ANAIS O LEGADO DA COPA DO MUNDO EM 2014 ANTONIO CARLOS ESTENDER ( [email protected] , [email protected] ) UNIVERSIDADE PAULISTA (UNIP) ALMIR VOLPI ( [email protected] , [email protected] ) UNIVERSIDADE PAULISTA (UNIP) MARCO AURELIO FITTIPALDI ( [email protected] , [email protected] ) CENTRO ESTADUAL DE TECNOLOGIA PAULA SOUZA (FATEC ITAQUAQUECETUBA Resumo: O tema sobre sediar eventos esportivos da magnitude de Copas do Mundo e Olimpíadas, atualmente gera discussões acaloradas a respeito se vale ou não o esforço e os investimentos necessários para adaptar a infraestrutura existente de acordo com as exigências dos organismos promotores de tais eventos. Análises de impacto econômico nem sempre fornecem dados suficientes para ser incontestáveis e confirmar que o evento terá impacto positivo no país sede. Dentre os motivos para que isso aconteça pode-se citar: propagação de erros ao estimar as premissas e o efeito de substituição do turismo em detrimento de outras áreas do país. Um outro problema que aparece em várias pesquisas é a falta de planejamento consistente na implementação dos vários projetos e o seu gerenciamento. A importância do gerenciamento de projetos vai além de gerir cronogramas: alinhar as expectativas de stakeholders quanto aos objetivos do projeto, entender e detalhar os escopos esperados, controlar o orçamento, atingir e entregar com qualidade os objetivos estipulados no projeto. A Copa do Mundo no Brasil tem grandes chances de alavancar melhoras significativas para a população, transformando o país que agora é apenas uma potência econômica em talvez um país menos desigual e mais acessível à sua população carente. Palavras Chave: Copa do Mundo, Gerenciamento de Projetos, Impacto Econômico, cidades sede 1. Introdução A Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos são qualificados como megaeventos, tanto que os estados, assim como a nação, competem vigorosamente para sediar esses eventos tal qual os atletas que participam deles. Por quê estes eventos despertam tanto interesse? Uma variedade de razões explica a busca para hospedar esses acontecimentos, mas não há razão que pareça mais atraente do que a promessa de um ótimo retorno econômico. Será que a Copa do Mundo pode dar um impulso à economia da nação anfitriã que justifique os elevados custos e riscos? Uma análise do Mundial de 1994, realizado nos Estados Unidos, sugere que o impacto econômico do evento não pode justificar essa magnitude dos gastos e que as cidades experimentam perdas acumuladas de US$ 5,5 a US$ 9,3 bilhões, contra as estimativas de ganho de US$ 4 bilhões de dólares elogiado pelos impulsionadores do evento. Países sede em potencial devem considerar com cuidado se a indicação da Copa do Mundo é uma honra ou um fardo. Mesmo com a escolha oficial, se o Brasil não realizar todos os procedimentos exigidos pela FIFA, esta pode mudar a sede da Copa do Mundo até meados de 2012 (COPA DO MUNDO DE 2014 NO BRASIL, 2011). Se as questões de segurança e infra-estrutura forem sanadas, o sonho de realização da Copa do Mundo no país com mais títulos mundiais será 1/15 ANAIS concretizado após 64 anos. Mesmo com toda a incompetência dos políticos em quase todas as áreas para a realização de evento deste porte (caos aéreo, energético, corrupção, violência, entre outros) e denúncias de superfaturamento nas obras dos Jogos Pan-Americanos de 2007, será difícil o Brasil deixar de ser sede da Copa do Mundo de 2014. Contudo, pode-se identificar claramente objetivos individuais das mais diversas razões dos países interessados em sediar uma copa do mundo de futebol, além dos lucros diretos com o evento e, em função disso, acredita-se que o principal objetivo do Brasil com a realização da Copa do Mundo em 2014 seja demonstrar ao mundo sua capacidade de investimentos, gestão destes investimentos e disponibilidade de profissionais capacitados, além da seriedade do país frente a desafios internacionais, objetivos estes que podem estar em risco diante dos dados apresentados nos jogos Pan-Americanos. O Brasil rural e analfabeto é hoje uma economia que faz diferença para o mundo. O país continua a penar com uma série de mazelas, algumas tão ou mais vergonhosas que as vividas no passado (NOVA CHANCE AO BRASIL, 2011). Mas os avanços econômicos e sociais, ainda que insuficientes, são inquestionáveis. Até a Copa de 2014, espera-se que o Brasil atinja um novo patamar e se consolide como uma das maiores economias do mundo. Como antes, também agora o mundial chega num momento em que o país está na moda. Relembrar a transformação econômica, social e política no período de 64 anos entre as duas copas brasileiras não deixa de ser um balanço do que conseguimos produzir como sociedade. 2. Problema de Pesquisa e Objetivos Sediar a copa do mundo, o segundo maior evento esportivo mundial, é um caso potencialmente caro. Os co-anfitriões dos jogos de 2002, o Japão e a Coréia do Sul, gastaram juntos US$ 4 bilhões de dólares em prédios novos ou reformando antigas instalações em preparação para o evento. Com base no exposto este trabalho tem por objetivo lançar luz sobre este assunto utilizando a experiência de outros países sede e ressaltar a importância que a área de gerenciamento de projetos deve ter, para que fracassos do passado não se repitam no Brasil em 2014. Deste modo o problema de pesquisa inferido é: como as práticas do gerenciamento de projetos podem garantir que um evento temático, como a copa do mundo, deixe um legado de sucesso para o país sede? 3. Perspectivas Privada e Governamental Grandes eventos esportivos fascinam a humanidade há muitos anos sejam eles os jogos olímpicos, copas mundiais de futebol, campeonatos pan-americanos, dentre outros. Tais eventos sem dúvida podem ser considerados fenômenos de popularidade. As entidades governamentais e instituições públicas também têm apresentado maior interesse em grandes eventos esportivos e tal fato tem despertado a necessidade de identificar as perspectivas econômicas e sociais. Entidades governamentais preocupam-se com o retorno dos elevados investimentos requeridos para a realização de eventos como Copas do Mundo de Futebol e Olimpíadas, e com a sua comparação com outras opções de investimentos. Organizações privadas, que também alocam recursos vultosos em eventos esportivos, igualmente se defrontam com as decisões de composição dos seus investimentos em marketing. Situações como estas têm levado economistas e administradores públicos e privados a realizar estudos cada vez mais complexos e detalhados sobre a realização de eventos esportivos. Contudo, a análise desta categoria de investimento é ainda uma atividade em evolução e tem recorrido a abordagens e metodologias diversas, levando a discussões sobre sua eficácia. 2/15 ANAIS 4. As Perspectivas Privada e Governamental Os megaeventos esportivos são, em sua maioria, eventos de curto prazo com conseqüências de longo prazo para as cidades sedes. Os resultados e as conseqüências geralmente mencionadas na literatura são: a provisão de infraestrutura, os impactos econômicos e sociais, a renovação ou criação da imagem da cidade por meio da mídia, particularmente da TV, dentre outros. Os megaeventos geram oportunidades para acelerar o crescimento e o desenvolvimento das cidades-sede, dão visibilidade internacional ao país, estimulam novos empreendimentos e movimentam a economia. Além disso, implicam em grandes obras, impulsionam melhoria da infraestrutura e dos transportes urbanos, deixando um legado às comunidades locais e à população. Nesse sentido a escolha do Brasil como sede da Copa de 2014 e do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos de 2016 abre um debate mais amplo que o esportivo e, traz ao cidadão importantes benfeitorias que vão do planejamento urbano, transportes, logística, comunicação, até a arquitetura de novos edifícios, iluminação, mobiliário, interiores e paisagismo de espaços públicos, o que resulta na construção de uma nova infraestrutura urbana e metropolitana. De acordo com Roche (1994), usualmente também é assumido que os megaeventos trazem conseqüências futuras em termos de turismo, realocação de plantas industriais e investimentos externos. Neste sentido Jones (2001) argumenta que para muitas cidades os megaeventos podem ser um “atalho” para conseguir um reconhecimento global por meio da exposição de mídia, o que pode ser bom para um destino turístico caso o evento seja um sucesso, ou até mesmo, destrutivo caso o evento possua falhas perceptíveis para todos os participantes: atletas, familiares, imprensa e torcedores. Roche (1994) relata que os estudos e planejamentos realizados geralmente antes dos eventos tendem a focar os benefícios econômicos e sociais que o acontecimento em questão pode gerar. No entanto, de acordo com Higham (1999), existe um crescente número de pesquisas acadêmicas sobre os efeitos negativos ou ambivalentes dos megaeventos, tanto do ponto de vista econômico quanto social. Mules (1998) enfatiza os chamados efeitos de transbordamento associados à realização de eventos esportivos, a exemplo dos benefícios que podem propiciar a setores econômicos relacionados à sua ocorrência, representados pela elevação do nível de atividade em áreas como a construção civil, hotelaria, alimentação, transporte, equipamentos e materiais esportivos e não esportivos. Há ainda benefícios que ocorrem no longo prazo, como a promoção de uma cidade ou região como destino turístico, o que fomentará o incremento de gastos turísticos. Principalmente em países em desenvolvimento a realização de grandes eventos esportivos está associada à criação de uma infraestrutura de apoio, o que significa montante significativo de recursos ou dívidas em longo prazo que podem onerar as contas públicas, além de prejudicar áreas com necessidade de investimentos em curto prazo como: saúde, educação e bem estar. Estima-se que a Copa do Mundo de Futebol de 2014 demandará investimentos de US$ 5 bilhões. Deve-se levar em conta, no tocante à precisão de estimativas, que os Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro, inicialmente orçados em 500 milhões de reais, tenham consumido mais de 4 bilhões de reais. Os investimentos requeridos para a Copa de 2010 da África do Sul foram estimados em 2 bilhões de dólares. Outro ponto de atenção é o planejamento destes megaeventos, que segundo histórico, centraliza análise nos efeitos ou impactos e não nas causas. No entanto, o planejamento dos eventos pode ser determinante ao sucesso ou fracasso (Planejamento Urbano e Turístico). A questão política é relevante nesta análise, visto que algumas vezes não se trata de uma análise custo-benefício, entendendo que 3/15 ANAIS a visão objetiva e técnica pode ser prejudicada pelos interesses políticos, conflito de interesses entre a sociedade local, os organizadores e os patrocinadores. O objetivo principal dos grandes eventos esportivos é que os diferentes segmentos sociais e econômicos apropriem-se dos benefícios diretos e indiretos decorrentes da sua ocorrência. Com isto, obtêm reflexos positivos no PIB (Produto Interno Bruto) em escala nacional, estadual ou regional, a depender da abrangência do evento. A Copa do Mundo de 2014, por exemplo, deverá ter impactos econômicos que se distribuirão por todo o país, a partir das competições que se realizarão nas cidades-sede escolhidas. A análise econômica que organizações privadas fazem de eventos esportivos enfatiza a renda financeira deles e os gastos associados. Pode-se identificar um conjunto de benefícios diretos e indiretos a eles relacionados, a exemplo daqueles apontados pelo Dossiê do Esporte (2006), como a conquista de novos clientes, a geração de maior volume de negócios, a fixação da imagem dos seus produtos, a promoção das suas marcas, a associação de produtos e marcas a características favoráveis de atletas ou de equipes, o fortalecimento da sua imagem pública, a obtenção de reconhecimento, a realização de programas de fidelização e de relacionamento com clientes, por meio, por exemplo, de centros de hospitalidade. Abaixo enumeramos alguns dos benefícios intangíveis para o governo • • • • • • • • • • • • • • Maior interesse pelo país e modificação do seu perfil junto à comunidade internacional Aumento do turismo e do investimento estrangeiro direto Possibilidade de realização de outros eventos no país Aumento da confiança e do orgulho da população local Re-uso de materiais para habitações Diminuição de pressão sobre a previdência social Benefícios tangíveis para a iniciativa privada R 12,7 bilhões (US$ 1,23 bilhão) em receitas advindas de gastos de espectadores Benefícios intangíveis para a iniciativa privada Maior demanda por facilidades e serviços turísticos Receitas adicionais provenientes de eventos similares Novos investimentos estrangeiros diretos Parcerias público-privadas para a oferta de equipamentos Oportunidades de marketing No caso dos megaeventos esportivos os efeitos diretos e indiretos causados pelos gastos dos espectadores, equipes esportivas e jornalistas visitantes são considerados os maiores geradores de benefícios para a economia local. Os métodos para estimar estes efeitos derivam dos modelos econômicos desenvolvidos para estimar os impactos econômicos do turismo, que podem variar desde o modelo de Insumo-Produto (ARCHER 1984, FLETCHER 1989) até o modelo de equilíbrio geral, amplamente estudado e desenvolvido por pesquisadores na Universidade de Nottingham - UK. No entanto, esses modelos possuem falhas no que diz respeito à questão temporal que caracteriza os megaeventos. Pela natureza destes eventos, pode-se dividir um estudo de impacto econômico para um megaevento em três fases distintas: Pré Evento: os impactos na fase anterior a realização do evento incluem os gastos e seus impactos em atividades como: estudos e planejamento para a realização do evento; investimentos para o processo de licitação; gastos com treinamento; gastos com marketing; investimentos realizados para a construção do(s) complexo(s) onde serão realizados os eventos esportivos e investimentos em infraestrutura de apoio e logística para a realização do 4/15 ANAIS evento, isto reflete no aumento dos preços de imóveis. Os impactos econômicos desta fase têm dimensão temporal finita. Evento: os impactos durante o evento derivam dos gastos realizados pelos espectadores, equipes esportivas e jornalistas nas mais diversas atividades relacionadas com o evento e com a atividade turística gerada: hotelaria, transporte, alimentação, souveniers, impostos, entre outros. Além destes gastos pode-se incluir os aluguéis de espaço físico e publicitário, as taxas cobradas e os salários pagos aos prestadores de serviço no evento. Os impactos econômicos desta fase também têm dimensão temporal finita. Pós-Evento: os impactos derivados do legado de infra-estrutura disponível após a realização do evento; a exposição da mídia internacional e o conseqüente aumento de turistas para a cidade; a capacidade instalada para sediar futuros eventos, entre outros. Os impactos econômicos desta fase, em caso de sucesso do evento, podem ter a dimensão temporal infinita o que dificulta a sua mensuração. O custo da realização de eventos esportivos e o nível da concorrência entre cidades, países e regiões para sediá-los têm provocado o aumento da importância da avaliação dos seus impactos econômicos para subsidiar as decisões referentes à sua realização. Tal avaliação requer a identificação dos seus custos e benefícios, tantos aqueles de natureza direta quanto indireta e intangível. Os modelos discutidos apresentam variações no tocante aos custos e à complexidade do seu emprego, bem como ao cômputo de custos e de benefícios, mas podem se complementar e contribuir para o aumento da eficácia do processo decisório, tanto de natureza pública quanto privada. Essa eficácia é cada vez mais relevante, em decorrência da elevação dos custos e dos riscos associados à realização de eventos esportivos, particularmente os de grande porte, como as Copas do Mundo de Futebol. Os exemplos apresentados enfatizam a importância da avaliação da razão custo/benefício de tais eventos uma vez que, como se viu, há uma variação importante no nível dos investimentos requeridos e dos benefícios que proporcionam, além dos riscos envolvidos com a sua oferta, a exemplo daqueles associados à violação da propriedade intelectual. Outra questão importante a ser considerada é a da eficácia da gestão de programas e projetos para a implementação de eventos esportivos, de modo a contribuir para a consecução dos resultados econômicos inicialmente previstos. 5. Metodologia O presente estudo classifica-se como um ensaio teórico-empírico, que buscam, segundo Lakatos e Marconi, (1999) e Silva e Menezes (2000), solução para problemas específicos, envolvendo verdades e interesses locais. Yin (1994) define que, embora esta estratégia tenha sido estereotipada como fraca entre os métodos de ciências sociais, ela tem sido bastante utilizada nas pesquisas desta área, em campos orientados pela prática e como estratégias nas pesquisas de teses e dissertações. Existem algumas condições para a escolha da estratégia de pesquisa, independente da finalidade desta ser exploratória descritiva ou explanatória, mesmo que a fronteira entre as estratégias como experimento, pesquisa de campo, análise de arquivo histórico e estudos de casos, não seja clara e bem definida. A pesquisa realizada foi exploratória, pois, buscou-se um entendimento sobre a natureza geral do problema e as variáveis relevantes que precisam ser consideradas (AAKER, 2001). Para tanto utilizou-se dados secundários obtidos de fontes em pesquisas bibliográficas, em sites especializados e periódicos. Os impactos dessa copa foram abordados, com maior nível de detalhamento, na Safri (South Africa Initiative of German Business) Conference, realizada em Hamburgo, em 19 de outubro de 2005, na Embaixada da África do Sul. 5/15 ANAIS 6. Modelo de Mensuração dos Impactos de Eventos Esportivos Sediar a Copa do Mundo traz custos e benefícios significativos. Um dos requisitos para que o COI, Comitê Olímpico Internacional, aprove inicialmente a candidatura e, esta possa competir de igual para igual com outras, é de haver um apoio incondicional dos habitantes da região. Desta maneira os comitês organizadores normalmente utilizam de estudos econômicos que apresentam um expressivo impacto positivo para a região, indo desde a criação de inúmeros empregos, passando por aumentos da produção industrial e de salários e chegando até a melhoria na qualidade de vida em geral, para agradar a opinião pública. No lado dos custos a FIFA exige que o país anfitrião forneça, pelo menos, oito e, de preferência dez estádios modernos com capacidade para acomodar entre 40 mil a 60 mil espectadores. Para o evento de 2002 no Japão e na Coreia do Sul, cada um ofereceu dez estádios distintos. Como nenhum país tinha uma grande infraestrutura existente para o futebol, a Coréia do Sul construiu dez novos estádios a um custo aproximado de 2 bilhões de dólares. O Japão construiu sete novos estádios e reformou outros três a um custo de 4 bilhões de dólares. O investimento total para a nova infraestrutura no Japão. Os custos operacionais de um mega evento também são enormes e estão crescendo. Na sequência dos incidentes terroristas nos Jogos Olímpicos de 1972 e 2000 e, em 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, medidas de segurança. A Grécia gastou 1 bilhão de dólares em segurança para os Jogos Olímpicos de 2004. Pode o impacto económico de um evento, mesmo do tamanho da Copa do Mundo, compensar o país anfitrião pela infraestrutura e substanciais custos operacionais? Análises de impacto econômico elaboradas por organizadores dos eventos previram grandes ganhos econômicos ao se hospedar uma Copa do Mundo. O comitê organizador da copa de 1994, dos Estados Unidos, previu que: cerca de um milhão de visitantes internacionais viajarão para os Estados Unidos em conjunto com a Copa do Mundo, tornando o evento uma das atrações turísticas mais importantes da história americana. O impacto econômico da Copa do Mundo de 1994 poderia, em uma visão conservadora, ser superior a quatro bilhões de dólares nos Estados Unidos.” (GOODMAN E STERN, 1994). A licitação da África do Sul para a Copa do Mundo de 2006 foi baseada, em parte, na promessa de que iria apoiar a economia em aproximadamente 6 bilhões de dólares e criar cerca de 129.000 novos postos de trabalho (KHOZA, 2000). Um estudo realizado pelo Instituto de Estudos para os Direitos Humanos Dentsu estimou um impacto de 24,8 bilhões de dólares no Japão e um impacto de 8,9 bilhões de dólares na Coréia do Sul. Em percentagem do rendimento nacional total, estes valores representam 0,6 e 2,2 por cento do total da economia japonesa e sul-coreana, respectivamente (FINER, 2002). A promessa de um impacto econômico considerável fornece uma justificativa para os subsídios públicos em infraestrutura de um megaevento. Promotores de subsídios para mega eventos em todo o mundo afirmam que os gastos devem ser devidamente tratados como investimentos que geram retornos econômicos. Reivindicações que os esportes megaeventos fornecem um impulso significativo para a economia da cidade anfitriã, região e país tem sido fortemente criticados por alguns estudiosos. Em relação ao número de turistas atraídos para a competição dados referentes à Copa do Mundo de futebol de 2002 (Coréia – Japão) demonstram que entraram na Coréia, durante o período da competição, 403 mil turistas, sendo que destes 232 mil tinham como interesse principal da viagem acompanhar os jogos. Aproximadamente 500 milhões de dólares americanos foram injetados na economia local, sendo que destes, a metade foi no setor de cultura e recreação. Os gastos com ingressos foram computados dentro deste setor, o que pode 6/15 ANAIS ter sido superestimado. Em relação aos outros setores, haviam maiores gastos em acomodação, mas estando os souvenirs na segunda posição, à frente da alimentação. Utilizando-se de dados provenientes dos Ministérios do Turismo dos países-sedes, durante o período da Copa do Mundo entraram no Japão 482 mil turistas, enquanto que na Coréia entraram 463 mil. O fato é que o número de turistas não foi significativamente maior em relação ao ano anterior, obviamente sem a edição da Copa do Mundo. A análise da Copa do Mundo de 1994 realizada nos Estados Unidos demonstra que o impacto estimado pelos organizadores, de quatro bilhões de dólares, revelou-se em perdas acumuladas entre 5 e 9 bilhões de dólares pelas cidades. Isto decorreu pelos motivos de que a Copa do Mundo é realizada em um espaço de tempo maior, mas como não há jogos diariamente, isto causa um acúmulo de pessoas pelas cidades, afugentando turistas não-relacionados ao evento ao mesmo tempo que estas cidades não poderiam sediar nenhum outro evento. O exagero dos benefícios induzidos por um megaevento desportivo pode ocorrer por várias razões. Em primeiro lugar o aumento dos gastos diretos atribuíveis aos jogos pode ser “bruto” em oposição a uma medida “líquida”. Alguns defensores de subsídio estimam gastos diretos simplesmente somando todas as receitas associadas ao evento. O fato de que a abordagem de gastos brutos não conta para a diminuição das despesas diretamente imputáveis ao evento representa uma grande lacuna teórica e prática. A falta de consideração pela diferença entre as despesas brutas e líquidas têm sido citados por economistas como uma razão principal pelos quais eventos esportivos ou de equipes não contribuem tanto para as economias metropolitanas como os entusiastas dizem (BAADE, 1996). No entanto, no caso de um torneio de futebol internacional, uma proporção muito grande de todas as pessoas vem de outros países e seus gastos qualificam-se como despesas de exportação. Além disso, os moradores do país de acolhimento que não freqüentam o evento provavelmente não reduzirão seus gastos no país, mesmo que temporariamente evitem as cidades ou bairros dos estádios. Assim, despesas diretas dos não residentes que freqüentam os eventos. Infelizmente alguns turistas, que poderiam visitar o país, decidam não fazê-lo por causa do congestionamento e dos preços elevados durante o período do evento. O impacto econômico dos Jogos Olímpicos de Verão de 2000 em Sydney, Austrália, indicou que o “efeito de substituição” pode ser substancial, mesmo nos casos em que o evento tem um caráter internacional claro. Uma pesquisa feita pela consultoria Arthur Andersen (2000) sobre a atividade de hotéis em Sydney e outras capitais, antes e durante os Jogos Olímpicos celebrados, concluiu que a maioria dos hotéis de Sydney chegou próximo a uma taxa de ocupação de 100% durante o período dos Jogos. Comparado a quinzena anterior ao evento representou um aumento de 49% nos níveis de ocupação. Em contrapartida, outras capitais experimentaram deficiências em demanda significativas para o mesmo período. Por exemplo, ocupações em Melbourne e Brisbane despencaram de 19% e 17% na segunda quinzena de setembro em relação ao período de 1-15 de Setembro. Em termos globais, com exceção de Sydney e Adelaide, todos os mercados de hotéis na Austrália, experimentaram um declínio na taxa de ocupação em Setembro de 2000 em relação a setembro de 1999, apesar dos Jogos Olímpicos, como relatado na indústria hoteleira Benchmark Survey 2000. Hoteleiros indicam que enquanto a demanda internacional foi forte..., viagens de lazer doméstico tradicionalmente ocorrendo durante o período de férias escolares de Setembro foi deslocado para Sydney para as Olimpíadas. O relatório de Andersen (2000) indica a importância do “efeito de substituição”, e obriga a consideração de que, se for o caso, as entidades governamentais devem estar envolvidas no subsídio destes acontecimentos esportivos. Os ganhos de Sydney podem muito bem ter vindo em detrimento de outras cidades australianas, caso o governo federal subsidiou os jogos deve haver uma justificativa para o enriquecimento de Sydney, em detrimento de Adelaide e outras cidades da região. 7/15 ANAIS A segunda razão que o impacto econômico pode ser exagerado se refere ao que os economistas relatam como multiplicador, a noção de que aumentos de gastos diretos induzem rodadas adicionais de gastos devido a aumento da renda que ocorrem como resultado das despesas adicionais. Se os erros são feitos para avaliar os gastos diretos, esses erros são agravados no cálculo das despesas indiretas. Além disso, a análise correta do multiplicador inclui todas as “fugas” do fluxo circular de pagamentos e usa multiplicadores que são apropriados para a indústria de eventos. As fugas podem ser significativas dependendo do estado da economia. Se a economia está muito próxima do pleno emprego, por exemplo, pode ser que o trabalho essencial para a realização do evento reside em outras comunidades onde o desemprego ou um excesso de mão de obra existe. Na medida em que isso for verdade os gastos indiretos, que constituem o efeito multiplicador deve ser ajustado para refletir essa fuga de receita e despesa subseqüente. Trabalho não é o único fator de produção que pode repatriar rendimentos. Caso hotéis experimentem uma taxa de ocupação superior ao normal durante um megaevento, então a questão a ser levantada foca-se sobre a fração de maiores ganhos que permanecem na comunidade. Em suma, para avaliar o impacto dos megaeventos, a abordagem da balança de pagamentos deve ser utilizada. Ou seja, em que medida o evento dará origem a entradas e saídas de dinheiro que não ocorreriam na sua ausência? Como os modelos de insumo-produto usados nas mais sofisticadas análises são baseados em relações fixas entre as entradas e saídas, esses modelos não levam em consideração as sutilezas do pleno emprego e propriedade de capital notado aqui. Como uma alternativa para estimar a variação nos gastos e as mudanças associadas na atividade econômica, aqueles que fornecem bens e serviços diretamente para acolher o evento poderiam ser questionados sobre como suas atividades foram alteradas pelo evento. Resumindo a eficácia desta técnica Davidson (1999) afirma: O maior problema dessa abordagem é que esses gestores de empresas devem ser capazes de estimar o quanto "a despesa" extra" foi causada pelo evento esportivo. Isto exige que cada proprietário tenha um modelo do que teria acontecido durante esse período se o evento esportivo não tivesse ocorrido. Esta é uma exigência extrema, o que limita severamente a esta técnica. A terceira razão pelo qual o impacto econômico estimado pode diferir após a realização do evento é a forma de gerenciar a aplicação dos recursos disponíveis para a infraestrutura das cidades-sede. Muitas pesquisas realizadas em empresas públicas e privadas demonstram que grande parte dos projetos implementados apresentam atrasos, custo acima do orçado ou qualidade indesejada. Segundo o estudo publicado pelo PMI (chapters Brasileiros) com empresas no Brasil, em 70% dos projetos o prazo estipulado no cronograma inicial não é cumprido. Pensando em projetos que a data não é negociável, como a realização de mega eventos esportivos como a Copa do mundo, a não entrega dos projetos seria catastrófica para a economia e imagem do país organizador. Projetos de lançamentos de arenas esportivas, que serão o palco do evento, motivo pelo qual milhares de turistas se deslocaram até o país e a inauguração de infraestrutura de transportes públicos, como novas linhas de trens e metrôs e novos aeroportos, que auxiliarão na movimentação desta parcela extra de pessoas são vitais para o sucesso do evento. O Brasil tem um grande desafio nestes próximos anos, pois, encontra-se na fase de planejamento dos investimentos para dois megaeventos: Copa do Mundo e as Olimpíadas. Esta fase é crucial em gerenciamento de projetos e basicamente define o sucesso ou não do mesmo. A pesquisa de benchmarking realizada pelos chapters brasileiros do PMI para o ano de 2009 revela alguns fatos interessantes e também preocupantes. Uma das áreas que mais investem em gerenciamento de projetos, o setor de Engenharia (empresas que serão 8/15 ANAIS responsáveis por construir a infraestrutura necessária para os megaeventos que serão sediados no Brasil) utilizam fato em apenas 27% das vezes uma metodologia de gerenciamento de projetos, conforme gráfico 1. Isso é realmente alarmante quando estas se encontram prestes a necessitar de todo o conhecimento disponível para melhor gerenciar projetos e evitar problemas. Desta maneira, os resultados também são apresentados pela pesquisa, e como é de se supor estão alinhados a esta falha de baixa utilização efetiva de uma metodologia de gerenciamento de projetos. Os dados dos gráficos a seguir demonstram graves problemas nos projetos, tais como: 82% das empresas de engenharia atrasam cronogramas (gráfico 2), 82% ultrapassam o custo estabelecido (gráfico 3), 64% relatam que a qualidade é insatisfatória (gráfico 4). Nota-se, conforme o gráfico 5, que a falta de gestão organizacional corresponde a 36%, a falta de clareza dos objetivos representa 20% e o inadequado planejamento/monitoramento atingem 15%, todas estas falhas podem tornar um projeto inviável. Tomando-se em consideração os eventos mundiais, que atraem muitos investimentos, esses erros podem expor um certo grau de amadorismo por parte das empresas envolvidas, o que chega a ser inaceitável. Gráfico 1 – Utilização efetiva de uma metodologia de Gerenciamento de projetos Fonte: Estudo de Benchmarking em Gerenciamento de Projetos, Project Management Institute (2009) Os reflexos estão explicitados abaixo. 9/15 ANAIS Gráfico 2 – Porcentagem de Projetos que atrasam o cronograma (por setor econômico) Fonte: Estudo de Benchmarking em Gerenciamento de Projetos, Project Management Institute (2009) Gráfico 3 – Porcentagem de Projetos que ultrapassam o custo estabelecido (por setor econômico) Fonte: Estudo de Benchmarking em Gerenciamento de Projetos, Project Management Institute (2009) 10/15 ANAIS Gráfico 4 – Porcentagem de Projetos em que a qualidade é insatisfatória (por setor econômico) Fonte: Estudo de Benchmarking em Gerenciamento de Projetos, Project Management Institute (2009) Com três fatores que explicam o insucesso econômico de megaeventos esportivos é possível prever o esforço que o governo e iniciativa privada terão que fazer para poder cumprir com o cronograma do evento, com uma qualidade que possa mostrar aos turistas que o pais tem capacidade para crescer de forma organizada e respeitando prazos e custos. Isso sim será a mais valiosa medalha de ouro que o país poderá receber durante estas competições. O número, o tamanho e a complexidade dos Projetos de Capitais (CAPEX) têm crescido significativamente e são mandatoriamente aumentados nos preparativos para os megaeventos como a Copa do Mundo de Futebol. De acordo com a pesquisa de gestão de projetos feita pela PwC Global, intitulada Boosting Business Performance through Programme and Project Management, apenas 2,5% das companhias entregam seus projetos dentro do prazo, dos custos, do escopo e com os benefícios esperados para o negócio, sendo as principais causas disso relacionadas a aspectos gerenciais. Existem também quatro grandes dimensões relativas ao impacto não-econômico, que poderiam ser denominadas como: psicológica; cultural; social; e a percepção dos respondentes em relação ao impacto econômico. Primeiramente, adentrando no impacto psicológico, encontra-se que este é composto pela satisfação em sediar um evento esportivo, na criação de um orgulho de pertencimento, no fato que o esporte pode ser considerado como um denominador comum, na felicidade coletiva, na criação de uma identidade regional ou até mesmo local, e na formação de um orgulho cívico. Por sua vez, o impacto social seria composto por: melhora da qualidade dos trabalhadores da região pelos treinamentos necessários para a organização do evento esportivo; a melhora na qualidade de vida geral dos habitantes através dos altos investimentos em infra-estrutura; a revitalização de bairros menos favorecidos que esta nova infra-estrutura propiciará; e na fomentação de um espírito de comunidade pelo fato de que muitos moradores trabalharão como voluntários na organização do evento. Outro impacto não-econômico seria o cultural, sendo este composto pelo: intercâmbio entre as mais diversas culturas decorrentes do alto número de turistas estrangeiros que são esperados na cidade-sede; fortalecimento da cultura local por meio de ações que 11/15 ANAIS visam apresentar esta cultura para os viajantes estrangeiros; fortalecimento do nacionalismo por meio desta valorização da cultura local; e reconhecimento por parte dos estrangeiros dos valores locais. A última dimensão existente seria a percepção dos possíveis impactos propiciados pela realização do mega-evento na cidade. A percepção seria mensurada tanto nos residentes, quanto nos turistas que presenciaram o mega-evento in loco, e englobaria tanto os impactos econômicos quanto os não-econômicos. Gráfico 5 – Problemas mais frequentes em Projetos Fonte: PwC Capital Project Services Global Practice (2010) Grandes projetos de investimento trazem consigo altos riscos envolvidos, tais como definição precária de requerimentos, planejamento inadequado, falta de comprometimento dos stakeholders ou de conjunto de habilidades críticas, falha ao antecipar obstáculos, escassez de recursos, estrutura ou controles insuficientes, falta de suprimentos e equipamentos, ruídos na comunicação, definição inadequada de papéis e responsabilidades ou falhas no endereçamento de problemas de conformidade com normas e leis. Entregar no prazo, dentro do orçamento e das especificações não é mais suficiente. Para ser considerado bem sucedido é necessário demonstrar claramente que alcançou os objetivos propostos, geriu efetivamente as mudanças e transições, atendeu as expectativas dos stakeholders e realizou os benefícios de negócio. Assim, para aumentar a probabilidade de sucesso nos projetos se faz necessária a antecipação dos riscos inerentes, instituírem processos de gestão eficientes, prover controles eficientes e acompanhá-los e gerenciar todas as fases do projeto para assegurar os resultados esperados. Nesse contexto São Paulo está entre as capitais mundiais do luxo, entretenimento e gastronomia. É líder em turismo urbano reunindo sofisticação, requinte, agitação e uma infinidade de atrações. Embora São Paulo seja considerada a 19ª cidade mais rica do mundo e a 14ª mais globalizada possui problemas urbanos como congestionamentos, saturação do transporte público, degradação do centro histórico, poluição do ar e dos rios e ocupação desordenada das áreas de mananciais. A Cidade de São Paulo é uma das cotadas para receber a partida inaugural da Copa de 2014, já possui experiência no planejamento e operação de trânsito para grandes eventos, a partir da organização para a Fórmula 1. Esse modelo está sendo incorporado pela Fifa. O desafio é equacionar a questão do estacionamento, dentro de uma política mais geral e não apenas de atendimento aos jogos e eventos realizados no Estádio do Morumbi. Estima-se que a maioria dos 1,6 milhão de turistas esperados para a 12/15 ANAIS Copa de 2014 passem pela cidade de São Paulo, seja para visitar seus museus, conhecer sua gastronomia ou simplesmente para chegar a outros pontos de interesse no país. Além disso, perto de 15 mil jornalistas deverão vir à cidade, que provavelmente centralizará todas as operações da mídia mundial. Os estudos realizados até o momento indicam que os 46 mil apartamentos da rede hoteleira paulistana são mais do que suficientes para atender a essa demanda. Mas, o grande desafio do setor é investir em treinamento e formação de profissionais de atendimento em hotéis, bares e restaurantes para recepcionar os turistas estrangeiros. São Paulo possui uma frota de aproximadamente seis milhões de veículos, entre automóveis, caminhões, ônibus e motocicletas que literalmente enchem e paralisam os principais corredores urbanos nos horários de pico. As ligações entre o Aeroporto Internacional de Guarulhos e o principal pólo hoteleiro internacional, atualmente na região da Berrini, passam pelas avenidas Marginais, permanentemente lotadas e congestionadas, da mesma forma que o Corredor Norte-Sul, que faz o acesso ao Aeroporto de Congonhas. Por estar tão próxima aos municípios vizinhos, a capital só pode analisar seu sistema viário se englobar também a escala metropolitana e regional. O transporte público conta com uma imensa estrutura de linhas de ônibus com mais de 14 mil veículos, além de metrô e trens, todos conectados pelo sistema de interligação EMTU. Apesar dos investimentos realizados recentemente pelo governo estadual, a rede de trens e metrô ainda está longe de atender adequadamente à população da Região Metropolitana. A Cidade estuda a possibilidade de um programa de expansão da rede de metrô e de modernização do sistema de trens urbanos, com o objetivo de constituir-se uma única malha de transportes integrados que terá o padrão de qualidade do metrô. Sistemas de VLPs e VLTs, ciclovias e ônibus comuns complementariam a rede. Em outra frente, o governo federal trabalha para agilizar uma rede de trens de alta velocidade, que ligará São Paulo ao Rio de Janeiro, com conexão a Campinas, onde está localizado o Aeroporto Internacional de Viracopos e passando pela cidade de São José dos Campos, importante polo tecnológico e industrial do país. O governo promete realizar a licitação ainda em 2009, com a perspectiva de que o sistema já esteja em operação até 2014, mas alguns técnicos questionam a viabilidade desse prazo. Três terminais rodoviários (Tietê, Jabaquara e Barra Funda) integrados ao metrô complementam a infraestrutura de acesso à cidade, recebendo ônibus de todas as regiões brasileiras, Cone Sul e Bolívia. Um quarto terminal está previsto no bairro de Vila Sônia, próximo ao Estádio do Morumbi. Esta instalação terá característica de Terminal Internacional, pois receberá as linhas com origem na Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai. Para sediar a Copa 2014, e ao mesmo tempo consolidar-se como uma “cidade mundial”, a capital paulista está empenhada na modernização de sua estrutura aeroportuária. Para tanto, a Infraero desenvolveu planos de modernização dos três aeroportos internacionais que servem a região. As obras de modernização do Aeroporto Internacional de Congonhas, localizado na zona sul da capital, demandarão investimentos da ordem de R$ 165 milhões, e incluem: conclusão do mezanino da ala sul, nova torre de controle, recuperação das placas do pátio de aeronaves, reforma da ala norte e reforma do saguão central. A torre de controle está prevista pare entrar em operação já no próximo mês de outubro. No Aeroporto Internacional de Guarulhos a construção do terceiro terminal de passageiros é uma das obras planejadas pela Infraero para a Copa, além da construção de saídas rápidas e a ampliação de pátios e áreas de taxiamento de aeronaves. A reforma envolverá um custo de aproximadamente R$ 1,4 bilhão, com previsão de entrega da primeira etapa de obras em 2011 e conclusão final em 2014. O Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, a 100 km de São Paulo, passará a ser o principal articulador da malha aeroviária brasileira, segundo os planos da 13/15 ANAIS Infraero para 2014. O projeto está avaliado em 2,8 bilhões e compreende uma segunda pista de pouso e decolagem (conclusão prevista para 2013) e a construção da primeira parte do novo terminal de passageiros, que será finalizado somente em 2015. 7. Considerações Finais A humanidade executa projetos desde os primórdios da civilização. As caçadas organizadas por nossos ancestrais e a construção das grandes maravilhas do mundo, como as Pirâmides ou a Grande Muralha da China, podem ser consideradas como tal. Guardadas as devidas proporções em relação à época em que foram realizadas, essas obras podem ser comparadas a grandes projetos atuais. Por serem temporários os projetos têm, obrigatoriamente, início e término definidos, diferenciando-se de operações contínuas. Essa característica não indica, necessariamente, que sejam curtos ou longos, mas apenas que são iniciados, evoluem e, por fim, são finalizados. No princípio da gestão de projetos, o sucesso era medido apenas em termos técnicos, ou seja, o produto era avaliado como adequado ou inadequado. Contudo, à medida que as empresas começaram a entender cada vez mais os processos do gerenciamento, a definição de sucesso se alterou para englobar o cumprimento dos prazos e os custos estimados. Além disso, a qualidade do produto passou a ser definida pelo cliente e não mais pelo fornecedor. No entanto, nem mesmo essa definição mais abrangente pode ser considerada completa. Atualmente, a definição mais adequada é aquela que enuncia que um projeto pode ser considerado como um sucesso se foi realizado dentro do prazo, orçamento e nível de qualidade desejado e atendeu às expectativas do cliente e principais interessados stakeholders, incluindo a equipe do projeto, órgãos reguladores e ambientais. O maior e principal desafio para a cidade de São Paulo envolve os problemas de acesso e mobilidade. A cidade pode e deve aproveitar o momento da Copa para desenvolver projetos de sistemas de transporte e atrair investidores privados. Para o evento de 2014, o desafio é construir a tempo a linha de trem rápido São Paulo-Rio-Campinas. Mas o principal legado da Copa seria a constituição de sistemas de transporte de massa na Região Metropolitana. Um segundo ponto envolve a exposição que a cidade terá durante a Copa, permitindo que São Paulo se consolide como um centro mundial de negócios, especialmente nas áreas de serviços de tecnologia da informação, exploração marítima de petróleo, transformação de carnes e biocombustíveis, entre outras. O principal “gargalo” para esse objetivo são as instalações para abrigar megafeiras, exposições e congressos internacionais. O complexo do Anhembi pode ser considerado acanhado, diante das grandes feiras como as de Milão, Frankfurt, Nova York ou Barcelona. Apenas para abrigar a Conferência Internacional da Fifa, que acontece simultaneamente à abertura da Copa, será necessário um plenário para pelo menos 5.000 congressistas, ainda inexistente em São Paulo. A prefeitura da cidade já tem um projeto para a implantação de um complexo de grande porte em Pirituba, zona norte da cidade e a implantação desse conjunto até 2013, é um dos principais desafios de São Paulo para sediar a Copa 2014. Um terceiro desafio, que poderá ser um legado pós-Copa, envolve a resolução dos problemas de degradação urbana no centro da cidade e que exige tanto investimentos em projetos de urbanização e paisagismo, como o maior rigor nas áreas de limpeza pública e assistência social. Ainda cabe destacar a necessidade de melhorar a qualidade do ambiente construído e enfrentar o problema da poluição dos três principais rios que cortam a cidade, o que demanda investimentos pesados em saneamento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 14/15 ANAIS AAKER, David. Pesquisa de marketing. 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