1. Introdução O uso de uma fonte laser para produzir tanto a vaporização como a excitação de espécies presentes em uma amostra através da formação de um plasma deu origem a técnica analítica chamada LIBS (Laser Induced Breakdown Spectroscopy). Ainda não existe uma nomenclatura em português oficial para esta técnica, mas “Espectroscopia de Emissão de Plasma Induzido por Laser” é uma tradução que se aproxima bastante da essência da técnica. Ao longo deste trabalho de conclusão de curso, somente a sigla LIBS será empregada. O desenvolvimento da técnica LIBS está intimamente relacionado ao desenvolvimento dos lasers e de sistemas de detecção mais sensíveis. Na análise química, a LIBS é uma concorrente direta da técnica de emissão em plasma indutivamente acoplado (ICP), e em algumas aplicações apresenta-se como uma opção ou técnica complementar à técnica de fluorescência de raios - X, devido ao seu caráter não-destrutivo e ao fato de conseguir analisar elementos leves, o que não é trivial quando se utiliza fluorescência de raios - X. Sendo assim, a LIBS apresenta uma boa sensibilidade para alguns elementos (e.g. Cl, F) que são difíceis de serem quantificados empregando métodos convencionais de emissão de fluorescência de raios - X. A LIBS estuda a composição química presente em diversos tipos de materiais. A técnica apresenta a vantagem multielementar, ou seja, podem ser determinados vários elementos ao mesmo tempo em uma mesma matriz e é capaz de determinar praticamente todos os elementos da tabela periódica. A técnica não possui nenhuma restrição ao tipo de amostra a ser analisada, podendo ser condutora, semicondutora, isolante, refratária, orgânica, inorgânica, refletora e estar em qualquer um dos três estados físicos: líquida, sólida e gasosa. Neste trabalho de conclusão de curso, a técnica LIBS foi aplicada no estudo do Lodo proveniente do Esgoto Sanitário (ES), a fim de estudar e analisar a composição química presente na amostra de Lodo do ES. 1 2. Revisão Bibliográfica 2.1. Os Espectros Atômicos A natureza espectral característica de cada elemento químico tem grande importância prática, e faz com que a espectroscopia atômica seja mais uma técnica útil além das técnicas usuais da análise química. Esta técnica permite obter medidas precisas dos espectros atômicos, os quais são constituídos de várias linhas espectrais. Um equipamento típico usado na medida dos espectros atômicos está indicado na Figura 01. A fonte consiste de uma descarga elétrica que passa através de uma região contendo um gás monoatômico. Devido a colisões com os elétrons e entre si, alguns dos átomos da descarga ficam em um estado no qual sua energia total é maior do que no átomo no seu estado fundamental. Ao voltar ao seu estado de mínima energia, os átomos emitem radiação eletromagnética. A radiação é colimada pela fenda, e então atravessa um prisma (ou, uma rede de difração), sendo então decomposta em seu espectro de comprimentos de onda, que é gravado na chapa fotográfica [1]. Figura 01: Esquema de um aparelho usado para medir espectros atômicos. A natureza dos espectros observados é indicada sobre a chapa fotográfica. Ao contrário do espectro contínuo de radiação eletromagnética emitida, por exemplo, pela superfície de sólidos a altas temperaturas, similares a de corpos negros ideais, a radiação eletromagnética emitida por átomos livres está concentrada em um conjunto de comprimentos de onda discretos. Uma investigação dos espectros emitidos por diferentes 2 tipos de átomos mostra que cada tipo tem seu espectro característico próprio, isto é, um conjunto característico de comprimentos de onda nos quais as linhas do espectro são encontradas. Por esse motivo, muitos esforços foram empregados para obtenção de medidas precisas dos espectros atômicos [1]. Uma vez aceita a concepção de que a matéria era constituída por átomos osciladores, as características de cada átomo seriam bem determinadas estudando-se a matéria no estado físico no qual esses osciladores fossem mais independentes, ou seja, nos gases. Desse modo, um lugar de destaque na história da espectroscopia é ocupado pelas experiências de descargas em gases, por meio das quais foram estudados os espectros de várias substâncias, o que se revelou de maior importância para o desenvolvimento da Mecânica Quântica [2]. O espectro de linha mais simples, correspondente também ao átomo mais simples – o átomo de hidrogênio (contendo apenas um elétron) -, foi o primeiro observado pelo sueco Anders Jöns Angstrom, em 1853. A Figura 02 representa a parte do espectro do hidrogênio atômico, que está aproximadamente dentro da região de comprimento de onda da luz visível. Observa-se que o espaçamento, em comprimentos de onda, entre linhas adjacentes do espectro diminui continuamente à medida que o comprimento de onda das linhas diminui, de forma que a série de linhas converge para o chamado limite da série em 3645,6 Å. As linhas com menores comprimentos de onda, incluindo o limite da série, são difíceis de serem observadas experimentalmente devido ao seu pequeno espaçamento e porque elas estão na região do ultravioleta [1,2]. Figura 02: Parte visível do espectro do hidrogênio [1]. 3 A regularidade óbvia do espectro do H levou muitos cientistas a tentar obter uma fórmula empírica que representasse o comprimento de onda das linhas. Entretanto, só após cerca de 30 anos, em 1885, um professor de matemática e Latim, o suíço Johann Jakob Balmer, com idade de 60 anos, matematizou as regularidades desse espectro. Ele encontrou uma equação simples, capaz de prever o comprimento de onda das nove primeiras linhas da série, que eram todas conhecidas na época com uma precisão superior a uma parte em mil. Esta descoberta iniciou uma busca de fórmulas empíricas similares que se aplicariam as séries de linhas que pudessem ser identificadas na distribuição complicada de linhas que constituem os espectros de outros elementos [1,2]. Com isso, a fórmula de Balmer pode ser escrita como: λ = 3645,6 n2 n2 − 4 (1) Em 1888, a maior parte desse trabalho foi feita pelo sueco Johannes Robert Rydberg, que considerou conveniente lidar com o recíproco do comprimento de onda, ou seja, com o número de onda, ao invés do comprimento de onda [2]. Em termos do número de onda (k) a fórmula de Balmer pode ser escrita como: k= 1 1 1 = RH 2 − 2 λ n 2 (2) A nova constante introduzida (RH) é a chamada constante de Rydberg para o átomo do hidrogênio. Seu valor obtido a partir de dados espectroscópicos recentes é: RH = 10967757,6 ± 1,2 m-1 (3) Após os trabalhos de Angstrom, vários pesquisadores, ao determinarem o espectro de hidrogênio, como o alemão Friedrich Paschen e os americanos Theodore Lyman, Frederick Sumner Brackett e August Herman Pfund, observaram outros conjuntos de 4 linhas espectrais, em regiões não – visíveis do espectro, que puderam ser descritas pela generalização da fórmula de Balmer, feita por Rydberg e pelo suíço Walter Ritz [2,3]: 1 1 1 = RH 2 − 2 λ n m (4) A Tabela 1 mostra cinco séries de linhas no espectro do hidrogênio. Tabela 1: As Séries do Hidrogênio. Nomes Faixa de Lyman Comprimentos de onda Ultravioleta Balmer Ultravioleta próximo e Visível Paschen Infravermelho Brackett Infravermelho Pfund Infravermelho Fórmulas 1 k = RH 2 − 1 1 k = RH 2 − 2 1 k = RH 2 − 3 1 k = RH 2 − 4 1 k = RH 2 − 5 1 n2 1 n2 1 n2 1 n2 1 n2 n = 2, 3, 4, ... n = 3, 4, 5, ... n = 4, 5, 6, ... n = 5, 6, 7, ... n = 6, 7, 8, ... Fórmulas desse tipo foram obtidas para muitas séries. Para os átomos de elementos alcalinos (Li, Na, K,...) as fórmulas das séries tem a mesma estrutura geral. Isto é k= 1 1 1 = R − 2 λ (n − b) 2 (m − a ) onde R é a constante de Rydberg para o elemento considerado, a (5) e b são constantes para a série considerada, m é um inteiro que é fixo para a série considerada, e n é um inteiro variável. A constante de Rydberg tem o mesmo valor, dentro de aproximadamente 0,05%, para todos os elementos, embora mostre um ligeiro crescimento 5 sistemático à medida que o peso atômico cresce. Dessa maneira, a constante de Rydberg tem uma relação direta com relação ao peso atômico de cada elemento químico [1,2]. Todas essas características dos espectros atômicos devem ser explicadas por qualquer modelo bem sucedido da estrutura atômica. Além disso, a precisão extremamente grande das medidas espectroscópicas impõe exigências severas na precisão com a qual esse modelo deve ser capaz de prever características quantitativas dos espectros [2]. Em 1913, Niels Bohr desenvolveu um modelo que apresentava concordância quantitativa precisa com alguns dos dados espectroscópicos. Tinha a atração adicional de que a matemática envolvida era de fácil compreensão. Para chegar ao desenvolvimento de seu modelo atômico, Bohr criou alguns postulados, que são [1-3]: 1. Um elétron em um átomo se move em uma órbita circular em torno do núcleo sob influência da atração coulombiana entre o elétron e o núcleo, obedecendo às leis da mecânica clássica. 2. Um elétron só pode se mover em uma órbita na qual seu momento angular orbital L é um múltiplo inteiro de (a constante de Planck dividida por 2π ). Ou seja: L = n 3. n = 1,2,3... (6) Apesar de estar constantemente acelerado, um elétron que se move em uma dessas órbitas possíveis não emite radiação eletromagnética. Portanto sua energia total E permanece constante, ou seja, os átomos são estáveis. 4. É emitida radiação eletromagnética se um elétron, que se move inicialmente sobre uma órbita de energia total Ei, muda seu movimento descontinuamente de forma a se mover em uma órbita de energia total Ef. A freqüência da radiação emitida ν é igual à quantidade (Ei – Ef) dividida pela constante de Planck h, ou seja: υ = Ei − E f h (7) 6 Esta relação é na realidade o postulado de Einstein, que nos diz que a freqüência de um fóton de radiação eletromagnética é igual à energia carregada pelo fóton dividida pela constante de Planck [3]. A justificativa para os postulados de Bohr só pode ser encontrada comparando-se a as previsões que podem ser obtidas a partir dos postulados com os resultados experimentais [2,3]. Consideremos um átomo constituído de um núcleo de carga +Ze e massa M, e um único elétron de carga –e e massa m. Supomos que esse elétron gira em uma órbita circular em torno do núcleo. Inicialmente supomos a massa do elétron completamente desprezível comparada à massa do núcleo, e supomos que o núcleo permanece fixo no espaço. A condição de estabilidade do elétron é que a atração eletrostática entre o núcleo e o elétron, que tende a puxar o elétron em direção ao núcleo, deve ser igual a força centrípeta. Para um elétron de massa m, movendo-se com uma velocidade v numa órbita de raio r, temos [2,3]: Fe = F c 1 Ze 2 v2 = m 4π ε 0 r 2 r (8) Porém o momento angular orbital do elétron, L = mvr ,deve ser uma constante, pois a força que atua sobre o elétron é central. Aplicando a condição de quantização (6), a L, temos: mvr = n n = 1,2,3,... (9) Obtendo v e substituindo em (8), temos: 2 n2 2 n Ze = 4π ε 0 mv r = 4π ε 0 mr = 4π ε 0 mr mr 2 2 (10) De forma que: r = 4π ε 0 n2 2 mZe 2 n = 1, 2,3... (11) 7 e v= n 1 Ze 2 = mr 4π ε 0 n (12) Definindo a energia potencial como sendo zero quando o elétron está infinitamente longe do núcleo. Então a energia potencial V, a qualquer distância finita r, pode ser obtida integrando-se o trabalho que seria realizado pela força coulombiana que atua de r a ∞ [1,2]. Portanto, ∞ V = −∫ r Ze 2 Ze 2 dr = − 4π ε 0 r 4π ε 0 r 2 (13) A energia potencial é negativa porque a força coulombiana é atrativa; é necessário trabalho para mover o elétron de r ao infinito, contra essa força. A energia cinética do elétron, K, pode ser calculada, com o auxilio de (8), como sendo: K= 1 2 Ze 2 mv = 2 4π ε 0 2r (14) A energia total do elétron é: E= K+V = − Ze 2 = −K 4π ε 0 2r (15) Usando a equação (11) para r e substituindo na equação anterior: E= − mZ 2 e 4 ( 4π ε 0 ) 2 1 2 2 n 2 n = 1,2,3... (16) Com isso, percebe-se que a quantização do momento angular orbital do elétron implica na quantização da energia total [1,2]. A freqüência da radiação eletromagnética emitida quando o elétron sofre uma 8 transição do estado quântico ni para o estado nf é dada por: υ = 2 Ei − E f 1 mZ 2 e 4 = + 3 4π ε 0 4π h 1 1 − 2 2 n ni f (17) Em termos do número de onda k = 1 / λ = υ / c , obtém-se: 1 k = 4π ε 0 2 me 4 2 1 1 Z − 2 3 2 4π c n f ni (18) Ou 1 1 k = R∞ Z 2 2 − 2 n f ni (19) Sendo: 1 R∞ ≡ 4π ε 0 2 me 4 3 4π c (20) As previsões essenciais do modelo de Bohr estão contidas nas equações (16) e (19). O estado normal do átomo será o estado no qual o elétron tem a menor energia, isto é, o estado fundamental (n = 1). Quando um átomo recebe energia oriunda de uma descarga elétrica, ou outro processo, este passa para um estado de maior energia, ou seja, estado excitado, no qual n > 1. Obedecendo a tendência natural de todos os sistemas físicos, o átomo vai emitir o excesso de energia e voltar ao estado fundamental. Isto ocorre por uma série de transições em que o elétron decai para estados excitados de energias sucessivamente mais baixas, até atingir o estado fundamental. Em cada transição é emitida radiação eletromagnética com um comprimento de onda que depende da energia perdida pelo elétron, isto é, dos números quânticos inicial e final. Em um grande número de processos de excitação e desexcitação que acontecem durante uma medida de um espectro 9 atômico, todas as possíveis transições ocorrem e é emitido o espectro completo [1-3]. 2.2. Os Fundamentos do Plasma O plasma é denominado como sendo o quarto estado da matéria. Difere-se dos sólidos, líquidos e gasosos por ser parcialmente um gás ionizado. Porém, em uma certa proporção, existem elétrons livres que circulam entre os átomos e moléculas. Essa pequena diferença de carga torna o plasma eletricamente condutível, fazendo com que ele tenha uma forte resposta a campos eletromagnéticos. O primeiro cientista a iniciar as pesquisas efetivas sobre plasma foi Michael Faraday, em 1830, em que realizou estudos sobre descargas elétricas na atmosfera e seus efeitos nas reações químicas induzidas. Durante suas pesquisas ele observou estruturas gasosas luminosas, que indicavam um novo estado da matéria [4]. Com a descoberta do elétron e o aperfeiçoamento dos tubos de descarga a vácuo, estudos com gases à baixa pressão, conduzidos pelos cientistas Langmuir e Crookes, foi possível a elaboração dos primeiros modelos teóricos para ionização, recombinação, difusão, colisões elétron-íon e a formação de íons negativos [4,5]. O termo plasma foi utilizado algum tempo depois (1920), por Irving Langmuir e H. Mott-Smith, para designar gases ionizados. Como plasma se refere à matéria moldável, os cientistas provavelmente se referiram à propriedade que o plasma tem de reagir a campos eletromagnéticos, podendo ter sua trajetória modificada, como se fosse um “fio de luz” [4,5]. Assim, por definição, um plasma é uma mistura gasosa condutora de eletricidade, que contém uma concentração significativa de cátions e elétrons (as concentrações dos dois são tais que a carga total aproxima-se de zero). Em um plasma de argônio, freqüentemente empregado para análises por emissão, os íons argônio e elétrons são as principais espécies condutoras, embora os cátions da amostra também estejam presentes em menor quantidade. Os íons argônio, uma vez formados em um plasma, são capazes de absorver energia suficiente para manter a temperatura em um nível no qual ionizações adicionais sustentam o plasma, indefinidamente; temperaturas maiores que 10.000 K são encontradas. [5] 10 Os plasmas são encontrados na natureza em várias formas e caracterizados normalmente por sua temperatura e densidade. O vento solar é um tipo de plasma natural que se origina do Sol com densidade de 106 m -3 e temperatura de 105 K. A coroa que se estende em torno do Sol tem uma densidade de 1014 m-3 e a temperatura deste plasma é de 106 K [5,6]. Para se chegar ao plasma, a matéria (átomos) precisa sofrer mudanças em suas temperaturas. Por exemplo, se a temperatura é elevada, um número apreciável de átomos do gás ficará ionizado, incorporando um estado gasoso de alta temperatura em que os números de carga de íons e de elétrons são quase os mesmos e a neutralidade de carga é satisfeita em uma escala macroscópica. Quando os íons e os elétrons se movem coletivamente, estas partículas carregadas interagem através de forças coulombianas, que são forças de deterioração de longo alcance com o quadrado inverso da distância r entre partículas carregadas, em que, os fluxos resultantes da corrente ocorrem devido ao movimento das partículas carregadas e da interação de Lorentz. Isto conduz aos tipos diferentes de fenômenos coletivos, tais como, instabilidades e fenômenos de onda de plasma. Assim, o plasma é usado na física para designar o estado gasoso ionizado à alta temperatura com neutralidade de carga e a interação coletiva entre as partículas carregadas [6]. O plasma pode ter diversas aplicações na ciência e na tecnologia. Tem fundamental importância nas indústrias eletrônicas, aeroespacial, metalúrgica, biomédica, e de tratamento de resíduos e detritos. Alguns resultados obtidos na indústria moderna só foram possíveis graças às técnicas que utilizam os plasmas e que foram desenvolvidas nas últimas décadas. Este trabalho de conclusão de curso (TCC) têm por objetivo análise de materiais usando a técnica da Espectroscopia de Emissão Atômica, no qual o plasma a ser gerado através de um pulso de laser intenso de Nd:YAG com comprimento de onda de 1064nm. 2.3. A Espectroscopia de Emissão Atômica em Plasma Induzido por Laser 11 2.3.1. Histórico O uso de uma fonte de laser para produzir tanto a vaporização como a excitação de espécies presentes em amostras através da formação de um plasma, deu origem à técnica analítica chamada LIBS (Laser Induced Breakdown Spectroscopy), também conhecida como LIES (Laser Induced Emission Spectroscopy), LIPS (Laser Induced Plasma Spectroscopy), LA-OES (Laser Ablation Optical Emission Spectrometry), LSS (Laser Spark Spectroscopy) e LOES (Laser Optical Emission Spectroscopy), sendo LIBS o nome mais recomendado, e o que será utilizado ao longo deste trabalho de conclusão de curso. O desenvolvimento da técnica de Espectroscopia de Emissão Atômica em Plasma Induzido por Laser (LIBS) está intimamente relacionado ao desenvolvimento dos lasers e de sistemas de detecções mais sensíveis. A teoria necessária para possibilitar a construção do primeiro laser começou a ser elaborada no início do século XX quando Einstein lançou em 1917 os fundamentos teóricos sobre emissão estimulada (o processo que rege o funcionamento do laser) [7]. A origem do desenvolvimento do laser, por sua vez, está associado ao desenvolvimento do maser (amplificação de radiação de microondas por emissão estimulada).O mesmo princípio, empregado no maser, foi estendido à freqüências ópticas por Shawlow e Townes em 1958, dando origem a teoria necessária para a construção do primeiro laser (amplificação da luz pela emissão estimulada de radiação). Desde então, iniciou-se uma busca pela construção do primeiro laser. Em 1960, Theodore Maiman foi quem construiu o primeiro laser, o laser de rubi. [7,8] Um ano depois, em 1961, Javan, Benett e Herriott desenvolveram o primeiro laser a gás que tinha como meio ativo uma mistura de He-Ne. Nesse mesmo período foi desenvolvido o primeiro laser de estado sólido dopado com neodímio e o primeiro laser de semicondutor foi demonstrado por Hall. Em 1963 foi criado o Q-switched laser, que possibilita pulsos de curta duração e com altas densidades de potência, ideais para a técnica LIBS [7,8]. Muitos estudos sobre laser foram realizados nessa época por pesquisadores como Gordon Gould e os russos Basov e Prokhorov, sendo que os dois últimos juntamente com 12 Townes ganharam o prêmio Nobel de Física em 1964 por seus trabalhos com laser e maser. Dois anos depois de Maiman demonstrar o funcionamento do laser de rubi, esse mesmo laser foi utilizado por Brech e Cross para provocar a ablação de constituintes de materiais metálicos e não metálicos para posterior aquisição de espectros de emissão [9]. Em 1964, Maker, Terhune e Savage fizeram a primeira observação de um breakdown (processo de ruptura de ligações) opticamente induzido em um gás. Maker e colaboradores, nesse mesmo ano, utilizaram o plasma formado pelo laser (Laser Induced Plasma - LIP) como fonte de emissão e não somente para amostragem como vinha sendo feito anteriormente por outros pesquisadores. As emissões dos átomos de cromo e níquel em aço foram detectadas diretamente do plasma induzido por laser, como ocorre atualmente nos sistemas modernos de LIBS [9]. Na década de 1970, após alguns anos de estudos sobre modelagem dos fenômenos físicos envolvidos na formação de plasmas induzidos por laser, alguns equipamentos comerciais explorando a técnica LIBS foram disponibilizados no mercado pelas empresas Jarrell-Ash Corporation e VEB Carl Zeiss. Diante de uma fase inicial de entusiasmo, o interesse pela técnica entrou em declínio, devido ao alto custo da instrumentação e baixo desempenho, quando comparada com outras técnica analíticas, tais como: a espectrometria de absorção atômica com forno de grafite (GFAAS) e a espectrometria de emissão óptica com plasma indutivamente acoplado ( ICPOES) [9,10]. Com isso, o renascimento pelo interesse em LIBS aconteceu nos meados de 1990, após o desenvolvimento de lasers de alta potência, e de detectores tipo CCD que permitiram obter o espectro total simultaneamente. No entanto, esta técnica ganhou mais destaque a partir de 1995, após a publicação de diversos artigos científicos, observando um maior crescimento do número de trabalhos sobre LIBS nos últimos 10 anos [9,10]. 2.3.2. Fundamentos da Técnica LIBS 13 Na análise química, a LIBS é uma concorrente direta da técnica de emissão em plasma indutivamente acoplado (ICP), em algumas aplicações apresenta-se como uma técnica complementar à técnica de fluorescência de Raios – X. Isso acontece devido a seu caráter não destrutivo e ao fato de conseguir analisar elementos químicos leves. Além disso, a técnica LIBS apresenta boa sensibilidade para alguns elementos (Cl, F, Al..) que são difíceis de serem quantificados empregando métodos convencionais de emissão de raios X [11]. A espectroscopia de emissão atômica em plasma induzido por laser estuda a composição química presente em diversos tipos de materiais. Na LIBS um pulso intenso do laser gera um microplasma nas temperaturas suficientemente altas que desintegra o material em átomos e em íons. As colisões ente elétron – íon produz uma série contínua de espectros que domina a emissão ótica da ordem de centenas de nanossegundos após sua formação, a linha espectral emissão dos íons elementares excitados dominam os espectros de emissão de plasma. [11,12] A LIBS é uma técnica espectroanalítica que emprega a micro - amostragem por ablação com laser e subseqüente excitação das espécies presentes no microplasma durante ou imediatamente após a ablação que leva cerca de nanossegundos. O termo “breakdown” refere-se a um fenômeno coletivo relacionado à ruptura dielétrica das ligações moleculares do material que ocorre anteriormente à formação do plasma e envolve propriedades da amostra, tais como, a elasticidade e compressibilidade. As propriedades da amostra também determinam os mecanismos de deposição e dissipação de energia em que ocorre o processo de ablação, formação do plasma, excitação e emissão atômica [12]. A Figura 03 apresenta um esquema típico de um espectrômetro LIBS constituído por um laser, um conjunto óptico, uma unidade de detecção e um computador para controle e processamento de dados. No sistema, quando a lente convergente focaliza um pulso de laser na amostra, as moléculas componentes do material são dissociadas tanto em seus constituintes atômicos, devido à ruptura das ligações moleculares, quanto em íons e elétrons devido à ruptura das ligações eletrônicas no ponto focal da lente. Essa ruptura (breakdown) é promovida pelo gradiente de campo elétrico intenso do laser que 14 acompanha a focalização. A distância focal do laser incidente na amostra pode variar de poucos centímetros [13]. Figura 03: Esquema de um espectrômetro LIPS [14]. O sistema de excitação da amostra é baseado em um laser pulsado que é focalizado em uma pequena área da superfície da amostra, gerando uma irradiância (potência por área: I = P ) muito grande, da ordem de GW cm-2. Usualmente, cada pulso de laser gera A um único espectro de emissão, ou seja, uma única medida LIBS. Essa energia é suficiente para aquecer a amostra de forma a vaporizar uma pequena quantidade das espécies que a constitui (cerca de alguns nanogramas a alguns microgramas) e ainda ionizar a matéria próxima ao ponto de incidência, produzindo um plasma com temperatura elevada. A elevada temperatura desencadeia os processos de atomização, excitação e a posterior emissão das espécies (átomos, íons, moléculas) presentes na amostra [13,14]. O processo de início do plasma pode ser chamado de ignição, havendo um razoável consenso de que este ocorre por emissão termo-iônica ou ionização multifotônica, dependendo da intensidade do laser ou da energia do fóton (termo-iônica no infravermelho próximo e ionização multifotônica no ultravioleta). Esse processo é seguido por uma 15 avalanche eletrônica provocada por colisões entre os elétrons livres acelerados e elétrons ligados aos átomos. Posteriormente à avalanche, o plasma sofre um aquecimento promovido pela absorção do laser pelos componentes do plasma e se expande de forma adiabática. O plasma formado é denominado quasi-neutro devido à anulação da carga eletrônica total em função da distribuição local entre cargas elétricas dentro do plasma, blindando-o de interferências externas e criando uma nuvem denominada pluma [13,14]. Há um número de processos complicados que ocorrem no experimento LIBS, dependendo de certo parâmetros, como: comprimento de onda do laser, duração e intensidade do pulso, tamanho de ponto, condutibilidade térmica e propriedades óticas da superfície da amostra. Para uma melhor compreensão, o processo inteiro pode ser dividido em três domínios de tempo como ilustrado na Figura 04. No primeiro instante, o laser aquece e evapora uma pequena quantidade da amostra. Os primeiros elétrons são criados, devido à ionização do multifotônica ou à emissão térmica da superfície. Estes elétrons absorvem fótons do mesmo pulso do laser e transferem sua energia aos átomos por colisões. Alguns íons mais adicionais são produzidos quando uma onda de choque é observada devido ao aquecimento rápido das temperaturas do gás, em que os íons carregados múltiplos ficam igualmente distribuídos na pluma [15]. Figura 04: Sincronismo de um processo por LIBS: (a) a ignição do plasma, (b) emissão de faixa larga devido à irradiação por resfreamento, (c) linha emissão devido as transições [15]. O efeito decorrente é caracterizado por uma emissão de faixa larga que origina da recombinação elétron - íon, tendo a duração de alguns nanossegundos. As linhas fracas aparecem na série contínua forte e são identificadas na maior parte como linhas iônicas 16 dos componentes da amostra. Sendo assim o espectro de emissão detectado é caracterizado por um espectro de emissão, onde as linhas atômicas dominam a correspondência dos elementos químicos presentes na amostra. [15]. O ciclo de vida do plasma envolve alguns processos complexos. Primeiramente, o pulso de laser atinge a superfície da amostra provocando aquecimento e a ruptura (breakdown). O material da amostra é evaporado e se expande a uma velocidade muito alta (velocidade ultra-sônica) provocando uma alta pressão e conseqüentemente uma onda de choque que é caracterizada por um “estalo” audível. O plasma é formado e atinge uma temperatura elevada de até 20000 K. Depois o plasma resfria-se até se extinguir, dando origem a uma cratera que demarca a região sobre a qual foi formado, ou seja, a área que foi evaporada pelo laser [13-15]. Outro fenômeno de vital importância é o da blindagem do plasma (plasma shielding). O plasma passa a absorver a energia do pulso de laser e impedi-lo de chegar até a superfície da amostra, evitando ou reduzindo consideravelmente o processo de ablação. A energia do laser é absorvida pelos elétrons do plasma, em um processo denominado bremsstralung inverso, ou por ionização multifotônica. Esse processo pode provocar perda de sensibilidade se a quantidade de amostra ablada, antes do início da blindagem, não foi suficiente. Mas, por outro lado, é um processo que de certa forma “alimenta” o plasma, garantindo altas temperaturas que permitem a emissão das espécies químicas presentes no plasma. Uma atmosfera contendo um gás com um baixo potencial de ionização (argônio) contribui para aumentar a blindagem do plasma ao contrário de uma atmosfera com um gás com um alto potencial de ionização (exemplo: hélio) que faz com que o plasma necessite do material ablado da amostra para se manter [14-16]. A emissão das espécies no plasma é amostrada por um sistema óptico, analisada por um monocromador/policromador onde é separada nos diversos comprimentos de onda. Os monocromadores/policromadores podem ser convencionais como Czerny-Turner ou sistemas de alta resolução como echelle (amplamente utilizados em LIBS). Posteriormente, as intensidades são acessadas por um sistema de detecção, que pode ser convencional como uma fotomultiplicadora ou detectores de arranjo bidimensional, como arranjos de fotodiodos e detectores de transferência de carga (de carga acoplada ou de 17 injeção de carga). Entre os detectores utilizados têm-se destacado, recentemente, o uso de detectores de carga acoplada intensificados (ICCD) cujas características como sensibilidade, velocidade de resposta e capacidade de amostrar sinais em janelas temporais da ordem de nano a microssegundos, são adequadas às propriedades da radiação emitida [17,18]. A técnica LIBS apresenta a vantagem multielementar, ou seja, podem ser determinados vários elementos ao mesmo tempo em uma mesma matriz e é capaz de determinar praticamente todos os elementos da tabela periódica. A análise é rápida. A técnica apresenta praticamente caráter não-destrutivo porque somente uma porção muito pequena da amostra sofre o processo de ablação (cerca de nanogramas a microgramas). A LIBS não exige tratamento da amostra o que proporciona economia de tempo e gastos que seriam despendidos nesta operação, diminuindo os erros da análise, que muitas vezes são advindos de um tratamento inadequado da matriz, da dissolução incompleta da amostra ou de contaminações. Estas características a tornam uma técnica atraente para a análise de amostras sólidas e/ou de difícil tratamento [19]. A técnica não possui nenhuma restrição ao tipo de amostra a ser analisada, podendo ser condutora, semicondutora, isolante, refratária, orgânica, inorgânica, refletora e estar em qualquer um dos três estados físicos: líquida, sólida e gasosa. Também não é preciso que a amostra tenha uma propriedade específica como fluorescer ou apresentar atividade na região do Infra-vermelho ou no Raman [18,19]. O fato de a técnica não apresentar restrições com relação à amostra contribui para que seu campo de aplicação seja muito amplo abrangendo amostras de interesse biológico, ambiental, industrial e muitas outras. Também, não existe nenhuma restrição com relação ao ambiente de análise, que pode ser o ar à pressão atmosférica, sob vácuo, atmosferas inertes (argônio, hélio), atmosfera extraterreste e até mesmo sob a água. O plasma gerado em LIBS pode ser formado em condições em que não é possível a formação de outros plasmas convencionais [19]. A análise em LIBS é pontual e a área amostrada é a abrangida pela cratera (formada pela região de foco do laser). Essa característica faz com que LIBS seja uma ferramenta poderosa para análises de superfície e/ou microanálises. Por outro lado, isso 18 dificulta a análise quantitativa. É necessário definir uma quantidade de pontos a serem analisados, para que se tenha uma análise representativa da amostra [20]. Todas essas vantagens somadas com a simplicidade da técnica fazem com que LIBS seja uma das mais versáteis técnicas já desenvolvidas. No entanto, ela ainda não atingiu o mesmo grau de desenvolvimento que as outras técnicas analíticas. Apresentando desvantagens como altos limites de detecção em torno de ppm (enquanto outras técnicas, como o ICPOES, apresentam limites de detecção típicos da ordem de ppb), baixa reprodutibilidade principalmente quando se trata de amostras não-homogêneas e líquidas, possibilidade de dano ocular e outros riscos, interferência de matriz e a dificuldade de encontrar padrões adequados [20,21]. A falta de reprodutibilidade da técnica se deve em grande parte ao fato de os fenômenos de ablação por laser e formação do plasma serem complexos e por isso difíceis de serem reproduzidos e também devido às flutuações apresentadas pelo laser. A interferência de matriz e a dificuldade de encontrar padrões adequados são problemas enfrentados também por outras técnicas analíticas já consolidadas (fluorescência de raios-X) [22]. 2.3.3. Aplicações da LIBS A técnica LIBS vem conquistando espaço como uma ferramenta qualitativa na identificação de compostos químicos. Entretanto, a consolidação, ou não, da técnica depende do desenvolvimento e a avaliação de métodos quantitativos de análise. O desenvolvimento desses métodos depende da instrumentação analítica (laser, espectrômetro e detector), assim como das propriedades das amostras. Características como o tamanho das partículas em amostras de solos, a umidade da amostra e a microhomogeneidade na distribuição do analito, afetam fortemente a precisão e exatidão das medidas analíticas [13]. Um fator importante para o desenvolvimento de métodos na técnica LIBS é o estudo dos arranjos experimentais tais como configuração do sistema e dos parâmetros dos lasers empregados. Na técnica LIBS convencional, um único pulso laser é utilizado para os processos de ablação, formação do plasma e excitação dos átomos e fragmentos 19 moleculares. Nesses procedimentos, as propriedades da amostra são também determinantes e, dependendo do comprimento de onda e do tempo de duração do pulso, grande parte da energia do laser pode ser perdida no processo de ablação [13,14]. Nos últimos anos, alguns trabalhos têm demonstrado os benefícios atribuídos à utilização da técnica LIBS com múltiplos pulsos e alta taxa de repetição. Em geral, a eficiência de amostragem aumenta consideravelmente, elevando-se a taxa de repetição do laser durante a ablação. Além disso, quando o tempo de separação entre os pulsos é menor que o tempo de vida do plasma em regimes de pulsos múltiplos, uma melhoria na sensibilidade pode ser obtida devido aos processos de excitação múltipla. Neste caso, o segundo pulso e os pulsos subseqüentes do laser auxiliam o processo de ionização iniciado pelo primeiro pulso. Essas estratégias devem ser avaliadas com os objetivos de minimização dos problemas relacionados à interferência de matriz e à microhomogeneidade da amostra [23]. Para LIBS é recomendável que sejam utilizados materiais de referência para obtenção das curvas analíticas de calibração. Apesar de existir uma gama considerável de materiais de ligas metálicas com propriedades certificadas para elementos que ocorrem em diferentes concentrações, o mesmo não ocorre para solos, sedimentos, dentes e polímeros. Os poucos materiais de referência disponíveis no mercado têm suas propriedades certificadas para massas geralmente maiores que 50 mg, dificultando a calibração quando são amostradas massas de 0,1 a 100 µg [23,24]. Em princípio, não há dúvidas de que a LIBS já ocupa um lugar de destaque na literatura especializada. Após seu renascimento em 1995, que coincide com o desenvolvimento de detectores de imagem de alta resolução e com maior eficiência quântica, esta é uma técnica que vem merecendo atenção de alguns fabricantes de espectrômetros ópticos. Deve-se ter em mente que os avanços mais significativos são relativamente recentes e 95% dos trabalhos foram publicados nos últimos 10 anos. A literatura sobre LIBS deverá crescer substancialmente nos próximos anos, esperando se que o interesse por essa técnica possa ganhar novos adeptos, ultrapassando as fronteiras dos Estados Unidos, Alemanha, França, Itália, Espanha e Canadá, os quais são os países responsáveis por grande parte do seu desenvolvimento. A implementação da LIBS no 20 Brasil é recente, mas face às suas características exclusivas, é de se esperar que a técnica ocupe um lugar de destaque nos laboratórios de desenvolvimento de materiais, de processos tecnológicos, nos laboratórios móveis para monitoramento ambiental, entre tantas outras aplicações [23,24]. 2.3.4. Componentes do Sistema LIBS No aparato experimental da LIBS podem-se identificar três componentes principais: o laser, o sistema monocromador e o detector. 2.3.4.1. O Laser O termo laser vem da abreviação da expressão em inglês “light amplification by stimulated emission of radiation” (amplificação da luz por emissão estimulada da radiação). O laser é uma fonte de radiação coerente, monocromática e colimada. Devido as suas características especiais de produzirem feixes de radiação extremamente intensos, coerentes e espacialmente estreitos (colimados), são utilizados em LIBS. Na técnica, o laser é a fonte de vaporização, atomização e excitação das espécies da amostra. A fonte do laser em um sistema LIBS deve ter uma elevada potência para garantir os processos de ablação e formação de um plasma de elevada temperatura [25]. O laser é constituído basicamente de um meio ativo (que define as características do laser), uma fonte de bombeamento e espelhos conforme esquematizado na Figura 05. O meio ativo pode ser um gás, um líquido, uma mistura de gases ou mesmo um sólido. O meio ativo do laser é excitado provocando a inversão populacional. Esse processo é denominado bombeamento e pode ocorrer de diversas formas (corrente elétrica, absorção de radiação, colisão com elétrons, reação química, descarga elétrica, fonte radiante intensa). Uma fonte de bombeamento bastante empregada é constituída por lâmpadas flash (lâmpadas pulsadas), nas quais a excitação dos fótons é feita empregando lâmpadas (por exemplo: uma lâmpada de descarga de xenônio ou criptônio). O bombeamento faz com 21 que o número de espécies em estado de maior energia exceda o número de espécies em estado de menor energia, ou em outras palavras, ocorre uma inversão populacional na distribuição dos estados de energia [24,25]. Figura 05: Esquema de um laser. Essas espécies excitadas são atingidas por fótons o que provoca o imediato relaxamento para um estado de energia mais baixa, ocorrendo a liberação de um fóton coerente com aquele que iniciou o processo, ou seja, fótons praticamente idênticos (mesma freqüência, mesma fase e mesma polarização). Os fótons são amplificados depois de passarem várias vezes pelo meio ativo o que é permitido por dois ou mais espelhos localizados na cavidade óptica (onde fica o meio ativo) aumentando consideravelmente a amplificação. Esse processo é o responsável pelo funcionamento do laser (processo que produz radiação coerente) e é denominado emissão estimulada. A emissão do laser é obtida na saída da cavidade, por meio de um dos espelhos que parcialmente reflete ou parcialmente transmite o feixe de laser [26]. A emissão do laser pode ser contínua ou pulsada como pacotes de energia, dependendo do modo de excitação do meio ativo e da maneira como é extraído o feixe. Os lasers utilizados em LIBS são pulsados. O modo de emissão pulsado pode ser dividido em duas categorias: o modo free running e o modo Q-switched. Com bombeamento não contínuo, a emissão do laser no modo free running é obtido tão logo a amplificação é alcançada, ocorrendo perdas de radiação na cavidade até o final do bombeamento. A emissão do laser no modo Q-switched é permitida somente quando uma quantidade de energia suficiente é armazenada no meio ativo. Para a mesma quantidade de energia do laser emitida em cada modo, a duração do pulso no modo Q-switched é aproximadamente 22 30.000 vezes inferior ao modo free running, ou seja, o pico de potência do pulso de laser é 30.000 vezes maior no modo Q-switched do que no modo free running [26,27]. Para a técnica de LIBS o pulso de laser deve ter uma duração bastante reprodutível e apresentar alta energia. O modo de operação Q-switched fornece pulsos com essas características, e por esse motivo é bastante empregado em LIBS [28]. As características da emissão do laser dependem de alguns fatores como comprimento de onda que pode se situar na região do ultravioleta, visível e infravermelho, o que depende do meio ativo; duração do pulso que varia de acordo com o modo de operação do laser podendo ser curtos (faixa de 10-3s) ou em torno de 10-9s, que é o mais usual, mas existem também os lasers com duração de pulso ultracurtos da ordem de 10 -12s e 10-15s (picosegundos e femtosegundos); energia por pulso (que pode variar de 10-13 a 106J); faixa de potência do laser e divergência do feixe [28]. Os lasers mais empregados em LIBS, são os lasers do tipo Nd:YAG(Neodimiumdoped Ytrium Aluminium Garnet) (que é o empregado neste trabalho) e os lasers de excímeros, destacando-se mais o primeiro tipo. O laser Nd:YAG tem como meio ativo um cristal hospedeiro com íons neodímio. O comprimento de onda fundamental do Nd:YAG é 1064 nm (no infravermelho próximo), mas pode ser utilizado nos comprimentos de onda de 532, 355, 266 e 213 nm com o uso de geradores de harmônicos. A possibilidade de utilização desses dispositivos possibilita que estudos sejam feitos com diferentes comprimentos de onda do pulso de laser, o que é bastante relevante. Esses lasers estão disponíveis em diversos tamanhos, potência e duração de pulso [29]. O laser é a fonte de excitação do sistema LIBS e suas características influenciam nos resultados finais das medidas de emissão. A energia do feixe do laser deve ser espacialmente bem distribuída e reprodutível ao longo do tempo. Para que possa ocorrer a formação do plasma é necessário que se atinja um valor mínimo de energia que é específico de cada material e depende das suas propriedades. Esse valor deve ser atingido quando o pulso de laser é focado sobre a superfície da amostra, o que faz com que a distribuição de energia seja maior por unidade de área. O diâmetro do feixe de laser no foco pode ser calculado da seguinte forma [30]: 23 4 fλ M2 πD dσ 0 = (21) sendo: f é a distância focal da lente empregada, λ é o comprimento de onda do laser, D é o diâmetro do pulso de laser, M2 é um parâmetro que define a distribuição de energia do laser. Para uma distribuição Gaussiana ideal, M2 atinge o valor mínimo de 1. O valor de M2 é definido por: M2 = π dσ 0θ σ λ 4 (22) Onde, θ σ é o ângulo de divergência do feixe. A energia por unidade de área é denominada fluência e é estritamente dependente da energia inicial do laser, assim como de sua distribuição de energia, e da distância focal da lente utilizada para focar o pulso de laser. A fluência ou densidade de energia pode ser definida por [30]: F= EL π (d σ 0 ) 2 (23) Onde, EL é a energia do pulso de laser. Essa equação considera que o diâmetro do feixe de laser no foco apresenta um formato aproximadamente circular. A unidade de densidade de energia é Jm-2. Uma lente de curta distância focal consegue focar o laser em uma área menor da amostra, o que faz com que a densidade de energia seja maior, mas também apresenta a desvantagem de a área amostrada ser também menor e de a profundidade de campo dessa lente ser pequena [30,31]. 24 A profundidade de campo pode ser definida como uma “tolerância” do valor de foco, para um maior e/ou menor valor. Já as lentes de longa distância focal apresentam uma maior profundidade de foco, o que facilita os ajustes de foco sobre a superfície da amostra. Outro parâmetro utilizado para descrever o sistema de excitação é a irradiância que é expressa em unidades de potência por área. A irradiância pode ser calculada assim [30,31]: π EL D 2 If = 4τ L f 2 λ 2 M 4 Onde τ L (24) é a duração do pulso de laser. A unidade de medida da irradiância é Wm- 2 . Os principais parâmetros investigados na LIBS são: duração do pulso, o comprimento de onda e a energia do pulso de laser. A energia pode ser variada através do uso de um polaroíde ou pela modificação do tempo de atraso do Q-switched (intervalo de tempo entre o acionamento da lâmpada flash e o acionamento do Q-switched). A utilização desse parâmetro tem a vantagem de não repercutir em custo adicional no sistema, já que não é necessário nenhum componente adicional no sistema LIBS [31,32]. 2.3.4.2. O Monocromador / Policromador É possível encontrar instrumentos LIBS com os mais diversos tipos de sistemas monocromadores/policromadores como Czerny Turner e Paschen Runge (dispersão unidimensional). Contudo, em vista da complexidade de um espectro LIBS, que possui muitas raias de emissão, é muitas vezes conveniente a utilização de um sistema com alta resolução que seja capaz de proporcionar um bom desempenho. Um sistema que tem se destacado devido à alta resolução proporcionada e que tem sido amplamente utilizado na LIBS é o policromador echelle [33,34]. 25 O echelle tem sido desenvolvido desde o início da década 50 e as primeiras aplicações na técnica de LIBS datam do final da década de 90. Um policromador echelle é constituído de dois elementos dispersivos: uma rede echelle, que é uma rede muito grosseira em comparação com as outras redes de difração, e um prisma de baixa dispersão ou outra rede, sendo que esses dois elementos dispersivos posicionam-se perpendicularmente um em relação ao outro. O esquema deste policromador pode ser visualizado na Figura 06 [33-35]. Figura 06: Diagrama esquemático de um policromador echelle. A rede echelle separa a radiação monocromática em comprimentos de onda e produz múltiplas sobreposições de ordens espectrais. Já o segundo elemento dispersivo (uma rede ou um prisma) separa as ordens espectrais sobrepostas em um arranjo bidimensional: comprimento de onda em uma direção e ordem espectral em outra direção (echellograma). Normalmente trabalha-se com um número de ordens maior que quarenta [34,35]. Os policromadores baseados em rede echelle comparados com outros policromadores/monocromadores convencionais possuem uma boa resolução (incrementos na resolução são obtidos aumentando a ordem, sendo que o ótimo de resolução fica em torno de 0,04 nm a 0,05 nm à 250 nm) e um poder de coleta de radiação bem superior. Uma outra vantagem desse tipo de monocromador é que se consegue obter uma eficiência muito boa em cada ordem espectral, ao contrário de 26 redes convencionais que apresentam bom desempenho para um comprimento de onda específico e para uma única ordem (geralmente a primeira ordem) [33-35]. 2.3.4.3. O Detector Os detectores são dispositivos capazes de fornecer informações físicas de um sistema quanto à intensidade de radiação incidida no mesmo, ou de modo indireto, a intensidade absorvida por uma amostra, convertendo esta intensidade de radiação em um sinal elétrico [27]. Existe uma grande variedade de detectores utilizados nos sistemas LIBS. Os arranjos de detectores, de carga acoplada (CCD) e de fotodiodos (PDA), são os mais empregados, mas ainda assim é possível encontrar trabalhos que utilizam detectores mais simples como fotomultiplicadoras. Fotomultiplicadoras são normalmente associadas ao monocromador que produz dispersão unidimensional. Diversas unidades são empregadas, uma para cada comprimento de onda a ser monitorado [36,37]. Os arranjos de fotodiodo apresentam uma configuração linear e os arranjos de detectores de carga acoplada podem apresentar configuração linear ou bidimensional. Dentre os arranjos de detectores, os que se destacam pelo extensivo uso em LIBS são os CCD e ICCD bidimensionais. O uso desses arranjos bidimensionais de detectores se justifica em grande parte pelo fato do policromador echelle (que proporciona alta resolução espectral) formar uma imagem bidimensional (echellograma), o que torna necessário o uso de um arranjo desse tipo para converter a informação em um espectro LIBS. Também, o detector CCD, com relação ao PDA, apresenta uma melhor sensibilidade a baixos níveis de radiação, como os que são obtidos em LIBS [37,38]. O detector CCD (Charge Coupled Device) é um dispositivo de carga acoplada, que foi criado inicialmente para atuar como um chip de memória mostrando ser um excelente sensor óptico, sendo utilizado como detector em algumas técnicas de espectroscopia [38]. O funcionamento dos sensores CCD´s baseia-se similarmente ao efeito fotoelétrico. Algumas substâncias têm a propriedade de absorver fótons e libertar no 27 processo um elétron. O silício constitui a matéria-prima para a construção de um CCD. Um CCD típico consiste numa placa quadrada ou retangular de silício com 125 a 500 micrômetros de espessura e alguns milímetros de comprimento. Nesse, é implantada uma rede de eletrodos que capturam e analisam os elétrons gerados pelo efeito fotoelétrico. Cada trio de eletrodos atua como uma armadilha eletrostática, acumulando em seu redor os elétrons gerados na placa de silício. O eletrodo central de cada trio mantém uma carga positiva, enquanto que os restantes mantêm um potencial nulo. Deste modo os elétrons, cuja carga é negativa, se acumulam em volta do eletrodo central à medida que a luz incide no detector. Os trios de eletrodo são dispostos em colunas que cobrem a totalidade do sensor CCD. As diferentes colunas são isoladas entre si por um material que gera um potencial negativo permanente ao entrar em contacto com a placa de silício, o que evita a contaminação entre colunas. As linhas de eletrodos consideradas perpendicularmente às colunas são designadas como filas. Cada trio de eletrodos é uma peça fundamental do detector CCD e corresponde a um elemento da imagem digital final, e é designado pixel ou elemento de imagem. O tamanho físico do pixel é variável. Existem pixels retangulares e pixels quadrados. As suas dimensões variam habitualmente entre 6 e 27 micrômetros [39]. Com os detectores CCD é possível varrer um espectro completo de uma determinada amostra. Cada detector individual é denominado pixel e o seu tamanho varia de 6 a 30 μm e são capazes de armazenar a carga gerada pelos fótons. Cada pixel (no CCD) é composto de três eletrodos que estão sobre uma camada isolante de sílica (SiO2) que separa os eletrodos de uma região constituída de silício dopado tipo p de alta pureza. O funcionamento desse tipo de detector é baseado nas propriedades do silício. A ligação silício-silício pode ser quebrada por fótons na região do ultravioleta e visível. Quando a ligação é quebrada ocorre a liberação de um elétron no interior da estrutura cristalina e uma vacância na estrutura cristalina é formado [39,40]. O fotocátodo reveste o interior da superfície do intensificador. A imagem do CCD é projetada no fotocátodo. Os fótons dessa imagem atingem o fotocátodo, ocorrendo a emissão de elétrons que são posteriormente atraídos ao MCP (microchannel plate), ou seja, a placa do microcanal, através de uma pequena fenda, 28 devido à um alto potencial aplicado. Esses elétrons quando atingem o MCP provocam o desalojamento de mais elétrons da parede do canal, formando uma avalanche. A quantidade de elétrons desalojada depende do ganho aplicado ao MCP, ou seja, da voltagem aplicada. Quando os elétrons alcançam a tela, esses são transformados em luz visível que pode ser lida pelo CCD. Geralmente estas telas são constituídas de fósforo tipo 43 ou fósforo tipo 46. O fósforo 43 tem um tempo de decaimento menor que o fósforo 46, mas emite em um comprimento de onda mais sensível ao CCD [3840]. A figura 07 apresenta um exemplo de sensor CCD. Figura 07: Exemplo de um detector CCD. 2.4. O Esgoto e o Impacto Causado Um dos principais problemas que o Brasil enfrenta no tocante à preservação e manejo dos recursos hídricos, diz respeito à contaminação dos esgotos domésticos e industriais [41]. O esgoto antes de passar por qualquer tipo de tratamento de estabilização e de higienização contém macro, micronutrientes e microrganismos. Muitos destes últimos são saprófitos e geralmente participam dos processos aeróbio e anaeróbio de estabilização. Porém, o esgoto oriundo de população humana e animal pode apresentar patógenos como bactérias, vírus, ovos e larvas de helmintos e cistos de protozoários parasitas [42, 43]. 29 O manuseio e o emprego do esgoto sem prévio tratamento de estabilização e sem tratamentos higienizantes possibilitam infecção do homem e dos animais. Em virtude disso, processos de tratamento de estabilização têm sido realizados em diversos países, inclusive no Brasil. Dentre os vários processos testados, os mais freqüentemente empregados para a estabilização de esgoto são a digestão aeróbia e anaeróbia, tratamentos higienizantes do biossólido como uso de cal e compostagem também são preconizados e empregados por alguns países como Estados Unidos, França e Brasil. A eficiência destes processos depende da qualidade operacional dos mesmos e da natureza dos patógenos presentes no lodo [43]. Assim, em virtude da poluição provocada por lançamento de esgotos in natura em cursos d’água, estações de tratamento de esgoto vêm sendo implementadas nas principais cidades brasileiras, obtendo-se, geralmente, considerável redução da carga orgânica dos efluentes. No entanto, as estações de tratamento de esgoto defrontam-se com novo problema: a destinação a ser dada ao lodo de esgoto, resíduo que permanece após o tratamento dos esgotos.[42] Diversas alternativas têm sido buscadas, entre elas a utilização de solos como meio de descarte para o lodo, situação em que há risco de poluição ambiental, com possibilidade de contaminação da cadeia alimentar com diversas substâncias e elementos nocivos. Utilizado com fins agrícolas, o lodo pode atuar como condicionador de solo, por sua elevada carga orgânica (40% a 60%), e como fonte de nitrogênio (N) para as plantas, por conter teores elevados desse nutriente (até 8%), bem como possibilitar a reciclagem de outros nutrientes. Entretanto, alguns lodos podem apresentar restrições ao uso agrícola, dependendo de sua composição com metais pesados, compostos orgânicos tóxicos, ou presença de patógenos que causem risco à saúde humana ou animal. Podem, ainda, causar problemas como, por exemplo, salinização e acidificação do solo. Quando não ocorrem tais restrições, as quantidades de lodo a serem aplicadas visando à nutrição nitrogenada das culturas devem atender a dois objetivos, fundamentalmente: satisfazer as necessidades do nitrogênio das plantas, e evitar a geração de nitrato em quantidades excessivas que venham a lixiviar no perfil do solo, colocando em risco a qualidade das águas subsuperficiais [43]. 30 Dessa maneira, o acúmulo de metais pesados em solos agrícolas, devido à aplicações sucessivas de lodo de esgoto, é o aspecto que causa maior preocupação com relação a segurança ambiental necessária para a viabilização desta prática. Esses elementos podem expressar seu potencial poluente diretamente nos organismos do solo, pela disponibilidade às plantas em níveis fitotóxicos, além da possibilidade de transferência para a cadeia alimentar através das próprias plantas ou pela contaminação das águas de superfície e subsuperfície [43,44]. O lodo de esgoto tem apresentado bons resultados como fertilizante para diversas culturas, dentre elas soja e trigo, milho, feijão e girassol, sendo, portanto, um fertilizante potencial em diversas condições de solo e clima. Verificou-se a ocorrência de aumentos dos teores de nitrogênio em plantas, que foram proporcionais ao aumento das doses de lodo de esgoto adicionadas, também observou-se que o biossólido utilizado obteve eficiência 25 % superior à do superfosfato triplo como fonte de fósforo para o milho. O potássio, em virtude da baixa concentração em lodo, advinda de sua alta solubilidade em água, tem sido o elemento de maior necessidade de suplementação com fertilizantes minerais quando da utilização do lodo para adubação. A presença de metais pesados constitui uma das principais limitações ao uso do lodo na agricultura. De modo geral, as concentrações de metais encontradas no lodo são muito maiores que as naturalmente encontradas em solos, daí a necessidade de avaliação dos riscos associados ao aumento desses elementos no ambiente em decorrência da aplicação desse resíduo. Esses riscos dependem de características do solo, tais como: conteúdo original do metal, textura, teor de matéria orgânica, tipo de argila, pH e capacidade de troca catiônica (CTC). A longo prazo, o aumento da concentração de metais no solo resultante da aplicação do lodo tornase uma preocupação justificada, pois, se não adequadamente controlado, pode ameaçar a cadeia trófica [44,45]. Este trabalho de conclusão de curso tem a finalidade de analisar a composição química de amostras de lodo (biossólido) do esgoto através da técnica espectroscópica de Emissão Atômica em Plasma Induzida por Laser (LIBS), cujo equipamento destinado para este fim encontra-se presente no GEOF –UEMS. 31 3. Materiais e Métodos 3.1. Obtenção e Preparação da Amostra de Lodo A amostra de lodo do ES até chegar ao laboratório passou por uma série de tratamentos. Foi feita uma visita à Estação de Tratamento do Esgoto (ETE) para acompanhar todo o processo de tratamento do ES. Primeiramente, o esgoto chega à estação de tratamento e passa pelo desanerador para que as partículas mais pesadas desçam e se separem em uma parte mais líquida e outra mais densa. No desanerador é acrescentado “cal” para que se tire o mau cheiro do esgoto. Figura 08: Esta imagem representa o desanerador, por onde a rede de esgoto chega pelas tubulações e passa para separação do esgoto em uma parte mais pesada e outra mais leve. Figura 09: Mistura de água e cal para acrescentar no esgoto bruto para se tirar o mal cheiro. Este esgoto bruto sai do desanerador vai para o reator anaeróbico, também chamado de “Ralf”, onde recebe a matéria orgânica (bactérias) que faz uma “limpeza” 32 neste lodo, pois neste reator não existe Oxigênio, daí se faz necessário o uso da bactéria que faz o trabalho anaeróbico de limpeza no esgoto. Figura 10: Reator anaeróbico, também chamado de “Ralf”, primeira limpeza feita no esgoto bruto pelas bactérias anaeróbicas. Depois de o esgoto passar pelo “Ralf”, ele vai para o biofiltro, em que pelo processo aeróbico, com a presença de Oxigênio, o esgoto vai sendo filtrado e decomposto pela matéria aeróbica, ficando com o tipo de um líquido esverdeado. Figura 11: Biofiltro. Figura 12: O esgoto após passar pelo biofiltro. 33 Após passar pelo biofiltro o esgoto passa para o decantador, em que fica por volta de um mês decantando. Neste decantador existe uma lâmina raspadora que raspa o lodo do esgoto (biossólido), limpando o fundo e levando todo o material decantado para o leito de secagem. A parte líquida (efluente) deste esgoto vai para o rio, porém, ele é despejado no rio a uma certa distância , por volta de dois mil metros para que toda essa água se depure até chegar no rio. A parte mais densa (biossólido) fica decantando por volta e um mês e depois vai para o poço de lodo, em que a parte mais líquida volta para biofiltro para passar novamente pela limpeza e decantação e a parte mais sólida, o lodo, vai para o leito de secagem para secar e ficar em um tipo de “terra úmida”. Figura 13: O decantador. Figura 14: O esgoto sendo decantado, separado em um parte líquida e outra sólida (lodo). Figura 15: O poço de lodo, onde separa o lodo do efluente, que volta para o biofiltro para uma nova “limpeza” e o lodo passa para o leito de secagem. 34 Este leito de secagem é composto por dois tablados, um recebe o lodo proveniente do decantador, que é o lodo mais limpo, que passou por todos os processos de tratamento; e o outro leito de secagem recebe um lodo mais bruto que provém do Ralf (reator anaeróbico) onde não passou por todos os processos de tratamento. O destino de deste lodo seco é ir para aterro sanitário. Figura 16: Leito de Secagem para o lodo. Figura 17: O lodo após passar pelo leito de secagem. Neste trabalho a amostra de lodo do esgoto analisada foi da cidade de Dourados, fornecida por uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE). Esta amostra passou por um processo de decantação dos dejetos existentes no esgoto, ou seja, por um processo de limpeza, o lodo do esgoto é o resultante desse tratamento que também pode ser chamado de biossólido. A amostra de lodo do ES chegou ao laboratório na forma de uma terra úmida, em que passou por um processo de secagem em estufa a alta temperatura para a retirada dos possíveis microorganismos patogênicos, podendo assim manusear o material sem risco de contaminação biológica. Após todo esse processo de secagem foi possível fazer a análise da composição química presente neste lodo através da técnica de LIBS. 35 3.2. Montagem da técnica LIBS e Caracterização da Amostra de Lodo Antes de iniciar as medidas através da técnica LIBS, foi realizada a montagem do experimento conforme será descrito a seguir. A Figura 18 mostra o aparato experimental da LIBS presente no GEOF. Figura 18: Montagem da técnica LIBS no GEOF. A Figura 19 ilustra o esquema experimental utilizado para os experimentos de LIBS. Laser Lente GEOF Esquema do Prisma aparato LIBS Figura 19: Suporte para a amostra experimental Microcomputador presente no GEOF – UEMS. 36 O aparato experimental LIBS consiste basicamente em um laser de Nd:YAG, cujo comprimento de onda é de 1064 nm. O feixe de laser passa por um prisma de 45o, o qual é refletido e passa por uma lente de distância focal de 5mm, incidindo então na amostra. O plasma formado nesta amostra é detectado através de uma fibra óptica interligada em um espectrômetro portátil da marca Ocean Optics, modelo iHR4000. Este instrumento possui uma resolução espectral de 0,5 nm e é constituído de uma rede de difração de 300linhas/mm e um sistema de detecção por CCD. O espectrômetro é controlado por um microcomputador para a detecção dos dados espectrais. Após a montagem da técnica passou-se à parte de ajuste dos equipamentos. O modo de operação do laser de Nd:YAG foi ajustado na configuração pulsada, com uma taxa de repetição de 1KHz. O espectrômetro foi sincronizado com o Q-Swich do laser de bombeio, de modo que a detecção fosse realizada logo após o disparo do laser. Através desse procedimento, foi possível realizar medidas em diferentes materiais como ferro, alumínio, latão e no lodo do ES, a fim de estudar a composição química existente nestes materiais. 37 4. Resultados e Discussões Nesta etapa do trabalho serão apresentados e discutidos os resultados da caracterização espectroscópica, obtidos pela técnica de LIBS aplicado no estudo da composição química existente no lodo do ES. 4.1. Espectroscopia de Emissão Atômica em Plasma Induzida por Laser (LIBS) Utilizou-se a técnica da espectroscopia de emissão atômica por plasma gerado através de um laser de Nd:YAG, operando em 1064 nm, com o ajuste na forma pulsada para que houvesse a geração do plasma ao incidir na amostra. Realizaram-se medidas de metais tais como: alumínio, latão e ferro a fim de verificar a aplicação da técnica em diversos materiais, observando nos espectros suas composições químicas. Posteriormente a análise foi feita no lodo do ES, conforme será descrita em cada gráfico a seguir. Primeiramente analisou-se uma amostra de ferro (parafuso) que está representa na figura 20 seguido de sua Tabela com os comprimentos de onda observados experimentalmente e encontrados na literatura, juntamente com o elemento químico referente em cada comprimento de onda. 38 Intensidade (unidade arbitrária) 0,25 Espectro do ferro (parafuso) Fe II Fe I 0,20 Cu II Fe I 0,15 Fe I CI Fe I 0,10 Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe II 0,05 0,00 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) Figura 20 Espectro de emissão atômica do parafuso. Tabela 2: Linhas Espectrais do Plasma do parafuso (ferro). Referências∗ Elemento Estado de Comprimento de Onda Comprimento de Onda Químico Ionização Observado (nm) Teórico (nm) Fe I 262 261, 8018 46 Fe I 274 274, 2405 46 Fe I 358 358, 119 46 Fe I 373 373, 4864 46 Fe I 382 382, 0425 46 Fe I 404 404, 5813 46 Fe I 406 407, 1737 46 Vale ressaltar que as linhas de emissão de plasma foram obtidas da literatura na base de dados do NIST (http://physics.nist.gov/PhysRefData/ASD/index.html). 39 Fe I 438 438, 3544 46 Cu II 492 491, 8376 56 Fe I 496 495, 7597 46 C I 500 500, 217 51 Fe I 517 516, 7487 46 Fe I 523 522, 7150 46 Fe II 526 526, 026 59 Fe I 533 532, 8038 46 Fe I 537 536, 996 46 Fe I 540 539, 7127 46 Fe I 557 557, 2841 46 Fe I 561 561, 5644 46 Fe II 588 588, 502 59 Analisando o espectro do parafuso, percebe-se que o elemento químico abundante neste caso do parafuso é o Ferro (Fe) em seu primeiro e segundo estado de ionização, ou seja, se ele está ionizado indica que houve a ruptura (quebra) dos átomos em íons menores deste elemento químico durante o processo de geração do plasma. Existe também a presença do Carbono (C) e do Cobre (Cu) na liga metálica correspondente à do parafuso. No espectro do parafuso notamos que existem duas regiões em torno de 274nm e 381nm que possuem intensidades de emissão semelhantes, estas intensidades são em torno de 10% menor que a intensidade em 495nm, que é correspondente ao elemento químico Ferro. No espectro da amostra do ferro existem várias linhas espectrais que se tornam difíceis de serem analisadas, pois tais linhas podem ser confundidas facilmente com espectros de emissão atômica de outros metais. 40 Após realizar medidas com o parafuso, foram realizados experimentos de uma barra de alumínio. O espectro referente a esta medida pode ser visualizado na Figura 21. Os comprimentos de ondas obtidos experimentalmente e os encontrados na literatura, juntamente com o elemento químico referente a cada comprimento de onda da amostra pode ser visto na Tabela 3. Intensidade (unidade arbitrária) Al I Alumínio 1,0 Al I 0,8 0,6 0,4 Al I Pb I 0,2 Al I Al II 0,0 300 400 500 Comprimento de Onda (nm) Figura 21: Espectro de emissão atômica do alumínio. Tabela 3: Linhas Espectrais do Plasma da barra de alumínio. Elemento Estado de Comprimento de Onda Comprimento de Onda Referências Químico Ionização Observado (nm) Teórico (nm) Al I 306 306, 4290 58 Al II 309 308, 8516 47 Al II 359 358, 6557 47 Al I 394 394, 40058 58 Al I 396 396, 15200 58 41 Pb I 484 484, 5416 60 Pb I 487 486, 6572 60 Al I 511 510, 7520 58 Pelo espectro da barra de alumínio, percebe-se que o elemento mais abundante é o Alumínio (Al) sendo dispostos no primeiro e segundo estado de ionização, porém aparece o Chumbo (Pb) que pode ser de origem do processo de anodização (ver apêndice 7.2), que consiste em um processo eletroquímico que acontece com as barras de alumínio para que esta tenha uma maior rigidez, resistência à corrosão, a abrasão e além disso, uma maior durabilidade. Com relação às intensidades de emissão, a linha espectral que mais se destaca é a em torno de 396nm, esta é a região onde tem-se uma maior intensidade de emissão atômica. Foi feita uma análise espectral em uma amostra de latão a fim de identificar os elementos químicos correspondentes, O espectro referente à esta medida pode ser visualizado na figura 22. As linhas espectrais do latão são comparadas com as teóricas do Cu e Zn, conforme mostrado na Tabela 4. 42 0,100 Intensidade (unidade arbitrária) Latão Cu I 0,075 Cu I Cu II 0,050 Cu II Cu I Zn I 0,025 0,000 470 480 490 500 510 520 530 Comprimento de Onda (nm) Figura 22: Espectro de emissão atômica de uma amostra de latão. Tabela 4: Linhas Espectrais do Plasma do latão. Elemento Estado de Comprimento de Onda Comprimento de Onda Referências Químico Ionização Observado (nm) Teórico (nm) Zn I 472 472, 215 61 Cu II 481 481, 2948 56 Cu II 492 491, 8376 56 Cu I 510 510, 554 49 Cu I 515 515, 324 49 Cu I 522 521, 820 49 Analisando o espectro do latão, constatou-se que o elemento químico abundante é o Cobre (Cu) no primeiro e segundo estado de ionização, porém, também aparece o Zinco (Zn) que faz parte da liga metálica do latão. A liga metálica do latão é 43 composta maior parte pelo Cobre, em que o Zinco pode variar de 3% a 45% de adição no latão. Os experimentos realizados anteriormente, correspondentes as figuras 20, 21 e 22 foram feitas para que se tivesse uma base da técnica LIBS, além de se obter um padrão dos comprimentos de onda com relação às intensidades de emissão e os correspondentes elementos químicos encontrados nas amostras. Dessa maneira, ao realizar medidas com as amostras de lodo do ES já era possível ter um referencial com relação a esses metais se caso fossem encontrados esses elementos nas amostras de lodo do ES. Com isso, as amostras de ferro, alumínio e latão, serviram como base para a análise espectral do lodo proveniente do ES. Assim, fez-se medida com a amostra de lodo do ES pela técnica LIBS. Em uma mesma amostra de lodo do ES foi tirada cerca de três medidas para que se tivesse um bom referencial, a quantidade da amostra utilizada para obtenção dos espectros foi cerca de miligramas. O espectro resultante do experimento é mostrado na figura 23. Al I 1,0 0,8 Espectro do Lodo Intensidade (unidade arbitrária) Al I, Ca II 0,6 Al I 0,4 Al I, Ca II 0,8 Al I 0,2 0,0 390 393 396 399 Na I 0,6 0,4 0,2 Fe I Al I Na II Fe I 0,0 200 Na I Cu II Fe II Ca I Cu II C I Al II Cu I 300 400 500 600 700 800 Comprimento de Onda (nm) Figura 23: Espectro de emissão atômica do lodo do esgoto sanitário. 44 Para melhor representar os elementos químicos existentes nas amostras do lodo do ES, elaborou-se uma tabela referente ao comprimento de onda encontrado experimentalmente, o comprimento de onda teórico encontrado na literatura e o determinado elemento químico correspondente a cada comprimento de onda. Tabela 5: Linhas Espectrais do Plasma do Lodo do Esgoto Sanitário. Elemento Estado de Comprimento de Onda Comprimento de Onda Químico Ionização Observado (nm) Teórico (nm) Fe I 275 275, 0140 46 Fe I 279 278, 810 46 Al I 308 307, 4691 58 Na II 323 323, 493 48 Cu I 334 333, 784 49 Fe I 375 374, 9485 46 Al I 393 393, 0296 58 Al I 396, 15200 58 Ca II 396, 847 50 C I 503 503, 217 51 Fe II 527 526, 9537 59 Al II 559 559, 3302 47 Na I 588, 9950 52 - 55 Fe II 588, 502 59 Na I 616 Cu II 634 633, 6466 56 Ca I 671 671, 769 57 Cu II 766 766, 4648 56 Cu II 777 777, 8738 56 396 - 397 589 616, 0747 Referências 52 45 Analisando o gráfico da Figura 23, nota-se que os elementos químicos mais abundantes são o Alumínio, o Cálcio e o Sódio, pois aparecem com as intensidades de emissão atômica maiores. Este Alumínio encontrado pode ser proveniente dos utensílios domésticos usados nas residências, das panelas e objetos usados no dia – a – dia que quando lavados liberam estes metais na água que por sua vez vão para o ES. O Sódio e o Cálcio podem provir da alimentação humana, devido muitos alimentos possuir estes elementos químicos em sua composição. No espectro do lodo percebe-se que existe uma região em torno de 275nm que corresponde ao elemento químico Fe, este mesmo elemento químico está na figura 20 (espectro do parafuso), porém no espectro do lodo o Ferro aparece em uma menor intensidade de emissão quando comparado com o espectro do parafuso. Nota-se também uma linha bem intensa neste espectro que é em torno de 393nm e 396 nm que corresponde ao elemento químico Alumínio, esta mesma região é vista no espectro do alumínio (figura 21), porém as intensidades de emissão dessa região no espectro do lodo do ES é menor que no espectro do alumínio. Uma outra região do espectro a ser enfatizada está em torno de 589nm que corresponde ao elemento químico Fe e Na, o Fe em seu segundo estado de ionização aparece também no espectro do parafuso, porém no espectro do lodo a intensidade de emissão é maior. Ainda neste espectro do lodo percebe-se que existe uma região entre 680 à 800 nm que indica uma região de emissão de corpo negro que ocorre devido ao aquecimento da amostra ocasionada pelo laser de Nd: YAG que incide sobre a amostra de lodo do ES (emissão de corpo negro). Foi feita outra medida do lodo do ES utilizando o monocromador HR320 da marca Jobin Yvon, o qual possui uma maior resolução que o espectrômetro usado na medida do espectro de emissão do lodo representado na Figura 23. As linhas espectrais de plasma podem ser visualizadas na Tabela 6. O espectro desta medida pode ser visto na figura 24. Vale ressaltar que a amostra de lodo para esta medida não foi a mesma que a tirada anteriormente, devido ao fato de serem tiradas em datas diferentes. 46 1,2 0,9 Al I, Ca II 1,0 Intensidade (unidade arbitrária) Al I Al I 0,6 0,8 Al I 0,3 Al I, Ca II 0,0 0,6 390 396 399 Al I 0,4 Fe I, Na II, C II Na II Fe I Cu II Fe I Fe I Fe I, Al I Cu II Fe I Fe I Fe I 0,2 393 Na II Fe I Fe I Fe I Cu II Fe I Fe I 0,0 Na II 340 360 380 400 420 440 460 Comprimento de Onda (nm) Figura 24: Espectro de emissão atômica do lodo tirado com o monocromador HR320 da marca Jobin Yvon. Tabela 6: Linhas Espectrais do Plasma do Lodo do Esgoto Sanitário retirado com o monocromador HR320. Elemento Estado de Comprimento de Onda Comprimento de Onda Referências Químico Ionização Observado (nm) Teórico(nm) Fe I 335 335, 5227 46 Cu II 338 338, 0712 56 Fe I 355 355, 4925 46 Na II 357 357, 0097 48 Fe I 361 360, 8859 46 Fe I 362 361, 8768 46 Fe I 364 364, 0389 46 Fe I 368 367, 9913 46 47 Fe I 370 370, 3566 46 Fe I 374 373, 7131 46 Fe I 375 374, 9485 46 Fe I 383 382, 7823 46 Fe I 385 384, 996 46 Al I 393 393, 0296 58 Al I 394 394, 40058 58 Al I 396, 15200 58 Ca II 396 395, 668 50 Fe I 404 404, 5813 Al Fe I I 407 403, 650 407, 1737 46 58 Al Cu I II 413 406,68 413, 2058 Fe I Na II C II Fe I Fe 46 58 56 423, 2058 46 423, 326 48 423, 0449 51 427 427, 1759 46 I 430 429, 9234 46 Fe I 433 432, 5761 46 Na II 439 438, 749 48 Fe I 440 440, 4750 46 Na II 444 444, 325 48 Fe I 446 446, 1652 46 Cu II 454 454, 1032 56 Cu II 456 455, 5920 56 423 Analisando este espectro do lodo do ES, percebe-se que o elemento químico abundante nesta amostra é o Al e Ca. Comparando este espectro com os espectros do 48 parafuso, barra de alumínio e latão, percebe-se que existem comprimentos de onda que são comuns com o espectro do lodo do ES. O pico em 393 nm é onde se tem uma maior intensidade de emissão em todo o espectro do lodo do ES. Este pico está localizado também no espectro da barra de alumínio, porém, no espectro do lodo do ES a intensidade é maior do que no espectro do alumínio. Esta região em torno de 393nm à 396nm é uma região em que se predomina o elemento químico Alumínio (Al), sendo uma região de destaque por possuir a maior intensidade em todo o espectro. A região que se destaca o elemento químico Ferro (Fe) em um todo é de muita pouca intensidade, a maior intensidade de emissão que se apresenta o Ferro se dá em 423nm, onde também tem-se os elementos químicos Sódio e Carbono presentes nesta região. Pode-se dizer que o Alumínio está presente em uma maior concentração nesta amostra de lodo do ES, pelo fato do Alumínio ser um metal leve, sua concentração no lodo é relevante. Analisando os dois espectros do lodo do ES juntamente, nota-se que o primeiro espectro (figura 23) é mais difícil de visualizar as linhas de emissão de plasma, já o segundo espectro (figura 24) as linhas de plasma estão mais definidas, tornando-se mais fácil a percepção e a análise espectral. Isso acontece pelo fato do monocromador HR320 da marca Jobin Yvon ter uma maior resolução espectral que o espectrômetro iHR4000. Nos dois espectros nota-se que as duas regiões de destaque nas figuras 23 e 24 é a que está em torno de 393nm à 396nm que coincidem com o mesmo elemento químico, o Alumínio (Al), que possui a maior intensidade de emissão em todo o espectro, considerando os dois espectros do lodo do ES como um todo. Com isso, percebe-se que a técnica LIBS é muito eficaz para determinar elementos químicos leves em amostras, seja ela sólida ou líquida, sendo também uma técnica complementar à de fluorescência de raios-X. 49 5. Considerações Finais A LIBS é considerada uma técnica multielementar que permite analisar a composição química de diversos tipos de materiais, seja ele, sólido, líquido ou gasoso. Esta técnica é muito sensível na análise de elementos químicos leves, o que não ocorre com outras técnicas espectroscópicas, como a fluorescência de raio – X. O aparato experimental da técnica LIBS consiste basicamente de três componentes principais: o laser, o sistema monocromador e o detector. A partir dessa técnica analisou-se a composição química de parafuso, barra de alumínio e latão. Nestes três materiais analisados, distinguiu-se diversos elementos químicos presentes, entre os mais importantes foram o Ferro (Fe), Alumínio (Al) e o Cobre (Cu). Estas três análises serviram de base para a análise espectral posterior que foi a do Lodo proveniente do ES. Dessa maneira, estudando o espectro do lodo do ES notou-se que haviam picos que eram correspondentes aos dos elementos químicos analisados nas amostras anteriores, em que em uma maior intensidade, o elemento químico abundante no lodo do ES foi o Alumínio (Al), estando presente também o Ferro (Fe) e o Cobre (Cu) só que em uma menor intensidade. Vale ressaltar que as intensidades de emissão atômica dos espectros do lodo do ES sempre foram comparados com as intensidades dos materiais de base (parafuso, alumínio e latão). Os elementos químicos encontrados nas amostras de lodo do ES, principalmente o Alumínio são de prováveis origens dos utensílios domésticos tais como: panelas, talheres, abrasivos químicos usados no polimento de panelas, etc. Já o Sódio e o Cálcio podem ser provenientes da alimentação humana, em que muitos alimentos possuem em sua composição estes tipos de elementos químicos. Vale ressaltar também que o sistema de separação na ETE não é capaz de separar metais do lodo do ES, pois o sistema de purificação é feito basicamente utilizando materiais biológicos (processos aeróbicos e anaeróbicos). 50 Conclui-se então que a LIBS é um técnica rápida e eficiente, que se destaca das outras técnicas espectroscópicas por permitir a determinação de elementos químicos leves em meios sólidos, líquidos ou gasosos, com análises rápidas e diretas, além de se ter uma alta resolução espectral. 51 6. Referências Bibliográficas [1] Eisberg, Robert; Resnick, Robert. “Física Quântica: Átomos, Moléculas, Sólidos, Núcleos e Partículas”. Tradutores: Paulo Costa Ribeiro, Enio Frota da Silveira e Marta Feijó Barroso. Rio de Janeiro: Campus, 1979. [2] Caruso, Francisco; Oguri, Vitor. “Física Moderna: Origens Clássicas & Fundamentos Quânticos”. Elsevier, 2006. [3] Glasstone, Samuel. “Physical Chemistry”. Princeton. D.Van Nostrand Company, Inc., 1965. [4] “Max Planck Institut fur Plasmaphysik”. Disponível em: http://www.ipp.mpg.de/ippcms/eng/pr/fusion21/plasma/index.html. Acessado em: Agosto, 2009. [5] Siems, Annette Lina Marie. “Espectroscopia de Emissão de fótons do Hélio, Nitrogênio, Silício e Argônio”. Tese de doutorado. Campinas, 2000. [6] Chan. F. “Introduction to plasma physics and controlled fusion”. New York. Plenum Press, 1984. [7] Radziemski, Leon J., L.J.; “Spectrochim. Acta”, Part B. 57, (1109), 2002. [8] Geusic, J.E.; Marcos, H.M ; Van Uitert, L.G.; “App. Phys. Lett”. 4, (182), 1964. [9] Maker, P.D.; Terhune, R.W.; Savage, C.M.; “Proceedings of Third International Conference on Quantum Electronics”. (1552), 1964. 52 [10] Winefordner, J.; Gornushkin, I.; Correll, T; Gibb, E.; Smith, B. W.; Omenetto, N. “Jounal Anal At. Spectrometric”, 2004. [11] Molina, A.; Walsh, Peter M.; Shaddix, Christopher R.; Sickaffose, Shane M.; Blevins, Linda G. “Laser-induced breakdown spectroscopy of alkali metals in hightemperature gas”. 45(18), (4411), 2006. [12] Yang, C.S-C.; Brown E.; Hommerich U.; Trivedi S.B.; Snyder A.P..; Samuels, A.C. “ Laser – Induced Breakdown Spectroscopy Infrared Emission From Inorganic and Organic Substances”. Battelle Eastern Science and Technology Center Aberdeen Md., 2006. [13] Junior, Dário S.; Tarelho, Luiz V. G., Krug, Francisco J.; Milor, Débora M. B. P.; Neto, Ladislau Martin.; Vieira, Nilson Dias. “Espectrometria de Emissão Óptica com Plasma Induzido por Laser (LIBS) – Fundamentos, Aplicações e Perspectivas”. Revista Analytica, 2006. [14] Cortez, Juliana. “Construção e Avaliação de um Instrumento para a Espectroscopia de Emissão em Plasma Induzido por Laser (LIBS): Aplicação em Ligas Metálicas”. Dissertação de Mestrado. UNICAMP. Campinas, 2007. [15] Kompistas, M.; Kalantzopoulou, F. Roubani.; Bassiotis, I.; Diamantopulou, A.; Giannoudakos, A. “ Laser Induced Plasma Spectroscopy (LIPS) as na Efficient Method for Elemental Analysis of Environmental Samples”. EARSel eProceedings. (16), 2000. [16] Togononi, E.; Palleschi, V.; Corsim; Cristoforetti, G.;. “Quantitative micro-analysis by laser-induced breakdown spectroscopy: a review of the experimental approaches”. Spectrochimica Acta Part B, 57, (1115), 2002. 53 [17] Florek, S., Haisch, C., Okruss, M, Becker-Ross, H., “Spectrochim. Acta”. Part B”.56, (1027), 2001. [18] Detalle, V., Heon, R., Sabsabi, M., St-Onge, L., “Spectrochim. Acta”. Part B, 56, (795), 2001. [19] M. Heon, R. Sabsabi; L. St-Onge. “Spectrochim. Acta, Part B”, 60, (1211), 2005. [20] Vadillo, José M., Laserna, J. Javier. “Laser-induced plasma spectrometry: truly a surface analytical tool”. Spectrochimica Acta Part B 59, (147), 2004. [21] Rusak, D.A.; Castle, B.C.; Smith, B.W.; Winefordner, J.D.“Recent trends and the future of laserinduced plasma spectroscopy”. Department of Chemistry, University of Florida, Gainesville. Trends in analytical chemistry, 17, (8), 1998. [22] St-Onge, L. ; Sabsabi, M. ; Cielo, P.. “Analysis of solids using laser-induced plasma spectroscopy in double pulse mode”. Spectrochimica Acta Part B 53, (407), 1998. [23] Colao, F.; Lazic, V.; Fantoni, R. and Pershin, S.. “A comparison of single and double pulse laser-induced breakdown spectroscopy of aluminum samples”. Spectrochimica Acta Part B: Atomic Spectroscopy, 57, (1167), 2002. [24] Yamamoto, KY; Cremers, DA; Ferris, M. & Foster, LE. “Laser – Induced Breakdown Spectroscopy for Real – Time Detection of Halon Alternative Agents”. Anal Chem., 70, (1186), 1998. [25] Radivojevic, Igor. “Spectrochemical Analysis of Solid Samples by Laser-induced Plasma Spectroscopy”. Technischen Universität München eingereicht und durch die Fakultät für Chemie, 2004. 54 [26] Reid, G. D.; Wynne, K. “In Encyclopedia of Analytical Chemistry”. Meyers, R. A., ed.; John Wiley & Sons: Chichester, 2000. [27] Skoog, D.A., Holler, F.J. & Nieman, T.A.; “Princípios de Análise Instrumental”. São Paulo, Bookman: 2002. [28] Kleinbauer, Jochen; Knappe, Ralf and Wallenstein, Richard. “Ultrashort Pulse Lasers and Amplifiers Based on Nd:YVO4 and Yb:YAG Bulk Crystals”. Top. Appl. Phys. (96), 2004. [29] Bordui, P. F.; Fejer, M. M.; Annu. “Rev. Mater. Sci”. 23, (321), 1993. [30] Gómez, C.; Costela, A.; García-Moreno, I. and Sastre, R.. “Comparative study between IR and UV laser radiation applied to the removal of graffitis on urban buildings”. Applied Surface Science. 252 (8), (2782), 2006. [31] Pasquini, Celio; Cortez, Juliana; M. C. Silva, Lucas; Gonzaga, Fabiano B. “Laser Induced Breakdown Spectroscopy”. J. Braz. Chem.Soc., 18. São Paulo, 2007. [32] Le Drogoff, B.; Margot, J.; Vidal, F.; Chaker, M.; Sabsabi, M.; Johnston, T. W.; Barthélemy, O. “Plasma Sources Sci. Technol”. 13, (223), 2004. [33] Buchkamp, T.; Garbrecht, A.; Hermann, G. and Kling, B.. “Size and distribution of particles deposited electrostatically onto the platform of a graphite furnace obtained using laser ablation sampling”. Spectrochimica Acta Part B: Atomic Spectroscopy. 52, (1525), 1997. [34] Panne, U.; Neuhauser,R. E.; Theisen,M.; Fink, H. and Niessner, R.. “Analysis of heavy metal aerosols on filters by laser-induced plasma spectroscopy”. Spectrochimica Acta Part B: Atomic Spectroscopy . 56, (839), 2001. 55 [35] Neuhauser,R. E.; Panne,U.; Niessner, R.; Steinicke, W. H. and Grimm, H. J.. “Elemental characterization of heavy metal aerosols by Laser-induced Plasma Spectroscopy (LIPS)”. Journal of Aerosol Science. 28, (437), 1997. [36] Díaz Pace, D.M. C.A.; Bertuccelli, D'Angelo D. and Bertuccelli, G. “Analysis of heavy metals in liquids using Laser Induced Breakdown Spectroscopy by liquid-to-solid matrix conversion”. Spectrochimica Acta Part B: Atomic Spectroscopy. 61(88), (929), 2006. [37] Huang, Jer-Shing; Hsiao-Tsui Liu and King-Chuen Lin. “Laser-induced breakdown spectroscopy in analysis of Al3+ liquid droplets: On-line preconcentration by use of flowinjection manifold”. Analytica Chimica Acta.581(2), (303), 2007. [38] Suzuki,Honoh; Koike,Tomoko; Suzuki,Izumi; Kawabata, Tokimasa and Lee, I-Yin Sandy. “Localization of laser-induced breakdown in aggregates of silver nanoshells”. Science and Technology of Advanced Materials. 7, (290), 2006. [39] Mohamed, Walid Tawfik Y.. “Fast LIBS Identification of Aluminum Alloys”. Progress in Physics. 2, (87), 2007. [40] Mohamed, Walid Tawfik Y. and Askar, Abeer. “Study of the Matrix Effect on the Plasma Characterization of Heavy Elements in Soil Sediments using LIBS with a Portable Echelle Spectrometer”. Progress in Physics, 2007. [41] Nascimento, C. W. A., Barros, D. A. S.; Melo E. E. C. e Oliveira, A. B. “Alterações Químicas em Solos e Crescimento de Milho e Feijoeiro após a Aplicação de Lodo de Esgoto”. Revista Brasileira Ci. Solo, 28, (385), 2004. [42] Oliveira, F.C.; Mattiazzo, M.E.. “Metais Pesados em Latossolo Tratado com Lodo de Esgoto e em Plantas de Cana- de – Açúcar”. Scientia Agricola, 58 (3), (581), 2001. 56 [43] Boeira, R. C.; Ligo, M. A. V. e Dynia, J.F.. “Mineralização de nitrogênio em solo tropical tratado com lodos de esgoto”. Pesquisa Agropecuária Brasileira. Brasília, 37 (11),.(639), 2002. [44] Brown, S.; Angle, J.S. & Chaney, R.L. “Correction of limed biosolid induced manganese deficiency on a long term Field experiment”. J. Environ. Qual., 26, (1375), 1997. [45] Silva, J.E.; Resck, D.V.S. & Sharma, R.D. “Utilização do lodo de esgoto como fonte de fósforo e nitrogênio para milho”. Congresso Brasileiro de Ciência do Solo. Rio de Janeiro, 1997. [46] Crosswhite, H. M., “J. Res. NBS (U.S.)”. 79, (17), 1975. [47] Kaufman, V. and Hagan, L. “J. Opt. Soc. Am”. 69, (2329), 1979. [48] Thesis, C. M. Wu. “Univ. British Columbia”, 1971. [49] Phil, A. G. Shenstone. “Trans. Roys. Soc. (London)”. 241, (297), 1948. [50] Edlen, B. and Risberg, P. “Ark. Fys”. 10, (553), 1956. [51] Moore, C. E. “NSRDS-NBS 3”. Sect. 3, 1970. [52] Risberg, P. “Ark. Fys.” 10, (583), 1956. [53] Jones, K. M.; Julienne, P. S.; Lett, P. D.; Phillips, W. D.; Tiesinga, E. and Williams, C. J., “Europhys. Lett”. 35 (2), (85), 1996. 57 [54] Oates, C. W.; Vogel, K. R. and Hall, J. L. “Phys. Rev. Lett”. 76, (2866), 1996. [55] Volz, U.; Majerus, M.; Liebel, H.; Schmitt, A. and Schmoranzer, H. “Phys. Rev. Lett”. 76, (2862), 1996. [56] C. B. Ross, Jr., “Dissertation, Purdue Univ.”, 1969. [57] Risberg, G. “Ark. Fys”. 37, (231), 1968. [58] Eriksson, K. B. S. and Isberg, H. B. S., “Ark. Fys”. 23, (527), 1963. [59] Johansson, S. and Litzen, U., “Phys. Scr”. 10, (121), 1974. [60] Wood, D. and Andrew, K. L.; “J. Opt. Soc. Am.” 58, (818), 1968. [61] Johansson, I. and Contreras, R., “Ark. Fys”. 37, (513), 1968. 58 7. Apêndice 7.1. A Constante de Rydberg Para podermos entender melhor e até chegar ao valor da constante de Rydberg, fazse necessário um breve estudo acerca das órbitas de Bohr. Bohr, utilizando a condição de que “ O momentum angular de uma partícula de massa m, movendo-se com uma velocidade v, numa trajetória circular de raio, é L=mvr”. Assim, h ⇒ L = n 2π ⇒ mvr = nh 2π (1) (2) Como o elétron é mantido em sua órbita pela força eletrostática, que o atrai para o núcleo, então para passar de um estado estacionário a outro, ela deve ser compensada pela força centrífuga, ⇒ F= Ze 2 4π ε 0 r 2 (3) ⇒ F= mv 2 r (4) ⇒ Ze 2 mv 2 = 4π ε 0 r 2 r (5) ⇒ mv 2 r 2 Ze 2 = r 4π ε 0 (6) Então: Ze 2 ⇒ r= 4π ε 0 mv 2 (7) Como: 59 ⇒ mvr = nh 2π (8) Temos que: ⇒ r= ε 0n2h2 Ze 2π m (9) Z = 1 Para o Hidrogênio: n = 1 ∴ rH = ε 0h2 = 5,292 × 10 − 11 m ⇒ 0,05292nm 2 π me (Raio da órbita de Bohr) Os níveis de energia são calculados partindo do princípio de que a energia total E em qualquer estado é a soma das energies cinéticas e potencial: ⇒ E = Ec + E p ⇒ ⇒ E= − mv 2 Ze 2 − 2 4π ε 0 r Ze 2 Ze 2 Ze 2 + ⇒ − 4π ε 0 r 8π ε 0 r 8π ε 0 r (10) (11) Da equação (9) temos que: me 4 Z 2 2 ⇒ E = − 2 2 8 ε h 0 n (12) A frequência de uma linha espectral devido a transições entre níveis n1 e n2 é: 1 ⇒ υ = ( En1 − En2 ) h (13) me 4 Z 2 1 1 ⇒ υ = − 2 3 2 2 8 ε h n n 1 0 2 (14) Esta expressão teórica tem exatamente a forma da Lei experimental encontrada por Rydberg: 60 ⇒ R= me 4 = 109737 cm-1 2 8ε 0 ch 3 (15) Valor experimental: ⇒ R = 109677,57cm − 1 Estes dois valores estão em perfeita concordância com um erro experimental de aproximadamente ±0,012%. Para qualquer elemento químico, temos: 2 1 Z 2 me 4 2π ⇒ R = ch 3 4π ε 0 2 (16) 61 7.2. O Processo de Anodização 62