SERVIÇO SOCIAL E EDUCAÇÃO: POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES
GONÇALVES, Amanda Boza.
[email protected]
SILVA, Claudia Neves da.
[email protected]
Eixo temático: Violência nas escolas
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
A escola é uma instituição com significativa influência na vida dos indivíduos e da sociedade.
As crianças, desde a mais tenra idade, os adolescentes e jovens permanecem um largo período
de suas vidas no interior de uma instituição escolar, para onde levam as suas expectativas, as
suas dificuldades e suas esperanças. Com efeito, podemos afirmar que a escola é um espaço
social caracterizado pela presença de situações diversas provocadas pelo modo de vida em
sociedade, que se conflituam no cotidiano escolar. A inserção do Assistente Social no espaço
escolar deve conciliar os seus saberes com as experiências que lhe são trazidas e com os
conhecimentos dos demais agentes institucionais, avaliando e revendo o seu exercício
profissional. Tendo como fundamento esta premissa, o objetivo do presente artigo é
apresentar e discutir as possíveis contribuições do Serviço Social em instituições escolares,
considerando a realidade social, econômica, cultural e política do Estado do Paraná. Por meio
do desenvolvimento de um projeto de extensão do Departamento de Serviço Social da
Universidade Estadual de Londrina (PR), docente, assistentes sociais e discentes tiveram a
oportunidade de conhecer o cotidiano escolar entre os anos de 1991 e 1994. Em 2010, teve
início outro projeto de extensão, também com a finalidade de debater as contribuições da
prática profissional do assistente social em escolas. Entendemos que a atuação do Serviço
Social deverá ser implementada como uma ação complementar da política social de educação,
já que, sendo a escola um espaço privilegiado na vida da comunidade, qualquer ação neste
âmbito pode significar o envolvimento de grande número de pessoas e um apoio significativo
para o enfrentamento da questão social.
Palavras-Chave: Educação; Escola; Serviço Social; Prática Profissional
Introdução
A educação é configurada como um complexo processo constitutivo da vida social.
Enquanto totalidade histórica, ultrapassa concepções relacionadas a sua institucionalização
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em conjunto com ações reguladoras do Estado. A história da educação denota a articulação
entre distintas esferas, pública, privada, comunitária, econômica e ideológica. Proficuamente,
a escola se tornou um dos protagonistas responsáveis pela elevação do nível cultural, da
formação de um sujeito enquanto cidadão (com direitos e deveres), pelo desenvolvimento de
conhecimento e capacidades.
Nessa ótica, o campo educacional não se torna apenas um futuro campo de
trabalho para o Assistente Social, mas sim um componente concreto do seu trabalho e que
precisa ser desvelado. Neste campo concentra-se “a possibilidade de ampliação teórica,
política e instrumental da sua própria atuação profissional e de sua vinculação às lutas sociais
que se expressam na esfera da cultura e do trabalho, centrais nessa passagem de milênio”
(Almeida, 2000).
O Assistente Social, por meio de sua dimensão educativa, tem um eminente
envolvimento com os processos sociais em curso, com vistas a uma nova preeminência da
política educacional e sua institucionalização. São lutas voltadas ao combate ao
analfabetismo, a educação gratuita e de qualidade enquanto uma política pública universal. A
dimensão educativa do profissional de Serviço Social já é manifestada em outras áreas, como
a Assistência Social, que culmina para a participação, por isso que essa dimensão e sua
inserção no espaço da escola não é algo absolutamente desconhecido (GONÇALVES, 2008).
A inserção do Assistente Social no espaço da escola deve ser pensada,
segundo Almeida (2000, p.2), “não como uma especulação sobre a possibilidade de
ampliação no mercado de trabalho, mas como uma reflexão de natureza política e profissional
sobre a função social da profissão em relação às estratégias de luta pela conquista da
cidadania”.
No Brasil, a inserção do Serviço Social no espaço da escola se deu, mesmo
que timidamente, ainda na década de 1930. Pinheiro (1985, p.46) ressalta em sua obra, que o
Governo do Estado de Pernambuco promulgou um ato, nessa época, no qual determinava que
as Assistentes Sociais eram “agentes de ligação entre o lar e a escola”. Era competência do
Serviço Social atuar nas relações sociais no que se refere à sociabilidade das famílias com
baixa renda e cuidados relacionados à moral, buscando adequá-los aos padrões
comportamentais vinculados aos valores dominantes. O Serviço Social na Escola,
implementado nos Estados Unidos em 1907, influenciou consideravelmente a prática do
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Serviço Social brasileiro, nesse espaço. O método adotado na época era o de Serviço Social
de Caso, efetuado com pais e alunos.
Iamamoto (1992, p. 27) documenta que, nas décadas de 1940 e 1950,
expressões da questão social como analfabetismo, evasão escolar e pauperismo, eram também
identificadas na escola e vinculadas à área de atuação do Assistente Social, o que fez com que
o profissional fosse identificado como necessário no contexto escolar. É nesse período que o
Assistente Social, efetivamente, ocupa esse espaço, juntamente com os demais lócus de
atuação profissional, como saúde, empresa, jurídico.
A profícua atuação dos Assistentes Sociais nesse espaço e as evidentes
refrações da questão social, pautaram novas discussões para a inserção profissional no espaço
da escola. Projetos de Lei foram criados em diversas cidades do país, estudantes de Serviço
Social produziam pesquisas sobre o assunto e o tema começava a fazer parte dos debates nos
Congressos da categoria.
Em 1990, a direção de uma escola estadual de Londrina solicitou ao
Departamento de Serviço Social da Universidade Estadual de Londrina (PR) docente e
estagiárias para desenvolverem um trabalho com alunos de 5ª 8ª séries e 1ª a 3ª ano colegial,
os quais apresentavam problemas de uso de droga ilícitas, agressividade, elevado índice de
reprovação. Assim, no ano seguinte, teve início o Projeto de Extensão Serviço Social na área
escolar. Duas professoras coordenaram o projeto e diversos estagiários participaram do
mesmo, cujo objetivo era viabilizar a implantação do Serviço Social nas escolas estaduais de
londrina.
Acreditamos que essa demanda pelo Serviço Social justificava-se pelo fato de
o trabalho do assistente social efetivar-se em instituições onde se manifestam os mais
variados problemas, conflitos e contradições, sendo também o local em que se encontram as
possíveis soluções para as questões particulares.
Em seu agir profissional, o assistente social depara-se com problemas que
envolvem atitudes, valores e comportamentos daqueles com os quais trabalha em seu
cotidiano, exigindo-lhe que tome decisões que levem em conta a situação social, cultural e
econômica em que está inserido o estudante, assim como os seus próprios valores, hábitos e
aitudes.
Tendo por fundamento essa premissa, foram realizadas reuniões com alunos,
cujo objetivo era conhecer suas demandas, dificuldades; visitas domiciliares a alguns
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estudantes também se fizeram necessárias, em razão do número excessivo de faltas. Com os
professores foram realizadas reuniões para discutir a realidade destes estudantes e os
problemas sociais que interferiam no processo ensino-aprendizagem.
Constatamos a necessidade do trabalho junto à família. No entanto, esta tarefa
foi difícil, ora porque o adolescente não via a necessidade de envolver a fanília no debate, ora
porque a família não comparecia à escola a não ser quando convocado pela direção para ouvir
as reclamações sobre o comportamento de seus filhos (SILVA; GOMES, 2005).
Pudemos constatar que, a despeito das características próprias de cada
unidade escolar, a realidade era similar tendo em vista a situação sócio-econômica do país que
era imposta por um Estado que se preocupava menos com a educação e mais com os direitos e
garantias da propriedade privada (SILVA; GOMES, 2005).
O Serviço Social e o cotidiano das escolas
A escola pública, enquanto um espaço sócio-ocupacional do Assistente
Social, deve sim contar com os dispositivos legais a fim de garantir tal prática. Na escola,
tanto pública quanto privada, as contradições da sociedade são expressas de forma mais
intensa. Por exemplo, precarização das condições de trabalho dos docentes; gravidez na
adolescência; existência de vítimas de violências (física, psicológica, sexual, negligência);
expansão do voluntariado no campo educacional e a conseqüente desprofissionalização
daqueles que atual nas escolas; dependência química; prática do narcotráfico no ambiente
escolar; insubordinação dos alunos aos limites e regras da escola; perda do atrativo da
educação como um meio de ascensão social e demais situações de vulnerabilidade social
(GONÇALVES, 2009).
Consideramos
também
a
relação
do
Assistente
Social
para
operacionalização das políticas de enfrentamento à pobreza, é preciso manter vínculos
institucionais com as diversas instâncias do meio educacional, como secretarias de educação e
com as próprias escolas. Destarte torna-se cada vez mais necessário que a escola tome para si
a sua função social, aproximando a família do seu contexto escolar. O Conselho Federal de
Serviço Social (2001, p.11) assim afirma:
O baixo rendimento, desinteresse pelo aprendizado e evasão escolar, dentre outros,
têm sido citados como as grandes dificuldades de avanço destes alunos. As mais
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diferentes literaturas têm demonstrado que estes indicadores não se constituem em
fatores exclusivamente relativos à escola, e sim fatores que estão aliados a outras
formas de expressão dos problemas de âmbitos social enfrentados pelo educando e
sua família.
Diante desse cenário, a escola também é espaço de conflitos, limites e
possibilidades. A explanação de Guerra (2005, p.24) permite concluir que o Assistente Social
é um profissional, cuja formação proporciona a ele capacidades para atuação nessa realidade,
tanto no segmento público quanto privado de educação, assim como nas demais áreas, pelo
fato de dispor de conhecimentos que permitem responder às demandas sociais, analisar e
compreender a realidade social; por ter princípios éticos que redefinem sua postura
profissional, e domínio de instrumental técnico-operativo que subsidiam suas ações.
O Parecer Jurídico 23/00, de 22 de outubro de 2000, incluso na publicação
do Conselho Federal de Serviço Social (2001, p.13), dispõe sobre as atividades técnicas
profissionais que o Assistente Social deve desenvolver no espaço escolar (descrição na
íntegra):
- Pesquisa de natureza sócio-econômica e familiar para caracterização da
população escolar;
- Elaboração e execução de programas de orientação sócio-familiar, visando
prevenir a evasão escolar e melhorar o desempenho e rendimento do aluno e sua formação
para o exercício da cidadania;
- Participação, em equipe multidisciplinar, da elaboração de programas que
visem prevenir a violência; o uso de drogas e o alcoolismo, bem como que visem prestar
esclarecimentos e informações sobre doenças infecto-contagiosas e demais questões de saúde
pública;
- Articulação com instituições públicas, privadas, assistenciais e
organizações comunitárias locais, com vistas ao encaminhamento de pais e alunos para
atendimento de suas necessidades;
- Realização de visitas sociais com o objetivo de ampliar o conhecimento
acerca da realidade sócio-familiar do aluno, de forma a possibilitar assisti-lo e encaminhá-lo
adequadamente;
- Elaboração e desenvolvimento de programas específicos nas escolas onde
existam classes especiais;
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- Empreender e executar as demais atividades pertinentes ao Serviço Social,
previstas pelos artigos 4 e 5 da Lei de Regulamentação da profissão.
A partir do que foi colocado acima, voltamo-nos para as escolas de ensino
fundamental e médio do município de Londrina, onde também a realidade reflete as
deficiências do sistema educacional que pouco investe na área, embora as diretrizes do
pensamento político-pedagógico dominante considerem a educação escolar como essencial às
transformações da sociedade.
No ano de 1999, foi aprovado na Assembléia Legislativa do Paraná o
Projeto de Lei nº 206/99, que trata da implantação do Serviço Social junto à Rede Estadual de
Ensino. E em maio deste mesmo ano, foi sancionada a Lei n Lei nº 15075, que Autoriza a
implantação do Programa de Atendimento Psicopedagógico e social em todas as unidades
escolares que integram a Rede de Ensino Público.
Os assistentes sociais constatam a necessidade de um profissional da área no
interior das unidades escolares. Porém, e os professores, diretores e demais funcionários da
escola, pais e responsáveis, também consideram importante a presença desse profissional na
unidade escolar?
Foi a partir desta indagação inicial que nos propomos a desenvolver um
projeto de extensão, vinculado ao Departamento de Serviço Social da Universidade Estadual
de Londrina, cujos objetivos são investigar as demandas que se apresentam para o Serviço
Social na área da educação e a viabilidade e as possíveis contribuições da inserção do
assistente social em escolas de ensino fundamental e médio.
Contando com a participação de uma docente, duas assistentes sociais de
escolas confessionais e estudantes do curso, visitaremos as escolas públicas estaduais do
município, com o intuito de identificar as possíveis demandas para o Serviço Social, e
realizaremos entrevistas com os diretores e professores dessas escolas, para conhecer as
opiniões acerca da contribuição do Serviço Social nas instituições de ensino.
A ação do assistente social deve ocorrer em parceria com o Orientador
Educacional, Pedagogo e professores, em um trabalho interdisciplinar, focando os estudantes
e seus familiares, isto é, a tríade escola-família-comunidade. A prática profissional deve ter
por finalidade a busca de alternativas para os diversos problemas que se manifestam
cotidianamente nas instituições escolares, já citados acima: desmotivação, gravidez,
agressividade, evasão, repetência, violência.
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São problemas e situações que decorrem de uma realidade social, política
econômica e cultural que vem se constituindo ao longo de dos últimos decênios, com a
ampliação dos meios de comunicação de massa e o avanço tecnológico, que possibilitou
alavancar a produção, diminuir os custos e ampliar o consumo para diversos segmentos
sociais; modernidade que supostamente livraria as pessoas de uma visão mágica ou religiosa
do mundo, das tradições e das hierarquias que engessariam a ascensão social, com a ciência
apresentando-se como a única possibilidade de alcançar a verdade e o saber, e o conseqüente
desenvolvimento econômico, social e cultural.
Os indivíduos se moveriam a partir de seus interesses, desejos e prazeres, os
quais seriam ditados por um mercado repleto de opções para atender a todos. A novidade
tornou-se a possibilidade de ser, por alguns instantes, único a ter, porque logo é ultrapassado,
sendo necessária a substituição pelo mais novo. O provisório torna-se o constante. Nesta
provisoriedade, as normas, as regras, os sentimentos, os princípios e valores devem adequarse e moldar-se às necessidades desses indivíduos.
A exigência é viver o momento presente. Como nos diz Bauman (2001,
p.14)
Hoje, os padrões e configurações não são mais ‘dados’, e menos ainda ‘autoevidentes’; eles são muitos, chocando-se entre si e contradizendo-se em seus
comandos conflitantes, de tal forma que todos e cada um foram desprovidos de boa
parte de seus poderes de coercitivamente compelir e restringir.
Assim, com o aperfeiçoamento tecnológico, fomentando a geração de novos
produtos e a produção em massa, estimulando o consumo e a satisfação imediata, com a
velocidade das mudanças que se operam nos diferentes campos da vida em sociedade, as
relações interpessoais também tornam-se provisórias, imediatas, e com ela, as normas e regras
que regem tais relações.
Os princípios e valores são construídos a partir das relações sociais que
se estabelecem em uma da sociedade, que por sua vez, são determinadas pelas condições
materiais de existência. Se essas relações são forjadas tendo em vista os interesses individuais
imediatos, os valores e as normas de convivência também serão imediatas e provisórias,
visando preferencialmente os interesses e prazeres de cada indivíduo em particular. Enfim,
uma “sociedade de consumidores” (BAUMAN, 2001), onde o consumo é quem determina as
relações sociais.
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O prazer e a necessidade individual determinam o que deve ser estabelecido e o que
deve ser restringido. Não há definitivo ou inflexível, porque a flexibilidade é o dominante,
sejam os bens de consumo, sejam as relações pessoais. As escolhas são impostas e limitadas
pelo que é posto no mercado; portanto, devem ser orientadas pelo consumo de bens materiais
para satisfação imediata.
Fundamentando-nos naqueles que discutem a modernidade e a pós-modernidade,
como Bauman (2001), Eagleton (1998; 2005), Berman (2007), observamos que as classes
sociais, os grupos e segmentos sociais vão se constituindo e se relacionando em conformidade
com esta flexibilidade e provisoriedade. E os homens e mulheres tomam como referência para
constituição de sua identidade a interiorização das ações e experiências vividas nestes grupos
e comunidades.
Contudo, se a provisoriedade e a flexibilidade hoje é o predominante, as classes
sociais e nelas os grupos e segmentos apresentam normas e atitudes contraditórias, a
constituição da identidade também se apresenta de forma contraditória e conflitante.
Se por um lado, a contradição na constituição da identidade social e individual sempre
ocorreu, por outro, com a necessidade de levar a liberdade individual às últimas
conseqüências, e o consequente reforço do individualismo, destes grupos e comunidades
também reforçam valores e princípios calcados no individualismo e no prazer imediato.
Conforme Bauman (2001, p. 11): “A situação presente emergiu do derretimento radical dos
grilhões e das algemas que, certo ou errado, eram suspeitos de limitar a liberdade individual
de escolher e de agir”.
Nesse sentido, a constituição da identidade individual e social também traz em si a
marca da flexibilidade e da contradição, tendo em vista que o sentimento de identidade é
construído socialmente em cada indivíduo, moldado de acordo com cada situação do real
vivido, orientando sua ações e possibilitando o ordenamento e o funcionamento da sociedade.
Identidade que pode ser percebida como “[...] um fenômeno subjetivo e dinâmico
resultante de uma dupla constatação de semelhanças e de diferenças entre si mesmo, os outros
e alguns grupos” (DESCHAMPS; MOLINER, 2009, p. 14). Se a identidade é construída a
partir da integração em ambientes\instituições\espaços coletivos, por outro lado, homens e
mulheres almejam um lugar próprio neste espaço coletivo; porque buscam a sua
singularidade, sua especificidade, pretendendo colocar-se como único e diferente dentro de
seu grupo.
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É importante destacar que a construção da identidade está diretamente relacionada
com outros grupos, segmentos sociais ou comunidade diferente ou antagônica com o qual o
indivíduo está permanentemente em contato, ou seja, o processo de elaboração da identidade é
resultado de uma identificação com o grupo e com os demais indivíduos. Como nos diz Cuche
(2002, p. 183): “A identificação pode funcionar como afirmação ou como imposição de
identidade.”
Como se pode apreender do exposto, a identidade, social e individual, constrói-se,
desconstrói-se e reconstrói-se constantemente, em virtude das relações que são estabelecidas e
que orientam e determinam as escolhas. Uma dinamicidade fruto da própria dinâmica da
sociedade moderna.
Com os questionamentos e encruzilhadas advindas com a ascensão e crise da
modernidade, constatamos que também os grupos e segmentos sociais passam por uma
desconstrução em suas “bases de sustentação”, isto é, sua identidade, porque o homem e a
mulher que emergem dessa sociedade moderna muita das vezes saem em busca de uma
fundação resistente e constante, diante da fluidez e do efêmero.
O aparato tecnológico, o acesso ao consumo, a ciência e a razão mostraramse insuficientes para as questões geradas dentro e a partir desse mundo moderno. Como as
organizações vinculadas ao mercado e o Estado não conseguem responder de modo
satisfatório às angústias da vida em sociedade, novos caminhos e respostas foram buscados. E
uma destas respostas foi a violência, que observamos diariamente no interior, e exterior, das
escolas. Não abordaremos a questão do consumo das drogas lícitas e ilícitas em virtude do
pouco espaço para analisar esta problemática.
Adolescentes e jovens cujas expectativas de um futuro profissional são
provisórias, porque logo substituídas por outras necessidades, as quais são adequadas aos
objetivos imediatos. O presente determina os interesses materiais e espirituais, e as amizades.
A família, aqui entendida como um grupo de pessoas que se unem por laços afetivos, também
passa por uma redefinição de suas funções, ocasionando momentos de conflitos e dificuldades
para administrá-los.
Se aqueles que compartilham o cotidiano escolar não são adequados às suas
necessidades, comportam-se de forma diferenciada do que almejam, o caminho mais curto
para “consertar” esta situação é a agressão física e psicológica. E a escola, local onde se dá a
construção, desconstrução e reconstrução de identidades e valores, é onde estes adolescentes e
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jovens se encontram cotidianamente, tornando-se verdadeiros ringues de competição ou de
disputa por espaços.
Acreditamos que a escola vem a ser uma das últimas instituições públicas à
qual os adolescentes e jovens recorrem em busca de “socorro” ou respostas para as suas
angústias, ansiedades e expectativas. Porém, na maioria das vezes, nós, profissionais do
ensino, não estamos preparados para responder a estes anseios, porque também estamos
vivendo momentos de angústias e medo diante desta realidade fluida e efêmera.
Fazer uma apreciação sobre o trabalho dos profissionais da instituição de
ensino deve levar em conta o que se passa do lado de fora dos muros, porque interfere
diretamente no dia-a-dia da escola. Portanto, desenvolver um trabalho isolado dos demais
profissionais de ensino surtirá pouco resultado, já que o estudante é um sujeito carregado de
conflitos e contradições. O trabalho deve ser interdisciplinar, ou seja, professores, pedagogo,
orientador educacional, psicólogo e assistente social atuando e intervindo na realidade dos
alunos, levando em conta a realidade familiar e as necessidades da comunidade.
Apenas como provocação, não deveríamos permitir que a rivalidade e a
competição entre os profissionais, interferissem no desenvolvimento de projetos pedagógicos
e sociais.
Considerações finais
Analisar a conjuntura por meio de uma visão totalizante, diagnosticar, por
meio do seu cotidiano, é criar caminhos e abrir espaços para uma atuação mais eficaz e com
resultados palpáveis. É preciso compreender a realidade para nelaatuar significativamente.
Para tanto, é importante que o profissional atue diretamente com os usuários e com os grupos
existentes, como grêmios estudantis, associação de pais, conselhos escolares, dentre outros,
apoiando sua nucleação e facilitando o diálogo necessário entre as partes. A política
educacional deve ser reflexo de uma participação efetiva das famílias e da comunidade, com
canais eficientes de comunicação e com vistas a gestão democrática (GONÇALVES, 2009).
Sobre esse foco, Souza (2005, p. 30) ainda explicita que, diante de uma
realidade social com suas múltiplas representações, é fundamental o desenvolvimento de
proposições, planejamento e execução de projetos sociais voltados à ótica do respeito, da
diversidade humana e da ética, para o fortalecimento da cidadania e da democracia.
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