Desenvolvimento Microestrutural de Ferro Fundido Branco e Vermicular com Tratamento de Superfície por Laser (Microstructural Development of White and Vermicular Cast Irons after Laser Surface Treatment) Milton Sergio Fernandes de Lima1, Hélio Goldenstein2 Instituto de Estudos Avançados/CTA, São José dos Campos, SP, [email protected] 2 Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais, São Paulo, SP, [email protected] 1 Resumo Duas amostras de ferros fundidos, Fe-4,30Si-2,06C e Fe-0,97Si-4,16C (porcentagens em peso) chamadas aqui de Fe4Si2C e Fe1Si4C, respectivamente, foram tratadas superficialmente por laser. Foram realizados tratamentos de refusão utilizando-se um laser CW de CO2 com potência máxima de 1500W. A superfície dos corpos de prova foi inteiramente tratada com trilhas laser em linhas paralelas, com sobreposição parcial. A velocidade de deslocamento do feixe laser foi variada no intervalo 0,5 – 200 mm/s, objetivando impor diferentes taxas de resfriamento e observar o efeito microestrutural por metalografia óptica e eletrônica e difração de raios-X. A microestrutura inicial da amostra Fe4Si2C, composta por placas de carbonetos numa matriz perlítica, é austenitizada. A amostra Fe1Si4C inicialmente composta de grafita vermicular e esferoidal, torna-se ledeburítica com o tratamento laser. No presente estudo são apresentados a evolução das fases nas superfícies refundidas, a dissolução dos núcleos de grafita sob o laser e possíveis implicações do processo. Palavras-chave: Soldagem a laser; refusão a laser; ferros fundidos; difração de raios-X. Abstract: Laser remelting was employed to study microstructural transitions in two Fe-C-Si alloys: Fe-4.30Si-2.06C e Fe-0.97Si-4.16C (weight percent). Laser equipment was a 1.5 kW CO2-laser with beam velocities on the range 0.5 - 200 mm/s. The entire surface of the coupons was laser treated using consecutive parallel tracks. Optical and electron microscopy and X-ray diffraction methods were used to investigate the effects of laser beam speed on the surface microstructure. The sample Fe-4.30Si-2.06C, which is initially pearlitic, was re-austenitized by the treatment. The Fe-0.97Si-4.16C alloy, which was initially composed by spheroidal and vermicular graphite, developed a ledeburitic structure. The phase evolution, the graphite dissolution and some particularities of the process were discussed. Key-words: Laser beam welding; laser refusion; cast irons; X-ray diffraction. 1. Introdução Para um grande número de aplicações práticas é interessante obter peças apresentando propriedades diferentes na superfície, exposta a fenômenos de desgaste e de corrosão, necessitando de dureza e de estabilidade química, e internamente capazes de suportar as tensões mecânicas as quais o material é submetido. Um método, freqüentemente utilizado, consiste em partir de um material homogêneo e modificar a camada superficial por um tratamento térmico localizado ou por depósito de uma camada de um novo material, para obter as propriedades desejadas. A aptidão do laser em efetuar aquecimentos locais com versatilidade de utilização e a variedade de tratamentos que são possíveis, tornaram-no uma ferramenta importante para o tratamento superficial dos materiais. Para o tratamento de peças metálicas, o domínio de aplicações do laser está principalmente relacionado à formação de regiões tratadas de 1 a 200 µm sobre peças submetidas à altas solicitações mecânicas. Ainda que existam inúmeros processos para esta gama de aplicações (indução, tocha, plasma spray, TIG, bombardeio eletrônico, etc...), o laser possui vantagens exclusivas: • ligação metalúrgica perfeita entre a camada superficial e o substrato, devido ao crescimento epitaxial; (Recebido em 19/12/2004; Texto Final em 08/03/2005) Trabalho baseado em versão apresentada no XXX CONSOLDA – Congresso Nacional de Soldagem de 13 à 16 de setembro de 2004. Soldagem & Inspeção, Vol. 10, No. 1, Jan/Mar 2005 • zona afetada termicamente muito pequena, permitindo limitar as distorções na peça; • velocidades de resfriamento elevadas, permitindo o aparecimento de microestruturas extremamente finas e o aparecimento de novas fases; • excelente qualidade de superfície, com nenhum ou pequeno serviço de usinagem posterior; • ausência de contaminação química, nenhum líquido de resfriamento é necessário para a têmpera da peça. O processo é melhor realizável a atmosfera normal e facilmente automatizável, o que permite alta produtividade e versatilidade de utilização. Toda a gama de tratamentos e de formatos de peças a tratar podem ser escolhidas pela simples modificação do programa de pilotagem da estação de trabalho. Os processos de tratamento superficial por laser, que envolvem fusão localizada, podem ser divididos em três categorias: • Refusão a laser (laser remelting): onde a superfície do material é fundida e, devido a alta difusividade térmica do substrato, solidificada rapidamente. A geometria do banho líquido, bem como a homogeneidade do banho, podem ser controladas pelos parâmetros do processo. • Adição de elementos de liga por laser (laser alloying): é idêntico ao processo anterior, com a diferença de alterar a composição química do líquido pela deposição de um material sobre a superfície antes da fusão. 15 Desenvolvimento Microestrutural de Ferro Fundido Branco e Vermicular com Tratamento de Superfície por Laser Tabela 1 - Composição química (% peso) das ligas produzidas no trabalho e o carbono equivalente calculado. • Deposição a laser (laser cladding): é a deposição de um material com composição e propriedades diferentes do substrato. Este processo envolve a injeção de um pó sobre um pequeno banho líquido gerado pelo laser sobre o substrato. A refusão a laser de ferros fundidos tem recebido considerável interesse pela importância industrial e, também, devido as vantagens do processamento a laser [1]. Estas vantagens incluem a possibilidade de aumentar a resistência ao desgaste e à corrosão nos ferros fundidos nodulares, através da formação de uma camada ledeburítica na superfície [2]. Outras vantagens do processamento a laser incluem a baixa penetração térmica, o que provoca diminuição da distorção na peça e as facilidades de automação, velocidade e eliminação de efluentes. A importância do material e da técnica de processamento fez com que vários pesquisadores estudassem a refusão à laser dos ferros fundidos, com destaque para os trabalhos de Bergmann (Institut für Wekstoffwissenschaften II) [3-5], Steen et al. [2] e Tomlinson et al. [6, 7]. Apesar do volume de pesquisa na área, ainda existem dúvidas quanto a cinética de formação de fases quando a superfície dos ferros fundidos é tratada por feixes de alta energia. O presente trabalho pretende dar uma contribuição ao estudo das microestruturas observadas quando da refusão superficial a laser de ferros fundidos. O objetivo deste trabalho é a caracterização de duas ligas Fe-C-Si refundidas a laser, em um intervalo de velocidades de refusão entre 0,5 a 200 mm/s. estabelecendo uma superfície reprodutível em todas as amostras a serem tratadas. A rugosidade superficial medida é cerca de 1 µm Rz (DIN 4768). Os ensaios de refusão superficial foram realizados por um laser de CO2 com potência nominal máxima de 1500 W em regime contínuo (CW). Para a translação horizontal da amostra em relação ao laser, existe uma mesa de processo. As características do laser e da mesa são apresentadas na Tabela 2. Todas as funções do laser e da mesa são comandadas por um computador central IBH. Tabela 2 - Características do equipamento para refusão superficial 2. Materiais e Métodos Duas composições de ferros fundidos foram obtidas para o presente estudo. As composições químicas dos lingotes Fe4Si21C e Fe1Si42C são apresentadas na Tabela 1. O carbono equivalente (CE) é calculado segundo Chiaverini [8]. A microestrutura como solidificada das ligas é a seguinte: • Fe4Si21C: placas de carbonetos com um comprimento médio de 20 µm em uma matriz perlíitica. • Fe1Si42C, caracterizada pela solidificação segundo o sistema ferrita-grafita. Verifica-se que existe uma quantidade expressiva de grafita em forma de veios e uma pequena densidade de esferóides e vermículos. A porcentagem volumétrica média de grafita total, vermículos, nódulos e veios, é de cerca de 18 ± 4%. A fim de eliminar possíveis heterogeneidades e obter amostras reprodutíveis para os ensaios laser, os lingotes foram reduzidos a uma seção de 8 mm de espessura por 40 mm de largura e 90 mm de comprimento por eletro-erosão. Amostras prismáticas de 8 x 8 x 40 mm foram então produzidas a partir desse bloco. As amostras prismáticas a serem processadas por laser foram lixadas em papel SiC 1000, 16 O tratamento de superfície foi realizado pelo deslocamento do feixe laser sobre a amostra formando trilhas. A parcial sobreposição destas trilhas permitiu o tratamento de toda a superfície. A trilha laser foi realizada em uma extensão de 8 mm e o deslocamento lateral foi fixo em 0,4 mm. As análises por microscopia óptica foram realizadas em microscópios Zeiss. As observações em superfície eram realizadas por um leve lixamento (SiC 600-1000) e polimento em diamante (até 0,5 µm). Foram utilizados dois tipos de ataques químicos das microestruturas: Nital 2% (2 % de ácido nítrico em metanol) e ataque erosivo colorido (12 % NaOH, 1,7 % KOH, 1.7 % ácido pícrico, 85 % água destilada). As análises por microscopia eletrônica de varredura (MEV) foram realizadas em um microscópio Cambridge S-360 com fonte de LaB6, com resolução de 4 nm em 30 kV. As análises por difração de raios-X (DRX) nas amostras refundidas superficialmente foram realizadas em um difratômetro Siemens Diffrac 500 (configuração Bragg-Brentano) utilizando um tudo de Cobre com porta-amostras rotativo. Soldagem & Inspeção, Vol. 10, No. 1, Jan/Mar 2005 Lima, M. S. F.; Goldenstein, H. As análises químicas nos traços refundidos foram medidas por WDS em uma microssonda Cambridge, com tensão de aceleração de 12 kV e corrente do feixe de 30 nA. O feixe era pontual de 0,5 µm de diâmetro na superfície. Como padrão, foi utilizado uma amostra EURO-STANDARD No. 481-1 Cast Iron. Para obter-se um valor reprodutível de composições, o feixe foi desfocalizado para 2 µm e uma estatística de vinte pontos sobre o padrão era feita a cada sessão de trabalho. Assim, com a análise química automática no sentido transversal do traço obtém-se um perfil de composições de carbono e silício para a experiência realizada. sobreposição para a liga Fe4Si21C. A faixa escura é composta por carbonetos do tipo Fe3C. Na figura 4 são mostrados os resultados quanto a composição química das superfícies após a passagem do feixe laser em diferentes velocidades. A amostra Fe4Si21C sofre uma modificação expressiva na sua composição química após a passagem do feixe laser, em relação à composição analisada antes da refusão. 3. Resultados e Discussão Tanto as amostras de composição Fe4Si21C quanto Fe1Si42C foram submetidas as condições experimentais dadas na Tabela 3. Na tabela, V b é a velocidade de deslocamento do feixe laser, P e Pef são as potências nominal e efetiva (medida por potenciômetro) do laser, respectivamente, e n é o número de passes laser paralelos. Tabela 3 – Variáveis do processo de tratamento de superfície. Figura 1 – Micrografia de uma secção longitudinal da solda. Vb=5 mm/s. 3.1 Liga Fe4Si21C A perlita rapidamente se austenitiza sob o laser. A microestrutura nas trilhas laser é formada por dendritas de austenita com ledeburita interdendrítica. A figura 1 apresenta uma micrografia típica de um corte transversal, ao centro da solda, mostrando a região refundida, e o material base composto por plaquetas de Fe3C e re-austenitizado. A seta aponta para a direção onde o feixe se propagou. Na superfície, ficam evidentes as dendritas orientadas cristalograficamente, Figura 2. Uma vez que o tratamento envolve a composição de várias trilhas paralelas de refusão para tratar a superfície inteira, existe uma superposição parcial. Esta sobreposição parcial causa o reaquecimento das regiões laterais provocando algumas importantes reações de estado sólido. Entre as reações observadas estão: a maleabilização (crescimento de núcleos de grafita em estruturas ledeburíticas), a perlitização e a transformação martensítica. Os fenômenos que ocorrem durante a sobreposição parcial em ferros fundidos foram discutidos por Wang e Bergmann [3]. Na figura 3 é apresentada uma região onde houve esta Soldagem & Inspeção, Vol. 10, No. 1, Jan/Mar 2005 (a) (b) Figura 2 – Vista superior da zona refundida, mostrando o crescimento dendrítico a partir da borda da zona refundida para a liga Fe4Si21C. (a) Vb = 0,5 mm/s, (b) Vb = 2 mm/s. 17 Desenvolvimento Microestrutural de Ferro Fundido Branco e Vermicular com Tratamento de Superfície por Laser apresentadas micrografias que revelam com mais detalhes a microestrutura da liga Fe1Si42C após as trilhas laser em baixa velocidade (0,5 mm/s). As placas acinzentadas são cementita, enquanto a regiões lamelares são compostas por perlita fina. A austenita oriunda da solidificação se transforma em perlita durante o resfriamento e, ainda, alguma grafita é verificada (Figura 7b). Figura 3 – Micrografia óptica mostrando região de sobreposição das trilhas de refusão laser causando uma região transformada (escura). O teor de carbono passa de 2,07 para cerca de 1,7 % peso. Esta amostra apresenta certas impurezas e, provavelmente, uma quantidade importante de oxigênio em solução. Esse oxigênio não sofreu refino durante a produção do lingote, pois esta liga foi produzida ao ar. Assim, a diminuição do teor de carbono após a refusão está ligada à oxidação deste pelo gases dissolvidos no volume da amostra. Existe ainda uma pequena diminuição no teor de carbono para velocidades mais altas de refusão. Esta diminuição é verificada entre as velocidades de 0,05 e 0,2 m/s na Figura 4. Nestas velocidades, a potência é maior e portanto a temperatura do banho líquido também aumenta em relação as anteriores. Assim, é bastante provável que exista uma queima de carbono parcial durante o processo em altas velocidades. A evolução da distribuição de fases sobre a superfície tratada a laser é apresentada na Figura 5. Os difratogramas estão arranjados de tal forma que a velocidade de processamento aumenta com a altura relativa, portanto o espectro mais inferior representa a velocidade de 0,5 mm/s enquanto o superior representa 200 mm/s. Três fases são aparentes, seja: γ - austenita, α - ferrita e Fe3C - cementita. A relação entre fases indica que o processamento laser induz a retenção de austenita (em altas velocidades) ou a decomposição da austenita solidificada em perlita. A perlita é uma estrutura eutectóide de ferrita e cementita. 3.2 Liga Fe1Si42C A principal característica da liga Fe1Si42C é a solidificação segundo o diagrama Fe-Fe3C, formando um eutéctico chamado ledeburita. A figura 6 apresenta uma micrografia eletrônica de varredura da estrutura ledeburítica obtida pelo tratamento laser a 5 e 200 mm/s. Enquanto se verifica uma estrutura eutéctica mais regular na velocidade de 5 mm/s, a estrutura eutéctica mostra uma característica celular a 200 mm/s. Isto se deve ao fato que, em altas velocidades de crescimento, a distribuição de soluto a frente da estrutura eutética começa a ficar mais difícil [9]. A estrutura eutéctica então começa a experimentar uma certa curvatura que se traduz pela formação de leques como aqueles da figura 6b. Na figura 7 são 18 Figura 4 – Composição química média das trilhas refundidas na amostra Fe4Si21C. Círculos cheios representam a composição média de carbono e quadrados vazios o mesmo para o silício. A figura 8 apresenta a composição química média de carbono e silício para a liga Fe1Si42C após a refusão. Assim como foi visto na liga anterior, é verificado um decréscimo no teor de carbono em relação ao inicial, de 4,2 para cerca de 3,3 % peso. Neste caso, no entanto, outro fator é importante para explicar esta diminuição. As partículas de grafita, presentes na liga, tiveram apenas uma dissolução parcial durante o processamento [10]. Assim, uma parte do carbono não foi adicionado ao líquido, diminuindo o teor de carbono analisado. A Figura 9 apresenta uma micrografia típica do processo onde uma parte da grafita não foi dissolvida e encontra-se nas bordas da trilha laser. Similarmente ao que ocorre na composição anterior, verifica-se uma diminuição do teor de carbono em altas velocidades, devido a alta potência do laser. No que concerne o desenvolvimento das fases, a Figura 10 apresenta um difratograma da superfície em diferentes velocidades de varredura do feixe laser. Nos espectros, cinco fases estão presentes: α - ferrita, γ - austenita, Gr – grafita, Fe3C – cementita e ε - fase epsilon. A fase ferrita está presente em todos os espectros, mas em especial em baixas velocidades onde praticamente toda a austenita se decompos em perlita. A cementita também advém desta decomposição e, em maior quantidade, da própria solidificação da liga, portanto está presente em todos os espectros. A austenita se encontra retida em pequena quantidade. A grafita é esperada pela parcial dissolução dos módulos, conforme mostrou a figura 9. Finalmente, uma fase epsilon é verificada em altas velocidades de processamento, 100 - 200 mm/s. Esta fase está associada à deformação da célula da austenita quando supersaturada, no caso em C e Si, por um mecanismo parecido com a transformação martensitica convencional [11]. Soldagem & Inspeção, Vol. 10, No. 1, Jan/Mar 2005 Lima, M. S. F.; Goldenstein, H. Figura 5 – Difratogramas de raios-X das amostras refundidas a laser segundo a velocidade de varredura do feixe (à direita em mm/s). Liga: Fe4Si21C. (a) (b) Figura 6 – Estrutura ledeburítica obtida na superfície da liga Fe1Si42C após refusão laser.Velocidades: (a) 5 mm/s e (b) 200 mm/s (a) (b) Figura 7 – Micrografias eletrônicas de varredura da amostra Fe1Si42C mostrando estrutura ledeburítica, onde (a) austenita é decomposta em perlita. Na micrografia (b) verifica-se grafita residual. Soldagem & Inspeção, Vol. 10, No. 1, Jan/Mar 2005 19 Desenvolvimento Microestrutural de Ferro Fundido Branco e Vermicular com Tratamento de Superfície por Laser Figura 8 - Composição química média das trilhas refundidas na amostra Fe1Si42C. Círculos cheios representam a composição média de carbono e quadrados vazios o mesmo para o silício. Figura 9 – Trilha laser sobre a superfície da liga mostrando, nas borda do laser, o acúmulo de partículas de grafite que não foram dissolvidas no líquido. Figura 10 - Difratogramas de raios-X das amostras refundidas a laser segundo a velocidade de varredura do feixe (à direita em mm/s). Liga: Fe1Si42C. 20 Soldagem & Inspeção, Vol. 10, No. 1, Jan/Mar 2005 Lima, M. S. F.; Goldenstein, H. 4. Comentários O processamento laser das superfícies de ambas as ligas promoveu mudanças substanciais nos materiais. Para a liga Fe4Si21C, o tratamento é notavelmente austenitizante. Esta austenita possui um quantidade bastante elevada de carbono e silício, este último um elemento conhecidamente ferritizante. Portanto, esta austenita é instavel do ponto de vista termodinâmico e um tratamento conveniente deve promover a formação de ferrita e carbonetos complexos. Isto já é verificado na região de intersecção entre duas trilhas, Figura 9, mostrando a formação de uma região escura. No caso da liga Fe1Si42C, a solidificação é ledeburítica o que representa uma melhoria do ponto de vista das propriedades mecânicas na superfície. Alguns aspectos mais detalhados desta transformação, foram evidenciados pela análise realizada aqui. A perlitização rápida da austenita, a formação de ilhas de grafita parcialmente insolubilizadas e uma fase épsilon foram verificadas. Embora não tenha havido uma caracterização do ponto de vista mecânico/tribológico das regiões tratadas, é possível conjeturar sobre modificações sensíveis na performance e no tempo de vida das peças de ferro fundido. No momento, uma parceria para o desenvolvimento de aplicações desta tecnologia está em curso. 5. Conclusões A microestrutura das ligas depois do tratamento a laser é predominantemente austenita na liga Fe4Si21C e predominantemente ledeburita na liga Fe1Si42C. A austenita obtida em ambas as ligas rapidamente se decompõe em perlita. Nas amostras analisadas foi verificado que uma parte dessa grafita não é dissolvida quando o laser efetua uma trilha na superfície. Este fato causa uma diminuição no teor de carbono no líquido, em relação à composição de carbono total do ferro fundido (como analisado no estado bruto de fundição). Na liga Fe1Si42C, foi verificada a presença da fase hexagonal épsilon devido à deformação da rede da austenita supersaturada em carbono e silício. 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