Intervenções com filtros e telas, vídeos e fotografias são algumas das mídias que Lucia Koch escolheu para investigar questões de luz e espacialidade, em diálogo constante com a arquitetura. Ao criar estados alterados dos lugares nos quais interferem, seus trabalhos reorientam não apenas a percepção, mas também a compreensão do mundo construído. Interventions with filters and screens, videos, and photographs are some of the media Lucia Koch has chosen in order to investigate issues of light and spatiality, in a constant dialogue with architecture. By altering the state of the places on which they interfere, her works reorient not only our perception, but the comprehension of the constructed world. Ela participou do projeto independente Arte Construtora, que ocupou casas, parques e uma ilha em diferentes cidades brasileiras (1992/1996). Desde então, Koch desenvolveu um interesse por espaços domésticos e a forma como estes se relacionam com a vida nas cidades. Seus trabalhos englobam diferentes contextos, como um banho turco na Bienal de Istambul (2003) ou uma área de venda de tecidos por atacado em Nagoya para a Trienal de Aichi (2010). She participated in the Arte Construtora independent project, which occupied houses, parks, and an island in different Brazilian cities (1992/1996). Since then, Koch has pursued an interest in domestic spaces and how they relate to life in the city. Having works span different contexts such as a functioning Turkish bath for the Istanbul Biennial (2003) or a textile wholesale area in Nagoya, for the Aichi Triennale (2010). Lucia Koch nasceu em 1966, em Porto Alegre. Vive e trabalha em São Paulo. Participou da 11ª Bienal de Sharjah, Emirados Árabes Unidos (2013); da 11ª Bienal de Lyon, França (2011); da 27ª Bienal de São Paulo, Brasil (2006); da Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, Brasil (1999, 2005 e 2011); e da 8ª Bienal de Istambul, Turquia (2003). Exposições coletivas de que participou recentemente incluem: Prospect 3: Notes for now (New Orleans, EUA, 2014); Cruzamentos: Contemporary Art in Brazil (Wexner Center for the Arts, Columbus, EUA, 2014); 30 x Bienal (Fundação Bienal de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2013); Sense of Place (Pier 24, San Francisco, EUA, 2013); Travessias 2 (Galpão Bela Maré, Rio de Janeiro, Brasil, 2013); Um outro lugar (Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2011); When Lives Become Form (Yerba Buena Center for Arts, San Francisco, EUA, 2009; Contemporary Art Museum, Tóquio, Japão, 2008). Suas mais recentes mostras individuais são: Duplas (Galeria Nara Roesler, Rio de Janeiro, Brasil, 2014); Mañana, montaña, ciudad y Brotaciones (Flora ars + natura, Bogotá, Colômbia, 2014); Materiais de construção (Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil, 2012); Cromoteísmo (Capela do Morumbi, São Paulo, Brasil, 2012); Matemática espontânea (SESC Belenzinho, São Paulo, Brasil, 2011); e Casa acesa (La Casa Encendida, Madri, Espanha, 2008). Lucia Koch was born in 1966, in Porto Alegre. She lives and works out of São Paulo. Koch has featured at the 11th Sharjah Biennial, United Arab Emirates (2013); the 11th Lyon Biennial, France (2011); the 27th Biennial of São Paulo, Brazil (2006); the Mercosul Biennial, in Porto Alegre, Brazil (1999, 2005 and 2011); and the 8th Istanbul Biennial, Turkey (2003). Recent group exhibitions include: Prospect 3: Notes for now (New Orleans, USA, 2014); Cruzamentos: Contemporary Art in Brazil (Wexner Center for the Arts, Columbus, USA, 2014); 30 x Bienal (São Paulo Biennial Foundation, São Paulo, Brazil, 2013); Sense of Place (Pier 24, San Francisco, USA, 2013); Travessias 2 (Galpão Bela Maré, Rio de Janeiro, Brazil, 2013); Um outro lugar (São Paulo Museum of Modern Art, São Paulo, Brazil, 2011); When Lives Become Form (Yerba Buena Center for Arts, San Francisco, USA, 2009; Contemporary Art Museum, Tokyo, Japan, 2008). Recent solo exhibitions include: Duplas (Galeria Nara Roesler, Rio de Janeiro, Brazil, 2014); Mañana, montaña, ciudad y Brotaciones (Flora ars + natura, Bogotá, Colombia, 2014); Materiais de construção (Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brazil, 2012); Cromoteísmo (Capela do Morumbi, São Paulo, Brazil, 2012); Matemática espontânea (SESC Belenzinho, São Paulo, Brazil, 2011); and Casa acesa (La Casa Encendida, Madrid, Spain, 2008). duplas trabalhos pantográficos paredes instantâneas Dupla (AB1106 + AZ523) 2014 alumínio e acrílico/aluminum and acrylic -- 60 x 40 x 4,7 cm Dupla {CZ1405 + AB1107} 2014 alumínio e acrílico/aluminum and acrylic 80 x 60 x 4,7 cm Dupla dupla vertical {LA217 + AZ544 + VI713 + MA1204} 2014 alumínio e acrílico/aluminum and acrylic -- 120 x 60 x 4,7 cm Dupla {AM309 + FM1058} 2014 alumínio e acrílico/aluminum and acrylic ed única -- 120 x 100 x 7 cm Dupla {AZ503 + FM1055AD} 2014 alumínio e acrílico/aluminum and acrylic -- 100 x 120 x 6,4 cm Dupla basculante {VM104 + VM104AD + VM105 + VM105AD} 2014 alumínio e acrílico/aluminum and acrylic -- 80 x 80 x 3 cm Dupla basculante {FM1058 + FM1012AD + AZ503 + AZ523} 2014 alumínio e acrílico/aluminum and acrylic -- 80 x 80 x 3 cm Dupla basculante {FM1058 + FM1012AD + FM1029 + FM1008} 2014 alumínio e acrílico/aluminum and acrylic -- 216 x 88 x 5 cm Duplas 2014 vista da exposição/exhibition view -- Galeria Nara Roesler, Rio de Janeiro Duplas 2014 vista da exposição/exhibition view -- Galeria Nara Roesler, Rio de Janeiro Pedro/Lola/Kleber 2013 acrílico, estrutura dobrável e maleta em alumínio/ acrylic, foldable structure and aluminum carrying case ed unique/unique edition 145 x 38 x 28 cm cada/each páginas anteriores/previous pages Parede instantânea - fumer/forêt 2013 estrutura pantográfica em alumínio e módulos de acrílico/ pantographic structure in aluminium and acrylic modules ed única/unique edition -- 230 x 230 x 30 cm cada/each Parede instantânea 2013 estrutura pantográfica em alumínio e módulos de acrílico/ pantographic structure in aluminium and acrylic modules ed única/unique edition 230 x 230 x 30 cm Com vista para a parede Rodrigo Andrade, 2014 Uma janela comum pendurada na parede, deixando de ser janela para se tornar um quadro. Eis uma definição imediata e genérica possível para o novo trabalho de Lucia Koch. São janelas de alumínio comuns cujos vidros foram substituídos por chapas de acrílico colorido transparente ou semi-transparente que se sobrepõem ou justapõem em diferentes posições, de acordo com a abertura das janelas, criando diferentes relações cromáticas e espaciais. Sempre em relação à luz, elemento crucial para Lucia desde sempre. Segundo uma definição de E. H. Gombrich em seu Arte e Ilusão, uma escultura de um sofá deixa de ser uma escultura se uma pessoa sentar nela, tornando-se um sofá de verdade; e um sofá de verdade, caso seja colocado numa vitrine, por exemplo, tornase símbolo, representação. É o que acontece aqui, embora isso seja apenas o ponto de partida de Lucia Koch. Pode-se dizer que que essas janelas alteradas imitam quadros. E quadros, na nossa tradição ocidental, já imitaram janelas. A pintura ocidental desde o renascimento apresenta-se como janela para o mundo. É uma metáfora clássica. Só que aqui a metáfora se inverte: não mais pinturas que são como janelas e sim janelas que são como pinturas. Mas ao mesmo tempo a obra de arte não deixa de ser uma janela, e a rigor, se alguém quiser instalar um desses trabalhos como uma janela real - em uma abertura na parede - ele retornará à sua condição utilitária, mesmo com seus acrílicos coloridos. A operação aqui posta em jogo já é, em sua essência, algo normal na arte contemporânea: um objeto comum é alterado por alguma intervenção do artista tornando-se assim objeto de arte, já sem utilidade alguma, mas capaz de emitir sentido e causar emoção estética. Emoção que a meu ver, vêm da percepção desta transformação mesma. A originalidade desse trabalho está na sua singularidade, no modo engenhoso como as esquadrias de alumínio esmaltado de branco servem de suporte para um jogo puramente poético. Um jogo de cor, espaço e luz. O artista norte americano Donald Judd, referência importante de Lucia, escreveu certa vez que os três aspectos fundamentais da arte são espaço, cor e material. Pois para Lucia, a luz é um material. Mas também o material mesmo de que são feitos os trabalhos, alumínio e acrílico, faz parte do jogo, bem como as residuais conotações sociais e culturais intrínsecas à natureza industrial das janelas. Essas portas e janelas fabricadas em massa, tão difundidas em nossas cidades, podem ser lidas como um símbolo de degradação arquitetônica e urbana. Contudo, são neutras o suficiente para funcionarem como janelas universais, como símbolos de janela, Facing the wall Rodrigo Andrade, 2014 A regular window frame hanging from a wall, ceasing to be a window to become a picture. This is potentially an immediate, generic definition to Lucia Koch’s new artwork. The piece features aluminum windows whose panes have been replaced with transparent or semi-transparent colored acrylic sheets that superimpose or juxtapose into different positions, depending on how open the windows are, creating different chromatic and spatial relationships. As ever, the relationship with light is there, a crucial element for Koch since always. As defined by E. H. Gombrich in his Art and Illusion, the sculpture of a sofa ceases to be a sculpture and becomes a real sofa the moment someone sits on it; and a real sofa, if placed behind a shop window, for instance, becomes a symbol, representation. This is what is at play here, even though this is simply the starting point for Lucia Koch. It can be said that these altered windows mimic pictures. And pictures, in our Western tradition, have once emulated windows. Since the Renaissance, Western painting presents itself as a window to the world. It is a classic metaphor. Only here, the metaphor is reversed: instead of window-like paintings, painting-like windows. At the same time, however, the artwork remains a window, and in the strict sense, if someone wishes to install one of these works as a real window – in an opening on the wall –,it will return to its utilitarian condition, its colored acrylics notwithstanding. The operation at stake here is essentially a normal thing in contemporary art: a commonplace object altered by an intervention from the artist, thus becoming an art object, devoid of any utility whatsoever, but capable of conveying meaning and causing aesthetic emotion. This emotion, as far as I see it, stems from the perception of this very transformation. The originality of this artwork resides in its singularity, the ingenious way in which the white enamel-tinted aluminum frames serve as a support to a purely poetical game. An interplay of color, space and light. The American artist Donald Judd, an important role model of Koch’s, once wrote that the three fundamental aspects of art are space, color and material. Well, for Koch, light is a material. However, the actual materials from which the artworks are made, aluminum and acrylic, are also part of the game, as are the residual social and cultural connotations intrinsic to the industrial nature of the windows. These mass-made doors and windows, so widespread in our cities, can be taken as a symbol of architectural and urban degradation. However, they are neutral enough to function as universal windows, as symbols for the window, and their banality warrants more interest as an index of their democratic generality, so to speak. Either way, the e sua vulgaridade interessa mais como índice de sua generalidade democrática, digamos. Em todo caso, a transformação torna-se ainda mais significativa, dada a evidente sofisticação dos objetos de arte que se tornaram. Em muitos trabalhos anteriores de Lucia Koch o ambiente é determinante, e a interação com o mundo real é mais direta e fundamental. Seja em situações histórica e culturalmente significativas (como nas intervenções em espaços urbanos e arquitetônicos), seja em situações sociais e interdisciplinares (no caso de música e espaços de convívio) seja na dependência da luz natural para criar ambientes cromáticos em que as variações atmosféricas fazem parte do trabalho. Já nestas “Duplas” (título destes trabalhos e da exposição), parece haver um movimento em direção a uma autonomia maior das obras, o que é mais uma aproximação com a pintura. O que conta mais aqui são as relações internas dos trabalhos. A luz permanece elemento importante, mas agora ela é artificial, invariável, neutra. Aqui não há céu, nem cidade, nem vista para o horizonte. Quando abrimos essas janelas/quadros, vemos a parede, e quando fechamos vemos os planos de cor e a parede através do acrílico, as vezes transparente, as vezes translucido. Tudo nos faz permanecer naquele campo estabelecido pela esquadria, no espaço raso entre as folhas de acrílico e a parede. Curiosamente, é quando fechamos as janelas que uma profundidade indefinida e infinita surge nas áreas de cor. Mas é uma profundidade virtual, claro. No caso das portas – uma colocada “solta” no meio da galeria e outra fixa perpendicularmente a uma parede – podemos circundá-las como esculturas, embora sua natureza absolutamente planar as mantenha num campo de pensamento pictórico. Não há volumetria como na tradição da escultura, há desdobramentos do plano no espaço. O trabalho da Lucia Koch é, nesse sentido, herdeiro da tradição neo-concreta, na qual a ruptura com os suportes tradicionais e a conquista do espaço se dá a partir do plano (pensem em Hélio Oiticica, Amilcar de Castro, Lygia Clark, Willis de Castro), como desdobramento da pintura. As janelas deslizantes são as que mais se parecem com quadros pois elas se mantém planas e frontais, com as duas folhas deslizantes se sobrepondo e se justapondo de acordo com as diferentes posições em que são postas. Aliás, há também um elemento lúdico nesses trabalhos pelo fato dos espectadores poderem manipulá-los, movendo as duas folhas e experimentando suas diferentes configurações. Com a janela totalmente fechada, vemos as duas áreas de cor lado a lado, mas em planos diferentes, cada um no seu trilho. Com a janela aberta ao máximo, as duas folhas são sobrepostas, e as duas cores se fundem numa terceira devido a transparência das chapas de acrílico; e vemos pelo vão aberto, em vez de uma paisagem ou vista de cidade, a parede, que passa a fazer parte do trabalho, como um plano de fundo da obra. Já com a janela parcialmente aberta (em muitas configurações), vemos as duas cores puras e uma terceira que resulta da parcial sobreposição das folhas, além da parede, e às vezes vemos só um filete das duas cores e uma grande área sobreposta. E uma vez que o trabalho já se apresentou como objeto a ser percebido – e não apenas usado – passamos a observar tudo: as sombras coloridas que um plano de cor mais ou menos translucido projeta sobre o outro, e ambos sobre a parede; a distancia entre os planos de cor e a parede; os detalhes das esquadrias; etc. E vamos manipulando o trabalho para encontrar essas transformation is even more significant considering the blatant sophistication of the art objects they have become. In many of Lucia Koch’s past works, environment is a determinant aspect, and interaction with the real world is more direct and fundamental. Be it in historically and culturally relevant situations (such as her interventions on urban and architectural spaces), in social, interdisciplinary situations (in the case of music and interaction spaces) or in her dependence on natural light to create chromatic environments of which atmospheric variations are an integral part. In these “Duplas” (Pairings, the title of these artworks and of this exhibition), there seems to be a tendency towards greater autonomy in each piece – yet another feature shared with painting. What counts the most here is the internal connections within the artworks. Light remains an important element, but this time it is artificial, invariable, neutral. Here there is no sky, no city, no view of the horizon. When we open these windows/pictures, we see the wall, and when we shut them we see planes of color and the wall through the acrylic, at times transparent, at others translucent. Everything leads us to remain within that area outlined by the frame, within the shallow gap between the acrylic sheets and the wall. Curiously enough, it is precisely when we close the windows that an indefinite, infinite depth arises in the color areas – even though it is, of course, a virtual depth. In the case of the doors – one of which is set “loose” in the middle of the gallery, while the other is perpendicularly attached to a wall –, we can circumscribe them as sculptures, although their absolutely flat nature keeps them within a pictorial field of thought. There are no volumetrics involved, unlike the tradition of sculpture; only developments of the plane in space. In this sense, Lucia Koch’s work is an inheritor of neo-concretist tradition, whose departure from traditional materials and conquest of space is based on the plane (think Hélio Oiticica, Amilcar de Castro, Lygia Clark, Willis de Castro), as an offshoot of painting. The sliding windows are the ones that most resemble pictures, since they remain plane and frontal, the two sliding sheets superimposing and juxtaposing depending on the different positions they are put in. By the way, these works also contain an element of playfulness in that spectators can manipulate them, moving the two sheets and experimenting with different configurations. When the window is completely shut, we see the two areas of color side by side, but on different planes, each in its own rail. When the window is wide open, the two sheets are superimposed and the two colors merge into a third one due to the transparency of the acrylic sheets; and through the open gap, instead of a landscape or a city view, we see the wall, which becomes part of the piece, like a backdrop to the artwork. With the window partially open (in many configurations), we see the two pure colors and a third one resulting from the partial superimposition of the sheets, plus the wall, and at times all we see is a narrow strip of the two colors and a large superimposed area. And since the artwork has already presented itself as an object to be perceived – rather than just used –, we begin to observe everything: the colorful shadows that a more or less translucent color plane projects onto another, and that both project onto the wall; the distance between the color planes and the wall; the details of the frames; etc. And we manipulate the artwork to find these variations. In the pivoting windows, when we raise or lower the moveable variações. Nas basculantes, quando levantamos ou abaixamos a folha móvel da janela, em ângulos que vão de zero (quando fechada) a 90 graus (totalmente aberta), o plano móvel conquista um espaço ampliado, e a relação entre os dois planos de cor ganha uma riqueza extra. A obra “Semana cinzenta”, com filtros postos na claraboia da galeria, tem natureza distinta dos demais trabalhos exibidos: a interação com o mundo se dá como elemento fundador, justamente por se tratar de um intervenção na arquitetura e por filtrar a luz natural em 7 tons de fumê, tingindo o ambiente ao sabor das mudanças do tempo, seja dia de sol ou de chuva, tal como acontece em tantos trabalhos anteriores da artista. Um aspecto recorrente nos trabalhos anteriores de Lucia é o interesse por espaços de passagem, usando superfícies vazadas entre espaços comunicantes, seja nas paredes perfuradas de sua “Sala de Exposição” na Bienal de 2006, seja nos cobogós ou nas janelas e claraboias filtradas pela cor. Sempre buscando vedar/filtrar/ligar diferentes espaços e ambientes através de das suas intervenções planares. Mas aqui não, pois mesmo no caso das portas, o outro lado é o mesmo ambiente, e andamos em círculos em volta da porta, meio sem sair do lugar. Acho que há algo de intrigante nessa maneira de ordenar o espaço. Aqui são as relações internas da peças que nos mobilizam: cada obra é formada por uma dupla de cores/planos ou um conjunto deles, e parece haver até certa matemática nesses conjuntos baseados na unidade do par. Esta matemática praticada, e os movimentos mecânicos e geométricos dos planos basculantes ou deslizantes, poderiam sugerir alguma frieza metódica, mas não, o que fica é uma engenhosa e sutil festa para os sentidos e para a inteligência. sheet to angles ranging from zero (when closed) to 90 degrees (completely open), the moving plane conquers an enlarged space, and the relationship between the two planes becomes endowed with extra richness. “Semana cinzenta” (Gray week), featuring filters placed underneath the gallery’s skylight, has a distinct nature from the other works on display: here, interaction with the world is a founding element, precisely because this is an intervention on the architecture and filters natural light through 7 different shades of tint, coloring the place differently as the weather changes from sunny to rainy, like so many of the artist’s past works. A recurring aspect in Koch’s previous output is her interest in passages, which can be seen in her use of surfaces with holes in them, set between communicating spaces, the perforated walls of her “Sala de Exposição” (Exhibition Room), featured in the 2006 Biennial, the latticework or the windows and skylights filtered by color. She is always looking to insulate/filter/connect different spaces and environments through her planar interventions. But this is not the case here, because even with the doors, the other side belongs in the same environment, and we walk in circles around the door while kind of staying in the same place. I think there is something intriguing about this way of arranging space. Here, the internal relationships between parts are what moves us: each piece is comprised of a pairing or set of pairings of colors/planes, and there even seems to be a certain mathematics to these sets based on the unity of each pairing. This practiced mathematics and the mechanical and geometrical movements of the pivoting or sliding planes might hint at a methodical coldness, but doesn’t; what we are left with is an ingenious, subtle feast to our senses and intelligence. intervenções com espelhos nos espaços de circulação do Wexner Center for the Arts, exibido em Cruzamentos: Contemporary Art in Brazil 2014 mirrorama (2014 ) interventions with mirrors at the lobby of the Wexner Center for the Arts, exhibited in Cruzamentos: Contemporary Art in Brazil 2014 Rusticchella, da série/from the series Fundos 2014 fotografia, impressão pigmento sobre papel algodão/ photograph, printed on cotton paper -- 450 x 360 cm Wexner Center for Arts, Columbus Ohio Rusticchella, da série/from the series Fundos 2014 fotografia, impressão pigmento sobre papel algodão/ photograph, printed on cotton paper -- 450 x 360 cm Wexner Center for Arts, Columbus Ohio Para a 11ª Bienal de Sharjah, Lucia Koch criou duas novas instalações site specific, brincando com a luz solar intensa que incide na região. Os locais são edifícios históricos, situados em dois locais na parte antiga da cidade. Conversation (2013) Numa sala longa e estreita do Bait Al Serkal, um belíssimo edifício tombado de três andares construído no século XIX, sete portas de acesso à varanda foram substituídas por telas coloridas. Criadas com uma camada dupla de acrílico transparente colorido, as telas são entrecortadas por padrões inspirados nos elementos das arquiteturas domésticas dos Emirados Árabes Unidos e do Brasil. Elas abrem o quarto para receber ar e luz, criando um fluxo entre espaços e permitindo que pessoas se vejam e se escutem, estejam elas do lado de dentro ou de fora. Conversion (2013) Bait Al Hurma (ou: Bait Habib Shalawani), situada na Sharjah Heritage Area, a parte antiga do emirado, é uma pequena casa anexa a um pátio grande que recebe luz solar intensa. A instalação Conversion brinca com esta fonte de luz natural, cobrindo o pátio com uma estrutura de metal composta por painéis basculantes feitos com filtros coloridos. Utilizada com frequência para iluminar sets de filmagem, estes filtros de “correção de cor”, aqui, criam um cinema sem filme: A luz solar é convertida numa paleta fragmentada de cores – de uma lâmpada de vapor de sódio a um pôr-do-sol dourado, da sombra de uma nuvem negra ao lusco-fusco do entardecer – alterando a experiência do visitante dependendo da sua posição, do ângulo dos painéis sobre ele e da hora do dia. A cada momento, novas atmosferas são criadas. conversation (2013) conversion (2013) “Re: emerge” 11 Sharjah Biennial, 2013 For Sharjah Biennial 11, Lucia Koch created two new site specific installations, playing with the strong sun light. The venues are heritage buildings, located in two areas of the old part of the city. Conversation (2013) In a long corridor-like room at Bait Al Serkal, a beautiful three-storey heritage building from 19th century, seven doors opening onto the veranda have been replaced with coloured screens. Fashioned from a double layer of transparent coloured Plexiglas, they are cut with patterns inspired by elements of domestic architecture in the United Arab Emirates and Brazil. The screens open the room to air and light, creating a flow between spaces and allowing people to see and hear each other, whether within or without. Conversion (2013) Bait Al Hurma (or: Bait Habib Shalawani), located in Sharjah’s Heritage Area, is a small house attached to a large courtyard constantly awash in sunlight, sharp and flattening. Conversion is an installation that plays with this natural source of light by covering the courtyard with a metal structure made up of pivoting panels of coloured filters. Often used for lighting film sets, these “colour correction” filters here create cinema without film: sunlight is converted into a fragmented range of colours - from a sodium vapour light to a golden sunset, from a dark cloud shadow to a twilight-hour glow - altering visitors’ experience depending on the area in which they stand, the angle of the panels above them and the time of day. At every moment, new atmospheres are created. Conversation, 2013 -- placas de acrílico cortados a laser/laser-cut plexiglas -- 14 paíneis/panels, 200 x 100 cm cada/each Conversion, 2013 -- filtros de luz/polyester lighting filters -- 133.5 x 133.5 cm cada/each Em setembro de 2012 Lucia Koch expôs, na Galeria Nara Roesler, “Materiais de construção”: uma série de novos trabalhos que lidam com a lógica de uma obra comum da construção civil: disponibilidade de materiais (supostamente) organizados para serem selecionados e adquiridos; e entulho, o resultado da demolição que ao mesmo tempo põe fim a um processo e aponta para a construção de um novo espaço. Como uma caixa de ferramentas, Materiais de Construção contém uma coleção de materiais e procedimentos usados pela artista. No entanto, paradoxalmente, por contê-los e expôlos, a exposição expande e aponta para tudo o que, no trabalho da artista, transcende e desvia da utilização imediata destes materiais de construção. A vitrine da galeria exibia “Entulhos (velho e novo)” [2012]: duas caixas gradeadas contendo, acumulados, os restos de chapas de diferentes materiais utilizados pela artista ao longo de dez anos, bem como os resultantes do corte de novas peças para a exposição. Os materiais descartados, antes classificados por tipo, cor e formato, estão agora irreversivelmente misturados. materiais de construção (2012) Galeria Nara Roesler, 2012 On September 2012, Lucia Koch exhibited at Galeria Nara Roesler “Materiais de construção”: a series of new works that deal with the logic of an ordinary civil construction: availability of organized materials (supposedly) to be selected and purchased; and debris, the result of demolition that both ends a process and points to the building of a new space. Like a tool box, Materiais de Construção contains a collection of materials and procedures used by the artist. But paradoxically, by containing and showcasing them, the show expands and points to everything that, in the work of the artist, goes beyond and detours from the immediate use of these materials of construction. At the gallery vitrine were the “Entulhos (velho e novo)” (Debris, old and new) [2012]: two gridded boxes containing the accumulation of leftover cuts from sheets of different materials used by the artist over the course of ten years, and also resulting from the cutting of new pieces in the show. The discarded materials, that were before classified by type, color and shape, are irreversibly mixed together. Materiais de construção 2012 -- vista da exposição/exhibition view -- Galeria Nara Roesler, São Paulo Entulho (novo) / Entulho (velho) 2012 acrílico, mdf e metal/acrylic mdf and metal -- 115 x 100 x 120 cm cada/each Mostruário - acrílico/cor 2012 conjunto de 10 chapas de acrilico colorido recortadas a laser/ set of 10 laser cut colored acrylic plates 200 x 94 x 100 cm Mostruário - degradês 2012 expositor tipo livro contendo 10 lonas vinilicas translucidas impressas e retroiluminadas/ exhibitor containing 10 printed canvas, backlighted translucent vinyl 200 x 95 x 100 cm Mostruário - fachadas 2012 fotografia s/ madeira deslizando sobre trilhos fixos à parede/ photograph on wood sliding on rails fixed to wall dimensões variáveis/variable dimensions a vertigem da precisão l em toda sua limpidez, em todo seu mistério Marta Bogéa Materiais de construção organiza-se a partir de duas situações: Entulho, uma caixa com peças cortadas, grande parte delas sobras das peças produzidas em outros tempos l obras; e Showroom, mostruários com uma ampla variedade de materiais organizados por tipologias de cortes e materiais. Essas são situações-limite de um processo de construção civil industrial habitual: disponibilidade de materiais organizados para seleção e aquisição, e entulhos resultantes da demolição que finaliza e, ao mesmo tempo, indica recomeço do processo para a execução de um novo espaço. Situações normalmente afastadas no tempo são aqui apresentadas em simultaneidade: disponibilidade e descarte. Uma explicitação dos tempos de construção vistos a partir dos materiais. Mas são muitos e outros os tempos que aqui habitam. Entulho encontra-se na vitrine da galeria. São sobras, pequenas peças resultantes dos cortes nas chapas usadas como matéria-prima de outros trabalhos. Aqui, a artista se despede de um acervo de restos que estavam criteriosamente estocados até o momento dessa obra l sobra. Lá, armazenados ao longo dos dez últimos anos, encontravamse separados por tipos como devem ser os materiais à espera de uso; aqui, foram misturados os vários padrões, depositados em caixas de descarte. Obra “inútil”, porque afastada da promessa de utilidade que esses materiais guardavam até então. Mas, é importante ressaltar, esse material feito descarte ocorre dentro de certa lógica – nada a princípio impediria que essa mistura retornasse a sua condição de material à disposição, mesmo híbrida, desde que dentro de outra lógica de construção. A irreversibilidade aqui é uma decisão. Ao embaralhar os materiais, Lucia Koch constrói um canteiro às avessas. Uma espécie de “demolição”. Avesso também da sala principal, onde, em mostruários, os materiais encontram-se na condição de potencialidade pura, para usos os mais variados e imprevistos. Showroom apresenta um inventário de padrões construído ao longo de vários anos de produção da artista. Conjuntos que guardam um princípio mais lógico que formal na sua organização: mostruário fachadas; mostruário madeiras; mostruário acrílicos; mostruário dégradés, mostruário espelhos. Organizados em displays corriqueiros, dispositivos de amostragem presentes em lojas de materiais de construção, os padrões podem ser manipulados, afastados para visibilidade de cada um, mas (como habitualmente nos mostruários) mantêm-se aprisionados no formato de objeto. Aglutinados, esses padrões são uma promessa de disponibilidade que não se realizará. Os materiais não estão à venda, não podem ser escolhidos, separados, distinguidos, e passam a configurar uma saturação. The vertigo of precision l in all its transparency, in all its mystery Marta Bogéa* Materiais de construção [Construction materials] is organized around two situations: Entulho [Debris], a box of fragmented spare parts, mostly from objects produced in the past l works; and Showroom, sample displays containing a wide variety of objects organized according to how they were cut and what kind of materials they were made out of. These are extreme situations of an ordinary civil construction industry process: availability of organized materials that will be selected and purchased; and debris resulting from demolition that both ends a process and points to the building of a new space. Here, the artist presents simultaneously situations that would otherwise be apart in time: availability and disposal. It makes the time of construction processes evident based on the perspective of materials. But various and different types of time are found here. Entulho is at the gallery window. It consists of scrap, small parts that result from cut-out metal plates used as raw material in other works. The artist says goodbye to a collection of “leftovers” that were neatly stored until now, until this work l scrap was done. They had been stored for ten years. There, they had been separated and grouped just as materials that would be reused; here, they are all mixed together and placed in a disposal box. A “useless” work, since it excludes for these materials the previous possibility of being used. But it is important to point out that there is logic to this disposed material—nothing prevents this mix to become available material again, albeit a hybrid one, as long as a different construction logic is fol- lowed. Here, irreversibility is a decision. When mixing different materials, Lucia Koch creates an inverted construction site; a “demolition” of sorts. It is opposed to the main room in which materials are inside their sample displays and in a state of pure potentiality: they may be used for different and unforeseen purposes. Showroom presents an inventory of patterns built along several years by the artist. The organization of these sets follows a principle that is more logical than formal: façade sample display, wood sample display; acrylic sample display; gradations sample display, mirrors sample display. Organized in common display racks, like the ones found in any homecenter, the patterns can be manipulated, separated, or moved to be better observed, but (as it is usually done when they are in sample displays) they are kept imprisoned as objects. Together, these patterns are offered possibilities that won’t be realized. The materials are not for sale, they cannot be picked, set aside, assorted or differentiated, and end up resulting in saturation. Como se, ao descobrir a singularidade de cada um dos elementos, matéria-prima presentes na construção de suas obras l lugares, Lucia Koch partilhasse seu inventário de matérias-primas por outrem. E, depois de laboriosamente construir obras únicas e irrepetíveis, devolve a matéria à condição de uma matéria universal, descarnada de espaço. De um lado, a exposição apresenta o rigor lógico-matemático de catalogação; de outro, uma variedade multiforme e sensível de elementos embaralhados. Showroom e Entulho apresentam-se como extremos da construção, e desmontam o traço persistente mais presente na produção da artista: sua indissociável associação com a paisagem arquitetônica, a qual, ao se inserir nela, transforma. Lucia Koch é reconhecida como uma artista de espaço. Suas obras constroem lugares singulares a partir do diálogo estreito e preciso com o sítio de sua implantação. Ao constituir suas obras, usa os materiais para editar a luz, o vento, a passagem do tempo evidenciada pelo movimento do sol, uma certa variedade de temperatura de luz a cada sala… aspectos intangíveis, rigorosamente configurados por meio do desenho de uma certa construção delineada criteriosamente através de materiais produzidos para a obra. Guarda desse lugar uma competência cara aos arquitetos: ao moldar a matéria, molda, de fato, seu reverso, o vazio que é a matéria-prima fundamental do espaço e da experiência nos lugares e, portanto, o que o significa. E o faz através de uma materialidade advinda de um repertório que lhe é próprio, mas ao mesmo tempo desdobra materiais existentes, transformando-os, desviandoos, reinventando-os, como os dispositivos derivados dos cobogós, por exemplo, ou nas fotografias que revelam imagens existentes registradas e manipuladas. Na manipulação, muitas vezes, busca o erro, o desvio de padrão que singulariza uma situação; que a desloca da condição de generalidade abstrata para uma circunstância que transforma em único o que pertence a uma categoria geral. Um pequeno defeito, singular a cada caso. Erro não acidental, resultado de uma programação. E o que parece distração foi rigorosamente projetado. Nos termos de Calvino: o poeta do vago só pode ser o poeta da precisão. No conjunto das três salas, a artista apresenta um resto de si mesma, uma sobra, uma volta sobre o próprio corpo naquilo que aquele corpo apresentava como próprio. Um riso vertiginoso ou um rigoroso processo de revelação? Desmontando o artifício, ao mesmo tempo revela-se puro artifício. Como um resto de memória, instalados na borda do espaço expositivo, alguns vídeos revelam os lugares onde ocorreram os trabalhos para os quais (ou com os quais) aquela matéria foi moldada, uma espécie de dobra do exposto, campo limítrofe entre o que aqui se apresenta e a atualização ocorrida em outro tempo e lugar desses materiais na construção de cada obra singular. Como uma caixa de ferramentas, Materiais de Construção “contém” um certo acervo material e de procedimentos da artista. Mas, paradoxalmente, ao conter, expande e aponta para tudo o que, na produção da artista, transborda e desvia o uso imediato dessas ferramentas. Esta exposição é uma re-velação: reapresenta Lucia Koch, em toda sua limpidez, em todo seu mistério. As if by discovering the uniqueness of each element, raw materials used in the construction of her works l places, Lucia Koch shared her inventory of raw materials with others. And, after painstakingly building her unique and unrepeatable pieces, she brings matter back to being universal, devoid of space. On the one hand, the exhibition presents the logical- mathematical rigor in terms of cataloguing; on the other, it has a multiform and noticeable variety of mixed elements. Showroom and Entulho are two extremes of the construction process and dismantle the most consistent characteristics of the artist’s production: her indissociable association with the architectural landscape, which is transformed when she gets in touch with it. Lucia Koch is known as an artist who works with space. Her works create unique places through a close and precise dialogue established with the site where it is installed. When conceiving her works, she uses materials to edit the light, the wind, the time passing by—which is made evident through the movement of the sun and the light temperature from room to room... intangible aspects rigorously set through the drawing of a construction carefully outlined through materials produced specially for the piece. From this place she will always remind a competence that is fundamental for all architects: when one is shaping matter, one is actually shaping its opposite, the void. And, therefore, it is the void that confers its meaning. And this is done through a materiality that comes from her own repertoire, which, at the same time, recreates existing materials by transforming, distorting, and reinventing them just like devices that come from the cobogós, for instance, or in photographs that reveal depicted and manipulated existing images. Through manipulation, she often seeks an error, a broken pattern that will make a situation unique; that will remove it from a situation of abstract generality and turn it into a situation that makes something that belonged to a general category unique. A small flaw, which is unique in each case. This error did not take place by chance, it resulted from a plan. And what seemed to be a distraction was actually strictly elaborated. In Calvino’s words: the poet of the vague can only be the poet of precision. In these three rooms, the artist presents a ‘rest’ of herself, a turn to one’s own body, to what that body presented as its own. A vertiginous laugh or a rigorous revelation process? When the artifice is dismantled, it actually emerges as pure artifice. As a remainder of memory—placed on the edge of the exhibition space—some videos show places where the works for which (with which) that matter was shaped took place. It is a sort of a fold of what is exhibited; a borderline between what is being presented here and what took place at another time and place for these materials, in the construction of each unique piece. As a tool box, Materiais de construção “contains” a collection of materials and procedures used by the artist. But, paradoxically, by containing, it expands and points to everything that, in the work of the artist, goes beyond and detours from the immediate use of these tools. This exhibition is a re-velation: it presents Lucia Koch again, in all her transparency, in all her mystery. cromoteísmo (2012) Capela do Morumbi, 2012 Cromoteísmo 2012 Capela do Morumbi -- site - specific The secret life of A 2012 MDF recortado a laser/laser cut MDF-- 380 x 94 x 90 cm A produção de Lucia Koch lida em seu conjunto com uma série de sistemas que se articulam de modo que a percepção dos espaços é colocada em cheque, sejam eles a própria arquitetura ou imagens de simulacros de arquitetura. De modo geral, suas instalações funcionam como um filtro, adicionando um elemento que se coloca entre o espaço e o espectador, mudando a maneira de perceber e se relacionar com esse lugar sem anular suas características, que podem ser arquitetônicas, simbólicas ou de uso do espaço, e que são ponto de partida para a obra que lá será instalada. Tal operação é constante no trabalho da artista, e se repete na instalação desenvolvida para a Capela do Morumbi. Cromoteísmo ou a possibilidade de uma crença na cor Douglas de Freitas, 2012 A Capela do Morumbi foi erguida em 1949 por Gregori Warchavchik sobre paredes de taipa-de-pilão do século 19. O arquiteto foi chamado para interpretar aquela ruína e completá-la, criando um espaço que chamasse atenção ao loteamento do bairro do Morumbi. Da construção anterior pouco se sabe e nenhum documento prova qual foi a sua finalidade ou seu uso, mas a demarcação sugeriu a Warchavchik a forma de uma Capela. Em Cromoteísmo, Lucia cria um ambiente aos moldes de um ambiente de capela, só que nesse caso, dedicado à reverência à cor. Dentro da Capela uma grande tela semitransparente com um gradiente de cor impresso está posicionada onde deveria estar o altar. Levemente inclinada sobre o espectador, ela “lava” delicadamente o piso e as paredes com suas cores, uma vez que também é fonte de uma grande quantidade de luz. Essa tela interrompe a arquitetura, isolando a parte posterior da Capela, criando um grande portal que desconfigura e, junto com os demais elementos lá colocados pela artista, traz novas articulações para o espaço interno. Esse ambiente sobreposto ao da Capela se coloca de maneira mais seca e racional, ao modo da arquitetura moderna. O gradiente de cor, que em trabalhos anteriores da artista aparece como uma condensação da paisagem luminosa de onde está inserido, aqui traz cores que não estão diretamente ligadas ao local, mas que nem por isso deixam de estar intimamente conectadas aos demais elementos construtivos do espaço. Por ser construída com luz, a cor pulsa, pede tempo de contemplação, não escapa a uma aura celestial e conquista a devida reverência. Apesar de ser obra de outra ordem, Cromoteísmo faz lembrar os afrescos e principalmente os mosaicos da Idade Média, quando o principal destino da arte eram os espaços sacros. Na Capela arcebispal de Ravenna, abaixo de um mosaico com grandes campos dourados, está escrito em latim: “A luz ou nasceu aqui ou, aqui capturada, reina livre” [1]. O dourado era comumente usado nos espaços sacros porque refletia a luz; o resultado da reflexão do ouro dava forma ao céu divino, que não poderia ser representado como o céu humano, e abria um espaço dentro da representação mais realista, executada com pigmento comum e opaco. Criava-se assim, como foi criado em Cromoteísmo, um portal para algo sensível, mas que não era passível de representação. Na pequena sala lateral da Capela do Morumbi Lucia posicionou uma torre ao centro, com espaço interno para acolher uma pessoa. O cobogó, elemento tradicional da arquitetura moderna brasileira, serve de referência para a padronagem recortada nas paredes dessa torre. Nela, esses elementos ganham outra escala, não arquitetônica, mas sim a escala do corpo. Mais que separar interior/exterior, eles passam a separar o eu do outro, mantendo a consciência da presença de ambos. Apesar de ter um entendimento da escala do espaço onde está inserida, como no grande painel, aqui a experiência é intimista e individual. Ao entrar na estrutura é possível observar diferentes profundidades, a da cabine, a da parede da pequena sala, a sala central, e a paisagem externa, tudo ao seu tempo, num jogo óptico, onde o olhar não alcança a padronagem e o espaço na mesma mirada. O cobogó mantém sua função, delimitando os espaços, mas os mantendo em contato. Da clausura de dentro da estrutura é possível se comunicar, mesmo que seja apenas através do olhar, com as pessoas ao seu redor. Lucia Koch já afirmou evitar desenvolver trabalhos em templos[2]. Essa relação entre seu trabalho e o espaço sacro implicaria a adesão a uma simbologia religiosa que, até então, não interessava diretamente à artista. O que se apresenta na Capela do Morumbi parece ter vindo na contramão, mas como dito anteriormente, se sustenta no interesse em responder não só às características físicas do lugar onde intervém, mas também levar em consideração o contexto social e histórico desse espaço na construção da obra. Aqui o que interessa é a aproximação com a ficção, o espaço que nunca foi consagrado como capela – acolheu apenas algumas cerimônias informais entre 1960 e 1980, e passou de estratégia imobiliária a espaço museológico – tem em Cromoteísmo a retomada da função primordial imposta por essa arquitetura atrapalhada em forma e uso, como espaço para reflexão e crença, neste caso, uma crença na cor. Douglas de Freitas | maio de 2012 Imagens de interiores de caixas e embalagens vazios, que ampliados são como extensões virtuais dos espaços onde se instalam. Este conjunto crescente de imagens investiga o que transforma o espaço em lugar, e faz também uma espécie de catalogação não-ortodoxa de exemplares de arquitetura, autorais ou anônimos, históricos ou recentes. Images of the interior of boxes and empty containers, that, when enlarged are like extensions of virtual spaces in which they are installed. This growing archive of images investigates and transforms space into a peculiar place, while cataloging in an unorthodox fashion the samples of architecture, authored or anonymous, historical or contemporary. fundos amostras da arquitetura New Development, da série/from the series Fundos 2011 impressão jato de tinta sobre tela de vinyl/inkjet print on vinyl canvas 1000 x 3000 cm vista da instalação/installation view 11th Lyon Biennial, France Café forte, da série/from the series Fundos 2011 lamba print/lambda print -- 270 x 456 cm Lâmpada (aberta), da série/from the series Fundos 2010 lamba print/lambda print -- 100 x 120 cm Açúcar orgânico, da série/from the series Fundos 2004 impressão fotográfica sobre papel de algodão/photographic print on cotton paper -- 270 x 465 cm Lazagna da série/from the series Fundos 2004 impressão fotográfica sobre papel de algodão/photographic print on cotton paper -- 300 x 750 cm Casarecce da série/from the series Fundos lamba print/lambda print -- 275 x 120 cm 2003 amostras da arquitetura/samples of architecture Arquitetura de Autor (Pedregulho) da série/from the series Amostras da Arquitetura 2009 impressão jato de tinta sobre algodão/inkjet print on cotton paper -- 76 x 57 cm Otomano da série/from the series Amostras da Arquitetura 2003/2009 impressão jato de tinta sobre algodão/inkjet print on cotton paper -- 66 x 58 cm Sesc Pompéia, da série/from the series Amostras da Arquitetura 2009 impressão jato de tinta sobre algodão/inkjet print on cotton paper -- 64 x 62 cm Bicamera da série/from the series Amostras da Arquitetura 2010 impressão jato de tinta sobre algodão/inkjet print on cotton paper -- 90 x 60 cm Shinkansen da série/from the series Amostras da Arquitetura 2010 impressão jato de tinta sobre algodão/inkjet print on cotton paper -- 104 x 72 cm Mezanino da série/from the series Amostras da Arquitetura 2010 impressão jato de tinta sobre algodão/inkjet print on cotton paper -- 50 x 98 cm Cubo branco da série/from the series Amostras da Arquitetura 2010 impressão jato de tinta sobre algodão/inkjet print on cotton paper -- 92 x 89 cm Dark room da série/from the series Amostras da Arquitetura 2010 impressão jato de tinta sobre algodão/inkjet print on cotton paper -- 91 x 97 cm Walldrawing da série/from the series Amostras da Arquitetura 2011 impressão jato de tinta sobre algodão/inkjet print on cotton paper -- 111 x 183 cm Arquitetura de Autor (NHouse) da série/from the series Amostras da Arquitetura 2010 impressão jato de tinta sobre algodão/inkjet print on cotton paper -- 102 x 87 cm Church of Light da série/from the series Amostras da Arquitetura 2010 impressão jato de tinta sobre algodão/inkjet print on cotton paper -- 76 x 67 cm (Rooftecture) da série/from the series Amostras da Arquitetura 2010 impressão jato de tinta sobre algodão/inkjet print on cotton paper -- 67 x 110 cm Night Fever 2010 impressão digital sobre papel fotográfico/digital print -- 124 x 214 cm Para a 27ª Bienal de São Paulo, Lucia Koch contrariou mais uma vez as expectativas nas quais normalmente se baseia a experiência de estar num espaço. Utilizando painéis de compensado perfurado, ela transformou as paredes brancas do espaço expositivo num suporte para sua obra. Ao invés de abrigar objetos ou apresentar trabalhos pendurados, Sala de Exposição (2006) era feita apenas de luz, filtrada por buracos nas grandes paredes de vidro do Pavilhão da Bienal. Dependendo da hora do dia e da posição do observador, padrões geométricos se formavam e se desfaziam diante de seus olhos, estabelecendo diversas relações entre o ato de ver e aquilo que é visto. For the 27th São Paulo Biennial, Lucia Koch once more unsettled the expectations on which the usual experience of being in a space is founded. Using pierced compressed wood panels, she turned white walls intended for exhibition space, into a support for her own work. Instead of housing or hanging something, Sala de Exposição (2006) was made of nothing but light filtered by holes coming from the large glass walls of the Biennial pavillion. Depending on the time of day as well as the position through which the work was seen, geometric patterns were formed and broken down before one’s eyes, establishing various relations between the act of seeing and that which is seen. sala de exposição 27 São Paulo Bienal 2010 Un Buen Orden! 2006 cobogós/custom made cobogós -- 27 Bienal de São Paulo Muro construído com peças de cerâmica customizadas, modificando os ângulos e a profundidade dos cobogós, que foram pintados de cinza com pigmento de argila e dispostos num padrão chamado de “onda”, amplamente utilizado no design da década de 50. Produzido em colaboração com Hector Zamora Free-standing wall built with customized ceramic pieces modifying the angles and depth of the cobogós, which were painted grey with clay pigment and arranged to form a pattern called “wave,” popular in design in the 50’s. Made in collaboration with Hector Zamora Produzido para a 1ª Trienal de Aichi, Nagoya. Devido à onda de urbanização, poucas são as lojas originais remanescentes em Choja-Mach, Nagoya. Os locais preservados por seu valor histórico foram escolhidos por Lucia Koch para expor os lenços e guarda-sóis. Choja-Machi, em Nagoya, é uma área comercial onde são vendidas echarpes e sombrinhas tradicionais. Os gradientes criados para o local por Lucia Koch foram impressos em desenhos, painéis, tecidos de cortina e sombrinhas (guarda-sóis); a ideia era espalhar as cores da pequena rua em Choja Machi para o resto da cidade. Produced for the Nagoya 1ª Aichi Triennal. Due to the wave of urbanisation, there are few original stores in Choja-Mach, Nagoya. The places preserved for its historicity were chosen by Lucia Koch to exhibit the tissues and sunbrellas. Choja-Machi, in Nagoya, is a commercial area where traditional scarfs and umbrellas are sold. The gradients created by Lucia Koch for this place were printed on drawings, panels, curtain fabrics and umbrellas (“sunbrellas”), with the idea of spreading the colours from the little street in Choja Machi, to the rest of the city. wave for choja machi Aichi Triennial, Nagoya 2010 Seco sujo e pesado, Galeria Nara Roesler, São Paulo, 2011 Aurora Poente, Galeria Nara Roesler, São Paulo, 2011 Degradê POA, 5 Bienal do Mercosul, Porto Alegre, 2005 Degradê SP, Paço das Artes, São Paulo, 2004 degradês Seco sujo e pesado 2011, Galeria Nara Roesler, São Paulo Aurora Poente 2011, Galeria Nara Roesler, São Paulo Degradê POA, 5 Bienal do Mercosul, Porto Alegre, 2005 Degradê SP, Paço das Artes, São Paulo, 2004 E S AY Meaningful abstractions CeCilia Fajardo-Hill S ince early in the twentieth century until today, Latin America has been producing meaningful and unique forms of abstraction. In the recent show at MoMA: Inventing Abstraction 1910-1925: How a Radical Idea Changed Modern Art, Eastern and Western Europe together with the United States were described as the international lieu of a rich network of interconnected thinking where the radical new idea of abstract art was born. As we are generally talking about the category of ‘Western art’ we may accept this genealogical principle in this context, but the aesthetic of the abstract (or the ‘will to abstraction’ as it was coined by Wilheim Worringer in 1906 in Abstraction and Empathy) has been present since ancient times in the art and culture of Africa, Ancient Egypt, Celtic, Islamic civilizations, the Orient and Pre-Hispanic cultures in Latin America, as we find it in architecture, textiles, pottery, jewelry, sculpture, sacred objects, drawing and more. The distinction with modern abstraction is that when the latter emerged as Leah Dickerman explains, ‘by 1912, one’s ability to describe the world in terms of a firm correspondence between what was seen and what was known has been thoroughly shaken.’1 Not only science, technology, modernization, but war and political regimes were the backdrop of this radical change in art. Latin America created its own unique forms of abstract art, between the 1930s and 1970s, also in the context of a transnational dialogue, complex processes of modernization and dictatorial regimes. It has now been accepted by more ‘canonical’ academia that trends such as Arte Madí in Argentina, Arte Concreta and Neo Concreta in Brazil, or forms of Kinetic art in Venezuela and Argentina can be seen as original in their own terms. Latin America has its own complex history of abstraction and its roots are wide and diverse. At the basis of the drive for modernization, modernity and abstraction in Latin America there was a twofold situation. On the one hand, it was a project of liberation from the dominance and dependency from European Colonialism and overcoming underdevelopment, and on the other, the inevitable continuity of the same dependency. For example, Concrete and Neo Concrete artists in Brazil in the 1950s and 1960s were looking at De Stijl, Suprematism, Cercle et Carré, Bauhaus, to create their own form of ‘constructivist’ art, adapted to the Brazilian context, relativizing an over rationalist approach to geometric art. Though abstraction represented a strategy of resistance to the specific nationalist populist ideologies of their time, much of it took place during the long and reinciding dictatorial regimes throughout many countries in Latin America. These existing contradictions in the ‘Modern project’ in Latin America is one of the fertile grounds of exploration for abstraction in the continent today. In interview with Catherine Francis Alÿs. Untitled, 2011-2012. Oil on canvas on wood. 9 2/5 x 6 3/5 x ½ in. (24 x 17 x 1,5 cm.). Courtesy: David Zwirner, New York / London. Latin America has its own complex history of abstraction and its roots are wide and diverse. At the basis of the drive for modernization, modernity and abstraction in Latin America there was a twofold situation. On the one hand, it was a project of liberation from the dominance and dependency from European Colonialism and overcoming underdevelopment, and on the other, the inevitable continuity of the same dependency. 42 Adán Vallecillo. Pantone, 2013. Plastic, wood and rubber. Installation at the exhibition Eccépolis, Luis Miro Quesada Hall, Lima, Peru. Adán Vallecillo. Motorcycle-Taxis, Iquitos, 2013. Walsh, Walter Mignolo stated in 2003 that ‘(…) “América Latina” se fue fabricando como algo desplazado de la modernidad, un desplazamiento que asumierons los intelectuales y estadistas latinoamericanos y se esforzaron por llegar a ser “modernos” como si la “modernidad” fuera un punto de llegada y no la justificación de la colonialidad del poder.’ 2 In the same way that the future of critical thought in Latin America—the decolonization of knowledge—cannot and is not solely the reinterpretation of European and North American academic knowledge, abstract art in the continent may function with its own specific referents including the Pre-Hispanic abstract aesthetics found in ceramic, textile and architecture, that César Paternosto has poignantly argued for in his book The Stone & the Thread: Andean Roots of Abstract Art, 1989/1996. It is agreed that since the 1990s, all over the world abstraction has become a renewed field of art. The reasons are manifold. In Latin America, abstraction never ceased to be important, even though between the 1970s and 1990s this field was relevant because of the continued experimentation by artists already working in this arena and others who started to explore abstract art during this period despite it not being the center stage of art at the time. Today, within the postmodern pluridisciplinary approach to art, we maintain a paradoxically ‘traditional’ genealogi- cal Euro- and America-centric way of continuing to define the limits of what a relevant abstract art may be, rooting the rationale and forces behind it to be the complexity of the ‘post-capitalist’ metropolis located in the same centers where abstract modern art was ‘invented.’ For example in the Phaidon Press 2009 survey book Painting Abstraction: New Elements in Abstract Painting by Bob Nickas, only one artist from Latin America out of eighty is included, the Argentinean painter based in London, Varda Caivano. In a 2013 compilation on abstraction by Maria Lind, she maps what she defines the three main strands of abstraction: formal, economic and social abstraction. In the section of Formal abstraction she includes texts by Helio Oiticica, the Neo-Concrete Manifesto from 1959 and Gabriel Pérez-Barreiro, and for the other two sections there are no references to abstract art in Latin America, and fundamentally this is because the ways in which these fields are defined do not pertain to the art of our continent. Within the framework of Formal Abstraction, it is difficult to insert the relevant production of Latin American artists such as Amadeo Azar (Argentina, 1972), Adan Vallecillo (Honduras, 1977) or Iosu Aramburu (Peru, 1986) revisions of the ideologies and colonialism of modernism in Latin America. According to Lund, Economic abstraction refers to ‘an increasingly abstracted world in terms of its economic, social and political conditions. Such economic abstraction is primarily dealt with in art as a subject or theme’.3 This trend refers to the abstract nature of modern finance, and an ever more abstract existence. How could we insert the production of abstract art from a rural village in Guatemala such as San Pedro de la Laguna by artists such as Benvenuto Chavajay (Guatemala, 1978) and Manuel Antonio Pichillá (Guatemala, 1982) whose work dialogues with the specific aesthetic and cultural Mayan traditions, references that thus far have been excluded even from discussions about modernity, in an ‘abstracted’ discussion about late capitalist economy? Counter to this approach, and because of the long history of exclusion of Latin America from a dialogical participation in forms of knowledge, we are aware—and following Walter Mignolo on this—that the history of knowledge is geographically bound and it involves a value and a place of ‘origin’, therefore knowledge is neither abstract or non-located. Lund explains that Social Abstraction refers to the ‘emergence in art practice of social strategies of abstraction, or withdrawal. Among other things, social abstraction implies stepping aside, a movement away from the ‘mainstream’, suggesting the possibility that artists could have more space to maneuver within self-organized— ‘withdrawn’—initiatives in the field of ArtNexus ArtNexus 43 Amadeo Azar. Melnikov + Lozza, 2013. Watercolor and bronze leaf on paper. 51 x 23 3/5 in. (130 x 60 cm. each). Marco Maggi. Micro, Micro, Marco, 2009. Pencil on clayboard. 13 3/4 x 11 in. (35 x 28 cm.). Courtesy of the artist and Josee Bienvenu Gallery. 44 ArtNexus cultural production.’4 Here again, the politicized or conceptual abstract art being produced today in Latin America in dialogue with complex social and political contexts, as in Francis Alÿs’ (Belgium/Mexico, 1959) recent color bars paintings, as in Untitled, 2011-12, which combine abstraction with scenes of Afghanistan that address the impossibility of representing the daily reality of war; or Jorge de Leon (Guatemala, 1976), dilapidated sheet of zinc from shanty homes in Guatemala that show signs of social violence such as bullet holes, find no resonance. In Latin America it may be said that abstraction is a strategy of critical intervention in social, political or any kind of life/culture. Sometimes it is an urgent form of participation through forms of abstraction that are embedded in the daily fabric of life itself, whereas through the appropriation of popular and mass culture, or the direct undertaking of social, cultural, conceptual or ideological issues. To believe that ‘representation’ is a ‘certain’ form of grasping reality, such as war, is to pretend that the critical role of art may be more feasible and less problematical from a recognizable relation to reality, and also it presupposes the old fashioned idea that abstraction is intended to move away from reality, to empty itself from it. This is based on the conventional acceptance in the dichotomy between abstraction and representation which no longer stands, as there is no opposition between the two. In the introduction to Discrepant Abstraction by Kobena Mercer, she contests the institutional narrative of abstract art as a monocultural, monolithic quest for artistic ‘purity’ to encompass a notion of multiple crosscultural modernities, where abstract art’s main quality is its openness, and that it is critical, hybrid, partial, multidirectional, pluralistic and attempts to de-center the conventions of visual representation. 5 Mercer ’s cross-cultural perspective description of abstraction is fitting to think about abstraction in Latin America. Abstraction, particularly in Latin America, may be seen still as a realm of resistance, and differently from the early 20th century utopianism, it is an investigation from within the ideological, symbolical and physical reality of today, therefore loaded with content and references to the real world—not in contraposition or denial of it. Here it is pertinent to cite Yasmil Raymond: ‘an abstract resistance, in the broader sense, is the work of art that refuses an idealist narrative of normality while confronting the commodity of comfort with the barricade of contradictions and irreverence.’ 6 There are many ‘themes’, names or ideas under which we could group or map out certain insistent areas of abstract art in Latin America today. As the focus of this text is an abstraction that contests ideology and critically interpellates reality, we will only refer to some themes or ideas of abstraction, such as: ’Intercultural abstraction’, ‘post-colonial abstraction’, ‘political abstraction’ and ‘the ideological critique of modernity.’ In another essay I have already discussed ‘abstraction and modernism’, ‘the monochrome’, ‘abstraction and popular and mass culture’, ‘open or uncertain abstraction’.7 Other issues are pending discussion such as: ‘abstraction and gender’, and ‘discarded abstraction.’ The specificity or broadness of these issues may allow or require for some of these themes to overlap or develop into new problems or questions. If for example we explore a work such as Adán Vallecillo’s (Honduras, 1977) Pantone, 2013, as an exercise of decolonialism and deconstruction of a genealogical idea of modernity, as he delves into the effects of modernity and the precariousness and hybrid nature of its subsistence in places such as Iquitos, we may enunciate it as: ‘post-Colonial abstraction.’ Or if we analyze it from the perspective of cultural specificity and hybridity—as the artist reflects on the resourcefulness of the people in Iquitos in deploying sheet of colorful plastic to protect their motorcycle taxis, thus creating a popular and unselfconscious form of live abstraction—we may enunciate it as ‘intercultural abstraction.’ The point here is that on the one Manuel Antonio Pichillá. Typical Knot, 2012. Handcrafted textile on industrial fabric. 47 1/5 x 31 2/5 x 4 in. (120 x 80 x 10 cm.). Pepe López. Todasana, since 2012. Group project organized by the artista with the participation of Armando Pantoja, Isabela Eseverri, Claudio Medina, Paloma López, Venturi Pantoja and the drum players and fingers of the Todasana town. 40 wooden drums, videos, photo-documentations and sound records. Photo: Isabela Eseverri. hand the complexity and multiplicity of cultural referents of abstract art in Latin America today demands for thoughtful and heterogeneous frameworks which are not final but unstable and mobile, and on the other, this ‘resisting abstractedness’ may not be pigeonholed into safe though uncomfortable categories, especially the ones which the mainstream insists on constructing by continuing to ignore and exclude a large area (Latin America) of this transnational field. Some artists produce work, definable as abstract or not, that may be thought of as ‘intercultural abstraction,’ which incorporates dialogues with cultural codes that may refer to pre-hispanic and/or live indigenous cultural traditions and material culture such as textiles, sculpture and architecture, expanding thus the established aesthetic codes of abstraction and/or interpellating the ideology of colonialism. For example, Manuel Antonio Pichillá (Guatemala, 1982) in Nudo Típico, ArtNexus 45 2006 superimposes in tension, a traditional contemporary Mayan textile arranged in a symbolic knot on a flat red geometric background; in Diana de Solaris’s (Guatemala, 1952) work No hay ruta corta al paraíso, 2007, (There is no short path to paradise) we observe references to pre-hispanic architecture, while also incorporating debris from today’s streets in Guatemala. Mariana Castillo Deball’s work The Stronger the Light, your shadow cuts deeper, 2010 is a paper cutout that traces the intricate shape and details of Coyolxauhqui, today a ‘relic’ depleted of its symbolism by the agency of an archaeological practice at the service of the State. The delicate and complex shadow that the cutout throws in the space, reveals both the coexistence of the power of the Aztec moon goddess and its representation, and simultaneously the abstractedness and inaccessibility of its meaning to us today. Also in this arena of the ‘intercultural’/‘contextual abstrac- tion’ we find artists whose work is rooted in and explores specifically— often politically—the realities and material culture of daily life such as Alí González (Venezuela, 1962), Jorge de León (Guatemala, 1976), Aníbal López (A-1 53167) (Guatemala, 1964), Pepe López (Venezuela, 1966), Moris (Mexico, 1978), Pablo Rasgado (Mexico, 1984), Ishmael Randall Weeks (Peru, 1976), Luis Roldan (Colombia, 1955), Jaime Ruiz Otis (Mexico, 1976) and Adán Vallecillo (Honduras, 1977). Todasana, 2011, is a collective project by Pepe López, with the participation of Armando Pantoja, Isabela Eseverri, Claudio Medina, Paloma López, Venturi Pantoja and the drummers and singers of Todasana, where he painted with geometric shapes on forty carved traditional wooden drums, and these were then played by traditional musicians of San Juan in the Caribbean Coastal Village of Todasana in Venezuela. This work is Mariana Castillo Deball. The Stronger the Light, Your Shadow Cuts Deeper, 2010. Paper cut. Diameter: 118 in. (300 cm.). 46 ArtNexus relevant in the Venezuelan context, being this a country where modernity and modernisation—particularly its abstract traditions as emblems of an ideal but mostly failed progressive modernity—has coexisted in tension and with indifference to other social and cultural popular realities of the country. One of the interesting characteristics of abstraction in Latin America today is that it is often produced by artists who work in different arenas, as they may work simultaneously with figuration, with performance, conceptual art, video art, the ready-made, and other art forms. Examples of this are found in artists such as Armando Andrade Tudela (Peru, 1975), Mariana Castillo Deball (Mexico, 1975), Danilo Dueñas (Colombia, 1956), Mauro Giaconi (Argentina, 1977), José Luis Landet (Argentina, 1977), Marco Maggi (Uruguay, 1957), Mariela Scafati (Argentina, 1973), Miguel Angel Ríos (Argentina,) and Luis Roldán (Colombia, 1955) to Diana de Solares. There Are No Short Cuts to Paradise, 2007. Mixed media. 53 x 29 x 19 in. (135 x 74 x 48 cm.). Colección Hugo Quinto and Juan Pablo Lojo. mention only few artists. Others work also with art historical genres and referents, such as Fernanda Laguna (Argentina, 1972) and Adriana Minoliti (Argentina, 1980), with different degrees of abstractedness or none at all. Most of these interdisciplinary artists would not comfortably define themselves as abstract or any other classificatory term. And it is this discomfort, this not fitting, this soluble and sometimes conflicting interplay between art forms, including abstraction, that makes their work both meaningful and important to discuss the possible role of abstraction in art today. Some of the artists deal with popular and mass culture, thus expanding and contesting the arena of the ‘pop’ as popular hybrid material culture that coexist in contemporary culture in Latin America. Examples may be Darío Escobar ’s (Guatemala, 1971) incorporation of different craft traditions from Guatemala in his work, or Rubén Ortiz-Torres’ (México, 1964) appropriation of low riders car culture.8 Occupying a more ‘political’ or critical arena of abstraction we find, for example, Marco Maggi who addresses today’s ‘semiotic indigestion’ and attempts with a paradoxical overdose of detail—in Micro, Micro, Marco, 2009 for example—to lower speed and distance, to give visibility to time while staying away from any form of transcendence. Mariela Scafati is preoccupied with producing an art that allows the participation of the spectator while it functions both intimately and politically in the public arena. Her work, as we can appreciate in 5, 2003, combines abstraction with popular forms of communication and ‘propaganda’ such as posters, billboards, signs, while mixing painting, printing techniques and combining the public and the private space. What may be called the ‘Ideological critique of modernity’ encompasses artists such as Alexander Apóstol, (Venezuela, 1969), and his continued deconstructions of narratives of modernism in Venezuela, as seen in video Contrato colectivo cromosaturado, 2012; Amadeo Azar, (Argentina, 1972), who proposes an almost obsessive investigation of the Russian Avant- Lucía Koch. Spontaneous Math (Group A), 2008. MDF panels, lasercut patterns. 98 x 708 in. (250 x 1800 cm.). SESC Pinheiros, São Paulo. Eugenio Espinoza. Etnic (Pic-Nic), 2008. Site specific installation. Variable dimensions. Institute of Visual Arts, University of Wisconsin-Milwaukee, USA. Garde and Raúl Lozza’s Perceptismo, in works such as Melnikov + Lozza, 2013, to create a friction and critique of the conservatism of Peronism; Eugenio Espinoza’s (Venezuela, 1950) key explorations on the grid, to expand its rigidity, and challenge its canonical precepts to embrace space, fragmentation, and the public interaction in works/events such as Etnic (Pic-nic) at INOVA, 2008, where the public was invited to have a picnic on top of a gigantic printed grid. The work was then exhibited with the stains and remains of the public ac- tion of drinking and eating, trasforming thus bidimensional space into a live sculpture and communal work. Lucia Koch’s (Brazil, 1966) intervention of public and private spaces, are described by Moacir Dos Anjos as ‘ambience art,’ as an ‘ongoing critical reinvention, through a meditated use of light, of the conventional ways of understanding space.’ 9 In Matemática Espontánea (Conjunto A), 2008, Koch merges different architectural traditions from vernacular to modernist, from mass produced, common place to highly elaborate ArtNexus 47 Mariela Scafati. 5, 2003. Acrylic on sewn canvas. 23 3/5 x 18 in. (60 x 46 cm.). crafts and material culture, to produce dialogical works that collapse the habitual perception of space and architecture in the public and private arenas, creating shared, contingent, open ended immersive experiences. Miguel Angel Ríos’ (Argentina, 1943) video The Ghost of Modernity, 2012, deconstructs the supremacy and hygenized nature of the white cube and its autonomy, while he reveals the social contradictions of Modernism in Latin America.10 Finally, Sergio Vega in his Parrot Color Chart, 2009, proposes an alternative way to mythologize abstract art as a Latin Americanist construct and poses questions such as: ‘What is the message these parrots have for us?’, ridiculing the great paradox of the insistent stereotype assigned to Latin America, by bringing together the theme of nature as "utopian/exotic" in relation to geometric art. The directions explored are only precarious and incomplete ideas that can be distilled from contemporary abstract forms in Latin America today. 48 ArtNexus Sergio Vega. Parrot Color Chart #3, 2009. Archival inkjet print mounted on aluminum. 96 ½ x 22 2/5 in. (38 x 57 cm.). It is tempting to think of them comprehensively as forms of conceptual abstractions, nevertheless they elude any possible categorization. It may be said that they are meaningful abstractions. Notes 1. Leah Dickerman, ‘Inventing Abstraction’ in Inventing Abstraction 1910-1925: How a Radical Idea Changed Modern Art, The Museum of Modern Art, 2013, p. 27 2. Catherine Walsh. ‘Las Geopolíticas del conocimiento y colonialidad del poder. Entrevista a Walter Mignolo’ in Polis. Revista Académica Universidad Bolivariana. Vol. 1, No. 4, 2003. 3. Maria Lind. Introduction. Abstraction. Documents of Contemporary Art, Whitechapel Gallery, London & MIT Press, Cambridge, MA, 2013. P. 18 4. Ibid, p. 20 5. Kobena Mercer, Ed. Discrepant Abstraction, Annotating Art’s Histories 2, Institute of International Visual Arts (inIVA) and MIT Press, London and Cambridge, MA, 2006, pp. 6-29 6. Yasmil Raymond. ‘Contending with Comfort: The Possibility of an Abstract Resistance’, in Abstract Resistance, The Walker Art Center, Minneapolis, 2010, pp.16-17 7. See text Contemporary Abstraction in Latin America in abstractioninaction.com 8. This is an ample area of abstraction and many artists could be explored but this is beyond the scope of this text, such as: Omar Barquet (Mexico, b. 1979), Georgina Bringas (Mexico, b. 1975), Alberto Casari (Peru, b. 1955), Emilio Chapela’s (Mexico, b. 1978), Abraham Cruzvillegas (Mexico, b. 1968), Danilo Dueñas’ (Colombia, b. 1956), Darío Escobar (Guatemala, b. 1971), Richard Garet (Uruguay, b. 1972), Thomas Glassford (USA/Mexico, b. 1963), Gabriel de la Mora (México, b. 1968), Federico Herrero (Costa Rica, b. 1978), Jorge de León (Guatemala, b. 1976), Valentina Liernur (Argentina, b. 1978), Aníbal López (A-1 53167) (Guatemala, b. 1964), Pepe López (Venezuela, b. 1966), Jorge Méndez Blake (Mexico, b. 1974), Gabriel de la Mora (Mexico, b. 1968), Marco Maggi (Uruguay, b. 1957), Moris (Mexico, b. 1978), Ramiro Oller (Argentina, b. 1982), Sebastian Preece (Chile, 1972), Pablo Rasgado (Mexico, b. 1984), Ricardo Rendón (Mexico, b. 1970), Luis Roldán (Colombia, b. 1955), Jaime Ruiz Otis (México, b. 1976), and Luis Zerbini’s (Brazil, b. 1959). Some of these artists have been discussed in Contemporary Abstraction in Latin America in abstractioninaction.com 9. Moacir Dos Anjos, ‘Set Practice’ in Lucia Koch, Series Arte Bra, Rio de Janeiro, 2009, p.28 10. I discuss at some length abstraction in relation to the ideology of modernist architecture and the urban space in Contemporary Abstraction in Latin America in abstractioninaction.com CeCilia Fajardo-Hill British/Venezuelan art historian and curator in modern and contemporary art specialized in Latin American art, based in southern California. this article is part of an ongoing research on contemporary abstraction in Latin America together with sayago & Pardon of the multi platform Abstraction in Action. Ollman, Leah. “Lucia Koch,” Art in America, September 5, 2013. Ollman, Leah. “Lucia Koch,” Art in America, September 5, 2013. Preciado, Selene. “Lucia Koch,” ArtNexus, (September) 2013; pg 130-131. Lucia Koch. Oratorio, 2013 pigment print on cotton paper, laminated matte, 59-1/4 x 91-1/2 inches, 150.5 x 232.5 cm (framed) edition of 6, 2 AP 1966 born in porto alegre lives and works in são paulo solo exhibitions 2014 Duplas, Galeria Nara Roesler, Rio de Janeiro, Brazil Ateliê temporário, Pivô, São Paulo, Brazil Mañana, montaña, ciudad y Brotaciones, Flora ars + natura, Bogotá, Colombia 2013 A Small Show with a Lot of Space In It, Christopher Grimes Gallery, Los Angeles, USA 2012 Materiais de construção, Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brazil Cromoteísmo, Capela do Morumbi, São Paulo, Brazil 2011 Un tour, Galeria Lucia de la Puente, Lima, Peru Amostras de arquitetura, Silvia Cintra + Box 4, Rio de Janeiro, Brazil Seco, sujo e pesado, Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brazil Matemática espontânea, SESC Belenzinho, São Paulo, Brazil 2009 Casa de espelhos, Galeria Vitrine Paulista, Conjunto Nacional, São Paulo, Brazil Purple rain, Fazenda Serrinha, Bragança Paulista, Brazil 2008 Casa acesa, La Casa Encendida, Madrid, Spain 2007 Correções de luz, Centro Universitario Maria Antonia, São Paulo, Brazil Two todays, Starkwhite Gallery, Auckland, New Zealand 2006 Matemática espontânea, Torre Malakoff, Recife, Brazil 2005 Matemática moderna, Casa Triângulo, São Paulo, Brazil 1988 Esculturas, Espaço Alternativo, Funarte, Rio de Janeiro, Brazil group exhibitions 2014 Prospect 3: Notes for now, Prospect New Orleans, New Orleans, USA Trienal Poli/Gráfica de San Juan, América Latina y el Caribe, San Juan, Costa Rica A invenção da praia, Paço das Artes, São Paulo, Brazil Cidade Poética, Sala de Arte Santander, São Paulo, Brazil Cruzamentos: Contemporary Art in Brazil, Wexner Center for the Arts, Columbus, EUA Duplo olhar: um recorte da coleção Sérgio Carvalho, Paço das Artes, São Paulo, Brazil 2013 Sense of place, Pier 24, San Francisco, USA Travessias 2, Galpão Bela Maré, Rio de Janeiro, Brazil Coleção Itaú de fotografia brasileira, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brazil Palácio das Artes, Belo Horizonte, Brazil O abrigo e o terreno, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, Brazil Sharjah Biennial, Sharjah, United Arab Emirates 2012 Buzz, Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brazil 2011 Travessias, Favela da Maré, Rio de Janeiro, Brazil Caos e efeito, Itaú Cultural, São Paulo, Brazil 11 Biennale de Lyon, Lyon, France 8ª Bienal Mercosul, Porto Alegre, Brazil Um outro lugar, Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brazil MIragens, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brazil 2001 Fundos, Centro Cultural São Paulo, São Paulo, Brazil Remistura O.A, Galeria Obra Aberta, Porto Alegre, Brazil 2010 Afuera! 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