,39
21,53
Florestas de terra firme - baixio
15,06
831,96
Florestas de terra firme - platô, vertente
57,49
3174,40
Florestas de várzea baixa
8,56
472,63
Florestas de várzea alta
2,44
134,72
Florestas de igapó
5,75
317,48
Cena inteira (total)
100,00
5521,42
Classe temática
Fonte: WITTMANN (2005).
Organização: Marilene Alves da Silva
3.2 Divisão Política da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã
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XIX ENGA, São Paulo, 2009
SILVA, M. A.
A RDSA é dividida em três setores políticos (Figura 2) abrangendo um total de
22 comunidades e abrigando uma população de aproximadamente 4.000 pessoas, em
sua maior parte, indígenas, caboclos e ribeirinhos.
Figura 3: Setores Políticos da RDSA
Organização: Marilene Alves da Silva
O setor Amanã é o maior e mais populoso da reserva, abrigando
aproximadamente 1.500 pessoas, distribuídas em 11 comunidades. Dessas 11, cinco
são tipicamente de terra firme, o que contribui para que o setor seja o mais agrícola da
reserva.
Os setores Coraci e São José já têm em seu território grandes áreas de várzea.
Nestes setores, na maioria das comunidades, a agricultura tem uma importância
menor, sendo superada pela pesca como principal atividade econômica. Entretanto, em
Formas de organização sócio – espacial da reserva de desenvolvimento sustentável Amanã
– Amazonas / Brasil, pp. 1-17.
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termos de comunidades, o setor Coraci supera o São José, pois nele estão presentes 7
comunidades, contra 5 do setor São José.
Somando-se todas as comunidades da RDSA, os ecossistemas de terra firme
estão presentes em 13, e os de várzea em 10.
3.3 Formas de Uso Agrícola das Comunidades da RDSA
Com base nos três setores políticos da RDSA, optou-se por estudar quatro
comunidades, sendo duas comunidades de terra firme, Boa Esperança, Boa Vista do
Calafate (Setor Amanã), e duas de várzea, Nova Olinda (Setor São José) e São Paulo
do Coraci (Setor Coraci). A escolha destas comunidades foi feita levando-se em
consideração diversos fatores, entre eles: ecossistema (Várzea ou Terra Firme),
importância da agricultura como atividade econômica, localização geográfica, facilidade
de acesso. Buscou-se abranger todos os ecossistemas da reserva, e todos os setores.
A comunidade Boa Esperança é uma das maiores de toda a RDSA. Nela
residem 162 pessoas, em 31 casas. (CENSO, 2006). Nesta comunidade, a agricultura
é a principal atividade econômica, sendo a caça e a pesca apenas práticas de
subsistência.
A comunidade Boa Vista do Calafate é uma das menores do setor Amanã. Sua
população é composta por 55 pessoas em 10 casas, sendo 5 localizadas na própria
comunidade (juntas) e 5 isoladas (CENSO, 2006). Nesta comunidade, que também é
de terra firme, a agricultura é a principal atividade econômica. Os sistemas de
produção, entretanto, são bem distintos dos da Boa Esperança, no que diz respeito aos
mais diversos aspectos, sejam eles políticos, econômicos, sociais e culturais. Ambas
as comunidades são banhadas pelo Lago Amanã.
Se entre as comunidades pertencentes ao mesmo tipo de ecossistema existem
diferenças, entre ecossistemas distintos então, estas se atenuam. Em São Paulo do
Coraci, a pesca é a atividade principal. Nesta comunidade, banhada por um paraná de
águas brancas, o Paraná do Coraci, residem 72 pessoas, distribuídas em 13 casas
(CENSO, 2006). A agricultura nesta comunidade é desenvolvida em caráter de
subsistência, com a produção voltada apenas para o consumo.
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XIX ENGA, São Paulo, 2009
SILVA, M. A.
Na comunidade Nova Olinda, residem 111 pessoas, em 18 casas (CENSO,
2006). A agricultura exerce papel também secundário na economia local. A
comunidade é margeada pelo paraná do Pirataíma, de águas brancas.
Tanto na várzea quanto na terra firme, cada agricultor possui várias unidades de
produção, geralmente espalhadas por toda a área de uso da comunidade. É muito rara
a ocorrência de casos de uso contíguo da área. Sempre as áreas são distantes umas
das outras. As distâncias de alguns roçados nas comunidades com relação à casa do
agricultor, pode chegar a 2 km, como por exemplo, os roçados da comunidade Boa
Esperança. A mesma distância pode ser verificada entre áreas diferentes.
Na Boa Esperança (BE) cada agricultor possui em média 4,83 unidades de
produção (Tabela 1). No Calafate (CA) o índice é de 5,25. Na várzea, estes valores são
menores. Na comunidade Nova Olinda (NO), a média é de 2,5 para cada. Já no São
Paulo do Coraci (SP) é de 3,20. Esta diferença pode ser explicada tanto pelo fato da
agricultura assumir um papel inferior na várzea, quando comparada com a de terra
firme, quanto pelos riscos associados ao cultivo de várzea. Pelo medo de ter grandes
perdas com a cheia, e por serem menos especializados, os agricultores da várzea
conduzem menos áreas. Já na terra firme, a tendência é que este número aumente
com o passar dos anos, na medida em que os ganhos com a agricultura vão
crescendo.
O tamanho médio de cada área também varia muito, de acordo com a
comunidade e o ecossistema. A comunidade onde são encontradas as maiores médias
é o Calafate (1,48 ha cada área).
Os critérios de escolha das áreas (zoneamento) são vários. De modo geral são:
-
Disponibilidade de áreas: como as áreas são devolutas, no caso delas
nunca terem sido utilizadas, qualquer agricultor tem toda a liberdade de escolhê-la para
instalar seus plantios. Desde que ela esteja na área de sua comunidade, é só chegar,
preparar o solo e plantar. A disponibilidade tem diminuído muito na terra firme, quando
se pensa em locais mais próximos às comunidades. Tanto na Boa Esperança quanto
no Calafate, devido à intensidade de uso das áreas para agricultura, quando um
agricultor deseja abrir uma área, de modo geral tem que caminhar por cerca de 45
minutos, até chegar a uma área ainda inexplorada. Portanto, a abertura de novas áreas
tende a diminuir significativamente nos próximos anos. A tendência é a intensificação
do uso das áreas já abertas, e o aumento de investimentos em outros cultivos que não
a mandioca.
Formas de organização sócio – espacial da reserva de desenvolvimento sustentável Amanã
– Amazonas / Brasil, pp. 1-17.
-
9
Tipo de solo: os agricultores, em todas as comunidades, foram unânimes
em dizer que preferem os solos arenosos para agricultura, principalmente para o cultivo
da mandioca, com relação aos argilosos. A preferência se dá pelo fato de que, no solo
arenoso, o arranquio da mandioca é mais fácil.
-
Risco de inundação: esse critério é mais significativo na várzea. Os
agricultores preferem as áreas mais altas para fazerem seus cultivos, principalmente
quando se trata do cultivo da mandioca, que não tolera encharcamento de solo. As
terras baixas são utilizadas basicamente para o cultivo de espécies precoces, como a
melancia e o feijão.
-
Distância da comunidade: quando se pensa em manter o sistema por
mais tempo (quando se abre uma área já com a intenção de se implantar um sitio, ou
quando se deseja converter roçados em sítios), nas comunidades de terra firme, a
escolha dos agricultores sempre é influenciada pela distancia dessas áreas com
relação às residências. Nas áreas muito longínquas, geralmente se faz um cultivo de
apenas um ciclo, abandonando-se a área em seguida. Os agricultores alegam que a
distância inviabiliza a manutenção das áreas, e o transporte da produção.
-
Tipo de formação vegetal existente (se mata virgem ou capoeira): quando
possível, os agricultores, tanto da várzea quanto da terra firme preferem estabelecer
seus roçados em áreas de mata virgem, porque nestas, a incidência de ervas daninhas
é muito menor que nas áreas de capoeira.
A maior parte das áreas cultivadas pelas comunidades está em locais que antes
eram ocupados por capoeira. De acordo com a Tabela 1, 73% das áreas amostradas
se englobam nesta condição. Com exceção do Calafate, as outras comunidades
seguem esta linha. No Calafate, apenas 28,57% das áreas estão em locais que antes
eram ocupados por capoeira. Isto se explica pelo fato deles executarem nos últimos
anos um tipo de agricultura predominante itinerante, com as áreas sendo abandonadas
sempre que se encerrava o ciclo de produção da mandioca. Este modo de produção
está em transição. Hoje, nesta comunidade, a tendência é de se continuar manejando
as áreas, enriquecendo os roçados com espécies frutíferas e madeireiras.
Na comunidade Nova Olinda praticamente não existe mais áreas de mata
virgem adequadas para a agricultura. O que restou, além das capoeiras, é chavascais.
Dessa forma, como se pode perceber na tabela, nesta comunidade a totalidade das
áreas está alocada em áreas antes ocupadas com capoeiras.
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XIX ENGA, São Paulo, 2009
SILVA, M. A.
O uso das praias para a agricultura ainda é muito restrito em toda a RDSA. Nas
áreas de terra firme quase todos os anos surgem excelentes áreas de praia, muito
adequadas para o cultivo de espécies de ciclo precoce, como milho, feijão e melancia.
Em outras comunidades que não foram abordadas neste estudo, foram identificados
cultivos de praia, apresentando produção satisfatória. Entretanto nessas áreas, é
comum a criação de gado, que inviabiliza os cultivos. Também nas áreas de várzea
eles são pouco comuns, só detectados na comunidade São Paulo do Coraci. A adoção
dessas práticas pode ser uma excelente alternativa para a produção de alimentos na
RDSA. Contudo, ela encontra ainda uma certa resistência, advinda dos riscos de perda
de produção por causa da cheia, e da ameaça da criação de gado na reserva. O
estudo da viabilidade econômica e da sustentabilidade dos cultivos em praia é muito
importante. Há a necessidade de se fazer análises de solo e da água, e estudar o
comportamento das culturas ao longo dos ciclos de seca e cheia.
Tabela 1. Informações Sobre as Formas de Uso do Espaço Agrícola em Quatro
Comunidades da RDSA.
Comunidade
Parâmetro
BE
CA
SP
NO
Média
Área cultivada/família (média, em ha)
4,07
7,70
1,76
1,45
3,75
Número médio de áreas conduzidas/família
4,83
5,25
3,20
2,50
3,95
Tamanho médio de cada área (ha)
0,87
1,48
0,53
0,63
0,88
Hectares abertos/comunidade (média)
1,32
2,75
0,37
0,00
1,36
Áreas mantidas em solo coberto por mata (%)
10,34
71,43
12,50
0,00
23,57
Áreas mantidas em solo coberto por capoeira (%)
89,66
28,57
75,00
100,00
73,31
Áreas mantidas em praia (%)
0,00
0,00
12,50
0,00
3,13
3
3
2
2
-
Tipos de sistemas diferentes praticados
Fonte: Instituo de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá
Formas de organização sócio – espacial da reserva de desenvolvimento sustentável Amanã
– Amazonas / Brasil, pp. 1-17.
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3.4 Sistemas Agrícolas na Terra Firme e na Várzea
Tanto na várzea quanto na terra firme, foram identificados os seguintes tipos de
sistemas agrícolas:
Roça:
De acordo com Morán (1990), roça é uma terminologia utilizada exclusivamente
para identificar as áreas onde é realizado o cultivo da mandioca (Manihot esculenta
Crantz). Nas áreas de roçado (área utilizada para cultivo da mandioca), geralmente
convivem em um mesmo espaço diversas variedades de mandioca, além de outras
espécies cultivadas, tais como outros cultivos anuais, como milho (Zea Maiz) e cará
(Colocasia esculenta), e espécies perenes, como pupunha (Bactris gasipae), açaí
(Euterpe oleracea), abacate (Persea americana), entre outras. Entretanto, é importante
salientar que a mandioca é a espécie predominante, ocupando a maior parte da área
(cerca de 80% do espaço e da população de plantas).
Na terra firme, as roças são do tipo itinerante, com o preparo das áreas feito por
meio do sistema de derruba e queima, podendo ocupar áreas de capoeira (formação
vegetal secundária), ou “mata virgem” (formação vegetal primária) (RAMOS, 1990). De
modo geral, o roçado permanece em um mesmo local por no máximo 2 anos, quando o
solo já se encontra esgotado, e se acentuam os ataques de pragas e doenças. A
produção então diminui de forma significativa.
A maioria dos agricultores localizados na terra firme, vão transformando
gradativamente os roçados, na medida em que a produção de mandioca vai caindo.
Aos poucos eles vão plantando espécies perenes, que vão substituindo as anuais, em
um interessante processo de sucessão, formando outro tipo de sistema de produção
conhecido como sítios. Entretanto, as áreas também podem ser abandonadas.
Na várzea, geralmente os agricultores reutilizam uma mesma área por vários
anos. Nestas áreas ocorre uma constante fertilização do solo promovida pelas cheias
anuais. As águas trazem em seus sedimentos nutrientes, que fazem com que o solo da
várzea seja muito mais fértil que o da terra firme (AYRES, 1995). Quando eles
percebem que o solo está “cansado”, eles o deixam em pousio, que pode durar de dois
a 5 anos, sendo novamente utilizada para plantio.
O tamanho do roçado varia de acordo com o agricultor e com o ecossitema no
qual a comunidade está inserida (Tabela 2). Na terra firme, geralmente os roçados são
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XIX ENGA, São Paulo, 2009
SILVA, M. A.
maiores que nas comunidades de várzea. A área média dos roçados (cada unidade) é
de 1,01 há. No Calafate foram encontrados os maiores roçados. Nesta comunidade,
cada um alcança quase dois hectares de área média, e cada família chega a ter em
média 5,65 ha de áreas de roçado. Já nas comunidades de várzea, esses números são
bem mais modestos. Na Nova Olinda, por exemplo, a área média de roçados
manejados por família (somando todas as áreas) é de apenas 0,77 ha, e a área média
de cada roçado é de 0,35 ha. Isso demonstra uma ligação bem mais estreita entre as
comunidades de terra firme e agricultura.
Tabela 2. Características dos Roçados das Comunidades de Várzea e Terra Firme da
RDSA.
Parâmetro
Área de total de roçados manejada por cada
BE
2,83
Comunidade
CA
SP
NO
5,65
1,59
0,77
família (ha)*
Área média dos roçados (ha)
Número de roçados/família
1,13
2,5
1,88
3,00
0,66
2,40
0,35
2,17
Média
2,71
1,01
2,52
Fonte: Instituo de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá
Sítio:
É a denominação utilizada pelos agricultores para definir os consórcios
multiestratificados de plantas frutíferas, sejam eles pomares, ou quintais domésticos.
De forma geral predominam um ou alguns tipos de espécies, de grande valor
econômico, como abacate, pupunha e açaí. Entretanto, estas coexistem com diversas
outras espécies, fruteiras e madeireiras, caracterizando uma significativa diversidade
(GLIESSMAN, 2000).
Essas áreas em geral apresentam em média, 1 hectare (Tabela 3), sendo as
maiores encontradas na comunidade Nova Olinda, e as menores na Boa Esperança.
Os sítios, de modo geral, são remanescentes de roçados, que terminado o ciclo
da mandioca, foram sendo enriquecidos com mudas de espécies frutíferas.
As plantas mais comuns nos sítios de terra firme são o abacate, o abacaxi, a
pupunha e a açaí.
A tendência é que os sítios aumentem, principalmente nas comunidades de terra
firme, uma vez que as frutas estão cada vez mais sendo valorizadas no mercado, e as
Formas de organização sócio – espacial da reserva de desenvolvimento sustentável Amanã
– Amazonas / Brasil, pp. 1-17.
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áreas de roçado estão ficando cada vez mais distantes, o que torna difícil o acesso, e o
transporte da mandioca.
Tabela 3. Alguns Aspectos dos Sítios nas Comunidades de Várzea e Terra Firme da
RDSA.
Parâmetro
Área de total de sítios manejada por cada família
BE
1,39
Comunidade
CA
SP
NO
2,57
0,38
2,05
(ha)
Área média dos sítios (ha)
0,58 1,28
Número de sítios/família
2,40 2,00
Fonte: Instituo de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá
0,25
1,50
2,05
1,00
Média
1,60
1,04
1,73
Quintal:
São áreas de sítios que se encontram próximos às residências, recebendo maior
atenção e manejo mais intensivo. Além de mais diversificados, eles desempenham um
importante papel como fornecedor de alimentos (frutas, legumes) e remédios caseiro, e
como ambiente para criações de pequenos animais, principalmente porcos e galinhas,
além de servir como palco para a domesticação e aclimatação de plantas
(CONWAY,1993).
Os quintais domésticos são mais comuns nas comunidades de terra firme. Na
várzea, eles são mais raros devido à problemática da inundação. Os agricultores,
evitam plantar várias espécies próximos as suas casas, pois essas áreas são muito
passíveis de inundação.
Só foram detectados quintais nas comunidades Calafate e Boa Esperança. A
área média dos quintais foi de 0,13 ha (Tabela 4).
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XIX ENGA, São Paulo, 2009
SILVA, M. A.
Tabela 4. Alguns Aspectos dos Sítios das Comunidades de Várzea e Terra Firme da
RDSA.
Parâmetro
Comunidade
BE
CA
SP
NO
Área média dos quintais (ha)
0,13
0,13
Número de sítios/família
1,00
1,00
Fonte: Instituo de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá
Média
0,13
1,00
Ao todo foram encontradas 52 famílias nos quintais das duas comunidades
estudadas.
Sistemas de Produção de Praias:
São sistemas típicos de várzea, praticados nas terras que surgem primeiro durante os
períodos de vazante e seca. Podem ser as praias propriamente ditas, cujo solo
característico é areia quartzosa, ou as restingas baixas. Nestas áreas são conduzidos
cultivos rápidos, como milho, feijão e melancia. Estes sistemas são altamente
intermitentes, e dependentes do regime das águas. Quando a cheia vem muito
depressa, é muito comum os agricultores perderem tudo.
Na Figura 4 encontra-se representado as áreas de uso por comunidades da
RDSA .
Formas de organização sócio – espacial da reserva de desenvolvimento sustentável Amanã
– Amazonas / Brasil, pp. 1-17.
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Figura 4: Áreas de Uso por Comunidades
Organização: Marilene Alves da Silva
CONSIDERAÇOES FINAIS
Por meio dos dados apresentados, pode-se considerar que a agricultura familiar
praticada pelas comunidades da RDSA, assim como em boa parte na Amazônia são
caracterizados, entre outros fatores, por apresentarem uma estreita interface com o
ambiente local, sendo manejados sob uma lógica sucessional que os aproxima, de
certa forma, ao ecossistemas naturais. Trata-se de uma complexa interação entre
ambiente, cultura e sociedade, que promove o desenvolvimento de processos
produtivos capazes de garantir a subsistência das famílias sem provocar maiores
danos na cobertura vegetal. Esse arranjo produção-conservação é influenciado não só
pela ordem econômica (formas locais de organização da produção, do trabalho e do
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XIX ENGA, São Paulo, 2009
SILVA, M. A.
espaço), mas também por aspectos de ordem moral que governam esse campesinato
e pelos modos de vida.
Portanto, diversos fatores devem ser levados em conta ao se estudar esse
campesinato e sua relação com o ambiente, e principalmente durante a proposição de
projetos de desenvolvimento sustentável e políticas públicas. Dada a importância do
componente humano para a conservação do meio ambiente e para o desenvolvimento
regional, e da agricultura como atividade organizadora do espaço e das relações
sociais na Amazônia.
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1995.
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CONWAY, G. R. Análise participativa para o desenvolvimento agrícola sustentável. Rio
de Janeiro: AS-PTA, 1993.
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MORÁN. E. A ecologia humana das populações da Amazônia. Petrópolis. Rio de
Janeiro: Vozes, 1990.
RAMOS, A. R. Memórias de Sanumá: espaço e tempo em uma sociedade yanomami.
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